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Erisipela e Celulite

Dra. Luiza Alonso


Definição
Celulite: Infecção da derme profunda e do tecido subcutâneo, que se manifesta com áreas de eritema, inchaço,
calor e dor a palpação.
Erisipela: Variante superficial da celulite, que cursa com envolvimento linfático proeminente.

FIGURA 1

Clínica
Erisipela: Eritema vivo e intenso edema doloroso, com bordas bem delimitadas. É acompanhada de linfangite e
linfadenopatia regional aguda.
Celulite: Eritema menos vivo e bordas mal delimitadas. Alguns casos podem ter Abscesso associado.
Ambas apresentam sinais flogísticos intensos e podem acometer qualquer região da pele. No entanto, são mais
comuns nos Membros Inferiores.

FIGURA 2 - Celulite FIGURA 3 – Erisipela

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Erisipela na face:
Tanto a Erisipela quanto a Celulite podem se manifestar na face. A
diferenciação pode ser feita com base na delimitação na lesão. A Erisipela,
por ser mais superficial, faz um padrão de lesão bem delimitada, como se
fosse “em asa de borboleta”. Já a Celulite, por ter um acometimento mais
profundo, se apresenta de forma mais difusa.
FIGURA 4 – Erisipela na face.

Sinal da Orelha da Milian


É um sinal comum de cair em prova, que nos leva a pensar em Erisipela e não Celulite, uma vez que as orelhas
não possuem tecido celular subcutâneo.

Fatores Predisponentes
1) Trauma: Ferida penetrante, Úlcera de pressão, Úlcera venosa, picada de insetos, Uso de drogas injetáveis
2) Condições Inflamatórias: Eczema, Radioterapia, Psoríase
3) Edema, de origem linfática ou por Insuficiência venosa
4) Obesidade
5) Imunossupressão (p.ex.: Diabetes, Infecção por HIV)
6) Intertrigo (Infecção nas regiões de dobras), Onicomicose
7) Infecção cutânea pré-existente (Tinea pedis, Impetigo, Varicela)

A Quebra da barreira cutânea é um importante fator predisponente de Erisipela e Celulite, pois serve como uma porta
de entrada para a entrada de bactérias. Sendo assim, é imprescindível prestar atenção em lesões cutâneas e tratá-las, a
fim de evitar uma infecção secundária.

FIGURA 5 – Tinea pedis

FIGURA 6 – Edema por


Insuficiência Venosa

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Evolução

Celulite Erisipela
Curso mais indolente, com desenvolvimento de sintomas Início agudo das manifestações sistêmicas, incluindo
localizados ao longo de alguns dias; febre, calafrios, mal-estar intenso e cefaleia. Estes podem
Pode ser purulenta. preceder o início dos sinais e sintomas inflamatórios
locais em minuto a horas.

Etiologia

Celulite Erisipela
• Streptococcus beta-hemolítico (grupo A, B, C, G e • Grande maioria dos casos por Streptococcus beta-
F), mais comumente grupo A ou Streptococcus hemolítico
pyogenes;
• Staphylococcus aureus (incluindo MRSA) – notável,
mas menos comum);
• Gram-negativos aeróbicos – minoria dos casos

OBS: Em algumas referências, é possível que o


Staphylococcus aureus apareça como o agente mais
comum, seguido pelo Streptococcus beta-hemolítico do
grupo A.

Outros patógenos (menos comuns):


• Pasteurella multocida e Capnocytophaga canimorsus – mordida de animais
• Aeromonas hydrophila e Vibrio vulnificus – exposição à água contaminada
• Pseudomonas aeruginosa
• Clostridium sp
• Erysipelothris rhusiopathiae
• Streptococcus pneumoniae
• Cryptococcus neoformans
• Streptococcus iniae
• Helicobacter cinaedi
• Mycobacterium abscessos

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Diagnóstico
O diagnóstico de Erisipela e Celulite é essencialmente clínico.
O uso de exames laboratoriais é reservado apenas para casos complicados (febre elevada, taquicardia, mal-estar
importante, progressão muito rápida e ausência de resposta ao antibiótico 24 a 48h após o início do uso) ou se o paciente
apresentar muitas comorbidades, com a finalidade de avaliar o grau de acometimento sistêmico e definir conduta.
Quando pedir cultura?
• Infecção local grave
• Sinais sistêmicos de infecção
• História de abscessos recorrentes ou múltiplos
• Falha da antibioticoterapia inicial
• Extremos de idade (bebês ou idosos)
• Presença de comorbidades subjacentes (linfedema, malignidade, neutropenia, imunodeficiência,
esplenectomia, diabetes)
• Exposições especiais (mordida de animais, lesão associada à água)
• Presença de indicação de profilaxia conta Endocardite Infecciosa
• Os padrões comunitários de suscetibilidade ao S. aureus são desconhecidos ou mudam rapidamente (ou
seja, quando há chance de ser MRSA)

Exames de Imagem
Na grande maioria dos casos, não há necessidade da solicitação de exames de imagens. No entanto, em alguns
casos eles podem ser úteis:
• USG: Ajuda a definir se há a presença de coleções subcutâneas
• RNM: Auxilia no diagnóstico de Osteomielite

Complicações
Em pacientes hígidos, geralmente os quadros de Erisipela e Celulite não cursam com muitas manifestações
sistêmicas. No entanto, em pacientes com comorbidades, é mais possível que isso aconteça. Alguns exemplos são:
• Bacteremia – Sempre se certificar de que não há uma outra infecção associada.
• Endocardite
• Artrite Séptica ou Osteomielite
• Infecções Metastáticas
• Sepse
• Síndrome do Choque Tóxico

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Diagnósticos Diferenciais
• Dermatite de contato
 A dermatite de contato é mais superficial e cursa com menos sinais flogísticos.
 Podem aparecer sinais de Eczema, como bolhas e descamação.
 É importante sempre perguntar se o paciente teve contato com alguma substância.
• Gota
 Se manifesta, principalmente, em cima de articulações.
• Farmacodermia
• Vasculites
 A diferenciação entre Vasculite e Erisipela/Celulite pode ser feita a partir da digito-pressão. Ao
pressionar a lesão da Vasculite, a mesma não desaparece. O contrário ocorre com as lesões inflamatórias
de Erisipela e Celulite.
• Picada de inseto
• Trombose Venosa Profunda
 O que mais se confunde com a Celulite;
 É importante verificar se há presença de sinais clínicos, como empastamento de panturrilhas.
• Paniculite

OBS: A ocorrência bilateral de Erisipela e Celulite é rara. Sendo assim, quando a lesão for bilateral, é mais comum que
seja um dos diagnósticos diferenciais.

FIGURA 9 - Gota

FIGURA 6 - Vasculite FIGURA 7 - Trombose Venosa


Profunda
FIGURA 10 - Dermatite de Contato

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Tratamento Erisipela

Tratamento Celulite

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É necessário pesquisar a presença de Abscesso em casos de Celulite. Se houver, é preciso drenar!
O tratamento com antibiótico nesses casos deve ser feito, quando:
• Abscesso único ≥ 2cm
• Lesões múltiplas
• Celulite extensa
• Imunossupressão associada ou outras comorbidades
• Sinais sistêmicos de toxicidade
• Resposta clínica inadequada à incisão e drenagem apenas FIGURA 11 – Celulite com Abscesso

• Presença de um dispositivo permanente (como uma prótese, enxerto


vascular ou marcapasso
• Alto risco de endocardite (história de endocardite infecciosa, presença de válvula protética ou material
perivalvar protético, defeito cardíaco congênito não reparado ou disfunção valvar em um coração
transplantado
• Alto risco de transmissão de S. aureus a outras pessoas (atletas, militares)

Infecções Recorrentes
As recorrências ocorrem em aproximadamente 14% dos casos de celulite em 1 ano e em 45% dos casos em 3
anos, geralmente no mesmo local.
A busca e o tratamento dos fatores predisponentes são de extrema importância.
Se houver mais de 3 episódios no ano, a terapia preventiva está indicada:
1) Elevação de membros
2) Tratamento fatores predisponentes
3) Antibioticoterapia
• Infecção Estreptocócica beta-hemolítica conhecida ou presumida:
 Penicilina V (250 a 500mg via oral 2x/dia)
 Eritromicina (250mg via oral 2x/dia)
 Injeções IM de penicilina G benzatina (1,2 milhões de unidades para pacientes com peso >27kg; 600.000
unidades para pacientes com peso < ou = 27kg) administradas a cada 2-4 semanas.

• Infecção Estafilocócica conhecida ou presumida:


 Cefadroxil (500mg via oral 2x/dia) – tratamento de infecção por MSSA
 Clindamicina (150mg via oral 1x/dia)
 Trimetroprima- Sulfametoxazol (1 comprimido duplo por via oral, 2x/dia)

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Referências

WOLFF K, JOHNSON RA, SUURMOND D. Fitzpatrick’s, color atlas & synopsis of clinical dermatology. 5th ed. 2005
BOLOGNIA JL, JORIZZO JL, SCHAFFER, JV. Dermatology. 3rd ed. Elsevier, 2015.

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