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COLABORADORESE
REVISORES
/REVISORES
INTRODUÇÃO
Já as SCA com elevação do segmento ST, também conhecida como infarto agudo do
miocárdio com supra desnivelamento de ST, tem como característica a elevação (nova) de ST
no ponto J (o ponto J é a junção entre o final do QRS e o ST), > 1 mm, em pelo menos duas ou
mais derivações contíguas (em todas as derivações, exceto V2-V3/ No caso de V2-V3, a
definição de supra de ST é: elevação do ST > 2mm em homens ou > 1,5 mm em mulheres).
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• ANGINA INSTÁVEL: • IAM com supra de ST:
Dor torácica de etiologia isquêmica cardíaca Dor torácica de etiologia isquêmica cardíaca
+ marcadores de necrose miocárdica normais. + marcadores de necrose miocárdica alterados
+ eletrocardiograma com supra do segmento ST.
EPIDEMIOLOGIA
FISIOPATOLOGIA
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suprimento de oxigênio e a necessidade metabólica. Assim, uma oclusão coronariana
incompleta ou intermitente (suprimento de oxigênio ainda que não basal) prolonga esse período,
porém, a taquicardia e aumento do tônus simpático (aumento da necessidade metabólica) o
abreviam. A restauração do fluxo não necessariamente promove a restauração da função celular
de forma imediata, é a disfunção pós-isquêmica conhecida como miocárdio atordoado.
Em geral, essa isquemia é causada por trombose e/ou vasoespasmo sobre uma placa
aterosclerótica. A maior parte dos eventos é causada por rotura súbita e formação de trombo
sobre placas vulneráveis, inflamadas, ricas em lipídios e com capa fibrosa delgada. Uma porção
menor está associada à erosão da placa aterosclerótica. Existe um padrão dinâmico de trombose
e trombólise simultaneamente, associadas à vasoespasmo, o que pode causar obstrução do fluxo
intermitente e embolização distal.
ETIOLOGIA
Os IAM são causados por oclusões agudas nas coronárias epicárdicas. As três principais
(CX, DA e CD) possuem frequência semelhante de acometimento, cada uma respondendo por
cerca de 1/3 dos casos. A oclusão no tronco da coronária esquerda, entidade quase sempre fatal,
causa menos de 5% dos IAM, e em 5-10% dos casos a coronariografia é normal.
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(angina instável/IAMSST), ao passo que rupturas mais profundas (maior exposição dos
conteúdos fibrinogênicos intraplaca) originam os trombos―vermelhos‖ (coágulos de fibrina)
causadores do IAMST. Em <5% dos casos a oclusão coronariana aguda é secundaria a
processos patológicos outros que não à aterotrombose. As principais etiologias deste grupo são:
espasmo coronariano, dissecção coronariana, síndrome do anticorpo antifosfolipídio, síndromes
trombofílicas, trauma coronário e outros.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito com base no tripé: quadro clínico (anamnese e exame físico),
alterações eletrocardiográficas e elevação dos marcadores bioquímicos de necrose
miocárdica. Segundo a V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do
Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST, pode- se estabelecer o
diagnóstico de IAM se houver:
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QUADRO CLÍNICO
Embora a apresentação clínica de pacientes com isquemia miocárdica aguda possa ser
muito diversa, cerca de 85% dos pacientes apresentam dor torácica como sintoma
predominante.
A dor precordial pode apresentar-se com intensidade leve, moderada, mas na maioria
dos pacientes, tem característica extremamente intensa e dura geralmente mais que 30 minutos.
Durante a avaliação inicial, pode-se encontrar quatro formas de apresentação. São elas:
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anginosa e há fortes indícios de outros diagnósticos.
Em certos pacientes o IAM pode se manifestar com dor ―atípica‖ (não anginosa) ou
mesmo sem qualquer queixa álgica (somente ―equivalentes anginosos‖, isto é, consequências
de uma isquemia miocárdica grave). São exemplos clássicos de manifestações clinicas em tal
contexto: dor torácica em queimação (em ―facada), dispepsia (epigastralgia + náuseas e
vômitos), déficit neurológico focal (AVE ou AIT), choque cardiogênico indolor, edema agudo
de pulmão e morte súbita (geralmente por fibrilação ventricular).
ELETROCARDIOGRAMA
Todo paciente que dê entrada na emergência com quadro sugestivo de SCA deve ter um
ECG de 12 derivações solicitado. O exame eletrocardiográfico deve ser realizado idealmente
em menos de 10 minutos da apresentação à emergência e é o centro do processo decisório inicial
em pacientes com suspeita de infarto agudo do miocárdio. Em pacientes com sintomas
sugestivos, a elevação do segmento ST tem especificidade de 91% e sensibilidade de 46% para
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diagnóstico de infarto agudo do miocárdio. A mortalidade aumenta com o número de derivações
no eletrocardiograma (ECG) com supradesnível de ST. Como o ECG pode ser inespecífico nas
primeiras horas, é importante avaliar traçados seriados em curto período de tempo (5-10 min),
se o paciente permanecer sintomático.
A medida da CK-MB atividade eleva-se em 4-6 horas após o início dos sintomas, com
pico em torno de 18 horas, e normaliza-se entre 48-72 horas. Possui uma sensibilidade
diagnóstica de 93% após 12 horas do início dos sintomas, porém é pouco sensível para o
diagnóstico nas primeiras 6 horas de evolução. Não se pode fazer ou afastar diagnóstico com
uma dosagem isolada, o diagnóstico é feito através da curva. Há casos de falso-positivo com
outras doenças cárdicas como miopericardite e não cardíacas como lesão muscular extensa,
sendo a CK-MB mais específica por ser encontrada predominantemente no coração.
As troponinas são proteínas presentes nos filamentos finos dos músculos estriados,
formando um complexo com três polipeptídeos: a troponina C, a troponina I e a troponina T. A
troponina I e T são as mais específicas e detectam áreas menores. Elevam-se entre 4-8 horas
após o início dos sintomas, com pico entre 36-72 horas e normalização entre 5-14 dias.
Permitindo assim, o diagnóstico tardio. Apresentam a mesma sensibilidade diagnóstica do que
a CK-MB entre 12-48 horas de evolução, mas em portadores de doenças que diminuem a
especificidade da CK-MB elas são indispensáveis.
Os marcadores de lesão miocárdica em pacientes com IAM são úteis para estimar a
extensão do infarto, prognóstico, diagnóstico de reperfusão coronária à beira do leito e para o
diagnóstico de reinfarto.
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EXAMES COMPLEMENTARES
• Glicemia: pode estar elevada mesmo sem história prévia de diabetes, o qual retorna ao
normal em semanas. Em pacientes diabéticos a riscos de cetoacidose.
• Eletrólitos
• Testes de coagulação
• Perfil lipídico: colesterol total, LDL, HDL e triglicérides devem ser solicitados na
manhã seguinte à chegada do paciente ao PS, em jejum.
TRATAMENTO
Tratamento Medicamentoso
• Tratamento da dor: a dor do IAMST costuma ser excruciante. Ela estimula o tônus
adrenérgico, o que aumenta a demanda miocárdica de oxigênio. Por conta disso, a dor deve ser
prontamente tratada, e o analgésico de escolha é a morfina, que, por sua vez, é útil para o alívio
da dor precordial; também pode diminuir a pré-carga, a sensação de dispneia, e tem um efeito
sedativo que é útil em pacientes com SCA. Diminui o consumo de oxigênio pelo miocárdio
isquêmico, provocado pela ativação do sistema nervoso simpático. É importante ressaltar que a
morfina NÃO está associada à redução da mortalidade. Este opióide pode ser feito EV com
dose inicial de 2 a 4 mg (EV em bolus), repetindo, se necessário, a cada 5-15 minutos (com
monitorização da PA). Cuidado especial deve ser tomado, pois a morfina pode causar depressão
respiratória, vômitos e hipotensão; por isso deve ser evitada em pacientes com hipotensão ou
hipovolemia; infarto de ventrículo direito (efeito venodilatador da morfina); confusos ou
bradipneicos. Em caso de não disponibilidade ou hipersensibilidade ao fármaco, o sulfato de
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morfina pode ser substituído pelo sulfato de meperidina, em doses fracionadas de 20-50 mg. Os
anti-inflamatórios não esteroides (AINES) não devem ser utilizados na vigência de IAM e, se
o paciente que apresentar este diagnóstico fizer uso crônico de AINES, o medicamento deve
ser suspenso.
Como possui propriedade vasodilatadora, a morfina é contraindicada nos casos de IAM
de parede inferior (D2, D3 e aVF). Há risco aumentado de IAM de VD e/ou bradicardia
reflexiva no IAM inferior. O uso de morfina pode levar ao choque cardiogênico em tais
situações (o debito de VD é diretamente dependente da pré-carga, isto é, do retorno venoso).
Administração de oxigênio (O2 a 100%, a 2-4 L/min a 100%, por meio de cateter nasal):
portadores de SCA podem ficar hipoxêmicos devido à congestão pulmonar (secundária à
disfunção sistólica e/ou diastólica do VE). Caso satO2 <90%, é mandatório fornecer oxigênio
suplementar. Nesses pacientes está indicada a dosagem seriada da gasometria arterial. A
oxigenoterapia não deve durar mais que 3-6 horas, sob pena de aumentar a resistência vascular
periferica e a pressão arterial, reduzindo o DC.
• Manejo da Dor: O controle da dor deve ser obtido através de nitrato (isordil 5mg,
sublingual; pode ser feito até 2 vezes, a cada 5min) e se não houver melhorara, pode-se iniciar
a morfina. É importante destacar que não deve ser realizada administração de nitrato em
pacientes com infarto de ventrículo direito ou em uso de inibidores da fosfodiesterase 5 (por
exemplo: taladafil)! A morfina é benéfica para o miocárdio, porque vasodilata e diminui a
resistência arterial, mas justamente por esse motivo, não pode ser realizada em pacientes
bradicárdicos, chocados ou hipotensos.
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decréscimo de 42% na mortalidade. A dose recomendada é de 160-325 mg/dia a ser utilizada
de forma mastigável quando da chegada do paciente ao hospital ou ao ser atendido por
emergência móvel, ainda antes da realização do eletrocardiograma.
• Betabloqueadores: são drogas que reduzem a FC, o inotropismo e a PA ao mesmo
tempo em que aumentam o fluxo sanguíneo na rede de colaterais e no subendocárdio. O uso
destes fármacos implica em redução da mortalidade. Formulações orais devem ser iniciadas
dentro das primeiras 24 horas, desde que não tenham contraindicações: sinais de insuficiência
cardíaca ou evidência de baixo débito cardíaco, risco elevado de desenvolver choque
cardiogênico (idade >70 anos, PAs < 120 mmHg, FC > 110 bpm na apresentação, tempo
aumentado do início dos sintomas), intervalo PR > 240 ms, asma ativa ou doença reativa das
vias aéreas. Em pacientes com hipertensão refrataria ou com isquemia persistente, utiliza-se
formulação EV. Após compensação do quadro, mesmo na ausência de IC ou HAS, a droga deve
ser mantida por três anos. Devemos evitar o pindolol, pois ele possui efeito simpaticomimético
intrínseco. O esquema padrão mais utilizado é: metoprolol 50 mg VO 6/6h no primeiro dia,
seguindo-se de 100 mg VO 12/12h daí em diante. Caso a via IV seja escolhida, a dose será
metoprolol 5 mg EV de 5-5 minutos, por até três doses, seguindo-se com a via oral daí em
diante. No uso tardio, titularemos a dose do BB até uma FC alvo de 60 bpm.
• Clopidogrel, prasugrel e ticagrelor: são inibidores do ADP plaquetário; e têm como
principais indicações: substituir o AAS em pacientes alérgicos ou fortemente intolerantes;
serem usados junto com o AAS em pacientes com SCA de alto risco ou infarto sem elevação
do segmento ST. A dose inicial de Clopidogrel é de 300mg via oral, e a de manutenção 75mg
VO, uma vez ao dia (manter por no mínimo um ano se for feito CATE).
O AAS está indicado em todas as formas de SCA, incluindo o IAMST.
Inquestionavelmente, reduz a taxa de mortalidade e complicações (ex.: reinfarto), benefício que
é potencializado pela terapia de reperfusão. Mesmo quando o diagnóstico de SCA for
considerado ―provável‖, o AAS já deve ser administrado ao paciente. Devido as
especificidades, no Brasil, recomenda-se a dose de 200-300 mg no ―ataque‖ inicial (mastigar
e engolir 2-3 comprimidos), mantendo-se 100 mg/dia (1 comprimido junto às refeições) para o
resto da vida do paciente. Atenção para as principais contraindicações ao AAS: alergia,
intolerância, hemofilia, sangramento ativo, úlcera péptica em atividade e hepatopatia grave.
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❖ TERAPIA DE REPERFUSÃO
É indicado nos casos de quadro clinico compatível com infarto agudo do miocárdio,
com eletrocardiograma com supra de ST maior 1mm em duas ou mais derivações na mesma
parede e chegada no serviço de urgência menor que 12h.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
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HEMORRAGIA
HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
DIGESTIVA ALTA
INTRODUÇÃO
A HDA é três vezes mais frequente do que a baixa, com prevalência estimada de 170
casos para 100.000 habitantes/ano nos Estados Unidos. Do ponto de vista etiológico, é possível
dividi-la como varicosa (pela presença de varizes do esôfago e fundo gástrico) e não varicosa.
A hemorragia varicosa responde por 20 a 30% dos casos de Hemorragia Digestiva Alta
(HDA) e é consequência da hipertensão portal. Esta última pode causar varizes, entretanto a
cirrose é o resultado mais comum. Sessenta por cento dos hepatopatas desenvolvem varizes de
esôfago, e cerca de 35% dos pacientes com hipertensão portal e varizes sangrarão, a maioria
pela rotura de varizes esofágicas. O sangramento das varizes gástricas e duodenais é um evento
menos frequente. Aproximadamente 40% dos sangramentos por varizes cessam
espontaneamente, contudo a mortalidade chega a 20% nas primeiras seis semanas após o
primeiro episódio.
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HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA NÃO VARICOSA
A história natural mostra que 80% desses sangramentos cessam espontaneamente, 14%
voltam nas primeiras 24 a 72 horas após interrupção inicial e 6% sangram de forma contínua.
A magnitude do sangramento está mais relacionada à idade, às comorbidades e ao uso de
anticoagulantes do que à etiologia da hemorragia. Porém, úlceras sangrantes na parede posterior
do bulbo duodenal e na pequena curvatura do corpo proximal merecem atenção especial. Em
razão da proximidade anatômica das artérias, úlceras volumosas e mais profundas também têm
maior taxa de ressangramento e mortalidade. Isso explica, ainda, o baixo impacto do grande
avanço dos métodos de diagnóstico e hemostasia sobre a mortalidade, que persiste em 6 a 8%
dos casos.
A chamada lesão aguda da mucosa gástrica responde por 10 a 15% dos casos de HDA
não varicosa. A síndrome de Mallory-Weiss pode estar presente em 5% dos casos. Outros
eventos que podem cursar com a hemorragia são neoplasias gástricas, esofagites,
angiodisplasias, lesão de Dieulafoy, pólipos, hemobilia, hemosuccus pancreaticus e fístula
aortoduodenal.
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❖ LACERAÇÕES DE MALLORY-WEISS
QUADRO CLÍNICO
Quadro 1
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Tabela 1
CONDUTA
O uso de Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs) deve ser precoce, assim como a
suspensão dos agentes que possam ter desencadeado o quadro. A aplicação de IBP também tem
impacto sobre o ressangramento. Alguns autores defendem a infusão contínua desse
medicamento em pacientes submetidos a procedimentos hemostáticos, entretanto estudos mais
recentes demonstram não haver vantagem quanto à infusão em bollus.
O uso de IBPs deve ser precoce, assim como a suspensão dos agentes que possam ter
desencadeado o quadro.
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A endoscopia digestiva alta faz parte da abordagem diagnóstica e terapêutica da
hemorragia digestiva alta e deve ser feita nas primeiras 12 horas de admissão do paciente. A
EDA tem papel diagnóstico e terapêutico. É possível categorizar as úlceras pelo aspecto
endoscópico, segundo a classificação de Forrest, que tem importância por estar relacionada ao
risco de ressangramento.
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Em casos de úlceras gástricas que vão para cirurgia por sangramento, deve-se sempre
incluir a úlcera na ressecção, podendo ser necessário realizar gastrectomias totais ou subtotais,
dependendo de sua localização. Os resultados são melhores quando a indicação cirúrgica é
precoce.
Em casos de úlceras duodenais que precisam ser operadas por hemorragia, não se
resseca a úlcera, abre-se o duodeno e realiza-se a sutura da úlcera internamente, podendo
proceder à ligadura de ramos da artéria gastroduodenal. É possível efetuar a cirurgia definitiva
da hiperacidez com antrectomia e vagotomia troncular caso as condições clínicas do paciente o
permitam.
As varizes são constituídas, geralmente, por três ou quatro cordões verticais, de trajeto
tortuoso e calibres variáveis, localizados na submucosa esofágica. Regimes de pressão portal
maiores que 12 mmHg podem desencadear rotura das varizes e hemorragia digestiva. Cerca de
60% dos pacientes com hepatopatia crônica desenvolvem varizes do esôfago. A função
hepatocelular, medida pela classificação de Child-Pugh, o calibre das varizes e a presença de
marcas vermelhas, os chamados red spots descritos pela endoscopia, são os maiores
determinantes do risco de sangramento.
QUADRO CLÍNICO
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ginecomastia, desnutrição, circulação colateral na parede abdominal, edema). Nos demais, o
diagnóstico de hipertensão portal só é feito durante o exame endoscópico.
CONDUTA
O tratamento do paciente hepatopata com HDA constitui um desafio para toda a equipe
que conduz o caso. Além do tratamento da hemorragia, a parte clínica deve ser muito bem
equilibrada. Algumas medidas são utilizadas temporariamente até que haja condições para o
tratamento definitivo.
TRATAMENTO DA HEPATOPATIA
A lavagem intestinal pode ser indicada aos pacientes com rebaixamento do nível de
consciência ou antecedente de encefalopatia hepática. A lactulose, que tem efeito catártico e
acidifica o cólon, reduzindo a absorção de compostos nitrogenados, está indicada e deve ser
ministrada por via oral ou sonda, em doses variáveis que permitam de duas a três evacuações.
A neomicina, administrada na dose de 1 g, por via oral (ou via enema retal), a cada 6 horas,
diminui a flora bacteriana intestinal, reduzindo a produção de substâncias nitrogenadas, mas
deve ser usada com parcimônia, pelo risco de lesão renal. Restrições proteicas são controversas
e o aporte diário não pode ser inferior a 40 g/d, por meio de aminoácidos de cadeia ramificada.
Devem-se evitar os aminoácidos de cadeias aromáticas.
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As infecções bacterianas são documentadas em 35 a 66% dos pacientes com HDA
varicosa, e a sua ocorrência é um importante fator prognóstico. Além da peritonite bacteriana
espontânea, as infecções de vias urinárias e vias aéreas são prevalentes. Assim, a
antibioticoterapia é recomendável a todos os hepatopatas que apresentam ascite e estão
hospitalizados por HDA varicosa. As quinolonas são as mais utilizadas, como o ciprofloxacino
intravenoso ou o norfloxacino oral. A antibioticoterapia é recomendável a todos os hepatopatas
que apresentam ascite e estão hospitalizados por HDA varicosa!
TRATAMENTO DA HEMORRAGIA
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substância esclerosante, que, nesse caso, não deve ser feita se houver distúrbio de coagulação.
Nas varizes de fundo gástrico, prefere-se a obliteração com cianoacrilato. O tratamento
combinado farmacológico e endoscópico é superior a cada uma das modalidades terapêuticas,
devendo o tratamento farmacológico preceder o endoscópico. Entre as modalidades para
hemostasia endoscópica, a ligadura elástica é proposta como primeira escolha por sua maior
segurança e efetividade!
Até 10% dos casos não terão sucesso no controle do sangramento, ou poderão apresentar
ressangramento nas primeiras 24 horas depois da primeira endoscopia. Nesses casos, uma
segunda tentativa de hemostasia endoscópica deve ser feita, obrigatoriamente, com método de
hemostasia diferente do primeiro. Em situações eletivas de erradicação das varizes, a ligadura
é o método de escolha independentemente do tratamento inicial.
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ALGORITMO PARA TRATAMENTO DE HDA
• Perda de volume < 15% não apresenta hipotensão ou taquicardia. Obs.: pacientes em
uso de betabloqueador e idosos podem não apresentar taquicardia, enquanto grávidas e
crianças podem apresentar sintomas.
• Taquicardia em repouso (> 100 bpm) e hipotensão postural, indicam uma perda de
15-30% do volume sanguíneo.
▪ Ressuscitação volêmica com cristaloides até 2L, mais do que isso pode aumentar
o sangramento ativo ou voltar a sangrar.
▪ Pacientes que não melhoram, idosos e com sinais de falência orgânica,
necessitam de concentrado de hemácias.
• PAS < 90 mmHg, agitação, confusão ou letargia, com extremidades frias, indica choque
hipovolêmico com > 40% de perda do volume sanguíneo.
▪ Transfusão sanguínea com concentrado de hemácias.
▪ Intubação orotraqueal eletiva é recomendada antes da endoscopia, em pacientes
com choque hipovolêmico, hematêmese em curso, alteração do estado mental,
comprometimento respiratório e para minimizar o risco de aspiração.
• Realizar EDA precocemente (12h a 24h após admissão) após estabilização
hemodinâmica e medidas iniciais.
• É preciso monitorizar o paciente, solicitar exames laboratoriais, como tipagem
sanguínea, prova cruzada, hemograma, coagulograma e função hepática. Aqueles com
sangramento ativo e coagulopatia (RNI > 1,5) e/ou plaquetas < 50.000/mm3, devem
receber plasma fresco congelado e/ou plaquetas. De modo geral, objetiva-se manter Hb
> 7 mg/dL.
• Hemotransfusões acima de > 10 U de concentrados de hemácia → devem ser repostos
também plasma fresco, plaquetas e cálcio.
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OBS: Estabilização hemodinâmica deve ser feita para todo paciente que chega com
sangramento (principalmente com sinais de choque hipovolêmico), porém temos o tratamento
específico para a HDA:
Está indicado para pacientes que não respondem aos outros métodos, choque
hipovolêmico e aqueles que necessitam de > 6 U de concentrado de hemácias.
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VARICOSA – TRATAMENTO CLÍNICO-ENDOSCÓPICO
Aplica pressão direta sobre a variz sangrante e pode salvar vidas na impossibilidade de
terapia endoscópica em pacientes instáveis e com sangramento volumoso.
VARICOSA – TIPS
Procedimento radiológico que cria um shunt entre a veia hepática e a veia porta intra-
hepática, desviando o fluxo sanguíneo hepático e há rápido controle do sangramento.
VARICOSA – PROFILAXIA
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CETOACIDOSE
CETOACIDOSEEEESTADO
ESTADOHIPEROSMOLAR
HIPEROSMOLAR
INTRODUÇÃO
• Hiperglicemia;
• Cetonemia;
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• Acidose metabólica com ânion-gap elevado.
Essa complicação ocorre em cerca de 30% dos adultos e 15-67% das crianças e
adolescentes no momento do diagnóstico de DM tipo 1, sendo a principal causa de óbito em
diabéticos com menos de 24 anos. Entre alguns fatores de risco para cetoacidose, pode-se citar:
sexo feminino, doenças psiquiátricas, baixo nível socioeconômico, episódios prévios de
cetoacidose etc.
1. HIPERGLICEMIA
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hemoconcentração resultante da diurese osmótica por ela induzida e, tardiamente, pela
diminuição da excreção de glicose na urina secundária à deterioração da função renal. A
glicemia varia em média entre 400-800 mg/ dl e, isoladamente, não serve como parâmetro de
gravidade.
2. CETONEMIA
Os corpos cetônicos são produzidos em larga escala devido à lipólise excessiva. O que
libera uma grande quantidade de ácidos graxos livres na circulação, situação que ocorre quando
os níveis de insulina encontram-se extremamente baixos. Os principais cetoácidos produzidos
na cetoacidose diabética são o ácido beta-hidroxibutírico, o ácido acetoacético e a acetona (essa
última, por ser volátil, é eliminada na respiração causado o chamado hálito cetônico), ocorrendo
seu acúmulo devido a uma produção muito maior que a capacidade de consumo e excreção. No
plasma se dissociam em cetoânions (beta-hidroxibutirato e acetoacetato) e H+.
São produzidos, em média, 500 a 1.000 mEq por dia de cetoácidos neste distúrbio
metabólico. Sua excreção pelo rim depende da função renal prévia e do grau de desidratação do
paciente. Parte dos ácidosgraxos livres resultantes da lipólise no tecido adiposo é convertida em
triglicerídeos no fígado, ocorrendo hipertrigliceridemia grave.
Fato interessante é que, como as fitas reagentes que detectam corpos cetônicos só
identificam o acetoacetato, os níveis de corpos cetônicos podem estar inicialmente baixos, pelo
excesso relativo de beta-hidroxibutirato. À medida que ocorre o tratamento da cetoacidose,
ocorre a conversão de beta-hidroxibutirato a acetoacetato, podendo paradoxalmente “piorar” a
cetonúria. Por esse motivo, não se deve usar a cetonúria como parâmetro no tratamento da
cetoacidose.
3. ACIDEMIA
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eliminados ou consumidos antes da correção do excesso de H+.
4. DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS
Água 100 ml / kg
Sódio 7 a 10 mEq/kg
Cloro 5 a 7 mEq/kg
Potássio 5 a 10 mEq/kg
Fosfato 1 mmol/kg
Magnésio 1 mmol/kg
Cálcio 1 a 2 mmol/kg
Fontes: Kitabchi AE, Wall BM. Diabetc Ketoacidoses. In: Endocrine Emergencies. Med Clin Nor Am
1995 1:9-37. e Alberti KG. Diabetic Emergencies. Br Med Bull 1989 45:242-63
FATORES PRECIPITANTES
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Outras causas comuns de descompensação são o abuso de bebidas alcoólicas, o uso de
doses inadequadamente baixas deinsulina e a gestação, principalmente na segunda metade. Em
10% dos casos, o diagnóstico de diabetes é estabelecido por ocasião da instalação da
cetoacidose.
Em pacientes mais idosos, sempre devemos lembrar do infarto agudo do miocárdio como
fator precipitante, principalmente porque esses pacientes muitas vezes apresentam infartos
silenciosos. Entre medicações que podem desencadear cetoacidose estão: glicocorticoides,
inibidores de protease, tiazídicos, betabloqueadores, agentes simpaticomiméticos, e
antipsicóticos atípicos (entre eles, olanzapina e clozapina).
SINAIS E SINTOMAS
O paciente frequentemente refere poliúria, polidipsia ou polifagia, associados a astenia
e perda ponderal, principalmente nos dias anteriores à instalação do quadro. Náuseas e vômitos
por gastroparesia são frequentes e contribuem para a espoliação do paciente. Dor abdominal,
principalmente em crianças, por atrito ente os folhetos do peritônio desidratado e por distensão
e estase gástrica, pode estar presente e ser intensa a ponto de simular um abdome cirúrgico.
6. DIAGNÓSTICO
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Deve-se lembrar que o método habitualmente usado na pesquisa de corpos cetônicos na
urina e no sangue utiliza a reação do nitroprussiato, a qual detecta a presença de acetoacetato e
de cetona, mas não de beta-hidroxibutirato, o principal cetoânion produzido na cetoacidose
diabética. Por esse motivo, a não detecção de corpos cetônicos não exclui a presença destes.
Nesses casos, pode-se repetir o exame de urina da cetonúria adicionando peróxido de hidrogênio
(água oxigenada), capaz de promover a conversão não enzimática do beta-hidroxibutirato em
acetoacetato, revelando, então, o diagnóstico.
Uma forma mais confiável é a pesquisa indireta através do cálculo do ânion-gap: Ânion-
Gap = Na+ – (Cl– + HCO3–). Caso o valor encontrado esteja acima do normal, basta a exclusão
de hiperlactatemia grave (lactato arterial 5 mM/L) para inferir a presença de cetonemia.
7. CONDUTA
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queda da glicemia até níveis aceitáveis, a resolução da cetoacidose e a correção dos distúrbios
eletrolíticos.
Deve ser prontamente iniciada, pois é a medida isolada de maior impacto no tratamento
da cetoacidose. A solução de escolha é a salina isotônica (SF a 0,9%), com um volume na
primeira hora em torno de 1.000 ml. O ringer lactato deve ser usado com cautela no início, pois
contém potássio, mas tem como vantagem a menor concentração de cloro. Em cardiopatas ou
outros pacientes de risco para a infusão de grandes quantidades de fluidos, a reposição deve ser
cuidadosamente monitorada. Os objetivos da reposição volêmica são: repor o déficit de água,
manter a pressão arterial, reduzir os níveis de glicemia e melhorar a perfusão tissular e renal, o
que contribui para a reversão da acidose.
Após a primeira hora de hidratação, o ideal é a dosagem do sódio sérico, que deve ser
corrigido pela hiperglicemia, seguindo um desses 2 possíveis cenários: (1) se o sódio corrigido
estiver normal ou elevado (> 150 mEq/l), a reposição deve continuar com salina a 0,45%; (2)
se o sódio corrigido estiver baixo, a solução continua sendo o soro fisiológico a 0,9%.Nesse
momento, a velocidade da reposição é ajustada para 4-14 ml/kg/h (200 e 800 ml/hora),
conforme as necessidades de cada paciente. As perdas hídricas na cetoacidose são, em sua
maioria, hipotônicas. Em crianças e adolescentes, a reposição hídrica inicial deve ser em média
de 20 ml/kg rápido, para a estabilidade circulatória, podendo ser repetida caso persista o choque.
Quando a glicemia atinge 250 mg/dl, a reposição de fluidos deve ser feita com solução
glicosada a 5% e com NaCl a 0,45% para prevenção de hipoglicemia e para a prevenção do
edema cerebral, que poderia ocorrer com uma queda muito rápida da glicemia. A infusão deve
variar entre 150-250 ml/h, mantendo-se a glicemia entre 150-200 mg/dl. A reposição excessiva
de líquidos, que alguns autores consideram como mais de cinco litros em um período de 8h,
pode contribuir para o surgimento de complicações da cetoacidose, como edema cerebral e
síndrome da angústia respiratória, que serão mais bem discutidos adiante.
7.2 INSULINOTERAPIA
36
insulina antes da reposição volêmica pode agravar a hipovolemia e precipitar o choque
hipovolêmico, pois a insulina promove a captação celular de glicose, que provoca a entrada de
água nas células, espoliando o intravascular. Ademais, em casos nos quais há presença de
hipocalemia (K < 3,3), a insulina não deve ser iniciada.
Quando a glicemia atinge valores ≤ 200-250 mg/ dl, a infusão de insulina deve ser
diminuída (0,02-0,05U/kg/h) e SG 5% deve ser adicionado à hidratação. O objetivo é manter
uma glicemia entre 150-200 mg/dl até que a CAD se resolva. A cetonemia pode ser
acompanhada pelo cálculo do ânion-gap, o que deve ser feito a cada duas horas inicialmente e,
posteriormente, a cada quatro horas. A normalização da acidose e da cetonemia demora,
normalmente, o dobro do tempo necessário para que a glicemia atinja 250 mg/dl. Para avaliação
do bicarbonato e do pH séricos, pode-se utilizar amostras de sangue venoso, desde que se corrija
o pH conforme a seguinte equação: pHsangue arterial = pH sangue venoso + 0,03.
Os critérios de resolução da CAD são: (1) pH > 7,3; (2) Bicarbonato > 18 mEq/l; e (3)
Glicemia < 200 mg/ dl. Quando isto é alcançado, é possível liberar a dieta e iniciar o esquema
de insulinização subcutânea conforme valores de glicemia capilar a cada 3 ou 4h. A infusão
contínua de insulina venosa só será suspensa após 1-2h da dose de insulina SC. Com o paciente
estável e se alimentando corretamente, pode-se retornar (ou iniciar) a insulina
NPH/Glargina/Detemir.
37
• ESQUEMA DE INSULINIZAÇÃO SC
38
Vale ressaltar que a administração de insulina na presença de hiperglicemia equivale à
glicoinsulinoterapia, desviando o potássio para o interior das células e agravando a
hipopotassemia. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, o potássio é geralmente reposto
após o início da diurese.
O fósforo apresenta um aumento falso pela acidose, mas as reservas estão diminuídas.
Em geral, sua deficiência não apresenta repercussões clínicas, mas as questões teóricas
envolvidas são de que deficiência de fósforo (< 1) pode levar à queda nos níveis de 2,3-
difosfoglicerato (2,3-DPG), diminuindo a oferta de oxigênio aos tecidos. Sua reposição é
controversa e em geral deve ser avaliada somente nas seguintes situações:
(2) anemia;
39
e administrado em duas horas.
8. COMPLICAÇÕES
Porém, nesse capítulo será dado mais ênfases a algumas complicações da terapêutica
que merecem destaque, sendo elas: edema cerebral, Síndrome do Desconforto Respiratório
Agudo, acidose metabólica hiperclorêmica, e mucormicose.
É observado em < 1% das crianças com cetoacidose, sendo uma complicação ainda mais
rara em adultos. Porém, quando presente, contribui para uma taxa de mortalidade que pode
exceder 70%. Alguns fatores de risco identificados para a ocorrência de edema cerebral são:
idade < 5 anos, diagnóstico recente, hiper-hidratação, acidose grave, uso de bicarbonato,
hipocapnia, hipoglicemia e aumento na concentração de sódio sérico.
A fisiopatologia por trás dessa complicação obdece ao seguinte raciocínio: (1) o estado
de hiperosmolaridade sérica leva à produção de substâncias osmoticamente ativas no interior
das células do SNC (osmoles idiogênicos), na tentativa de manter um gradiente osmótico
adequado; (2) durante a ressuscitação volêmica, há rápida queda da osmolaridade sérica
(especialmente quando a glicemia cai mais do que 100 mg/dl/h) e influxo de água e eletrólitos
para o meio intracelular, com lento desaparecimento dos osmoles idiogênicos; (3) o
consequente aumento do gradiente osmótico leva ao edema cerebral cuja intensidade é
diretamente proporcional à velocidade da reidratação e à quantidade de sódio ofertado.
40
sérica e oferta excessiva de água e sódio. Outras manifestações que podem ser encontradas são:
cefaleia súbita de forte intensidade, incontinência esfincteriana, vômitos, agitação,
desorientação, alteração dos sinais vitais (sinais de hipertensão intracraniana, como hipertensão
arterial e bradicardia), oftalmoplegia e alterações pupilares.
A terapia consiste no suporte do paciente em depressão do sensório (que pode incluir uso
de manitol e ventilação mecânica) e na lentificação da correção do deficit hidroeletrolítico.
Pacientes com suspeita de SDRA devem ser monitorados com cateter de Swan-Ganz
para confirmação diagnóstica e orientação terapêutica. A velocidade da ressuscitação volêmica
parece ser um fator de risco ou, ao menos, um fator desencadeante da síndrome. Embora
alterações na função de troca gasosa pulmonar sejam comuns na fase de reidratação, raramente
há repercussão clínica. Limitam-se a anormalidades detectadas pela análise da gasometria
arterial, como a queda da PaO2 e o aumento do gradiente alvéolo-arterial de O2.
41
em poucos dias.
8.4 MUCORMICOSE
A cetoacidose diabética é um dos principais fatores de risco para esta grave micose
profunda. É causada por fungos saprófitas do gênero Rhizopus ou Mucor, que invadem o septo
nasal, o palato, atingindo os seios cavernosos e o cérebro. A forma rinocerebral da
mucormicose, caracterizada pela eliminação de uma secreção enegrecida da cavidade nasal,
fruto da extensa necrose (provocada pela formação de microtrombos vasculares). Se não
reconhecida e tratada precocemente, a mucormicose é rapidamente fatal. A terapia é feita com
anfotericina B venosa e cirurgia de extenso desbridamento. Existem outras formas de
mucormicose, como a pulmonar e a gastrointestinal.
Assim como na cetoacidose diabética, o fator precipitante mais comum é infeccioso (30
a 60% dos casos), principalmente de foco pulmonar ou urinário. Dentre os fatores não
infecciosos, destacam-se os acidentes cerebrovasculares, o IAM, os quadros abdominais que
cursem com vômitos ou diarreia e as endocrinopatias (Hipertireoidismo, Cushing e
42
Acromegalia). Algumas drogas têm como para efeito a inibição da secreção ou da ação
periférica da insulina, podendo desencadear o EHHNC, inclueindo-se nesta lista os seguintes
medicamentos: betabloqueadores, fenitoína, cimetidina, tiazídicos, simpaticomiméticos e
corticosteroides. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas também pode ser um fator
precipitante, assim como a diálise peritoneal (feita com uma soluçãode glicose).
1. PATOGÊNESE
Embora a história possa ser pobre ou ausente em alguns casos, a simples presença de
depressão do nível de consciência em um paciente idoso nos obriga a pensar no diagnóstico de
EHHNC. Em até 40% dos casos o diagnóstico de diabetes pode não ter sido ainda estabelecido.
43
Tipicamente há relato de desidratação progressiva ao longo de vários dias, associado à
pneumonia ou infecção urinária. Pacientes demenciados ou acamados estão sob maior risco de
desenvolver o EHHNC devido à incapacidade de ajustar sua ingesta hídrica às variações diárias.
O uso das drogas anteriormente citadas ou mesmo à submedicação com insulina são
fatores potencialmente desencadeantes e devem ser questionados. Sinais clínicos de
desidratação intensa estão geralmente presentes. Hipotensão e oligúria são manifestações de
hipovolemia importante, com perda de 20 a 40% da água corporal total. Infecção respiratória
ou de outro sítio pode ser evidenciada pelo exame físico cuidadoso. Distensão e dor abdominal
com náusea e vômitos são comuns devido à gastroparesia ocasionada pelo estado de
hiperosmolaridade.
3. DIAGNÓSTICO
44
Acidose metabólica com ânion-gap aumentado pode ocorrer devido à acidose lática ou
urêmica. Alguns pacientes apresentam um padrão laboratorial que mescla os achados da
cetoacidose e do EHNC, com discreta cetonemia, hiperosmolaridade sérica e acidose moderada.
4. CONDUTA
Esses pacientes estão depletados de potássio, embora a calemia possa estar normal ou
elevada, pelo efeito da hiperosmolaridade, porém, a reposição de potássio é a mesma da
cetoacidose.
45
O tratamento das comorbidades e dos fatores desencadeantes é simultâneo à correção
do deficit hidroeletrolítico. Antibioticoterapia deve ser iniciada imediatamente após a obtenção
de culturas, quando o quadro clínico sugerir infecção. A profilaxia da doença tromboembólica
com baixas doses de heparina subcutânea é mandatória. Devido à gastroparesia frequentemente
observada nesses pacientes, indicam-se a drenagem do conteúdo gástrico por sonda e a
utilização de enterocinéticos.
46
AVALIAÇÃO
AVALIAÇÃOE ATENDIMENTO INICIAIS
E ATENDIMENTO AO
INICIAIS POLITRAUMATIZADO
AO POLITRAUMATIZADO
INTRODUÇÃO
O tratamento de um doente vítima de trauma grave requer avaliação rápida das lesões e
instituição de medidas terapêuticas de suporte de vida. Visto que o tempo é essencial, é
desejável uma abordagem sistematizada, que possa ser facilmente revista e aplicada. Esse
processo é denominado “avaliação inicial” e inclui:
• Preparação;
• Triagem;
• Reanimação;
• Tratamento definitivo.
A avaliação primária deve ser repetida com frequência para identificar qualquer
alteração do estado clínico do doente que indique a necessidade de intervenção adicional. Essa
sequência é apresentada em sequência para fins didáticos, porque na prática elas correm em
paralelo ou até mesmo simultaneamente.
47
• Fase pré-hospitalar: O sistema pré-hospitalar deve ser estruturado de tal
maneira que o hospital de destino seja notificado antes de iniciar o transporte. Deve ser dada
ênfase à manutenção da via aérea, ao controle da hemorragia externa e do choque, à
imobilização do doente e ao transporte imediato ao hospital apropriado mais próximo,
preferencialmente a um centro de trauma credenciado. Além disso, deve-se dar ênfase também
à obtenção e documentação de informações necessárias à triagem ao chegar ao hospital,
incluindo hora do trauma, eventos relacionados ao trauma e história do doente. Os mecanismos
de lesão podem sugerir a intensidade das lesões, assim como alertar para a ocorrência de
traumas específicos, para os quais o doente deve ser avaliado.
• Fase hospitalar: O planejamento antecipado à chegada do doente traumatizado
é essencial. Uma área de reanimação deve estar disponível para receber os doentes
traumatizados. Equipamentos apropriados para a abordagem de via aérea (laringoscópios,
tubos, etc.) devem estar organizados, testados e imediatamente disponíveis. Soluções de
cristaloides aquecidas devem estar prontamente disponíveis para serem infundidas quando o
doente chegar. Também devem estar disponíveis equipamentos adequados de monitoração.
Devem existir normas para a convocação de mais médicos quando necessário. É imprescindível
que existam rotinas que assegurem a resposta rápida do pessoal de laboratório e de radiologia.
Todo o pessoal que está em contato com o doente deve estar protegido contra doenças
transmissíveis, com o uso de precauções padrão (máscara, proteção dos olhos, avental
impermeável, perneiras, luvas) quando em contato com fluidos orgânicos.
B - Ventilação e respiração;
Durante a avaliação primária, as condições que implicam risco à vida devem ser
identificadas em uma sequência de prioridades baseadas nos efeitos das lesões sobre a fisiologia
do doente, isto porque não infrequentemente não se consegue identificar inicialmente as lesões
anatômicas específicas. Logo, a sequência de prioridades é baseada no grau de ameaça à vida,
ou seja, a maior anormalidade que ameaça a vida é manejada primeiro!
49
está comprometida gravemente (habilidade para gerar movimento aéreo que permita falar) e
não há maior diminuição do nível de consciência (alerta suficientemente para descrever o que
aconteceu). A falha na resposta a essas questões sugere anormalidades no A, B ou C, que
implicam avaliação e tratamento urgentes.
Durante a avaliação inicial do doente traumatizado, a via aérea deve ser avaliada em
primeiro lugar para assegurar a sua permeabilidade. Essa rápida avaliação para identificar sinais
de obstrução da via aérea deve incluir aspiração e inspeção para a presença de corpos estranhos
e fraturas faciais, mandibulares ou traqueolaríngeas, que podem resultar em obstrução da via
aérea. As manobras para estabelecer a permeabilidade da via aérea devem ser feitas com
proteção da coluna cervical. Como medida inicial para permeabilizar a via aérea é recomendada
a manobra de elevação do mento (chin lift) ou de tração da mandíbula (jaw thrust). Se o doente
consegue comunicar-se verbalmente, é pouco provável que a obstrução da via aérea represente
um risco imediato; no entanto, é prudente que a permeabilidade da via aérea seja avaliada a
curtos intervalos de tempo. Cabe enfatizar que os doentes com trauma craniencefálico grave e
rebaixamento do nível de consciência ou portadores de um escore na escala de coma de Glasgow
(GCS) igual ou inferior a 8, habitualmente exigem o estabelecimento de uma via aéreadefinitiva
(isto é, tubo com balão insuflado, na traqueia). O achado de respostas motoras descoordenadas
sugere fortemente a necessidade de uma via aérea definitiva. Durante a avaliação e a
manipulação da via aérea, deve-se tomar muito cuidado para evitar a movimentação excessiva
da coluna cervical. A cabeça e o pescoço do doente não devem ser hiperestendidos, hiperfletidos
ou rodados com o intuito de estabelecer ou manter a via aérea. Com base na história do trauma,
deve-se presumir a perda de estabilidade da coluna cervical. Um exame neurológico isolado não
exclui lesão de coluna cervical. Inicialmente, a proteção damedula do doente deve ser feita e
mantida com uso de dispositivos apropriados de imobilização. A avaliação e o diagnóstico de
lesão específica de coluna, incluindo métodos de imagem, devemser realizados posteriormente.
Caso se faça necessária a retirada temporária do dispositivo de imobilização cervical, um dos
membros da equipe de trauma deve encarregar-se de imobilizar manualmente a cabeça e o
pescoço, mantendo-os alinhados. Podem ser feitas radiografias de
50
coluna cervical para confirmar ou excluir a presença da lesão, após o tratamento das lesões com
risco imediato ou potencial à vida, embora seja importante lembrar que uma radiografia de perfil
identifique somente 85% de todas as lesões. Considere a existência de uma lesão de coluna
cervical em todo doente com traumatismos multissistêmicos, especialmente nos doentes que
apresentem nível de consciência alterado ou traumatismo fechado acima da clavícula.
A permeabilidade da via aérea, por si só, não garante ventilação adequada. Uma troca
adequada de gases é necessária para que seja possível a oxigenação e a eliminação de dióxido
de carbono num grau máximo. Uma boa ventilação exige um funcionamento adequado dos
pulmões, da parede torácica e do diafragma. O pescoço e o tórax do doente devem ser expostos
para avaliar adequadamente a distensão de veias jugulares, a posição da traqueia e a
movimentação da parede torácica. A ausculta deve ser realizada para se confirmar o fluxo de ar
nos pulmões. A inspeção visual e a palpação poderão detectar lesões da parede do tórax capazes
de comprometer a ventilação. A percussão do tórax também pode identificar anormalidades,
mas no ambiente barulhento da reanimação, isso pode ser difícil ou levar a resultados não
confiáveis. As lesões que podem prejudicar gravemente a ventilação num curto prazo são o
pneumotórax hipertensivo, o tórax instável (retalho costal móvel) com contusão pulmonar, o
hemotórax maciço e o pneumotórax aberto. Tais lesões devem ser identificadas na avaliação
primária e podem exigir atenção imediata para que o esforço ventilatório seja efetivo. O
hemotórax ou o pneumotórax simples, as fraturas de arcos costais e a contusão pulmonar podem
comprometer a ventilação, mas em grau menor, e são habitualmente identificados na avaliação
secundária.
51
Volume Sanguíneo e Débito Cardíaco: A hemorragia é a principal causa de mortes
pós-traumáticas evitáveis. Por isso, a identificação e a parada da hemorragia são passos cruciais
na avaliação e tratamento desses doentes. Uma vez descartado o pneumotórax hipertensivo
como causa de choque, a hipotensão em doentes traumatizados deve ser considerada
hipovolêmica até prova em contrário. É essencial a avaliação rápida e precisa do estado
hemodinâmico do doente traumatizado. Os elementos clínicos importantes para informações
são:
Cor da pele: A cor da pele pode ser importante na avaliação de um doente traumatizado
hipovolêmico. O doente traumatizado com pele de coloração rósea, especialmente na face e nas
extremidades, raramente está criticamente hipovolêmico. Ao contrário, a coloração acinzentada
da face e a pele esbranquiçada das extremidades são sinais evidentes de hipovolemia.
Pulso: Um pulso central de fácil acesso (femoral ou carotídeo) deve ser examinado
bilateralmente para se avaliar sua qualidade, frequência e regularidade. Pulsos periféricos
cheios, lentos e regulares são, usualmente, sinais de normovolemia relativa em doente que não
esteja em uso de bloqueadores beta-adrenérgicos. Pulso rápido e filiforme é habitualmente um
sinal de hipovolemia, embora possa ter outras causas. Uma frequência normal de pulso não é
garantia de que o doente esteja normovolêmico. Mas quando irregular, o pulso costuma ser um
alerta para uma potencial disfunção cardíaca. A ausência de pulsos centrais, não relacionada a
fatores locais, significa a necessidade de uma ação imediata de reanimação para restaurar o
défice sanguíneo e um débito cardíaco adequado.
https://www.glasgowcomascale.org/downloads/GCS-Assessment-Aid-Brazilian.pdf
53
Escore ECG= (O[4] + V[5] + M[6]); Melhor escore possível= 15; Pior escore possível= 3. Áreas
que não puderem ser acessadas não devem ser numeradas pelo escore, devendo ser consideradas
como “não testadas” (NT) pela escala.
54
EXPOSITION - Exposição e controle do ambiente
O doente deve ser totalmente despido, usualmente cortando as roupas para facilitar o
exame e avaliação completos. Depois de retirar a roupa do doente e completar a avaliação, o
doente deve ser coberto com cobertores aquecidos ou algum dispositivo de aquecimento externo
para prevenir a ocorrência de hipotermia na sala de trauma. Os fluidos intravenosos devem ser
aquecidos antes de administrados e o ambiente deve ser mantido aquecido. O mais importante
é garantir a temperatura corporal do doente e não o conforto da equipe de atendimento.
REANIMAÇÃO: A reanimação e o tratamento das lesões com risco para a vida logo
que identificadas são essenciais para maximizar a sobrevivência do doente. A reanimação
também segue a sequência ABC e ocorre simultaneamente com a avaliação.
• Via aérea: A via aérea deve ser protegida em todos os doentes e garantida
quando existe a possibilidade de seu comprometimento. A elevação do mento ou a tração da
mandíbula pode ser suficiente como intervenção inicial. Se o doente estiver inconsciente e não
tiver o reflexo de vômito, a utilização de um tubo orofaríngeo pode ajudar temporariamente. Se
houver qualquer dúvida sobre a capacidade do doente manter a permeabilidade de sua via aérea,
deve-se estabelecer uma via aérea definitiva (isto é, intubação).
• Ventilação, respiração e oxigenação: O pneumotórax hipertensivocompromete
dramaticamente e de modo agudo a ventilação e a circulação. Quando suspeitado, deve ser
tratado imediatamente por descompressão torácica. Todo doente traumatizado deve receber
oxigenioterapia suplementar. Se não for intubado, o doente deve receber oxigênio por meio de
uma máscara com reservatório que garanta oxigenação máxima. O oxímetro de pulso deve ser
usado para monitorar a adequação da saturação de hemoglobina.
• Circulação e controle da hemorragia: O controle definitivo da hemorragia é
essencial em conjunto com a reposição apropriada do volume intravascular. Deve-se inserir um
mínimo de dois cateteres endovenosos (EV) calibrosos. É preferível iniciar por punções venosas
periféricas nos membros superiores. O uso de outras veias periféricas, de dissecções e punções
de veias centrais deve ser feito de acordo com as necessidades e levando-se em consideração a
habilidade do médico responsável pelo doente. Assim que a veia for puncionada ou cateterizada,
devem ser retiradas amostras de sangue para tipagem sanguínea e prova cruzada e para os
exames laboratoriais de rotina, incluindo teste de gravidez para todas as mulheres em idade
55
fértil. A gasometria e o nível de lactato devem ser obtidos para avaliar a presença e o grau do
choque. A reanimação volêmica agressiva e contínua não substitui o controle definitivo da
hemorragia. O controle definitivo da hemorragia inclui cirurgia, angioembolização e
estabilização pélvica. Deve ser iniciada a administração endovenosa de fluidos com soluções
cristaloides. O choque associado ao trauma é mais frequentemente de origem hipovolêmica. Se
o doente não responder à terapia inicial com cristaloides, pode ser necessária a transfusão
sanguínea.
A hipotermia pode estar presente quando o doente chega ao hospital ou pode ocorrer
rapidamente na sala de emergência, desde que o doente permaneça descoberto, sejam
administrados rapidamente fluidos à temperatura ambiente ou, ainda, pela administração de
sangue refrigerado. A hipotermia é uma complicação potencialmente letal nas vítimas de
traumatismo. Medidas agressivas devem ser tomadas para evitar a perda de calor corporal e
para restaurar a temperatura do doente a níveis normais. A temperatura da área de reanimação
deve ser aumentada para reduzir a perda de calor pelo doente. Recomenda-se a utilização de
aquecedores de alto fluxo ou de fornos de micro-ondas para aquecer as soluções cristaloides a
uma temperatura de 39°C. No entanto, os hemoderivados não devem ser aquecidos em forno
de micro-ondas.
56
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA: A avaliação secundária só deve ser iniciada depois de
completar a avaliação primária (ABCDE) e quando as medidas indicadas para a reanimação
tiverem sido adotadas e o doente demonstrar tendência para normalização de suas funções
vitais. A avaliação secundária é um exame do doente traumatizado da cabeça aos pés, isto é,
uma história clínica e um exame físico completos, incluindo a reavaliação de todos os sinais
vitais. Cada região do corpo deve ser examinada por completo. A possibilidade de passar
despercebida uma lesão ou de não se dar o real valor a uma lesão é grande, principalmente em
doentes que não respondem a estímulos ou que se encontram instáveis. Na avaliação secundária
deve ser feito um exame neurológico completo, incluindo a determinação do escore na GCS.
Durante essa avaliação, devem ser feitas as radiografias indicadas. Esses estudos radiográficos
podem ser realizados em qualquer momento da avaliação secundária. Procedimentos especiais,
como exames radiológicos específicos e estudos laboratoriais, são também providenciados
durante essa fase. Uma avaliação completa do doente exige a realização de exames físicos
repetidos.
• Alergia
• Medicamentos de uso habitual
• Passado médico/Prenhez
• Líquidos e alimentos ingeridos recentemente
• Ambiente e eventos relacionados ao trauma
58
59
CRISE
CRISE HIPERTENSIVA
INTRODUÇÃO
Hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença comum no Brasil, tendo prevalência
de 32,5% em adultos. A doença aumenta sua prevalência com a idade, sendo que mais de 50%
dos adultos acima de 60 anos de idade apresentam HAS. A elevação da pressão arterial (PA) é
uma queixa comum em pronto-socorro, correspondendo a 3-25% dos atendimentos e
englobando desde mau controle ambulatorial até, muito menos frequentemente, as
emergências hipertensivas. Quando, por algum motivo, essa elevação adquire um ritmo
abrupto, chegando a suplantar as alterações de forma aguda, surgem alguns sintomas
relacionados à desadaptação dos órgãos suscetíveis (chamados órgãos-alvo), que passam a
apresentar sofrimento e risco de estabelecimento de lesões definitivas.
Início imediato,
Neurológica: encefalopatia hipertensiva, AVC preferência por drogas
isquêmico/hemorrágico, hemorragia subaracnóide. hipotensoras
Emergência
Cardiovasculares: dissecção aguda de aorta, infarto endovenosas passíveis de
hipertensiva
agudo do miocárdio, edema agudo dos pulmões, pós- titulação, visando
61
Renais: glomerulonefrite aguda, crises renais em
portadores de doenças do tecido conjuntivo, pós
operatório de transplante renal.
Início imediato,
Elevação importante da pressão arterial em possibilidade de uso de
portadores de patologias de risco (insuficiência drogas por via oral,
Urgência
coronária controle
hipertensiva
crônica estável, cardiomiopatia dilatada, insuficiência pressórico aceitável em
renal não dialítica) até
24 horas
Priorizar o tratamento
dos
A elevação pressórica, apesar de intensa, não está
sintomas que motivaram
Pseudocrise relacionada a risco de morte, desenvolvimento de
a
hipertensiva disfunção permanente em órgão-alvo ou
vinda do paciente ao
descompensação clínica
serviço
de emergência
62
A fisiopatologia da crise hipertensiva ainda não está bem elucidada. O início abrupto
sugere um mecanismo de gatilho, possivelmente relacionado a vasoconstritores séricos,
sobreposto a hipertensão preexistente. Pacientes com EH apresentam com maior frequência
HAS secundária se comparados a outros pacientes hipertensos. Causas comuns de HAS
secundária incluem hipertensão renovascular, doença renal crônica, hiperaldosteronismo
primário e feocromocitoma.
SEMIOLOGIA
Os pacientes devem ter sua pressão arterial aferida nos dois braços e eventualmente nos
quatro membros, de preferência em um ambiente calmo e repetidas vezes, até a estabilização
(no mínimo três medidas). Deve-se rapidamente coletar informações sobre a PA usual do
paciente e sobre situações que possam desencadear o seu aumento (ansiedade, dor, sal,
63
comorbidades, uso de fármacos anti-hipertensivos – dosagem e adesão) ou que possam
aumentar a PA (anti-inflamatórios, corticoides, simpaticomiméticos, álcool).
• Sintomas neurológicos focais, que podem ser causados por um acidente vascular cerebral
isquêmico ou hemorrágico
• Dispneia
• Uso de drogas que podem produzir um estado hiperadrenérgico, como cocaína, anfetaminas,
fenciclidina ou inibidores da monoamina oxidase, ou descontinuação recente de clonidina ou
outros agentes simpatolíticos
64
O estado neurológico deve ser avaliado de maneira adequada, na tentativa de se
valorizar corretamente queixas como parestesias, cefaleia e tonturas, frequentes nessas
condições. Testes de consciência, orientação, sensibilidade e motricidade devem ser
realizados. A avaliação do fundo de olho é obrigatória, sobretudo para pacientes que tenham
queixas neurológicas e renais. A hipertensão do “jaleco branco” é uma entidade frequente e
reconhecida nos ambulatórios, mas esquecida das unidades de emergência, apesar de sua
frequência e associação à pior morbidade quando em frequente apresentação pré-hospitalar.
Na tabela I abaixo estão evidenciados os principais achados da anamnese e exame físico nas
principais apresentações de emergências hipertensivas:
65
LABORATORIAL
A análise da função renal, dos eletrólitos, do hematócrito e da glicemia pode dar pistas
em relação ao comprometimento renal prévio ou ao agravamento dessa condição. O
eletrocardiograma está indicado para se definir a presença de cardiopatia prévia, adaptação
por meio de hipertrofia miocárdica e isquemia cardíaca atual, e serve também, em alguns
casos, como critério de avaliação da efetividade do tratamento, principalmente quando existe
insuficiência coronária associada. Cabe também a dosagem de marcadores de necrose
miocárdica seriada (CKMB, CPK e troponina). A radiografia de tórax tem suas principais
indicações na avaliação da dor torácica e da dispneia associada a hipertensão arterial grave,
para avaliação das alterações de mediastino (dilatação da aorta) e da congestão pulmonar. A
tomografia de tórax e o ecocardiograma transesofágico são excelentes métodos para o
diagnóstico do comprometimento da aorta. A tomografia computadorizada de crânio ajuda na
definição da causa de possível comprometimento neurológico, se esse é secundário a
hemorragias intracranianas, infarto cerebral ou edema.
Eclampsia
66
TRATAMENTO
Quando são excluídas lesões de órgãos-alvo, trata-se de uma UH. Inicialmente, deve-se
checar se o paciente tem acompanhamento médico e verificar sua adesão ao tratamento. Na
maioria dos pacientes, não é necessário controle da PA no pronto-socorro. Pelo contrário, uma
terapia anti-hipertensiva rápida e agressiva pode levar à isquemia cerebral ou miocárdica ou à
injúria renal aguda, caso os níveis pressóricos caiam abaixo do limite da autorregulação da
perfusão desses órgãos.
Pacientes com alto risco de eventos cardiovasculares iminentes, como aqueles com
doenças da aorta ou aneurismas cerebrais, beneficiam-se de um controle de PA em horas.
Nessa situação, devem-se utilizar medicamentos por via oral e com meia-vida curta. Entre as
opções estão captopril (6,25-12,5 mg), clonidina (0,2 mg) e hidralazina (12,5-25 mg). O
objetivo é a redução de 20 a 30 mmHg na pressão sistólica em algumas horas. Uma alternativa
é o uso de medicações de efeito prolongado, como a anlodipina ou a clortalidona, com
avaliação ambulatorial em 1 ou 2 dias.
Todos os pacientes em UH devem ter retorno precoce, de modo que suas medicações
possam ser ajustadas com um objetivo de PA menor que 160 × 100 mmHg. Além disso,
devem ser encaminhados para acompanhamento ambulatorial ou reavaliação ambulatorial
precoce. Cabe ressaltar que colocar os pacientes em uma sala silenciosa e calma, o que nem
sempre é possível, pode levar a uma queda da PAS de 10 a 20 mmHg.
67
Os betabloqueadores são drogas que têm espaço no tratamento de determinadas
condições relacionadas às emergências hipertensivas, principalmente nas síndromes
coronárias agudas e nos casos de dissecção aguda de aorta. Com seu efeito cronotrópico e
inotrópico negativo, essa classe de drogas garante menor consumo de oxigênio pelo miocárdio
isquêmico e diminui a tensão na parede da aorta, reduzindo a área do miocárdio sob risco de
infarto e a progressão da delaminação da aorta. As principais contraindicações ao seu uso se
relacionam com broncoespasmos em pacientes portadores de doenças pulmonares e
descompensação de cardiomiopatias dilatadas. A insuficiência vascular periférica também
pode ser agravada com o uso desses medicamentos. São drogas que têm o potencial de causar
bloqueios do sistema de condução do estímulo cardíaco, culminando com o bloqueio
atrioventricular total.
Início de Principais
Fármaco Classe Via Efeitos adversos
ação indicações
5-15 Edema agudo de Depleção de volume,
Furosemida Diurético EV
minutos pulmão hipocalemia
Encefalopatia
Náusea, vômito,
Nitroprussiato Vasodilatação Imediato EV hipertensiva, dissecção
convulsões
da aorta
2-5
Nitroglicerina Vasodilatação EV Insuficiência coronária Cefaleia, vômitos
minutos
10-20
Hidralazina Vasodilatação EV Eclâmpsia Taquicardia reflexa
minutos
10-15 Insuficiência
Enalaprilato IECA EV Piora da função renal
minutos ventricular esquerda
68
15 Insuficiência
Captopril IECA VO Piora da função renal
minutos ventricular esquerda
30
beta-agonista Sonolência, rebote com
Clonidina minutos- VO Urgências hipertensivas
central suspensão abrupta
2h
Bloqueio de
10-15 Urgências
Nifedipina canais de VO Taquicardia, hipotensão
minutos hipertensivas
cálcio
Bradicardia, bloqueio
beta 5-10 Insuficiência coronária,
Propranolol EV atrioventricular total,
bloqueador minutos dissecção da aorta
broncoespasmo
Insuficiência Bradicardia, bloqueio
beta 5-10
Metoprolol EV coronária, dissecção da atrioventricular total,
bloqueador minutos
aorta broncoespasmo
Bradicardia, bloqueio
Insuficiência atrioventricular total,
beta 60
Esmolol coronária, dissecção da broncoespasmo, náusea,
bloqueador segundos
aorta flushing,
dor no local da infusão
RESUMO
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elevada não caracterizam UH ou EH e sim uma pseudocrise hipertensiva. Pacientes
nessa condição devem ser tratados com repouso, analgésicos ou tranquilizantes;
• Exames laboratoriais incluem hemograma, função renal, eletrólitos, urina 1 e
marcadores de hemólise. Outros exames são dependentes da situação clínica.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VELASCO, I. T.; BRANDÃO NETO, R. A.; SOUZA, H. P.; MARINO, L. O., Emergências
Clínicas: abordagem prática; 14ª Ed. São Paulo: Manole, 2020.
Institute of Neurological Sciences NHS Greater Glasgow and Clyde. Escala de coma de
glasgow (ECG). Disponível em: <https://www.glasgowcomascale.org/downloads/GCS-
Assessment-Aid-Brazilian.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2022.
American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Suport. 10. ed. Chicago: Copyright;
2018.
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