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C~ntrm[br!

)
Aneurismas das Artérias
_
Viscerais
-- - ----
- - -- --.- - - --
- -. -
-
- -- --

João Luiz Sandri


TeImo P. Bonamigo
Claudio de MeIo Jacques
José Monteiro de Souza Netto

. ANEURISMASVISCERAIS

..
. ANEURISMADA ARTÉRIAESPLÊNICA
ANEURISMADA ARTÉRIAMESENTÉRICASUPERIOR

.. Af}JEURISMA DAS ARTÉRIAS RENAIS


ANEURISMASDAS ARTÉRIASHEPÁTICAS
ANEURISMASDO TRONCOCELíACO

..
. ANEURISMASDE MESENTÉRICAINFERIOR
ANEURISMADE ARTÉRIAGÁSTRICAOU GASTROEPIPLÓICA
ANEURISMAS
DASARTÉRIAS
JEJUNAL,
ILEALEç:ÓLlCA
. ANEURISMASDAS ARTÉRIASGASTRODUODENAL,
..
PANCREÁTICAE PANCREATICODUODENAL
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

--
Seção IV
ANEURISMASARTERIAIS

- -.. -
ANEURISMAS VISCERAIS pode ser a sua ruptura. Os sintomassãomuito pouco ex-
--- -- pressivos, podendo, assim, ser confundidos com manifes-
Os aneurismas das artérias viscerais são pouco freqüentes, tações clínicas secundárias a outras causas de patologias
mas de muita importância, porque, muitas vezes,se apresen- abdominais. Quando esses aneurismas estão em proces-
tam como emergências com risco de morte e alta mortalida- so de expansão, podem determinar dor de localização
de. Existem na literatura mais de 3.000 casos relatados, sen- abdominal ou lombar, sem qualquer relação à posição,
do a maioria relatos de casose pequenas séries; poucos auto- atividade ou ingestão alimentar.9 O exame físico pode ser
res apresentam experiência com mais de 30 casos. normal, pois esses aneurismas geralmente não são palpá-
Os aneurismas viscerais são menos freqüentes do que os veis. Nessa circunstância, os aneurismas costumam ser
periféricos e têm características clínicas diversas, conforme diagnosticados somente com os exames de imagem,
sua localização. Seu diagnóstico dificilmente é feito em bases entre eles, a radiografia simples de abdome, que pode
clínicas, pois geralmente são assintomáticos, e somente um mostrar calcificação, a ecografia abdominal realizada
pequeno número deles atinge uma dimensão que permite o com suspeita de outra doença e a tomografia computa-
seu diagnóstico pela palpação de massa pulsátil. Quando dorizada do abdome, uma indicação muito freqüente
isso ocorre, normalmente há sintomas dependentes da sua para definição diagnóstica de patologias intracavitárias.
expansão. A ruptura em paciente até então assintomático Quando o diagnóstico é feito nessa condição diz-se que
pode ser a primeira manifestação do aneurisma visceral. O foi feito de forma incidental, ou foi achado de exame.
aneurisma da artéria esplênica pode romper-se com maior Os pacientes com ruptura de um aneurisma visceral
freqüência que os demais, principalmente na mulher grávi- podem apresentar-se com quadro de dor abdominal agu-
da, em tomo do terceiro trimestre da gestação. Shanley et al da e importante, com ou sem alteração hemo dinâmica e,
relataram um alto índice de mortalidade relacionada à rup- eventualmente, com hemorragia gastrintestinal, devido
tura, numa revisão da literatura inglesa, entre 1985 e 1995, à corrosão da parede intestinal pêlo aneurisma que esta-
com taxas de mortalidade, variando de 21%, para os aneuris- beleceu uma fístula responsável pelo sangramento. Em
mas hepáticos, a 100% para os aneurismas celíacos.1,2 frente à ruptura, geralmente, o cirurgião realiza uma la-
Os aneurismas viscerais são diagnosticados com maior parotomia de urgência, muitas vezes, sem suspeita diag-
freqüência em virtude da evolução dos métodos diagnósti- nóstica definitiva. Outras vezes, a ruptura é contida, e a
cos por imagens que hoje permitem o diagnóstico inciden- alteração hemodinâmica é de menor importância, o que
tal, que não seria feito se não houvesse a disponibilidade viabjliza a realização de um exame de imagem que per-
atual dos métodos diagnósticos, como a ultra-sonografia, a mitirá o diagnóstico pré-operatório.
ressonância magnética e a tomografia computadorizada,
Uma radiografia simples de abdome poderá mostrar
recursos largamente utilizados no diagnóstico de patologi-
uma calcificação ao longo da parede do aneurisma na
as abdominais eletivamente e na urgência. Os aneurismas
topografia do vaso acometido (Fig. 30-1).
viscerais mais comuns são os da artéria esplênica (48%), os
das renais (30%), das hepáticas (6%) e os da mesentérica su-
A ecografia pode definir as suas dimensões, e a tomo-
perior (6%). Os demais aneurismas que envolvem as arté- grafia computadorizada pode demonstrar com mais deta-
rias intestinais Gejunal, ileal e cólica), gástrica, gastroduode-
lhes o diâmetro do aneurisma, a presença ou não de trom-
nal, pancreatoduodenal e mesentérica inferior são mais bos, a presença de calcificaçõesna sua parede e de sangue
raros.l-6 Estudos de necropsias sugerem que os aneurismas em tomo do aneurisma, se houver ruptura tamponada.
esplâncnicos podem ser mais freqüentes que os aneurismas A tomografia computadorizada, com a tecnologia
da aorta abdominal. Esses aneurismas têm grande impor- atual, possibilita um mapeamento do paciente com alta
tância em serem reconhecidos, pois até 25% deles podem resohíção espacial num curto tempo de apnéia, permitin-
se complicar com ruptura, e a mortalidade após a ruptura é do imagens com menos artefatos.lO A arteriografia pode
alta, situando-se entre 25% e 70%.7 ser o exame de maior definição, pois mostra a presença
Entre os aneurismas viscerais e os periféricos, há outra do aneurisma, a sua localização, indicando se existem ra-
diferença interessante. Enquanto estes geralmente são de mos arteriais envolvidos, se é único ou múltiplo. Portan-
origem aterosc1erótica, aqueles têm outras causas, podendo to, pode ser muito importante para a tomada de conduta
ser secundários à displasia fibromuscular, alterações da terapêutica (Fig. 30-2). .
parede arterial, constatadas na gestação, trauma, embolia
micótica e às alterações degenerativas da aterosc1erose.5,7 TRATAMENTO
A conduta terapêutica, frente ao pa~iente com um aneu-
DIAGNÓSTICO
risma visceral, pode ser diversa, desde o tratamento
O aneurisma visceral intacto pode apresentar uma gran- cirúrgico imediato, diante de uma ruptura com quadro
de dificuldade diagnóstica. A primeira manifestação hemorrágico agudo, até a observação monitorizada de
Capítulo 30
ANEURISMASDASARTÉRIASVISCERAIS

30-1.Radiografiassimplesdo abdomeem
Fig.
perfil(A) e AP(B) realizadaspor problemasda
colunalombarmostramcalcificação
característica,
no quadrantesuperioresquerdo
do abdome,sugerindoum aneurismada artéria
A B esplênica,quedeveseresclarecido.

um paciente com um pequeno aneurisma assintomático, superior ou na artéria esplênica. Outra alternativa é a ma-
descoberto de forma incidental. nobra técnica já descrita, complementada pela interposi-
Na situação de emergência, poderá até ser difícil a ção de um enxerto venoso que possa restaurar o fluxo san-
localização correta dos cotos proximal e distal de um guíneo no segmento excluído. Esta , técnica foi utilizada
aneurisma da artéria mesentérica, em face ao hematoma para o tratamento do aneurisma da artéria mesentérica
que distorce a anatomia normal. Recomenda-se, então, superior, demonstrado na Figura 30-3. Algumas vezes, é
absoluto cuidado para não aumentar a extensão das necessária a interposição de uma prótese de material sin-
lesões por dissecção inadequada. Em situação eletiva, po- tético, preferindo-se, na maioria das vezes, o PTFE, devido
derá o paciente ser observado, até comprovar a existên- à menor incidência de infecção. A seleção de cada uma
cia de um crescimento do aneurisma, que justifique a das variantes técnicas poderá depender da localização
terapêutica cirúrgica ou intervencionista. Porém o tama- anatômica do aneurisma, da necessidade de revasculariza-
nho do aneurisma, a sua localização e a relação com o ção, da sua etiologia e da experiência do cirurgião.8
órgão que irriga devem influenciar a conduta e o trata- O tratamento cirúrgico aberto dos aneurismas visce-
mento. Em geral, entende-se como importante um aneu- rais continua sendo o padrão-ouro para o reparo desses
risma visceral com tamanho maior que 2 cm e, a partir aneurismas, mas as técnicas endovasculares podem ofe-
desse tamanho, é considerado o tratamento, cuja modali- recer boas alternativas para a terapêutica. Essas técnicas
dade será indicada, de acordo com o caso.H minimamente invasivas podem oferecer vantagens,
A técnica cirúrgica poderá ser variada, podendo con- quando comparadas ao tratamento convencional. O tra-
sistir em uma exclusão do aneurisma com uma ligadura tamento endovascular tem sido cada vez mais emprega-
pura e simples, dos cotos proximal e distal do aneurisma, do para determinados tipos de aneurismas viscerais.
pela técnica de Matas, que é indicada freqüentemente em SaIam et alorecomendam que esse tratamento seja orien-
aneurismas localizados em ramos da artéria mesentérica

r Fig. 30-2.
Arteriog rafia seletiva
da artéria
mesentérica superior
Fig. 30-3. Aspecto
intra-operatório de
aneurisma da artéria
mostra aneurisma. mesentérica superior.
Seção IV
:f'.4

ANEURISMAS ARTERIAIS

tado por alguns parâmetros, entre os quais devem ser cular, eles recomendam esse tipo de tratamento apenas
considerados: o estado clínico do paciente, a anatomia para casos selecionados. Existem relatos na literatura de
dos vasos envolvidos, a qualidade da circulação adjacente ruptura de aneurismas tratados por embolização onde
ao aneurisma, ou seja, o que esse vaso aneurismático irri- aparentemente havia exclusão completa. Outras compli-
ga, se pode ser ligado ou excluído sem dano ao órgão cações desses procedimentos incluem: oclusão inadverti-
irrigado, bem como a experiência comprovada de quem da de outro vaso, migração de molas e infecção. Temos
se habilita a executar o procedimento.ll,12 As técnicas que enfatizar que o tratamento endovascular percutâneo
endovasculares são menos invasivas, mas não sem riscos. é menos invasivo, mas não é isento de riscos.18,19
O tamanho e a localização do aneurisma também As maiores vantagens dos procedimentos endovascu-
devem ser considerados, pois há relatos de tratamentos lares seriam a sua realização em pacientes com limitações
endovasculares de aneurismas de grande tamanho, em clínicas ou com aneurismas em posição anatõmica muito
que se corre o risco de reperfusão do aneurisma.13 especial, como um aneurisma da artéria pancreatoduo-
Existem várias possibilidades de tratamento endovas- denal em paciente com pseudocisto de pâncreas.20
cular: exclusão dos aneurismas por meio da embolização O tratamento endovascular deve ser oferecido, portan-
do próprio aneurisma ou de seus vasos efluentes, ou o to, com muita cautela e em casos selecionados. Há casos
implante de stents revestidos, excluindo o aneurisma da para tratamentos endovascular e cirúrgico. Na atualidade,
circulação e mantendo o fluxo no vaso principal, caso a no entanto, o tratamento endovascular conta com muitos
anatomia o permita.14-16 recursos técnicos que podem excluir o aneurisma visceral
Existe uma grande diversidade de materiais para em- com segurança, mas os artefatos de imagem gerados pelos
bolizações à disposição para o tratamento endovascular. Os materiais utilizados podem prejudicar o acomparrhamento
materiais passíveis de serem utilizados para a embolização pós-operatório pela tomografia. 13,21Outra forma de trata-
são as molas ou coils,balões destacáveis, material de fio-guia mento que tem sido utilizada mais fecentemente, sobretudo
angiográfico, usado como alternativa às molas, colas com para o tratamento dos aneurismas da artéria esplênica, é a
base de N-butil-2-cianoacrilato (Histoacryl), e Onix, mate- videolaparoscopia, pois a facilidade técnica da abordagem e
rial desenvolvido para embolização de aneurismas cere- a simplicidade da ligadura com exclusão do aneurisma tor-
brais, podendo ser usado em outras localizações. nam exeqilivel essa técnica que será detalhada adiante.22,23
Una et ai. relataram, como complicações desses pro- A seguir, serão discutidos, de forma pormenorizada,
cedimentos, a ruptura do aneurisma secundária ao au- vários tipos de aneurismas viscerais.
mento da pressão durante o momento da inserção do
material embólico, a trombose incompleta do aneurisma ANEURISMA DA ARTÉRIA ESPLÊNICA
e a não obliteração de ramos colaterais que podem man-
ter o aneurisma "pressurizado" P Um desses casos é des- O aneurisma da artéria esplênica é o mais ITeqüentemente
crito por Chiesa et ai. e aqui mostrado na Figura 30-4, encontrado no abdome, após o da aorta abdominal, e o das
onde um volumoso aneurisma da artéria hepática, trata- artérias ilíacas, portanto, é o aneurisma visceral mais ITe-
do por embolização, foi reperfundido ou não logrou a qüente.1,5,7,ll,24Sua real prevalência varia muito, desde
trombose desejada e foi submetido a tratamento cirúrgi- 0,098% numa série de necropsias a 0,78% num estudo de
co, com interposição de uma pró tese de PTFE.18 Portan- 3.600 angiografias, a 10,4% numa série de necropsias reali-
to nem sempre a embolização é uma solução, e esses au- zadas em pacientes de 60 anos ou acima, com especial aten-
tores recomendam uma abordagem cirúrgica mais agres- ção dada à artéria esplênica.25,26Seu diagnóstico incidental
siva, mesmo nos casos assintomáticos, devido a baixos podem ser feito pela radiografia simples do abdome, quan-
índices de morbidade e mortalidade. Com os resultados do o mesmo for calcificado ou em arteriografias abdomi-
observados por esses autores com o tratamento endovas- nais em até 0,8% dos casos.25 A técnica diagnóstica com

Fig.30-4.(A) TC abdominal mostrareperfusão


de um aneurisma da artéria hepática.
(B) Aneurismectomia mostra a formação
incompleta de trombos induzida por
embolização percutânea com molas e guias.
(Cortesia do Praf. Roberto Chiesa. Università
A B Vita-Salute,Milão.)
Capítulo 30
ANEURISMASDASARTÉRIASVISCERAIS

maior sensibilidade é a tomografIa computadorizada, pro- tra-abdominal ou da coluna, como mostrado na Figura
cesso pelo qual a maioria dos casos atualmente é diagnosti- 30-1. Com freqüência, é feito pela observação de uma ra-
cada de forma incidental.10.27 diografia simples do abdome, onde se nota a calcificação
Quanto à gênese, Stanley e Fry relataram 4 situações característica, curvilínea, circular e concêntrica na proje-
que aumentam a prevalência desse tipo de aneurisma. ção do trajeto da artéria esplênica, que levanta imediata-
São elas: a displasia fibromuscular, a hipertensão porta, a mente a suspeita diagnóstica. Esse é o aspecto mais carac-
arterite localizada e a gravidez e, principalmente, a multi- terístico dessa patologia e que leva ao diagnóstico na
paridade. Esse aneurisma é mais freqüente em mulheres, maioria das vezes, como ocorreu em 72% dos casos rela-
e o diagnóstico costuma ser feito durante a gestação em tados por Trastek et a{26Esse sinal radiológico, no entan-
multíparas. A hipertensão porta determina uma incidên- to, não é definitivo, por existirem outras possibilidades
cia maior de aneurismas esplênicos, variando de 8% a para o aparecimento de calcificações radiológicas nesse
50%.28-30Quanto à sua localização, 80% deles situam-se local, tais como: tortuosidade das artérias renal e esplêni-
na porção distal da artéria.26 ca, cistos de pâncreas, calcificações de gânglios linfáticos,
Os pacientes com aneurisma da artéria esplênica tuberculose renal e outras. O diagnóstico será confirma-
geralmente são assintomáticos, mas a presença de dor no do pela tomografia computadorizada, ou pela arterio-
quadrante superior esquerdo do abdome e epigástrio grafia, sendo esta última a preferida, e considerada o pa-
pode ser uma manifestação precoce de uma ruptura imi- drão-ouro para o diagnóstic033 (Fig. 30-5). A ultra-sono-
nente. Trastek et al., em sua série de 100 casos, observa- grafia e o eco-Doppler têm sido utilizados, mas ainda
ram dor abdominal em somente 17 casos. O exame físico não nos dão segurança absoluta, por serem exames
pode ser inespecífico, pois o aneurisma costuma ser de dependentes do examinador.24-26
pequenas dimensões e, como está situado profundamen- A tomografia computadorizada com contraste veno-
te no abdome, não é palpável. Pode haver, no entanto, so (Fig. 30-6) confirma o diagn6stico, e a reconstrução
esplenomegalia em 45% dos pacientes, mas não é esse o tridimensional da imagem auxilia muito na complemen-
sinal específico da doença.20.31 tação do diagnóstico, bem como na diferenciação de tu-
Na evolução clínica desses pacientes, a ruptura é a mores do pâncreas e tortuosidades da artéria esplênica
complicação mais temida. Há 2 grupos de pacientes com que podem ser confundidos com o aneurisma.lO
risco de ruptura: o primeiro é o das mulheres grávidas, A angiorressonância magnética é outro exame que
pois 25% a 40% dos aneurismas rotos da artéria esplênica pode ser indicado por ser menos invasivo e obter bom re-
ocorrem em mulheres grávidas, geralmente no 3Qtrimes- sultado diagnóstico (Fig. 30-7). Entretanto a angiografIa
tre da gestação;18.28o segundo grupo é o dos pacientes abdominal e seletiva é o método preferido para a confIr-
submetidos a transplante hepático, que apresentam uma mação diagnóstica e a melhor forma de avaliação do aneu-
mortalidade muito alta quando há ruptura do aneurisma.
Atualmente, no transplante hepático, tem merecido
ênfase o estudo da artéria esplênica, devido à associação
de complicações, principalmente a ruptura de aneuris-
ma esplênico, pós-transplante. Vários autores sugerem
que a queda da pressão porta, decorrente do transplante,
possa estar associada a um aumento de fluxo na artéria
esplênica e, assim, provocar dilatação e c~nseqüente rup-
tura do aneurisma.2.4.1O Fig. 30-5. Grande
O aneurisma da artéria esplênica é quatro vezes mais aneurisma da artéria
comum nas mulheres, mas três vezes mais passível de esplênica evidenciado
ruptura nos homens. Essa observação é extraída dos por arteriografia.

dados da maior série de aneurismas da artéria esplênica


publicada, da Mayo Clinic, com 306 pacientes observa-
dos entre 1980 e 1998. Nessa série a incidência de ruptu-
ra foi de 2,9% nas mulheres, e nos homens de 10,9%,
com uma incidência geral de 4,6%.11

Fig. 30-6. Tomografia


O diagnóstico do aneurisma da artéria esplênica, na computadorizada
maioria das vezes, é feito fortuitamente, no decorrer de mostrando aneurisma
outro exame realizado para investigação de patologia in- da artéria esplênica.
Seção IV
."
ANEURISMAS
ARTERIAIS

indicada a cirurgia, o tratamento consiste na ligadura da


artéria esplênica proximal e distal ao aneurisma, seguida
ou não da sua excisão. A escolha do procedimento de-
pende da localização do aneurisma. Se ele se situa próxi-
mo à origem do tronco celíaco ou é localizado no terço
Fig.30-7. distal da artéria esplênica, afastado do pâncreas, prefe-
Angiorressonância, re-se a excisão. Se estiver localizado na porção média da
mostrando aneurisma
artéria (ao nível do pâncreas), pratica-se a exclusão com
da artéria esplênica
com colo estreito. ligaduras proximal e distal da artéria esplênica e de todas
as colaterais situadas entre elas (Fig. 30-8). Pode ser tenta-
da a anastomose terminoterminal como reconstrução ar-
risma da artéria esplênica, por permitir também uma boa terial.I8 A esplenectomia pode ser necessária, quando o
avaliação das artérias viscerais pelo examinador.IO,33 aneurism:a se localiza no hilo esplênico. Se a esplenecto-
A ruptura do aneurisma com hemorragia intraperito- mia for necessária, existe a técnica de autotransplante
neal volumosa é a manifestação clínica mais dramática dos heterotópico no omento, empregada para a prevenção
aneurismas esplênicos. Quando o paciente é visto após a de infecção pós-esplenectomia, que está associada a alto
ruptura do aneurisma, o quadro clínico é completamente índice de mortalidade.I8,36
diferente e pode ser mesmo dramático. Se o sangramento Pacientes que têm indicação para tratamento, mas que
ocorre em peritônio livre, as manifestações clínicas são de têm restrições clínicas para procedimento cirúrgico,
choque hemorrágico, com sinais de irritação peritoneal. podem ser submetidos a técnicas endovasculares de embo-
Outras vezes, no entanto, a hemorragia ocorre em 2 tem- lização ou oclusão da artéria esplênica, ou de tratamento
pos: no primeiro, ela fica tamponada dentro da bolsa desses aneurismas com pró teses recobertas e exclusão do
omental; no segundo, em média 48 horas depois, sobre- saco aneurismático, desde que tenham anatomia favorável
vém o sangramento para a cavidade peritoneal através do para o implante do dispositivo. Uma condição que, eventu-
forame de Wislow, ao contrário do que ocorre com a almente, dificulta o procedimento endovascular em alguns
hemorragia intraperitoneal maciça, que tem evolução rá- pacientes é a tortuosidade do vaso. Portanto a anatomia
pida. É preciso lembrar que os quadros de ruptura de complexa que não permita fácil acesso à artéria esplênica é
aneurisma da artéria esplênica ocorrem, na maioria das uma. contra-indicação para o tratamento endovascular.37,38
vezes, em mulheres jovens e sadias, que estão grávidas ou Recentemente, tem sido proposto tratamento alter-
no período pós-parto recente, e que elas chegam aos servi- nativo do aneurisma esplênico por videolaparoscopia,
ços de emergência em choque e sem nenhuma causa apa- uma via de tratamento segura, de baixo risco e de baixo
rente. As pacientes podem evoluir para óbito em porcenta- custo, e com mínima agressão cirúrgica. A técnica lapa-
gem muito elevada.33 A ruptura pode ocorrer também em roscópica permite a preservação do baço e uma exclusão
homens hipertensos com mais de 60 anos, portadores de do aneurisma de forma minimamente invasiva. O aneu-
aneurismas calcificados e, nesse grupo, a mortalidade é risma esplênico é talvez o único dos aneurismas viscerais
menor, ficando em torno de 25%. cujo tratamento é viável e seguro por essa via.
O menor tamanho de um aneurisma esplênico roto As técnicas videolaparoscópicas têm sido reporta-
operado, num período de 4 anos na Clínica Mayo, foi de das, e alguns autores mostram, inclusive, a ressecção des-
2 cm.ll ' ses aneurismas por essas técnicas. A abordagem laparos-
cópic9-' para o aneurisma esplênico, permite uma curta
TRATAMENTO
interriação hospitalar por menos de 48 horas, retorno
A cirurgia está indicada para todos os pacientes que têm rápido à alimentação e à atividade física, menor uso de
aneurismas rotos ou íntegros com mais de 2 em de diâ-
metro.3,7,8,28,33-35
Deve ser também indicada em grávidas
com aneurismas assintomáticos descobertos casualmen-
te, de preferência antes do terceiro trimestre da gestaçãÇl.
De acordo com Stanley e Fry, a cirurgia é obrigatória nas
grávidas e recomendada nas mulheres jovens em idade
fértil e que ainda possam engravidar.28,34
No caso do aneurisma assintomático com menos de Fig. 30-8. Aspecto
cirúrgico de um
2 em de diâmetro em paciente jovem e do sexo masculi- aneurisma da artéria
no, a conduta é expectante, a não ser que surjam sinto- esplênica, isolado
mas sugestivos de expansão.26 Nos casos em que está para a ligadura.
Capítulo 30
ANEURISMASDASARTÉRIASVISCERAIS

analgésicos e, portanto, uma rápida recuperação.3946 Nu- ses aneurismas.49 Os aneurismas de origem micótica atin-
ma experiência limitada a 4 pacientes, essa tem sido a gem mais pacientes abaixo dos 50 anos, enquanto os ate-
nossa abordagem atualmente preferida para o aneurisma roscleróticos predominam nos pacientes idosos. Ambos
da artéria esplênica (Figs. 30-9 e 30-10). os sexos são afetados na mesma proporção.5o
Para os pacientes submetidos a transplante ortotópico
de fígado, que tenham aneurisma esplênico, é recomenda- DIAGNÓSTICO
da a ligadura da artéria esplênica por Ayalon et aloe Mattar O quadro clínico dos casos não complicados é inexpressi-
et al.,já que, com a queda de pressão porta decorrente do vo e inespecífico. A primeira manifestação pode ser des-
transplante, pode haver um aumento do fluxo na artéria conforto na região epigástrica, que poderá progredir para
esplênica, que poderá dilatar o aneurisma preexistente e dor intensa, principalmente se o aneurisma expandir-se
mesmo causar a sua ruptura. Com o avanço dos procedi- rapidamente, como acontece nos de origem micótica. A
mentos endovasculares e laparoscópicos, existe relato de febre é um sinal que acompanha esses aneurismas, e a
associação de ambas as técnicas para o tratamento do aneu- ruptura deles é freqüente. Já os de etiologia ateroscleróti-
risma esplênico após o transplante de fígado.2.47.48 ca podem atingir dimensões maiores, podendo ser diag-
nosticados como um tumor pulsátil e móvel. Raramente,
ANEURISMA DA ARTÉRIA MESENTÉRICA são observadas calcificações e, por isso, dificilmente são
SUPERIOR identificados em radiografias simples do abdome.
A ultra-sonografia e a tomografia computadorizada
Esses aneurismas ocupam o quarto lugar em freqüência têm papel limitado no diagnóstico. A angiografia seletiva
entre os aneurismas de artérias viscerais. Mais de 50% dos ainda é o melhor método para identificar essas lesões.5Q.52
casos relatados são micóticos, ou seja, são de origem infec- Na radiografia simples do abdome (Fig. 30-11), vê-se um
ciosa. Nos últimos anos, tem aumentado o percentual dos volumoso aneurisma com calcifi~ação, cuja artéria precisa
aneurismas de origem aterosclerótica. O trauma e o pro- ser identificada. A tomografia mostra as relações de diâ-
cesso degenerativo da média são causas relativamente fre- metro deste com a aorta abdominal (Fig. 30-12), e a arte-
qüentes. A sífilisjá teve papel importante na etiologia des- riografia mostra que o aneurisma é dependente de um
ramo da artéria mesentérica superior (Fig. 30-2).

Fig. 30-9. Cirurgia de


aneurisma da artéria
esplênica por Fig.30-11.
videolaparoscopia. Radiografia simples
do abdome,
mostrando volumoso
aneurisma de artéria
cuja origem deve ser
esclarecida.

Fig..30-12.
Tomografia
computadorizada do
abdome mostra
Fig. 30-10. aneurisma com
Raios X paredes calcificadas,
pós-operatório próximo à aorta,
mostrando os clipes provavelmente da
pré e pós-saco artéria mesentérica
aneurismático. superior.
Seção IV
.,.
ANEURISMASARTERIAIS

TRATAMENTO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Esses aneurismas têm alta incidência de ruptura e, por- Em situação eletiva, o diagnóstico poderá ser feito de for-
tanto, devem ser sempre tratados. ma incidental, o que é mais freqüente pela ecografia quan-
A cirurgia consiste em fazer ligadura arterial, proxi- do se investigam pacientes com hipertensão arterial, e o
mal e distal ou aneurismorrafia. Antes, é imprescindível aneurisma é posteriormente comprovado por tomografia
se observar como ficará a circulação intestinal após o pin- (Fig. 30-13) ou arteriografia seletiva (Fig. 30-14).52
çamento do vaso, a fim de se poder decidir pela necessida- Com relação ao tratamento, dependerá da localiza-
de de restauração do fluxo por meio de enxerto ou não, ção e do diâmetro do aneurisma, bem como se há hiper-
ou mesmo de necessidade de ressecção intestinal segmen- tensão arterial associada, perda de função renal ou sinto-
tar. Quando houver necessidade do restabelecimento do mas pela expansão do saco aneurismático. A cirurgia de
fluxo arterial, devemos dar preferência aos enxertos autá- restauração vascular deverá ser proposta, quando o aneu-
risma for volumoso, dissecante ou roto, bem como nos
logos, pelo fato de esses aneurismas serem freqüentemen-
casos de rim único. Poderá ser contemporizado, se a lo-
te de origem infecciosa e por poder existir a necessidade
da ressecção de segmento intestinal no mesmo ato opera- calização for justapélvica e o aneurisma tiver dimensão
tório, aumentando, dessa forma, a chance de infecção. Na menor, pois o tratamento cirúrgico é de complexidade
cirurgia de um aneurisma micótico, outros aneurismas maior e pode, eventualmente, determinar até uma ne-
frectomia.
devem ser procurados, uma vez que o envolvimento de
múltiplos vasos não é incomum.53,54 Já em pacientes com anatomia complexa, devem-se
prever dificuldades técnicas. Sendo o objetivo básico a
--- preservação do rim, poderão ser utilizadas várias alterna-
ANEURISMA DAS ARTÉRIAS RENAIS tivas, como aneurismorrafia, sub;tituição do segmento
aneurismático por enxerto ou plastia da artéria renal
o aneurisma da artéria renal é o segundo em freqüência
com o aproveitamento de parte da parede do próprio
entre os viscerais. Sua prevalência na população geral
aneurisma.59.6o Quando houver lesões múltiplas, a cirur-
pode estar em torno de 0,1%.55Do ponto de vista patoló-
gia poderá ser feita ex-vivo, ou seja, os vasos são secciona-
gico a maioria dos aneurismas de artéria renal está asso-
dos mantendo-se o ureter intacto. As lesões poderão ser
ciada à displasia fibromuscular ou a defeitos da parede
arterial. As outras causas são: a arteriosclerose, o trau- corrigidas fora da cavidade abdominal estando o rim
protegido por hipotermia. No final do procedimento vas-
matismo e a periarterite nodosa.
Muitos trabalhos mostram que há uma predileção
pelo sexo feminino, e são aneurismas comumente encon-
trados entre os 40 e 60 anos.
Quanto à sua localização, 75% envolvem o ramo
Fig.30-13.
principal da artéria renal ou seus primeiros ramos. Em TC abdominal,
torno de 10% a 20% podem ser intra-renais. O aneurisma mostrando volumoso
da artéria renal, se causar estenose, poderá determinar aneurisma da artéria
hipertensão do tipo renovascular, sobretudo se for um renal esquerda, com
6 cm de diâmetro, e
aneurisma de grandes proporções. A literqtura é discor-
uma dissecção na
dante quanto à evolução dos aneurismas renais para a aorta abdominal.
ruptura. Harrow cita ruptura de aneurismas não-calcifi-
cados em 21%, McCarron etal., revendo 126 casos nalite-
ratura, encontraram apenas 6 casos rotos, ou seja,
4,7%.55.57A gravidez pode também colaborar com a evo-
lução do aneurisma da artéria renal para a ruptura, tal
como acontece nos de artéria esplênica, e deve merecer
as mesmas atenções quanto à conduta de tratamento. 58A
ruptura pode manifestar-se por quadro de dor de instala-
ção súbita na região lombar e flanco, podendo difun- Fig.30-14.
Arteriografia seletiva
dir-se até a bolsa escrotal nos homens. O hematoma po- da artéria renal
de permanecer tampo nado por alguns dias até, mas po- esquerda,
de haver uma segunda hemorragia significativa, com evidenciando
mortalidade, se o paciente não for tratado a tempo e com aneurisma próximo
ao hilo renal.
cuidados especiais.
Capítulo 30
:1.
ANEURISMASDASARTÉRIASVISCERAIS

cular, o rim poderá ser reposto na sua posição usual, mas ticos biliares.I,5,7,9,58Na maioria dos casos (80%), situ-
é mais freqüente que seja reimplantado na fossa ilíaca, am-se nos segmentos arteriais extraparenquimatosos e,
um autotransplante. Há, inclusive, relato dessa técnica em 20%, são intraparenquimatosos, mas, quando a causa
realizada por via laparoscópica.6I-63 é traumática, a maioria é situada dentro do parênquima
A ruptura do aneurisma da artéria renal exige cirur- hepático. A artéria hepática comum é a mais atingida,
gia de emergência, pois o percentual de mortalidade, seguida da hepática direita. Mais raramente, são afetadas
quando a ruptura ocorrer na gestação, é de 56% para a a hepática esquerda ou múltiplas artérias. As causas mais
mãe e de 82% para o feto. As dificuldades técnicas são comuns são aterosclerose, infecção e trauma. As menos
muitas, pois dever-se-á fazer a cesariana inicialmente e de freqüentes são periarterite nodosa, necrose cística da mé-
imediato a correção do aneurisma que, geralmente, se li- dia e outros tipos de arteriopatias.34
mita à nefrectomia.64 Quando o aneurisma se situa na ar- Classicamente, sabe-se que a periarterite nodosa se
téria renal direita, a dificuldade cirúrgica é maior, pois caracteriza pelo aparecimento de múltiplos aneurismas de
há as veias cava e renal D que estão em posição anterior. pequeno tamarmo, sendo a artéria hepática acometida em
Em situação de ruptura, a dificuldade será maior ainda, 30% a 60% dos casos.I,7 Esse dado serve como alerta no
pois o hematoma distorce as relações anatômicas, e alte- sentido de se procurar lesões aneurismáticas dessa artéria
rações hemodinâmicas aumentam o risco para os pacien- em pacientes portadores da doença e que apresentem sin-
tes. A dificuldade maior no manejo desses pacientes é tomas. O sintoma mais comum da doença é a dor no qua-
determinada pela ausência de um rim e presença de um drante superior do abdome ou no epigástrio, não relacio-
aneurisma na artéria do rim único. A tática cirúrgica nada com a alimentação. O quadro se toma mais sugestivo
pode consistir em autotransplante na fossa ilíaca, após a quando há aparecimento de icterícia, seja por compressão
correção ex-vivo do aneurisma.57,59,6I-63 das vias biliares, seja por obstrução, seja por coágulos san-
Há outras situações ainda mais complexas, como a guíneos dentro do ducto biliar, ém conseqüência de rup-
demonstrada na Figura 30-15, em que existem múltiplos tura do aneurisma no seu interior. A ruptura do aneuris-
aneurismas de artéria renal, estando situados em posi- ma hepático pode também ser causa de hemorragia diges-
ções diversas, tanto no hilo renal quanto em posição tiva, contínua ou intermitente, quando ocorre no interior
intraparenquimatosa e, por isso, constituem um desafio da via biliar ou, mais raramente, no interior do estômago e
muito especial. do intestino. 1,7,65-67
Assim sendo, a tríade dor no quadrante
-- superior direito do abdome, hemorragia gastrintestinal e
icterícia deve fazer pensar imediatamente em aneurismâ
ANEURISMAS DAS ARTÉRIAS HEPÁTICAS
roto da artéria hepática. 1,5,9,14,24
Os aneurismas das artérias hepáticas ocupam o terceiro DIAGNÓSTICO
lugar em freqüência entre todos os situados em artérias
viscerais. Atingem mais homens do que mulheres, na Por ser uma patologia relativamente rara, desconhecida
proporção de 2:1, e são descritos em pacientes de 10 a 83 mesmo de muitos médicos, com sintomas inespecíficos,
anos. No entanto, uma recente revisão de publicações so- o aneurisma da artéria hepática é de difícil diagnóstico.
bre aneurismas viscerais, num período de 10 anos Nos casos em que ele atinge grandes dimensões e ocorre
(1985-1995), demonstrou que os aneurismas das artérias em pacientes magros, pode-se palpar um tumor abdomi-
hepáticas foram os mais freqüentemente apresentados nal pulsátil e ouvir-se sopro sistólico na sua topografia.
nessa década.25 Tal fato se deve ao uso mais constante da A radiografia simples de abdome pode mostrar cal-
tomografia computadorizada no trauma abdominal e ao cific~ções situadas em posição correspondente ao hipo-
uso freqüente de procedimentos diagnósticos e terapêu- côndrio direito, e a endoscopia digestiva pode demons-
trar compressão da 11!porção duodenal. Podem também
ser encontradas imagens de compressão de vias biliares
extra-hepáticas na colecistografia. A ultra-sonografia,
apesar de ter valor limitado no diagnóstico de aneuris-
mas hepáticos, é um método não-invasivb que pode ser
Fig. 30-15. utilizado no acompanhamento de casos não operados. A
Arteriografia renal tomografia computadorizada também tem seu papel
seletiva mostra 2
nesse diagnóstico. Já a angiografia tem grande valor não
volumosos
aneurismas,
só para o diagnóstico como também para o planejamen-
associados a vários to cirúrgico. Inicialmente, deve ser feito um estudo pano-
outros menores, na râmico da aorta e de seus ramos, e só depois o estudo
mesma paciente. seletivo das artérias hepáticas (Fig. 30-16).32
Seção IV
.TI
ANEURISMASARTERIAIS

Fig. 30-16. Estudo Fig. 30-18. Segmento


seletivo, evidenciando de PTFE interposto na
aneurisma da artéria artéria hepática de
hepática, com colo volumoso aneurisma.
largo, impróprio para Caso da Fig. 30-4.
procedimento (Foto cedida pelo
endovascular. Praf. Roberto Chiesa.)

TRATAMENTO a secção do vaso na parte distal. Se esse refluxo for inten-


so, indica a existência de uma boa circulação colateral,
Numa análise global de todos os aneurismas de artérias
que será suficiente para manter a vitalidade hepática.
hepáticas descritos na literatura entre 1960 e 1970, verifi-
Uma boa opção de tratamento, geralmente, para aneuris-
ca-se que 44% deles se romperam, desencadeando qua-
mas intra-hepáticos, é a embolização percutânea. É im-
dros clínicos extremamente graves.25 Esse fato, por si só,
portante lembrar que aneurismas assim tratados podem
justifica a orientação de indicar cirurgia em todos os
recidivar.13,IS,19,67-84
A ressecção parcial do fígado tam-
casos em que os pacientes apresentam boas condições fí-
bém é o tratamento indicado, quando houver múltiplos
sicas para o. procedimento. No estudo pré-operatório,
aneurismas intra-hepáticos.
impõe-se uma criteriosa avaliação da relação custo/bene-
fício da intervenção, considerando doenças associadas e .,. -
o grau de insuficiência hepática o qual poderá se agravar ANEURISMAS DO TRONCO CELíACO
no período pós-operatório, devido à isquemia a que o
fígado é submetido durante a cirurgia. Os aneurismas do tronco celíaco são pouco freqüentes.
Os 2 tipos de cirurgia mais comumente realizados são Somente 108 casos desses aneurismas haviam sido publi-
a aneurismectomia e a exclusão do aneurisma por meio cados até 1985.70 Representam cerca de 4% de todos os
de ligaduras proximal e distal do vaso. Essas cirurgias só aneurismas esplâncnicos e, em 18% dos casos, existe as-
devem ser realizadas em casos em que o aneurisma estiver sociação com aneurisma da aorta abdominal.7I A média
situado proximalmente à emergência da artéria gastro- de idade é de 52,3 anos, e a incidência é a mesma para
duodenal, que, então, servirá de via colateral de circula- homens e mulheres.7o
ção para o fígado, através da artéria pancreática, que é o A causa mais comum desses aneurismas é a ateroscle-
ramo da mesentérica superior. Antes de praticar qualquer
rose e a degeneração da camada média causada por de-
uma dessas intervenções, o cirurgião deverá observar o
feitos de formação. Outras causas também referidas são
aspecto do fígado após o pinçamento arterial. Nos casos
o trauma, a fibrodisplasia, a dilatação pós-estenótica e o
em que o fígado se torna cianótico, a ligadura é con- aneurisma micótico.7o
tra-indicada, devido ao risco de falência hepática aguda, e
Muitos pacientes são assintomáticos ou apresentam
o cirurgião deve realizar a ressecção do aneurisma com a
reconstrução vascular, por meio de anastompse entre os 2 apenas sintomas vagos e não suficientemente característi-
cotos ou pela interposição de segmentos de veia autóloga cos. O diagnóstico nesses casos, em geral, é feito por um
(Fig. 30-17), ou de prótese de PTFE (Fig. 30-18). Raios {{de abdome, que pode exibir calcificação na pro-
Outro dado utilizado para analisar a circulação hepá- jeção do tronco celíaco, por ultra-sonografia, tomografia
tica é o refluxo de sangue após o pinçamento proximal e computadorizada, ressonância magnética ou mesmo
arteriografia, que são realizadas com outros propósitos
(Fig.30-19).7,15,72
A dor abdominal (não característica) é o sintoma
mais comum e afeta 61 % dos pacientes. A dor pode lem-
brar a da angina abdominal em 21% dos pacientes, apre-
sentando também náuseas e vômitos.
Um tumor palpável está presente em 29% dos casos,
sendo pouco freqüente o sangramento para o tubo diges-
Fig. 30-17. Aspecto
cirúrgico com o tivo.72A ruptura do aneurisma é estimada em cerca de
aneurisma da artéria 13% e, quando ocorre a mortalidade, chega a 40% (Fig.
hepática isolado. 30_20).70,72
Capítulo 30
ANEURISMASDASARTÉRIASVISCERAIS

--- -
ANEURISMA DE ARTÉRIA GÁSTRICA OU
GASTROEPIPLÓICA
- -_.-
Em geral, esses aneurismas são solitários, respondendo
por cerca de 4% de todos os aneurismas esplâncnicos. O
aneurisma é dez vezes mais freqüente que o da gastroepi-
plóica, e os homens são mais acometidos que as mulhe-
Fig.30-19. res na proporção de 3:1. Podem originar-se de uma dege-
Aneurisma do tronco neração da média, e a aterosclerose, quando ocorre, é
. celíaco, sintomático, considerada mais como um processo secundário.35,53.72.75
englobando o início Como, na maioria das vezes, o primeiro sintoma é a
da artéria esplênica.
hemorragia, de forma geral, a intervenção, nesses aneu-
rismas, estará sempre indicada quando se consegue o
diagnóstico, que geralmente é feito durante uma investi-
gação angiográfica padronizada para hemorragia diges-
tiva, quando a endoscopia não identifica o local do san-
gramento.76.77 Nessa circunstância, com identificação do
local de sangramento durante o exame angiográfico,
procede-se de imediato ao tratamento, normalmente
com embolização do aneurisma.78 O tratamento cirúrgi-
co se constitui na simples ressecção do aneurisma.
O uso da angiografia no estúdo de hematêmese e de
Fig. 30-20. melena não explicadas tem mostrado que essa patologia
~
Aneurisma do tronco é mais freqüente do que se pensa.77
~I celíaco.
--.- ----
ANEURISMAS DAS ARTÉRIAS JEJUNAL,
A mortalidade para os aneurismas tratados de forma ILEAL E CÓLICA
eletiva é de 5,3%.70No tratamento eletivo, quase sempre
a via abdominal é adequada, mas, quando o aneurisma é Sao aneurismas extremamente raros e muitos são diag-
de grande tamanho ou em certos casos de ruptura, a via nosticados após a ruptura no mesentério, no intestino,
toracoabdominal pode ser a mais adequada. Uma sim- ou na cavidade peritoneal. Ocasionalmente, são encon-
ples ligadura da artéria aneurismática, com bons resulta- trados em exames angiográficos ou em necropsias.35
dos, já foi relatada, mas é necessário que exista uma cir- A mulher e o homem são igualmente afetados. O
culação colateral adequada, devendo seI,' considerado diâmetro desses aneurismas varia de poucos milímetros
um tratamento de exceção. A cirurgia mais adequada é a a 1 cm, e 90% deles são solitários.72.76
remoção do aneurisma, com a restauração da circulação, A causa mais comum são os defeitos adquiridos da
usando-se enxerto de veia autóloga ou sintético. média (Fig. 30-21). A aterosclerose, que ocorre em 20%
desses aneurismas, parece mais um fator secundário do
ANEURISMAS DE MESENTÉRICA INFERIOR que realmente o fator causal. Os êmbolos sépticos e a
perfarterite nodosa já foram relatados como causas. 76
São aneurismas muito raros, e apenas 5 casos tinham
sido relatados na literatura até 1983.35,73.74
Sendo o número de casos tão pequeno, fica difícil
definir uma conduta. Entretanto, tendo em vista a evolu-
ção dos outros aneurismas viscerais e levando em conta a
facilidade técnica da cirurgia, ela estará indicada sempre
que o estado do paciente for compatível com a cirurgia
proposta. De forma geral, a mesentérica inferior pode
ser ligada, e o aneurisma, removido, sobretudo se as arté-
rias ilíacas internas estiverem permeáveis. Mas, havendo Fig. 30-21.
alguma dúvida sobre a eficácia da circulação colateral a Aneurismada artéria
continuidade arterial deverá ser restaurada.25 cólica média.
Seção IV
ANEURISMASARTERIAIS

Esses aneurismas são, em geral, assintomáticos, sen- ligadura da artéria por fora do saco, pois isso exigiria
do normalmente diagnosticados quando se pesquisa uma dissecção em território acometido de importante
uma possível causa de hemorragia intestinaI.76 A hemor- processo inflamatório. Quando o aneurisma envolve
ragia em geral dá-se para a luz do intestino, sendo para o pseudocistos pancreáticos, alguma forma de drenagem
peritônio livre ou para dentro do mesentério muito pou- deve ser aventada. A escolha entre uma drenagem inter-
co comum.72,76,79 na ou externa depende do achado operatório.
A ruptura ocorre em cerca de 30% e, nessa eventuali- Quando as condições do paciente não forem compa-
dade, a mortalidade fica em torno de 20%.72,76,79 tíveis com a cirurgia, uma embolização por cateterismo
A cirurgia, que se limita à ligadura das artérias proxi- pode ser realizada.8I,83,84
mal e distal, com ou sem ressecção de aneurisma, fica
muito facilitada por uma precisa localização da lesão, fei-
ta por arteriografia prévia. Embolizações por cateter em CONCLUSÃO
aneurisma de artéria cólica foram relatadas.80,8I
Os aneurismas das artérias viscerais são raros e têm ris-
cos de ruptura com alto índice de mortalidade. Os esplê-
ANEURISMAS DAS ARTÉRIAS
nicos e os renais devem ser tratados, geralmente, quando
GASTRODUODENAL, PANCREÁTICA E excedem o tamarlho de 2 em ou quando estão em expan-
PANCREATICODUODENAL são, quando são sintomáticos e quando são descobertos
em mulheres em idade gestacional. Os hepáticos e os de
Entre todos os aneurismas esplâncnicos, o da pancreati- outras localizações, quando são diagnosticados, devem
coduodenal e da pancreática representam 2%, e os da ser tratados logo que possível, independente do tamanho
gastroduodenal, 1,5%. Os homens são mais acometidos e da etiologia, porque a sua progressão para a ruptura é
que as rilUlheres, numa proporção de 4:1.72,76A causa imprevisível e tem uma alto índice de mortalidade.5
mais freqüente é a lesão arterial por um pseudocisto pan-
O diagnóstico, na maioria das vezes, é incidental e,
creático adjacente. A degeneração da média e o trauma dentre todos os exames de imagem não-invasivos que se
são causas menos comuns, e a aterosclerose é sempre um
pode utilizar para o diagnóstico, o mais eficaz é a tomo-
processo secundário e não causal. A maioria desses paci-
grafia computadorizada, mas a angiografia digital conti-
entes tem queixas não características, como "ondas epi-
nua sendo o padrão-ouro para o estudo detalhado, que é
gástricas" e desconforto, que podem estar associadas à
parte do armamentário endovascular muito utilizado
doença pancreática concomitante. Cerca de 50% dos
para o tratamento com embolização.
aneurismas gastroduodenais e 30% dos pancreaticoduo-
Existem várias possibilidades de tratamento: cirúrgi-
denais estão associados a uma pancreatite.76
co aberto; videolaparoscópico e endovascular, com vá-
A ruptura pode se dar para o estômago, duodeno,
rias técnicas disponíveis que foram descritas, represen-
vias biliares ou ducto pancreático. A ruptura tem sido
tando, atualmente, grande ferramenta intervencionista
relatada em mais da metade dos casos publicados.72,82 A
minimamente invasiva. A conduta expectante ou obser-
ruptura também pode ocorrer para a cavidade perito-
vação é a indicada para os aneurismas pequenos, ou em
neal, mas com menor freqüência.72,83
situações clínicas especiais.
A tomografia computadorizada e a ressonância mag-
nética são muito úteis na identificação dess~s aneurismas Cabe, portanto, ao Cirurgião Vascular indicar a me-
e também para diagnóstico da ruptura e da doença pan- lhor 0rção terapêutica dentre essas discutidas, que ofere-
creática que pode estar associada.72,76 A arteriografia ça a maior segurança, o menor risco e o melhor resulta-
também é muito útil no diagnóstico e para a orientação do para o paciente.
do cirurgião.8o,82,83
Para os aneurismas rotos, a indicação cirúrgica é ób-
--
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
via, mas mesmo para aqueles não complicados, a cirurgia
estará sempre indicada, a não ser que as condições do 1. Shanley CJ, Shah NL, Messina LM. Common splanchnic artery
paciente não permitam. aneurysms: splenic, hepatic and celiac. Ann Vasc Surg
1996; 10:315-321.
Em geral, os aneurismas pancreaticoduodenais ou
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pancreáticos são mais difíceis de serem operados do que
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aqueles de artéria gastroduodenal. 76Os pseudo-aneuris- 1988;45:386-389.
mas conseqüentes a processos de pancreatite são mais 3. Barrett JM, Van Hooydonk JE, Boehm FH. Pregnancy related
bem tratados com a ligadura da artéria por dentro do sa- rupture of arterial aneurysms. Obstet Gynecol Surg
co aneurismático, desde que é muito difícil e arriscada a 1982;37:557-566. .

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