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WBA0128_v2.

APRENDIZAGEM EM FOCO

ATUAÇÃO MULTIPROFISSIONAL
EM SAÚDE
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Autoria: Hellen Emília Peruzzo Aveiro
Leitura crítica: Fabiane Gorni Borsato

A atuação multiprofissional corresponde a um dos grandes


desafios do processo de trabalho das instituições de saúde.
A partir da interação entre os diferentes profissionais, o trabalho
em equipe pode ser estimulado, o que contribuirá para uma
assistência mais qualificada, resolutiva e eficiente.

Esta disciplina possibilitará a você entrar em contato com


conceitos importantes para a prática em saúde e te levará a
compreender como as relações do contexto de trabalho podem
interferir no desempenho das equipes. Sendo assim, constituirá
um elemento essencial para seu crescimento quanto profissional.

Ao longo desta disciplina você verá, dentre outros pontos, como


são compostas as estruturas organizacionais formais e informais,
bem como a influência da cultura e do clima organizacional no
ambiente corporativo. Além disso, você compreenderá como o
trabalho em equipe tem se configurado nos serviços de saúde e
como pode ser estimulado neste cenário.

No decorrer desta disciplina você ainda conhecerá como foram


criadas e implementadas as equipes multiprofissionais da
Estratégia Saúde da Família, do Núcleo de Apoio à Saúde da Família
e da Atenção Básica e Equipe de Saúde Bucal, bem como aprenderá
aspectos que motivaram suas construções ao longo dos anos.

Ao final, será apresentada e discutida a importância da Prática


Interprofissional Colaborativa em Saúde, como ela pode
ser operacionalizada e quais são os seus benefícios para o
atendimento ao indivíduo, família e comunidade.

2
INTRODUÇÃO

Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira


direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática
abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar
reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática
profissional. Vem conosco!

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TEMA 1

Estrutura e clima organizacional

INÍCIO
______________________________________________________________
Autoria: Hellen Emília Peruzzo Aveiro
Leitura crítica: Fabiane Gorni Borsato

TEMA 1
TEMA 2
TEMA 3
TEMA 4
DIRETO AO PONTO

A estrutura organizacional é a maneira como qual as empresas


se organizam para a realização do trabalho, como são
caracterizadas as diferentes funções e como são construídas
as posições hierárquicas. É importante que você compreenda
que estes aspectos organizacionais estão presentes em todas as
organizações, empresas ou instituições.

Neste sentido, no contexto da saúde não é diferente, sejam


serviços públicos, privados ou filantrópicos, independentemente
do nível de atenção oferecida. Para que você conheça melhor
questões pertinentes à estrutura organizacional, precisará saber
mais sobre suas diferentes representações, formal e informal
(Figura 1).

Figura 1 – Estrutura organizacional

Fonte: elaborada pelo autor.

Quando se fala da estrutura formal, esta refere-se às pactuações


formais e previamente acordadas dentro das organizações,
tais como seus regulamentos internos, manuais de técnicas e
procedimentos, protocolos de normas e rotinas, entre outros
informativos necessários para a realização e continuidade do
processo de trabalho. Além disso, é a estrutura formal que também
norteará como serão organizadas as posições hierárquicas dentro
do serviço, por meio do organograma institucional.

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Os organogramas, por sua vez, são representações gráficas
que representam a estrutura formal da organização em um
determinado momento, ou seja, apresenta a disposição e
a hierarquia dos órgãos que a compõem. Eles podem ser
apresentados na organização de diferentes formas, tais como:
Estrutura Linear, Estrutura Linear Staff, Estrutura Funcional e
Estrutura Matricial. É importante que você compreenda que o
modelo escolhido por cada instituição vai depender da missão
e da visão dela, dos canais de troca e comunicação entre os
gestores e seus funcionários, além de como ela pretende exercer
sua gestão, de maneira mais centralizadora, verticalizada, ou
decentralizada, de modo horizontal (PICCHIAI, 2010). Pensando no
contexto da saúde, ela quem determinará as diretorias, os chefes
de divisão e os demais cargos subordinados.

A estrutura informal, por sua vez, constitui elementos que


perpassam toda a dinâmica organizacional, concretizando-se
nas relações interpessoais e na intersubjetividade, nas crenças e
nos valores individuais. Assim como nos interesses particulares e
institucionais, representam a base que molda e, principalmente,
atribui significado ao trabalho desenvolvido nas instituições.
Dentro dos serviços de saúde ela representa fator decisivo sobre
o comportamento dos profissionais, o que consequentemente
terá influência sobre a assistência oferecida. Sabendo disso,
entende-se que a estrutura informal possui como elementos
constitutivos a cultura e o poder (KURCGANT, 2016).

A cultura organizacional é compreendida como um conjunto de


crenças e valores que orientam as decisões do gestor em todos
os níveis da estrutura, direcionando o caminho a ser percorrido
a partir de várias alternativas disponíveis. Sendo assim, culturas
e subculturas constituem um universo de crenças, valores,
pressupostos básicos, rituais, ritos, cerimônias, mitos, lendas,
heróis e outros símbolos que formam e concretizam as relações e
interações humanas dentro nas organizações (KURCGANT, 2016).

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Quanto ao poder, Kurcgant (2016) o define como a capacidade
do indivíduo em interferir sobre a vontade dos agentes sociais
ou sobre seus interesses. Complementando a autora, o poder
ainda está relacionado à estrutura informal, justamente por nem
sempre estar associado à autoridade formalmente instituída a
partir das estruturas hierárquicas. Neste sentido é importante
compreender que o poder é diferente da autoridade. O poder,
bem como a cultura, consolida-se nas interações e nas práticas
cotidianas, ultrapassando os limites da estrutura formal e de
toda sua amplitude legal. Entretanto, o poder usa de seu aparato
formal quando desempenhado como prática de coerção, que
garante a coesão e o consensual necessários e suficientes aos
grupos para a continuidade das propostas e dos processos de
trabalho (KURCGANT, 2016).

Nos serviços de saúde, as disputas de poder estão sempre


presentes. Por vezes podem interferir nas relações interpessoais
e no processo de trabalho, gerando desconfortos entre os
membros das equipes e até mesmo conflitos. Contudo, estes
aspectos também vão ter grande influência sobre o clima
organizacional das instituições.

Neste contexto, tem-se que o clima organizacional compreende


a maneira como as pessoas visualizam a organização, e essa
percepção pode ser positiva ou não, a depender de como ela
interage com suas estruturas. O clima está associado, por
exemplo, ao nível de satisfação no ambiente de trabalho, como os
profissionais percebem a qualidade das relações interpessoais.

Por fim, essas discussões são essenciais quando você pensa em


sua aplicabilidade dentro dos serviços de saúde, em que existem
equipes multiprofissionais com diferentes culturas, crenças e
valores trabalhando em um mesmo ambiente, executando tarefas
compartilhadas, porém com diferentes percepções sobre elas e
sobre os seus processos. Essas individualidades compõem um

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conjunto de habilidades essencial para o serviço e para o trabalho
das equipes, entretanto, também podem ser desafiadoras quando
se pensa nas relações interpessoais.

Referências bibliográficas
KURCGANT, P. (Coord.) Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2016.
PICCHIAI, D. Estruturas organizacionais: modelos. Universidade Federal de
São Paulo - Reitoria, 2010.

PARA SABER MAIS

Para Luz (2003), pesquisar sobre o clima organizacional é


um importante instrumento para proporcionar melhorias
contínuas no ambiente de trabalho, bem como contribuir para
ambientes corporativos mais saudáveis. Possibilita que a gestão
desenvolva planos de ações e realize mudanças no meio de
trabalho e consequentemente exercendo influência na melhoria
do desempenho dos profissionais. Estes estudos poderão ser
realizados em uma periodicidade recomendada de dois anos e
possuem como principais objetivos:

• Avaliar o nível de satisfação dos profissionais em relação


à organização.

• Estabelecer um canal de comunicação direta entre os


profissionais e a coordenação da organização, em que
possam manifestar suas opiniões de maneira anônima.

• Estimular melhorias no clima organizacional em que for


identificado um maior nível de insatisfação do trabalho.

• Identificar, monitorar e avaliar os impactos das


intervenções contempladas nas pesquisas investigativas
no decorrer do tempo.

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• Desenvolver junto aos profissionais, meio para
aperfeiçoamento da comunicação.

Várias pesquisas vêm sendo realizadas com o foco em melhorar


o clima organizacional e as relações interpessoais. São inúmeros
os desafios existentes no ambiente de trabalho dos profissionais
de saúde, como as barreiras para concretização dos preceitos do
trabalho em equipe. Contudo, o estímulo a novas investigações
nesse cenário, para uma melhor compreensão do fenômeno, é
essencial, uma vez que os relacionamentos multiprofissionais
podem interferir de maneira direta ou indireta na qualidade da
assistência oferecida à população (PERUZZO et al., 2019).

Além de um incentivo maior à pesquisa, também devem


ser fomentadas discussões a respeito da persistência da
individualização no contexto da assistência em saúde, nos seus
diferentes níveis, aspecto que fere o pressuposto da integralidade
da assistência. Neste sentido e com vistas a minimizar os impactos
deste aspecto, faz-se necessário a implementação de planos
de ação inovadores, que tenham como objetivo a formação de
profissionais desfragmentados e preparados para trabalhar em
equipes multiprofissionais (PERUZZO et al., 2019).

Referências bibliográficas
LUZ, R. Gestão do clima organizacional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.
PERUZZO, H. E. et al. Clima organizacional e trabalho em equipe na estratégia
saúde da família. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, DF, v. 72, n. 3,
p. 721-727, 2019.

TEORIA EM PRÁTICA

Reflita sobre a seguinte situação: você faz parte de uma instituição


com uma estrutura organizacional bastante centralizadora,

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em que o coordenador/diretor não leva em consideração as
opiniões dos profissionais ali atuantes. Além disso, sua cultura
organizacional é direcionada para o trabalho individualizado e
Autoria: Nome do autor da disciplina
fragmentado, sem
Leitura crítica: Nome doestímulo à consolidação do trabalho em equipe.
autor da disciplina
Você tem a sensação de que cada um trabalha por si e que não
tem voz no processo decisório dentro do trabalho. Diante desta
realidade e pensando nos reflexos da estrutura organizacional no
processo de trabalho, como você acredita estar sua satisfação e
motivação para o trabalho?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo


professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no
ambiente de aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

Neste estudo é possível conhecer as relações entre clima


organizacional, percepção de mudança e satisfação do paciente
atendido em unidades públicas. Partindo disso, foi possível
identificar que o clima organizacional tem relação direta no nível
de satisfação do cliente.

Para realizar a leitura, acesse a plataforma Biblioteca Virtual da


Kroton e busque pelo título da obra.

SANTOS, J. N.; NEIVAI, E. R.; MELO, E. A. A. Relação entre clima


organizacional, percepção de mudança organizacional e
satisfação do cliente. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília,
vol. 29, n. 1, 2013.

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Indicação 2

Nesta pesquisa são analisadas as relações entre satisfação


no trabalho e clima organizacional por meio de autoavaliação
profissional. Entre os achados, observou-se que a satisfação
pode contribuir para melhorias no desempenho e produtividade
dos profissionais.

Para realizar a leitura, acesse a plataforma Biblioteca Virtual da


Kroton e busque pelo título da obra.

PAULA, A. P. V.; QUEIROGA, F. Satisfação no trabalho e clima


organizacional: a relação com autoavaliações de desempenho.
Revista Psicologia Organizações e Trabalho, Brasília, DF, v. 15,
n. 4, 2015.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes
neste Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em
Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas,
além de questões de interpretação com embasamento no
cabeçalho da questão.

1. Quanto à estrutura formal de uma organização, é correto


afirmar que:

a. É planejada e formalmente representada pelo organograma.


b. Visa aos interesses pessoais dentro da organização.

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c. Está sujeita aos sentimentos.
d. Leva em consideração aspectos como crenças e valores
dos colaboradores.
e. Tem como base a cultura e o poder.

2. “Capacidade do indivíduo em interferir sobre a vontade


dos agentes sociais ou sobre seus interesses”. A definição
apresentada no texto refere-se:

a. À estrutura formal.
b. À estrutura informal.
c. Ao poder.
d. À cultura.
e. Ao clima organizacional.

GABARITO

Questão 1 - Resposta A
Resolução: A estrutura formal, além dos manuais, normas
e rotinas, também é representada pelo organograma que
estabelece as relações hierárquicas dentro das instituições.
Questão 2 - Resposta C
Resolução: A definição de poder está associada à capacidade
de influenciar o comportamento das pessoas sem que
necessariamente tenha autoridade formal instituída.

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TEMA 2

Trabalho em equipe

INÍCIO
______________________________________________________________
Autoria: Hellen Emília Peruzzo Aveiro
Leitura crítica: Fabiane Gorni Borsato

TEMA 1
TEMA 2
TEMA 3
TEMA 4
DIRETO AO PONTO

A realização do trabalho em equipe contesta o modo com que


os profissionais executam o trabalho isolado e independente
no cotidiano dos serviços de saúde (PEDUZZI; LEONELLO;
CIAMPONE, 2016). Complementando esta perspectiva, em
sua essência, o trabalho em equipe deve ser percebido como
ferramenta para a realização de atividades em que diferentes
pessoas assumem papéis interdependentes em prol de objetivos
comuns, de modo que cada um ofereça suas habilidades para a
construção de um produto final.

Neste sentido, a proposta de se trabalhar em equipe cresceu a


partir de um processo contraditório caracterizado pela relação
entre a necessidade de especialização e da integralização do
trabalho. Esta especialização do serviço tende a uma prática
fragmentada na assistência ao paciente, estruturada em uma
cadeia de atividades realizadas por profissionais distintos, que
necessitam de articulação. Sendo assim, a grande especialização/
especificação se constitui um desafio para uma integração das
atividades e consequentemente a efetivação do trabalho em
equipe (PEDUZZI; LEONELLO; CIAMPONE, 2016).

Pensando na construção de um ambiente favorável para a


realização do trabalho em equipe, aplicar os pressupostos da
comunicação entre os profissionais é indispensável. Quando ela
acontece de maneira clara, frequente e aberta, possibilita um
campo de maior sucesso entre as interações. Sendo assim, os
membros que compõem uma equipe devem apresentar capacidade
de elaborar, de maneira conjunta, sua linguagem, seus objetivos,
suas propostas e seus projetos em comum (PEDUZZI, 2001).

Entretanto, é importante ressaltar que a comunicação não


deve ser direcionada apenas para a troca de informações que

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potencializem a concretização técnica e a obtenção de resultado.
Ela também deve ser pertinente a momentos de reflexão e
negociação, pensando em identificar o melhor procedimento ou a
melhor explicação para a situação, e não somente para reavaliar a
técnica (PEDUZZI; LEONELLO; CIAMPONE, 2016).

É importante que você saiba que existem dois tipos de


configurações para a realização do trabalho em equipe, por equipe
agrupamento ou equipe integração. A equipe agrupamento
refere-se a um conjunto de pessoas que desempenham
esforços individuais para o planejamento e tomada de decisão
quanto aos objetivos que amparam cada um dos membros no
desenvolvimento de suas áreas de atuação. No entanto, não
há articulação entre esses sujeitos, mas sim uma sobreposição
das atividades dos agentes agrupados. Já a equipe integração é
representada por um grupo em que todos os seus participantes
se envolvem no processo de trabalho, com o intuito de elencar e
partilhar objetivos e metas em comum, resultando em projetos
realizados por vários profissionais de maneira interdependente
e complementar, que, além disso, ainda colaboram mutuamente
entre si para o aprendizado da autonomia técnica (PEDUZZI, 2001).

Além dos aspectos já mencionados, também se faz necessário a


incorporação de habilidades por todos os seus membros, tais como:
aprender a conviver com outro e a viver em conjunto; questionar-se
sempre quanto ao próprio conhecimento; desenvolvimento da
cooperação e colaboração; compreender que também é possível
aprender com o outro. Implica, inclusive, em trabalhar a autoestima
e o autoconhecimento dos indivíduos (PEDUZZI, 2001).

Ao se trabalhar com o tema trabalho em equipe, é comum


permear entre conceitos amplamente aplicados no cenário da
atenção à saúde, muitos destes são utilizados na literatura como
sinônimos, embora não sejam. Neste sentido, é importante que
você os conheça, tal como presente na Figura 1.

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Figura 1 – Diferentes termos para trabalho em equipe

Fonte: elaborada pelo autor.

Por fim, faz-se ressaltar que quando se estuda sobre o


tema é inerente que as discussões adentrem ao universo
dos relacionamentos interpessoais. Isso porque as equipes
são formadas por diferentes pessoas, com diferentes
posicionamentos, valores, crenças e culturas, dividindo um mesmo
ambiente de trabalho. Se relacionar com o outro sempre vai ser
um dos grandes desafios quando se fala no trabalho em equipe.

Contudo, as pesquisas realizadas neste contexto de trabalho


em equipe se constituem como importantes ferramentas para
a redefinição das relações interpessoais e intergrupais nas
instituições de saúde, assim como para as políticas de gestão
de pessoas, indo ao encontro das necessidades surgidas pelos
cenários de trabalho (PEDUZZI; LEONELLO; CIAMPONE, 2016).

Destarte, é importante que você conheça e compreenda como


o trabalho em equipe e as relações interpessoais acontecem
dentro das organizações, indispensável para que a atenção à
saúde possa ser mais resolutiva, com garantia da continuidade e
integralidade da assistência.

16
Referências bibliográficas
PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia.
Revista Saúde Pública. v. 35, n. 1, p. 103-109, 2001.
PEDUZZI, M.; LEONELLO, V. M.; CIAMPONE, M. H. T. Trabalho em equipe
e prática colaborativa. In: Paulina Kurcgant (Org.). Gerenciamento em
Enfermagem. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016, p. 103-114.

PARA SABER MAIS

Para que você tenha uma profunda compreensão sobre o


trabalho em equipe, faz-se necessário que você conheça inclusive
a origem e os significados das palavras “trabalho” e “equipe”.

A concepção do conceito de “trabalho” vem do ato de trabalhar,


de ocupar-se manual ou intelectualmente com algo, ou alguma
atividade. Já o conceito de “equipe” pode ser compreendido
como um conjunto de indivíduos que se dedicam à realização
(em conjunto) de uma mesma tarefa ou trabalho (FERREIRA,
1999). Assim sendo, o trabalho em equipe se refere à atuação de
diferentes pessoas em busca de um objetivo em comum a todos.

Estudando mais a fundo o termo “equipe”, sabe-se que ele vem


da palavra francesa esquif, cujo significado está associado às
filas de barcos presos uns aos outros e rebocados por homens
ou cavalos. Como estes homens desenvolviam esta atividade
coletivamente, com um propósito único, compartilhando entre si
esta tarefa, originou-se a expressão “equipe de trabalhadores”,
que posteriormente passou a caracterizar o trabalho coletivo e
compartilhado, no qual vários indivíduos buscavam o alcance de
uma meta comum ao grupo (MUCCHIELLI, 1980).

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Referências bibliográficas
FERREIRA, A. B. H. Aurélio século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa.
3ª ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
MUCCHIELLI, R. O trabalho em equipe. São Paulo: Martins Fontes, 1980.

TEORIA EM PRÁTICA

Reflita sobre a seguinte situação: você como profissional da


saúde compartilha seu trabalho com outros membros de
sua equipe multidisciplinar (enfermeiros, médicos, dentistas,
agentes comunitários de saúde, entre outros). Sabendo que
um dos pressupostos mais importantes da Política Nacional
de Humanização do Sistema Único de Saúde é o estímulo à
atuação transdisciplinar das equipes, como você percebe sua
operacionalização dentro das instituições de saúde? Para você,
quais são os grandes desafios para se garantir uma assistência
de qualidade com base nos preceitos da transdisciplinaridade?
Ademais, os profissionais estão preparados para assumir um
novo modelo de cuidado e de processo de trabalho?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo


professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no
ambiente de aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

Este trabalho buscou analisar as percepções dos profissionais


de Atenção Primária à Saúde (APS) sobre a Estratégia Saúde da

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Família. Dentre seus principais resultados destacou-se que a APS
representa um local de difusão de ações curativas, mas também,
de promoção da mudança do modelo vigente de cuidado em
saúde por meio do trabalho em equipe.

Para realizar a leitura, acesse a plataforma Biblioteca Virtual da


Kroton e busque pelo título da obra.

SORATTO, J. et al. Percepções dos profissionais de saúde sobre a


Estratégia de Saúde da Família: equidade, universalidade, trabalho
em equipe e promoção da saúde/prevenção de doenças. Revista
brasileira de medicina de família e comunidade. Rio de Janeiro,
v. 10, n. 34, p. 1-7, 2015.

Indicação 2

Este estudo trouxe aspectos sobre as representações sociais do


Programa Saúde da Família para os profissionais. Percebeu-se
que o trabalho em equipe é representado como uma convivência
compartilhada no mesmo espaço físico, numa abordagem
multiprofissional, sem que seja evidenciada a interdisciplinaridade.
Foi identificado como desafio o rompimento do paradigma
tradicional da saúde, calcado na fragmentação do conhecimento.

Para realizar a leitura, acesse a plataforma Biblioteca Virtual da


Kroton e busque pelo título da obra.

LEITE, R. F. B.; VELOSO, T. M. G. Trabalho em equipe:


representações sociais de profissionais do PSF. Psicologia:
Ciência e profissão, Brasília, v. 28, n. 2, 2008.

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QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes
neste Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em
Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas,
além de questões de interpretação com embasamento no
cabeçalho da questão.

1. Referente ao trabalho em equipe, escolha a alternativa que


melhor o representa.

a. Está associado a um modo isolado e independente de


se trabalhar.
b. Acontece divisão excessiva do trabalho, o que contribuiu
para a fragmentação das tarefas.
c. Contribui para reações individuais do trabalhador e
tarefas parciais.
d. Os diferentes profissionais assumem papéis
interdependentes em prol de um objetivo comum a todos.
e. Possibilita a oportunidade de acompanhar toda a
execução e finalização do trabalho.

2. Quanto à configuração para a realização do trabalho do tipo


equipe agrupamento, complete o trecho a seguir: “Refere-se
a um conjunto de _______ que desempenham esforços
_________ para o planejamento e tomada de decisão, não
havendo __________ entre esses sujeitos, mas sim uma
_________ das atividades dos agentes agrupados”.

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a. Habilidades; Coletivos; Articulação; Interação.
b. Pessoas; Individuais; Articulação; Sobreposição.
c. Habilidades; Individuais; Articulação; Interação.
d. Pessoas; Coletivos; Comunicação; Sobreposição.
e. Processos; Coletivos; Comunicação; Interação.

GABARITO

Questão 1 - Resposta D
Resolução: O trabalho em equipe deve ser percebido como
ferramenta para a realização de atividades em que diferentes
pessoas assumem papéis interdependentes em prol de um
objetivo comum a todos, em que cada qual oferece suas
habilidades na construção de um produto final.
Questão 2 - Resposta B
Resolução: O trabalho realizado pelas equipes
agrupamentos é bastante comum nos processos de trabalho
das instituições de saúde, principalmente por envolver um
conjunto de pessoas que planejam e tomam decisões de
maneira individualizada, sem que haja articulação entre
seus membros.

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TEMA 3

Composição e atuação das


equipes de ESF e Nasf

INÍCIO
______________________________________________________________
Autoria: Hellen Emília Peruzzo Aveiro
Leitura crítica: Fabiane Gorni Borsato

TEMA 1
TEMA 2
TEMA 3
TEMA 4
DIRETO AO PONTO

A Rede de Atenção à Saúde (RAS) tem como seu eixo central e


ordenador a Atenção Primaria à Saúde (APS). Ela é responsável pelo
acompanhamento e atendimento da maior parte das necessidades
de saúde da população, além de ser a porta de entrada dos
serviços de saúde. Sendo assim, tem como objetivo oferecer
atenção integral, de maneira efetiva, garantindo a prevenção, a
promoção, o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação, sempre
promovendo a autonomia das pessoas (BRASIL, 2017).

Na tentativa de reorganizar o modelo de atenção à saúde por


meio da atenção básica, que antes era centrada na doença e
na valorização da atenção hospitalar, pensou-se em elaborar
uma equipe multiprofissional a partir do Programa Saúde da
Família (PSF), que mais tarde passou a se chamar Estratégia
Saúde da Família (ESF), conforme a Figura 1. Sua estrutura básica
era formada por um enfermeiro, um médico generalista, um
ou dois auxiliares de enfermagem e de quatro a seis Agentes
Comunitários de Saúde (ACS) (BRASIL, 2017).

Figura 1 – Implementação dos programas


na APS ao longo do tempo

Fonte: elaborada pelo autor.

Quanto aos seus principais pressupostos, a ESF tem como foco


da atenção a família, fortalecendo o vínculo entre o serviço

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e a comunidade. Outro aspecto importante é a premissa
da integralidade em suas diferentes vertentes, com uma
atenção especial no desenvolvimento do trabalho em equipe
interdisciplinar, contribuindo para a desconstrução do cuidado
em saúde fragmentado (BRASIL, 2017).

Dentre as atribuições mais importantes comuns a todos os


profissionais das equipes da ESF que você precisa saber,
destacam-se: participação no processo de territorialização;
realizar cuidados em saúde conforme as especificações de cada
categoria profissional de toda a população de abrangência;
garantir integralidade da atenção; realizar busca ativa; oferecer
escuta qualificada e um atendimento humanizado para a
criação de vínculo; participar do planejamento e avaliação das
tarefas desempenhadas pela equipe; estimular a mobilização
e a participação social da comunidade; assegurar qualidade
dos registros; e envolver-se nas atividades de educação
permanente (BRASIL, 2017).

Após a criação das equipes da ESF e com o objetivo de ampliar


o acesso da população em geral às ações de Saúde Bucal,
potencializando a reorganização destes serviços a nível de atenção
primária, o Ministério da Saúde propôs a inclusão das Equipes de
Saúde Bucal (ESB) neste contexto. A proposta foi ao encontro da
necessidade de ampliação do acesso aos serviços de prevenção,
promoção e recuperação da saúde bucal pela população e de
melhorar os índices epidemiológicos referentes à saúde bucal
dos brasileiros (BRASIL, 2000). Entretanto, no início de 2020 a ESB
foi desvinculada da ESF, possuindo uma equipe independente no
Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

Mais tarde, partindo da necessidade de se alcançar a integralidade


no atendimento em saúde, além da interdisciplinaridade das
atividades, percebeu-se que seria importante incluir outras

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categorias profissionais para complementar e qualificar o trabalho
realizado nas equipes da ESF, resultando na criação do Núcleo
de Apoio à Saúde da Família (Nasf), que posteriormente passou a
se chamar Núcleo de Apoio à Saúde da Família e Atenção Básica
(Nasf-AB). Ele tem como intuito agregar valor à assistência já
oferecida, além de ampliar a abrangência e as possibilidades de
resolubilidade das ações da atenção básica (BRASIL, 2017).

As equipes do Nasf-AB podem desenvolver ações de apoio como:


discussão dos casos juntamente com a equipe da ESF; oferecer
atendimento conjunto ou não; realização de interconsultas;
construção de projetos terapêuticos em conjunto; promover a
educação permanente; realizar intervenções nos territórios de
abrangência e na saúde de grupos populacionais e da coletividade;
desenvolver ações intersetoriais; oferecer ações preventivas e de
promoção da saúde; e promover discussões sobre o processo de
trabalho das equipes de saúde (BRASIL, 2017).

Faz-se necessário ressaltar que, com o novo modelo de


financiamento para custeio da APS, a partir da Portaria
n° 2.979, de 12 de novembro de 2019, a formulação de equipes
multiprofissionais deixou de estar vinculada às tipologias de
equipes Nasf-AB. A partir desta desvinculação, o gestor do
município passou a possuir autonomia para formular suas
equipes multiprofissionais, definindo quais serão os profissionais
vinculados, a carga horária deles e até mesmo a composição dos
arranjos das equipes.

Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.444, de 28 de dezembro de 2000.
Estabelece incentivo financeiro para a reorganização da atenção à saúde
bucal prestada nos municípios por meio do Programa de Saúde da Família.
Diário Oficial da União, 29 dez. 2000. Disponível em: http://www1.saude.
rs.gov.br/dados/11652497918841%20Portaria%20N%BA%201444%20de%20
28%20dez%20de%202000.pdf. Acesso em: 21 dez. 2020.

25
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Série E. Legislação
em Saúde. Brasília, 2012. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/
publicacoes/geral/pnab.pdf. Acesso em: 21 dez. 2020.

PARA SABER MAIS

Muito embora a Equipe de Saúde Bucal já não esteja mais


vinculada às equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), é
importante conhecer um pouco mais sobre os muitos os desafios
que permearam essa inserção ao longo dos anos.

Em uma pesquisa realizada com os diferentes profissionais


atuantes nas equipes da ESF foi evidenciado que, embora os
demais profissionais acreditassem que essa incorporação era
participativa e efetiva, existe sentimento de exclusão experenciado
pela ESB em relação às atividades desempenhadas pela equipe da
ESF (PERUZZO et al., 2018).

No cenário das unidades básicas, a ESB, na grande maioria


das vezes, desempenha suas atividades em um ambiente
privativo. Por não possibilitar a circulação, acabava restringindo
o contato com os demais membros da equipe. Contudo, para os
profissionais de saúde bucal este sentimento de exclusão estava
mais atrelado às relações e papéis dentro da própria equipe, uma
vez que os demais membros acabavam excluindo-os de algumas
atividades da ESF, principalmente por acreditarem que nem todas
as ações desempenhadas eram de interesse deles, refutando a
premissa de que o espaço físico poderia influenciar de maneira
negativa nesta integração (PERUZZO et al., 2018).

Outra perspectiva relacionada a esta inclusão foi sobre a


dificuldade dos profissionais da ESB redirecionarem o foco para
a prevenção e promoção da saúde. Este contexto pode estar

26
relacionado à cultura histórica e socialmente fundamentada
na formação em consultórios particulares, a partir do
desenvolvimento de ações mecanizadas, além do baixo incentivo
para o trabalhar em equipe, indispensáveis para a atuação na
atenção primária (GIUDICE; PEZZATO; BOTAZZO, 2014).

Referências bibliográficas
GIUDICE, A. C. M. P.; PEZZATO, L. M.; BOTAZZO, C. Práticas avaliativas:
reflexões acerca da inserção da saúde bucal na Equipe de Saúde da Família.
Saúde Debate, v. 37, n. 96, p. 32-42, 2013.
PERUZZO, H. E. et al. Os desafios de se trabalhar em equipe na estratégia
saúde da família. Escola Anna Nery, v. 22, n. 4, 2018.

TEORIA EM PRÁTICA

O trabalho multiprofissional e interdisciplinar é um grande desafio


para todos os profissionais que atuam nas equipes de Estratégia
Saúde da Família (ESF). Além disso, a ESF tem como um de seus
mais importantes campos de atuação a promoção, prevenção
e tratamento de pacientes que vivenciam doenças crônicas,
principalmente por corresponderem a um quantitativo expressivo
dentre as demandas para atuação na comunidade. Pensando que
você faz parte deste processo de trabalho, como poderá garantir
uma atenção integrada e resolutiva para os pacientes crônicos,
seus familiares e comunidade? Além disso, como as equipes do
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) podem ser inseridas
neste processo de cuidado?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo


professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no
ambiente de aprendizagem.

27
LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

Este trabalho teve como objetivo contextualizar a implantação


das equipes de Nasf e refletir sobre a incorporação e atuação
dos terapeutas ocupacionais dentro destas equipes, em que
percebeu-se que os profissionais estão sobrecarregados e
muitas vezes não possuem suporte para responder a essas
demandas da comunidade.

Para realizar a leitura, acesse a plataforma Biblioteca Virtual da


Kroton e busque pelo título da obra.

LANCMAN, S.; BARROS, J. Estratégia de saúde da família (ESF),


Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) e terapia ocupacional:
problematizando as interfaces. Revista de Terapia Ocupacional
da Universidade de São Paulo, v. 22, n. 3, p. 263-269, 2011.

Indicação 2

Este artigo objetivou avaliar se os atributos essenciais e derivados da


Atenção Primária à Saúde (APS) estão presentes na Estratégia Saúde
da Família (ESF), em que conclui-se que, segundo os profissionais
enfermeiros, médicos e gestores, os atributos fundamentais e
provenientes da APS, avaliados na ESF, foram evidenciados.

Para realizar a leitura, acesse a plataforma Biblioteca Virtual da


Kroton e busque pelo título da obra.

GOMES, M. F. P.; FRACOLLI, L. A. Avaliação da estratégia saúde


da família sob a ótica dos profissionais. Revista Brasileira de
Promoção da Saúde, v. 31, n. 3, 2018.

28
QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes
neste Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em
Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas,
além de questões de interpretação com embasamento no
cabeçalho da questão.

1. Quanto à composição das equipes de Estratégia Saúde da


Família, elas são formadas pelos seguintes profissionais:

a. Um enfermeiro, um médico generalista e um auxiliar


de enfermagem.
b. Um enfermeiro, um médico generalista, um ou dois
auxiliares de enfermagem e de quatro a seis agentes
comunitários de saúde.
c. Um enfermeiro e um médico generalista.
d. Um enfermeiro e de quatro a seis agentes comunitários
de saúde.
e. Um enfermeiro e um ou dois auxiliares de enfermagem.

2. Pensando na implementação das equipes de Saúde da


Família, a partir de 1994, qual foi o grande objetivo desta
iniciativa?

a. Fortalecer o modelo biomédico de atenção à saúde.


b. Direcionar a atenção para a doença, valorizando a
atenção hospitalar.

29
c. Oferecer atendimento especializado para o indivíduo, sem
considerar sua família ou a comunidade.
d. Desestimular a participação social, bem como a autonomia
dos indivíduos e comunidade.
e. Reorganizar o modelo de atenção à saúde por meio
da atenção básica, centrando esforços na promoção e
prevenção da doença.

GABARITO

Questão 1 - Resposta B
Resolução: A equipe da ESF é constituída por um enfermeiro,
um médico generalista, um ou dois auxiliares de enfermagem
e de quatro a seis agentes comunitários de saúde.
Questão 2 - Resposta E
Resolução: Na tentativa de reorganizar o modelo de
atenção à saúde por meio da atenção básica, que antes era
centrado na doença e na valorização da atenção hospitalar,
pensou-se na criação de uma equipe multiprofissional
a partir do PSF, que mais tarde passou a se chamar ESF.
Sendo assim, esta proposta veio reforçar os pressupostos
da Atenção primária à Saúde, com base em uma atenção
integral, de maneira efetiva, garantindo a prevenção,
promoção, diagnóstico, tratamento e reabilitação,
promovendo a autonomia das pessoas.

30
TEMA 4

Prática interprofissional
colaborativa em saúde

INÍCIO
______________________________________________________________
Autoria: Hellen Emília Peruzzo Aveiro
Leitura crítica: Fabiane Gorni Borsato

TEMA 1
TEMA 2
TEMA 3
TEMA 4
DIRETO AO PONTO

A Prática Interprofissional Colaborativa em Saúde (Pics) ocorre


quando os diferentes profissionais desenvolvem suas ações,
embasados na integralidade da saúde, direcionando o olhar ao
indivíduo. Além de envolver os indivíduos e suas famílias, também
envolvem seus cuidadores e a comunidade. Constrói-se uma
percepção de “com, para e sobre” as diferentes profissões, com
o intuito de fomentar uma colaboração entre os profissionais
atuantes nas equipes de saúde e melhorar a qualidade da
assistência oferecida (AGRELI, 2017).

Figura 1 – Conjunto de domínios da Pics

Fonte: elaborada pelo autor.

As práticas realizadas por equipes integradas podem ser


representadas pelo respeito mútuo, colaboração e confiança,
consolidadas também em conhecer o papel profissional das demais
áreas, fomentando a interdependência e complementaridade dos
diferentes saberes e ações (D’AMOUR et al., 2008).

Neste sentido, faz se necessário a existência da colaboração


entre os profissionais. Esta colaboração está fundamentada na
premissa de que os profissionais precisam trabalhar em conjunto
para oferecer uma assistência melhor, mesmo defendendo seus

32
interesses particulares e um certo grau de autonomia profissional.
Trata-se, ainda, de uma disposição frente ao gerenciamento do
cuidado em saúde, que abarca práticas clínicas novas, integração
da assistência e elaboração de redes de cuidado nos diferentes
níveis da atenção (D’AMOUR et al., 2008; AGRELI, 2017).

Segundo D’Amour et al. (2008), alguns conceitos que podem


contribuir para a compreensão sobre o construto da colaboração:

• Interdependência: refere-se aos anseios em contemplar as


necessidades do usuário, criando uma disposição maior para
a dependência mútua.

• Compartilhamento: a maneira como os membros da


equipe dividem responsabilidades e tomadas de decisão.

• Parceria (ou sociedade): corresponde ao envolvimento


de dois ou mais profissionais nas atividades colaborativas,
representada por uma relação de companheirismo.

• Poder: trata do empoderamento simultâneo dos membros


da equipe e do reconhecimento desta classificação.

Pensando nisso, D’Amour et al. (2008) ainda criou um modelo


para avaliar a colaboração interprofissional dentro dos
serviços de saúde com base em quatro dimensões: a primeira
está relacionada aos objetivos de visão compartilhada, de
modo consensual, direcionada para a promoção da prática
centralizada nos usuários; a segunda refere-se à consciência
de interdependência entre profissionais, correspondendo
à internalização do reconhecimento mútuo, do respeito,
do conhecimento dos valores, das relações de confiança,
competências e responsabilidades admitidas; a terceira constitui
a governança que está associada ao papel do gestor; e a quarta
trata da formalização, que diz respeito às responsabilidades e
negociações compartilhadas.

33
É importante compreender que tanto a comunicação
interprofissional quanto a Atenção Centrada na Pessoa (ACP)
fazem parte de um conjunto de competências essenciais para
o desenvolvimento da Pics. Neste sentido, existe uma mudança
no olhar dos profissionais e dos serviços, direcionando o foco da
atenção para as necessidades de saúde dos indivíduos, ou seja, para
ACP elemento de mudança do modelo de atenção, uma ferramenta
para maior racionalidade dos custos e que contribui para melhorias
na qualidade da assistência e cuidados à saúde (AGRELI, 2017).

A ACP contempla três elementos-chave: a perspectiva aumentada


do cuidado à saúde, o usuário como agente ativo no cuidado
e na participação social e a relação interprofissional e com o
usuário. Estas ações direcionam para uma prática compartilhada
entre profissionais de outras áreas. Sendo assim, essas ações
voltadas aos usuários e focadas nas suas necessidades de
saúde possibilitam mudanças significativas na perspectiva da
Pics. Isto propicia a realização de um trabalho interprofissional
colaborativo (AGRELI, 2017).

Por fim, existe uma relação de dependência entre as práticas de


saúde e a formação profissional, essencial para a reorganização
do processo de trabalho em saúde, com o enfoque nas
necessidades dos usuários (D’AMOUR et al., 2008). Deste modo,
faz-se necessário a incorporação da Educação Interprofissional
na formação dos profissionais de saúde, com o objetivo de
contribuir para a construção de processos de trabalho mais
colaborativos e integrados.

Referências bibliográficas
AGRELI, H. L. F. Prática interprofissional colaborativa e clima do trabalho
em equipe na Atenção Primária à Saúde [tese]. São Paulo. Escola de
Enfermagem, Universidade de São Paulo, 2017. Disponível em: https://
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7140/tde-27062017-165741/publico/
Heloise_01_04_17.pdf. Acesso em: 21 dez. 2020.

34
D’AMOUR, D. et al. A model and typology of collaboration between
professional in healthcare organization. BMC Health Services Research,
v. 8, n. 188, 2008. Disponível em: https://bmchealthservres.biomedcentral.
com/articles/10.1186/1472-6963-8-188. Acesso em: 21 dez. 2020.

PARA SABER MAIS

A habilidade de comunicação é fundamental para o


desenvolvimento do grupo, principalmente por criar uma
percepção comum de realização no contexto da equipe, que
permitirá a construção efetiva da colaboração interprofissional.
Além disso, a comunicação representa um lugar de destaque em
relação aos domínios da Prática Interprofissional Colaborativa
em Saúde (Pics), por possibilitar uma comunicação aberta e
efetiva entre os membros das equipes de saúde e proporcionar
compartilhamento nas inquietações e conquistas do processo de
trabalho, contribuindo para o alcance de melhores resultados e
satisfação dos usuários (GOCAN; LAPLANTE; WOODEND, 2014).

É importante ressaltar que as exigências e as cobranças inerentes


às instituições de saúde, no sentido de melhoria nos indicadores e
no quantitativo de procedimentos assistenciais, podem contribuir
para a burocratização no atendimento e, consequentemente,
para a dificuldade de se manter um diálogo autêntico entre
os diferentes profissionais, fragilizando a comunicação
interprofissional (PREVIATO; BALDISSERA, 2018).

Em pesquisa realizada por Previato e Baldissera (2018), que buscou


analisar a comunicação interprofissional, frente à Pics, entre as
equipes da Atenção Primária à Saúde (APS), identificou-se aspectos
de fragilidade, por exemplo, a troca unilateral de informações
dentro do processo de trabalho com a utilização de ferramentas
tecnológicas, por meio do prontuário eletrônico, das redes sociais,
dos aplicativos do celular e de reuniões esporádicas com a equipe.

35
Esta comunicação, pautada em aspectos pouco efetivos, distancia a
equipe do agir comunicativo (PREVIATO; BALDISSERA, 2018).

Apesar dos percalços, também são observadas potencialidades


quanto à comunicação efetiva neste cenário, como a abordagem
do cuidado centrado no usuário, identificada como objetivo
fundamental da comunicação entre os membros das equipes.
Neste sentido, o matriciamento (trabalho interdisciplinar realizado
por diferentes áreas para ampliar a atenção à saúde), as visitas
domiciliares e a educação permanente constituem ferramentas
essenciais para esta comunicação, possibilitando um diálogo e
a troca dos saberes entre as diferentes categorias profissionais
(PREVIATO; BALDISSERA, 2018).

Referências bibliográficas
GOCAN, S.; LAPLANTE, M. A.; WOODEND, K. Interprofessional collaboration
in Ontario’s family health teams: a review of the literature. J. Res. Interprof.
Pract. Educ., v. 3, n. 3, p. 1-19, 2014. Disponível em: https://jripe.org/index.
php/journal/article/view/131. Acesso em: 21 dez. 2020.
PREVIATO, G. F.; BALDISSERA, V. D. A. A comunicação na perspectiva
dialógica da prática interprofissional colaborativa em saúde na Atenção
Primária à Saúde. Interface (Botucatu), v. 22, n. 2, p. 1535-1547, 2018.
DOI: 10.1590/1807-57622017.0647.

TEORIA EM PRÁTICA

Reflita sobre a seguinte situação: você atua em uma equipe


multiprofissional da Atenção Primária à Saúde (APS), composta
por profissionais de diferentes categorias. Você tem percebido
que as atividades desenvolvidas no processo de trabalho não têm
acontecido de maneira integrada, tão pouco baseada na Prática
Interprofissional Colaborativa em Saúde (Pics). Seus colegas de
trabalho têm realizado ações isoladas que contribuem para a
fragmentação da atenção em saúde, além disso, não confiam e

36
nem compartilham informações entre si. Frente a este cenário,
quais ações você pode adotar para estimular a Pics em sua equipe
de trabalho no contexto da APS?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo


professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no
ambiente de aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

Esta tese teve como objetivo analisar a Prática Interprofissional


Colaborativa em Saúde (Pics) em equipes de Atenção Primária
à Saúde com diferentes perfis de Clima do Trabalho em Equipe.
Seus resultados mostraram que apesar do clima ser importante
para a colaboração, compreender sobre a Pics no âmbito do
SUS é essencial.

Para realizar a leitura, acesse a plataforma Biblioteca Virtual da


Kroton e busque pelo título da obra.

AGRELI, H. L. F. Prática interprofissional colaborativa e clima


do trabalho em equipe na Atenção Primária à Saúde [tese].
São Paulo. Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, 2017.

Indicação 2

Neste artigo percebeu-se que a comunicação interprofissional


e colaborativa ainda representam um grande desafio para as
equipes atuantes no contexto da saúde, principalmente como

37
estratégia para o desenvolvimento de um trabalho compartilhado,
comunicativo e transformador.

Para realizar a leitura, acesse a plataforma Biblioteca Virtual da


Kroton e busque pelo título da obra.

PREVIATO, G. F.; BALDISSERA, V. D. A. A comunicação na


perspectiva dialógica da prática interprofissional colaborativa em
saúde na Atenção Primária à Saúde. Interface (Botucatu), v. 22,
n. 2, p. 1535-1547, 2018.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes
neste Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em
Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas,
além de questões de interpretação com embasamento no
cabeçalho da questão.

1. A Atenção Centrada na Pessoa (ACP) faz parte de


um conjunto de competências essenciais para o
desenvolvimento da Pics. Nesse contexto, qual
das alternativas seguir apresenta corretamente os
elementos-chave contemplados pela ACP?

a. Atenção ao profissional de saúde; prática de integração


da comunidade; e segregação do usuário no contexto
do cuidado.

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b. Perspectiva aumentada do cuidado à saúde; usuário como
agente ativo no cuidado e na participação social; e relação
interprofissional e com o usuário.
c. Rede de apoio aos gestores; desenvolvimento de comissões
internas; e relação multiprofissional.
d. Perceptiva aumentada do cuidado à saúde; rede de apoio ao
gestor; e ações mútuas entre profissionais.
e. Colaboração ativa; educação permanente; e usuário como
agente ativo no cuidado.

2. Pesquisas realizadas identificaram fatores que podem


fragilizar a comunicação interprofissional. Qual das
alternativas a seguir apresenta corretamente estes fatores?

a. Reuniões constantes e treinamentos repetitivos.


b. Regras institucionais e habilidades.
c. Informações amplamente divulgadas e a presença
de facilitadores.
d. Troca unilateral de informações e de reuniões de
equipe esporádicas.
e. Falta de meios digitais e cultura de comunicação escrita.

GABARITO

Questão 1 - Resposta B
Resolução: Os três elementos-chave são a perspectiva
aumentada do cuidado à saúde, usuário como agente
ativo no cuidado e na participação social, e relação
interprofissional e com o usuário, que direcionam para uma
prática compartilhada entre profissionais de outras áreas.

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Questão 2 - Resposta D
Resolução: Troca unilateral de informações dentro do
processo de trabalho com a utilização de ferramentas
tecnológicas, por meio do prontuário eletrônico, das
redes sociais, dos aplicativos do celular e de reuniões
de equipe esporádica prejudicam a comunicação
efetiva e interprofissional.

40
BONS ESTUDOS!

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