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HISTÓRIA DA PSICOLOGIA1 - AULA 3

manhã e noite: 05/03/2024

Texto da aula de hoje:


SANTI, P. L. R. A Construção do Eu na Modernidade. 6. ed. Ribeirão Preto/SP: Holos, 2009. (Capítulos 2 ao 6).

Texto da próxima aula:


MASSIMI, M. História dos Saberes Psicológicos. São Paulo: Paulus, 2016. (Capítulo 6).
SANTI, P. L. R. A Construção do Eu na Modernidade. 6. ed. Ribeirão Preto/SP: Holos, 2009. (Capítulos 7, 8 e 12).

TÓPICOS DA AULA:

Síntese
A. O teocentrismo na Idade Média e o nascimento da experiência subjetiva privatizada e individualizada no
Renascimento.
B. A subjetividade no Renascimento: antropocentrismo e diversidade cultural.
C. Procedimentos de contenção do eu.
D. A crítica à aparência.
Central: perda dos referenciais medievais (estáveis)  aprofundamento da experiência de si  necessidade
de uma busca pessoal por critérios de “verdade” a partir dos quais pautar as condutas

C - Procedimentos de contenção do eu
1. Retomada de referências para a colocação do humano no mundo: centradas próprio eu; auto-controle.

A nova valorização do ser humano e a imposição de que ele construa sua existência e
descubra valores segundo os quais viver, aliada a toda a dispersão e fragmentação do mundo,
que apontamos acima, levarão à tentativa de criação de mecanismos para o domínio e
formação do eu (SANTI, p.36).

2. Dispersão e fragmentação do mundo  mecanismos de domínio e formação do eu

“[...] as experiências subjetivas no sentido moderno do termo e que vieram a se converter em


objeto de um saber e de uma intervenção psicológicos devem a sua emergência tanto às
vivências de diversidade e ruptura como às tentativas de ordenação e costura, ou seja, a todas
as práticas reformistas que implicavam uma subjetividade individualizada e uma tensão
sustentada entre áreas ou dimensões de liberdade e áreas ou dimensões de submissão. (...)
Como se vê, o 'indivíduo', ao contrário do que o termo sugere, nasce da dispersão e traz uma
cisão interior inscrita em sua natureza” (FIGUEIREDO, apud SANTI, p.36).

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Material para uso privado e exclusivo dos alunos da presente disciplina, no ano de 2024. Proibida a divulgação pública.
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3. Permanente tensão da indeterminação frente à complexidade da realidade

No Renascimento, a questão pode ser equacionada de outra forma: Deus fez o homem livre
para que ele possa ser julgado; ele pode escolher um bom caminho e ser recompensado por
isso, mas pode ser desviado dele por tentações e dispersões – e o mundo renascentista as
oferece em quantidade – e, então, ser responsabilizado e punido por isso. A questão passa a
ser: o que eu devo ser? Como devo me formar? Em termos mais psicológicos, como construir
uma identidade? (SANTI, p. 37)

4. Crise frente a dispersão e fragmentação do mundo; Possíveis saídas: Santo Ignácio de Loyola e Maquiavel
4.1. Santo Ignácio de Loyola (1491 – 1556)
4.1.1. Militar antes de se converter
4.1.2. Fundador da Companhia de Jesus (1534)
4.1.3. Disciplina, iniciativa prática e pregação militante: perinde ac cadaver "disciplinado como um
cadáver";
4.1.4. Liberdade  Causa da perdição humana

[...] o homem é livre para ser o que é e parece estar perdido; ele precisa e pode, portanto,
dirigir sua livre vontade ao caminho correto para se encontrar (SANTI, p38).

4.1.5. Salvação  abrir mão; submissão à autoridade religiosa


4.1.6. Os Exercícios Espirituais (1548): instruções e técnicas para dirigir as ações; iluminação em 28
dias

[...] a liberdade humana é reconhecida apenas para sei lhe atribuir a causa da perdição
humana. Curiosamente, a salvação implica justamente em abrir mão de forma absoluta dessa
liberdade, transferindo-a à autoridade religiosa com toda a boa-vontade e determinação
(SANTI, p.40)
A única determinação reconhecida para nosso ser é a própria vontade; todas as
determinações históricas, sociais, genéticas, etc, são simplesmente negadas (SANTI, p.40)

4.2. Maquiavel (1469 - 1527)


4.2.1. Filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico
4.2.2. Preocupado com a unificação da Itália; ameaça estrangeira
4.2.3. Vê o povo de maneira negativa; príncipe como solução
4.2.4. Necessidade da imposição de um sujeito forte

O valor primeiro de tudo será a obtenção e manutenção do poder centralizado. Para tanto, não há
que se ter vergonha por fazer qualquer coisa neste sentido, mesmo matar a quem quer que
represente uma ameaça ao poder. O princípio ético é o da afirmação do poder (SANTI, p. 43).
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4.2.5. Melhor ser temido do que amado

Um príncipe não deve, pois, temer a má fama de cruel, desde que por ela mantenha seus
súditos unidos e leais. [...] Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou
o contrário. A resposta é de que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é
difícil reuni-las, em tendo que faltar uma das duas é muito mais seguro ser temido do que
amado (MAQUIAVEL apud, SANTI, p.44-45).
Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis,
simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são
todos teus, oferecem-te o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se
disse acima, a necessidade esteja longe de ti; quando esta se avizinha, porém, revoltam-
se. E o príncipe que confiou inteiramente em suas palavras, encontrando-se destituído de
outros meios de defesa, está perdido: as amizades que se adquirem por dinheiro, e não
pela grandeza e nobreza de alma, são compradas mas com elas não se pode contar e, no
momento oportuno; não se torna possível utilizá-las. E os homens têm menos escrúpulo
em ofender a alguém que se faça amar do que a quem se faça temer, posto que a amizade
é mantida por um vínculo de obrigação que, por serem os homens maus, é quebrado em
cada oportunidade que a eles convenha; mas o temor é mantido pelo receio de castigo
que jamais se abandona" (MAQUIAVEL apud, SANTI, p.44-45)

• Comum à Santo Ignácio e Maquiavel:


o afirmação do sujeito e necessidade do controle

D - A crítica à aparência

[...] a tendência à glorificação do eu não é absoluta. Alguns pensadores já começam a


denunciar como ilusórias suas pretensões cada vez maiores. A Modernidade contém tanto
procedimentos para a construção do eu quanto para a sua desconstrução (SANTI, p. 49).

1. Crítica a pretensão humana de ser tão ideal


2. Instabilidade e insegurança  Ceticismo
3. Michel de Montaigne (1533 - 1592)
3.1. Jurista, político, filósofo, escritor
3.2. “Ensaios” (aprox. 1580)
3.3. Eu como inconstante e inacabado  permanente processo reflexivo
3.4. Diante da instabilidade de tudo: introspecção

“Desse ponto, teria surgido propriamente o que chamamos hoje de mundo interno ou privacidade;
o universo de nossos pensamentos, fantasias, projetos, 'encanações' e auto-tormentos” (p.49)

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4. Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536)
4.1. Teólogo e filósofo
4.2. “Elogio à Loucura” (1509)

[...] o autor, que é ligado à Igreja, tinha a intenção de fazer um apelo por
reformas na burocratização e hipocrisia da Igreja. Mas o que ele atinge é
muito mais. O texto acaba por arrasar qualquer idealismo sobre a bondade
humana e seu amor pelos demais (SANTI, p.49).
[...] uma das obras mais arrasadoras de valores e desveladora de hipocrisias
sociais (SANTI, p.52).

5. “Eu” individual fechado separado do mundo externo

Desde o Renascimento, afirmou-se a auto-percepção de um 'eu' individual fechado, separado e em


oposição a um 'mundo externo', aí compreendidos os objetos e as outras pessoas (SANTI, p.54).

6. Desconfiança do mundo – Modernidade e interioridade:


6.1. Shakespeare (1564 - 1616), Hamlet e os monólogos

São muitos e extensos seus monólogos que expressam uma característica essencial da
Modernidade: a interioridade. A reflexão, o desdobramento sobre si, cria a possibilidade de
um diálogo construtivo, mas Shakespeare já expressa pela voz de seu herói o quanto este
mergulho para dentro se dá às custas da ação. A consciência de si traz ao homem a consciência
de sua vaidade e um distanciamento melancólico da experiência imediata (SANTI, p.55).

7. Desvelamento e desnaturalização de costumes tomados como naturais


8. Manual de bons costumes: controle do corpo; inibição das funções corporais
Civilização como “[...] um rigoroso sistema de controle social que inibe a expressão das funções corporais e
de grande parte dos impulsos (SANTI, p.53).

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