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Felipe Scalabrin
Mestre em Direito Público pela Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS), vinculado à linha
Hermenêutica, Constituição e Concretização de Direitos. Professor visitante do Programa de
Pós-Graduação do Centro Universitário Fadergs (FADERGS) e Centro Universitário Ritter dos Reis
(UNIRITTER). fscalabrin@gmail.com
1 Considerações iniciais
Se a efetividade da execução civil é condição para uma tutela adequada dos direitos, a
desconsideração da personalidade jurídica é um instituto decisivo para viabilizar o cumprimento e a
satisfação dos direitos do exequente. O tema é do dia a dia do foro e interessa tanto ao patrono do
credor – que buscará o acesso ao patrimônio do sócio para perseguir o adimplemento da obrigação
quando os bens da empresa forem insuficientes, como ao advogado do devedor – o qual terá o
objetivo de proteger o patrimônio do seu cliente. Dessa forma, os pressupostos legais para o
acolhimento do pedido de desconsideração precisam estar claros para que os advogados das partes
possam fazer o melhor trabalho em prol dos seus outorgantes.
O problema abordado neste artigo será investigar os pressupostos exigidos pelos Códigos Civil,
Tributário e de Defesa do Consumidor para a desconsideração da personalidade jurídica, analisando
convergências e assimetrias entre os requisitos estabelecidos por cada um dos três diplomas legais.
Ao mesmo tempo, será preciso se debruçar tanto em lições doutrinárias como nas posições da
jurisprudência acerca dos pressupostos da disregard em cada um dos âmbitos aqui estudados (civil,
consumerista e tributário). No final, estabelecer-se-á a existência (ou não) de uma estrutura
escalonada entre os níveis de exigência de cada uma das três esferas, em termos de pressupostos
exigidos para desconsideração da personalidade jurídica.
Diante dessa problemática e da hipótese a ser perquirida, o presente ensaio iniciará tratando da
responsabilidade patrimonial do sócio em sentido amplo; em seguida, abordará os requisitos da
desconsideração da personalidade jurídica exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
Código Tributário Nacional e pelo Código Civil (LGL\2002\400); ato contínuo, serão analisadas as
convergências e assimetrias legais doutrinárias e jurisprudenciais existentes nas três situações; e, ao
final, serão traçadas considerações finais, respondendo à hipótese proposta de investigar e
apresentar uma estrutura escalonada entre os pressupostos para a desconsideração da
personalidade jurídica estabelecidos pelos três diplomas legais referidos.
A responsabilidade do sócio pelas dívidas da pessoa jurídica depende, em primeiro lugar, do tipo
social conferido à pessoa jurídica, quer dizer, se a espécie de sociedade escolhida traz aos sócios
responsabilidade limitada (à participação do sócio ou acionista – como nas sociedades limitadas e
nas sociedades anônimas) ou ilimitada (como na sociedade simples, sociedade em comandita e
sociedade em nome coletivo). De plano, a responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais
depende, antes de tudo, do tipo social. Quando se tratar de uma das sociedades cuja
responsabilidade do sócio é ilimitada, o patrimônio pessoal do sócio também responderá pelas
obrigações da pessoa jurídica, independentemente da prática de atos abusivos pelos sócios ou
administradores.
Por sua vez, nas sociedades cuja modalidade traz aos sócios responsabilidade limitada à
participação societária, o acesso ao patrimônio pessoal do sócio normalmente exige um plus
devidamente descrito pela lei material. Esse plus se revela nos pressupostos materiais para a
desconsideração da personalidade jurídica. Na sistemática brasileira, cada legislação traz requisitos
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Requisitos para desconsideração da personalidade
jurídica: a estrutura escalonada dos pressupostos
exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
Código Tributário Nacional e pelo Código Civil
específicos para que se “levante o véu” da personalidade jurídica da sociedade e, assim, a partir da
propositura do incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 e seguintes do CPC
(LGL\2015\1656)), seja objeto de análise pelo Poder Judiciário se há ou não a presença dos
requisitos legais para que os sócios passem a responder, também, pelas dívidas sociais.
Sob a ótica daquele que foi prejudicado, a desconsideração é “direito unilateral à extensão da
responsabilidade” e poder de produzir efeitos jurídicos por meio dessa declaração quando presentes
os requisitos para tanto. A desconsideração, portanto, é um direito potestativo contra a pessoa cuja
personalidade se pretende desconsiderar.4 Na perspectiva dos planos da relação jurídica, a
desconsideração afeta o plano da eficácia para ignorar alguns efeitos da personificação.5
A teoria menor é mencionada em diversos ramos do direito, que permitem a penetração com a mera
prova da insolvência da pessoa jurídica para pagamento de suas obrigações, dispensada qualquer
demonstração de desvio de finalidade ou confusão patrimonial.14 O principal exemplo envolve o
direito do consumidor e que será mais bem detalhado adiante. A crítica central à teoria menor é que,
ao exigir apenas a insolvência, ela enfraquece sobremaneira a noção de autonomia patrimonial,
praticamente esvaziando a diferença entre pessoa jurídica e pessoa natural. Segundo os críticos,
essa aplicação da desconsideração equivale, na prática, em “eliminação do princípio da separação
entre pessoa jurídica e seus integrantes”.15
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Requisitos para desconsideração da personalidade
jurídica: a estrutura escalonada dos pressupostos
exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
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A teoria maior, por sua vez, considera que cabe a desconsideração quando existir algo maior do que
o inadimplemento. É dizer, “não basta a simples prova da insatisfação de direito de credor da
sociedade para justificar a desconsideração”.16 O prejuízo ao credor – que decorre do
inadimplemento – não é forte o suficiente para que a autonomia patrimonial da pessoa jurídica seja
rompida. O elemento adicional proposto é o abuso da personalidade jurídica. Exige-se, então, algum
desvirtuamento da função da pessoa jurídica para que “caia o véu” da personalidade. Atualmente, o
detalhamento consta no art. 50 do Código Civil (LGL\2002\400) com a redação atualizada pela Lei
13.874/19 (LGL\2019\8262) (Lei da Liberdade Econômica).
Em paralelo às teorias, a doutrina reforça que a desconsideração tem origem em atos imputáveis à
pessoa jurídica. Nesse sentido, ela não se confunde com a responsabilidade pessoal/direta de sócios
ou administradores que extrapolam seus poderes ou mesmo que violem a lei ou o contrato social.
Em tais casos, não será caso de desconsiderar a personalidade, mas sim de imputar diretamente a
responsabilidade ao causador da ofensa à ordem jurídica.17 Segundo a célebre lição de Luciano
Amaro, se a lei prevê a responsabilidade solidária, subsidiária, ou mesmo direta do sócio, por
obrigação da pessoa jurídica, ou quando a lei proíbe que algumas operações, vedadas aos sócios,
sejam praticadas pela pessoa jurídica, não é caso de desconsideração, mas de imputação ao sócio.
18
Nesses casos, a responsabilidade do sócio já decorre do preceito legal.19
O legislador, porém, não deixa clara a distinção entre imputação à pessoa jurídica e imputação ao
sócio. Não raro, a referência à teoria menor é, na realidade, situação de imputação direta da
responsabilidade ao sócio, o que dispensaria a desconsideração da personalidade jurídica. Muitas
vezes, as duas situações são tratadas pela legislação como desconsideração da pessoa jurídica.
Com acerto, Fábio Ulhoa Coelho indica que as exceções ao princípio da autonomia dispersas pelo
ordenamento jurídico acabam ignoradas.20 E, com isso, a lei acaba por autorizar a utilização da
técnica da desconsideração para estender a responsabilidade patrimonial ao sócio mesmo quando a
obrigação já seria diretamente imputável a ele.
Na primeira situação, a pessoa cujo patrimônio se pretende atingir conta apenas com uma
responsabilidade extraordinária ou indireta. Devido ao regime de limitação de responsabilidade de
alguns tipos societários, as obrigações não se estendem de forma ilimitada aos sócios,
administradores ou outras pessoas. A regra é que o regime de limitação do tipo societário limite a
extensão da responsabilidade à pessoa jurídica. Contudo, caso se demonstre a ocorrência de abuso
da personalidade jurídica, imputa-se a responsabilidade a quem deu causa e se beneficiou do ato.
Esse cenário abrange o sentido tradicional ou “autêntico” da desconsideração da personalidade
jurídica. Corresponde à teoria maior. Aqui, levanta-se o “véu” da pessoa jurídica. Flexibiliza-se a
autonomia patrimonial dela para incursionar no patrimônio alheio em razão do abuso. Trata-se,
portanto, de uma desconsideração própria.
Na segunda situação, a pessoa cujo patrimônio se pretende atingir conta com responsabilidade
ordinária, que poderá ser direta, solidária ou subsidiária, conforme o direito material que a justificar.
Aqui, apesar do regime de limitação de alguns tipos societários, as obrigações se estendem de forma
ilimitada aos sócios, administradores ou até outras pessoas. Trata-se de uma escolha política de não
submeter certas obrigações ao regime de limitação, como reforço à proteção de quem poderia ser
lesado pelos atos praticados. Não se trata de autêntica desconsideração, pois, o objetivo não é
romper a autonomia patrimonial de ninguém, mas estender a responsabilidade para outros sujeitos
que já são obrigados e não foram inicialmente acionados. Não se exige necessariamente abuso. O
que importa é comprovar que a responsabilidade é passível de extensão conforme o regramento do
direito material justificador da medida. A providência corresponde à teoria menor e às demais
situações de extensão da responsabilidade a terceiros. Trata-se, portanto, de uma desconsideração
imprópria. Na verdade, toma-se de empréstimo a palavra “desconsideração” para visualizar a
possibilidade, o método e os efeitos da extensão da responsabilidade patrimonial contra alguém que
não figura inicialmente na relação processual. Ela não se confunde com a desconsideração inversa.
21
Apesar das críticas ao “uso indevido” do instituto da desconsideração, há também pontos positivos.
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Requisitos para desconsideração da personalidade
jurídica: a estrutura escalonada dos pressupostos
exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
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Em termos diretos, significa que tanto a desconsideração própria como a desconsideração imprópria
só são permitidas quando forem comprovados os requisitos da extensão tal como previsto no direito
material. Além disso, ambas se submeterão ao regime formal do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica e seus efeitos também receberão as mesmas limitações daí decorrentes.
A principal dificuldade para compreender esse enorme grupo de situações heterogêneas dentro de
um mesmo instituto parece residir na ausência de uma sistematização coesa do direito material.
Contudo, como caminhada inicial, propõe-se um exame de três ramos do direito para avaliar se é
possível identificar um denominador comum entre eles, bem como se há uma estrutura progressiva
visualizável nas múltiplas formas de desconsideração da personalidade jurídica desde a perspectiva
dos seus requisitos justificadores. Por fim, aferir quais os reflexos disso para a seara processual.
O desvio de finalidade “é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a
prática de atos ilícitos de qualquer natureza” (art. 50, § 1º, CC (LGL\2002\400)). A MP 881/19
(LGL\2019\3302) exigia a “utilização dolosa” da pessoa jurídica para caracterizar o desvio. Essa
locução, caso tivesse sido aprovada, poderia causar o esvaziamento do instituto, já que, na
responsabilidade civil, o dolo está relacionado com um elemento subjetivo agravado. Felizmente, a
mudança não prosperou e a Lei 13.874/19 (LGL\2019\8262) faz alusão apenas à “utilização da
pessoa jurídica”, o que permite concluir que basta conduta culposa ou mesmo antifuncional.
O desvio de finalidade também pode estar caracterizado pelo abuso de direito. Nessa linha, o art. 50,
§ 1º, do Código Civil (LGL\2002\400) diz menos do que deveria, já que um ato lícito, mas praticado
além dos fins sociais do direito, poderá, conforme o caso, justificar a desconsideração. Em casos
tais, não há propósito de prejudicar, mas mau uso da personalidade jurídica.23
A prática de algum ato fraudulento é exemplo de desvio de finalidade. A fraude consiste no “o artifício
malicioso para prejudicar terceiros”.24 A fraude, enquanto distorção intencional dos fatos para
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prejudicar alguém, se traduz em desvio de finalidade da pessoa jurídica, posto que o propósito desta
jamais será o de enganar alguém.
A confusão patrimonial, por sua vez, se implementa (a) pelo cumprimento repetitivo pela sociedade
de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; ou (b) pela transferência de ativos ou de
passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e (c)
pela presença de outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial (art. 50, § 2º, CC
(LGL\2002\400)). Apesar da nova redação buscar conferir maior segurança jurídica à
desconsideração, a última hipótese deixa uma cláusula aberta (descumprimento da autonomia
patrimonial) a ser completada no caso concreto. Exemplo disso é que mesmo o cumprimento sem
repetição de obrigações do sócio pela sociedade poderá ser encarado como confusão patrimonial
(Flávio Tartuce). Na doutrina, a confusão patrimonial se implementa “pela utilização efetiva do
patrimônio da pessoa jurídica em benefício direto e exclusivo de um dos sócios”.25
Por fim, em relação ao encerramento irregular (ou dissolução irregular), a jurisprudência consagrou
que o fato, por si só, não basta para caracterizar o abuso. Exige-se mais elementos.26 Na doutrina, a
questão não é unânime. Segundo alguns, o fechamento do estabelecimento sem pagamento de
credores é um nítido caso de abuso da personalidade jurídica, pois há inúmeras exigências a ser
atendidas no encerramento regular.27 O curioso é que o mesmo Superior Tribunal de Justiça
considera legítimo o redirecionamento de execução fiscal devido à dissolução irregular (Súmula 435,
STJ).28 Sérgio Campinho, por seu turno, explica que o encerramento irregular é um ato ilícito
praticado pelos sócios e que, portanto, os torna ilimitadamente responsáveis pelas obrigações da
pessoa jurídica (art. 1080, CC (LGL\2002\400)).29 Uma vez mais ilustra-se aqui a difícil distinção, ou
sobreposição, entre responsabilidade direta do sócio por certos atos e a responsabilidade que é
estendidas ao sócio em razão do abuso da personalidade jurídica.
Apenas para ilustrar, cabe examinar o art. 135 do CTN (LGL\1966\26). Segundo Marlon Tomazette,
este não é um é caso de desconsideração, mas sim de responsabilidade pessoal e direta de
determinados sócios ou administradores que tenham cometido abusos. A posição é compartilhada
pela maioria da doutrina especializada.30 O art. 135 do CTN (LGL\1966\26) trata de hipóteses em
que houve a prática de algum ato com excesso de poderes ou infração à lei, contrato social ou
estatuto pelas pessoas indicadas nos incisos do dispositivo legal. Cuida-se de responsabilidade
tributária de terceiros que tenham atuado em desconformidade com o direito. A jurisprudência
consagrou que as hipóteses em tela revelam responsabilidade solidária e ilimitada das pessoas
indicadas.31
Sobre a possibilidade de extensão da responsabilidade para os sócios que não estavam no exercício
da gerência no momento do fato gerador do tributo cobrado, o assunto permanece em aberto.
Embora o STJ já tenha afirmado que “consideram-se irrelevantes para a definição da
responsabilidade por dissolução irregular (ou sua presunção) a data da ocorrência do fato gerador da
obrigação tributária, bem como o momento em que vencido o prazo para pagamento do respectivo
débito” 32 , a questão foi submetida ao regime de recursos repetitivos e segue inconclusa (Tema
981/STJ).33
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Requisitos para desconsideração da personalidade
jurídica: a estrutura escalonada dos pressupostos
exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
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A jurisprudência majoritária afirma que teria sido adotada a teoria menor, bastando a prova do
prejuízo ao consumidor. Mas não é bem isso que prevê o Código de Defesa do Consumidor.
Trata-se, pois, de uma perigosa simplificação. Para melhor compreender o assunto, vejamos as três
situações previstas na codificação consumerista.
As primeiras condutas que justificam a desconsideração, aqui, estão todas relacionadas com o
abuso da personalidade jurídica: abuso de direito, excesso de poder, infração à lei, ato ilícito,
violação dos estatutos ou contrato social. Na sequência, prevê que a má-administração que ocasione
a falência, a insolvência ou o encerramento de atividades também justifica a desconsideração.
Sobre o excesso de poder, infração à lei, prática de algum ato ilícito e violação dos estatutos ou
contrato social, Marlon Tomazette defende que não se trata de desconsideração, mas sim de
imputação da responsabilidade diretamente ao sócio ou administrador que tenha praticado tais atos.
35
Em sentido semelhante, Fábio Ulhoa Coelho traz que a má-administração é conduta do
administrador e não da pessoa jurídica. Assim, é o administrador que deveria responder, sem
necessidade de desconsideração.36
Em síntese, seja qual for a linha adotada, parece ser incontroverso que essa primeira situação NÃO
envolve a teoria menor, posto que exige mais do que o mero descumprimento da obrigação. Não
basta, pois, o prejuízo ao consumidor (credor) no art. 28, caput, do CDC (LGL\1990\40).
A terceira situação é mais delicada. Aqui, o legislador estabelece que “poderá ser desconsiderada a
pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores” (art. 28, § 5º, CDC (LGL\1990\40)). Assim, quando a
personalidade da pessoa jurídica for um obstáculo para o consumidor, admite-se a desconsideração.
É exatamente esse caso que parece justificar a adoção da teoria menor. Afinal, a insolvência é a
mais patente prova de que a personalidade jurídica é obstáculo para o ressarcimento. A redação
controversa é criticada desde longa data, afinal, cabe desconsideração quando há prejuízo com
abuso (art. 28, caput), mas também quando há prejuízo mesmo sem abuso (art. 28, § 5º).38
O fundamento central é que o risco empresarial da atividade econômica não deve ser suportado pelo
terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas sim pelos sócios ou administradores, “ainda que
demonstrem uma conduta proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar
conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica”.39 Nota-se
que essa diretriz está em plena harmonia com a proteção do consumidor: entre o sacrifício do crédito
do consumidor e a proteção patrimonial dada aos sócios por meio da pessoa jurídica (princípio da
autonomia patrimonial), a ordem jurídica cede em favor do consumidor: “o objetivo da lei é garantir o
ressarcimento do consumidor, sempre”.40
Como adiantado, é interpretação malvista por alguns. Afinal, a ruptura é excessiva e desprestigia a
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Requisitos para desconsideração da personalidade
jurídica: a estrutura escalonada dos pressupostos
exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
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pessoa jurídica, de sorte que não deve ser compreendida de forma isolada. Ela deve ser conectada
ao art. 28, caput, do CDC (LGL\1990\40). Assim, será necessário que a pessoa jurídica coloque
algum obstáculo ao ressarcimento – medida que na prática redunda em certo abuso da
personalidade – para justificar a desconsideração. Nesse sentido, fatos imprevistos ou alheios à
pessoa jurídica, ainda que haja prejuízo ao consumidor, não justificariam a desconsideração.41 Por
enquanto, essa postura restritiva é minoritária. Ainda prevalece que, nas relações de consumo, foi
adotada a teoria menor: basta o prejuízo ao consumidor caracterizado pelo obstáculo ao
ressarcimento para dar ensejo à “desconsideração”.42
A tabela seguinte, cujo propósito é exclusivamente didático, busca demonstrar alguns dos requisitos
analisados, sinalizando-se (sublinhado e negrito) os requisitos que são particulares de apenas uma
ou duas das três legislações:
O quadro ajuda a visualizar de forma mais clara e objetiva os requisitos que são comuns entre as
três legislações e os requisitos que são exclusivos de apenas uma delas. Nota-se que entre os três
dispositivos legais existem, como pontos de convergência, o abuso da personalidade jurídica, a partir
do desvio de finalidade ou da confusão patrimonial. O abuso é decorrente, segundo a doutrina vista
nos itens anteriores, de atos ilícitos de qualquer natureza, ou seja, de atos praticados em excesso de
poder (em relação ao estatuto ou contrato social da empresa) ou por infração à lei. Esses
pressupostos são comuns no art. 28, caput, do CDC (LGL\1990\40), no art. 135, caput, do CTN
(LGL\1966\26) e no art. 50 do Código Civil (LGL\2002\400).
Nessas circunstâncias, e preenchidos tais requisitos, em uma relação jurídica tributária, segundo o
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exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
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Nas relações de consumo, quando a personalidade jurídica da pessoa jurídica for, de alguma forma,
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores, sequer exige a prova do
abuso (art. 28, § 5º, CDC (LGL\1990\40)). Nesse caso, não se perquire a confusão patrimonial ou o
desvio de finalidade, não se discutindo eventual prática de atos em excesso de poder ou por infração
à lei. Quer dizer, o Código Civil (LGL\2002\400) exige mais do que os requisitos previstos no Código
Tributário Nacional; ao passo que o Código de Defesa do Consumidor apresenta situação em que
nem mesmo os requisitos comuns são exigidos. Prestigia-se a tutela da parte hipossuficiente na
relação de consumo.
Há, portanto, uma espécie de estrutura escalonada entre os requisitos das três leis analisadas, na
qual, em sentido figurativo, o Código de Defesa do Consumidor ocuparia o primeiro degrau de uma
escada; o Código Tributário Nacional estaria em um segundo degrau dessa escada; e o Código Civil
(LGL\2002\400) preencheria o espaço de um terceiro degrau dessa mesma escada, formando essa
espécie de estrutura escalonada, uma escada na qual cada degrau exige mais requisitos para
alcançar o patrimônio dos administradores e sócios da pessoa jurídica. A legislação mais rigorosa
para a quebra é o Código Civil (LGL\2002\400); seguida pelo Código Tributário Nacional e, por fim, o
Código de Defesa do Consumidor é o menos rígido na busca dos bens dos administradores e sócios
da pessoa jurídica.
Diante desses diversos cenários, resta claro que os sócios de uma sociedade empresária devem
estar adequadamente orientados, do ponto de vista jurídico, aos efeitos das operações dos seus
negócios, pois riscos de exposição patrimonial maiores ou menores poderão advir conforme cada
relação de direito material. Ora, não raro uma pessoa jurídica pode ter relação tributária com os
entes federativos dos respectivos impostos que tem o dever de recolher; relação cível paritária com
outras empresas, com as quais faz seus negócios; e ter relações de consumo, a partir dos bens e
serviços que oferece e coloca em circulação no mercado.
Portanto, por um lado, os sócios de uma pessoa jurídica devem atentar a essas circunstâncias e
efeitos das suas relações jurídicas, para fins de organização e proteção patrimonial, seja preventiva
ou contenciosa; por outro lado, os credores de pessoas jurídicas que não detenham patrimônio
suficiente devem considerar e demonstrar os requisitos específicos aplicáveis à espécie quando
pleitearem o incidente de desconsideração da personalidade jurídica43 , para que tenham
eventualmente sucesso na sua empreitada.
5 Considerações finais
O presente ensaio iniciou com uma preocupação prática. A problemática do artigo surgiu das práxis
forense e empresarial, a fim de conhecer e delimitar os pressupostos para a desconsideração da
personalidade jurídica fixados pelas diferentes legislações. Apenas assim é possível ao empresário,
sócio ou administrador de pessoa jurídica, de forma preventiva, analisar os riscos as quais está
exposto o seu patrimônio nas presentes ou futuras demandas executivas que eventualmente venham
a correr em face da empresa.
Afinal: como devem as partes de uma relação jurídica cível, consumerista ou tributária se comportar
e planejar para obter os melhores resultados? E a quais pontos devem os advogados das partes
requerente e requerida do incidente de desconsideração de personalidade jurídica atentar ao longo
do procedimento? Ao trabalhar a responsabilidade patrimonial do sócio ou administrador de pessoas
jurídicas, o presente artigo procurou delimitar claramente quais são os requisitos legais para a
desconsideração da personalidade jurídica nas relações cíveis, tributárias e de consumo.
E a conclusão foi que há, de fato, uma estrutura escalonada entre os pressupostos dos três
dispositivos legais dos códigos investigados. O Código de Defesa do Consumidor ocupa o primeiro
degrau da escada; o Código Tributário Nacional o segundo degrau; e o Código Civil (LGL\2002\400)
está no terceiro degrau dessa escada, como visto na figura trazida no item anterior. Nessa escada,
cada degrau exige mais requisitos que o anterior para alcançar o patrimônio dos administradores e
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exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
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sócios da pessoa jurídica, criando, assim, uma estrutura escalonada entre os requisitos previstos por
cada legislação. Como se viu, a legislação mais rigorosa para a quebra é o Código Civil
(LGL\2002\400); seguida pelo Código Tributário Nacional e, por fim, o Código de Defesa do
Consumidor é o menos rígido na busca dos bens dos administradores e sócios da pessoa jurídica.
Portanto, conclui-se que existem diferenças bastante sensíveis entre os requisitos para a concessão
da desconsideração da personalidade jurídica, a depender da natureza da relação jurídica posta em
causa. Isso deve estar no radar tanto dos sócios das empresas, para fins de planejamento e
responsabilidade patrimonial, pois as condutas dos sócios e os movimentos da sociedade podem ou
não configurar pressuposto para o alcance do patrimônio dos administradores ou sócios da empresa.
Da mesma forma, os credores devem atentar às especificidades de cada situação para elaborar de
forma assertiva os argumentos do pedido de desconsideração da personalidade jurídica.
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da personalidade na sociedade anônima, estabelecido pela Lei de Liberdade Econômica (aspectos
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COELHO, Fábio Ulhôa. A teoria maior e a teoria menor da desconsideração. Revista de Direito
Bancário e do Mercado de Capitais, São Paulo, v. 65, p. 21-30, jul./set., 2014 (versão eletrônica).
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 21. ed. São Paulo: Saraiva,
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RODRIGUES JUNIOR, Otavio Luiz. Pessoa, personalidade, conceito filosófico e conceito jurídico de
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27, n. 118, p. 281-291, jul./ago. 2018 (versão eletrônica).
REQUIÃO, Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica (disregard doctrine).
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do Paraná que consta na Revista dos Tribunais n. 410/12, dez./1969.
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Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 780, p. 47-58, out. 2000 (versão eletrônica).
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jurídica: a estrutura escalonada dos pressupostos
exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
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Jurisprudência
BRASIL. STJ, REsp 279.273/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy
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16.06.2015, DJe 23.06.2015.
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julgado em 09.08.2017, DJe 24.08.2017.
BRASIL. STJ, EREsp 174.532/PR, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Seção, julgado em
18.06.2001, DJ 20.08.2001.
BRASIL. STJ, REsp 1.455.490/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em
26.08.2014, DJe 25.09.2014.
BRASIL. STJ, EREsp 1.306.553/SC, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, julgado em
10.12.2014, DJe 12.12.2014.
BRASIL. STJ, REsp 279.273/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy
Andrighi, Terceira Turma, julgado em 04.12.2003, DJ 29.03.2004.
BRASIL. STJ, 230; AgInt no AREsp 1.575.588/RJ, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma,
julgado em 20.02.2020, DJe 05.03.2020.
1 ASSIS, Araken de. Manual da execução. 19. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. p. 302.
Acerca da responsabilidade patrimonial do cônjuge, remete-se o leitor ao seguinte texto: ANTUNES
DA CUNHA, Guilherme; SCALABRIN, Felipe. A responsabilidade patrimonial do cônjuge na
execução civil. Revista de Processo, São Paulo, v. 46, n. 322, dez. 2021.
3 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. v. 1. p. 272.
4 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. v. 1. p. 318.
5 No caso de desconsideração, “os atos que tenham sido praticados são, em si mesmos, válidos.
São, mais ainda, atos eficazes. A decorrência jurídica da aplicação da teoria da desconsideração da
pessoa jurídica é a do afastamento dos efeitos da personificação. O que se altera é o regime jurídico
relacionado aos sujeitos envolvidos na prática do ato” (JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da
personalidade societária no direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987. p. 89).
7 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. v. 1. p. 271.
excedente será suportada pelos credores, muitos deles empresários e exercentes de atividades de
risco. A limitação das perdas, em outros termos, é fator essencial para a disciplina da atividade
econômica capitalista”. COELHO, Fábio Ulhôa. A teoria maior e a teoria menor da desconsideração.
Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, São Paulo, v. 65, p. 21-30, jul./set., 2014
(versão eletrônica).
9 Assim: “Não deixa de ser irônico que mais de um século depois da decisão da House of Lords, de
1898, no caso Aaron Salomon v. Aaron Salomon & Company Limited, no qual a tese da
desconsideração da personalidade jurídica foi rejeitada mesmo diante de uma fraude explícita do
controlador, essa doutrina goze hoje de tanto prestígio no Brasil contemporâneo. Essa preeminência
tem suscitado manifestações críticas na doutrina, que começa a se preocupar com os excessos
cometidos em face do patrimônio dos sócios. A situação é tão peculiar que Gustavo Tepedino, em
opinio iuris, defendeu que não seria possível admitir a responsabilização de administradores por atos
abusivos de um gestor de associação”. RODRIGUES JUNIOR, Otavio Luiz. Pessoa, personalidade,
conceito filosófico e conceito jurídico de pessoa: espécies de pessoas no direito em geral. Revista de
Direito do Consumidor, São Paulo, v. 27, n. 118, p. 281-291, jul./ago. 2018 (versão eletrônica).
11 COELHO, Fábio Ulhôa. A teoria maior e a teoria menor da desconsideração. Revista de Direito
Bancário e do Mercado de Capitais, São Paulo, v. 65, p. 21-30, jul./set., 2014 (versão eletrônica).
12 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 21. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. v. 2. p. 69.
13 COELHO, Fábio Ulhôa. A teoria maior e a teoria menor da desconsideração. Revista de Direito
Bancário e do Mercado de Capitais, São Paulo, v. 65, p. 21-30, jul./set., 2014 (versão eletrônica).
14 STJ, REsp 279.273/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 04.12.2003, DJ 29.03.2004. p. 230; AgInt no AREsp 1.575.588/RJ, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 20.02.2020, DJe 05.03.2020.
15 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 21. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. v. 2. p. 69.
16 COELHO, Fábio Ulhôa. A teoria maior e a teoria menor da desconsideração. Revista de Direito
Bancário e do Mercado de Capitais, São Paulo, v. 65, p. 21-30, jul./set., 2014 (versão eletrônica).
17 SILVA, Alexandre Couto. Desconsideração da personalidade jurídica: limites para sua aplicação.
Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 780, p. 47-58, out. 2000 (versão eletrônica).
18 “Portanto, quando a lei cuida de responsabilidade solidária, ou subsidiária, ou pessoal dos sócios,
por obrigação da pessoa jurídica, ou quando ela proíbe que certas operações, vedadas aos sócios,
sejam praticadas pela pessoa jurídica, não é preciso desconsiderar a empresa, para imputar as
obrigações aos sócios, pois, mesmo considerada a pessoa jurídica, a implicação ou responsabilidade
do sócio já decorre do preceito legal. O mesmo se diga se a extensão de responsabilidade é
contratual”. AMARO, Luciano da Silva. Desconsideração da pessoa jurídica no Código de Defesa do
Consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, v. 5, p. 168-182, jan. 1993 (versão
eletrônica). Em sentido diverso, atribuindo definição mais ampla à desconsideração para os casos
tributários, vide JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da personalidade societária no direito
brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987. p. 112.
19 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. v. 1. p. 286. Nesse mesmo sentido: “Não há como vincular a
autonomia da personalidade jurídica à exclusão da responsabilidade dos sócios por obrigações
assumidas pela sociedade. Nas situações em que, inobstante a existência da pessoa jurídica, há
previsão legal sobre a responsabilidade do sócio, este responde por sua conta, na posição própria de
Página 12
Requisitos para desconsideração da personalidade
jurídica: a estrutura escalonada dos pressupostos
exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor, pelo
Código Tributário Nacional e pelo Código Civil
20 COELHO, Fábio Ulhôa. A teoria maior e a teoria menor da desconsideração. Revista de Direito
Bancário e do Mercado de Capitais, São Paulo, v. 65, p. 21-30, jul./set., 2014 (versão eletrônica).
21 A distinção proposta entre desconsideração própria e imprópria não se confunde com a diferença
entre desconsideração direta e indireta ou inversa. Na desconsideração inversa, a extensão da
responsabilidade passa da pessoa natural para a pessoa jurídica. O seu fundamento é que a pessoa
jurídica tenha sido utilizada abusivamente para ocultar os bens da pessoa natural. A
desconsideração inversa, superado um período de construção doutrinária, está prevista na legislação
material (art. 50, § 3º, do Código Civil).
23 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. v. 1. p. 282. Segundo Rubens Requião, “no abuso de direito não
existe, propriamente, trama contra o direito de credor, mas surge do inadequado uso de um direito,
mesmo que seja estranho ao agente o propósito de prejudicar o direito de outrem”. REQUIÃO,
Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica (disregard doctrine). Revista dos
Tribunais, São Paulo, v. 803, p. 751-764, set. 2002 (versão eletrônica).
24 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. v. 1. p. 294.
25 E prossegue: “Não se trata de interferências patrimoniais pontuais, que podem ocorrer licitamente
por meio de relações obrigacionais estabelecidas entre os sócios e a sociedade, mas de efetiva
fusão prática entre as duas esferas patrimoniais em análise. Desrespeita-se, na confusão
patrimonial, a divisória que separa o conjunto de bens da pessoa jurídica do de seus membros, de tal
maneira que a desconsideração vem apenas atribuir efeitos jurídicos a uma situação que, de fato, já
se apresentava”. TEPEDINO, Gustavo. A excepcionalidade da desconsideração da personalidade
jurídica. Soluções práticas – Tepedino, São Paulo, v. 3, p. 63-78, nov., 2011 (versão eletrônica).
26 STJ, EREsp 1.306.553/SC, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, julgado em
10.12.2014, DJe 12.12.2014.
28 Súmula 435, STJ: “Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no
seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da
execução fiscal para o sócio-gerente”.
29 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 77.
31 STJ, EREsp 174.532/PR, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Seção, julgado em 18.06.2001, DJ
20.08.2001. p. 342; ver também: REsp 1.455.490/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 26.08.2014, DJe 25.09.2014.
32 STJ, REsp 1.520.257/SP, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 16.06.2015,
DJe 23.06.2015.
33 STJ, ProAfR no REsp 1.643.944/SP, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Primeira Seção, julgado
em 09.08.2017, DJe 24.08.2017.
35 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. v. 1. p. 288.
36 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. v. 1. p. 289.
38 Confira-se a crítica de Luciano Amaro: “O referido § 5.º, c/c o caput, mostra um serviço legislativo
viciado por insanável impropriedade. É como se se dissesse: ‘Se causares prejuízo com abuso irás
preso; também irás preso se causares prejuízo por má administração; e irás preso sempre que, de
qualquer forma, causares prejuízo’. O enunciado do parágrafo é tão genérico, abrangente, ilimitado,
que, aplicado literalmente, dispensaria o caput do artigo, e tornaria inócua a própria construção
teórica da desconsideração, implicando em derrogar (independentemente de qualquer abuso ou
fraude) a limitação de responsabilidade dos sócios de todos e qualquer empresa fornecedora de
bens ou serviços no mercado de consumo”. AMARO, Luciano da Silva. Desconsideração da pessoa
jurídica no Código de Defesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, v. 5, p.
168-182, jan. 1993 (versão eletrônica). Com a mesma posição, vide: ALBERTON, Genacéia da Silva.
A desconsideração da pessoa jurídica no Código de Defesa do Consumidor: Aspectos processuais.
Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, v. 7, p. 07-29, jul./set., 1993 (versão eletrônica). Na
doutrina recente, vide: CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa. 15. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2018. p. 80.
39 STJ, REsp 279.273/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 04.12.2003, DJ 29.03.2004. p. 230.
40 NUNES, Rizatto. Curso de direito do consumidor. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 803.
41 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 12. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021. v. 1. p. 292.
42 NUNES, Rizatto. Curso de direito do consumidor. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 803.
19.08.2021.
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