Secretaria da Ciência Tecnologia e Educação Superior
Universidade Estadual do Ceará – UECE Centro de Humanidades Curso de Letras
Disciplina – Semiótica – 2023.2
Prof. Laura Tey Iwakami Alunos: Bianca Araújo Lopes, Lucas Luis Costa de Souza e Luiz Gabriel Rodrigues da Silva
RESUMO
O texto aborda Caspar David Friedrich, um pintor, gravurista, desenhista e
escultor romântico alemão do século XIX. Friedrich é destacado como o representante puro da pintura romântica alemã, alinhado com ideais liberais e conservadores. O romantismo é contextualizado como um movimento de contracultura que enfatizava valores burgueses e contrastava com o Barroco, Neoclassicismo e Rococó, além de se opor ao Iluminismo.
A segunda parte introduz a semiótica de Charles Sanders Peirce, com suas
categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade, aplicadas a toda experiência e pensamento. São explicados os tipos de signos (ícone, índice e símbolo) e a relação entre significante e significado. O texto destaca a aplicação desses conceitos à análise da obra de arte, exemplificando a experiência do observador e a mudança constante na interpretação.
A análise da pintura de Friedrich é conduzida, destacando momentos de
primeiridade, secundidade e terceiridade na percepção do observador. São explorados os efeitos emocionais, a relação com o contexto histórico e a influência da Era Romântica na interpretação. O texto conclui ressaltando a dinâmica do pensamento em constante mudança e a adição de camadas de interpretação ao analisar uma obra de arte.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho da disciplina de semiótica, escolhemos analisar a pintura
Caminhante sobre um mar de névoa, feita pelo artista alemão Caspar David Friedrich, a partir das concepções de Charles Sanders Peirce sobre os signos e suas 3 categorias principais. Nosso objetivo é destrinchar os simbolismos presentes no quadro uma vez que tais teorias se demonstram aplicáveis até mesmo em obras artísticas. FUNDAMENTAÇÃO E ANÁLISE
Caspar David Friedrich (1774 – 1840) foi um pintor, gravurista, desenhista e
escultor romântico alemão, grande paisagista. Friedrich é o mais puro representante da pintura romântica alemã. Era alinhado com os ideais liberais e conservadores da época.
O romantismo foi um movimento de contracultura conservador que ressaltava
os valores da burguesia, o romantismo dividiu espaço com outros movimentos como o Barroco, Neoclassicismo e Rococó, ela foi produzida por um autor que romantizava essa figura solitária, o homem livre, rico e a natureza, não a imagem da maioria da população da Revolução Industrial. O movimento também se colocava contra ao Iluminismo que se espalhou pela Europa na época.
A semiótica de Charles Sanders Peirce se baseia em uma concepção triádica
dos signos, categorizando-os em primeiridade, secundidade e terceiridade, que são os pilares onde se sustenta toda sua teoria.
As três categorias podem ser aplicadas a toda experiência e pensamento,
para Peirce, todo pensamento é um signo, assim como o próprio homem.
É considerado, portanto, tudo aquilo que se força sobre nós, impondo-se ao
nosso reconhecimento, ou seja, tudo o que aparece à consciência e o faz numa gradação de três propriedades.
• Primeiridade: tudo que está na mente de alguém no instante presente e
imediato, é a primeira sensação sentida.
• Secundidade: o factual, é a reação aos fatos externos, é o representar de si,
é a ação do sentimento sobre nós.
• Terceiridade: a interpretação do fenômeno, é quando um objeto passa a
representar alguma coisa (signo convencionado).
Do ponto de vista do objeto, o signo pode ser classificado como ícone, índice ou símbolo:
• Ícone: um signo que renuncia à existência de um objeto, pois pode significar
o objeto.
• Índice: um signo que se aproxima com alguma ligação com a existência.
Tem relação direta com o objeto e nos mostra algo que aconteceu ou vai acontecer. Ao contrário do ícone, necessita de algo para existir.
• Símbolo: um signo que existe via uma regra, convencional ou não.
Refere-se ao que possa concretizar a ideia ligada à palavra, é um produto cultural criado, a relação é convencionada e arbitrária O símbolo de Peirce foi fundamentado na arbitrariedade do signo de Saussure: “O laço que une o significante ao significado é arbitrário, ou seja, visto que entendemos por signo o total resultante da associação de um significante com um significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo linguístico é Arbitrário.”
Partindo para a análise da obra, a pintura captura um momento específico,
aqui estamos na primeiridade, a primeira impressão, o qualitativo icônico. A progressão do meu pensamento como interpretante no primeiro contato com a obra segue: a figura do homem solitário, seguido do mar agitado e as ondas que batem na costa, seguido das cores cinzentas, neutras, frias, e por último, mas não menos importante, uma sensação de insignificância, como se a pessoa na imagem fosse diminuída diante da natureza, esse é o efeito do espaço negativo. Claro, o pensamento não segue uma ordem fixa nem cada pessoa repete necessariamente esse mesmo processo. Uma vez que o signo passa pela mente das pessoas as impressões do receptor e os possíveis efeitos que produzem na mente do interpretante estão em constante modificação, ao pensar em detalhes como o estilo vitoriano das roupas do personagem, e no contexto histórico que aquilo implica, um de nossos possíveis interpretantes já está na secundidade, a constatação da existência, pois o signo não é estático, a partir daí ele pode olhar para outro ponto e nunca finalizar a análise das roupas, sendo um momento único e particular.
A troca rápida entre os três estados do pensamento segundo a tricotomia de
Peirce, especialmente o signo em si, está sempre em relação com o mundo, com o entorno, com o contexto, e isso se encaixa muito bem como objeto dinâmico, em constante mutação, existindo com diferentes interpretações e por diferentes interpretantes de forma simultânea.
Em seguida passando para a terceiridade, o signo interpretante, aqui
entramos os conceitos, das significações e interpretações que um possível intérprete pode conduzir, por exemplo: resgatando um conhecimento do contexto histórico da obra na Era Romântica, onde temos uma ênfase na emoção e individualismo, na glorificação do passado e da natureza, preferindo o medieval ao clássico e como foi em parte uma reação à Revolução Industrial e à ideologia predominante da Era do Iluminismo, como mencionado anteriormente.
Assim, é adicionada uma camada de terceiridade, causando um efeito de no
pensamento do intérprete e que vai mudar sua percepção sobre a obra. Em seguida você pode encontrar mais detalhes na obra e renovar o ciclo, pois o signo é um objeto dinâmico agora com uma nova regra ou informação adicionado a camada do pensamento, assim concluímos uma das jornadas para um interpretante. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, é possível observar que as duas tricotomias de Peirce escolhidas
para a análise da obra se mostraram presentes e completamente aplicáveis à obra Caminhante sobre um mar de névoa. A apresentação do contexto do romantismo traz uma nova camada de análise da obra afetando a percepção da obra. Aqui demonstramos como uma informação contextual pode mudar sua concepção de uma obra.
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