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Acaso Perfeito - Jessica D. Santos
Acaso Perfeito - Jessica D. Santos
SANTOS
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ACASO PERFEITO
1ª Edição
I.
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apareceram. Ela jamais imaginou que anos depois o reencontraria. Muito menos
Ele continuava o mesmo homem que a seduziu naquela noite. Agora, ela
com ela.
questão de uni-los. Mas será que o amor será capaz de superar as mentiras,
intrigas e perseguições?
SAFIRA
Hoje seria o meu dia de folga, mas uma colega ficou doente e eu estou
cobrindo o turno dela. Um pouco de trabalho é bom para distrair a mente, melhor
do que ficar na minha casa, onde o clima não anda muito bem.
— Menina, atenda aquela mesa ali. — A mulher do meu chefe aponta para
parecendo pensativo.
Dou uma avaliada nele rapidamente e percebo que nunca o vi aqui nos
meus turnos.
bem bonitinho.
curiosidade.
Seu olhar parece distante, parece não ter notado a minha presença. Depois
de vários segundos, ele fixa seus olhos em mim e meu coração bate
olhos azuis profundos fixos em mim, tenho a certeza de que é o homem mais
lindo que já vi. Ele parece ser um pouco mais velho do que eu, talvez uns trinta
anos.
constrangido.
— Ah, tudo bem. O que vai querer? — pergunto, já pronta para anotar o
pedido. Ele franze a testa, parecendo confuso, então decido ser um pouco
Ele parece estar alheio a tudo, como se nem mesmo soubesse o que está fazendo
aqui.
— Me traga a bebida mais forte que tiver na casa. — Faz seu pedido,
— O.k., já retorno, com licença. — Vou até o barman e faço o pedido, mas
não a bebida mais forte da casa, não sei o que esse homem tem para querer se
normalmente só faço o meu trabalho, que é servir as mesas, e volto para o meu
canto. Só que esse cliente é diferente, algo nele que me deixa curiosa.
me.
— Droga — murmuro, virando-me para o meu colega de trabalho, que me
— Se ficar tanto tempo secando o cara ele vai perceber. Acho que não
Suspiro alto ao pegar o copo de suas mãos. Nem sei se está brincando ou
sendo intrometido.
avermelhados. — Essa é a bebida mais forte que você tem? — Dessa vez ele me
trabalho — falo, séria, mas com o coração acelerado por estar neste momento
sob o olhar intenso do belo homem. — E não sei te dizer se é a mais forte porque
não bebo nada alcóolico, mas se quiser eu trago outra coisa. — Desvio o olhar
Odeio quando ela me chama por “garota”, ela sabe meu nome. Prefiro mil
vezes trabalhar no turno em que o marido dela está, ele é um senhor muito
Está de olho no bonitão? Tira seu cavalinho da chuva, porque aqui não é lugar
dela.
Passo a última hora atendendo outras pessoas, e a cada passo que eu dou
no salão entregando os pedidos, sinto que estou sendo observada pelos olhos
azuis intensos do desconhecido. Eu consigo sentir seu olhar queimando em mim,
talvez por estranhar não ter sido mais atendido por mim. Ou nem esteja me
turno acabar.
gentilmente.
— Tem certeza? — pergunto, passando os olhos pelo salão, que ainda está
cheio. Automaticamente, meus olhos fixam no moreno bonito que está olhando
— Tenho sim, amanhã você terá que vir novamente, então vá descansar.
Tenha uma boa noite, querida — diz e se afasta.
Ele está certo, amanhã é outro dia e preciso estar aqui novamente.
pertences, saio do cômodo. Meu celular começa a tocar, então o pego e vejo que
é a minha mãe.
reclamando que você sai e chega a hora que quer. Ele disse que aqui não é
disso. É daqui que sai o nosso sustento. Não estou fazendo nada errado, e se
estivesse, seria um problema meu, não do seu marido, que... — Calo-me, com as
mãos trêmulas de tanto nervoso. — Nós já discutimos mais cedo, e não quero
ficar chateada novamente, então não vou voltar para casa hoje. Não se preocupe,
que acontece em nossa casa, então ele deveria trabalhar para ter esse direito.
— Ele tem idade para ser seu pai, Safira! Deveria respeitá-lo. Ele só não
trabalha porque vive doente, não pode pegar muito peso e...
Por mais que eu tente alertá-la do seu relacionamento tóxico, ela não me
Ele não te merece! — exclamo, e só então percebo que alguns clientes estão me
— Safira, não venha mesmo para casa, não tolero que trate meu marido, o
homem que eu amo, com tamanha falta de respeito. Quando você estiver calma,
encerro a ligação. Ela disse minha e não nossa casa. Uau, perdi o direito da
minha casa também, eu sabia que um dia essa hora ia chegar. Guardo meu
celular na bolsa e respiro fundo, então olho para o balcão do bar duas vezes antes
de decidir que vou afogar minhas mágoas na bebida. Não sou de beber muito,
mas hoje preciso de algo forte para eliminar a dor que estou sentindo, nem que
Agradeço mentalmente por não ser mais o chato do barman que estava no meu
turno.
raiva, tristeza e decepção pelo simples fato de não conseguir dar um basta em
toda merda que está acontecendo na minha casa. Sei que a situação em casa está
insuportável, sei que a minha mãe e o marido dela só me deixam ficar lá porque
sou a única que coloca dinheiro dentro daquela casa. Eu sei que deveria me
impor, no entanto, não quero machucar a pessoa que mais amo nessa vida. Ela é
minha única família, não posso dar as costas para a mulher que me deu a vida, eu
seria um monstro.
senta ao meu lado, porém, continuo com a cabeça baixa, chorando baixinho. —
disfarço quando o homem fixa seus olhos em mim, ele não fala nada, apenas me
— Uma vodca, por favor — peço ao barman. Estou nervosa e nem sei por
Encaro seu maxilar firme e quadrado, seus lábios finos e rosados. O olhar
barman. — Obrigado. — Ele se vira para mim e dá um gole em sua bebida, seus
— Nunca o vi por aqui, e trabalho neste lugar faz tempo. — Dessa vez
ouso o olhá-lo dos pés à cabeça, e percebo que suas roupas e sapatos devem ter
custado o olho da cara. — Você não tem cara de que frequenta lugares como
esses. Está perdido? — Passo a língua nos lábios e noto que seus olhos
— Locais elegantes. Você está muito engomadinho para um bar como esse
— Sou Victor. E você está certa, é a primeira vez que venho a esse lugar, mas
isso não quer dizer que eu não frequente lugares como este. — Estende a mão
para mim e eu a pego, sentindo uma eletricidade gostosa tomar conta do meu
corpo.
curioso.
Disfarço meu nervosismo e olho para o barman que está longe,
conversando com um cliente. Agradeço por ele não ser o do meu turno, assim
poderei contar uma mentirinha. Hoje não quero ser a Safira trabalhadora que está
cansada de ser abusada pela mãe, quero ser outra pessoa. Uma pessoa impulsiva,
— Belo nome.
Sou uma péssima garota, dei o nome da minha colega de trabalho para ele.
Mas quem se importa? Hoje quero ser como ela, alegre, impulsiva e sem muitos
problemas na vida. Aliás, qual o problema em dar outro nome? Nem sei se ele
que já não tem muitas pessoas, em seguida, olha para as minhas roupas.
nega, gargalhando.
— Não seria uma má ideia. Você é uma garota muito alegre, conseguiu me
fazer rir algumas vezes em poucos minutos. Estou curioso para saber mais sobre
seco e ele nota. — Enfim... você parecia triste mais cedo. Me desculpe a
Eu e minha boca grande. O que tenho na cabeça? Não devo ficar fazendo
perguntas sobre a vida dos clientes, nem me envolvendo com eles, mesmo que
Victor agora está sério. Ele abaixa a cabeça, parecendo pensativo, e eu fico
curiosa para saber o que toma seus pensamentos neste momento. De início ele
Victor faz um sinal para o barman e pede uma bebida para nós.
Começamos a conversar e o tempo passa tão rápido que nem percebemos. Mas o
homem sentado ao meu lado é do tipo que não gosta muito de falar sobre si, é
vejo uma mistura de tristeza e rancor. Eu me pego pensando no que deve estar
passando em sua cabeça, mas sei que não irá me falar, acabamos de nos conhecer
a minha risada.
acontecendo na minha vida, e você só ouviu, não disse nada. — Tropeço nas
palavras, o álcool começa a fazer efeito. — Sou uma pessoa muito curiosa, então
me diz, o que te trouxe para cá? Você não tem cara de homem de porta de bar.
Não me diga que estou errada, porque sou garçonete, sei de muitas coisas.
entre risos. Tento me ajeitar na banqueta e quase caio para trás, mas ele me
— Hoje faz três anos que a minha esposa faleceu. Nesse momento minha
filha deve estar aos prantos, se lembrando da data miserável e de alguém que não
sobre a ex-mulher, e desde o momento que saiu da cidade a negócios até quando
entrou no bar.
voz. Todo o álcool que estava querendo dominar meu corpo desapareceu após o
seu desabafo. — Victor, foi um prazer te conhecer, mas está na minha hora. —
— Um pouco, mas não tenho nada de valor para ser roubado. — Sorrio,
— Você está enganada. — Dessa vez ele sorri e eu fico meio balançada.
Victor se aproxima e fala no meu ouvido. — Podem querer roubar o seu coração
— Parece que você está tentando fazer isso, e acho que conseguiu.
afastar de mim.
— Acho que ninguém quer me ver hoje, então, não. Mas qual o motivo da
Meu Deus, esse homem é lindo, seu olhar sedutor, seu sorriso bonito.
— Não tem nada de estranho no que podemos fazer a essa hora, Beatriz.
fazer mal, apenas coisas boas, muito boas. Mas você só vai saber se aceitar sair
comigo.
— Pai, minha amiga chega hoje de viagem. Você se lembra que falei que
ela ficará aqui até conseguir se estabilizar na cidade, certo? — fala Vitória, com
— Pensei que essa garota já tivesse resolvido esse problema. Faz uns dois
agora. Você não mudou de ideia sobre deixar minha amiga ficar em casa?
— Por acaso você conhece a família dela? Filha, você disse que a conhece
há anos, mas ela nunca esteve aqui em casa. Para mim é uma desconhecida, não
conheço a índole dela. A amizade com essa garota é muito misteriosa. — Ignoro
— Não sei por que está sendo tão ruim! — Ela bufa e me fuzila com os
olhos negros. — A Safira não vai nos roubar e nem nos matar, nada do tipo! Não
posso deixar que ela e o filho fiquem na rua. Se eles não vierem para cá, eu os
levarei para a casa dos meus avós. — A voz de Vitória é carregada de decepção,
Furiosa, minha filha se levanta da mesa e sai, nem mesmo espera a minha
bem que a minha filha não aceitaria a sua opinião, as duas não se dão muito bem.
Perco até a fome depois do clima de merda que fica entre mim e minha
filha. Quando Vitória me pediu para deixar sua amiga ficar aqui por um tempo,
ela não disse que tinha uma criança envolvida, somente enfatizou que a garota
— Você sabe que quando ela coloca algo na cabeça não tira mais.
essa tal amiga, só espero que essa garota não queira se alojar na minha casa para
— Você está certo, amor, mas não fique chateado com a sua filha por uma
coisa boba como essa. A casa é grande, o que não falta é espaço... — Minha
— Verdade, querida. Vou falar para ela que essa garota pode vir com a
pazes com ela. Odeio quando ela fica zangada comigo por besteira, e uma
sido.
Bato à porta do quarto da minha filha e espero. Nada. Bato mais uma e
outra vez, nada. Frustrado, pigarreio, quase perdendo a paciência. Respiro fundo
— Vitória, sou eu. Abra a porta, quero falar com você. — Toco na
— O que o senhor quer? Esfregar na minha cara que quem manda na casa
palavras.
Não demora para que a porta seja aberta. Olho confuso para a minha filha,
que está com os olhos avermelhados, parece ter chorado. Fico perplexo ao notar
que essa tal amiga deve ser realmente importante para ela.
— O que é tão urgente para o senhor largar o seu café da manhã e vir até
Mesmo com seus vinte e dois anos, Vitória se comporta como uma adolescente.
nome dessa garota desconhecida soa estranho para mim, quando o pronuncio
sinto como se ela não fosse uma boa companhia para a minha filha. Mas não a
Vitória não diz nada, apenas vem em minha direção e se joga em meus
Mais aliviado por ela não estar mais irritada comigo, decido saber um
pouco sobre a amiga.
— Essa garota não é menor de idade, né? Não quero problemas para mim.
— Mal termino de falar e minha filha tem uma crise de riso. Confuso, afasto-me
dela.
muitos.
cama de Vitória, que tem o notebook aberto. Na tela, vejo um garotinho lindo e
Curioso, olho para o menino de cabelos lisos e claros. Seus olhos são lindos —
azuis intensos —, e seu sorriso de sapeca mexe comigo, por alguns instantes me
passar na cabeça. Não sei como agir quando percebo meu encantamento pelo
— É... sim. Recado dado, pode avisar a Safira que ela será bem-vinda em
nossa casa. — Passo por ela e saio em disparada do quarto, sem entender o meu
comportamento repentino.
**
—Você só pode ter perdido o juízo, meu amigo. — Lucas, meu amigo, fala
assim que eu termino de contar sobre os dois hóspedes que terei em casa.
restaurante Bella Flor. Aproveitei que tínhamos uma reunião pendente para falar
sobre a nossa sociedade para passar a tarde conversando com ele sobre tudo o
que está acontecendo. Neste momento, estou sendo repreendido por ele.
— Ainda não perdi, mas se ela continuar assim, com certeza vou perder —
— A Vitória só tem idade. Já está quase chegando aos vinte e três anos e
não faz nada da vida. Você a mimou demais, agora vai ter que aturar, irmão —
Lucas diz.
— Nunca vi essa tal Safira, nem sei quem são seus pais, só sei que ela está vindo
— Muito arriscado não saber nada sobre essa mulher. Como elas se
conheceram você ao menos sabe? Ela é três anos mais velha do que a Vitória, e
como elas se tornaram amigas, se essa Safira morava em São Paulo? — Meu
amigo me encara, desconfiado.
— São tantas perguntas sem respostas! Só sei que deixei a garota vir para a
minha casa. Vamos ver aonde vai chegar essa história — falo, impaciente.
não gosta de ficar mal com Vitória, e nem que eu fique — afirmo, e Lucas faz
— Sua namorada parece uma pessoa boa até demais, ela faz de tudo para
minha frente.
casa dela. Ao entrar em casa, encontro-a vazia, sem sinal de Vitória ou Joana —
dispo e entro no banheiro para tomar uma ducha. Depois de alguns minutos no
banho, saio e procuro uma roupa para dormir. Passo a mão no meu cabelo úmido
enquanto olho para a porta aberta da varanda do meu quarto, um vento gosto me
Olho para o céu e vejo o quanto a noite está bonita. Pensativo, solto um
suspiro e abaixo a cabeça. A conversa que tive com meu amigo não sai da minha
cabeça.
De uma certa maneira Vitória me controla, mesmo eu sendo o pai. Fui pai
aos dezesseis anos, era muito novo, nem curti a minha adolescência. Eu era mais
futebol, videogame, eu estava fazendo sexo escondido dos meus pais. Muitas
vezes faltei no colégio para sair com as garotas.
logo ela engravidou. O fato de eu ter pouca idade na época não me eximiu da
responsabilidade que eu sabia que tinha. Assumi tudo, como deveria ser.
no quarto.
— Oi, querida — Retribuo o sorriso, dando espaço para que ela entre.
finjo um sorriso.
Safira e Miguel. Sinto algo estranho quando ouço esses nomes. O que há
comigo? Balanço a cabeça para me livrar dos meus devaneios.
seguida.
— Depois que o senhor saiu com a Alessandra, não demorou muito para
ela me ligar. Daí eu peguei meu carro e fui buscar os dois na rodoviária. — Os
Fico curioso para saber que tipo de relação elas têm, deve ser uma amizade
sentar na cama.
— Safira não tem grana para isso, pai, um amigo que deu uma carona para
ela — Vitória diz, tristonha. Ao menos sei que minha menina tem um coração
— O.k. No que posso ser útil para a senhorita? — pergunto para quebrar o
— Er... quero pedir também que o senhor trate a Safira bem. Ela é uma boa
pessoa, prometo que não irá se arrepender de estar a acolhendo — diz, quase
inaudível.
— E por que eu maltrataria a sua amiga, filha? Não se preocupe, não sou
tão mal-educado assim. Sei guardar meus sentimentos para mim — falo, meio
chateado.
— Desculpa, pai... É que... pela manhã o senhor não parecia nada satisfeito
quando eu disse que eles chegariam hoje. — Ela abaixa a cabeça e passa a mão
— Confesso que não fiquei nem um pouco feliz, mas se você confia nela,
Me levanto e vou até ela, abraçando-a em seguida. Vitória me aperta contra seu
— Está um pouco tarde e é uma longa história, foi muito engraçado como
acompanho.
— Certo, vou esperar. — Pisco para a minha filha, que sorri abertamente.
— Boa noite, meu anjo. Descanse. — Beijo sua testa e a deixo ir.
Bocejo duas, três vezes antes de sentir meu corpo relaxar e a sonolência tomar
conta de mim.
SAFIRA
Olho para o meu filho que está brincando com a ponta dos meus cabelos
enquanto está mamando. Miguel é meu sol, a minha eterna luz, meu filho é o
verdadeiro motivo da minha mudança de São Paulo para Santo Antônio. Tenho
acabei sendo demitida quando precisaram cortar alguns funcionários, uma vez
dificuldades.
Na noite em que meu filho foi concebido, eu estava trabalhando como
garçonete em um bar no lugar de uma colega que havia ficado doente. Como não
sei dizer não a ninguém, e uma vez que estava chateada com meu padrasto e
minha mãe, acabei aceitando. Achei que seria melhor distrair a mente no
trabalho, e foi nessa mesma noite que conheci o pai de Miguel, um homem
lindo, muito charmoso, um pouco mais velho do que eu. Ainda me recordo da
Lembro-me perfeitamente dos seus lindos olhos, do seu sorriso, a maneira como
... Estamos aos beijos, toques e mãos bobas, não sou nenhuma virgem,
mas Victor é um homem experiente, sabe como beijar, enlouquecer uma mulher e
arrancar suspiros e gemidos dela, nesse momento, apenas com o toque da sua
... Ele vai deslizando a boca em minhas costas, fazendo uma trilha
torturante até chegar a minha bunda. Victor aperta minha carne com seus
para ele, então me inclino em sua direção e o beijo. Retribuindo com a mesma
comprovei que as pessoas podem sim se apaixonar por alguém que nunca viram
— Está quase acabando, não é, meu amor? — brinco com Miguel, que
Tão lindo! A única coisa que puxou a mim foi a cor dos cabelos loiros,
porque a boca e os olhos são uma mistura minha e do pai dele. Até mesmo seu
Victor. Esse nome está marcado na minha memória há anos, é a única coisa
minha amiga, que parece feliz com a minha presença. Sou imensamente grata a
Em São Paulo, quem cuidava do Miguel para mim era uma amiga,
Patrícia. Nós dividíamos o aluguel e esse arranjo era bom para nós duas, mas
quando o seu namorado teve que mudar para outra cidade, ela decidiu que
deveria acompanhá-lo. Foi então que tudo começou a complicar para mim. Eu
precisei arrumar uma babá para o meu filho, tive que assumir integralmente o
então o meu salário passou a não ser mais suficiente. E só me afundei mais
quando me demitiram.
parece mais uma mansão, tudo muito lindo e aconchegante. Minha amiga é
admiração.
que ele nasceu, quando o vi pela primeira vez o meu mundo ficou colorido. Saí
sorridente.
estava grávida. Meu padrasto me expulsou de casa, e minha mãe nem se abalou,
ficou do lado dele. O desgraçado jogou minhas coisas na rua enquanto gritava na
frente dos vizinhos que eu era uma vagabunda que estragou a vida engravidando
Ele queria que eu abortasse, mas me neguei a fazer isso, então minha mãe
disse que eu deveria arcar com as consequências, já que eu tinha vinte e três anos
minha barriga. Ainda dói me lembrar das palavras dela e dos tapas que ela me
deu.
Após ter sido expulsa de casa, fiquei sem saber o que seria de mim e do
meu bebê, porque apesar de ter um emprego no bar, eu não ganhava o suficiente
para sustentar uma criança. Naquela mesma noite, desnorteada, procurei meu
chefe e contei o que tinha acontecido. Comovido com a minha história, ele me
cedeu o quartinho dos fundos, dizendo que eu poderia ficar por alguns dias. Não
Depois de quase uma semana longe de casa eu conheci Vitória, que foi
como um anjo enviado por Deus. A garota de cabelos longos e castanhos estava
aproximei para anotar seus pedidos, ela percebeu que eu tinha chorado, então se
levantou e me puxou para uma mesa afastada. Vitória quis saber se eu estava
bem, o que tinha acontecido, e eu me encontrava tão magoada com minha mãe,
com a minha vida, que acabei desabafando para aquela desconhecida gentil.
para onde iria depois que o meu expediente acabasse. Vitória me deu muitos
conselhos, me fez sorrir dizendo que nem tudo estava perdido e pediu o meu
WhatsApp. Fiquei envergonhada ao dizer que meu telefone não tinha esse
aplicativo, só fazia ligações mesmo.
Naquela época, ela tinha vinte anos, três anos mais nova do que eu, mas
ela foi incrível, me fez uma proposta surreal. Até pensei que estava sonhando
quando a garota pegou em minhas mãos e me disse que tinha um lugar onde eu
poderia ficar até que tudo se resolvesse. Ele me ofereceu a casa de uma amiga,
onde estava passando alguns dias. Eu não pensei duas vezes antes de aceitar a
— Estava pensando em como nos conhecemos. Você foi meu anjo, amiga,
— Eu tenho cara de anjo? Ah, para com isso, dona Safira, eu só fiz o que
achei certo. Se todas as pessoas agissem como eu, o mundo não estaria como
— Amiga, o que você fez por mim foi mais do que um gesto nobre. Você
Quase três anos de amizade com Vitória e eu nunca soube o nome do pai
dela. Ela só se refere a ele como "papai" ou "pai", nunca me disse o nome do
homem que lhe deu a vida. Acho que ele nem mesmo foi pauta de alguma
conversa nossa. De uma coisa tenho certeza, ele deve ser uma pessoa muito
— Safira, Terra chamando! Você está muito pensativa hoje, tem certeza de
que está tudo bem? — Estala os dedos na frente do meu rosto, me fazendo sair
do meu transe.
— O.k., vamos antes que o sr. Guterres venha nos buscar! — brinco com o
Pego Miguel no colo, mas logo ele vai para os braços de Vitória, que tem
um sorriso enorme quando o pega e ele dá um sorrisinho para ela. Meu filho
Assim que chegamos à sala, eu me deparo com uma mulher muito linda,
Deve ser a famosa Alessandra, que Vitória tanto fala; a namorada do pai que
amiga pergunta sem nem olhar para a mulher enquanto brinca com os dedos de
Miguel.
— Bom dia, senhora — falo, sem graça ao notar que a mulher ainda tem
seus olhos em mim. A sua expressão fechada deixa evidente que não gosta nem
enteada.
Passo a mão no meu vestido para tentar disfarçar o nervosismo ao ver que
Alessandra nos segue. Sigo Vitória até a copa enquanto observo atentamente os
detalhes por onde passarmos — é tudo muito lindo e bem decorado. Na copa,
encontro a mesa posta com um café da manhã bem variado — torradas, pães
diversos, suco, queijo e outras coisas gostosas —, mas o que mais chama a
pensativamente pela janela. Ele tem um porte atlético e está com roupa social, o
homem de costas é seu namorado, algum amigo da família ou seu pai. Não me
lembro de ela ter me falado algo sobre namorado, talvez seja um amigo.
Assim que ela fala, eu olho para trás para procurar o sr. Guterres, mas não
peito quando a minha respiração falha assim que o estranho se vira e vejo Victor,
percebido a sua presença na mesa, nem sei em que momento ela se sentou.
direção.
Não sei como reagir, estou sem saber o que fazer. Meus olhos fixam nos de
sorriso. Mas acaba exibindo um sorriso frio, causando uma dor no meu peito.
— Amiga... não... estou muito bem. Do nada, me deu uma dor de cabeça
insuportável — minto, com os olhos lacrimejando. Estou ficando sem ar, meu
— Talvez seja por não ter tomado café. Coma alguma coisa, tenho certeza
de que vai passar. — Vitória soa tão atenciosa, que abaixo a cabeça,
que ela segura nos braços não é apenas o filho da sua melhor amiga, é o seu
irmão também.
— É... pode ser. Mas eu quero subir, por favor. — Minha voz sai chorosa,
Levanto a cabeça e tomo coragem para encarar a minha amiga. Solto uma
Como uma covarde, deixo o meu filho para trás e vou me esconder. Sei
que corro o risco de Victor fazer as contas e descobrir que o menino no colo da
sua filha é dele, mas, neste momento, não tenho forças para enfrentar o meu
Por que será que o destino gosta de brincar comigo dessa maneira?
Beatriz. Pelo menos era esse nome que ela me deu na noite em que nos
encarando como se eu fosse um fantasma, percebi que ela estava tão surpresa
palavras que poderiam sair da minha boca quando descobri que ela não se chama
Beatriz. Depois que ela decidiu se esconder, meus olhos foram automaticamente
parar no garoto que minha filha carregava nos braços — o filho dela. Eu quis
perguntar a Vitória a idade dele, mas achei melhor me calar, já estava com a
cabeça cheia demais para começar a supor as coisas. Eu apenas disfarcei e pedi
licença, dizendo que tinha algumas ligações para fazer no meu escritório. Assim
que fechei a porta do escritório liguei para a única pessoa que me ouve e pode
Agora estou aqui, esperando o meu amigo chegar, minha cabeça uma
Como vou explicar para a minha filha que dormi com essa garota que ela
chama de amiga?
Não preciso dizer nada, é só fazer o mesmo que Safira — fingir que não
nos conhecemos —, então tudo vai ficar bem e cada um segue com a sua vida.
Além do mais, a noite que tivemos foi insignificante, apenas sexo, e uma vez só.
Vitória nunca o perdoará se descobrir que no dia que completou três anos
da morte dela você foi para a cama com a amiga dela, essa que ela parece adorar.
Mas, talvez, naquela época elas nem se conheciam. Ou conheciam? Estou sendo
— Fique bem à vontade, a conversa vai ser longa, meu amigo — declaro,
— Vim o mais rápido que pude. O que aconteceu? Parece que você viu um
Puxo a cadeira e me sento de frente para Lucas. Ele passa a mão em sua
barba rala, enquanto me analisa e nota que não estou nada bem. Muitos anos de
amizade resulta nisso, basta um olhar para saber que algo está muito errado com
o outro.
amargo invadir a minha boca. Passo os dedos nos fios do meu cabelo e solto um
— Como esquecer? Você ficou falando sobre a noite que passou com ela
por quase duas semanas. — Ele dá um sorriso malicioso, mas logo fica sério
O pior.
que está dentro da minha casa é a Beatriz, que, na verdade, se chama Safira! É
imaginando a aparência que eu tinha quando a vi, quando pensei que estava
— Puta que pariu! Me conta essa história direito, não estou entendendo
nada. — Ele ri e eu fecho ainda mais a cara. — Quer dizer que a mulher que
você fodeu há alguns anos está sob o mesmo teto que você, e ainda é amiga da
Vitória?
— Sim, exatamente isso. Mas naquela noite ela me disse que se chamava
Beatriz. Eu que não estou entendendo porra nenhuma! — Minha cabeça lateja,
minha filha. Isso é tudo muito suspeito, não confio nela a ponto de tê-la dentro
garçonete que me atendia. Nesse dia completava três anos da morte de Aline, eu
quis fugir da pressão que estava sentindo dentro de casa com Vitória e saí de
Santo Antônio para fazer uma viagem a negócios no lugar do meu amigo. Eu
disse a ele que não suportava ver o quanto a minha filha chorava e sofria com a
perda da mãe, mesmo depois de tanto tempo, então ele sugeriu que eu fosse no
lugar dele e que deixasse Vitória aos seus cuidados, ele a distrairia o suficiente
A mãe sempre foi a maior inspiração de Vitória, e por mais que o tempo
minha princesa. Ela a amava muito, claro, e por mais que eu não suportasse mais
ver o seu sofrimento por uma pessoa que nem mesmo merecia suas lágrimas, por
mais chateado que eu ficasse com a situação, nunca poderia destruir a boa
Aline nunca foi uma mulher íntegra, ela poderia fingir ser uma mãe e
esposa perfeita, mas não passava de uma farsa, uma vagabunda traidora. Dei
tudo para ela que estava ao meu alcance — amor, fidelidade, carinho —, mas ela
empresa crescer para que pudéssemos ter uma vida mais confortável, a safada
traía com uma pessoa que ela dizia ser seu irmão. Aline teve a coragem de trazer
um filho da puta desconhecido para dentro da nossa casa quando nossa filha
tinha dez anos de idade, e o apresentou como seu irmão mais novo, o único
parente vivo. Eu aceitei numa boa o sujeito dentro da minha casa, afinal, quando
nos conhecemos ela me disse que não tinha família, não tinha ninguém na vida.
Mas depois de anos surgiu esse tal irmão, o Marcelo, que ela nunca havia
mencionado pois nunca tiveram uma boa relação, foi o que ela me disse.
Foi então que, um belo dia, ela me disse que ele a tinha procurado para que
pudessem fazer as pazes e ela não viu motivos para que isso não acontecesse, já
que eram dois adultos e poderiam deixar as diferenças de lado, e eu, como um
otário, o maior corno da história, deixei que Aline enfiasse o amante dela, que eu
acreditava ser seu irmão, dentro da nossa casa. Sustentei o vagabundo por um
bom tempo enquanto ele comia a minha mulher pelas minhas costas.
confiança na mulher que me deu uma família, me deu a minha maior felicidade
que eu poderia querer — Vitória. Eu jamais vi maldade nela, confiava de olhos
maltratava muito a Vitória, tudo era motivo de grito. Eu não sabia o verdadeiro
inocente que a venerava. Só depois que descobri a sua traição que montei o
quebra-cabeça — naquele dia seu “irmão” levou a namorada para nos apresentar.
Até hoje eu me pergunto como nunca notei as trocas de olhares, os sorrisos que
Fui tão inocente que me deixei ser colocado no bolso e ser feito de idiota
Quando recebi a notícia da morte de Aline fiquei desolado, afinal, ela era a
mãe da minha filha, e por mais que eu já soubesse da sua traição, eu não podia
porque você me deixou muito preocupado. — Meu amigo me tira dos meus
um grunhido.
fervilhando. Estou em uma situação complicada e tenho que resolver isso antes
que as coisas piorem mais. Vou me manter longe de Safira até que eu consiga
Mas como eu poderia saber, se na época eu nem a conhecia? Mas isso não
muda o fato de que fiz sexo com o pai dela. Tudo seria mais fácil se não tivesse
uma gravidez envolvida. Para começo de conversa, nem mesmo sabia que o pai
dela era tão jovem, nunca tive motivos para perguntar sobre isso. A única coisa
que eu sabia era que Vitória não tinha mãe, a coitadinha havia falecido em um
acidente de carro com o tio dela, somente isso. Jamais imaginei que a minha
ele vem fazendo o mesmo, porque desde aquele dia no café da manhã — que não
Só desço para comer quando todos não estão mais presentes, o que
dizer "amiga, me perdoa, mas não quero ficar perto do seu pai. Eu e ele tivemos
uma noite ardente de sexo e acabei engravidando. Aliás, o Miguel é seu irmão."
Ela já cansou de me perguntar por que não desço para tomar café com ela
ou almoçar na hora que todos se reúnem à mesa, e para todas as suas perguntas,
graças a Deus, tive uma resposta que não a convenceu muito, no entanto, não
insistiu.
sorrio. Amo tanto meu filho, ele é a minha razão de viver, o melhor presente que
com o rabo entre as pernas quando fosse demitida por estar grávida e não ter
onde morar. Ele se enganou. Não voltei, muito menos implorei algo para eles. As
para casa e dissesse "me ajude a resolver esse problema", então ela me levaria
calma, seu sono parece estar bem gostoso. Solto uma risada baixa quando ele
suga a chupeta com força. Acho que alguém está sonhando.
Não é. Hoje ela foi para a faculdade e depois irá a um clube que frequenta
algumas vezes por semana com alguns colegas. Ela até me convidou, mas nem
cogitei ir, tenho um pequeno para cuidar. Minha amiga pareceu chateada de
Sem ter opção, assinto e peço que entre. Victor segue até a cama e fixa
seus olhos em nosso filho, que graças a Deus continua dormindo, depois se vira
firmeza.
— Quais as suas intenções vindo até a minha casa e virando amiga da
minha filha, Beatriz? — Ele dá ênfase debochadamente ao nome que dei a ele
Merda!
correr o risco que alguém nos pegue tendo essa conversa nada agradável.
rodeios, sua expressão está fechada. Percebo que seus músculos estão tensos e
— Isso que ouviu. Há quanto tempo vem planejando isso tudo? — Victor
olha para Miguel e depois me encara com nojo, seu olhar de desprezo faz meu
estômago embrulhar.
— Como assim, está louco? — Minha voz sai falha, embargada. Meu
Naquela noite você me disse que se chamava Beatriz, e este não é seu nome,
certo? Safira... foi assim que a minha a filha a apresentou há alguns dias. Abra
logo o jogo e diga o que pretende, Safira, Beatriz, ou seja lá como se chama de
Apavorada e com as mãos trêmulas, baixo meus olhos e encaro meus pés,
pedindo aos céus para me dar sabedoria para poder lidar com essa situação.
como você, também fui pega de surpresa. Nunca passou pela minha cabeça que
você pudesse ser o pai de Vitória. — Deixo as lágrimas caírem ante a injustiça
— Conta outra. Acha que vou acreditar em você? — Ele dá uma risada
sarcástica. — Quanto você quer? Depois que pegar a grana dê o fora daqui. —
Furiosa por ele me comparar a uma prostituta, bato em seu rosto com
Não o deixo terminar de falar, dou outro tapa nele. Victor esmurra a parede
analisa meu rosto calmamente. Ao perceber que estou assustada, ele se afasta e
descontrolado.
orgulho fala mais alto. — Miguel é filho do meu ex-namorado, não se preocupe,
sua presa.
— Não vim atrás de nada seu, eu nem sabia seu sobrenome, nada sobre
você, foi uma grande surpresa o encontrar aqui... Jamais pensei que o encontraria
demais.
— Não que seja da sua conta, mas, sim, preciso trabalhar para sustentar o
meu filho. — Fecho meus olhos para não o encarar. Sei que é infantil da minha
parte, mas esse imbecil me encara com tanta intensidade, que eu posso acabar
Sei que foi burrice ter mentido, mas não vou facilitar para ele, se ele for
— Isso não lhe diz respeito. Estou passando alguns dias na sua casa, mas
não lhe devo satisfações da minha vida particular, sr. Guterres! — Empurro seu
desconfiado —, mas pode ter certeza de que vou descobrir, Safira. — Estala a
— Não estou planejando nada, deve parar com essas ideias malucas! —
falo, esgotada. — Se veio aqui tentar me convencer a deixar a sua casa, você
— Posso ser tudo, menos idiota. Você não vai a lugar algum com o meu
filho. Você é uma péssima mentirosa, nem mesmo conseguiu sustentar o olhar
por muito tempo quando perguntei pelo pai do Miguel. — Seu hálito quente e a
hospedada na sua casa, a minha vida ainda é minha. E até onde eu me lembro,
não te devo nenhum tipo de satisfação. Nós só tivemos uma noite de sexo e nada
— Veremos! Tenha uma boa noite, Safira — Victor volta a falar no meu
ouvido.
arrogante. Esse homem é prepotente demais, se acha o dono do mundo. Onde fui
me enfiar? Estou ferrada em todos os sentidos. Victor Guterres não parece ser
um homem de promessas vazias, e eu tenho medo do que ele pode ser capaz de
Eu posso muito bem pegar minhas coisas e sumir daqui... para onde eu
palavras. A namorada dele está aqui todo santo dia, então não corro perigo
algum. Victor não será louco de se expor, tenho certeza de que sua namorada não
Poucos minutos após a saída de Victor ouço algumas batidas à porta, então
fico alerta.
Será que aquele imbecil voltou para tirar a minha paz de novo?, penso,
desconfiada. Fico imaginando o que pode ter acontecido, afinal, ela apareceu
minutos depois do seu pai sair do meu quarto. Será que ela o encontrou? Ou pior,
Balanço a cabeça negando, por dentro estou morrendo de medo. Ela ouviu
algo, tenho certeza! Estou bem ferrada. Será o fim da nossa amizade! Nem
imagino como ela vai reagir ao saber do meu envolvimento com o seu pai. Eu,
pergunta e dou um sorriso para disfarçar. — E você, por que chegou cedo?
Pensei que voltaria mais tarde, afinal, foi ao clube se divertir um pouco. —
Mudo o foco da conversa, mas parece que ela está decidida a ter uma resposta
— Fiquei com dor de cabeça, quis voltar cedo — diz, ainda me olhando
desconfiada. — Está chateada comigo, né? Eu sei que você tinha me dito que
procuraria um trabalho por conta própria porque já te ajudei muito, mas não
aguentei e comentei com o meu pai sobre isso... Quando eu estava subindo para
te ver, eu o vi saindo do seu quarto e ele estava furioso. Achei que vocês tinham
discutido por algo, sei lá, porque eu errei em tomar a frente da situação e...
Fico surpresa, e não pelo fato de ela ter contado que estou procurando
emprego, mas por ela não ter ouvido nada. Quase tive um treco enquanto
pensava besteiras. Mas não muda o fato de que Vitória viu seu pai saindo do meu
— Nem sei o que te dizer, amiga. — Olho agora para Vitória mais aliviada
e segura, porque sei que não estava ouvindo atrás da porta. — Mas... Foi isso
sim, seu Victor veio me procurar para falar do emprego e eu já imaginei que
momento, e você não errou, o.k.?! — falo, ainda sorrindo. — Seu pai só veio
porque sabe que somos muito próximas e quis ajudar, mas fiquei envergonhada e
o dispensei. Ele deve ter ficado furioso por causa disso. O sr. Guterres parece ser
lábios. — Meu pai é muito turrão, apesar de ser um homem jovem é muito
Se tivéssemos conversado mais sobre seu pai, se eu tivesse visto fotos dele,
talvez não me encontraria nessa enrascada, porque saberia que o sr. Guterres é
— Também te amo. Notei que ele é uma pessoa bem séria, mas... não
importa. Sou grata a ele por ter me deixado ficar aqui com meu filho. Poucas
— Eu não seria sua amiga se não te desse esse apoio em um momento tão
Acabo concordando com ela, porque ela não tinha obrigação alguma de
abrir as portas da sua casa para mim.
— Amiga, seu pai tinha que idade quando você nasceu? Confesso que
fiquei surpresa quando o conheci, ele é muito novo. Achei que ele fosse o seu
— Minha mãe era mais velha que o papai, ele tinha dezesseis anos quando
engravidou a minha mãe, hoje que está mais sossegado. Pra ser sincera, já me
acostumei com a ideia de ter um pai tão jovem, mas fico irritada quando minhas
amigas dão em cima dele, já deixei de trazer algumas para cá, porque todas as
vezes elas davam trabalho. Uma vez peguei uma amiga se enfiando na cama do
meu pai, graças a Deus ele não me viu a arrastando pelos cabelos para fora do
quarto dele. A minha sorte é que ele estava tomando banho. Enfim, não trago
mais garotas para a minha casa, e graças aos céus que você não é nenhuma louca
Ah, se você soubesse, amiga! Eu fiz mais do que me enfiar na cama do seu
pai, fizemos mais do que deveríamos ter feito... e se você souber, tenho certeza
de que me estrangula.
palavras.
— É isso, Safira. Estou falando muito, desse jeito vou acabar acordando o
nosso lindinho — diz, rindo baixinho. — Vou para o meu quarto, quero tomar
Nos despedimos e ela se vai enquanto fico com a cabeça cheia de teorias.
O que me espera essa noite não é um bom sono, mas sim uma bela dor de
**
vou tomar meu banho rapidamente. Meu filho ainda é muito pequeno para ficar
muito tempo sozinho. Quando saio do banheiro visto uma calça jeans cintura
alta, uma regata branca com gola alta, faço um rabo de cavalo no alto da minha
Já são quase oito da manhã, acho que a família deve estar reunida tomando
café. Não posso passar o resto da vida enfiada neste quarto, então decidi me
reunir a eles. Com meu filho nos braços, saio do quarto e sigo para a escada.
Coragem, Safira!
minha cabeça a cada passo que dou em direção à copa, onde provavelmente o
casal e minha amiga estarão reunidos. Meu coração acelera, mas a sensação ruim
que sinto em meu peito é muito pior. Não acho que devo permanecer sob o
mesmo teto que o homem que ontem me ofereceu dinheiro para deixar a casa
dele e sua filha em paz. Só que, pensando bem, o idiota me colocou contra a
parede logo em seguida, como se tivesse esse direito, exigindo que eu não fosse
a lugar algum com o filho dele. Em momento algum confirmei a sua suspeita,
será que ele se deu conta disso? Eu nunca disse que Miguel é filho dele.
lo. Se ele acha que vou abaixar minha cabeça está muito louco, eu o farei engolir
Olho ao redor procurando os dois, mas não os encontro, então disfarço e dou um
sorriso para a minha amiga, que para de comer e se levanta para pegar o Miguel
preocupe.
— O.k. Tenho uma novidade pra você, mas só conto depois de você comer
Será que o pai dela e a namorada estão dormindo? Eles vão aparecer
ainda? Estou criando milhares de teorias agora. Me remexo na cadeira, e por
ajeitando Miguel em meus braços, que está agitado colocando a mão na boca e
balbuciando.
hora. Você tem alguns minutos para ir se apresentar como candidata para a vaga.
— Não diga nada, apenas me dê meu afilhado e tome seu café. E nem
precisa se preocupar com essa gostosura aqui, eu fico com ele. — Se oferece,
sorridente. Vitória empurra a cadeira para trás, se levanta e pega Miguel dos
discórdia na sua casa. Talvez seu pai não goste da ideia de você ficar cuidando
do meu filho... Não sei se ele e a namorada veriam isso com bons olhos. —
Minha voz sai um pouco baixa, receio que o casal entre a qualquer momento e
— Meu pai não vai se intrometer em nossa amizade, amiga, ele não é uma
pessoa má, já a nojenta da Alessandra... mas se ela pensar em meter o nariz onde
não deve, eu a coloco no lugar dela. Miguel é meu afilhado, cuido dele sim e
ponto final. Mas não precisa se preocupar com os dois, eles não estão em casa.
Aquelazinha não dormiu aqui e meu pai saiu bem cedinho e provavelmente vai
demorar. — Vitória pisca para mim, depois beija a bochecha da criança, que cai
passar o endereço.
**
Depois do café, subo para o quarto, pego a minha bolsa e meu currículo e
sigo para fazer a entrevista no endereço que Vitória me deu. Como fica pertinho
da casa dela — não demoro nem seis minutos — decidi vir a pé. Fico esperando
garantida, basta eu me apresentar como sendo indicada por ela. Mas estou
insegura, já que não fui recebida pelo gerente do local, só um funcionário que
frustrada e nervosa.
— Safira, é você?
Congelo no mesmo instante que ouço a voz atrás de mim. A pessoa quer
confirmar se sou eu, no entanto, sinto que é uma confirmação que ela já tem,
— Ah, oi, sra. Alessandra! — Viro-me para ela e encontro seu olhar
indiferente.
A mulher me olha dos pés à cabeça e me sinto pequena diante dela, diante
da sua onipotência. Ela veste um vestido simples vermelho com uma abertura na
curvilíneo. Apesar de não ir muito com a cara dela, confesso que o desgraçado
— Oh, meu bem, não me chame de senhora, sou jovem assim como você.
sobrancelha e mantém seus olhos mim como se desejasse me devorar por algum
motivo.
— A senh... você...
ontem, com tanto carinho, para te dar uma oportunidade em meu restaurante, que
nem consegui dizer não para a minha linda enteada. — A namorada de Victor
Meu Deus.
Meu Deus.
secretária do diabo? Não conheço essa mulher há muito tempo, mas com os anos
Não vou abaixar a cabeça para ela. Vim aqui pelo emprego, pelo meu filho, ele
está em primeiro lugar, então vou enfrentar a fera. Sou mãe solo, não tenho
sorrindo ou conversando.
Ela gira nos calcanhares e segue em direção a uma sala ao lado do balcão
levanto-me, tomo um pouco de ar, pego minha bolsa e sigo até a sala,
de compromisso no seu dedo. Tenho certeza de que ele não estava ali quando nos
conhecemos.
experiências e...
Sou interrompida por uma risada. Suando frio, desvio meus olhos para a
prateleira e acabo vendo alguns porta-retratos com fotos dela com o Victor
— Como? — gaguejo, sem querer olhar nos olhos dela. Aonde ela quer
chegar?
Dessa vez olho para Alessandra, que está com um sorriso gélido, de matar.
— Ninguém ainda teve a coragem de lhe dizer, mas eu digo. Você não é
bem-vinda naquela casa. Victor não gosta de você, só a aceitou por caridade,
porque você é amiga da filha dele, a única que ele tem, é normal os pais fazerem
as vontades, não é?
tivesse o arrumando. — Desde o dia que você chegou, estou te observando, sei o
quanto ficou abalada ao ver meu homem lindo, jovem, rico e muito gostoso. Nem
mesmo conseguiu manter os olhos nele por muito tempo, estava com medo de
terceiras nem quartas intenções com o sr. Victor. Como a senhora sabe, ele é pai
Safira mentirosa. Mas o que a pessoa não é capaz de fazer para encontrar a
paz.
continuo —, não precisa me ver como um perigo ou algo do tipo. Vocês formam
um belo casal, e estou na casa do seu namorado há poucos dias, somos estranhos
um para o outro, a única pessoa que tenho vínculo é Vitória, e prendendo manter
enteada que come meu namorado com os olhos e deseja ir para a cama dele. Mas
vou dar corda para você até vê-la se enforcar. Acredite, isso não vai demorar
muito para acontecer. — Ela se levanta, vai até a prateleira e pega um dos
quadros. — Victor Guterres está muito bem comprometido comigo.
Se ela realmente acha isso, não entendo seu ataque de ódio e nem vejo o
— Minha senhora, não vou levar em conta as suas palavras, pois vejo que
está descontrolada, tamanho é o seu ciúme sem motivo. Eu vim aqui pelo
emprego, e se não farei entrevista alguma é só dizer que saio agora mesmo. Não
tenho interesse no seu relacionamento, não estou nem aí para o sr. Victor. A
empregará me dispense logo, meu tempo vale muito, tenho uma criança para
— Nem deveria ter colocado seus pés aqui, meu bem — ela gargalha —,
você não é qualificada nem para o cargo mais baixo do restaurante — declara.
cabelos loiros de farmácia e dar na sua cara para que aprenda a tratar melhor as
pessoas.
coloco na bolsa.
— Quando sair feche a porta, querida — pede, seca.
Vaca louca!
— Diga, garota.
Abro a porta com tudo e saio, pelo menos tento, porque me choco contra uma
parede musculosa.
sei se é um ato automático ou proposital, mas suas mãos vão rapidamente para a
minha cintura, me segurando com tanta força que parece que vai me partir ao
meio.
— Amor, não sabia que vinha para cá. — A voz da mulher é cínica, mansa,
Tento me afastar mais do homem, mas ele não me dá espaço para sair do
ninho de cobra, digo, da sala da namorada possessiva dele, que vem em nossa
sem paciência para aturar mais uma das indiretas de Alessandra, que é uma
Eu não respondo, deixo que a toda poderosa fale. Desvio meus olhos do
tem que a difere dos outros? É tão especial assim? — O tom dele é sério,
exigente.
— Querido, ela tem um filho pequeno para criar. Quem vai cuidar dele? O
Furiosa, passo pelo casal, mas paro quando uma mão se fecha ao redor do
meu braço.
namorada furiosa.
— Amor, você vai passar por cima da minha ordem na frente dessa
— Pode ir, Safira, sua entrevista acaba aqui — diz ele, soltando meu
braço.
— Ela não tem o perfil para trabalhar aqui, Victor! — exclama Alessandra,
— Não vou discutir com você por bobagem. Já tomei a minha decisão, a
menina fica. — Tranco a porta alguns minutos depois de Safira sair. Agora estou
me avisou que a minha namorada estava na sala com uma moça. Logo me
lembrei que a minha filha havia pedido que contratasse a amiga no Bella Flor,
antes de eu ter uma pequena discussão com Safira. Prometi a Vitória que
empregaria a garota. Agora vejo que foi uma péssima ideia ter deixado
Alessandra entrevistá-la no meu lugar, assim que entrei na sala notei que havia
palavra sempre será a minha, sendo assim, decidi que a amiga da minha filha
infantil. Se ela está assim sem saber o que houve entre mim e Safira, imagina
quando souber.
para empregar uma pessoa que chegou há poucos dias na sua casa e ainda tem
chateado.
— Safira tem um filho para criar e ela está sem emprego, não tem uma
casa, precisa pagar as contas. É um bom motivo para você? — respondo, sem
paciência.
— Amor, faça o que achar que é certo — diz, por fim, parecendo mais
calma. — Sei que Vitória adora a amiga, e você não negaria um pedido da sua
pedido dela eu não nego — afirmo e dou as costas para Alessandra, que tenta me
o fornecedor, amanhã ele virá conversar para que possam resolver a questão do
pagamento e trará também a mercadoria.
Não espero a resposta dela, saio da sala pisando duro. Até a ouço me
dor de cabeça.
minha filha e agora tenho que arcar com as consequências, mas dessa vez não foi
Ela não sabia que nem mesmo precisava pedir um emprego para a Safira,
porque... caralho, eu ia me oferecer para ajudá-la. Sim, eu a ajudaria não por ter
sentimentos por ela, longe disso, não temos química, não rola nada, foi só uma
estava tentando esquecer que fazia três anos que a traidora da minha esposa tinha
tirar as merdas das lembranças da falecida da cabeça, e foi aí que conheci a bela
garçonete, a Beatriz, linda, educada, atenciosa e de olhos encantadores.
Neste momento o destino deve estar rindo da minha cara por ter
conseguido foder com todos os meus princípios em tão poucos dias. Quando
tudo parece ser simples, prestes a se encaixar, Safira aparece na minha frente e
Pela primeira vez na vida, eu, Victor Guterres, não sei o que fazer.
**
SAFIRA
campainha, sendo recebida por dona Joana, que é a cozinheira da casa. Ela é
curiosa.
— A menina está na piscina com seu príncipe. — Dona Joana pisca para
ela.
Sigo para área externa da casa e me deparo com uma cena linda — minha
amiga de biquíni sentada em uma das espreguiçadeiras à sombra, com meu filho
usando uma sunguinha do Nemo entre as pernas dela, enquanto ela passa
protetor solar nele. O garotinho parece amar o que a madrinha está fazendo,
Me aproximo deles, mas minha amiga não percebe minha presença. Ela
solar nele.
— Você será uma ótima mãe, amiga — falo, atraindo a atenção das duas
Miguel fica agitado quando me vê, seus olhinhos brilham e eu sorrio para
ele.
filhos. Amo meu filho, mas engravidar cedo é bem complicado, amiga, não é
fácil ser mãe. É gostoso? É. Mas também é muito difícil, ainda mais quando se é
mãe solo. — Estendo os braços para Miguel e ele vem para mim, então beijo sua
entrevista? Pela sua cara acho que algo deu errado. — Vitória fica sem graça.
— Por que não me disse que Alessandra é a dona... gerente, sei lá o que do
meu colo.
— O quê? Aquela mulher não é dona do Bella Flor, ela só é a gerente,
mas... O que isso tem a ver? — Minha amiga está com os olhos semicerrados.
atendida, e quando fui me deparei com a sua... a namorada do seu pai. Ela me
— Mas era meu pai que ia te entrevistar, eu pedi a ele para te dar uma
força. O que aquela vagabunda queria se metendo onde não devia? — Ela rosna,
Imaginei que a minha amiga não pediria favor a Alessandra, ela nem
mesmo gosta daquela bruxa. Tenho certeza de que seria incapaz de pedir à
venenosa para me dar um emprego, mas a mulher falou com tanta segurança que
eu acreditei em suas palavras. Por outro lado, acho que teria sido pior ficar frente
a frente com Victor em uma entrevista, ainda mais depois de termos nos
desentendido quando ele foi falar comigo. Enfim, tudo de ruim que tinha para
acontecer, aconteceu.
— Nem imagino. Só sei que seu pai chegou na hora que eu estava saindo e
deixou claro para Alessandra que amanhã começo a trabalhar, porque estou
— Caramba, amiga, desculpa. Não sabia que aquela mulher ia ser capaz de
te humilhar, normalmente ela é uma sonsa com as pessoas que convivem com
meu pai. Só não lhe disse que era no restaurante do meu pai, porque achei que
você poderia não aceitar. Mas não vi problema em te dar essa força, porque
somos melhores amigas, somos como irmãs. — Ela estende a mão e eu a pego.
imensamente por ter esse coração enorme. — Dou um sorriso para ela.
— Sim. — Assinto e olho para o meu filho que nos encara atento, tão
inocente. — Vitória, não fala nada para o seu pai sobre a namorada dele, só
agradeça a ele por mim. Mas não vou aceitar o emprego, não quero trabalhar ao
lado de uma pessoa mau caráter, eu não suportaria olhar todos os dias para a cara
daquela cobra, que com toda certeza faria questão de me infernizar. Amanhã vou
distribuir alguns currículos, e se não for pedir demais... Você pode tomar conta
— Safira, o que você decidir terá o meu apoio. E está certa, ter que
trabalhar ao lado de Alessandra é pedir para morrer, não sei por que achei que
poderia dar certo. E tranquilize esse coração, meu afilhado estará em boas mãos
falo. — Curta o sol e tome seu banho de piscina, vamos deixar para outro dia,
pode ser? Agora tenho uma pequena responsabilidade em minhas mãos. — Faço
Sigo para dentro de casa com Miguel e deixo Vitória para trás, que pula na
Agradeci aos céus por não ter encontrado Victor ontem no jantar. Soube pela
minha amiga que o pai dela tinha ido dormir na casa da Alessandra, fiquei
aliviada por não ter que encarar o homem. Saí tão cedo, nem sei se ele voltou ou
do meu filho acabam, e eu não posso pedir mais nada para a Vitória. Sei que ela
não mediria esforços para me ajudar, mas o que ela fez e faz por mim já é muito.
Não quero abusar. Então preciso trabalhar em qualquer lugar, fazendo qualquer
que eu sei que nem mesmo vão passar os olhos por ele. Passei também em uma
ido com a minha cara, já deixam isso claro quando me olham dos pés à cabeça.
Elas dizem que não estão contratando forasteiros, então me dou conta que este
bunda.
e em uma loja de roupas. Mas se surgir alguma vaga ligaremos.” Essas são as
disposta a ocupar qualquer cargo, nem que seja para limpar os banheiros, o
homem não me contrata. Não insisto, já estou exausta e com vontade de chorar
campainha, limpo minhas lágrimas e respiro fundo, não quero que me vejam
vermelhos me entregarão que andei chorando, sem contar que a ponta do meu
Solto o ar pela boca, toco mais uma vez a campainha e espero que alguém
abra a porta. Tiro meu celular da bolsa e vejo que já são seis e quinze da tarde.
Miguel deve estar sentindo a minha falta, e a minha amiga com certeza está
Droga!
Andei tanto hoje que nem sinto minhas pernas direito, aliás, sinto-as sim...
latejando. Parece que passaram um trator em cima delas. Meus dedos doem nas
Quando vou tocar mais uma vez a campainha, a dona Joana aparece, toda
sorridente, mas não consigo retribuir seu sorriso, apenas desejo boa-noite e
abaixo a cabeça antes de entrar na casa.
Caminho a passos largos até a sala e quase caio quando me deparo com
uma cena assustadora. Para quem não sabe de nada, é algo normal, fofo, mas
para mim é terrível, perigoso. Victor está com o nosso filho no colo, sorrindo
do colo de Victor, que arqueia a sobrancelha. — O que pretende com meu filho?
Quando vi Miguel no colo dele, nem me preocupei que Joana poderia estar por
perto. Respiro aliviada quando noto que ela já havia ido para a cozinha.
Será que ele descobriu que eu menti? Não, claro que não, só eu sei do meu
choraminga. Arregalo os olhos quando Miguel se joga para os braços do pai, que
Meu Deus!
Respire, Safira.
Não surte.
Não surte.
Olho na direção da escada e minha amiga nos observa sem entender nada.
tão tranquilo, parece que nada aconteceu. Victor tem o corpo relaxado no sofá e
— Oi, filha. A sua amiga não gostou de me ver com o filho dela, logo eu,
que sou ótimo em cuidar de crianças. — O miserável está com os olhos fixos em
mim, me provocando descaradamente mesmo sob o olhar da minha amiga, que
— Céus, Safira, se acalme. Só deixei o pequeno com meu pai para buscar
uma fralda. Relaxa, estou sentindo sua tensão daqui. Meu pai não é nenhum
tudo a perder.
Aproveito que Miguel está se jogando para Victor para o deixar pegar a
É ciúme?
Medo?
Não sei!
— Se o filho não é meu, como você diz, não precisa temer nada, Safira. —
A voz dele soa arrogante. Olho rapidamente para a escada para ter certeza de que
Vitória não está por perto. — Sua mãe é muito nervosinha, garotão! — Ele
— Não tenho nada a temer mesmo. Só agi assim porque ele não te
conhece, poderia ficar assustado. — Quase gaguejo, mas Miguel não colabora,
porque gargalha alto quando o pai simula uma mordida no bracinho dele.
— Veja só, até ele reconhece que sou maravilhoso, sendo assim, qual o
motivo desse seu desespero? Estou certo, né? Você está mentindo para mim —
para um ano e pouco, parece ter uns dois anos — diz Victor, nos acobertando.
Agradeço-o mentalmente por isso.
irmão do colo do pai. Sinto meu estômago revirar. — Amiga, vou trocar o
— O.k. Vou só pegar alguma coisa para comer depois do banho — minto,
nervosa.
— Você pode enganar a minha filha, que não sabe sobre nós, mas a mim
você não engana. Eu quero a verdade. Agora, Safira — rosna, perto do meu
rosto.
— Não sei do que você está falando, sr. Guterres. Preciso tomar um banho,
estou suada e cansada... Tenho que dar atenção ao meu filho, que não vi o dia
que eu.
Arrasto Safira até meu escritório, mesmo contra a vontade dela, enquanto
é criança, Safira. Preciso saber se sou o pai — falo, apontando o dedo para ela,
deixando-a de olhos arregalados. Levo uma mão a sua cintura enquanto a outra
— Não, Victor. Chega dessa merda toda! Eu já disse que meu filho é de
um ex — diz, desviando os olhos dos meus. Ela nem consegue sustentar o olhar
pose de durona é por ter medo de admitir que não conseguia me tirar da sua
o meu filho. Vitória tem sido um anjo em minha vida, mas ela tem uma vida
também, preciso deixá-la descansar. — Encaro seus olhos claros que estão
flamejantes.
que o normal. Cada vez tenho mais certeza das minhas suspeitas. Miguel é meu
também.
— Você não tem esse direito. O que quer com isso? Quer que Vitória e sua
um bar, onde você estava enchendo a cara para ver se esquecia que sua esposa
falecida era infiel? É isso que quer? Ou quer terminar de ferrar com a minha
vida? A esposa falecida é a mãe da minha melhor amiga, e ela a venera até hoje,
acha que a mãe era uma santa! Você acha que Vitória irá te perdoar e me perdoar,
Victor? Você quer jogar tudo para o alto por uma desconfiança sem fundamento
relacionamento que você tem com a sua filha e ainda ganhar de brinde uma briga
feia com a sua namorada? — Safira faz pergunta atrás de pergunta. Seus olhos
— Não estou nem aí! — Volto a me aproximar dela, que encolhe o corpo.
não teria vindo para cá, minha vida aqui está pior do que em São Paulo —
afirma, soluçando.
— Acha que o fato de eu nem saber que você era pai da Vitória na época
lágrimas que descem por sua bochecha. — Sou muito grata a ela. Durante todo
esse tempo foi ela quem me ajudou, que esteve ao meu lado. Você acha que eu o
deixarei acabar com a nossa amizade dessa maneira? Você é o pai dela! Podem
brigar hoje, mas amanhã ou depois voltam a fazer as pazes! — Ela ergue os
Talvez Safira não conheça muito bem a minha filha. Vitória venera tanto a
mãe, que se souber que transei com outra mulher no dia em que completou três
anos da morte de Aline, ela irá virar as costas para mim também.
— Acho que não conhece Vitória o suficiente para saber que ela é capaz de
me odiar também, mesmo eu sendo o pai dela. Safira, o Miguel é meu filho
também, e Vitória precisa aceitar isso. O futuro de uma criança inocente está em
Ela ouve minhas palavras em silêncio, sem se exaltar, parece até mesmo
— O que você quer de mim? Seja sincero, estou disposta a ouvir sem te
julgar — diz com seriedade. — Há poucos dias me ofereceu dinheiro para sumir
da sua vida e da minha amiga, e agora está querendo assumir uma criança que
nem é sua? Por acaso você tem algum fetiche em ser corno? — Safira sorri dessa
meus lábios.
deixando nossas bocas próximas, mas não o suficiente para que nossos lábios se
toquem.
Pego uma mecha do seu cabelo que cai em seu rosto e coloco atrás da sua
— Não, eu não sei. — Sua voz sai levemente rouca, então aproveito e roço
— Vou tirar essa história a limpo, tenho direito saber se Miguel é meu
filho ou não. E não será você que vai me impedir de descobrir a verdade —
De início ela resiste ao esmurrar meu peito, mas logo corresponde. Deslizo
a língua em seus lábios para pedir passagem segundos antes de ela me beijar
com ferocidade, e, claro, aceito a sua investida. Safira leva uma mão ao meu
cabelo e puxa de leve, gemo contra sua boca ao gostar da sua ousadia.
Nosso beijo começa a esquentar, então afasto nossos lábios e pressiono seu
corpo contra a parede, desço uma mão até o seu jeans e abro o botão, puxando o
— Shhh. Já ouviu falar que proibido é mais gostoso? — Não espero uma
como fogo.
O que você está fazendo, cara? Essa garota está te enlouquecendo, você é
comprometido, caralho.
Muitas coisas vêm a minha cabeça, mas nem mesmo com meu
salivando para poder tocar em cada parte do seu fodido corpo delicioso.
quentes da garota, desço o jeans dela até as coxas e puxo sua calcinha para
baixo, em seguida inclino meu corpo contra o seu e beijo seus lábios
entreabertos. Safira geme surpresa quando afasto um pouco suas pernas e enfio
— É... errado... ahh, Victor — diz, entre gemidos com sua voz rouca,
quase em súplica.
Rio da minha desgraça. Sei o quanto estou ferrado por saber que ela tem
ao levar a minha boca ao seu ouvido. Movimento meus dedos em seu clitóris
só goze para mim. — Roço o nariz em seu pescoço, cheirando sua pele
Fascinado pelos seus gemidos tímidos, levo a mão a sua blusa e com a
ajuda dela tiro a peça, em seguida faço o mesmo com o sutiã preto de renda.
Salivando, fixos meus olhos nos mamilos rosados e levo a boca ao seio
direito, abocanhando-o sem dó. Safira geme, rebola e se esfrega nos meus dedos,
me levando a acreditar que há muito tempo não é tocada por um homem. O seu
Se ela está assim só com o toque dos meus dedos, imagino como ficaria
com meu pau invadindo com força a sua boceta molhada e quente.
morde meus lábios com força, então faço o mesmo ao sentir seu canal começar a
ficar estreito, apertando meus dedos. A diaba está quase alcançando seu deleite.
encara enquanto arruma sua calcinha e depois sobe a calça, então corre para
colocar o sutiã e a blusa de volta. Fico sem ação, andando de um lado para o
outro. Nervoso, passo a mão na barba por fazer e olho para a porta, onde minha
perigo por causa de uma qualquer temos que ficar alerta e lutar com todas as
forças para impedir que a rival fique com o nosso homem. E é isso que tenho
feito esses dias. Venho lutando com todas as minhas forças para deixar aquela
garota longe do meu namorado, que em breve será meu marido. Tenho certeza de
que Victor irá colocar uma aliança em meu dedo, ele só precisa de um
empurrãozinho.
Há alguns dias, quando Victor me comunicou que Vitória traria uma amiga
e uma criança para viver com eles por alguns dias, fiquei com raiva daquela filha
mimada dele, porém não demonstrei, apenas disse que não queria me envolver
na decisão deles.
Vitória não gosta de mim e eu tampouco dela, mas para que meu
relacionamento dure com seu pai maravilhoso, gostoso e rico, tenho que aturá-la,
fingir ser quem não sou para conseguir o que quero. Ele a mima, e mesmo
odiando tenho que sorrir, concordar e ser a melhor madrasta aos olhos do meu
namorado e aos da pirralha, que não escondem sua antipatia por mim. Tento dar
pontos com seu pai por ser uma mulher maravilhosa e paciente que atura uma
Namoro com Victor há três anos, durante esse tempo tive que viver na
sombra, engolir os desaforos de Vitória para conquistar seu pai e alcançar meus
sua casa e a garota ridícula deu um show. Ela chorou muito quando ele disse que
eu dormiria lá, e no dia seguinte sequer olhou para o pai e ficaram um bom
tempo sem se falar.
mas eu não me importei com a birra dela, me fiz de boazinha e até chorei
dizendo que não ficaria na casa dele para não magoar a sua filha, uma vez que
não me pressionou.
Mas dias depois eu dei o troco, sugeri que ele ficasse na minha casa, e
assim ele o fez por vários dias. E até hoje faço isso — às vezes durmo na casa
dele, outras ele fica na minha —, mas se dependesse de mim já não viveríamos
em casas separadas, estaríamos morando sob o mesmo teto e Vitória bem longe,
para separá-los. Já tentei de tudo, mas o idiota ama demais a chatinha e lambe o
chão que ela pisa. Ele faz todas as vontades da filha — se ela pedir para ele se
deitar na estrada para ela passar com o carro por cima, o bobo vai lá e faz.
Eu o amo, Victor é especial para mim, mas sua inépcia com aquela idiota
me tira do sério. Estou com os nervos à flor da pele por ter que suportar Safira e
aquele bebê na minha casa, sim, minha casa, porque em breve irei me mudar
Não vai demorar muito para que eu coloque aquele lugar em ordem, e a
primeira coisa que farei é expulsar aquela abusada da casa do meu homem. Eu
sei o que ela esconde e espero que continue assim, porque se ousar abrir a boca
Victor não sabe, mas no dia em que ele estava conversando com o Lucas
fiquei louca para entrar naquela sala e gritar com ele, exigir que me dissesse por
jogasse tudo para o alto perderia meu trabalho como gerente no restaurante mais
renomado da cidade e o namorado. Victor pode ser uma boa pessoa, mas ele é
um homem sem muita paciência, e fazê-lo se estressar comigo não é meu desejo.
Eu só quero domar aquele homem o suficiente para que vire as costas para a
filha e faça todas as minhas vontades, me mime como a mima, me dê tudo o que
quero sem questionar, não que ele questione por eu gastar seu dinheiro, porém,
sou ambiciosa, quero tudo dele e vou ter assim que me tornar a senhora
Guterres.
Saio do meu carro e sigo em direção ao meu futuro lar a passos lentos,
com um sorriso no rosto, pronta para ser recebida por meu homem. Vim
convidá-lo para dormir na minha casa, preciso fazer as pazes com ele depois da
Ele está com tanta pena da garota, que agora está dando migalhas para ela.
A pobrezinha está morando de favor na casa dele, e tenho certeza de que foi dar
restaurante. Se depender de mim, ela nunca irá trabalhar no Bella Flor e se tiver
No dia da sua entrevista, fiz com que Victor negociasse com o fornecedor
só para que eu tivesse uma brecha para poder colocar a ratinha contra a parede.
Mesmo que não tenha durado muito a humilhação que a fiz passar, eu me senti
mesmo sem que ela admitisse, consegui intimidá-la com minhas palavras,
mostrei quem manda ali.
de eu ter tocado a campainha três vezes. Essa velha é uma lerda, não sei por que
com a mão para que ela saia da minha frente, então sigo para o escritório.
corredor, ignorando-a.
Assim que eu me casar e me tornar dona disso tudo, vou contratar uma
equipe de empregados qualificados. Victor tem muito dinheiro, mas não sabe
Sem entender o que está acontecendo, respiro fundo e conto até três antes
de interromper a diversão dele com quem quer que seja. Nem quero pensar que é
— Amor, você está aí? — pergunto com doçura, mas com as unhas
Ainda está chateado comigo? — Faço uma voz dengosa e reviro os olhos.
sabe nada da vida. Victor não a trocaria por uma boceta qualquer, uma garota
que nem tem um diploma e ainda é uma pobretona, uma sem-teto.
— Boa noite, Alessandra. — Meu namorado finge tão bem, que se eu não
— Oi, amor, boa noite... Por que demorou para abrir? — questiono,
passeando meus olhos em Safira, que está com o rosto corado e os olhos
A vadia está com cara de que acabou de ser bem fodida, e quando se trata
de comer uma mulher bem, Victor é especialista, é um dos motivos por eu ser
Paciência, Alessandra. A hora dessa mosca morta vai chegar e você faz um
pedir que pare de ser um cretino. O desgraçado está comendo a puta debaixo do
meu nariz. Aposto que ela deve ter dado para ele por alguns trocadinhos para
— Deveria ter tentado no meu celular, é para isso que você tem meu
Idiota!
dedos no pescoço dele e vejo leves arranhões, mas me faço de cega ao sentir que
o seu corpo fica tenso com o meu toque. O desgraçado engole em seco,
pensando que vou falar alguma coisa. — Estou com raiva de mim mesma por
termos brigado. Odeio quando você fica bravo comigo por bobagem. — Tento
beijar sua boca, mas ele vira o rosto e acabo beijando sua bochecha.
— Hoje não vai dar, prometi a Vitória que assistiria a um filme com ela
mais tarde. — Não sinto a verdade em suas palavras, mas assinto mesmo assim.
Ele está insinuando que está mudando por causa daquela imbecil? Não é
possível que um homem como Victor se encante tão rápido por uma mulher
cabelos, tentando manter o controle e a voz calma. Passo por Victor e me sento
na sua cadeira.
Ele se vira e me encara meio confuso, então dou um sorriso sexy enquanto
— O jantar já deve estar pronto. Hoje meu dia foi cansativo, preciso de um
Recusou sexo. Ele nunca me negou nada. E agora está sendo frio e me
rejeitando, sinal de que a ninfeta está o enlaçando com sua carinha songamonga.
Talvez meus pais? Isso! Família para Victor é algo sagrado, e ele não terá
— Tudo bem, querido, você está certo. — Levanto-me e vou até ele. —
Victor, meus pais chegam em três dias, o que acha de darmos um jantar de boas-
vindas?
— Por mim tudo bem, faça o que achar necessário. — Ele faz uma careta
como se estivesse sentindo dor.
— Está tudo bem, amor? — Passeio meus olhos por seu rosto enquanto ele
assente.
Ele não diz não e nem sim, me dando a entender que estou no controle
meus pais ao nosso lado, ele não vai deixar de realizar o meu maior sonho — ser
sua esposa. Em breve, a Safira e o bebê dela serão apenas péssimas lembranças
para Victor e Vitória, porque vou descartá-los mais fácil do que imaginei.
SAFIRA
verdade se chama dor na consciência. Eu não deveria ter ido tão longe com
Victor. Por mais que ele seja atraente, experiente e irresistível, eu deveria ter sido
forte, mas não, deixei que o desejo falasse mais alto. Errei ao permitir que ele
que me tocasse intimamente, nem devíamos ter nos beijado, para início de
fechar os olhos para que a imagem do seu sorriso lindo ao me ver gozar em seus
jogo na cama, então olho para o teto e fico pensando o que Vitória faria se
soubesse que a criança que ela tanto adora é seu irmãozinho, e que eu e seu pai
nos envolvemos mais uma vez. Talvez ela passe a me odiar e me mande embora
Victor não quis entender o motivo do meu medo em contar a verdade para
ele — essa que ele já sabe, mas que precisa da minha confirmação — e para
minha amiga sobre a paternidade de Miguel. Para ele estou sendo egoísta ao
pensar somente na amizade que tenho com a Vitória, mas não é bem isso. Ela foi
o meu porto seguro durante a minha gravidez e continua sendo, é uma das
pessoas mais importantes que tenho na vida, e sei o quanto ela odeia mentiras.
Quando vi o pai do meu filho na casa dela deveria ter aberto o jogo,
contado tudo a ela, mas depois que ela me disse que deixou de trazer amigas
para a casa pois ficavam de olho em seu pai, eu recuei como uma covarde. Se eu
a perder nem sei o que farei para conseguir o seu perdão, porque Vitória é uma
criação do meu filho, uma criança inocente que está perdendo a oportunidade de
ter um pai por um medo meu de assumir as consequências dos meus atos.
quase me fez infartar, mas fiquei um pouco aliviada quando Victor abriu e a
namorada entrou, porque, em minha mente louca, a minha amiga estava com ela
Não digo que foi menos assustador ter sido pega por Alessandra, pelo
ter feito aquilo? Pela milésima vez... ele é comprometido e pai da minha melhor
amiga.
me vestir.
— Já vou! — exclamo.
Assim que abro a porta, me deparo com Vitória com o rosto um pouco
Esse é um dos motivos do meu filho sempre ter gostado da sua dinda,
nunca ter recusado seu colo. Ela é extremamente amorosa e atenciosa com ele,
posso dizer que chega a ser uma segunda mãe. Miguel é uma criança que não vai
para o colo de qualquer pessoa, mas com Vitória ele fica animado, eles possuem
— Nem conversamos direito hoje. Me conta como foi seu dia — pede,
— Até que não foi tão ruim ganhar vários nãos no mesmo dia — brinco e
ela arregala os olhos. — Acho que vou tomar banho de sal grosso, porque as
— Se acalme e não pense assim. Nada está perdido, tenho alguns contatos
— Vou voltar a procurar emprego só semana que vem, estou sendo muito
folgada te usando como babá. Você tem uma vida para viver, a faculdade para
meu filho quando eu precisasse sair, assim não tomava muito tempo da minha
amiga. Sei que ela não se importa de cuidar dele, porém, ela tem seus afazeres e
parada — declaro, frustrada ao olhar para cama onde meu filho dorme.
bem, mas nada como ter o seu cantinho, ter suas despesas pagas com o seu
dinheiro. Tudo que preciso para sobreviver tenho aqui, só que fico extremamente
envergonhada sabendo que saiu do bolso de Victor, apesar de Vitória dizer que
risada da sua maneira descontraída. — Eu faço de coração, sua boba, você sabe
disso.
— Nunca vou me esquecer desse jantar, assim que receber meu primeiro
— Amanhã vou ligar para um amigo, tenho certeza de que semana que
— Amiga, quero que seja sincera comigo. — Olho em seus olhos e ela
inexplicável com ele. — Seus olhos se viram para a cama e ela sorri gentilmente.
— Não acredito em vidas passadas, mas se isso realmente existe, acho que
Miguel era meu filho, ou meu irmão... sei lá. Eu o amo tanto que nem sei
Não, ele não foi seu irmão na vida passada, ele é seu irmão nesta vida
mesmo.
— Desde que você chegou, não tivemos tempo para ter um papo de
Mas acho que já está tarde, né? Vamos combinar algo amanhã.
— Está um pouco tarde, mas quando quiser falar sobre garotos e outras
coisas é só me procurar — falo, ainda sorrindo.
cara, bom... ele é mais velho e, com certeza, meu pai vai surtar quando souber.
Mas o sexo é tão bom que estou me sentindo nas nuvens — diz em um sussurro
— E qual o problema o cara ser mais velho? Homens mais velhos são os
melhores para se relacionar, a meu ver. Mas por que seu pai surtaria? É uma
escolha sua e você já é uma mulher adulta. — Dou de ombros e minha amiga
cora.
Fico feliz por ela estar saindo com alguém que a faça sorrir e se sentir
bem.
— Meu pai vai me matar, mas enquanto ele não descobre, vou continuar com a
Nem faço ideia de quem seja o homem que está fazendo Vitória ficar tão
animada, mas não pretendo perguntar o nome do felizardo até que ela queira me
deixo de transar sem camisinha. Deus me livre uma gravidez não planejada. —
Vitória arregala os olhos ao notar o que acaba de dizer. — Desculpe, amiga, não
quis dizer...
pensamento — aconselho e ela respira aliviada. Estou certa de que ela ficou com
tenho que acordar cedo para resolver algumas coisas na rua, e à tarde vou à
faculdade. O dia vai passar voando — diz. — Boa noite, Safira, durma bem.
minha mente cada vez que tento fechar os olhos para dormir.
ouvido, e me sinto suja e arrependida, porém, parece que nem tanto, já que não
Como posso ainda me sentir tão atraída por alguém com quem transei há
anos? Acho que estava muito carente e ter sido tocada por alguém... despertou o
Meu Deus.
Meu Deus.
lambendo, mordendo e beijando — e dos seus dedos brincando com meu clitóris
Droga, Safira!
Fico por alguns minutos assim até que ouço batidas fracas à porta, fazendo meu
coração acelerar. Que horas são? Uma? Duas? Três da madrugada? Não sei.
Certo. Oh, meu Deus! Não pense muito, Safira, só veja o que ele quer e
ele, minha respiração fica ofegante. Merda, estou me sentindo uma cadela no cio
só de olhar para Victor, que está usando uma calça pijama de algodão branca
marcando seu pau, e para acabar com a minha sanidade, o homem está sem
minha pele.
som da sua voz sai com tanta certeza, que chega a vibrar em meu ouvido,
causando arrepios pela espinha e me deixando sem ação. — Não se estresse, não
preciso da sua confirmação para saber que aquele menino na cama é meu. Sei
que fui eu que coloquei aquele bebê aqui dentro, e estou disposto a assumi-lo se
me permitir.
Meu sangue esquenta quando ele toca a minha barriga por cima do tecido
— Medo do quê? Você é adulta, também sou — diz, me virando para ficar
de frente para ele. A minha respiração fica presa na garganta quando Victor toca
em meu rosto e fixa seus olhos nos meus. Seu semblante está sério, determinado.
— Não sei se você sente raiva ou medo, mas se ainda estiver chateada com o que
eu te disse quando descobri que mentiu sobre seu nome, eu peço perdão. E
quanto a ter oferecido a você dinheiro para sumir foi errado, eu sei, mas também
fui um covarde, fiquei apavorado, cheguei a pensar que você estava querendo me
dar um golpe ou fazer com que a minha filha ficasse contra mim — esclarece e
questão não é essa. Você tem a sua vida, a sua família e tem uma namorada.
Assinto, acabando de uma vez por todas com a sua maldita dúvida.
— Só de olhar nos seus olhos consigo perceber que não está disposto a
arriscar tudo por uma criança que nem viu nascer, Victor. A sua vida parece sob
controle, e a essa altura do campeonato você não vai querer jogar tudo para o
alto — desabafo.
nada quer assumir meu filho, depois está tentando me beijar, me tocar. — E me
deixar louca. — Não vou transar com você, não quero ser uma diversão
novamente. Você tem ao seu lado uma mulher madura que parece te amar e está
com você faz um bom tempo. Vocês têm uma história juntos, e o que eu tenho
com você?
poder dar ao meu filho tudo o que ele precisar. — A raiva está estampada em seu
rosto bonito.
minha maneira, o.k.?! — falo, séria, sentindo a garganta arder e uma vontade
imensa de chorar.
— Primeiro de tudo, não quero que me toque, nunca mais, ouviu? — falo,
nervosa e insegura. Não sei se vamos conseguir nos manter longe vivendo sob o
mesmo teto. — Como eu disse, não quero ser a sua diversão. Não temos uma
história de amor, muito menos nos amamos ou estamos apaixonados. Somos
apenas pais de uma criança e precisamos resolver as nossas diferenças para que
tudo dê certo.
É tudo muito novo para mim. Ele não me ama, eu não o amo, só temos
Não é amor.
Apenas sinto tesão por Victor, ele é gostoso, viril, sexy e muito bonito, tem
uma boa pegada e é bom de cama, só isso. Meus pensamentos fervem e eu sinto
Passaram-se três dias desde aquela conversa com Safira. Depois daquela
noite não nos vimos mais, apesar de estarmos na mesma casa. Parece que ela
estava me evitando e eu não fiquei surpreso, porque também fiz de tudo para não
— Você não fez isso, não estou acreditando. — Lucas me olha espantando
— Não vou dizer que estou surpreso, porque não estou. Eu sabia que a
qualquer momento você cairia em tentação. Era óbvio que rolaria algo entre
Se meu amigo está assim, imagina se souber que a Alessandra quase nos
pegou no escritório. Sem contar que depois que Safira saiu, minha namorada
Estamos no meu escritório, aqui temos mais privacidade, já que a casa está
cheia. Alessandra apareceu às seis da manhã com uma equipe para arrumar a
casa para o jantar. Como eu disse que ela tinha total liberdade para organizar o
Já são quase sete da noite e minha casa ainda está cheia de estranhos,
funcionários do Bella Flor para que ganhassem um dinheiro extra, mas ela não
quis.
— Não estava em meus planos, então não me olhe com essa cara. — Bufo,
pegando a garrafa de uísque ao meu lado e enchendo meu copo e o dele.— Estou
fodido, não consigo controlar a porra do desejo que sinto por ela. Por mais que
reprimido — falo, e sai mais como um resmungo, então o idiota aperta os lábios
para não rir. — Pode rir, continue rindo da minha desgraça. Quando você sentir o
mesmo que eu vai me entender, e quem vai rir da sua cara serei eu. Otário! —
— Eu já senti isso e não só uma vez, mas várias vezes, e com muitas
Lucas é um mulherengo, tem trinta e seis anos e ainda não sossegou, vive
trocando de namorada, não fica com mais de um mês com a mesma mulher.
— Você virá hoje à noite? — Sondo e ele assente com um certo brilho nos
— Não perco por nada esse jantar — diz, divertido. — Quer apostar
quanto que Alessandra quer te pressionar para pedi-la em casamento na frente
ela já a teria pedido em casamento há muito tempo — dessa vez falo baixo.
— Então diga isso a ela, não deixe que a mulher se iluda com a ideia de
No fundo, ele está certo. Ela deve pensar que um dia iremos nos casar.
— Vá s...
— Não vai falar com o seu padrinho, meu amor? Para que esse estresse
todo, você é muito novinha para ficar tão rabugenta. Está na TPM? — pergunto,
Como falar para Vitória que esqueci de avisá-la que teremos um jantar em
considero como padrinho. Tenho certeza de que não me considera como sua
afilhada também. Pelo amor de Deus, né, pai! — diz rispidamente. Arqueio a
sobrancelha ao notar que meu convidado fica pálido e meio desconcertado, mas
fugir da minha pergunta. O que aquela mulher acha que está fazendo?
feito isso há três dias — esclareço, sem jeito, ao notar que Vitória fica magoada.
— Ah é? Convidei alguns amigos da faculdade para ficarmos na piscina,
eles chegarão às oito. Não vou desmarcar por causa daquela cobra. — Minha
observa em silêncio.
Respiro fundo e olho para o meu amigo, que me lança um olhar como se
dissesse “não resolva as coisas com a cabeça quente”. Concordando com ele,
fecho os punhos debaixo da mesa e fico calado por alguns minutos, sob o olhar
— Filha, Aline sempre será a sua mãe, nenhuma mulher vai tomar o lugar
dela na sua vida. Por favor, se controle porque não estamos sozinhos. — Cerro
os dentes e sinto a veia do meu pescoço latejar. Estou quase mandando meu
— Os homens são todos iguais, e o senhor não fica atrás! — Sua voz está
carregada de revolta.
— Saia da minha sala agora, antes que eu perca a paciência com você. —
Aponto para a porta. Minha voz sai dura e eu sinto por ter que agir com firmeza
com ela, mas é assim que tem que ser, porque estou prestes a fazer uma besteira
lançando um olhar magoado. Sua voz está nitidamente embargada, sei que
fique em seu quarto ou leve seus amigos para a piscina. Mas não faça muita
bagunça e nada de muitas bebidas e som alto — falo e recebo um olhar incrédulo
e boa noite. — Ela me dá as costas e sai da sala batendo a porta com força,
causando um estrondo.
— É, irmão, boa sorte com a sua filha furacão, porque eu já vou embora.
— Qual delas? Sobre você estar louco para trepar com a loirinha linda que
é mãe do seu filho, ou sobre Aline ter feito você de corno por anos, dentro da sua
Desgraçado.
— Cara, que idade você tem mesmo? Preciso do meu amigo de volta, você
está muito rabugento. Não sabe nem brincar. Porra, não é porque tem uma filha
de quase vinte e três anos que precisa se comportar como um idoso. — Ele revira
os olhos. — Você tem trinta e oito anos, é jovem, precisa relaxar e gozar! Ter
tido filhos cedo demais não te fez bem. — Debocha, para me tirar do sério.
— Vá à merda, Lucas! Vaza daqui antes que eu te chute para fora da minha
Fecho os olhos e jogo minha cabeça para trás. Estou puto e frustrado. A
esperando que ele fale. — Não importa o quanto vai magoar Vitória ao saber
quem era a mãe dela, e se você teve algo no passado com a amiga dela. Acredito
que por mais que a verdade doa, ela é a que deve ser contada sempre. A verdade
dói, tem consequências, mas todos merecem a sinceridade. Apenas siga o seu
coração, o resto você resolve depois — diz e sai, me deixando pensativo.
**
SAFIRA
— Não precisa se preocupar que não vou subir muito tarde. Antes da meia-
noite você será dispensada, tudo bem? — falo para a babá que Vitória arrumou
Minha amiga convidou algumas pessoas da faculdade para vir a sua casa,
parece que hoje vou conhecer o amigo dela que vai conseguir uma vaga para
Assinto e olho para o meu vestido tubinho vermelho simples de alças finas
e depois para meus pés.
Ela está inquieta, morde os lábios com força, com certeza quer chorar.
Seus olhos estão vermelhos e eu me pergunto o que deve ter acontecido. Será
reunião antes do horário combinado. Enviei uma mensagem para todos, logo
trarão as bebidas. Hoje iremos nos divertir como nunca — diz e empina o nariz,
meio arrogante.
dele preparar um jantar aqui em casa e agora aquela ridícula está adorando
passear na minha casa com aquele maldito sorriso venenoso só para mostrar que
pode fazer o que quiser com o idiota do Guterres! — sibila, e eu fico sem ação
— Se acalme, não adianta se estressar, talvez seja isso que ela quer.
Apenas faça o contrário, mostre a Alessandra que você pode ser muito melhor.
Cancele essa reunião com seus amigos e compareça ao jantar, seja educada e não
demonstre que está abalada. Nesse momento você precisa mostrar maturidade
para que seu pai entenda que mesmo não gostando do relacionamento, você vai
estar ao lado dele. — Me aproximo dela, que está com a expressão endurecida.
que eu perco a sanidade — fala, rancorosa. — Nem pelo meu pai me sento
àquela mesa com seus amigos fúteis. Alessandra tem péssimo gosto para
amizade, e eu não vou suportar ver aquelas mulheres olhando para mim e
cochichando pelos cantos. Solte esse cabelo, fica mais bonito e mais sexy solto
olhos para destacar essas belezuras que você carrega. Vou te apresentar a uma
pessoa para que possa se divertir um pouco. — Pisca para mim, e eu fico
perplexa.
então ele que aguente meus convidados, assim como vou ter que aguentar os
— Vitória, não sou a pessoa mais indicada para falar de maturidade, mas
pense bem antes de agir com a cabeça quente. Remarque essa reunião para outro
— Enquanto Victor estiver com Alessandra, ele vai ter que me suportar
pouco vou fazer desse jantarzinho dela um inferno. Vou terminar de me arrumar
Antes que eu abra a boca mais uma vez, ela me dá as costas e sai do
surge com um vestido longo e preto com abertura na lateral — simples e sexy
— Vitória, não acho uma boa ideia. Como os seus amigos não vêm mais,
acho melhor eu subir para ficar com o meu filho — sugiro, apavorada.
Como vou olhar para Alessandra depois do que permiti que o namorado
dela fizesse comigo? Não é justo. É errado... E a família dela está aqui,
— Nem pense nisso. Surgiu uma coisa muito melhor para essa noite, e
preciso da sua companhia — explica. — Por favor, não me deixe enfrentar as
inventar desculpas. Não me faça desistir de mostrar ao meu pai que sou uma
enfurecida de Victor, que está no meio da sala com uma taça de vinho na mão
pecado.
Disfarço e olho para Victor mais uma vez; ele está vestido com um terno
slim preto com colete, e seu cabelo está penteado para trás, sem nenhum fio fora
— O que você ganha com essas atitudes, Vitória? Por que você convidou
dois estranhos para um jantar familiar? — o homem diz enquanto vem em nossa
— Olá, papai. Convidei Bruno e Rafael para fazerem companhia para mim
e a Safira. Não achei que fosse um problema, uma vez que eu moro aqui e todos
pessoas para virem a minha casa, mas se quiser posso mandá-los embora. — A
voz de Vitória soa inocente, como se ela realmente não visse problema algum ter
Dou um leve aperto em seu braço para indicar que estou ciente das suas
intenções. Ela fez de propósito, claro, e sabe muito bem que o seu pai nunca irá
pedir que ela mande seus convidados embora.
embora. — Bufa e declara. Seus olhos azuis focam em mim rapidamente antes
de ele disfarçar e encarar a filha mais uma vez, que está vibrando ao meu lado
Já estou vendo que isso vai sobrar para mim. Visivelmente contrariado,
Victor nos olha uma última vez antes de nos dar as costas e seguir para a sala
Alessandra, um casal de idosos muito gentil — que imagino que sejam os pais
Sinceramente, essa foi a pior ideia que Vitória poderia ter tido.
parecendo furiosa. Ela tenta disfarçar o desconforto com a minha presença, mas
não parece estar conseguindo, então a mulher pede licença para se levantar, beija
os lábios do namorado e vai até a cozinha. Minutos depois ela volta com os
garçons contratados.
nossa casa, não é, meu amor? Mas logo vai encontrar um lugar para se mudar
com o seu filho — diz a cobra, passando a mão nos cabelos de Victor, que se
— Ah, entendi. Mas uma menina tão jovem e bonita como você deveria
estar aproveitando a vida, não criando um filho. Aposto que o pai dessa criança
deve tê-la deixado arcar com toda a responsabilidade, já que no momento não
Respiro fundo e decido voltar para o lugar de onde eu não deveria ter saído
— meu quarto. Faço menção de me levantar, mas paro quando a voz revoltada
Alessandra, pare agora a sua mãe ou não respondo por mim. A vida da Safira
não interessa a ninguém nesta mesa, muito menos a pessoas que ela nem mesmo
conhece. A sua mãe não tem o direito de meter o nariz onde não deve. — Bate
arregala os olhos e tenta pegar na mão do namorado, mas ele a afasta. Tenho
certeza de que Alessandra não esperava que ele reagisse dessa maneira.
— Acho bom que comece a guardar as suas opiniões para si, ninguém aqui
quer saber o que você pensa ou deixa de pensar sobre a vida alheia. — A voz de
Victor soa fria, dessa vez seus olhos estão em mim.
opinião vendesse, muitos estariam ricos por aí. — Pisco para ela. — Agora
pai é educado.
Com vergonha, olho para as pessoas à mesa e percebo que tentam disfarçar
o desconforto que todos estão sentindo. Vitória, por outro lado, me lança um
olhar como se quisesse dizer que está prestes a explodir, deixando claro que não
gostou nadinha do que aconteceu. Balanço a cabeça pedindo para que se acalme,
todos conseguem fingir que está tudo bem. O jantar transcorre sem problemas,
vez ou outra o meu acompanhante tenta iniciar uma conversa, mas não dou
muita atenção, estou com o pensamento longe. Só quero que esse jantar acabe
logo.
Victor não para de me encarar durante o jantar, sempre que olho em sua
direção, encontro seus olhos concentrados em mim, parece até que tenta me
levanta e bate com o talher em uma taça, para atrair a atenção de todos.
— Como todos sabem, Victor e eu nos amamos muito, então decidi dar o
recomeça, eu permaneço calada, esperando que tudo se acabe, até que Vitória se
— Percebeu o que essa mulherzinha ia fazer? Ela acha que vai conseguir
ficar noiva do meu pai? — Só encaro a minha amiga, sem saber o que dizer. —
Mulher ridícula, deveria desistir de uma vez do meu pai. Tenho quase certeza de
que ele está com outra e, certamente, deve ser muito melhor que essa jararaca.
Sinto um toque em meu ombro, então me viro e encontro Lucas.
Parecendo um pouco sem graça, ele me pede para acompanhá-lo antes de trocar
um olhar estranho com a minha amiga. Ela o fuzila com os olhos, mas ele a
ignora e se afasta rapidamente. Essa casa... essas pessoas são confusas demais.
ruborizar de vergonha.
comentou que você precisa de um emprego, então tenho uma proposta pra você.
jornada de trabalho é de apenas seis horas, cinco dias na semana. Então, o que
me diz?
— Eu... é que... jamais pensei que você fosse me oferecer... Deixa pra lá.
Aceito, claro! — confirmo, mas com medo de que seja uma brincadeira de muito
marcamos direitinho. Obrigado por aceitar, tenho certeza de que iremos nos dar
Volto para a mesa, ainda refletindo a conversa breve que tive com Lucas.
Victor e Alessandra voltam para a mesa, noto que a maquiagem dela está
encerrar o jantar antes do esperado. Gentilmente, ele informa que marcará uma
**
alguma de me juntar a eles. Sinto que essa fase de curtição passou, pelo menos
para mim. São mais de dez e meia da noite, estamos aqui desde o fim do jantar.
Ainda sou jovem e sei que preciso me divertir, mas o mundo da minha
amiga não é o meu. Sou uma mulher adulta e tenho um filho para cuidar que,
aliás, está lá em cima com uma babá que nunca tinha visto na vida, enquanto
Desvio meus olhos da casa e os fixo em Vitória e seus amigos. Assim que
virem para cá. O grupo agora é formado por cinco garotas — eu, Vitória e três
morenas de cabelos longos — e quatro rapazes bonitos — dois chegaram com as
mais saudável. — Ergo meu copo de água e ela revira os olhos, enquanto suas
Será que estou conhecendo o outro lado de Vitória somente agora? Não
rapazes se aproximar de mim logo após a minha amiga cochichar algo no ouvido
dele. Nem me lembro do seu nome, não fui apresentada corretamente aos
cabelos negros e os olhos da mesma cor. É bonito, mas nada que chame muita a
— Sim, sou eu. No que posso ser útil? — respondo com grosseria e me
acho que posso te ajudar. — Ele estende a mão em minha direção, ainda em pé
na minha frente.
— Ah sim, ela me disse sobre você. — Sem graça, pego na mão dele para
cumprimentá-lo.
sorrindo.
— Claro que sim. — Dou espaço para que ele se sente na espreguiçadeira
comigo.
funcionários. Se tiver interesse eu falo com ele, tenho certeza de que ele a
encaixa em algum hotel. A vaga que sempre aparece é de camareira, tudo bem
para você?
— E por que não estaria? — Olho confusa para ele. — Vou receber meu
salário no final do mês e ainda vão assinar a minha carteira? — pergunto e ele
— Sim, claro que sim... Será tudo como manda a lei. Só perguntei por
você ser tão bonita e... não pensei que aceitaria um emprego tão simples como
alimentar, comprar roupas, fraldas, levar ao médico. — Pisco para ele, que fica
levemente pálido. Levanto-me e me viro para Gustavo. — Ah, beleza não põe
Nem sei se ainda terei um emprego depois dessa. O cara começou bem,
mas depois veio com aquele papo-furado de ser tão bonita e blá-blá-blá, graças a
Deus sou pé no chão. Eu quero mesmo é ganhar meu dinheiro, nem ligo se serei
casa. Ao entrar pela porta da cozinha, eu me deparo com a última pessoa que eu
queria encontrar no momento — Victor. Ele está pegando algo na geladeira e não
percebe a minha presença, então tento passar despercebida, mas não tenho muito
sucesso.
noite, e com licença. — Passo por ele, que ainda está de costas para mim.
— Sim, você fez, mas não sou obrigada a responder. A pessoa que deve
satisfação a você foi embora horas atrás — retruco, me livrando do toque dele.
cerrados.
ouço uma risada sarcástica de Victor. — E o que você tem a ver com isso? Por
a vi com aquele garoto... ele estava claramente dando em cima de você. E por
que você quer outro emprego, se o Lucas já te arrumou um? — Seus olhos têm
fogo, ira.
amiguinho arrumar um emprego para mim está muito enganado. Não vou
permitir que brinque comigo, nem você e nem a sua namorada. Cansei de toda
essa merda, cansei de abaixar a cabeça para tudo só porque estou aqui de favor.
— Dou as costas novamente para ele, mas travo os pés quando ele começa a
falar.
— Você não está aqui de favor. Tudo que eu tenho é dos meus filhos
escritório às onze da noite, não se atrase e nem ouse não aparecer. Hoje
resolveremos isso de uma vez por todas — Victor fala e sai da cozinha, me
namorada, decidiram que essa noite era perfeita para tirar Safira do controle.
Fiquei admirado por minha filha não ter tomado à frente da situação, já que é
paternidade do meu filho. Eu já estava revoltado com toda essa merda delas, e
que esqueci de como é ser educado e a arrastei para longe dos convidados, para
Lucas tem razão, chega de viver nessa mentira. Não iremos à lugar algum,
não há nada que me prenda a esse namoro que há tempos está desgastado. Não
somos felizes há meses. Se ainda estamos juntos é por conveniência, pelo fato de
ela ser gerente do meu restaurante. Na minha cabeça, dava para ir levando as
coisas desse jeito, mas nesta noite tive a certeza de que não dá mais. Está
— Mas não é sempre ela a culpada das nossas brigas? Sua filha é
mimada, meu amor. Aceite. Ela sempre me odiou, sempre me tratou muito mal, e
eu faço de tudo para nos aproximarmos, para sermos uma família. A nossa vida
— Já percebeu que está colocando pessoas que não tem nada a ver com o
que está acontecendo no meio da nossa conversa? — acuso-a, mas ela parece
não se abalar.
comprometidos não tem nada a ver com o seu comportamento idiota? — diz
Fico sem ação. Alessandra sabe sobre Miguel e Safira? Como? Quem
contou?
— Eu sei de tudo! Ouvi você falando com Lucas sobre a aventura com
essa garota podre, uma safada que transa com qualquer um e engravida de
— Assuma de uma vez que me traiu e fez filho com outra. Você me disse
várias vezes que não queria outro filho, e agora, do nada, está disposto a
defender uma criança que pode nem ser sua — diz, com raiva.
mim não foi uma traição. — Deixo escapar e ela avança para cima de mim,
— Sim, Alessandra. Aquela criança tem nome, ele se chama Miguel. E sim,
é meu filho. — Olho bem em seus olhos, que agora estão arregalados. — Eu o
assumirei, darei meu sobrenome a ele, serei um pai presente na vida dele.
— Vai cair nesse golpe? Safira viu que você tem dinheiro, ela só quer
acabar com a nossa relação para ter o caminho livre pra te fazer de trouxa!
Cuidado, querido. Acho que deve fazer um exame de DNA para comprovar se é
seu, aquela garota deve ter se deitado com vários homens — provoca.
— Já chega. Nunca imaginei que você fosse assim, tão maldosa. Quem é
mais, passando as mãos na cabeça. — Aceitei que fizesse esse jantar, mas nunca
imaginei que era uma armadilha, estava tudo diante dos meus olhos, só que
Leve seus pais para a sua casa, não a quero mais aqui — falo, friamente.
— Não me diga que está apaixonado pela amiguinha da sua filha? Espero
que caia na real e veja que eu sou a mulher ideal para você, e não uma garota
como Safira, uma oportunista com um filho que supostamente é seu — afirma,
venenosa.
do meu filho, e tudo que é do meu filho é da mãe dele. Acho que você me
entendeu, certo?
— Você só pode estar bêbado. Tomou algumas taças de vinho a mais. Vou
para a minha casa e amanhã volto para conversarmos melhor. Você não está
bem, posso ver que não. — Alessandra tenta limpar a maquiagem borrada.
— Estou ótimo, nunca estive melhor. Alessandra, estou ciente das minhas
palavras e o nosso namoro termina aqui, não quero mais nada com você — falo
secamente.
— Também! Mas não é por isso que quero terminar. — Olho-a nos olhos e
noto que não chora mais. — Vivemos juntos por um tempo, eu me sentia bem ao
seu lado, éramos um casal que visava a mesma coisa, mas já não quero mais
isso. Preciso de alguém que não seja perfeita demais, alguém que... Enfim, essa
pessoa não é você. Estou atraído por outra mulher, e eu não quero te magoar, te
— Eu não disse isso. Não sei o que sinto por ela, mas estou atraído, isso é
podemos criá-lo juntos, cuido dele como se fosse meu. Tenho certeza e que
— Você só pode estar louca se acha que vou separar mãe e filho. Eu não
sou um monstro! — rosno, revoltado. — Não se refira a ela dessa maneira e saia
— Victor... me perdoa...
**
Após Alessandra sair com seus convidados, subi para o meu quarto, tomei
Minha decisão já está tomada, não vou mudar de ideia, não existe
possibilidade alguma de seguir com essa relação. Não estamos mais em sintonia
como antes.
Ela parece ter decidido vir de última hora, talvez estivesse indo dormir.
Safira está sem maquiagem, com uma camisola curta e o cabelo preso em um
— Estou aqui. O que tem para me dizer, Victor? Me diga o que quer, está
espero que também esteja de acordo. Não quero esperar mais um segundo para
dar a Miguel o que é dele por direito. Se me permitir darei ao nosso filho meu
sobrenome, carinho, amor... tudo que um pai deve fazer.
filho. — Sou pego de surpresa, mas não escondo o sorriso. — Se era só isso,
dizer. Então, a voz de Lucas soa em minha mente. “Você está se apaixonando
Porra, ela é tão linda, e sei que estou a fim dela. Muito a fim. Ter Safira
embaixo do meu teto me fez perceber que preciso descobrir o que estou sentindo
por ela.
— Victor, faz quase cinco minutos que estou te esperando falar alguma
coisa. Me desculpe, mas tenho mais o que fazer, com licença. — Ela se levanta
Tenta ser firme, mas falha miseravelmente. Agora sei que a afeto e gosto disso,
— Não vá, apenas me escute e depois você pode fazer o que quiser. — Eu
a viro de frente e vejo a loira com seus longos cílios tremulando, parecendo meio
Não consigo mais conter esse sentimento que lateja dentro de mim, e sei que
— Acho que você não sabe nem o que sente direito. Agora me deixe
passar, ou vou fazer um escândalo tão grande, que o vexame do jantar da sua
mulher essa noite vai ser fichinha — profere as palavras com um ciúme velado.
Antes que ela diga alguma coisa, eu não resisto e a beijo de maneira
— Safira... — sussurro no seu ouvido e desço minha boca até seu pescoço,
dando uma mordidinha. — Quero mais que uns bons amassos, quero você por
investidas em seu pescoço enquanto mordisco e beijo todo o local. Desço pelo
colo e beijo cada lado de seus peitos, me deliciando com sua pele macia e
sendo prazeroso.
doce da sua pele. Ela geme e segura o meu cabelo com mais força, me segurando
Afasto-me dela mesmo sob seu protesto e resmungo. Deixo-a nua e encaro
o seu corpo com meu olhar ardente. Umedeço os lábios ao focar em seus
mamilos rodados e enrijecidos. Passo um braço por sua cintura fina enquanto
levo a outra mão aos seus longos cabelos loiros e lisos. Em seguida, seguro seu
queixo e deslizo minha língua em sua boca, beijando-a vorazmente. Nossas
línguas dançam dentro da sua boca ao mesmo tempo em que deslizo a mão por
seus lábios macios com os meus. Safira fecha os olhos novamente, aproveitando
vulva.
boca para provar o seu sabor. Safira se abre mais para mim quando vê a cena, ela
eleva os quadris quando abro seus lábios devagar com a língua e saboreio o mel
que escorre dela. Mordisco os lábios enrijecidos da sua vagina e deslizo minha
Estou lambendo seu néctar quando vejo que Safira está perdendo o
controle, então chupo e mordisco sua boceta, penetrando a sua cavidade com a
minha língua, fazendo-a gemer alto com as minhas investidas. Com seu corpo se
contorcendo sob a minha boca e dedos, saboreio o seu gosto até que ela atinge o
— Victor... — Sua voz sai como uma súplica, me deixando ainda mais
Desejo-a mais do que antes, preciso penetrá-la, sentir o calor do seu corpo
contra o meu, ouvir seus gemidos perto do meu ouvido enquanto adoro cada
puxo para mim e a sento em meu colo, encaixando meu pênis em sua entrada
pau rígido e pulsante. Ela rebola, como se estivesse fazendo uma dança erótica
em meu colo. Seus gemidos me deixam mais excitado, urro quando ela crava as
Safira morde os lábios de uma maneira sexy pra caralho enquanto desce e
sobe no meu pau com mais velocidade. Fascinado com seus movimentos, coloco
uma mão em seu quadril para guiá-la e levo a outra ao seu cabelo e o puxo para
Enquanto a mulher cavalga em mim com maestria, tiro a boca dos seus
seios e puxo seu corpo contra o meu antes de apertar a sua bunda com força.
Beijo seu ombro e sigo para o pescoço, onde mordo e arranho sua pele com
meus dentes.
Disposto a ter mais dela antes que alcance seu deleite, inverto nossas
posições sem sair de dentro de Safira, e a deito no sofá, abrindo mais as suas
pernas. Seguro uma das coxas e a penetro fundo enquanto a minha mão livre
passeia por seus seios, por sua barriga suada e alcança seu clitóris escorregadio.
Eu a masturbo ao mesmo tempo que meto rápido e com força. Sem deixar de me
Ela leva as mãos ao meu rosto e me puxa para um beijo quente, intenso e
gemidos saem abafados. Bombeio lentamente na loira quando ela desliza uma
mão em meu cabelo e o puxa, causando uma ardência excitante no meu couro
Quando a boceta dela aperta o meu pau, eu a preencho com mais vigor e
mais duro, sabendo que está gozando. Minhas pernas começam a tremer assim
Deito meu corpo sobre o dela com cuidado para não a machucar e afundo
suada.
intensa. — Não pense que estou querendo te usar ou te tornar a minha amante,
jamais faria isso. Você merece mais e estou disposto a te dar se me permitir.
Safira não fala nada, apenas acaricia minhas costas e tenta controlar a
— O meu coração está batendo no mesmo ritmo do seu — diz, com graça.
— Acho que eles estão batendo um para o outro. — Levanto o meu rosto e
Saio de dentro dela e a puxo para o meu colo, então acaricio suas costas
macias. Seus olhos claros e sérios se fixam em mim, então coloco seu cabelo
atrás das orelhas e beijo a ponta do seu nariz, abrindo um sorriso ao vê-la me
— O que você quer de mim, Victor? Não vou aceitar que brinque comigo
— afirma.
tudo para tê-los. — Olho-a com seriedade e noto que seus olhos ficam marejados
e sua pele mais pálida que o normal.
tome contraceptivo, quero ter certeza de que não serei pega de surpresa mais
— O que preciso fazer para que acredite em mim? — Victor, leva uma
mão ao meu rosto e a outra para as minhas costas, deslizando os dedos em minha
pele escorregadia.
Para ser sincera, eu não esperava uma atitude dessa vinda dele. Eu sabia
que ele queria assumir Miguel, mas me incluir em seus planos me faz pensar que
— Não faz nem vinte quatro horas que você terminou com Alessandra... E
o que eu fiz? Me entreguei a você sem sentir culpa, sem pensar direito. O pior é
que me sinto péssima por não estar arrependida. — Respiro fundo quando ele
— Não quero que fique com a consciência pesada — diz com seriedade.
— Reconheço que errei com Alessandra e preciso pedir desculpas por não ter
sido sincero com ela. Talvez eu a tenha magoado por não ter suprido as
funciona mais, entende? Estou muito atraído por você, Safira, não sei se é amor
Alessandra tendo você por perto. Seria uma tortura. E talvez eu a magoaria ainda
estariam juntos, não é? — Saio do seu colo e me sento ao seu lado, de frente
adultos.
esperando por uma explicação concreta. — Quando algo não é para dar certo, ele
simplesmente não dá. Mesmo que você não voltasse para a minha vida, em
algum momento Alessandra e eu iríamos terminar. Mas por que essa pergunta?
isso que Victor planeja, porque não estou disposta a ser brinquedo de ninguém.
— Tive sentimentos por ela, mas não chegou a ser amor. Há muito tempo
que não amo alguém, Safira, nem sei se um dia cheguei a amar a mãe da minha
acabei me tornando o que mais temia. Bem lá no fundo, sei que agi como a
minha falecida esposa, julguei-a tanto e por fim quase fiz o mesmo. Reconheço o
meu erro com a Alessandra, eu a traí sim, mas a diferença é que eu não quis
continuar com a farsa e viver com uma pessoa que não amo.
“Se eu desse a ela falsa esperança seria um grande filho da puta. A única
saída foi cortar pela raiz antes que eu me afundasse ainda mais. Muitas vezes,
penso que era o medo de ficar sozinho, afinal de contas, no mundo em que
vivemos é difícil encontrar alguém de confiança, uma pessoa que queira somar
com você, e ter uma mulher como ela ao meu lado era bom. Pelo menos era isso
que eu achava até a venda cair dos meus olhos e me fazer enxergar a minha
deixou louco. Sei que está insegura em relação a mim, que tem medo de se
magoar, mas se eu não a quisesse, não estaríamos aqui. Por favor, não me julgue
antes da hora.”
Meu coração vacila quando sou puxada para os seus braços fortes e recebo
um beijo na testa.
— Não preciso que me diga que me quer milhares de vezes, Victor, só que
amor — digo, encorajada. — Ainda sou jovem, mas já tenho meu filho e nunca
gostei desse lance de ficar saindo com vários rapazes. Sempre fui muito
reservada, e só estive com três homens, você foi o último, que me deu o Miguel.
conquistador.
Assinto, meio agitada por dentro. Apesar do nosso encontro de anos atrás
ter sido rápido, ter engravidado de Victor nos fez ter mais do que uma história,
quase duas da madrugada, nem percebi como as horas tinham voado. — Merda
— murmuro.
— São quase duas e o Miguel ainda está com a babá. Não estou
acostumada a deixá-lo com quem eu não conheço. Sem contar que não quero que
Um pouco mais recomposta e pronta para sair, dou uma última olhada para
porta, então dou as costas para Victor e paro quando ele começa a falar.
enquanto levo meus dedos aos seus cabelos lisos e levemente bagunçados.
Quando sua língua quente e macia invade a minha boca, aprofundo nosso
beijo que até então estava lento, tornando-se voraz e cheio de saudade. Em
Beijo-o rapidamente e tiro sua mão de dentro de mim, mesmo já estando a ponto
Subo a escada com cuidado e sigo para o meu quarto, mas gelo ao me
deparar com a minha amiga na porta, com a babá ao seu lado, pálida e com os
Meu Deus.
— Vitória, o que faz acordada uma hora dessas? — Quase gaguejo, mas
me contenho.
antes de se aproximar.
voltando a me avaliar.
— Deve ter sido isso. Depois de beber água, decidi tomar um ar lá fora. —
Sorrio, nervosa.
comenta.
— Esse perfume é igual ao do meu pai. — Ela torce o nariz e eu quase me
engasgo.
— Ah... certo... estou com um novo perfume. Não sabia que o sr. Guterres
me disse que você tinha ido beber água. Eu nem desci, por isso não nos
— E o que faz acordada uma hora dessa? Miguel está bem? — pergunto,
— Está sim, senhora. A dona Vitória veio até o seu quarto e eu estava
casinho. Fiquei um pouco chateada e acabei perdendo o sono, então vim ver se
você estava acordada — diz e sorri. — Mas já me resolvi com ele, estamos bem
de novo. Mas é tarde, e o Miguel está dormindo, acho melhor ir para o meu
quarto. Vou voltar para o meu edredom quentinho, daqui a algumas horas tenho
que ir à faculdade.
— Certo. Tenha uma boa noite de sono — falo e sorrio para ela, que
Entro no meu quarto e vejo meu filho dormindo como um anjinho. Aviso à
Marina que vou tomar um banho e já volto. Enquanto tomo um banho, decido
que preciso agradecer a ela por não ter me desmentido, mas assim que saio do
quarto, eu a encontro dormindo na cama extra que foi colocada para ela. Assim
**
um pouco quando larga seu martelinho e leva as mãos ao meu rosto, apertando
as minhas bochechas.
— Oi, meu filho. Hoje iremos contar a Vitória a minha história com o seu
pai. —Encaro seus olhinhos azuis iguais aos de Victor e sorrio. Meu pequeno só
Quase não dormi a madrugada passada, fiquei pensando nas mentiras que
inventei para Vitória. Quase tive um treco quando ela sentiu o perfume do pai.
Mesmo que eu quisesse contar a ela naquele momento o que estava acontecendo
eu não podia, Victor e eu combinamos de contar juntos, será melhor assim, nós
— Você quer água, meu amor? — indago, quando ele continua tentando
falar água.
Desço a escada e sigo para a cozinha, onde me deparo com dona Joana
apertar levemente as bochechas de um certo alguém que parece não ter gostado
muito do gesto ao fazer uma cara de choro. Para que ele não comece a chorar,
beijo seu rosto e falo que a “tetê” está quase pronta, logo tenho de volta uma
criança agitada e animada. Com Miguel ainda em meu colo, coloco um pouco de
— Como esse menino é lindo, uma bênção, minha filha! — diz a senhora.
O meu sorriso aumenta, fico toda orgulhosa do meu filho. Que mãe não
utensílios para preparar seu mingau. — Dona Joana, a senhora sabe me dizer se
Vitória já saiu e se tinha uma moça com ela? E o sr. Victor está em casa ou saiu
— A menina Vitória saiu cedo, antes da seis e meia, e estava com uma
moça sim. O sr. Guterres está em casa, entrou no escritório cedinho.
Imagino que ele não vai sair hoje, uma vez que combinamos de falar com
a filha dele.
direção de Miguel e o encontro com uma panela nas mãos, batendo contra a
madeira do armário, enquanto outras estão jogadas no chão. Até que demorou
— Meu Deus, filho, não destrua a casa do seu pai — resmungo, desligando
tão linda, que ele nem imagina o quanto é errado o que acaba de fazer. Ele está
achando a coisa mais divertida do mundo. Encaro seus olhos azuis seriamente, e
bom?
cabelos brancos.
Quase caio para trás quando ouço a voz sexy de Victor. Olho para o
Meu coração quase erra a batida quando ele pega as mãozinhas de Miguel
e beija, deixando o garoto agitado em meus braços, doido para se jogar para o
Victor assente e sorri para Miguel, que já está com a cabeça encostada em
— Certo. Não vou demorar muito — aviso. Ele me encara por longos
— Sim?
— Sim. Assim que ela chegar, nós iremos conversar. Não se preocupe,
os olhos.
filho. — Ele leva uma mão ao meu rosto e o acaricia. — Eu preciso de vocês
Não falo nada, apenas balanço a cabeça e o deixo ir, então volto a preparar
a mamadeira. Em poucos minutos estou com a mamadeira de Miguel pronta.
Sorridente, lavo os utensílios que sujei e sigo para a sala. Travo os pés ao ver a
cena linda na minha frente — Victor está com Miguel sentado em seu colo
enquanto conversa com a criança de uma maneira tão engraçada e fofa, que meu
coração se enche de amor. Aproveito que nenhum dos dois notou a minha
— A mamãe me deixou te pegar no colo hoje sem ficar brava, você viu? E
ela ainda sorriu. Acho que ela acha que somos lindos juntos — diz Victor,
minha vida.
Meu Deus. Acho que a cena de pai e filho juntos deixou meu cérebro um
pouco bugado.
olhos de mim.
estamos mais minhas pernas tremem. Parece que o espaço ao nosso redor não é
suficiente para nós dois, porque minha respiração fica ofegante, como se eu
Dizem que esses sintomas são de pessoas apaixonadas, que estão amando, mas
olhos de Victor sobre mim por muito tempo. Coloco a mamadeira nas mãos de
Miguel e não demora para que ele comece a sugar seu mingau.
— Aham, ele faz algumas coisas sozinho, tenta até passar a escova no
— A proposta é muito boa. Não preciso ficar o dia todo na rua, então
posso dar atenção ao meu filho. — Passo a mão nos fios loiros do cabelo de
— Fico feliz. Você pode usar o meu escritório para trabalhar se quiser, lá
quando vejo ninguém menos que Alessandra na minha frente, com o semblante
carregado de ódio. Seus olhos estão quentes de raiva, ela não esconde o quanto
me odeia.
Sou ignorada com sucesso pela mulher, que passa por mim com o nariz
empinado. Ela segue para a sala e eu vou atrás, louca para pegar o meu filho e
subir para o meu quarto. Não quero nem ver a confusão que a naja vai provocar.
Tento pegar Miguel, mas Victor me impede ao murmurar que está tudo
bem. Alessandra está a poucos metros de distância dele, com as mãos na cintura
e um olhar soberbo.
— Alessandra, o que faz aqui? — pergunta Victor, pacientemente, ainda
— Vim para conversarmos. — Ela olha para mim com desdém e depois
para o meu filho. — Mas parece que não esperou nem um dia para me substituir
Respiro fundo e fecho os punhos. No fundo, sei que ela está certa, mas não
— Alessandra, peço que se controle e retire o que disse sobre meu filho.
— Quem te garante que essa garota não saiu dando para vários homens e
engravidou de um qualquer, para depois vir atrás de você como uma mosca
— Esfrie a cabeça e depois conversamos. Por favor, não vá tão longe com
suas palavras, ninguém aqui é criança. Volte para sua casa e quando estiver mais
mulher magoada, está com raiva, eu a entendo. Para evitar que essa discussão se
prolongue, eu me viro para subir. Mas não saio do lugar quando Alessandra se
coloca na minha frente. Rapidamente, Victor se levanta, vai até a porta e a abre.
Mal tenho tempo de assimilar suas palavras quando sua mão atinge meu
rosto com força. Sem equilíbrio por ter sido empurrada em seguida, aperto meu
filho nos meus braços para protegê-lo e coloco a mão em sua cabeça para que
começa a chorar.
— SAIA DA MINHA CASA AGORA! AGORA! — O grito furioso de Victor é
assustador.
braços.
— Me solte, Victor! Está vendo o que essa rata fez? Ela me provocou! Ela
Miguel ainda chora enquanto olho cada parte do seu corpo para ver se não se
machucou com a queda. Por muito pouco não caímos em cima da mesa de centro
de vidro. Essa mulher é louca, preciso manter distância dela. Quase nos feriu
gravemente.
Minha alma quase sai do corpo quando a minha amiga entra na casa com
Lucas ao seu lado. Ambos arregalam os olhos quando me veem no chão, com
minha visão embaçada. Por sorte não me machuquei, mas estou um pouco
dolorida.
direção.
— Vamos, querido, fale para a sua filhinha o que está acontecendo! Fale
para ela o que você e a amiguinha sonsa andaram aprontando pelas costas dela!
Olho para a minha amiga e vejo que ela olha para o pai e depois para mim.
— Não me toque, não saio daqui até dizer tudo o que está entalado!
Vamos, conte a Vitória que você está brincando de casinha com a melhor amiga
dela. Aproveita e fala também que esse menino supostamente é seu filho, que
vocês se conhecem faz tempo! Fala para ela que essa criança foi feita no dia em
que a morte da sua esposa estava completando três anos. Conta que você estava
uma vez.
Cada palavra que sai da boca dela estraçalha o meu coração. Era para
Victor e eu contarmos, íamos fazer isso, mas agora Vitória recebeu os fatos
distorcidos.
os olhos com força e abraço Miguel, desejando que tudo não passe de um sonho.
Eu sei que Alessandra está magoada, mas ela não tinha esse direito. Ela foi baixa
demais.
envergonhada.
— Não que seja da sua conta, mas eu sempre soube do meu pai e da Safira.
Estou feliz por ele ter encontrado uma mulher que realmente o ame, e que não
esteja somente atrás do dinheiro dele. Que não seja igual a você. Então, saia da
nossa casa e não volte nunca mais, aqui não tem espaço para você. Nunca teve,
já deveria ter percebido isso! O que você fez foi muito baixo, foi cruel.
O discurso de Vitória deixa todos surpresos. Eu nunca esperei por isso. Ela
já sabia? Como?
— Vocês todos são podres! Pensei que tivesse encontrado uma família,
— E eu estou orgulhosa por meu pai finalmente ter aberto os olhos e visto
que Safira é a mulher certa para ele. — Minha amiga fixa seus olhos em mim e
sorri com cumplicidade, então a vontade de chorar vem com força total.
— O que essa menina tem para oferecer a um homem como Victor? Sexo?
Apenas isso! Já eu, tenho uma profissão, sou uma mulher renomada, madura,
eficiente...
Mas antes que Alessandra termine de falar, Victor a puxa para fora.
Victor diz alto e bom som. — Não chegaríamos a esse ponto se você não tivesse
feito essa merda toda. Você quase machucou Safira e a criança, Alessandra. Que
tipo de pessoa você é? — Sem dar tempo de ela responder, ele fecha a porta na
cara dela.
— Filha, íamos te falar hoje, mas aconteceu isso tudo e... — Victor está
preocupado, sei disso. Mesmo que Vitória tenha dito que está tudo bem, nada
está bem.
— Quando eu disse que estava tudo bem era sério, pai. — Minha amiga
vai até Victor e o abraça. Assim que eles se afastam e ela olha para mim e
Miguel, eu me sinto melhor ao notar que não há mágoa nela. — Sei de vocês
desde o dia que estavam discutindo porque você estava com Miguel no colo. Eu
estava descendo a escada, mas quando os ouvi falando alto esperei para ver o
— Vitória, me desculpe por não ter sido sincera desde o início, juro que
essa não era minha intenção. Eu fiquei com medo da sua reação — digo com
sinceridade.
— Eu sei que não queriam esconder nada de mim, entendo. Até mesmo os
perdoo por terem deixado que a Alessandra me contasse essa novidade que já era
velha para mim. — Ela sorri e revira os olhos. — Já sabia de tudo, até mesmo
parte nem quero imaginar. E quando forem aprontar tomem banho depois, o seu
— Calma, pai, estava brincando. Quero deixar claro que quando as minhas
suspeitas foram se confirmando, confesso que fiquei perplexa. Fiquei chocada ao
descobrir que meu afilhado na verdade é meu irmão caçula. No início eu quase
surtei, mas deixei para questionar vocês no momento certo. Eu ia chamar os dois
hoje para saber toda a história, não aguentava mais guardar as coisas para mim.
Mas quando cheguei encontrei a Alessandra dando aquele show, então eu deixei
surpresas.
nervosa.
— Estou bem com isso, afinal, já sabia. Só não podia sair falando por aí,
estava tomando coragem para conversar com vocês para que abrissem o jogo —
ela diz, dando de ombros. — Amiga, ainda posso ser a dinda do meu irmão,
certo?
— Claro que sim. — Lágrimas caem dos meus olhos. Emocionada, olho
para Victor e o encontro sorrindo, posso ver que está mais tranquilo do que eu.
pai e sua mãe que lutem, porque a partir de agora você é meu único amor, meu
Nada como um dia após o outro. Me sinto mais leve por saber que Vitória
me aceita. Nunca esperei que ela reagisse dessa maneira, eu a subestimei, pensei
que fosse me odiar e que não me quisesse mais por perto. A maneira como foi
compreensiva e madura me fez perceber que nunca conhecemos cem por cento
meu pai e da minha amiga, e sim com algo pessoal que me irritava muito.
“Não deveria ter feito aquilo, você disse que não ia contar. Pelo menos
você foi sensata?”
a sua cara, seu conquistador barato! Você está lidando com Vitória Guterres!”
Filho da puta.
Jogo meu celular ao meu lado na cama e decido de uma vez o ignorar. Ele
está revoltado porque eu abri o jogo para o meu pai e a Safira. Eles estavam tão
nervosos por eu ter ouvido tudo daquela maneira, que nem perceberam que
melhor amigo do meu pai. Obriguei Lucas a me contar depois de eu ter ouvido a
conversa deles em uma manhã no escritório do papai quando fui até lá para
Esperei Lucas ir embora da minha casa para sair à procura dele e colocá-lo
contra a parede. Ele abriu o jogo, mas me fez prometer que eu não falaria nada.
Concordei com sua condição, claro, então o ouvi atentamente.
As farpas trocadas quando papai estava com Miguel no colo na sala eram
daquele dia, fiquei parada no meio da escada ouvindo cada palavra dita.
Confesso que na hora eu quis ir até eles e exigir toda a história, porém, por
amar muito meu pai e Safira deixei-os à vontade, me fiz de desentendida por
semanas. Aos poucos fui juntando as coisas e não deu outra, estava mais do que
Levei um grande susto, quase surtei de início. Mas por que eu os julgaria,
sendo que minha mãe havia partido há três anos quando se conheceram? Meu
pai tinha que ser feliz, ele merece ser feliz, e eu não o impediria, mas teria que
ser com alguém que o amasse de verdade, e Safira com certeza é essa pessoa.
Sim, muitas vezes fui imatura, mas só de ter que aturar aquela cobra
namorando o meu pai me fazia agir de cabeça quente, como uma garota mimada.
Aquela mulher nunca mereceu o meu pai, ela jamais será boa o suficiente para
ele.
Eu não vou muito com a cara da Alessandra, e não é por ter medo de ela
tomar o lugar da minha mãe — sei que uma mãe nunca pode ser substituída na
vida de um filho —, mas por saber que ela é mentirosa. Um dia eu a peguei
falando com o antigo contador do Bella Flor, a conversa deles era muito íntima
para uma pessoa comprometida. Ela dizia a ele que em breve se tornaria a
do local, era nítido o interesse que ela tinha nos negócios do meu pai. Meu ódio
entrar.
Meu pai me trata como se eu ainda fosse uma criança, ele precisa perceber
que eu cresci, sou uma mulher adulta. Não sou tão inocente como ele acha, sei
de coisas que ele nem imagina, coisas que ele tem medo de me contar pensando
raiva de mim por ter mentido? — Faz várias perguntas e eu dou risada.
— Sr. Guterres, tenho sangue quente. Acha que se eu estivesse com raiva
já não teria colocado essa casa de cabeça para baixo? — falo, bem-humorada.
— Não sei, filha, faz tanto tempo que não temos um momento assim... que
não nos sentamos para conversar. Normalmente é só um bom dia, boa tarde, boa
noite que damos para o outro, ou quando estamos fazendo nossas refeições
surpreendeu, não imaginei que aceitaria tão bem, ainda mais do jeito que ficou
sabendo. Você já sabia mesmo sobre mim e Safira? Ou só falou tudo aquilo para
Ele se acomoda melhor na cama e bate a mão na coxa para que eu deite a
minha cabeça.
como uma irmã, e acho que vocês se conhecerem foi coisa do destino. Assim
como eu conhecê-la quando ela mais precisou — digo e ele sorri. — Quando eu
soube sobre vocês, confesso que fiquei doidinha para encher vocês dois de
perguntas e meio irritada por não terem me dito que já se conheciam quando se
reencontraram, mas eu não sou louca de virar as costas para a minha melhor
amiga sabendo que vocês se conheceram antes da minha amizade com ela, e de
barbaridades da Safira, eu a quis pegar pelo cabelo e jogá-la na rua, mas deixei
que o senhor a mandasse embora. Era um direito seu fazer isso, pegar a vadia
imaginei que aceitaria tão bem assim — afirma, meio sem graça.
— E quem não aceitaria uma criança fofa daquelas como irmão e uma
melhor amiga como boadrasta? Mais do que aceito os dois na minha vida, já
olhos.
— Ainda estamos nos conhecendo e gosto dela, acho que até estou
apaixonado. Fazia tempo que não me sentia assim, e pretendo descobrir até onde
— Sei que irão chegar ao altar. Ah, pai, vocês podem se conhecer melhor
maltratar o coração dela. Qualquer vacilo que der com ela irá se ver comigo —
em suas palavras. — Vitória, preciso te contar algo sobre a sua mãe... esclarecer
coisas do passado que ainda me perseguem... e te pedir perdão por nunca ter tido
coragem de te contar... fiquei com medo de partir o coração da minha garotinha.
Estou mais do que pronta para escutar o que ele tem a dizer. Sempre o
ouvia comentar com o Lucas que precisava me contar como era a minha mãe de
verdade, mas nunca entrava em detalhes, só afirmava que não se sentia pronto.
— Pode falar, estou pronta. — Meus olhos ardem e minha voz sai
embargada. Nem sei do que se trata, mas o seu tom deixa claro que não é nada
bom.
— No dia em que sua mãe morreu... bem, ela... ela estava fugindo com um
homem, estava nos deixando. Mesmo eu tendo dado tudo a ela, acho que nunca
foi o suficiente, porque ela colocou um desconhecido que se passava por seu
irmão dentro da nossa casa. Ela me fez sustentar o seu amante por anos. — Meu
coração se estraçalha. Meu pai fala meio rancoroso enquanto acaricia meus
cabelos, e eu deixo as lágrimas caírem. — Aline nunca foi uma boa mãe, ela te
maltratava por causa do Marcelo, brigava com você por causa dele. Me lembro
como se fosse hoje, quando a vi gritando com você, com a própria filha, porque
Sua mãe deveria ter sido sincera comigo, deveria ter aberto o jogo, poderíamos
“Por anos me senti sufocado por ser covarde e não contar a você que a
mulher que tanto admira foi um monstro. Por isso que todo ano, no dia da morte
dela, eu me afastava, fugia para não olhar em seus olhos e... eu não tinha
queria te magoar, afinal, sua mãe já estava morta... do que adiantaria te contar?
Apagar a imagem boa que você tinha dela? Machucar seu coração por algo que
mas então percebi que errei por não ter sido sincero, por ter ocultado durante
anos a verdadeira face da sua mãe. Aquela mulher nunca mereceu o seu amor e a
deu você, Vitória, o meu orgulho, a minha vida, o meu tudo. Quando você for
mãe vai entender o meu sentimento de proteção. Quando somos pais e amamos
apenas choro enquanto ele limpa meu rosto banhado pelas lágrimas. Acabo me
Confesso que estou surpresa, mas ao mesmo tempo nem tanto. Uma vez eu
a vi discutindo com o meu suposto tio no corredor, ela tentou bater no rosto dele,
mas quando me viram tentaram disfarçar e ela me mandou voltar para o meu
quarto.
Por muitos anos eu a venerei, sofria com a sua ausência em minha vida,
sofri quando meu pai começou a namorar a Alessandra, sofria todo ano, quando
ele desaparecia ao completar mais um ano da morte dela. Para mim, meu pai
momento tenho raiva da minha mãe estarei mentindo. Sim, ela errou, mas não
sou igual a ela, sou muito melhor, não consigo ter raiva das pessoas que eu amo
e, apesar de tudo, Aline é uma delas. Sempre será minha mãe, ela me deu a vida
arrastada.
— Por que eu teria raiva do meu pai? O senhor só quis me proteger, não há
nada para perdoar. — Beijo seu rosto e o abraço mais forte. Ficamos assim por
paizão, meu porto seguro... meu melhor amigo. Você me criou, me amou, me
deu tudo do bom e do melhor, o que mais eu poderia exigir? Nada. Você fez o
que achou que era necessário, e eu entendo. Não há rancor, não há nada, apenas
amor. Eu te amo, pai, e jamais viraria as costas para você por ter agido como
qualquer pai que ama seu filho. Vamos esquecer o passado, vamos viver o
— O senhor pode ficar mais um tempo comigo? Está tão bom ter um
momento só nosso.
— Claro.
Agradeço mentalmente e volto a deitar a minha cabeça em seu colo,
cabelos.
**
Só? Coitado, deve estar com as costas doendo por ter velado meu sono.
— E, você? O que tem feitos nos últimos dias? Está namorando algum
rapaz?
Suas perguntas me pegam de surpresa, não esperava ter essa conversa tão
cedo.
— Sim, estou saindo com um cara e ele é mais velho. Eu gosto dele, mas
não sei se me leva a sério, já que acha que sou a garotinha do papai, mimada
enche de perguntas.
— Acho que alguns bons anos, uns treze, talvez doze — declaro e mordo
— Ótimo! Traga-o aqui para que possamos conversar, preciso saber quais
— Pai, por favor. Respeite o meu tempo, pode ser? Eu não sei se irá dar
certo e nem... se ele quer algo sério comigo. Não me ouviu dizendo que ele me
acha mimada, filhinha de papai? — digo com pesar.
— Se ele acha isso, então não a merece. Larga esse cara e arruma alguém
decente que a ame e a valorize, e não um mané que te chama de filhinha de papai
e mimada. Você tem que ter alguém que diga todos os dias que a ama e que a
Fico emocionada com as palavras dele, estava sentindo muita falta desse
lance de pai e filha que sempre tivemos. Aquela vadia estava conseguindo
afastá-lo de mim.
provoca e eu dou risada. — Brincadeira, filha. Você me disse que ele é mais
para um convento. Se bem que não me aceitariam lá, não sou mais virgem, muito
menos inocente.
— Quando eu me sentir à vontade para falar mais sobre ele, pode ter
peço, tentando não demonstrar o quanto estou nervosa quando meu celular
começa a tocar.
Quando estou para atender à ligação meu pai entra novamente no quarto.
— Use camisinha, sou muito jovem para ser avô. — Ele faz uma careta.
— Pelo amor de Deus, pai, é nojento conversar essas coisas com o senhor!
— Meu rosto fica vermelho. Pego um dos travesseiros da minha cama e jogo na
desestabilizar. Olho para o meu aparelho e noto que Lucas desistiu da ligação,
**
Mais uma ligação perdida. Olho para o celular e vejo as várias ligações
perdidas de Lucas. Não estou a fim de me estressar com um cara que não sabe o
que quer. Quando ele parar de colocar empecilhos no nosso relacionamento nós
podemos ter uma conversa civilizada, enquanto isso não acontece vai ter que
ficar de molho.
— Já estava descendo, mas obrigada por ter vindo me chamar. Quero falar
— Acha que vou querer saber como é o sexo com meu pai? Eca, que nojo!
gargalhada.
— Você é terrível!
— Agora é sério, preciso te contar algo, mas promete que não vai pirar? —
— Conta logo, estou curiosa! E não me peça para não pirar, não vou
prometer se nem sei sobre o que se trata. — Safira está toda animadinha.
— Sabe o cara que estou saindo? — Minha voz quase sai inaudível. —
Então, falei ao meu pai sobre ele, mas não quem é. Acho que ele vai pirar
quando souber que estou saindo com o melhor amigo dele... o mesmo que ele
cara como ele, bonito e gostoso, sem companhia, então decidi ir cumprimentá-lo.
minha paixonite de adolescente que eu sentia pelo amigo do meu pai voltou —
— Não mais clichê do que se envolver com o pai da melhor amiga — diz e
rimos. — Mas o que seria de nós sem os clichês da vida? Enfim, fale mais da sua
— Desde que eu era adolescente tenho uma queda por Lucas, mas ele
investindo, joguei todo meu charme, porque eu sabia que ele nunca tinha me
visto como a sua afilhada. Meu pai que colocou na cabeça que seu melhor amigo
será o meu padrinho, mas graças a Deus nunca fui batizada, jamais aceitei essa
rolou nada de mais, ele foi bem respeitoso, um gentleman. Depois disso a gente
ficou trocando mensagens por alguns meses, e um dia cansei e decidi tomar a
tinha receio por causa do meu pai. Acredita que fui eu que tomei a iniciativa de
nessa enrolação. Ficamos escondidos porque o idiota tem medo de dizer ao meu
cadela para o jantar da Alessandra para que o meu pai não desconfiasse de nada,
e blá-blá-blá. Se o Lucas me irritar muito, ficar nessa de não termos algo mais
porque meu pai é seu melhor amigo, e que isso e aquilo, eu o largo e arrumo
outro muito melhor e mais corajoso. É assim que as coisas vão funcionar agora
atrás quando veem que as mulheres não estão para brincadeira. Alguns gostam
primeiro da fila.
— Até que é uma boa ideia, e Lucas parece ser desse tipo. Imbecil gostoso
— resmungo, revoltada. — Mas se ele não tomar uma atitude logo vai acabar
perdendo, eu sou do tipo que me apego rápido e esqueço mais rápido ainda.
— Sim, vamos. Safira, depois você me conta como conheceu o meu pai?
Fiquei curiosa, quero saber tudo, tudinho. Quer dizer, nem tudo, a parte sexual...
Eca, eca...
— Conto sim — ela ri mais uma vez —, mas agora vamos, seu pai deve
Falo para ir na frente, pois vou mandar uma mensagem para o Lucas.
Decido fazer um ultimato: ele decide o que quer, ou tudo estará acabado entre
nós, vou voltar para a pista. Vou à procura de um homem de verdade, que não
seja covarde como ele.
Assim que eu mando a mensagem desligo meu celular, pois sei que
receberei muitas ligações dele nas próximas horas. Desço e encontro a minha
nova família reunida ao redor da mesa. Feliz, sento-me com eles e preparo o meu
faz rir — todo lambuzado de pudim, a colher foi substituída pela mãozinha.
— Olha o nervoso dele para comer — falo, sorrindo. Noto que meu pai
tem um certo brilho nos olhos. Durante o jantar eu o vi várias vezes olhando para
Quem não notaria esses dois? Só de olhar dá para perceber o clima que
— Deixe-o, amiga. Está gostoso, não é, meu amor? — brinco com meu
pai se manifesta e se levanta. Ele se aproxima e beija a minha testa, depois segue
até a Safira, deixando-a sem ação e envergonha, e por último vai até o nosso
pequeno estrago.
sozinhos.
— Vitória, aconteceram tantas coisas que nem deu tempo de falar. Decidi
vou precisar me deslocar de casa, terei mais tempo para ficar com o Miguel. Ele
me disse que são seis horas de trabalho e cinco dias na semana, que eu achei
ótimo — diz minha amiga, animada. — Você pode, por favor, agradecer ao seu
— Claro. Que ótimo, amiga, estou feliz por você. E será muito bom ficar
perto do seu filho, ele ainda é pequeno e precisa de você, e trabalhando em casa
amanhã mesmo falo com o Gustavo. Ah, se precisar do meu notebook para
trabalhar é só pegar no meu quarto, o.k.?
— Pode ficar com o Miguel enquanto eu lavo a louça? A dona Joana já foi
A noite foi maravilhosa, única, fazia muito tempo que eu não sentia tanta
que eu estou morando na casa de Victor. O que era para ser algo provisório
Minha vida mudou por completo, muitas coisas boas e ruins aconteceram
comigo, e eu não posso deixar de agradecer ao destino pelas surpresas que ele
me proporcionou. Hoje, meu filho não só leva meu sobrenome, mas o do pai
quase um mês, e nesse meio tempo ele tem sido uma pessoa incrível, um homem
atencioso, um pai carinhoso e um ótimo parceiro.
O quarto passou por uma reforma, ele trocou a cama, a decoração, substituiu o
guarda-roupa por um maior; tudo que tinha antes já não existe mais, é novo e
nosso. Victor também montou um quarto para o Miguel, com direito a decoração
área externa da casa, achei meio exagerado, no entanto, ele disse que estava
recompensando o tempo que passou longe do filho e que não era nada de mais
— Restaurante Bella Flor, bom dia. Meu nome é Safira, como posso te
restaurante no escritório que antes era só de Victor, mas que agora divido com
ele. — Reserva para o dia vinte? Um minuto. Estamos lotados neste dia, mas
posso agendar para o dia vinte e dois às dezenove horas. Ah, claro, entendo. Irei
ver o que consigo fazer e retorno para o senhor. Como é uma data especial,
tentarei atender ao seu pedido. Por favor, me informe, por gentileza, dois
telefones de contato... Sim, sr. Ferrari, dentro de algumas horas retorno para o
para pegar o meu filho. Fico assustada quando encontro vazio o espaço em que
ele estava, somente seus brinquedos estão ali. Corro para a sala e não o encontro,
Com as pernas trêmulas, saio da sala a passos largos e sigo para a copa.
Levo as mãos à cabeça enquanto sinto meu corpo tremer, meu coração está
apertado e eu só penso no pior. Apesar de ele já andar para todos os lados, a casa
Alessandra esteve aqui faz pouco tempo, disse que o sr. Victor pediu para ela
— Era mentira dela. A Alessandra não trabalha mais para o Victor, não era
para ela estar aqui. — Soluço, imaginando o que essa mulher pode estar
aprontando.
— Eu não sei nada da vida dos patrões, minha filha, e não achei que fosse
mentira. Achei que a senhora Alessandra não vinha mais aqui por causa da
menina Vitória. — Dona Joana está pálida. — Procure o garoto lá fora, enquanto
Meu Deus, que eu não esteja imaginando coisas. Alessandra não pode ser
tão cruel a ponto de ter levado o meu filho para longe só para me prejudicar, ela
desesperada.
Atordoada, levanto o rosto e percebo que ela está com Victor. Ele me lança
— Safira, o que aconteceu? Por que está chorando? — Victor toca em meu
pensando no pior. Será que aquela mulher sequestrou meu filho por vingança?
Ela está usando uma criança para isso? Alessandra seria tão louca a ponto de agir
assim?
— Sr. Guterres, a s... Meu Deus! — dona Joana grita e logo ouço o choro
mulher está com os olhos avermelhados, assim como meu filho, que chora alto e
Rapidamente corro até eles e tiro o meu pequeno dos braços dela. Olho
bem para o meu filho e vejo que seus olhinhos estão extremamente irritados, o
rostinho, aperto-o nos meus braços e começo a chorar de alívio. Não demora
da mãe incrível que você escolheu para ter um filho. — A megera chora
abrigar essazinha aqui ainda é conivente com as merdas que ela faz a esse pobre
Victor, que está com seus olhos gélidos sobre mim. Desvio o olhar e foco em
— Safira, onde você estava que não viu Miguel saindo? — A pergunta de
Espero que ele não acredite nessa mulher. É impossível meu filho ter
conseguido chegar sozinho à piscina. Não quero ser leviana, mas a maneira
como Alessandra está me acusando de ter sido descuidada com meu filho é
muito suspeita.
— Eu estava no escritório, fiquei um tempo no telefone conversando com
alguns clientes e... — Respiro fundo ao sentir Miguel apertar meu pescoço com
seus bracinhos.
tenho certeza de que você não foi descuidada com o nosso pequeno. — Minha
— Não saia daqui até que eu volte — ordena, olhando para a ex, que
Victor olha com seriedade para mim, pega o celular do bolso e se afasta.
Nervosa, ajeito Miguel em meu colo e o analiso para ver se não tem algum
machucado.
a mulher realmente esteja falando a verdade, Miguel é uma criança muito esperta
e... Não, ele não conseguiria chegar à piscina, conheço bem o meu filho.
— Você acha que ela o levou para lá? — Vitória pergunta baixinho e eu
assinto. — Vagabunda — rosna e passa a mão nos braços do meu filho que está
tremendo de frio.
Olho para a porta e não vejo mais a dona Joana. Mesmo que ela não queira
se envolver nos assuntos do patrão, ela vai ter que contar a Victor o que
encarar. Desconfiada, fico focada nela por alguns minutos, mas desvio a minha
atenção para a minha amiga quando ela oferece o seu casaco para cobrir o irmão.
Cubro meu filho e o nino em meus braços. Eu quero entrar na casa, no entanto,
mesmo tempo assustador. Seus olhos têm fogo, seus dentes estão cerrados e sua
A loira se aproxima do ex, que estende o celular dele para ela. Do nada, ela
dá um passo para trás e fica pálida, porém, o homem a segura pelos pulsos para
— Que porra você tem na cabeça? Queria matar meu filho, uma criança
vagabunda.
Vitória corre até o pai e pega o celular da mão dele. Ela olha para a tela e
desliza o dedo, então seus olhos se arregalam. Minha amiga leva a mão à boca e
Miguel no colo. A mulher olha para todos os lados e quando vê que não está
sendo observada entra na água e afoga meu filho por alguns segundos. Eu não
suporto ver o restante da cena, meu estômago embrulha e uma fúria me invade.
Como ela foi capaz de mexer com uma criança inocente? O que ganharia
matando o meu filho? Mesmo sem ter coragem para continuar olhando tamanha
barbaridade, decido que é melhor ver o vídeo completo. A mulher sai da piscina
com Miguel, e quando ele abre a boca para chorar ela o chacoalha com
brutalidade.
— Isso não vai ficar assim, Alessandra. Você foi longe demais. — Victor
larga a mulher e leva as mãos à cabeça. — Eu errei com você, peço perdão por
não ter sido sincero, só que a gente não manda no coração e eu me apaixonei por
outra pessoa. Não planejei isso. Só que você passou dos limites quando tentou
matar o meu filho e tentou culpar a Safira de ter sido negligente! Vou chamar a
polícia agora mesmo, você não vai sair dessa tão fácil. — Assim que ele termina
ligação antes de se afastar. Poucos minutos depois ela volta e nos avisa que a
polícia está a caminho. Passo o Miguel para os braços dela e peço para ela trocar
as roupas dele para que não pegue um resfriado. Só então vou até Victor, que
ainda grita com a mulher. A descarada está dizendo que o ama e não pode viver
sem o amor dele, que eu engravidei de propósito para prendê-lo e que tudo foi
feito de caso pensado para eu tomar o lugar dela na vida dele. Diz tanta bobagem
para ver se consegue comovê-lo, para tentar se safar de algo que está mais do
— Poderia ter mexido comigo, mas com o meu filho não — declaro,
sentindo meu corpo fervilhar. Aponto o dedo para ela e continuo. — Você não é
mãe e não entende o quanto fiquei desesperada. Você tem noção de como me
senti ao ver Miguel nos seus braços, todo molhado e chorando? Por que tanta
câmera ali... e eu jamais faria algo ruim para o seu filho, para o filho do homem
que eu amo. Elas podem ter armado, deve ser uma armação esse vídeo! Acredite
em mim, por favor — Alessandra implora para Victor, que ri com amargura e a
Ele está se segurando para não cometer uma loucura, mas eu posso e vou.
Agora quem vai colocá-la no lugar dela sou eu. Alessandra atraiu o meu pior
— Só uma pessoa doente faria esse tipo de coisa. Meu Deus! — falo,
de um homem. — Estou tão furiosa com você, que eu seria capaz de te matar.
Mas não vou descer ao seu nível, Alessandra! Espero que fique com a sua
consciência pesada por ter usado uma criança inocente em seus planos
maléficos. Você é podre, isso já está mais do que claro, e tenho certeza de que irá
pagar pelas suas maldades. Essa é a segunda vez que tenta prejudicar a mim e ao
meu filho — conforme vou falando, lágrimas descem por minhas bochechas.
— A minha vida estava ótima sem você e o seu filho. Meu relacionamento
era maravilhoso, mas então chega uma desconhecida que tira tudo de mim. Para
provar que sou inocente, vou ficar até a polícia chegar, porque sei que isso foi
seus pulsos.
— Seja mulher e admita que errou, fale a verdade. Fez isso para me
prejudicar na frente de todos, mas felizmente não conseguiu. Eu jamais faria mal
a uma criança, não sou como você — grito, com raiva. Logo sinto os braços de
— Que você apodreça na cadeia. Se acha que essa encenação toda vai te
Poderiam nos explicar o ocorrido? A senhora que fez a denúncia estava muito
nervosa e não soube nos dizer o que de fato aconteceu — o policial mais velho
meu filho até a parte em que vi o vídeo da gravação das câmeras, reforçando a
versão do Victor. Quando Alessandra percebe que está encurralada tenta fugir
ser usado contra você no tribunal — diz o policial para Alessandra, que chora e
grita.
ficado? Que tipo de ser humano eu seria para tentar prejudicar um anjinho! Isso
Fico pensando se ela realmente acredita no que está dizendo ou acha que
agindo assim vai se safar de tudo. Mas Victor não vai permitir que a pessoa que
faz pouco tempo, mas parece que ela não aceita muito bem — Victor declara.
a cena, ainda sem acreditar que essa mulher, que diz ter tanta classe, fez uma
pensamentos.
nossos dedos.
na delegacia. Peço que levem também o celular que tem a gravação da senhora
afogando a criança.
minha amiga tomar conta do irmão até nós voltarmos, e digo à dona Joana que
ela deve ir com a gente para dar o seu depoimento, afinal, foi ela que recebeu a
Alessandra.
**
dos policiais até a sala do delegado. Lá nos deparamos com Alessandra sentada
em um canto, em momento algum ela nos olha. Fico incrédula ao vê-la bem
Victor diz que viemos prestar queixa contra a ex dele que tentou afogar o
nosso filho na piscina para me incriminar. Ele narra também que ela queria que
defender.
documento, mas não nos vemos há um bom tempo. Ela trabalhava como gerente
em meu restaurante, mas depois que terminamos e ela foi demitida eu não a vi
A autoridade pede para ver o celular e Victor não demora para mostrar a
a sra. Alessandra chegou dizendo que meu patrão pediu para que ela pegasse um
documento no escritório dele. E como não é da minha conta a vida dos patrões...
eu não sabia que o seu Victor não namorava mais a sra. Alessandra, então eu a
deixei entrar e voltei para meus afazeres. Um tempo depois escutei a Safira
gritando pelo filho e corri para a sala para ver o que estava acontecendo.
Victor falou foram suficientes para manter Alessandra presa. Ela acreditou que
ficaria impune por ter influência e bons advogados, que poderia pagar fiança,
mas nada disso aconteceu. A mulher só começou a depor após a chegada dos
seus advogados que não puderam fazer muito por ela, já que tínhamos como
provar a nossa versão dos fatos. O mais interessante foi ver que Alessandra não
advogados. Eles tentaram contornar a situação, mas tenho certeza de que ela irá
a julgamento, Victor acionará seus advogados na nossa volta para casa. Então em
breve teremos notícias do caso, mas no momento o que eu mais quero é chegar a
coisas, quero ter certeza de que a mulher não vai sair impune, eu não permitirei
uma coisa dessas, e para isso tenho os melhores profissionais trabalhando para
mim. Alessandra terá que pagar pelo que fez com meu filho, uma criança
inocente que não tem nada a ver com o que aconteceu entre nós.
Acho que na cabeça louca da minha ex ela seria polpada, afinal, tivemos
cruelmente, e o seu atrevimento em querer culpar Safira por suas ações doentias
fez meu sangue ferver. Por muito pouco não cometi uma loucura, mas graças a
Deus fui racional, agi com sabedoria e, no final das contas, deu tudo certo.
Existe aquele ditado “mexa comigo, mas não com meus filhos”, e a partir do
consideração que sentia por ela. Na verdade, já havia acabado no dia em que
alguém não conseguimos ver como a pessoa realmente é, mas eu não posso dizer
que isso aconteceu comigo para não ter notado a mulher suja que a Alessandra é.
Agora sei que o nosso relacionamento era por conveniência. Ter Safira ao meu
lado, vendo-a todos os dias me confirmou que eu jamais daria certo com uma
mulher tóxica como Alessandra. Sim, não fui nenhum santo, errei, mas nada
justifica as suas ações. Faz mais de um mês que terminamos, no entanto, a sua
vezes para você. — Safira toca no meu ombro e eu sorrio, sem graça, saindo dos
Estamos em frente a nossa casa, sim, nossa casa, que muito em breve será
de Safira oficialmente, mas ela ainda não sabe. Pretendo tê-la em meu futuro, e
para que isso aconteça vou quebrar uma das minhas promessas.
redor da sua cintura, puxando-a para mim. Beijo seus cabelos loiros antes de
— Você está tão distante, está tudo bem? — indaga, ao abrir a porta.
Não demorou muito para que a minha filha me ligasse avisando que pediu ao dr.
Edgar, o seu ex-pediatra, para atender Miguel. Faz anos que o médico não vai à
atenção a ele pelo resto da noite. Só fiquei um pouco mais tranquila porque
Vitória me disse que o doutor o examinou e está tudo bem — Safira diz e passeia
os olhos pela sala, que está apenas com o abajur de canto aceso.
— Queria muito te acompanhar, mas tenho que ligar para o Lucas. Fiquei
de fazer isso mais cedo para acertamos a contratação do novo gerente, mas...
em direção à escada e vejo meu melhor amigo vestindo a camisa e a minha filha
Sem notar a minha presença e de Safira, Lucas puxa Vitória pela cintura e
a beija. Transtornado, fecho os punhos e penso em dar alguns passos até eles,
— Que porra é essa? Ainda na minha casa? — urro com toda a fúria que
há em mim.
que se dizia meu melhor amigo a segura. Lucas está pálido e com os olhos
arregalados.
— Pai... pai? — minha filha gagueja.
Sem machucar Safira, eu me solto dela e sigo até o pretenso casal que está
sou mais rápido e o puxo pela gola da camisa e o jogo no chão da sala. Lucas
Olho para ela como que dizendo “sinto em te decepcionar, meu amor”. Me
agacho ao lado de Lucas e seguro mais uma vez em sua camisa, esmurrando o
— Pai, você irá matá-lo! — Minha filha se coloca atrás de mim e tenta me
— Você está transando com a minha filha pelas minhas costas, seu
escroto? Como pôde fazer isso comigo? Pensei que fosse meu amigo, porra.
Você esteve saindo com Vitória esse tempo todo, e bancando o meu melhor
amigo? Você dizia estar preocupado com as saídas dela, mas na verdade queria
cego de raiva que nem enxergo mais Safira e Vitória na minha frente, meu foco é
o safado.
— Pare com isso, cara! Me deixe explicar, você está entendendo errado...
Eu a ignoro antes de ouvir Safira pedindo para que ela se acalme e nos
deixe resolver sozinhos, e parece que surte efeito, pois Vitória não diz mais nada.
levou para a lavanderia para dar um jeito. Depois o garotinho vomitou de novo,
mas dessa vez foi no cabelo da irmã e ela teve que lavar o cabelo — narro com
deboche uma desculpa bem esfarrapada. Lucas empalidece ainda mais. — Vai se
foder, Lucas! Quantas vezes você me disse para sempre falar a verdade,
transando com a minha filha, na minha casa, e ainda tem a coragem de dizer que
sangue na camisa. Não demora para que ele se levante e tente se aproximar de
mim, mas eu recuo.
— Você está certo. — Lucas desvia os olhos dos meus e fixa em Vitória,
— Vocês dois não se envergonham de terem feito isso nas minhas costas?
afilhada, e se ela realmente fosse jamais chegaria perto, seria nojento. Quem
sempre tentava ir adiante com essa história era você, e não eu, irmão. Agora me
acusa como se eu fosse o pior ser da face da Terra — Lucas urra e eu rio com
— Você é um filho da puta mulherengo, não serve para a minha filha... sei
que vai acabar magoando a Vitória. — Aponto o dedo para ele, furioso. Sinto a
veia do meu pescoço pulsar. — Eu odiaria ter que terminar a nossa amizade de
anos por conta do seu relacionamento com ela. Mas sei que no final a Vitória
sairá machucada.
— Pai, pare com isso! Sou adulta e sei fazer as minhas escolhas! O senhor
está falando sobre algo que não sabe e está me magoando com suas palavras
lágrimas do rosto. Ao seu lado já não encontro mais Safira, provavelmente nos
deixou para ver nosso filho. — Eu nunca vi o Lucas como padrinho, sempre tive
— Não fale mais nada, Vitória, vamos conversar depois que ele for embora
minha casa, não quero te ver aqui tão cedo! — Expulso-o, apontando para a
porta.
Lucas tenta se defender, mas o olhar de advertência que lanço a ele diz que
Vitória fala, com a voz embargada. — Você fica, Lucas, Victor tem que entender
me escute. — Olho bem em seus olhos, que estão lacrimejados, ela me ignora e
— Vitória, seu pai está certo, depois nos falamos. — O miserável ousa se
aproximar e beijar a bochecha dela, mas geme de dor quando seus lábios
Lucas sai da minha casa sem olhar para trás. Respiro com pesar antes de
melhor amiga eu o apoiei, não o julguei, só desejei que fosse feliz. Agora que o
Lucas vem atrás de mim, se declara e diz que está disposto a me ter como
namorada dele, o senhor aparece e estraga tudo! — Ela soluça, causando uma
dor no meu coração. — Percebe o quanto é egoísta? Está assim por que ele é
envolvido com Safira antes de terminar o nosso namoro, eu sou muito diferente
do Lucas — defendo-me, revoltado. — Lucas é um homem livre, nunca teve um
relacionamento sério, nunca levou nenhuma mulher a sério. Durante todos esses
anos convivendo com ele eu o vi trocar de mulheres mais do que troca de roupa.
Ele brinca com o coração das mulheres com quem sai. Você sabe que não estou
mentindo, também o conhece desde que nasceu. Não estou querendo te privar de
amar alguém, viver um amor, mas eu o conheço, filha, ele é meu melhor amigo
tenho medo de vê-la pelos cantos chorando... Não me importo com a idade, você
sabe que não é isso, só me preocupo com o seu coração, com seus sentimentos
— desabafo, com medo de ver a minha garotinha ser machucada por um cara
quebrar a cara vai ser uma lição, não é? Tudo nessa vida é aprendizado, e eu
estou disposta a viver com o Lucas, descobrir o que seremos um para o outro, e
se eu me machucar...
— Quero deixar claro que não apoio o seu namoro, não confio no Lucas como
seu namorado. Ele não te merece, eu sou homem e conheço o tipo dele.
— O senhor não tem esse direito. Eu vou ficar com ele sim, essa é a minha
— Só se for por cima do meu cadáver! Não vou permitir que você seja só
mais uma na listinha dele. Não vou te dizer mais nada, querida, porque tudo que
sai da nossa boca de ruim é maldição, então, espero que possa refletir mais um
pouco. — Antes que ela se manifeste, dou-lhe as costas e sigo para meu
Depois de tantos dias de paz, o caos retorna com tudo. A minha ex tentou
afogar meu filho, o meu melhor amigo, que considero como irmão, é o cara de
quem minha filha falou dias um tempo atrás. Nunca imaginei que seria traído por
Lucas e Vitória.
**
Depois de quase meia hora trancado no meu escritório, decido subir. Ainda
com a cabeça doendo, entro no meu quarto e encontro Safira de banho tomado.
— Vou tomar banho, depois conversamos — falo, e começo a me despir.
Ela está de pé, perto de onde nosso pequeno está dormindo. Noto que ela
também ficou triste com meu comportamento, suspeito que Safira sempre soube
Não complique mais as coisas, Victor. Safira é melhor amiga da sua filha e
não tem motivo algum para te contar uma história que não é dela, diz meu
subconsciente.
maus pensamentos.
— Está sim. Não tem febre e dorme tranquilamente. Vitória sabe cuidar do
irmão — diz, admirada. — Mais tarde vou conversar com ela, quero saber o que
o doutor disse sobre Miguel. Agora vá tomar seu banho para descansar um
pouco.
Assinto e sigo para o banheiro, com a cabeça fervilhando e ainda me
sentindo culpado por ter feito minha filha chorar. Espero não estar errado em
relação ao Lucas, mas o meu pressentimento de pai me diz que alguém vai sair
cama, me esperando. Pensei que ela estaria dormindo, já que parecia estar
— Amor... Não tenho motivo algum para ficar chateada com você, mas
confesso que fiquei com dó da minha amiga. Vocês são pai e filha, devem
resolver isso sozinhos. Não posso ficar do lado de ninguém, porque amo os dois.
— Ela toca em meu rosto com uma mão e a outra leva ao meu peitoral molhado,
fazendo com que eu feche meus olhos de prazer.
— Sim, isso. — Levo uma mão ao seu rosto e acaricio seus lábios com
meu polegar. Safira morde a ponta do meu dedo levemente, causando arrepios
em meu corpo.
— Eu te amo, Victor, amo muito. Não sei se ainda é cedo para te dizer
Eu me aproximo mais dela e roubo um beijo dos seus belos lábios doce.
Com a boca de Safira ainda grudada na minha, tiro a toalha que está enrolada ao
redor do meu corpo e fico completamente nu, enquanto ela desliza uma mão
De relance, olho para o berço e me certifico que o nosso filho ainda dorme,
só então puxo minha loirinha para o meu colo, que geme ao sentir meu pau
enrijecido contra o tecido fino da calcinha de renda. Sem paciência para esperar
mais, tiro a camisola de Safira e jogo a peça longe, em seguida, lambo os lábios
com a visão que tenho — seus seios lindos me fazem ter pensamentos deliciosos
e impuros. Levo uma mão ao quadril da minha mulher, enquanto a outra seguro
— Acho que ainda estou com muita roupa, sr. Guterres — ela diz,
— Mas não por muito tempo — depois de dizer isso, abocanho um seio e
depois o outro. Chupo, lambo, mamo esfomeado, fazendo com que seus mamilos
maneira provocante, roça sua boceta quente e molhada no meu pau. Sinto sua
apaixonadamente.
— Quero te foder, fazer amor com você e depois cuidar de cada pedacinho
com os olhos atentos a mim. Levo as mãos à sua calcinha e desço a peça
lentamente pelas suas pernas. Meu coração estremece com a cena maravilhosa
para mim, com seus fios loiros e longos espalhados no travesseiro e com um
belo sorriso. Fico por alguns minutos a admirando, até que me posiciono entre
suas pernas.
Início uma trilha de beijos por seu rosto, depois em seus lábios
entreabertos e vou descendo até seu queixo. Em pouco tempo estou mordendo e
a língua até seu colo e dou beijo antes de seguir até seios. A minha língua
Desço uma mão até sua boceta e introduzo dois dedos em sua entrada
vagina encharcada, ela está tão excitada quanto eu. Safira choraminga quando
abro os lábios da sua boceta com os dedos e enfio a língua, faço movimentos
como se estivesse a fodendo com o meu pau, então ela rebola na minha cara e
Abocanho seu clitóris ao mesmo tempo que enfio dois dedos na sua gruta
sua respiração fica cada vez mais ofegante, então percebo que está quase
alcançando o seu clímax. Ela está tão perto de ter um orgasmo, que suas pernas
ficam bambas, mas eu não deixo de castigá-la com a minha língua e dedos até
que ela goza. O líquido do seu gozo escorre e eu chupo seu sumo até a última
gota.
— Me faça sua, Victor — pede com doçura quando beijo cada lado da sua
bunda.
em que a possui ela é minha. Louco para me enterrar em Safira, coloco-a deitada
de frente para mim e abro as suas pernas, então, cuidadosamente, deito meu
corpo sobre o dela, beijo seu pescoço, o mordisco e o acaricio com a minha
língua, depois levo a mão ao meu pênis ereto e roço em sua entrada melada.
aperto a carne da sua coxa com força e deslizo para dentro da sua boceta,
meu filho agarra os meus ombros enquanto faço movimentos de vaivém sem
parar, com o suor deslizando por minha pele quente. Só ouvimos os sons dos
vagina dela apertar meu pau, então grudo nossas testas e a beijo conforme vou
percebo que está chegando ao limite. Faço questão de olhar em seus olhos
durante sua libertação, quando ela morde o lábio com tanta força que quase o
machuca.
Depois de gozar, ela se abre mais para mim e leva as mãos à minha bunda
e a aperta. Dou uma última estocada antes de encontrar o meu deleite, então,
leve.
Tivemos um dia de cão, mas quando ficamos sozinhos tudo se torna melhor, ao
Ela boceja e fala algo ininteligível, em poucos segundos minha mulher está
dormindo em meus braços, e não demora muito para que minhas pálpebras
fiquem pesadas.
**
— Miguel, você vai me deixar de cabelos brancos antes da hora!
gravata. Saio da frente do espelho e me viro para ver o que está acontecendo, me
deparo com nosso filho tentando subir em nossa cama sozinho, que é alta demais
Estamos acordados desde as sete e meia, nosso filho nos acordou chorando
e chamando por “papai”. Safira e eu ficamos alertas, e antes de ela descer para
— Filhão, assim você assusta a sua mamãe e ela não vai querer te dar um
irmãozinho — falo ao me aproximar dele, que puxa o lençol para fora da cama.
nosso menino. A cada dia me apaixono mais por ela, tão linda, sorridente,
distinta.
— Safira... — chamo-a e ela fixa seus olhos claros nos meus, esperando
que eu fale.
— Eu já disse que te amo? — declaro sem tirar meus olhos dos dela.
beijo nela, mesmo sob o protesto de Miguel, que puxa meu cabelo e solta alguns
gritinhos. Afasto-me da mãe dele e saio do quarto, satisfeito por saber que mexi
Quando descemos para tomar café não encontramos Vitória à mesa. Dona
Joana me diz que a minha filha tinha tomado café mais cedo e que saiu
carregando duas malas enormes. Até me pergunta se ela tinha ido viajar.
No mesmo instante pego meu celular e ligo para Vitória, mas sou
Faz alguns dias que Vitória saiu de casa, e nem ela e muito menos o pai
dão o braço a torcer. Minha amiga por ainda estar chateada com atitude da
pessoa que tanto ama, e Victor pelo simples fato de ter saído de casa sem avisar
e ter se mudado para a casa que era dos avós, proveniente de uma herança.
Já não suporto mais ver os dois brigados, uma hora ou outra terão que se
resolver. Não sei se estarei me intrometendo muito, mas decidi que hoje pai e
filha irão se encontrar para que possam ao menos ter uma conversa civilizada.
Eles são a minha família e essa situação não pode continuar, não é saudável para
ninguém.
— Deveria comer um pouco. — Olho para o café dele que ainda não
tocou. Todas as manhãs Victor dá uma passada no quarto da filha e sai de lá com
o semblante triste.
olhar para o nosso filho que está sentado em sua cadeirinha, se melecando com
as frutas. — Fui tão ruim assim, para ela nem mesmo ter me ligado para dizer
onde está? Tudo o que eu disse foi para o bem dela, jamais a privaria de viver
um amor, mas tenho medo de que ela saia machucada. Eu sou homem, conheço
bem essa raça, e principalmente o Lucas. — Sua voz demonstra o quanto está
magoado.
Ficamos sabendo para onde a minha amiga foi depois que ela me ligou
para dizer que está bem e passar seu novo endereço. E como ela não me disse
para não falar nada ao Victor, eu contei sobre o telefonema e onde ela está.
Fiquei um pouco chateada com ela, não achei certo ela ter saído sem dizer nada,
— Mas você precisa comer, meu amor. — Coloco minha mão por cima da
dele e a acaricio. — Eu disse que não ia me intrometer, mas preciso dar o meu
ponto de vista. Não acho que você errou, mas talvez não tenha se expressado
Você se deixou levar pela raiva e disse coisas que a magoou muito.
Normalmente os filhos esperam apoio dos pais, sabe? Nós, filhos, mesmo que
tenhamos cometido o maior erro da nossa vida, sempre desejamos que nossos
“E eu sei que Vitória esperou de você, ela queria seu apoio ou ao menos
compreensão no relacionamento dela com Lucas. Amor, ela só queria que o pai a
apoiasse mesmo que o seu coração saísse machucado no fim de tudo, mesmo que
ela se decepcionasse. Eu sei que não posso me intrometer na vida de vocês, mas
acredito que você deve deixá-la viver, deixe-a amar, se magoar, quebrar a cara,
ter o coração partido, ser amada, ser feliz. Apenas deixe a Vitória viver e
conhecer a vida. Vá atrás da sua filha e diga que a ama, que aceita o
relacionamento dela. Apenas esteja do lado dela, dê sua bênção, o resto vai se
resolvendo. Vitória é adulta e se está decidida a ter uma relação com alguém que
falo o que estava entalado há muito tempo, mesmo sob o olhar de Victor, que
não é de raiva, mas sim de admiração e surpresa. — Pare de ver a sua filha como
uma criancinha, ela cresceu, é uma mulher adulta que é capaz de decidir o que é
bom ou ruim para ela. Sei que ama a sua filha, e que no momento o orgulho está
falando mais alto, mas você está morrendo de saudades dela e deseja tê-la ao seu
lado. Eu tomei a liberdade de fazer algo que não sei se você vai gostar muito,
mas fiquei satisfeita só por ela ter aceitado — sorrio para ele, que está
— Safira, eu...
Victor para de falar quando uma voz conhecida chega aos nossos ouvidos.
— Bom dia, amiga. — Sorrio para ela, que recua parecendo incerta. Dona
Joana percebe a tensão no ar e pede licença baixinho antes de nos deixar a sós.
— Acredito que vocês tenham muito o que conversar. Precisei armar um
encontro entre duas pessoas cabeças-duras que estão deixando o orgulho falar
precisam ficar sozinhos. Se for para me esganar faça isso depois, agora estou
sigo até o meu filho, que já terminou de comer as frutas do seu pratinho. —
Vamos, meu amor? O papai e sua irmã precisam conversar. — Pego meu
direção.
— Filha, não vá — ela para e se vira —, quero conversar com você, por
Olho para os dois, que agora estão se encarando com muita emoção, e
acabo deixando uma lágrima cair. É nítido que os dois estão loucos para se
reconciliarem, eu só dei um empurrãozinho. De fininho, eu saio da sala e sigo
**
VICTOR
Encaro Vitória enquanto peço para conversar comigo. Há dias não temos
contato, ela rejeitou as minhas ligações e não me contou onde estava, me privou
demais, estava apavorado e chateado por terem ocultado de mim algo tão
importante. Não sou ninguém para julgá-los, mas Lucas foi hipócrita, ele sempre
com outras mulheres mesmo estando com a minha filha? É esse tipo de homem
que a minha filha quer para a vida dela? E onde fica o respeito nessa história
meu medo de ver a minha filha se decepcionar não é tão importante assim. A
vida é dela, a decisão sobre o que fazer quem tem que tomar é ela, e se ela ama o
relacionamento com ele, por que eu vou impedir? Sim, estou apavorado, mas é
um risco que ela quer correr, e só me resta estar sempre do seu lado, apoiando-a
— Como você está? Tem se alimentado direito? O que tem feito esses
dias? — Solto uma pergunta atrás da outra, com meus braços ao redor do seu
— Estou bem, pai — só então ela retribui o meu abraço e soluça. — Senti
sua testa e acabo deixando uma lágrima cair. — Nunca fiquei tanto tempo sem te
ver, estava com saudades, querida. Você é a minha vida... Não quero que se
— Sim, amo... muito, e não quero ter que escolher um dos dois — declara,
— E quem disse que você precisa escolher, se pode ter os dois? — falo,
— Não estou bravo por que está namorando o meu melhor amigo, aquele
miserável, mas porque o conheço bem e sei que você pode se machucar. E se
isso acontecer, a nossa amizade vai acabar — confesso, com pesar. Vitória
— Pai, eu errei em não te contar sobre Lucas, mas fiquei com medo de que
o senhor não recebesse bem a notícia. E você só o encontrou aquele dia aqui em
casa porque ele veio trazer um medicamento para o Miguel. Você e Safira
estavam na delegacia, então pedi a ele para comprar e me trazer e... ele acabou
ficando para me fazer companhia, logo o senhor chegou com a Safira e...
aconteceu aquilo tudo. O Lucas pretendia conversar com senhor, mas então a
conclusões precipitadas. Aquele dia realmente não estávamos fazendo nada além
“Sr. Guterres, quero que saiba que sei lidar com o Lucas, fique tranquilo.
Ele não tem mais aquela lista enorme de contatinhos. Acha que iríamos namorar
se ele continuasse tendo contato com outras mulheres? Não que ele não possa ter
amigas, claro que pode, mas não as que ele já dividiu a cama. Eu amo o Lucas,
molho para que pudesse entender que não sou nenhuma idiota. — A maneira
— Sim, senhor. Ele que vacile comigo... eu já disse que arrumo outro num
piscar de olhos. Pai, pode ficar tranquilo, tudo nessa vida é aprendizado, não é?
Apenas confie em mim, não fique com medo de eu me magoar, porque se isso
acontecer vai ser por minha culpa, o.k.? Sou jovem, preciso conhecer mais a
vida, e acho que chegou a hora — fala, me deixando ainda mais orgulhoso.
— Você está certa. — Dou um sorriso. — Quer dizer que agora eu tenho
— Aham, tem sim, seu Victor. O seu melhor amigo agora é seu genro —
Ela sai do meu abraço e eu já sinto sua falta, então se senta em uma das
lacrimejados.
— Filha, nós dois erramos, então não temos que pedir perdão — falo,
amiga por ter tomado uma atitude que deveríamos ter tomado faz tempo, não é?
— diz e levanta-se.
formar na garganta.
— Pai, temos o dia todo para conversar, o.k.? Tenho uma novidade, mas
vou deixar para contar mais tarde. — Sorri e pisca para mim, me fazendo suar
frio.
— Ah meu Deus, vou ser avô! — Passo a mão na testa e arregalo os olhos.
— Se controla! Não estou grávida, é muito cedo! — Gargalha, levando a
— Ufa, pensei que teria que marcar mais um pouco a cara do Lucas —
divertida.
— Se eu o convidar para almoçar com a gente acha que ele vai querer
— Acho que não, ele tem que conquistar o sogro, certo? — Ela dá de
ombros.
— Chama aquele desgraçado para vir aqui em casa, diga a ele que quero
— Está sendo muito importante o seu apoio — diz, com a voz embargada.
— Também te amo, princesa, e se for para te ver feliz, faço qualquer coisa
— digo com sinceridade. — Chame o Lucas para vir, eu até o chamaria, mas
Hoje não vou trabalhar, quero passar o dia com a minha família. Estou
ansioso para a chegada do Lucas, vai ser divertido vê-lo depois de tantos dias.
**
quando Vitória recebe uma mensagem dele avisando que havia chegado. Ela está
tão apaixonada, que sequer deixou dona Joana atender a porta, ela mesma se
estranhando ver meu melhor amigo e minha filha grudados. Passo a mão no
pescoço e disfarço com um breve sorriso para Lucas, que me lança um olhar
mortal. Não contenho a risadinha ao ver que ainda tem algumas marcas da surra
— Não vai cumprimentar o seu sogro, Lucas? Já perdeu ponto comigo por
— Ei, não fale palavrões com meu filho aqui! — Safira reclama enquanto
tapa os ouvidos de Miguel, que ri sem entender nada. Amo a inocência das
crianças.
— Desculpe, Safira, mas Victor me tira do sério. — Lucas olha meio sem
graça para Vitória parecendo pedir desculpas com o olhar, e depois faz o mesmo
— Dá para vocês dois pararem com isso? Está ficando feio. — Vitória se
questiona.
baixo.
preocupado.
que vai acontecer é um quebrar a cara do outro e depois tudo volta ao normal. —
ousa me provocar ao passar por mim e seguir para o corredor do meu escritório.
— Pai, prometa que não vai assustar o coitado — pede minha filha, meio
apavorada.
— Filha, Lucas e eu não somos mais moleques, vamos ter uma conversa
civilizada, preciso saber quais as intenções dele com a minha princesa — digo.
Antes de ter a resposta dela, sumo pelo corredor.
Entro na minha sala e encontro Lucas espalhado no sofá. Ainda bem que
fechado, fico de frente para ele, até que o filho da mãe me encara com um
sorrisinho.
— Achei que não ia me convidar para vir à sua casa, sogrão — diz e
gargalha.
Desgraçado!
filha em te deixar sair vivo da minha casa — falo, raivoso, fechando os punhos.
— Você me bateu e eu nem revidei, mas não pense que vai ficar por isso
mesmo. — Ele passa a mão na barba e arqueia a sobrancelha. — Não era você
— Você mereceu cada porrada. Vamos logo acabar com essa merda,
Lucas, me diga de uma vez o que quer com a minha filha. Não vou permitir que
ela seja mais uma das suas aventuras. Nos conhecemos desde criança, sempre
fomos próximos, temos uma história juntos e você não é um dos melhores
seriedade.
Lucas engole em seco, fica tão mexido que se ajeita no sofá e respira
fundo.
mim.
— Que sentimentos são esses? Seja mais claro, preciso tranquilizar o meu
coração. Você sabe muito bem que eu viro uma fera quando o assunto é a minha
com tamanha intensidade que declara. — Nunca gostei de mulheres mais novas,
Ela me conquistou com simples gestos, sorrisos... aquela garota é como fogo e
eu...
meu passado, quero que saiba que estou disposto a tudo para ter Vitória ao meu
lado — fala com determinação e sinceridade. — Vitória não é qualquer uma para
mim, é diferente de todas as mulheres que eu já tive. Ela alegra meus dias, me
faz sorrir, me deixa bobo com qualquer coisa que faz. Amigo, eu estou
braços.
— Ainda não mudei muito a minha opinião, mas sei que ela é uma pessoa
para vir conversar com você porque é meu melhor amigo e não pretendo mudar
isso, porque, além de sermos amigos, eu o respeito e sei que tem medo de ver a
sua família magoada. Pode ter certeza de que eu darei o meu melhor para cuidar
de Vitória enquanto ela estiver comigo. — Posso ver nos olhos dele que
realmente a ama.
Aproximo-me dele e estendo a minha mão, Lucas sorri e a pega, então damos
um aperto de mão e eu o puxo para um abraço. — Bem-vindo à família, não que
você já não fosse, mas agora é diferente. — Dou uma risada e ele me
acompanha.
— Obrigado, irmão, fico feliz por termos nos entendido — diz e se afasta.
— Irmão não, mais respeito. Agora sou seu sogro — falo com a expressão
fechada, mas depois caio na risada e ele me segue. — Vamos logo, antes que as
— O que é?
— Vitória vai morar comigo. Eu pedi para ela se mudar para a minha casa
— Minha filha não é mais uma criança, e se essa é a decisão dela tenho
que aceitar. Logo ela fará vinte e três anos, não posso tê-la sempre debaixo das
— Não tenho que aceitar nada, a vida é de vocês. Desejo que sejam
felizes.
Por breves segundos o silêncio toma o ambiente, até que ouvimos algumas
batidas à porta.
— Victor? — Lucas me chama e eu me viro para ele, mas não tenho tempo
— Lucas, está maluco? — Vitória exclama, revoltada. Ela vem até a mim e
olha para o meu rosto que arde e lateja. — Pai, está doendo muito? — pergunta,
preocupada, enquanto ignora o namorado que diz que logo vou ficar bem.
— Estou bem, querida. — Levanto meu rosto e olho para o imbecil que
Lucas e eu nos olhamos e rimos, então a seguimos para nos juntar a nossa
família.
SAFIRA
voltou ao normal em casa, agora somos novamente uma família unida. Hoje
iremos jantar no Bella Flor, Victor nos convidou após o almoço de anteontem.
Sorrio quando ela sai da minha frente, me dando a visão do meu reflexo no
espelho. Meus olhos estão delineados e meus cílios bem alongados, minha amiga
usou uma sombra marrom chocolate com um brilho bem discreto e para finalizar
um lindo batom vermelho. Estou realmente muito bonita, e o vestido midi preto
— Não, minha amiga, hoje é o seu dia de rainha — fala com a voz
empolgada demais para o meu gosto. — Acho que podemos descer, não é?
Assinto, maravilhada. Vitória também está linda com seu vestido branco e
longo sereia, com detalhes simples e uma fenda na lateral. Seu cabelo está preso
em uma trança longa. Lucas é um homem de sorte por tê-la. Minha amiga tem a
— Demoramos um pouco, mas foi por uma boa causa! — diz Vitória ao
— Você está linda! — Victor diz ao se aproximar. Ele pega a minha mão e
deposita um beijo carinhosamente, e assim como eu, ele não consegue desviar o
olhar.
— Missão dada, missão cumprida, sr. Victor! Sua amada está pronta e
lindíssima para sair com o senhor — declara Vitória, atraindo a minha atenção.
— Como assim, amiga, vocês não irão com a gente? — Fico sem entender
quando Victor me abraça pela cintura e beija meu rosto.
— Safira, essa noite será muito especial para você e para o meu pai.
Espero que curtam. Podem ficar tranquilos, vou cuidar muito bem do meu irmão
Então me lembro de ter visto pai e filha cochichando pelos cantos da casa
Boquiaberta, olho para a minha amiga sem acreditar que ela passou a
manhã toda falando como estava animada para o jantar dessa noite. Nem em
meus melhores sonhos imaginaria que por trás de toda a sua animação havia uma
ou se Victor tem outros planos para nós. Decido não perguntar nada, vou me
do pai.
sejam felizes. Só não me deem outro irmãozinho tão cedo — diz minha amiga,
sem filtro. Seu namorado a cutuca, mas ela dá de ombros ignorando-o e ele fecha
a cara.
direitinho, se arrumou toda e vai ficar tomando conta do meu filho. Tudo não
Não entendo o motivo de ele desejar sorte ao Victor, tenho certeza de que
aí tem coisa.
decidida a não perguntar nada, mas a minha curiosidade fala mais alto.
— Vamos sim — diz, concentrado no trânsito. Ele não me olha, mas leva
uma das suas mãos até a minha e entrelaça nossos dedos enquanto conduz o
**
Victor pisca para mim e coloca a mão na minha cintura, me conduzindo até
o restaurante que parece estar pouco movimentado essa noite. De onde estou
consigo ver o lindo salão com grandes janelas de vidro do chão até o teto, a vista
de quem está de fora é tão boa como quem está na parte de dentro. Adentramos
no local e eu só tenho a confirmação do pouco movimento quando um dos
Olho ao redor e estranho ao ver que no lugar não tem clientes, somente o
rapaz que veio nos receber, dois garçons perto do balcão, eu e Victor.
pronto? — pergunta.
Caio assente alegremente e nos pede para segui-lo. Somos levados a uma
mesa afastada, meu coração erra a batida a cada passo que dou até ela. Fico
maravilhada com a visão que tenho — o chão está com pétalas de rosas
vermelhas, a mesa decorada com rosas da mesma cor e velas que deixam o
ambiente ainda mais romântico. Meu peito dá um salto enquanto meus olhos
localizam o champanhe e as duas taças, meus olhos ardem com a emoção que
me domina. Constato que hoje iremos comemorar algo que ainda não é do meu
conhecimento.
tão distraída que nem percebi a saída do funcionário que estava há poucos
— Vamos comemorar alguma coisa e eu não sei? — Fixo meus olhos nos
cabeça.
— Tenho uma proposta para te fazer, mas primeiro vamos comer. Preciso
Sinto meu ventre esquentar quando ele morde os lábios, ainda com seus
me puxa para perto do seu corpo, coloca a mão em minha cintura e logo estamos
Ficamos bons minutos assim, nos deixando levar, até que Victor me gira e me
traz de volta para ele. Coloco a mão em seu peito e aproximo meu rosto do seu,
Sinto seu hálito quente contra minha pele. Victor roça seus lábios nos
Aprofundamos o beijo com tanta intensidade que gememos com as nossas bocas
grudadas. Ao me lembrar que não estamos sozinhos, encerro o nosso beijo com
ninguém está nos observando, mesmo assim, afundo meu rosto no pescoço de
— Você deveria ver o estrago que meu batom fez na sua boca. — Risonha,
tento limpar a marca que deixei na boca dele. Aposto que a minha também não
cantos da minha boca, depois o ajudo também. Voltamos a nos sentar e ele
chama um dos funcionários, logo estamos sendo servidos com um prato especial.
Estou mais do que satisfeita, então recuso, assim como ele. As horas passam e os
— Ainda estou sem acreditar que deixou de abrir o restaurante para que
— Quero que tudo seja especial na noite do pedido. — Assim que termina
Victor assente e coloca a mão no bolso da calça, tirando dali uma caixinha
de veludo .
fazer comigo o que nenhuma mulher com quem já estive foi capaz de fazer —
discursa. Fico tocada com suas palavras. — Com você eu descobri o que é ser
amado de verdade por uma mulher, e também aprendi a amar, Safira. Sou um
homem de trinta e oito anos e você tem vinte e cinco, mas em alguns momentos
“Eu te acho uma mulher incrível, uma mãezona, cuidou do nosso filho
sozinha por muito tempo. Você poderia ter tentado me encontrar, mas não o fez,
seguiu em frente. Só que o destino quis que nos encontrássemos de novo e aqui
outro. Safira, jamais imaginei que a minha vida mudaria, ou que algum dia eu
pudesse amar alguém tão loucamente... Eu sei que não sou perfeito, tenho meus
defeitos, não sou nenhum santo, às vezes você vai querer me matar e depois me
encher de beijos.
“Estou há alguns anos com a aliança de casamento que foi da minha mãe
guardada, e nunca pensei em dar a nenhuma mulher, pois não tinha encontrado
alguém que realmente a merecesse. — Ele abre a caixinha. Sinto meus olhos
marejarem quando me levanto e vou até Victor, mas antes que eu fale alguma
coisa, ele se ajoelha na minha frente e pega uma das minhas mãos. — E agora
que te encontrei, sei que você é a pessoa que merece ter essa aliança, que tem um
— Você... Você... — Estou tão nervosa, que não consigo formar uma frase.
resposta, ele coloca a aliança em meu dedo. Ajoelho-me com ele e me jogo em
abraça com força. — Claro que eu aceito me casar com você — sussurro em seu
que eu já tenho uma noiva. — Pisca para mim e eu fico sem graça com a minha
reação.
— Eu já disse que pode ser quando você quiser. Agora vamos para casa,
quero fazer amor com a minha noiva, que em pouco tempo se tornará minha
convite para o acompanhar aquela noite, e eu, encantada por seu belo sorriso, por
aquele charme, aceitei. Por fim, disso resultou uma gravidez que me levou ao
céu e ao inferno, mas, no final, eu entendi que Deus escreve certo por linhas
a hora de dizer sim para o homem da minha vida, diante do juiz e de todos que
Safira me pediu alguns meses para que pudéssemos nos casar. Por mais
que eu estivesse ansioso para ela se tornar a minha esposa, eu aceitei a sua
decisão.
E hoje é o grande dia, cinco meses depois do pedido. Ansiei tanto para que
esse dia chegasse e agora estou mais do que nervoso, nem mesmo meu melhor
meu ombro.
Olho para o juiz de paz e ele sorri para mim. Estou me sentindo tão
— Quando chegar a sua vez você vai me entender — resmungo e ele ri.
Lucas e minha filha estão morando juntos há alguns meses, e o que eles
têm é realmente sério, consigo ver isso agora. Meu amigo se tornou outro
homem, está tão diferente que nem parece o mesmo cara de um ano atrás. Ele
— Sua testa está até suada. Fique calmo, aquela sua ex maluca não vai
Bufo. Claro que a minha ex não virá ao meu casamento. Ela pegou uns
bons anos de prisão pelo que fez ao meu filho, o julgamento aconteceu na
semana passada. Nem mesmo os bons advogados que ela tinha foram páreos
para os que contratei para mantê-la onde estava desde aquele dia — atrás das
grades.
— Nem vou te responder — falo, olhando para as horas no relógio em
meu pulso.
esteja exagerando, mas como não sentir esse turbilhão de sentimentos? Vou me
casar com a mulher que eu amo, a mãe do meu filho, minha melhor amiga. E o
Imaginei muitas vezes dar esse passo tão importante com ela, e agora que
estamos quase lá, meu coração está prestes a sair pela boca.
que seria aqui, na área da piscina. As únicas pessoas presentes são a minha filha,
caminhando lentamente ao lado da minha filha. Safira está linda com seu vestido
branco de alcinha e a barra rendada na altura dos joelhos. Seu cabelo está solto e
ela usa uma tiara de flores branca na cabeça. Admirado, eu a analiso e quase
acabo babando. Ela sorri tão abertamente que me perco no seu sorriso.
Dois passos finais e tenho Safira comigo. Ela entrega o buquê para a
Amo vocês! — diz Vitória. Sem esperar por uma resposta, ela caminha na
direção de Lucas.
— Você está linda — elogio-a, depois beijo suas mãos e ela sorri quando
volto olhá-la.
Nós nos viramos para o juiz e ele começa a discursar. Minutos depois
declarar marido e mulher, não espero um segundo sequer para tomar os lábios da
**
— Amor, me ajuda, por favor? — pede minha esposa de costas para mim.
descê-lo coloco seu cabelo para o lado e beijo o seu pescoço antes de mordiscar
levemente a sua pele cheirosa, fazendo com que ela gema em apreciação.
lentamente.
diz, entre gemidos, quando subo minha boca e deixo uma mordida no seu ombro.
deliciosa dos seus mamilos enrijecidos e sua boceta bem depilada. Umedeço
meus lábios e fixo meus olhos nos seus, que brilham de malícia.
Sem dar oportunidade para que Safira se manifeste, passo a língua em sua
virilha, cheiro suas coxas, beijo, lambo e mordo. Instintivamente, ela se abre
para mim e eu levo dois dedos ao seu clitóris, fazendo movimentos leves e
depois vou estimulando com mais velocidade. Minha mulher geme, ansiosa por
mais, porém não pretendo deixá-la gozar na minha boca e nem nos meus dedos.
Com meu amigo e meus filhos lá embaixo só dá tempo para uma rapidinha,
Livro-me das minhas roupas e logo estou com ela em meus braços, tocando seu
rosto, acariciando. Ao tomar sua boca em um beijo quente, minha esposa arranha
meu peitoral com as unhas antes de deitá-la no meio do colchão macio.
Seguro uma das suas pernas, encaixo meu pênis na sua entrada e a penetro
fundo. Gememos alto quando nossos corpos estremecem com o contato, então
dos seios de Safira e o abocanho. Ela geme tão alto que tenho certeza de que
clímax.
Largo seu mamilo e vou para sua boca, chupando sua língua e vez ou outra
mordendo seus lábios em um beijo voraz e selvagem. Safira enrola suas pernas
respiração irregular. Aproveito para beijar seu rosto e passar a mão em seus
cabelos.
falo.
— Victor, está louco? Claro que não! — diz, fingindo estar brava. —
Daqui a pouco a Vitória e Lucas vão para casa. A minha amiga vai levar o
— Então quer dizer que essa noite seremos somente eu e você? Podemos
agarrando-a pela cintura e beijando seu pescoço. Acabo lhe fazendo cócegas,
Para quem não acreditava mais no amor, ao lado dessa mulher, que amo
demais, até suas risadas são como músicas para meus ouvidos.
VICTOR
da minha esposa, que está na sala de parto. Faz algumas horas desde que a Safira
deu entrada no hospital depois da sua bolsa ter estourado. Quando Safira disse
ao hospital.
para sair da sala de parto por estar deixando a minha mulher ainda mais nervosa.
Até parece que nunca passei por isso antes, tenho uma filha já adulta, mesmo
— Meu amigo, vai dar tudo certo. — Lucas toca no meu ombro e tenta me
Passo a mão no cabelo e o puxo para trás, mordo os lábios com tanta força
que quase o machuco. Será que houve alguma complicação no parto? Faz tanto
tempo e ainda não nos deram notícia. O tempo passa e a minha agonia só
aumenta, então tento entrar na sala, mas meu amigo e minha filha me impedem.
Meu coração saltita de emoção. Sorrio e olho para minha filha e Lucas,
— Elas estão bem. — Meu coração se acalma, faz tanto tempo que estou
aqui que cheguei a pensar no pior. — Elas serão levadas para o quarto, e assim
Pouco tempo depois nos deixar ver a Safira, quando entro no quarto, me
deparo com a cena mais linda — minha esposa amamentando a nossa filha. Fico
bobo logo de cara ao ver que a bebê tem o cabelo escuro igual ao meu. Minha
— Oh, ela tem os cabelos do meu pai, amor — diz Vitória, olhando
— Acho que ela vai ficar bem parecida com você, Victor — diz, deixando-
me abobalhado.
A emoção que estou sentindo não cabe no peito. Tenho mais um filho com
Safira, e dessa vez será diferente, vou poder participar de tudo na vida da nossa
Minha filha fica nos meu braços até Vitória pegar a irmã e dizer que está
ansiosa para vê-la correndo pelos jardins da nossa casa. Acabamos caindo na
risada quando digo para Vitória que a criança acabou de nascer e isso vai
afilhada nos braços. Sim, dessa vez é oficial, Lucas será o padrinho da minha
— Amor, olha para os olhos dela, são iguais aos seus. Já não bastava ter os
cabelos? — Minha esposa finge estar brava quando a nossa bebê abre os olhos,
— Oi, filhona. A mamãe está com ciúmes, mas não liga não, tá? — falo,
— Ei, não estou com ciúmes coisíssima alguma. Só acho injusto ter
carregado a nossa filha por nove meses e ela ser a sua cópia. Não puxou nadinha
a mim. — Faz careta, mas não deixo de perceber que o sorriso está presente em
seus lábios.
— Se quiser, daqui a alguns meses podemos tentar ter um bebê com a sua
eu rio.
mãozinhas de Sofia.
O tempo vai passando e cada vez eu tenho mais certeza de que Safira foi a
minha melhor escolha. Hoje tenho um lar de verdade, uma família linda e o amor
**
— Acorda, papai, hoje é seu aniversário, a mamãe fez bolo! — diz Miguel,
meu filho no colchão e começo a fazer cócegas nele, que grita pedindo para eu
parar.
— Papai, se levanta, vamos comer bolo! — diz meu filho, todo sorridente.
Olho para a mãe dele, que está nos encarando com uma certa admiração.
piscando para ele, que fica emburrado. — Nem me lembrava que hoje é meu
Estou completando mais um ano de vida, e fico feliz por ser final de
semana, assim posso curtir o dia ao lado da minha família.
dá um beijo na boca.
mamãe!
Caímos na risada.
— Filho, vá ficar com suas irmãs e o tio Lucas, seu pai e eu já descemos
— Safira pede e ele a obedece. Quando Miguel sai do quarto, ela se senta na
beirada da cama e sorri para mim. — Nem preciso dizer, certo? Você sabe que te
desejo tudo de bom na vida. Você é um pai excelente, marido, amigo, patrão e
muito mais... Então, meus parabéns, amor, que você tenha muitos anos de vida,
— Obrigado. Obrigado por todos esses anos juntos, obrigado por ter me
dado uma linda família. — Sento-me na cama e passo a mão em seus cabelos
loiros, que agora estão na altura dos ombros. O visual da minha esposa mudou
levanto, então sigo para o banheiro, mas antes de fechar a porta eu a chamo. —
Safira?
— Eu sei que sim — ela sorri —, eu também te amo — declara e sai porta
afora.
Nem todas as histórias têm um final feliz, mas a minha teve na medida
certa. Não acredito no felizes para sempre, mas enquanto durar vou aproveitar
momento tão duro como o que estou passando. Perdi uma pessoa muito especial
e ainda estou devastada, mas graças a Ele estou um pouco mais fortalecida e
consegui terminar este livro. Obrigada, Senhor. Obrigada, Isis e Scarllat por
terem betado Acaso Perfeito. Agradeço a todos os meus amigos que ficaram ao
maravilhosa que está sempre junto comigo, me apoia e embarca nas minhas
loucuras. Sou grata por ter te conhecido! Quero que saiba que te admiro muito,
de coração.
Quero agradecer também a você, leitor, que chegou até aqui e leu a história
de Victor e Safira. Eles são especiais para mim por um motivo muito forte, e
oportunidade!
Jessica Santos nasceu em fevereiro de 2001, na Bahia. Em 2014, surgiu o
gosto pela leitura, e em 2015 para 2016 ela decidiu que escreveria o seu primeiro
romance e não quis mais largar a escrita. Já tem lançado alguns livros na
Amazon, entre contos e novelas, e atualmente está trabalhando na série
Herdeiros da Máfia, um de seus maiores sucessos que vem conquistando os
leitores nas plataformas on-line.
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KILLZ (Herdeiros da máfia Livro 1)
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Tudo que um verdadeiro herdeiro da máfia precisa ter, Killz James Knight
tem.
O mais velho de cinco irmãos, Killz é o chefe da máfia londrina, mas seu maior
interesse pelo cargo mais importante nos negócios ilícitos da sua família não é o
poder, e sim um avassalador desejo de vingança.
Em um perigoso jogo de sedução, mentiras e sexo, a máfia inglesa nunca foi tão
excitante.
Axl James Knight está agora em um grande impasse se deve cumprir o acordo
firmado por Killz e Conan ou não.
Será que ele cumprirá mesmo amando outra mulher? Axl está disposto a tornar a
vida da sua prometida um inferno. Porém, ele vai perceber que quebrar a
princesa da máfia será mais difícil do que imagina, e que o amor e o ódio podem
se entrelaçar nesse jogo sádico.
Assim era Alex, que vivia a dura realidade de ser um pai solteiro que tinha
sido abandonado pela esposa. Mesmo sob a pressão da responsabilidade, ele se
dedicou bravamente à missão de ser pai solo. Sua pequena Alícia se tornou a sua
única prioridade e ele não tinha planos de mudar essa equação.
Jade era uma jovem com um passado marcado por violência e muitos
traumas. Ela não tinha nenhum interesse em se envolver emocionalmente com
alguém, e muito menos chamar a atenção para si. Contudo seus planos foram
postos à prova quando conheceu a pequena Alícia, uma garotinha de seis anos, e
seu pai encantador.