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Centro Universitário do Triângulo

Graduação em Psicologia
Disciplina Sistemas e Teorias em Psicologia
Prof. Me. Willian Araujo Moura

Condições Socioculturais para o aparecimento da Psicologia


no Século XIX

Darwin, Galton e suas Contribuições


O Auto Retrato
Mário Quintana
No retrato que me faço
- traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança
Terminado por um louco!
Eu, Etiqueta
Carlos Drummond de Andrade
Em minha calça está grudado um itinerante, global no corpo que desiste
nome escravo da matéria anunciada. de ser veste e sandália de uma
que não é meu de batismo ou de Estou, estou na moda. essência
cartório, É doce estar na moda, ainda que a tão viva, independente,
um nome... estranho. moda que moda ou suborno algum a
Meu blusão traz lembrete de seja negar minha identidade, compromete.
bebida trocá-la por mil, açambarcando Onde terei jogado fora
que jamais pus na boca, nesta vida. todas as marcas registradas, meu gosto e capacidade de
Em minha camiseta, a marca de todos os logotipos do mercado. escolher,
cigarro Com que inocência demito-me de minhas idiossincrasias tão pessoais,
que não fumo, até hoje não fumei. ser tão minhas que no rosto se
Minhas meias falam de produto eu que antes era e me sabia espelhavam,
que nunca experimentei tão diverso de outros, tão mim- e cada gesto, cada olhar,
mas são comunicados a meus pés. mesmo, cada vinco da roupa
Meu tênis é proclama colorido ser pensante, sentinte e solidário resumia uma estética?
de alguma coisa não provada com outros seres diversos e Hoje sou costurado, sou tecido,
por este provador de longa idade. conscientes sou gravado de forma universal,
Meu lenço, meu relógio, meu de sua humana, invencível saio da estamparia, não de casa,
chaveiro, condição. da vitrina me tiram, recolocam,
minha gravata e cinto e escova e Agora sou anúncio, objeto pulsante mas objeto
pente, ora vulgar ora bizarro, que se oferece como signo de
meu copo, minha xícara, em língua nacional ou em qualquer outros
minha toalha de banho e sabonete, língua objetos estáticos, tarifados.
meu isso, meu aquilo, (qualquer, principalmente). Por me ostentar assim, tão
desde a cabeça ao bico dos E nisto me comprazo, tiro glória orgulhoso
sapatos, de minha anulação. de ser não eu, mas artigo industrial,
são mensagens, Não sou - vê lá - anúncio peço que meu nome retifiquem.
letras falantes, contratado. Já não me convém o título de
gritos visuais, Eu é que mimosamente pago homem.
ordens de uso, abuso, reincidência, para anunciar, para vender Meu nome novo é coisa.
costume, hábito, premência, em bares festas praias pérgulas Eu sou a coisa, coisamente.
indispensabilidade, piscinas,
e fazem de mim homem-anúncio e bem à vista exibo esta etiqueta
O que é psicologia?
O que é o “eu”?
Podemos dizer que a psicologia é o
estudo do eu? Do self? Do
indivíduo?
Psicologia ou Psicologias?
• Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos:
• O vendedor usa de “psicologia” para vender seu produto;
• A pessoa usa de “psicologia” para atrair alguém que a interessa;
• O amigo que tem “psicologia” para entender as pessoas.

PSICOLOGIA DO SENSO
COMUM

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


Filosófico

Empírico /
Teológico /
Senso
Religioso
Comum

Conhecimento

Científico Arte
Religião
Esoterismo /
Misticismo Conselho

Regressão
Adestramento Achismo e opinião

Psicologia
Psiquiatria
Receita pronta

Só estudo de
Benevolência transtorno e Autoajuda
doença

Somente Missão / dom /


consultório e divã Coaching
vocação
Diversa Ciência Profissão Saúde

Baseada em Orientada e
Pautada por
evidências com fiscalizada pelo
princípios éticos
rigor científico Sistema Conselhos

Acolhimento e Psicologia Potencialidade e


não julgamento possibilidade

Processo e (des)
(re) construção Questionamento
Contextualizada (refere-
se a um tempo e
Passível a
Empatia e espaço; a uma
equívocos e
alteridade sociedade e cultura)
mudanças

Ensino Pesquisa Extensão Gestão


Psicólogo NÃO lê mente

Psicólogo utiliza técnicas éticas e


científicas para seu trabalho

Psicólogo NÃO analisa as pessoas o


tempo todo
Psicólogo tem vida social e não
trabalha o tempo todo.

Nem todo psicólogo baseia-se na


perspectiva de análise
Psicólogo NÃO se baseia na
experiência isolada da pessoa
O psicólogo considera o histórico, o
ambiente e os aspectos
socioculturais

Psicólogos NÃO são sempre


calmos, equilibrados e sem
problemas
Psicólogos também sentem,
falham e estão em seu processo
próprio de desenvolvimento
Psicólogo É GENTE
Psicologia
A psicologia Psicologia não foca
objetiva oferecer somente no
suporte a saúde patológico, mas no
mental, autoconhecimento,
promovendo o na autonomia e no
máximo de Emoções bem-estar
qualidade de vida e
bem-estar às
pessoas

Cognições Comportamentos
A psicologia como ciência independente
• Só em época muito recente surgiu o conceito de ciência tal como
hoje é de uso corrente, e foi ainda mais recentemente que
começaram a ser elaborados os primeiros projetos de psicologia
como ciência independente.

• Só a partir da segunda metade do século XIX surgiram pessoas que


pretendiam reservar aos estudos psicológicos um território próprio,
cujo êxito se fez notar pelos discípulos e espaços conquistados nas
instituições de ensino universitário e de pesquisa.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• O processo de criar uma nova ciência é muito complexo: é preciso
mostrar que ela tem um objeto próprio e métodos adequados ao
estudo desse objeto, que ela é, enfim, capaz de firmar-se como uma
ciência independe das outras áreas de saber.

• Os temas da psicologia estavam dispersos entre especulações


filosóficas, ciências físicas e biológicas e ciências sociais. O que
restaria para uma psicologia como ciência independente? Nada!

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Auguste Comte (1798-1857) – No seu sistema de ciências não cabe
uma “psicologia” entre as “ciências biológicas” e as “sociais”.
• O objeto de estudo “psiquê”, entendida como mente, não se apresenta como
um objeto observável, não se enquadrando nas exigências do positivismo.

• De qualquer maneira, a psicologia está aí com suas pretensões de


autonomia e, independentemente da conclusão a que cheguemos, é
importante tentar compreender as origens e as implicações da
existência dessa disciplina, por mais caótica que ela seja ou nos
pareça.

(Figueiredo & Santi, 2008)


Precondições socioculturais para
o aparecimento da psicologia
como ciência no século XIX
A experiência da subjetividade privatizada
• Condições para que exista um interesse em conhecer cientificamente
o “psicológico”:
• Uma experiência muito clara de subjetividade privada; e
• A experiência da crise dessa subjetividade.

• Ter uma experiência da subjetividade privatizada bem nítida é para


nós muito fácil e natural: todos sentem que parte de suas
experiências é íntima, que mais ninguém tem acesso a ela.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• A possibilidade de mantermos nossa privacidade é altamente
valorizada por nós e relacionada ao nosso desejo de sermos livres
para decidir nosso destino.

• Ainda, temos a sensação de que aquilo que estamos vivendo nunca


foi vivido antes por mais ninguém, de que a nossa vida é única, de
que o que sentimos e pensamos é totalmente original e quase
incomunicável.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• As formas de pensarmos e sentirmos nossa própria existência não são
universais.

• Essa experiência de sermos sujeitos capazes de decisões, sentimentos


e emoções privados só se desenvolve, se aprofunda e se difunde
amplamente numa sociedade com determinadas características.

• As grandes irrupções da experiência subjetiva privatizada ocorrem


em situações de crise social, quando uma tradição cultural (valores,
normas e costumes) é contestada e surgem novas formas de vida.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• A perda de referências coletivas, como a religião, a “raça”, o “povo”,
a família ou uma lei confiável obriga o homem a construir referências
internas.

• Surge um espaço para a experiência da subjetividade privatizada:


quem sou eu, como sinto, o que desejo, o que considero justo e
adequado?

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Esse movimento na direção de um aprofundamento da experiência
subjetiva privatizada não foi um processo linear pelo qual tenham
passado todas as sociedades humanas.

• Pode-se dizer que ao longo dos séculos, as experiências da


subjetividade privatizada foram se tornando cada vez mais
determinantes da consciência que os homens têm da sua própria
existência.
• Imagem generalizada de nós mesmos: seres moralmente autônomos, capazes
de iniciativas, dotados de sentimentos e desejos próprios.
• Resistimos à ideia de que não temos controle de nossas vidas.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• A crença na liberdade dos homens é um dos elementos básicos da
democracia e da sociedade de consumo.

• Em alguns aspectos importantes, essa imagem é completamente


ilusória, e uma das tarefas da psicologia será talvez a de revelar essa
ilusão.

(Figueiredo & Santi, 2008)


Constituição e desdobramentos da noção de
subjetividade na Modernidade
• Nosso modo atual de entendermos nossa experiência como
indivíduos autônomos não é natural nem necessário, mas sim parte
de um movimento de amplas transformações pelas quais o ser
humano tem passado em sua história, sobretudo na Modernidade.

• De forma simplificada, podemos dizer que nossa noção de


subjetividade privada data aproximadamente dos últimos três
séculos: da passagem do Renascimento para a Idade Moderna.
• O sujeito moderno teria se constituído nessa passagem e sua crise viria a se
consumar no final do século XIX.
(Figueiredo & Santi, 2008)
• Renascimento: surgiu uma experiência de perda de referência com a
falência do mundo medieval e a abertura do Ocidente ao restante do
mundo.

• Valorização cada vez maior do “homem”, que passou a ser pensado


como centro do mundo.

• O mundo passou a ser considerado cada vez menos como sagrado e


mais como objeto de uso – movido por forças mecânica – a serviço
dos homens.
• Essa transformação é parte essencial da origem da ciência moderna.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• A grande valorização e confiança no Homem, geradas pela concepção
de que ele é o centro do mundo e livre para seguir seu caminho,
fazem nascer o humanismo moderno.

• Toda a falta de referências absolutas fez renascer também uma


escola da filosofia grega chamada ceticismo.
• Os céticos achavam impossível que pudéssemos obter algum conhecimento
seguro sobre o mundo: a qualquer afirmação pode ser oposta outra de igual
valor; qualquer impressão que tenhamos pode ser um engano de nossos
órgãos dos sentidos.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• A descrença cética, somada ao grande individualismo nascente,
acabaram por produzir uma reação que, na verdade, assumiu duas
feições bem distintas: a reação racionalista e a reação empirista.

• A maior parte dos estudos sobre a modernidade costumam


identificar como seu marco de início o pensamento de Descartes, o
fundador do racionalismo moderno.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Descartes pretende estabelecer as condições de possibilidade para
que obtenhamos um conhecimento seguro de verdade.
• Sua intenção era submeter toda e qualquer ideia, impressão ou crença a uma
dúvida metódica; somente as ideias absolutamente claras e distintas
poderiam ser consideradas verdadeiras e servir de base para a filosofia e as
ciências.
• Cogito: “penso, logo existo”.

• Descartes é tomado como inaugurador da modernidade no sentido


em que ele marca o fim de todo um conjunto de crenças que
fundamentavam o conhecimento.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• O homem moderno não busca a verdade num além – a verdade
agora significa adquirir uma representação correta do mundo, sendo
essa representação interna.
• A verdade reside no homem, dá-se para ele.

• O filósofo Francis Bacon, contemporâneo de Descartes, pode ser


apresentado como o fundador do moderno empirismo.
• Sua preocupação também era a de estabelecer bases seguras para o
conhecimento válido e, também como Descartes, ele as procurava no campo
das experiências subjetivas.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Para Bacon, a razão deixada em total liberdade pode-se tornar tão
especulativa e delirante que nada do que produza seja digno de
crédito.

• É necessário dar à razão uma base nas experiências dos sentidos, na


percepção, desde que essa percepção tenha sido purificada, liberada
de erros e ilusões a que está submetida no cotidiano.

• Bacon e Descartes são grandes pioneiros na preocupação com o


Método na produção de conhecimentos filosóficos e científicos que
marcou toda a Modernidade ocidental desde o século XVII até os dias
de hoje.
(Figueiredo & Santi, 2008)
A crise da Modernidade e da subjetividade
moderna em algumas de suas expressões
filosóficas
• A crença de que o homem pode atingir a verdade absoluta e
indubitável, desde que siga estritamente os processos do Método
correto, seja ele o racional de Descartes ou o empírico de Bacon,
acabou por ser criticada no século seguinte no interior do Iluminismo,
o movimento filosófico que, no século XVIII, representava o que havia
de mais avançado e progressista no terreno das ideias.

• No século XVIII, a quase onipotência do “eu”, da razão universal e do


método seguro afirmado no século XVII foi criticado.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Começou a se colocar em xeque a soberania do “eu”, seja o “eu” da
razão, seja o “eu” dos sentidos purificados.

• Hume chega a negar que o “eu” seria algo estável e substancial que
permaneça idêntico a si mesmo ao longo da diversidade de suas
experiências.
• Ele (o “eu”) seria muito mais o efeito de suas experiências do que o senhor de
suas experiências.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Kant afirma que o homem só tem acesso às coisas tais como se
apresentam para ele – “fenômeno”.

• A única forma de produzirmos conhecimento válido é nos


restringirmos ao campo dos fenômenos.

• Tudo que é “conhecível” repousa na subjetividade humana, a


subjetividade transcendental e universal do Homem.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Para Kant, a soberania do sujeito, sua autonomia, é uma tarefa
supremamente desejável – é a meta de todo esforço ético – e ainda
possível, mas é sempre muito problemática porque as necessidades,
os desejos e os impulsos nunca poderão ser definitivamente
sossegados pela razão.

• Além da autocrítica iluminista, o século XVIII trouxe outras formas de


crítica às pretensões totalizantes do “eu”, da razão universal e do
Método.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• O Romantismo nasceu no final do século XVIII exatamente como uma
crítica ao Iluminismo e, mais particularmente, à vertente racionalista
do Iluminismo.
• À ideia cartesiana de que o homem é essencialmente um ser racional é
contraposta a ideia de que o homem é um ser passional e sensível.

• A razão é destronada, o Método feito em pedaços e o “eu” racional e


metódico é deslocado do centro da subjetividade e tomado agora
como uma superfície mais ou menos ilusória que encobre algo
profundo e obscuro.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• O Romantismo é um movimento essencial na crise do sujeito
moderno pela destituição do “eu” de seu lugar privilegiado de
senhor, de soberano.

• Além disso, o Romantismo traz a experiência de que o homem possui


níveis de profundidade que ele mesmo, no entanto, desconhece.

• Paradoxalmente, há uma grande valorização da individualidade e da


intimidade.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Ao longo do século XIX, afirmou-se a partir de diversas fontes a
deposição do “eu” de seu lugar de privilegiado.
• Marx: o comportamento do ser humano é determinado por leis que não pode
controlar e que frequentemente nem mesmo conhece.
• Darwin: o ser humano é um ser natural como os demais, não possuindo uma
origem distinta (à imagem e semelhança de Deus).
• Nietzsche: ideias de “eu” ou “sujeito” são interpretadas como ficções.

(Figueiredo & Santi, 2008)


Sistema mercantil e individualização
• Em quase todas as sociedades, há alguma atividade de troca
comercial, principalmente em termos de trocas entre comunidades.

• A produção é efetuada para atender às necessidades de quem


produz; cada comunidade procura ser autossuficiente.

• Esse quadro muda quando se desenvolve uma produção para a troca,


em que cada um passa a produzir aquilo a que está mais capacitado.
• Motivo para a experiência da subjetividade privatizada: cada um deve ser
capaz de identificar a sua especialidade, aperfeiçoar-se nela, identificar-se
nela.
(Figueiredo & Santi, 2008)
• Os produtos produzidos para a troca devem ser levados ao mercado.
• O mercado cria a ideia de que o lucro de um pode ser o prejuízo do outro e
que cada um deve defender seus próprios interesses.

• Quando o mercado toma conta de todas as relações humanas, isto é,


quando todas as relações entre os homens se dão por meio de
compra e venda de produtos elaborados por produtores particulares,
universaliza-se a experiência de que os interesses de cada produtor
são para ele mais importantes do que os interesses da sociedade
mercantil como um todo e assim deve ser.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• O mercado de produtos não é tudo: há também o mercado de
trabalho.

• Para que existam trabalhadores necessitados de garantir a própria


sobrevivência, alugando sua força de trabalho, é preciso que eles
tenham perdido suas condições mais antigas de vida e produção.

• Ruptura dos vínculos que nas sociedades tradicionais pré-capitalistas


uniam os produtores uns aos outros e todos aos meios de produção.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Sociedade capitalista – liberdade do trabalhador ir ao mercado de
trabalho arranjar uma ocupação.
• Ao ganhar essa liberdade, sujeito perde uma porção de apoios e meios de
sustentação.
• Em vez de sociedades produtivas, temos indivíduos livres produzindo ou
vendendo sua força de trabalho a proprietários privados.
• Seu destino, pelo menos teoricamente, passa a depender dele, de sua
capacidade, de sua determinação, de sua força de vontade, de sua
inteligência, de sua esperteza, de sua arte de vencer, de passar por cima dos
concorrentes, de chegar primeiro, de sua sorte.

(Figueiredo & Santi, 2008)


Ideologia liberal iluminista, romantismo e
regime disciplinar
• Nos séculos XVIII e XIX desenvolveram-se na cultura ocidental duas
formas de pensamento que refletem muito as experiências de
subjetividade privatizada numa sociedade mercantil em pleno
processo de desenvolvimento: a ideologia Liberal Iluminista e o
Romantismo.

• De acordo com a ideologia Liberal, cujas principais ideias


manifestaram-se na Revolução Francesa, os homens são iguais em
capacidade e devem ser iguais em direito. Sendo assim, todos devem
ser livres.
(Figueiredo & Santi, 2008)
• No Romantismo do início do século XIX, reconhece-se a diferença
entre os indivíduos, e a liberdade é exatamente a liberdade de ser
diferente.

• Tanto na ideologia Liberal com no Romantismo se expressam os


problemas da experiência subjetiva privatizada:
• Segundo a Ideologia Liberal, todos são iguais, mas têm interesses próprios;
• Segundo o Romantismo, cada um é diferente, mas sente saudade do tempo
em que todos viviam comunitariamente e espera pelo retorno desse tempo.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• É na busca de reduzir os “inconvenientes” da liberdade, das
diferenças singulares, etc. que se foi instalando e sendo aceito entre
nós, ocidentais e modernos, um verdadeiro sistema de docilização,
de domesticação dos indivíduos, sistema que coloca em riso tanto as
ideias liberais com as românticas.

• Esse sistema que envolve a elaboração e aplicação de técnicas


“científicas” de controle social e individual será chamado de Regime
Disciplinar ou, mais simplesmente, “Disciplinas” e pode ser
encontrado facilmente nas práticas de todas as grandes agências
sociais.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Embora essas Disciplinas reduzam em muito efetivamente o campo
de exercício das subjetividades privatizadas, impondo padrões e
controles muito fortes às condutas, à imaginação, aos sentimentos,
aos desejos e às emoções individuais, faz parte de seu modo de
funcionamento dissimular-se, esconder-se, deixando-nos crer que
somos cada vez mais livres, profundos e singulares.

(Figueiredo & Santi, 2008)


A crise da subjetividade privatizada ou a
decepção necessária
• Além da ideia de experiência da subjetividade privatizada, outra
condição para que surja projetos de psicologia científica é que essa
experiência entre em crise.

• A subjetividade privatizada entre em crise quando se descobre que a


liberdade e a diferença são, em grande medida, ilusões, quando se
descobre a presença forte, mas sempre disfarçada, das Disciplinas em
todas as esferas da vida, inclusive nas mais íntimas e profundas.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Os interesses particulares levam a conflitos; a liberdade para cada um
tratar de seu negócio desencadeou crises, lutas e guerras.

• Trabalhadores no século XIX – foram descobrindo que se


defenderiam melhor unidos em sindicatos e partidos do que
sozinhos.

• Para combater os movimentos operários reivindicatórios e defender


os interesses dos produtores de uma nação contra os das outras, a
administração pública cresceu, cresceram o Estado, a burocracia, as
forças armadas – Como ficava a ideia de liberdade individual?

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Ainda no século XIX, cresce a grande indústria baseada na produção
padronizada e mecanizada, cresce o consumo de massa para os
produtos industriais – Onde ficava a ideia de que cada um é único e
diferente dos demais?

• Quando os homens passam pelas experiências de uma subjetividade


privatizada e ao mesmo tempo percebem que não são tão livres e tão
singulares quanto imaginavam, ficam perplexos. Põem-se a pensar
acerca das causas e do significado de tudo que fazem, sentem e
pensam sobre eles mesmos. Os tempos estão ficando maduros para
uma psicologia científica.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Ao lado dessa necessidade que emerge no contexto das existências
individuais, de se saber o que somos, quem somos, como somos, por
que agimos de uma ou outra maneira, surge para o Estado a
necessidade de recorrer a práticas de previsão e controle.

• Há o reconhecimento de que existe um sujeito individual e a


esperança de que é possível padroniza-lo segundo uma disciplina,
normatizá-lo, coloca-lo, enfim, a serviço da ordem social.

• Surge a demanda por uma psicologia aplicada, principalmente nos


campos da educação e do trabalho.

(Figueiredo & Santi, 2008)


Síntese
• A experiência da subjetividade privatizada, em que nós nos
reconhecemos como livres, diferentes, capazes de experimentar
sentimentos, ter desejos e pensar independentemente dos demais
membros da sociedade é uma precondição para que se formulem
projetos de psicologia científica.

• Embora para nós essas experiências sejam óbvias, os estudos


históricos e antropológicos revelam que nem sempre é assim em
outras sociedades e culturas.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Outra precondição para a formulação de projetos de psicologia
científica é a experiência de que não somo assim tão livres e tão
diferentes quanto imaginávamos.

• É a suspeita de que há outras “forças invisíveis” nos controlando e de


que não conseguimos espontaneamente ver com clareza as causas e
os significados de nossas ações que nos leva a investigar o que há por
detrás das aparências.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• Essa experiências se generaliza com o colapso da ideologia Liberal
Iluminista e do Romantismo que, cada um à sua maneira, mantinham
inquestionável a noção de subjetividade individual, embora já se
encaminhassem para posições muito críticas a respeito.

• Esse colapso está associado ao desenvolvimento e ao domínio


crescente do Regime Disciplinar e se expressa em elaborações
filosóficas que põem em questão a soberania, a autonomia e a
identidade dos indivíduos.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• A suspeita de que a liberdade e a singularidade dos indivíduos são
ilusórias, a qual emerge com o declínio das crenças liberais e
românticas, abre espaço, finalmente, para os projetos de previsão e
controle científicos do comportamento individual.

• Esse será um dos principais objetivos da psicologia como ciência a


serviço das Disciplinas. Mas, abre espaço, também, para
problematizações teóricas e práticas das subjetividades totalmente
avessas ao regime disciplinar e que alimentarão muitas das escolas
contemporâneas do pensamento psicológico e, principalmente, suas
incidências na clínica e na educação.

(Figueiredo & Santi, 2008)


Contribuições de Darwin e Galton
(Marx & Hillix, 1998)
• Descartes iniciou uma corrente que voltou a favorecer a pesquisa
psicológica ou, pelo menos, humana. Um sistema previsível é um
sistema investigável.

• Descartes considerou o corpo de um homem como uma máquina,


cujos movimentos e conduta são previsíveis se soubermos o que
“entra” nela.

• Pôs a salvo o livre arbítrio do homem ao atribuir-lhe a posse de uma


alma, que era livre e decidia as ações do corpo.

(Marx & Hillix, 1998)


• A perspectiva determinista e naturalista do homem ainda encontrava
grande resistência quando Charles Darwin propôs a sua teoria da
evolução orgânica.

• A evolução, propriamente dita, não era uma ideia nova, mas Darwin
escorou a teoria evolucionária com tantas provas que a comunidade
científica viu-se tomada de assalto.

• A evolução restabeleceu a continuidade entre o homem e os animais


que tinha sido negada por Descartes, quando atribuiu uma alma
exclusivamente ao homem.

(Marx & Hillix, 1998)


• Também entrou em contradição com o relato bíblico da criação. A
oposição, teologicamente baseada, provocou uma controvérsia
acalorada que persistiu até o século XX e foi ouvida no mundo inteiro.

• Hoje, pouco se contesta já a validade e correção dos princípios gerais


da teoria evolucionária. A evolução é um fato para a comunidade
científica, se não para todas as comunidades leigas.

• A sua aceitação e ratificação tornou mais aceitável a ciência da


psicologia, ao tornar mais plausível do que nunca o ponto de vista de
que o comportamento humano está sujeito a leis.

(Marx & Hillix, 1998)


• Também fez do estudo de animais uma parte importante dessa
ciência; a continuidade entre animais e homens sustenta a convicção
de que o conhecimento obtido no estudo de animais terá significação
para o comportamento dos homens.

• O comportamento do homem passou a ser considerado sujeito a leis


e uma ciência da psicologia era possível. Entretanto, a psicologia
também herdou certos problemas que se desenvolveram no seio da
ciência e da filosofia, antes dela ganhar a sua independência.

(Marx & Hillix, 1998)


• Alguns dos problemas transmitidos à psicologia estavam
equacionados de tal maneira que era impossível resolvê-los
cientificamente; mas, apesar de tudo, estimularam a pesquisa, na
medida em se fizeram tentativas para encontrar-lhes respostas
aceitáveis.

• Quatro áreas problemáticas: o problema mente-corpo, a fisiologia da


percepção, o problema do tempo de reação e as questões
relacionadas com as diferenças individuais.

(Marx & Hillix, 1998)


• Dois campos de estudo que permaneceram extremamente
importantes até ao presente são o das diferenças individuais e o da
estatística, a qual foi inicialmente adotada e desenvolvida pela
psicologia como um método para estudar aquelas diferenças.

• Sir Francis Galton foi um pioneiro no desenvolvimento tanto da


estatística como do estudo das diferenças individuais.

(Marx & Hillix, 1998)


• Galton desenvolveu a técnica de correlação, em ligação com os seus
estudos de hereditariedade.

• Foi levado a isso pela observação de que as crianças, tipicamente,


regressam no sentido da média relativa a seus pais, em
características tais como a altura e a inteligência; isto é, os filhos de
pais extremamente altos ou baixos, brilhantes ou estúpidos (sic),
tendem a estar mais perto das normas, nessas características, do que
os seus pais.

(Marx & Hillix, 1998)


• A correlação é simbolizada por r, de regressão, e Galton é lembrado
pela sua percepção pioneira da grande importância da estatística.

• O principal fator subentendido no desenvolvimento desses interesses


foi a teoria darwiniana da evolução. Galton, que era primo de Darwin,
interessou-se pessoalmente num problema de ordem prática: o
aperfeiçoamento da raça através da eugenia.

• Para praticar a manipulação genética, ele necessitava saber como é


que os traços eram herdados.

(Marx & Hillix, 1998)


• O ajustamento do organismo ao meio ambiente como condição
determinante de sua sobrevivência ou não-sobrevivência tornou-se
de interesse primordial para a psicologia.

• O fermento intelectual produzido pela teoria da evolução levantou


questões que suscitaram diretamente o interesse de Galton nas
diferenças individuais, nos testes mentais, na avaliação estatística das
diferenças e à florescente escola do funcionalismo nos Estados
Unidos.

(Marx & Hillix, 1998)


A prática científica e a
emergência da psicologia como
ciência
Conhecimento científico: privacidade e
diferença
• Nas práticas científicas modernas a posição do sujeito que produz o
conhecimento é bastante contraditória.
• Por um lado, o cientista sente-se com o direito de lidar com os fenômenos
naturais para conhece-los, desvendar seus mistérios, dominá-los, manipulá-
los em experimentos bem controlados, etc. – A ciência moderna está baseada
na suposição de que o homem é o senhor que tem o poder e o direito de
colocar a natureza a seu serviço.
• Por outro lado, os procedimentos científicos exigem que os cientistas sejam
capazes de “objetividade”, isto é, que deixem de lado seus preconceitos, seus
sentimentos e seus desejos para obterem um conhecimento “verdadeiro”.

(Figueiredo & Santi, 2008)


• As práticas científicas contribuíram para o reconhecimento, entre os
próprios cientistas, com seus ideias de objetividade, de que há
fatores subjetivos e individuais permanentemente em ação.

• Para a ciência progredir, seria necessário conhecer e controlar essa


subjetividade e essas diferenças individuais, e é assim que o homem,
o sujeito individual, deixa de ser apenas um possível pesquisador
para vir a se tornar um possível objeto da ciência.

(Figueiredo & Santi, 2008)


Psicologia e conhecimento
científico
Filosófico

Empírico /
Teológico /
Senso
Religioso
Comum

Conhecimento

Científico Arte
• Especulações e reflexões acerca
Filosofia da origem do mundo e do
significado da existência humana

• Conjunto de pensamentos sobre


Religião a origem do homem, seus
mistérios, princípios morais

• Expressão do conhecimento que


Arte traduz a emoção e a sensibilidade

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Cotidiano
• Vivências empíricas
• Conhecimento que vamos acumulando em
nosso cotidiano
• Conhecimento intuitivo, espontâneo, de
Senso tentativas e erros
• Do hábito à tradição – passa de geração

Comum para geração


• Integra de modo precário o conhecimento
humano – senso comum apropria-se da
ciência
• Ex.: banalização dos termos psicológicos:
recalque, histérica, complexado e
traumatizado.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Reflexiva
• Procura compreender, elucidar e alterar
o cotidiano
• Estudo sistematizado
• Conjunto de conhecimentos sobre fatos
ou aspectos da realidade (objeto de

Ciência estudo), expresso por meio de uma


linguagem precisa e rigorosa
• Conhecimento obtido de maneira
programada, sistemática e controlada,
para que se permita a verificação de sua
validade
• O saber pode ser transmitido, verificado,
utilizado e desenvolvido

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade
aproximam-se e se afastam:
• Aproximam-se porque a ciência se refere ao real;
• Afastam-se porque a ciência abstrai a realidade para compreendê-
la melhor, ou seja, a ciência afasta-se da realidade,
transformando-a em objeto de investigação — o que permite a
construção do conhecimento científico sobre o real.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A produção científica possibilita sua continuidade: um novo
conhecimento é produzido sempre a partir de algo anteriormente
desenvolvido.

• Negam-se, reafirmam-se, descobrem-se novos aspectos, e assim a


ciência avança.
• Nesse sentido, a ciência caracteriza-se como um processo.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


Conhecimento científico

Métodos e Processo
Objeto Linguagem
técnicas cumulativo do Objetividade
específico rigorosa
específicas conhecimento

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


A psicologia científica
• Objeto de estudo da psicologia
• Estuda o ser humano – campo das ciências humanas
• Quem é o ser humano?
• Diversidade de perspectivas e visões:
• Comportamentalista – o objeto de estudo da psicologia é o comportamento
humano;
• Psicanalista – o objeto de estudo da psicologia é o inconsciente;
• O objeto pode ser a consciências, as emoções, a personalidade, o
desenvolvimento, a aprendizagem, etc.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato de este
campo do conhecimento ter-se constituído como área do
conhecimento científico só muito recentemente (final do século XIX),
a despeito de existir há muito tempo na Filosofia enquanto
preocupação humana.

• Quando uma ciência é muito nova, ela não teve tempo ainda de
apresentar teorias acabadas e definitivas, que permitam determinar
com maior precisão seu objeto de estudo.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Um outro motivo que contribui para dificultar uma clara definição de
objeto da Psicologia é o fato de o cientista — o pesquisador —
confundir-se com o objeto a ser pesquisado.

• No sentido mais amplo, o objeto de estudo da Psicologia é o homem,


e neste caso o pesquisador está inserido na categoria a ser estudada.

• Assim, a concepção de homem que o pesquisador traz consigo


“contamina” inevitavelmente a sua pesquisa em Psicologia.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Há diferentes concepções de homem entre os cientistas (na medida
em que estudos filosóficos e teológicos e mesmo doutrinas políticas
acabam definindo o homem à sua maneira, e o cientista acaba
necessariamente se vinculando a uma destas crenças):
• Homem natural, puro, que foi corrompido pela sociedade
• Homem como ser abstrato, com características definidas e que não
mudam, a despeito das condições sociais a que esteja submetido.
• Homem como ser datado, determinado pelas condições históricas e
sociais que o cercam

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Conforme a definição de homem adotada,
teremos uma concepção de objeto que combine
com ela.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A psicologia estuda os “diversos homens” concebidos pelo conjunto
social. Assim, a Psicologia hoje se caracteriza por uma diversidade de
objetos de estudo.

• Essa diversidade de objetos justifica-se porque os fenômenos


psicológicos são tão diversos, que não podem ser acessíveis ao
mesmo nível de observação e, portanto, não podem ser sujeitos aos
mesmos padrões de descrição, medida, controle e interpretação.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• O objeto da Psicologia deveria ser aquele que reunisse condições de
aglutinar uma ampla variedade de fenômenos psicológicos.

• Ao estabelecer o padrão de descrição, medida, controle e


interpretação, o psicólogo está também estabelecendo um
determinado critério de seleção dos fenômenos psicológicos e assim
definindo um objeto.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A Psicologia colabora com o estudo da subjetividade: é essa a sua
forma particular, específica de contribuição para a compreensão da
totalidade da vida humana.

• Nossa matéria-prima, portanto, é o homem em todas as suas


expressões, as visíveis (nosso comportamento) e as invisíveis (nossos
sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as
genéricas (porque somos todos assim) — é o homem-corpo, homem-
pensamento, homem-afeto, homem-ação e tudo isso está sintetizado
no termo subjetividade.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A subjetividade é:

• O mundo de ideias, significados e emoções construído


internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas
vivências e de sua constituição biológica;

• Fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• O mundo social e cultural, conforme vai sendo experienciado por nós,
possibilita-nos a construção de um mundo interior.

• São diversos fatores que se combinam e nos levam a uma vivência


muito particular. Nós atribuímos sentido a essas experiências e
vamos nos constituindo a cada dia.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A síntese que a subjetividade representa não é inata ao indivíduo.

• Ele a constrói aos poucos, apropriando-se do material do mundo


social e cultural, e faz isso ao mesmo tempo em que atua sobre este
mundo, ou seja, é ativo na sua construção.

• Criando e transformando o mundo (externo), o homem constrói e


transforma a si próprio.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A subjetividade não só é fabricada, produzida, moldada, mas também
é automoldável, ou seja, o homem pode promover novas formas de
subjetividade, recusando-se ao assujeitamento e à perda de memória
imposta pela fugacidade da informação; recusando a massificação
que exclui e estigmatiza o diferente, a aceitação social condicionada
ao consumo, a medicalização do sofrimento.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Estudar a subjetividade, nos tempos atuais, é tentar compreender a
produção de novos modos de ser, isto é, as subjetividades
emergentes, cuja fabricação é social e histórica.

• O estudo dessas novas subjetividades vai desvendando as relações do


cultural, do político, do econômico e do histórico na produção do
mais íntimo e do mais observável no homem — aquilo que o captura,
submete-o ou mobiliza-o para pensar e agir sobre os efeitos das
formas de submissão da subjetividade

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


“O importante e bonito do mundo é isso: que as
pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas, mas que elas vão sempre mudando.
Afinam e desafinam”.

Guimarães Rosa
“Grande Sertão: Veredas”

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• As pessoas não estão sempre iguais. Ainda não foram terminadas. Na
verdade, as pessoas nunca serão terminadas, pois estarão sempre se
modificando.

Mas por quê? Como?

• Simplesmente porque a subjetividade — este mundo interno


construído pelo homem como síntese de suas determinações — não
cessará de se modificar, pois as experiências sempre trarão novos
elementos para renová-la.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A Psicologia é um ramo das Ciências Humanas e a sua identidade, isto
é, aquilo que a diferencia, pode ser obtida considerando-se que cada
um desses ramos enfoca de maneira particular o objeto homem,
construindo conhecimentos distintos e específicos a respeito dele.

• Assim, com o estudo da subjetividade, a Psicologia contribui para a


compreensão da totalidade da vida humana.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• É claro que a forma de se abordar a subjetividade, e mesmo a forma
de concebê-la, dependerá da concepção de homem adotada pelas
diferentes escolas psicológicas.

• No momento, pelo pouco desenvolvimento da Psicologia, essas


escolas acabam formulando um conhecimento fragmentário de uma
única e mesma totalidade — o ser humano: o seu mundo interno e as
suas manifestações.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


A psicologia e o misticismo
• A Psicologia, como área da Ciência, vem se desenvolvendo na história
desde 1875, quando Wilhelm Wundt (1832-1926) criou o primeiro
Laboratório de Experimentos em Psicofisiologia, em Leipzig, na
Alemanha.

• Esse marco histórico significou o desligamento das ideias psicológicas


de ideias abstratas e espiritualistas, que defendiam a existência de
uma alma nos homens, a qual seria a sede da vida psíquica.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A partir daí, a história da Psicologia é de fortalecimento de seu
vínculo com os princípios e métodos científicos.

• A ideia de um homem autônomo, capaz de se responsabilizar pelo


seu próprio desenvolvimento e pela sua vida, também vai se
fortalecendo a partir desse momento.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A Psicologia ainda não consegue explicar muitas coisas sobre o
homem, pois é uma área da Ciência relativamente nova (com pouco
mais de cem anos).

• Além disso, sabe-se que a Ciência não esgotará o que há para se


conhecer, pois a realidade está em permanente movimento e novas
perguntas surgem a cada dia, o homem está em movimento e em
transformação, colocando também novas perguntas para a
Psicologia.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Alguns dos “desconhecimentos” da Psicologia têm levado os
psicólogos a buscarem respostas em outros campos do saber
humano.

• Com isso, algumas práticas não-psicológicas têm sido associadas às


práticas psicológicas.
• O tarô, a astrologia, a quiromancia, a numerologia, entre outras práticas
adivinhatórias e/ou místicas, têm sido associadas ao fazer e ao saber
psicológico.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Estas não são práticas da Psicologia. São outras formas de saber — de
saber sobre o humano — que não podem ser confundidas com a
Psicologia, pois:
• não são construídas no campo da Ciência, a partir do método e dos princípios
científicos;
• estão em oposição aos princípios da Psicologia, que vê não só o homem como
ser autônomo, que se desenvolve e se constitui a partir de sua relação com o
mundo social e cultural, mas também o homem sem destino pronto, que
constrói seu futuro ao agir sobre o mundo. As práticas místicas têm
pressupostos opostos, pois nelas há a concepção de destino, da existência de
forças que não estão no campo do humano e do mundo material.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• É possível estudar as práticas adivinhatórias e descobrir o que elas
têm de eficiente, de acordo com os critérios científicos, e aprimorar
tais aspectos para um uso eficiente e racional.

• Nem sempre esses critérios científicos têm sido observados e alguns


psicólogos acabam por usar tais práticas sem o devido cuidado e
observação.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Esses casos, seja daquele que usa a prática mística como
acompanhamento psicológico, seja o do psicólogo que usa desse
expediente sem critério científico comprovado, são previstos pelo
código de ética dos psicólogos e, por isso, passíveis de punição.
• No primeiro caso, como prática de charlatanismo e, no segundo, como
desempenho inadequado da profissão.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• E preciso reconhecer que pessoas que acreditam em práticas
adivinhatórias ou místicas têm o direito de consultar e de serem
consultadas, e também temos de reconhecer, nós cientistas, que não
sabemos muita coisa sobre o psiquismo humano e que, muitas vezes,
novas descobertas seguem estranhos e insondáveis caminhos.

• O verdadeiro cientista deve ter os olhos abertos para o novo.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Enfim, nosso alerta aqui vai em dois sentidos:

• Não se deve misturar a Psicologia com práticas adivinhatórias ou


místicas que estão baseadas em pressupostos diversos e opostos ao da
Psicologia.

• É preciso estar aberto para o novo, atento a novos conhecimentos que,


tendo sido estudados no âmbito da Ciência, podem trazer novos
saberes, ou seja, novas respostas para perguntas ainda não
respondidas.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A Ciência, como uma das formas de saber do homem, tem seu campo de
atuação com métodos e princípios próprios, mas, como forma de saber,
não está pronta e nunca estará.

• A Ciência é, na verdade, um processo permanente de conhecimento do


mundo, um exercício de diálogo entre o pensamento humano e a
realidade, em todos os seus aspectos.

• Nesse sentido, tudo o que ocorre com o homem é motivo de interesse


para a Ciência, que deve aplicar seus princípios e métodos para construir
respostas.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


A psicologia dos psicólogos
Hilton Japiassu. A psicologia dos psicólogos. 2. ed. Rio de Janeiro, Imago, 1983. p. 24-6.

(...) somos obrigados a renunciar à pretensão de determinar para as


múltiplas investigações psicológicas um objeto (um campo de fatos)
unitário e coerente. Consequentemente, e por sólidas razões, não
somente históricas mas doutrinárias, torna-se impossível à Psicologia
assegurar-se uma unidade metodológica. (...)

Por isso, talvez fosse preferível falarmos, ao invés de “psicologia”, em


“ciências psicológicas”.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


(...) nenhum cientista, consequentemente, nenhum psicólogo, poder considerar-
se um cientista “puro”. Como qualquer cientista, todo psicólogo está
comprometido com uma posição filosófica ou ideológica. Este fato tem uma
importância fundamental nos problemas estudados pela Psicologia. Esta não é a
mesma em todos os países. Depende dos meios culturais. Suas variações
dependem da diversidade das escolas e das ideologias. Os problemas psicológicos
se diversificam segundo as correntes ideológicas ou filosóficas venham reforçar
esta ou aquela orientação na pesquisa, consigam ocultar ou impedir este ou
aquele aspecto dos domínios a serem explorados ou consigam esterilizar esta ou
aquela pesquisa, opondo-se implícita ou explicitamente a seu desenvolvimento.
(...)

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


Surgimento da Psicologia como ciência

• A história da Psicologia no Ocidente está ligada, em cada momento


histórico, às exigências de conhecimento da humanidade, às demais
áreas do conhecimento humano e aos novos desafios colocados pela
realidade econômica e social e pela insaciável necessidade do homem
de compreender a si mesmo.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Grécia – Filosofia começou a especular em torno do homem e da sua
interioridade.

Psyché = alma
Psicologia Estudo da alma
Logos = razão

Alma ou espírito
Parte imaterial do ser humano
Pensamento, sentimentos de
amor e ódio, irracionalidade,
desejo, sensação e percepção.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Império Romano e Idade Média – Cristianismo

• Renascimento:
• Valorização do homem
• Início da sistematização do conhecimento científico — começam a se
estabelecer métodos e regras básicas para a construção do
conhecimento científico
• Cartesianismo – dualismo mente-corpo

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A origem da Psicologia científica acontece no século XIX.
• Neste século, destaca-se o papel da ciência, e seu avanço torna-se
necessário.
• O crescimento da nova ordem econômica — o capitalismo — traz
consigo o processo de industrialização, para o qual a ciência deveria dar
respostas e soluções práticas no campo da técnica.
• Há um impulso muito grande para o desenvolvimento da ciência,
enquanto um sustentáculo da nova ordem econômica e social, e dos
problemas colocados por ela.
• Racionalidade

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Estavam dadas as condições materiais para o desenvolvimento da
ciência moderna:
• O conhecimento como fruto da razão;
• A possibilidade de desvendar a Natureza e suas leis pela observação
rigorosa e objetiva.

• A busca de um método rigoroso, que possibilitasse a observação para


a descoberta dessas leis, apontava a necessidade de os homens
construírem novas formas de produzir conhecimento — que não era
mais estabelecido pelos dogmas religiosos e/ou pela autoridade
eclesial. Sentiu-se necessidade da ciência.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Nesse período, surgem homens como Hegel, que demonstra a
importância da História para a compreensão do homem, e Darwin,
que enterra o antropocentrismo com sua tese evolucionista.

• A ciência avança tanto, que se torna um referencial para a visão de


mundo.

• A partir dessa época, a noção de verdade passa, necessariamente, a


contar com o aval da ciência.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• A própria Filosofia adapta-se aos novos tempos, com o surgimento do
Positivismo de Augusto Comte:
• Necessidade de maior rigor científico na construção dos conhecimentos
nas ciências humanas;
• Método da ciência natural, a Física, como modelo de construção de
conhecimento;
• Objetividade, neutralidade científica, exatidão e generalização.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Em meados do século XIX, os problemas e temas da Psicologia, até
então estudados exclusivamente pelos filósofos, passam a ser,
também, investigados pela Fisiologia e pela Neurofisiologia em
particular.

• Os avanços que atingiram também essa área levaram à formulação


de teorias sobre o sistema nervoso central, demonstrando que o
pensamento, as percepções e os sentimentos humanos eram
produtos desse sistema.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• É preciso lembrar que esse mundo capitalista trouxe consigo a
máquina, que passou a determinar a forma de ver o mundo. O
mundo como uma máquina; o mundo como um relógio. Todo o
universo passou a ser pensado como uma máquina, isto é, podemos
conhecer o seu funcionamento, a sua regularidade, o que nos
possibilita o conhecimento de suas leis.

• Esta forma de pensar atingiu também as ciências do homem. Para se


conhecer o psiquismo humano passa a ser necessário compreender
os mecanismos e o funcionamento da máquina de pensar do homem
— seu cérebro. Assim, a Psicologia começa a trilhar os caminhos da
Fisiologia, Neuroanatomia e Neurofisiologia.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Por volta de 1860, temos a formulação de uma importante lei no
campo da Psicofísica. É a Lei de Fechner-Weber, que estabelece a
relação entre estímulo e sensação, permitindo a sua mensuração.

• Essa lei teve muita importância na história da Psicologia porque


instaurou a possibilidade de medida do fenômeno psicológico, o que
até então era considerado impossível.
• Os fenômenos psicológicos vão adquirindo status de científicos,
porque, para a concepção de ciência da época, o que não era
mensurável não era passível de estudo científico.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Outra contribuição muito importante nesses primórdios da Psicologia
científica é a de Wilhelm Wundt (1832-1926):
• Criação na Universidade de Leipzig, na Alemanha, do primeiro laboratório
para realizar experimentos na área de Psicofisiologia;
• É considerado o pai da Psicologia moderna ou científica;
• Desenvolve a concepção do paralelismo psicofísico, segundo a qual aos
fenômenos mentais correspondem fenômenos orgânicos;
• Cria o método da instrospecção
• Nesse método, o experimentador pergunta ao sujeito, especialmente treinado
para a auto-observação, os caminhos percorridos no seu interior por uma
estimulação sensorial

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


A psicologia científica
• O status de ciência da psicologia é obtido à medida que se “liberta”
da Filosofia e atrai novos estudiosos e pesquisadores, que passam a:
• Definir seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psíquica, a
consciência);
• Delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de
conhecimento, como a Filosofia e a Fisiologia;
• Formular métodos de estudo desse objeto;
• Formular teorias enquanto um corpo consistente de conhecimentos na
área.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• As teorias do início da psicologia científica devem obedecer aos
critérios básicos da metodologia científica:
• Deve-se buscar a neutralidade do conhecimento científico;
• Os dados devem ser passíveis de comprovação;
• O conhecimento deve ser cumulativo e servir de ponto de partida para
outros experimentos e pesquisas na área.

• Os pioneiros da Psicologia procuraram atingir tais critérios e formular


teorias.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Embora a Psicologia científica tenha nascido na Alemanha, é nos
Estados Unidos que ela encontra campo para um rápido crescimento,
resultado do grande avanço econômico que colocou os Estados
Unidos na vanguarda do sistema capitalista.

• É ali que surgem as primeiras abordagens ou escolas em Psicologia, as


quais deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente:
• Funcionalismo, de William James (1842-1910);
• Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927);
• Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949).

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


Estruturalismo Associacionismo
Funcionalismo
- W. James - Wundt e Titchner - Edward L. Thorndike
- Responder “o que - Compreender os - Thorndike formulou
fazem os homens” e aspectos estruturais da uma primeira teoria de
“por que o fazem” consciência – estados aprendizagem na
- Busca compreender o elementares da Psicologia
funcionamento da consciência como - Aprendizagem se dá
consciência estruturas do sistema por um processo de
nervoso central associação de ideias –
- Objeto de estudo:
consciência - Objeto de estudo: das mais simples às
consciência mais complexas
- Método de
observação: - Método de - Lei do Efeito – todo
introspeccionismo observação: comportamento de um
introspeccionismo organismo vivo tende a
- Conhecimentos se repetir se nós
psicológicos produzidos recompensarmos
são eminentemente (efeito) o organismo
experimentais, isto é, assim que este emitir o
produzidos a partir do comportamento.
laboratório.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


As principais teorias da psicologia no século
XX
• A Psicologia enquanto um ramo da Filosofia estudava a alma.

• A Psicologia científica nasce quando, de acordo com os padrões de


ciência do século XIX, Wundt preconiza a Psicologia “sem alma”.

• O conhecimento tido como científico passa então a ser aquele


produzido em laboratórios, com o uso de instrumentos de
observação e medição.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• Se antes a Psicologia estava subordinada à Filosofia, a partir daquele
século ela passa a ligar-se a especialidades da Medicina, que
assumira, antes da Psicologia, o método de investigação das ciências
naturais como critério rigoroso de construção do conhecimento.

• Essa Psicologia científica, que se constituiu de três escolas —


Associacionismo, Estruturalismo e Funcionalismo —, foi substituída,
no século XX, por novas teorias.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


• As três mais importantes tendências teóricas da Psicologia no século
XX são:

Behaviorismo
• Nasce com Watson e tem um desenvolvimento grande nos Estados Unidos, em função de suas
aplicações práticas, tornou-se importante por ter definido o fato psicológico, de modo concreto, a
partir da noção de comportamento (behavior)

Gestalt
• Surge como uma negação da fragmentação das ações e processos humanos, realizada pelas
tendências da Psicologia científica do século 19, postulando a necessidade de se compreender o
homem como uma totalidade

Psicanálise
• Nasce com Freud, na Áustria, a partir da prática médica, recupera para a Psicologia a importância da
afetividade e postula o inconsciente como objeto de estudo, quebrando a tradição da Psicologia
como ciência da consciência e da razão

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008)


Métodos de investigação e pesquisa em
psicologia

• Os psicólogos – assim como os cientistas em outras disciplinas –


enfrentam o desafio de propor questões apropriadas e respondê-las
adequadamente utilizando o método científico.

• O método científico é a abordagem usada pelos psicólogos para


adquirir sistematicamente conhecimento e compreensão sobre o
comportamento e outros fenômenos de interesse.

(FELDMAN, 2015)
• O método científico é a abordagem que os psicólogos utilizam para
entender o comportamento.

• O método científico consiste em quatro passos principais:


• (1) identificar questões de interesse;
• (2) formular uma explicação;
• (3) realizar pesquisa destinada a apoiar ou refutar a explicação;
• (4) comunicar as descobertas.

(FELDMAN, 2015)
FIGURA 1 - O método científico, que abrange o processo de identificar, formular e responder questões, é usado pelos psicólogos, e por pesquisadores de todas as
outras disciplinas científicas, para chegar a uma compreensão sobre o mundo.

(FELDMAN, 2015)
• Para testar uma hipótese, os pesquisadores devem formular uma
definição operacional, que traduz os conceitos abstratos da hipótese
nos procedimentos reais usados no estudo.

• Que papel as teorias e hipóteses desempenham na pesquisa


psicológica?
• A pesquisa em psicologia é orientada por teorias (amplas explicações e
previsões sobre fenômenos de interesse) e hipóteses (previsões
baseadas em teorias enunciadas de modo que lhes permita serem
testadas).

(FELDMAN, 2015)
• Que métodos de pesquisa os psicólogos utilizam?

• A pesquisa de arquivo usa registros existentes, tais como jornais


antigos ou outros documentos, para testar uma hipótese.
• Na observação naturalista, o investigador atua principalmente como
observador, não fazendo qualquer alteração em uma situação que
ocorre de forma natural.

(FELDMAN, 2015)
• Na pesquisa de levantamento, as pessoas respondem a uma série de
perguntas sobre seu comportamento, seus pensamentos ou suas
atitudes.
• O estudo de caso é uma entrevista em profundidade e análise de uma
pessoa ou grupo.
• Os métodos de pesquisa descritiva utilizam técnicas de correlação, que
descrevem a associação entre variáveis, mas não podem determinar
relações de causa e efeito.

(FELDMAN, 2015)
(FELDMAN, 2015)
• Como os psicólogos estabelecem relações de causa e efeito nos
estudos de pesquisa?
• Em um experimento formal, a relação entre variáveis é investigada
produzindo-se deliberadamente uma mudança – chamada de manipulação
experimental – em uma variável e observando-se alterações na outra
variável.
• Em um experimento, ao menos dois grupos devem ser comparados para
avaliar as relações de causa e efeito. O grupo que recebeu o tratamento (o
procedimento especial concebido pelo experimentador) é o grupo
experimental; o segundo grupo (o qual não recebe qualquer tratamento) é o
grupo-controle. Também podem existir vários grupos experimentais, cada um
dos quais submetido a um processo diferente e depois comparado com os
outros.

(FELDMAN, 2015)
• A variável que experimentadores manipulam é a variável independente.
A variável que eles medem e esperam que mude como resultado da
manipulação da variável independente é chamada de variável
dependente.
• Em um experimento formal, os participantes devem ser designados
aleatoriamente para as condições de tratamento, de modo que as
características dos participantes sejam distribuídas uniformemente
entre as diferentes condições.
• Os psicólogos usam testes estatísticos para determinar se os resultados
da investigação são significativos.

(FELDMAN, 2015)
Referências bibliográficas
Bock, A. M. B., Furtado, O., & Teixeira, M. L. T. (2008). Psicologias. Saraiva.

Feldman, R. S. (2015). Introdução à psicologia. AMGH.

Figueiredo, L. C. M., & Santi, P. R. (2008). Psicologia, uma (nova) introdução:


Uma visão histórica da psicologia como ciência (3. ed.). EDUC.

Marx, M. H., & Hillix, W. A. (1998). Sistemas e teorias em psicologia. Editora


Cultrix.

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