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AULAS ESPECÍFICAS

2023/2024
2a. FASE COMPREENSÃO E
PRODUÇÃO DE TEXTOS

PROPOSTA DE REDAÇÃO - AULA Nº. 03 - PROF. YESO

Punir não é melhor solução contra o bullying escolar, diz psicóloga francesa
Autora especializada no tema e referência no país europeu,
Emmanuelle Piquet avalia que é preciso fortalecer as vítimas
Em janeiro, Lucas, 13, tirou a própria vida após meses de agressões de colegas em sua escola, no leste francês. Em abril,
foi Thibault, 10, na região do Loire. Em maio, Lindsay, 13, no norte.
Para além da comoção e do alerta para pais e professores, os casos colocaram em xeque a série de medidas já adotadas
no país europeu para combater o bullying escolar e fizeram a primeira-ministra Élisabeth Borne anunciar que o tema é
“prioridade absoluta”.
Em 2020, foi lançado em caráter experimental o plano Phare —programa de luta contra o assédio nas escolas. Em setembro
passado, ele foi estendido a todos os estabelecimentos do ensino básico da França. Ou seja: já havia sido implementado nas
escolas de Lucas, Thibault e Lindsay e não foi capaz de evitar o desfecho terrível.
Em 2021, ano em que o país contabilizou ao menos 18 suicídios associados a violência entre pares nas escolas, a França
criou dois números de telefone para acolher vítimas e receber denúncias. E, em 2022, tornou o bullying escolar um delito
passível de pena de prisão de até dez anos no caso de suicídio ou tentativa de suicídio da vítima.
No início de junho, quatro adolescentes apontados como os algozes de Lucas, responsáveis por seguidas injúrias
homofóbicas contra o garoto, foram considerados culpados de bullying escolar, mas não por seu suicídio. Eles podem pegar
até 18 meses de prisão.
O que foi comemorado como uma vitória da luta contra o bullying, no entanto, não animou a psicóloga francesa Emmanuelle
Piquet, autora de mais de dez livros sobre o tema. Especialista em bullying escolar e fundadora do centro Chagrin Scolaire
(sofrimento escolar), em Macôn,
“O que estamos fazendo evidentemente não está dando certo, e a punição está fazendo crianças e jovens criarem outros
tipos de bullying que não são pegos pelos radares dos adultos”, aponta ela à Folha.

Leia, a seguir, a entrevista com a pesquisadora.

Por que é tão difícil para pais e educadores lidarem com o bullying escolar?
Por vários motivos, entre eles o fato de os pais de hoje e da geração anterior acharem extremamente importante ter filhos
capazes de se relacionar, de fazer parte de grupos sociais, de se comunicar de forma eficaz. Isso se tornou uma preocupação
típica de matéria escolar, tão importante quanto a matemática ou o inglês.
Também porque o bullying passou a ser extremamente analisado. E isso teve efeitos benéficos, pois permitiu que
olhássemos para o assunto mais de perto e com mais respeito. Houve um tempo em que bullying era tratado como algo
menor. Mas também teve um efeito perverso que foi o bullying se tornar um problema de adultos, o que agravou a tendência
de crianças e adolescentes não conversarem com adultos sobre o tema. Há uma espécie de lei do silêncio.

O que fazer diante desse silêncio?


Um estudo recente na França apontou que 62% das crianças e adolescentes acreditavam que os adultos não poderiam
ajudá-las numa situação de bullying. Ou seja: apenas 38% acreditavam que um adulto seria de ajuda. É muito pouco.
Crianças e adolescentes não querem falar com adultos sobre isso, principalmente porque têm medo do que farão. E, como
os adultos muitas vezes pioram a situação, as crianças têm razão com esse temor.
Muitas crianças e jovens querem proteger seus pais, pois eles sabem que a dor parental de saber que o filho não é amado,
é isolado e maltratado, é uma dor infinita. Por isso que é tão difícil lidar com o bullying: não temos a informação de que ele
ocorre.
O que em geral ocorre quando se obtém essa informação?
Essa é uma questão, do meu ponto de vista, com um problema de foco. Quando há a informação de que ocorre uma situação
de bullying, a escola gasta seu tempo com as crianças que estão assediando, para que mudem, seja por responsabilização,
seja por sanções.
AULAS ESPECÍFICAS COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS 2a. FASE

Qual é o problema em focar o assediador?


Quando os agressores praticam bullying, têm uma sensação de prazer infinito, narcisista, de poder, que está ligado à
percepção do impacto que causam em uma criança, que sofre, e em um grupo de crianças ao seu redor, que ri.
Assediadores também dizem a si mesmos, com razão, que, se eles assediarem, não serão assediados. É cínico, é imoral,
mas é verdade. Logo, têm dois motivos para não ter interesse em ver o assédio cessar.
Quem tem interesse em acabar com o assédio é o assediado e sua família. Enquanto a instituição trabalhar apenas com
os assediadores, nada mudará.

Os assediadores de Lucas, que se suicidou depois de meses sofrendo agressões verbais homofóbicas, foram
condenados. O que acha desse tipo de medida?
Quando a França aprovou o decreto que tornou o assédio nas escolas um delito, disse a mim mesma: será catastrófico.
Surgem novas formas de assédio, como isolar a criança, não convidá-la para aniversários, não incluí-la em trabalhos em
grupo. É uma boa maneira de fazer alguém sofrer sem ser punido pelos adultos. É uma medida que promove novos assédios
que passarão despercebidos.
No caso de Lindsay, o principal assediador dela já havia sido excluído em definitivo da escola, mas o assédio continuou por
meio de outros alunos. E a vítima não teve a oportunidade de aprender a lidar com esse tipo de comportamento problemático:
resistir e saber como mudar o desconforto de lugar.

E o que poderia funcionar para combater bullying nas escolas?


Pegarmos, inicialmente, 20% das escolas mais difíceis e treinarmos duas pessoas por escola, com seriedade, para que
se tornem referências para as crianças que estão sofrendo bullying, as apoiem e cuidem delas, ajudem elas a se defenderem.

EMMANUELLE PIQUET, 54
Psicóloga e fundadora do centro Chagris Scolaire, na França. Autora de mais de dez livros sobre bullying escolar, como
“Te Laisse Pas Faire” (Les Arènes, 2022), questão sobre a qual adota a perspectiva da chamada Escola de Palo Alto, na Califórnia (EUA),
que foca o fortalecimento da vítima de assédio.
Folha de S.Paulo – 25/06/2023

Em um texto de 10 a 12 linhas, transponha para o discurso indireto as principais ideias da entrevistada.

NOME: __________________________________________________________ Turma:__________

PROPOSTA 03
PROF. YESO

TEXTO DEFINITIVO

LIMITE MÍNIMO

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