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Junho de 2022
João Indembi Xavier
Trabalho de Projecto
Junho de 2022
Direitos de autor e condições de utilização do trabalho por terceiros
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regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e
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abaixo indicada. Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em
condições não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor.
Licença concedida aos utilizadores deste trabalho
Atribuição
CC BY
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
Dedicatória
À Sófia Nsundi André (em memória) e Salomão Diamantino Mulato (em memória), eternos
colegas deste mestrado, que prematuramente partiram para “a outra vida”, ficarão para sempre
na minha vida, pois a marcaram com profundas lições de resistência, resiliência e persistência.
Ao meu pai António Xavier (em memória) por ter partilhado com o mundo os seus dons e
talentos, e ter me deixado como continuador de sua missão “a de facilitar a vida do próximo.”
Às mulheres da minha vida, Mariana Massanga (avó), Ana Ngueve (mãe) e Rita Caetano
(noiva), pelo muito amor com que me amam.
A mim mesmo, por não ter desistido, pela ousadia e pela coragem com que até aqui me ajudou
o Senhor.
iii
Agradecimentos
Este trabalho foi realizado com o apoio institucional e financeiro da Unidade Técnica e de
Gestão do Programa Nacional de Formação de Quadros - UTG/ PNFQ e ao Instituto Nacional
de Gestão de Bolsas de Estudos – INAGBE, o qual também muito agradeço.
iv
Declaração de Integridade
Declaro ter actuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo
que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação
de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração. Mais
declaro que conheço e que respeitei o Regulamento do ISCED-Benguela.
v
Resumo
vi
Abstract
In compliance with the provisions of the Executive Decree No. 93/20 of 28th February, this
Curriculum aims to frame the teaching activity in the area of didactic education in Portuguese
Language for future primary school teachers in Angola. Ultimately, it aims to develop in the
future teacher the professional competences and skills to adequately exercise the teaching
profession with regard to curriculum management, teaching and learning of Portuguese in the
Primary Education. It was developed with reference to current theoretical perspectives of
curriculum development, teacher training and general and specific language didactics, as well
as to the contents of the current curricular regulations for the teaching of the Portuguese
language in Angola, having also been influenced by the reflections constructed during the
supervised practicum that was simultaneously developed by the author. The curriculum has the
following structure (i) Introduction, in which a succinct presentation of the curriculum is made
(scope, nature, objectives and relevance); (ii) Rationale, presenting the assumed theoretical
principles for the didactics of the Portuguese language and for the professional training of
teachers; (iii) General objectives that sustain the present curriculum, focusing on the
development of relevant knowledge in the area of Teaching Portuguese Language in Primary
Education - instructional general objectives - and on the development of transversal knowledge,
incident on the cultural, scientific and ethical training of the future teacher - educational general
objectives; (iv) Learning outcomes expected from the students at the end of the training,
focusing on specific and transversal competences (knowledge, capacities, attitude); (v) Content,
comprising the thematic units of the present curriculum, the themes and its main contents; (vi)
Thematic planning, comprising the planning of the thematic units of the present curriculum;
(vii) Methodological recommendations, integrating a synthesis of the methodological
guidelines for the efficient pursuit of the expected learning outcomes, namely: general
methodological principles, activities, resources, and organisation of students; (viii) Learning
assessment system, encompassing the activities/instruments of formative and summative
assessment of learning, components and weights of the summative assessment, participants and
ways of providing feedback to students' work; (ix) Bibliographical references, used throughout
the text of the curriculum (including the recommended bibliography in the thematic units).
vii
Índice
Dedicatória ............................................................................................................................... iii
Agradecimentos ....................................................................................................................... iv
Resumo ...................................................................................................................................... vi
Introdução................................................................................................................................. 12
1 Fundamentação................................................................................................................. 14
4 Conteúdo .......................................................................................................................... 25
viii
Lista de abreviaturas e siglas
Cf.: Conferir
i.e.: isto é
LM: Língua Materna
LMN: Língua não Materna
LP: Língua Portuguesa
L2: Língua Segunda
SAE: Sistema Alfabético de Escrita
UC: Unidade Curricular
ix
Lista de figuras
x
Tabela 19: Planeamento do tema: Ensino da gramática pela descoberta: o laboratório gramatical
.................................................................................................................................................. 77
Tabela 20: Guião de Avaliação das Aprendizagens dos Estudantes ........................................ 82
xi
Introdução
O currículo está estruturado da seguinte forma: (i) introdução, em que se se faz uma
apresentação sucinta do currículo (âmbito, natureza, objectivos e relevância); (ii)
Fundamentação, onde se enunciam os princípios teóricos defendidos para a didáctica da língua
portuguesa e para a formação profissional de professores; (iii) Objectivos gerais que sustentam
o presente currículo, o quais se centram no desenvolvimento de saberes relevantes na área de
Ensino da Língua Portuguesa no Ensino Primário - objectivos gerais instrutivos - e no
desenvolvimento de saberes transversais, incidentes na formação cultural, científica e ética do
futuro professor – objectivos gerais educativos; (iv) Resultados de aprendizagem esperados dos
estudantes no final da formação, incidentes em competências (conhecimentos, capacidades,
12
atitudes) específicas da área de docência e transversais; (v) Conteúdo, que compreende as
unidades temáticas do presente currículo, os temas e os principais conteúdos; (vi) Planeamento
temático, compreende o planeamento das unidades temáticas do presente currículo; (vii)
Recomendações metodológicas, integra uma síntese das orientações metodológicas para a
consecução dos resultados esperados de aprendizagem, nomeadamente: princípios
metodológicos gerais a seguir; tipo de actividades a desenvolver, em aula e extra-aula; tipo de
recursos a utilizar, em aula e extra-aula e modos de organização do trabalho, em aula e extra-
aula; (viii) Sistema de avaliação da aprendizagem, engloba: o tipo de actividades/instrumentos
de avaliação formativa e somativa das aprendizagens a desenvolver pelos estudantes;
componentes e pesos da avaliação somativa; participantes na avaliação e modos de
proporcionar feedback ao trabalho dos estudantes; (ix) Referências bibliográficas, usadas ao
longo do texto do currículo (incluindo a bibliografia recomendada nas unidades temáticas).
13
1 Fundamentação
14
• A necessidade de sustentar a aprendizagem da linguagem escrita na oralidade
Pretende-se deste modo, concordando com Costa, Botelho, Solla, e Soares (2016), que os
actuais pressupostos teórico-práticos do ensino da oralidade possam ter um lugar importante na
formação inicial de professores para o Ensino Primário e na futura prática docente destes, tendo
em vista, por um lado, a capacitação didáctico-pedagógica dos professores/futuros professores
e, por outro, as necessidades desenvolvimentais e académicas dos seus alunos.
• Aprendizagem da língua pelo uso, pela descoberta e com base no ensino explícito
15
o Ensino explícito: refere-se à actividade do professor, que intervém para tornar
o complexo objecto de aprendizagem (a leitura, a escrita, a gramática da Língua
Portuguesa) visível e claro para quem aprende. Isto é, o reconhecimento da
necessidade de uma intervenção explícita do professor, que conduz, auxilia e
orienta as crianças na construção de novos saberes;
o Prática situada transformada de construção de significados: consiste em
oferecer aos alunos a oportunidade de realizarem novas práticas situadas, novas
situações autênticas e significativas de uso da Língua Portuguesa, mas agora
com o fim de permitir a testagem, transferência, a aplicação consciente, e a
consequente consolidação do conhecimento explicitamente aprendido.
o Prática reflectida: permite que os alunos sejam actores na construção activa e
significativa de um conhecimento consciente, através de uma aprendizagem
autorregulada que permite que estes ascendam à processos cognitivos
superiores, como a metacognição e a metalinguagem, e habilitem-se a transferir
as estratégias usadas na construção de conhecimentos e resolução de problemas
de outras disciplinas ou saberes para a aprendizagem dos conteúdos da língua
portuguesa. Dito de outra forma aprendem quando pensa sobre o seu próprio
pensamento (metacognição / avaliação como aprendizagem).
• Aprendizagem linguística culturalmente responsiva
Defende-se este princípio pelo facto de Angola ser um país multilíngue (Costa, Botelho, Solla,
& Soares, 2016), realidade sociolinguística que desafia à formação de um professor capaz de
ensinar a língua portuguesa em contextos em que ela é Língua Materna e em contextos em que
é Língua Não Materna/L2. Isso implica que o professor tem de ser capaz de realizar o ensino
da língua portuguesa de uma forma cultural e linguisticamente responsiva, situada na realidade
sociolinguística das crianças angolanas (considerando o facto de que para muitas destas crianças
a língua portuguesa constitui Língua Não Materna/L2) e na promoção de práticas de ensino do
português culturalmente sensíveis com a situação multilingue de Angola, salvaguardando
sempre os direitos linguísticos dos alunos.
A língua portuguesa é transversal a todo currículo, pois é instrumento com o qual se realiza o
ensino e a aprendizagem em todas as disciplinas do Ensino Primário. Por conseguinte, a
aprendizagem da mesma não pode restringir-se aos momentos estabelecidos para as aulas de
16
Língua Portuguesa, pelo que, com base no princípio da prática situada de construção de
significados e atendendo à monodocência do Ensino Primário, se perspectiva a concretização
de um ensino e aprendizagem da língua transversal ao currículo. A partir de outras áreas do
currículo (outras disciplinas) o professor deve aproveitar trabalhar dimensões da língua
portuguesa. “Os enunciados matemáticos, os textos expositivos da área de estudo do meio, entre
outros, são exemplos excelentes para desenvolver competências de leitura e escrita” (Reis, et
al., 2009, p. 69).
Este princípio sustenta-se pelo facto de o texto literário, independente do género, ser
instrumento essencial do ensino e aprendizagem dos mais variados domínios da Língua. De
acordo com Ramon (2022, p. 37), o texto literário é uma “fonte de informação particularmente
abundante, tanto a nível linguístico (léxico-gramatical e pragmático-discursivo), como cultural
(relativa quer ao(s) mundo(s) representado(s), quer ao próprio sistema literário), para além de
ser um forte factor motivacional.” A mesma autora (pp. 36-37) ainda apresenta mais alguns
pressupostos que sustentam a utilização do texto literário como recurso didáctico no ensino da
língua portuguesa, nomeadamente:
o contacto activo com textos literários assegura ao sujeito um mais profícuo conhecimento dos
mecanismos retórico-pragmáticos de funcionamento da língua, expandindo a sua competência
comunicativa. De facto, proporcionando à criança, que inicia a escolaridade, um importante e
significativo input linguístico (avaliável quer em termos de vocabulário quer em termos de
estruturas sintácticas), os textos literários permitem igualmente o desenvolvimento de contextos
para a partilha de experiências, além de criarem oportunidades para usos reais e significativos da
linguagem, (…) capaz de potencializar a consecução do seu sucesso escolar e social futuros.
17
• Didáctica dialogada com os normativos curriculares
1
Decreto Presidencial n.o 273/20 de 21 de Outubro
18
• A articulação teoria-prática/prática ensaiada
Defende-se com este princípio uma formação do futuro professor realizada numa dimensão ou
perspectiva mais aproximada a prática ou a experimentação, concebendo-se a sala de aula como
um laboratório ou oficina de saberes e de práticas, em que as aprendizagens são construídas
num clima de aprendizagem activa do CCP (cultivando assim o saber profissional dos docentes
em formação) e na criação de oportunidades de utilizar esse conhecimento para desenvolver
um sentido de agência profissional intencional e estratégica, o que favorece a construção da
identidade profissional (Gelfuso, 2017, cit. Pereira, 2020).
19
sendo construído na interacção com os aprendentes. Através do feedback, os pares mais capazes
apoiam os aprendentes na construção de entendimentos que seriam incapazes de realizar
sozinhos. Esta forma reflexiva de responsabilização dos aprendentes pela sua própria avaliação
(auto-avaliação) é considerada uma competência essencial para a aprendizagem profissional
futura (Pereira, 2020).
20
2 Objectivos gerais
3 Resultados de Aprendizagem
A par dos resultados de aprendizagem acima referidos, no quadro a seguir consta um conjunto
de competências profissionais a mobilizar e expandir na UC, as quais dizem respeito aos saberes
a promover relativos à área de docência para a qual o curso de Licenciatura qualifica e habilita,
abrangendo conhecimentos, capacidades, atitudes e valores relativos aos processos específicos
do ensino e da aprendizagem nessa área de docência, bem como o seu contributo para o
desenvolvimento de áreas curriculares transversais, nomeadamente, a educação para a
22
cidadania (IE.Uminho, 2021). Com vista a melhor organização e orientação do processo de
ensino e aprendizagem da UC Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa no Ensino
Primário, no entanto não se dispensa a consulta dos normativos que orientam a formação inicial
de professores para o Ensino Primário.
2
Sintetizadas e adaptadas do Perfil de Qualificação Profissional Docente do professor do Ensino Primário, Decreto
Presidencial nº 273/20 de 21 de Outubro.
23
No final do curso, o diplomado consegue:
- Utilizar correctamente a língua portuguesa, nas
vertentes oral e escrita;
Gestão do currículo e
- Planificar e desenvolver sequências de ensino dos
das aprendizagens
conteúdos da disciplina de LP, definindo objectivos,
resultados de aprendizagem esperados, actividades e
modos de trabalho, abrangentes e transversais.
No final do curso, o diplomado consegue:
Avaliação para
- Usar estratégias e técnicas diversificadas de avaliação
monitorização das
contextualizada, formal e informal, visando a avaliação
aprendizagens
formativa e somativa das aprendizagens.
No final do curso, o diplomado é capaz de:
- Trabalhar em equipa e fomentar a partilha de
conhecimentos profissionais entre colegas;
Participação activa na - Se empenhar na melhoria da qualidade da comunidade
comunidade educativa, juntamente com os colegas e as entidades da
educativa hierarquia educativa;
- Interagir com as famílias dos alunos, com o pessoal
docente e não docente e com as outras instituições da
comunidade.
No final do curso, o diplomado:
- Combate qualquer forma de discriminação e de
exclusão e promove a igualdade de oportunidades para
todas as crianças e jovens;
Valores e atitudes
Valorização de
- Respeita as diferenças culturais, linguísticas e pessoais
princípios de não
das crianças, valorizando os diferentes saberes e culturas;
discriminação e de
- Perspectiva a escola como espaço de educação
inclusão educativa
inclusiva, proporcionando uma educação integral para a
cidadania;
- Fomenta o desenvolvimento da autonomia dos alunos e
a plena inclusão na sociedade.
24
No final do curso, o diplomado:
(Auto-
- Reflecte sobre práticas docentes de outrem;
)responsabilização
- Reflecte sobre aspectos éticos e deontológicos e avalia
pela acção educativa e
os efeitos de atitudes profissionais;
pelo desenvolvimento
- Continua a desenvolver competências pessoais, sociais
profissional
e profissionais e a aprender ao longo da vida.
4 Conteúdo
25
3.1. Da gramática implícita ao conhecimento explícito, passando pela gramática
normativa
3.2. Procedimentos pedagógicos de ensino da gramática
3.2.1. Ensino da gramática pela descoberta: o laboratório gramatical
5 Planeamento Temático3
Para aprender a língua portuguesa na sua dimensão oral, o aluno/criança dispõe de capacidades
inatas, pelo que aprende de forma natural, bastando apenas estar inserida num contexto em que
a língua é falada. Porém, o mesmo não acontece com a aprendizagem da língua portuguesa na
sua dimensão escrita. Para aprender a ler e escrever em língua portuguesa é necessário que a
criança desenvolva um conjunto de capacidades, competências e conhecimentos. No âmbito da
aprendizagem inicial da linguagem escrita, destaca-se a compreensão do princípio alfabético de
escrita do português com profundas implicações pedagógicas, no ensino e aprendizagem da
leitura e da escrita nos anos iniciais do Ensino Primário (Baptista, Viana e Barbeiro, 2011).
Uma vez que o sistema de escrita usado na língua portuguesa é baseado no princípio alfabético,
de acordo com o qual as letras representam os sons da fala de forma convencional (Baptista,
Viana, & Barbeiro, 2011; Silva, 2004), podendo assumir a forma de 1 grafema ou 1 dígrafo
(Duarte, 2000).
3
A numeração dos temas é igual a utilizada no ponto 4 ‘Conteúdo’, e é a mesma utilizada no manual.
26
Um outro aspecto importante tem que ver com o facto de o sistema alfabético de escrita da
língua portuguesa possuir particularidades, sobretudo na forma de relações complexas que se
estabelecem entre os sons do Português e a sua representação ortográfica, tanto na forma de
relações biunívocas como não biunívocas (Duarte, 2000). Assim: a) A relação biunívoca ocorre
quando um grafema corresponde apenas um som e um som corresponde apenas um grafema;
b) Na relação não biunívoca, um mesmo grafema pode representar mais do que um som da fala;
e, inversamente, um mesmo som pode ser representado por diferentes grafemas; ainda, um som
pode representar um dígrafo, existindo inclusive letras que não representam nenhum som, como
o h em <homem>.
Por conseguinte, é essencial que o professor do Ensino Primário compreenda esta complexidade
para actuar didacticamente e apoiar os seus alunos nessa compreensão. Esta actuação e apoio
têm razão de ser em função das implicações que o SAE da LP tem prática pedagógica no Ensino
Primário, as quais consistem no seguinte:
27
Resultados de • Compreender o Sistema alfabético;
Aprendizagem • Reconhecer particularidades do SAE do Português;
• Identificar as principais implicações pedagógicas do SAE na prática
do professor do Ensino Primário.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve
aprendizagem discussão em torno das mesmas;
• Análise e discussão de texto, excertos textuais e casos;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Descoberta das particularidades do SAE do Português a partir de
tarefas de análise de exemplos;
• Exercício de identificação individual ou em grupo, das implicações
pedagógicas do SAE do Português na prática do Professor do Ensino
Primário;
• Discussão com turma em torno das hipóteses levantadas;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno as questões iniciais).
Bibliografia recomendada
Baptista, M. A., Viana, F. L., & Barbeiro, L. F. (2011). O Ensino da Escrita: Dimensões Gráfica
e Ortográfica (pp. 9-34; 49-59). Lisboa : Ministério da Educação, Direcção-Geral de
Inovação e de Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Duarte, I. (2000). Língua Portuguesa: Instrumentos de Análise (pp. 209-284; 373-420). Lisboa:
Universidade Aberta.
Morais, A. G. (2013). Sistema de escrita alfabetica (pp. 111-180). São Paulo, Brasil: Editora
Melhoramentos Ltda.
Silva, A. C. (2004). Descobrir o princípio alfabético. Análise Psicológica, 1(XXII), pp. 187-
191.
Sim-Sim, I. (2009). O ensino da leitura: a decifração (pp. 9-24; 39-58). Lisboa: Ministério da
Educação, Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Vale, A. P. (22 de Setembro de 2020). Aprendizagem da leitura e da escrita: Apreensão do
princípio alfabético (pp. 1-4). (A. Lobo, Ed.) Lisboa, Portugal. Obtido em 8 de
Dezembro de 2021, de https://ler.pnl2027.gov.pt/texto/aprendizagem-da-leitura-e-da-
escrita-apreensao-do-principio-alfabetico.
28
29
1.2. Competências facilitadoras da aprendizagem inicial da leitura e da escrita
Existe uma relação directa entre o grau de desenvolvimento linguístico à entrada no Ensino
Primário e o sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita. Isto justifica-se pelo facto de, no
seu processo de aprendizagem, a linguagem escrita convocar (e alargar) as rotas neuronais
destinadas à linguagem oral (Viana, 2022), tornando-se assim a linguagem oral a fundação para
a criança aprender a identificar ou pronunciar palavras escritas, ou seja, o alicerce sobre o qual
a leitura e a escrita são construídas (Cruz, 2020). Tratando-se de um processo naturalmente
ainda em curso no período de vida em que as crianças entram na escola, o desenvolvimento
linguístico deve ser estimulado desde o nível pré-escolar e durante a frequência do Ensino
Primário, sendo crucial o papel do professor (Gonçalves, Guerreiro, & Freitas, 2011).
30
estruturado, com vista a uma melhoria substantiva dos índices de desempenho linguístico-
comunicativo dos alunos na língua portuguesa (Silva, Viega, Duarte, & Veloso, 2011).
Essa situação é, por si só, um indicador do grande desafio que é ensinar português nesse
contexto, sobretudo dadas as implicações a nível da aprendizagem inicial da leitura e da escrita,
que não devem, de maneira nenhuma, ser ignoradas (Calossa, 2021). Umas destas implicações
é o facto de os conhecimentos que a criança (cujo a língua portuguesa não constitui LM) já
possui sobre a sua Língua Materna constitui a base sobre a qual a criança terá de construir as
novas aprendizagens relacionadas a língua portuguesa, na dimensão oral e escrita. Por esta
razão, é importantes que o professor conheça a realidade sociolinguística do contexto em actua
e seja capaz de identificar a(s) língua(s) em presença na sala de aula.
Tabela 3: Situação Sociolinguística de Angola: a língua portuguesa como Língua Materna (LM) e Língua não
Materna (LNM/L2)
Tema Situação Sociolinguística de Angola: a língua portuguesa como Língua
Materna (LM) e Língua não Materna (LNM/L2)
Conteúdos • Conceitos para análise (socio)linguística;
• Situação Sociolinguística de Angola e suas implicações no ensino da
LP no Ensino Primário.
Resultados de • Compreender a realidade sociolinguística de Angola e suas
Aprendizagem implicações no ensino da LP no Ensino Primário;
• Reconhecer alguns conceitos de análise (socio)linguística;
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes;
aprendizagem • Exposição/ Síntese oral do professor;
31
• Análise e discussão de excertos textuais e figuras;
• Discussão e reflexões orais e/ou escritas;
• Síntese e feedback pelo professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno as questões iniciais);
• Trabalho em grupo para verificação das aprendizagens.
Bibliografia Recomendada
Almeida, L. &. (2013). Bilinguismo. Aquisição de Língua Materna e Não Materna. Questões
Gerais e Dados do Português (pp. 275 -304).
Calossa, B. V. (2021). Português Língua Matena e Não Materna em Angola: Implicações
Didácticas e Políticas. Em A. A. Timbane, D. P. Sassuco, & M. U. (Organizadores), O
português de/em Angola: peculiaridades linguísticas e a diversidade no ensino (pp.
142-159). São Paulo: Opcão Editora.
García, O. (2014). Educação, multilinguismo e translanguaging no seéculo XXI. Em M. A.
Moreira, & K. Zeichner, Filhos de um Deus menor: diversidade linguística e justiça
social na formação de professores (1ª ed., Vol. 1, pp. 53-76). Ramada: Pedago.
Gaspar, S. I. (2015). A Língua Portuguesa em Angola: Contributos para uma metodologia de
Língua Segunda (Dissertação de Mestrado, pp. 3-56). Lisboa: Universidade Nova
Lisboa.
Skutnabb-Kangas, T. (2014). Educação através da língua dominante ou educação multilingue
baseada na língua materna: Direitos Humanos Linguísticos e justiça social. Em M. A.
Moreira, & K. Zeichner, Filhos de um Deus menor: diversidade linguística e justiça
social na formação de professores (1ª ed., Vol. 1, pp. 27-52). Ramada: Pedago.
Soares, L. V. (2016). Diversidade linguística e cultural na Escola. Em A. Costa, F. Botelho, L.
Solla, & L. Soares, Manual de Língua Portuguesa para Professores do Ensino Primário
(pp. 3-24). Angola: Ministério da Educação - República de Angola - PAT.
32
1.2.1.2. Dimensões e factores de desenvolvimento da linguagem oral
Dada a relação estreita entre a linguagem escrita e a oral, o bom desenvolvimento da oralidade
facilita a aprendizagem inicial (e, na verdade, subsequente) da leitura e da escrita. Por razões
maturacionais, a língua materna não está ainda completamente desenvolvida no período de vida
em que as crianças chegam à escola, aos seis anos de idade (Gonçalves, Guerreiro, Freitas &
Sousa, 2011; Sim-Sim, 2009), o que pode ser particularmente afectado por razões de ordem
social, sobretudo devidas a contextos de comunicação menos ricos na estimulação do
desenvolvimento (Sim-Sim, 2009). Por conseguinte, a linguagem oral configura-se como uma
das competências de trabalho didáctico intencional do professor do Ensino Primário. Por
conseguinte, a escola não é apenas lugar de promoção da aprendizagem da vertente escrita da
linguagem, é também, porque tem mesmo de o ser, lugar de desenvolvimento da linguagem
oral, nas suas variadas dimensões, tais como: conhecimento fonológico, conhecimento lexical,
conhecimento morfológico, conhecimento sintáctico, conhecimento semântico e conhecimento
pragmático.
33
➢ Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno as questões iniciais);
➢ Trabalho em grupo para verificação das aprendizagens.
Bibliografia Recomendada
Gonçalves, F., Guerreiro, P., & Freitas, M. J. (2011). O conhecimento da Língua: Percursos de
Desenvolvimento (pp. 9-54). Lisboa: Ministério da Educação: Direcção-Geral de
Inovação e Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Sim-Sim, I., Silva, A. C., & Nunes, C. (2008). Linguagem e Comunicação no Jardim-de-
Infância: Textos de Apoio para Educadores de Infância (pp. 7-46). Lisboa:
DGIDC/PNEP.
Viana, F. L., & Ribeiro, I. (2017). Falar, ler e escrever. Propostas integradoras para jardim
de infância (2ª ed. pp. 44-77). Maia: Lusoinfo Multimédia.
34
1.2.1.3. Princípios da pedagogia da língua portuguesa (língua materna e não
materna)
Por conseguinte, ainda segundo o mesmo autor, as práticas pedagógicas dos professores do
Ensino Primário deverão olhar a língua enquanto elemento passível de aquisição e
desenvolvimento através de experiências activas e significativas, guiadas por contextos
múltiplos de negociação de significados, de onde decorrerá a explicitação das regras e
convenções de uso da língua, por forma que as relações entre conhecimento operativo/usual e
o conhecimento reflexivo da língua dos alunos – consciência linguística – se consubstanciem
numa efectiva competência pragmático-comunicativa.
Pereira (2021) sugere seis princípios pedagogia da língua portuguesa (língua materna e não
materna), os quais especificam as dimensões do apoio social ao desenvolvimento da linguagem
oral, nomeadamente: 1. Situações desafiantes de construção de sentido(s) 2. Prática
comunicativa constante 3. Prática reflexiva 4. Qualidade da interacção do professor 5. Uso da
LM e da cultura materna 6. Desenvolvimento da consciência sociolinguística.
Tabela 5: Planeamento do tema: Princípios da pedagogia da língua portuguesa (língua materna e não materna)
Tema Princípios da pedagogia da língua portuguesa (língua materna e não
materna)
35
Conteúdos • Princípios da pedagogia da língua portuguesa (língua materna e não
materna)
Resultados de • Identificar e compreender os princípios da pedagogia da língua
Aprendizagem portuguesa (língua materna e não materna);
• Desenvolver destrezas/capacidades para conceber e analisar
criticamente propostas pedagógicas para o desenvolvimento da
linguagem oral.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve
aprendizagem discussão em torno das mesmas;
• Análise e discussão de textos, excertos textuais e um esquema;
• Trabalho em grupo sobre os princípios da pedagogia da LP (LN e
LNM/L2);
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno as questões iniciais).
Bibliografia Recomendada
36
Universidade do Minho-Portugal, no âmbito do Acordo de Cooperação entre a
Universidade do Minho e a Unidade Técnica de Gestão do Plano Nacional de Formação
de Quadros da República de Angola (no prelo).
Sim-Sim, I., Silva, A. C., & Nunes, C. (2008). Linguagem e Comunicação no Jardim-de-
Infância: Textos de Apoio para Educadores de Infância (pp. 29-46). Lisboa: DGIDC-
PNEP.
Solla, L. (2016). Oralidade: ensino, aprendizagem e avaliação. Em A. Costa, F. Botelho, L.
Solla, & L. V. Soares, Manual de Língua Portuguesa para Professores do Ensino
Primário (pp. 27-56). Luanda: Ministério da Educação-PAT/Angola.
37
1.2.2. Consciência linguística
Para além do desenvolvimento da linguagem oral, a investigação tem mostrado que para a
aprendizagem inicial da leitura e da escrita, as crianças precisam de ter consciência linguística,
uma capacidade não espontânea que exige treino específico. Trata-se da capacidade de prestar
atenção consciente à aspectos da linguagem oral, que deixa de ser usada para comunicar,
passando a ser usada como objecto de reflexão e de pensamento (Sim-Sim, Silva, & Nunes,
2008). Contudo, é importante sublinhar que o desenvolvimento da consciência linguística
depende muito do crescimento linguístico, isto é, as crianças só vão conseguir reflectir/ter
consciência daquilo que já dominam. O treino e desenvolvimento desta competência no Ensino
Primário, fundamentalmente nas primeiras classes, é de extrema importância, uma vez que a
capacidade de tomar a língua oral como objecto de reflexão e análise se constitui como
competência facilitadora da aprendizagem do modo escrito por causa da natureza do sistema de
escrita alfabético (Viana & Parente, 2019).
Por conseguinte, é essencial para o professor do Ensino Primário conhecer esta competência
facilitadora da aprendizagem inicial da leitura e da escrita assim como as principais
características e estratégias de promoção intencional do seu desenvolvimento.
38
• Desenvolver destrezas/capacidades para conceber e analisar
criticamente propostas pedagógicas para o desenvolvimento da
consciência linguística.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve
aprendizagem discussão em torno das mesmas;
• Análise e discussão de textos, excertos textuais e um esquema;
• Trabalho individual sobre as dimensões da consciência fonológica;
• Trabalho em grupo sobre a consciência fonológica e sobre a
consciência de palavra;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno as questões iniciais);
• Trabalho em grupo sobre o desenvolvimento da consciência
linguística (fonológica e de palavra) no manual de língua portuguesa
e no seu respectivo programa (1ª ou 2ª classe);
Bibliografia Recomendada
Duarte, I. (2000). O Conhecimento Fonológico. Em Instrumentos de Análise (pp. 209-284).
Lisboa: Universidade Aberta.
Duarte, I. (2008). O conhecimento da língua: desenvolver a consciência linguística (pp. 17-28;
35-38). Lisboa: Ministério da educação: Direcção-Geral de Inovação e de
Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Duarte, I. (2011). O conhecimento da língua: Desenvolvimento da consciência lexical (pp. 9-
56). Lisboa: Ministério da Educação: Direcção-Geral de Inovação e de
Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Freitas, M. J., Alves, D., & Costa, T. (2007). O conhecimento da língua: desenvolver a
consciência fonológica (pp. 9-82). Lisboa: Ministério da Educação: Direcçao Geral de
Inovação e de Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Silva, C. V. (2022). Consciência linguística, consciência fonológica e de palavra: Princípios
pedagógicos e análise de tarefas de promoção de consciência linguística. Projecto de
Desenvolvimento Curricular de Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa no
Ensino Primário I. Manuscritos de Apoio as aulas.
Sim-Sim, I., Silva, A. C., & Nunes, C. (2008). Linguagem e Comunicação no Jardim-de-
Infância: Textos de Apoio para Educadores de Infância (pp. 47-68). Lisboa: Ministério
da Educação: Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular - PNEP.
39
1.2.3. Literacia emergente
a terminologia “literacia emergente” procura realçar não só o facto de a leitura e a escrita estarem
inter-relacionadas e se desenvolverem em simultâneo, como também a precocidade do
envolvimento das crianças, que permite o emergir de concepções de diferentes tipos e que se vão
sustentando umas às outras… tais conhecimentos emergentes de literacia, se enquadram em
quatro grandes tipos: os conhecimentos ligados à percepção da funcionalidade da leitura e da
escrita; os conhecimentos associados a aspectos mais formais, como as convenções e associações
entre linguagem oral e linguagem escrita; os conhecimentos relacionados com as estratégias e
comportamentos de quem lê e escreve; e as atitudes face à leitura e à escrita
Além disso, a vivência das situações permite às crianças ainda não iniciadas na leitura e na
escrita a construção de uma motivação forte para a aprendizagem formal. Em suma, na fase que
antecede o ensino formal da leitura e da escrita, como, por exemplo, na classe de iniciação, ou
quando esse ensino está acontecer, o desenvolvimento da linguagem oral na língua de
escolarização, da consciência linguística e de conhecimentos informais sobre a linguagem
escrita (literacia emergente), competências facilitadoras da aprendizagem inicial da leitura e
escrita, são investimentos obrigatórios e factores determinantes no sucesso da aprendizagem
inicial da leitura e da escrita, mas também na formação de aprendizes escolares mais capazes.
40
Resultados de • Compreender o conceito de literacia emergente;
Aprendizagem • Compreender a relevância da promoção da literacia emergente na
aprendizagem inicial da leitura e da escrita;
• Distinguir A evolução das conceptualizações das crianças acerca do
que se lê e se escreve (psicogénese);
• Reconhecer e compreender os princípios pedagógicos de
desenvolvimento da literacia emergente.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve
aprendizagem discussão em torno das mesmas;
• Análise e discussão de textos, excertos textuais e figuras/casos;
• Trabalho individual de análise crítica de excertos textuais e casos;
• Trabalho em grupo de análise critica de textos e casos;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno as questões iniciais);
• Trabalho em grupo de concepção de uma proposta pedagógica para
desenvolver a literacia emergente.
Bibliografia Recomendada
Baptista, M. A., Viana, F. L., & Barbeiro, L. F. (2011). O Ensino da Escrita: Dimensões Gráfica
e Ortográfica (pp. 23-34). Lisboa: Ministério da Educação: Direcção-Geral de Inovação
e de Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Mata, L. (2008). A Descoberta da Escrita: Textos de Apoio para Educadores de Infância (pp.
9-94). Lisboa: Ministério da Educação: Direcção Geral de Inovação e de
Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Sim-Sim, I. (2009). O ensino da leitura: a decifração (pp. 9-24). Lisboa: Ministério da
Educação-DGIDC-PNEP.
Viana, F. L., & Parente, M. C. (2019). «Ler» antes de ler. Dos pré requisitos às competências
facilitadoras. Em F. H. Veiga, Psicologia da Educação III. Temas de aprofundamento
científico para a Educação XXI (pp. 407-439). Lisboa: Climepsi Editores. Obtido de
http://hdl.handle.net/1822/61512
Viana, F. L., & Ribeiro, I. (2017). Falar, ler e escrever. Propostas integradoras para jardim
de infância (2ª ed. pp. 9-23). Maia: Lusoinfo Multimédia.
41
1.3. Ensino inicial da leitura e da escrita
Saber ler constitui uma grande conquista para qualquer criança de qualquer sistema de ensino,
além disso, é essencial para a sua vida escolar e social. Quando uma criança entra para escola,
tanto ela quanto os seus pais ou encarregados de educação definem, de forma implícita, a
aprendizagem da leitura como uma meta a atingir no processo primário de escolarização,
incumbindo-se assim à escola, em particular ao professor, a função de ensinar o aluno a ler.
No entanto, tal como afirma (Sim-Sim, 2009), aprender a ler é um desafio colocado
simultaneamente ao aluno e ao professor. O primeiro espera ingenuamente, pelo passo da
magia, ficar a saber ler ao pisar no chão da escola; o segundo sabe que a tarefa exige empenho,
esforço e muito trabalho, incluindo a família. Ainda segundo a autora, “ao contrário do aluno,
o professor sabe que o produto desta parceria irá afectar toda a vida escolar do candidato a
leitor, mas talvez nem sempre se lembre que será lembrado como aquele que o ensinou a ler”
(p. 9).
Para ensinar a ler e a escrever, o professor precisa de compreender o que a leitura é, de conhecer
os mecanismos implicados, como, por exemplo, as vias que o leitor utiliza para identificar ou
reconhecer palavras escritas, bem como os princípios pedagógicos e métodos para o ensino
inicial da leitura.
De acordo com Castro (2020) numa fase inicial da aprendizagem, este processo requer atenção
e esforço. Não funciona em piloto automático. O leitor tem de se aplicar: ter intenção de ler,
prestar atenção às palavras e aos seus constituintes, procurar o seu conhecimento prévio para
ser capaz de transformar o escrito em falado.
42
Consideram-se aqui como princípios pedagógicos fundamentais para/no ensino da leitura os
propostos por Sim-Sim, (2009): 1. Situar a aprendizagem da leitura em contextos de leitura; 2.
Realizar o ensino explícito; 3. Proporcionar prática situada transformada em que as crianças
mobilizam (conscientemente) o que aprenderam (conscientemente) para treinar (ler e escrever);
4. Avaliar formativamente as aprendizagens.
43
• Trabalho em grupo de análise crítica de actividades/propostas
pedagógicas de ensino inicial da leitura e escrita do manual de Língua
Portuguesa da 1ª Classe.
Bibliografia Recomendada
Botelho, F. (2016). Leitura: ensino, aprendizagem e avaliação. Em A. Costa, F. Botelho, L.
Solla, & L. V. Soares, Manual de Língua Portuguesa para Professores do Ensino
Primário (pp. 57-81). Luanda: Ministério da Educação-PAT/República de Angola.
Castro, S. L. (22 de Setembro de 2020). As características dos processos de decodificação e
codificação numa fase inicial da aprendizagem. LER: Leitura-Escrita-Recursos. (A.
Lobo, Ed. pp. 1-4). Obtido em 14 de Janeiro de 2022, de
https://ler.pnl2027.gov.pt/texto/caracteristicas-dos-processos-de-decodificacao-e-
codificacao-numa-fase-inicial-da-aprendizagem
Pereira, Í. S. (2020). Imaginando a didática língua portuguesa na Educação Pré-Escolar e no
1.º Ciclo do Ensino Básico (pp. 80-100). Braga: Centro de Investigação em Educação
(CIEd) Instituto da Educação, Universidade do Minho.
Morais, J. (2012). Criar leitores: 0 ensino da leitura - para professores e encarregados de
educação (pp. 19-24; 35-46; 69-82). Porto: Livpsic.
Rodrigues, A. M., Araújo, M. d., & Mendes, T. M. (2010). O processo de identificação de
palavras escritas. Em Í. S. Pereira, O ensino do português no 1.º ciclo do ensino básico:
Construção de saberes profissionais no contexto do PNEP e do novo programa de
português (Vol. 2, pp. 19-38). Braga: Instituto de Educação da Universidade do Minho-
Serviço de Publicações.
Sim-Sim, I. (2009). O ensino da leitura: a decifração (pp. 9-18; 25-70). Lisboa: Ministério da
Educação: Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Viana, F. L. (2009). O Ensino da Leitura: a avaliação (pp. 9-21). Lisboa: Ministério da
Educação: Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Viana, F. L. (2022). Ensino inicial da leitura e da escrita. Em Í. S. Pereira, F. L. Viana, & R.
Ramos, Metodologia da Iniciação à Leitura e à Escrita: Manual da Unidade Curricular
(pp. 59-113). Instituto de Educação: UMinho-UTG/PNFQ: Angola.
44
1.4. Ensino da ortografia
Isto quer dizer que o futuro professor precisa compreender e desenvolver um conjunto de
saberes e competências relacionadas a ortografia e ao seu ensino, tais como (i)
saber/compreender que a ortografia constitui um conjunto de convenções que fixa a forma
escrita única (escrita correcta) das palavras de uma língua, (ii) determinando regras a serem
observadas no processo de conversão de unidades fonológicas em padrões visuais
(letras/conjunto de letras/sinais/diacríticos…) (iii) assim como as formas cuja escrita segue
critérios etimológicos, imprevisíveis e irregulares. É a observância destas regras e convenções
que determina a produção automatizada, rápida e uniforme de palavras e textos escritos numa
determinada língua, como a língua portuguesa.
Na escrita ortográfica, utilizamos fundamentalmente duas vias: a) a via lexical (directa, visual
ou ortográfica), que, ao basear a escrita das palavras na activação de representações
ortográficas, serve a escrita de palavras familiares e, em especial, a escrita de palavras em cuja
grafia se encontram irregularidades; b) a via sublexical (indirecta ou fonológica), que, ao basear
a escrita das palavras na activação da correspondência entre fonemas e grafemas, serve
essencialmente a escrita de palavras cuja grafia é regular e previsível (Barbeiro, 2007).
Quando aprendem a escrever as palavras, as crianças deparam-se com muitas dificuldades que
as leva, a cometer incorrecções ou erros ortográficos. De acordo com Baptista, Viana, e
Barbeiro (2011), estas dificuldades têm duas razões: 1. a complexidade das relações sons letras;
2. a existência de uma forma ortográfica vs a diversidade do oral, que acarretam consigo várias
45
implicações no ensino explícito da ortografia em língua portuguesa. Conforme a consta na
tabela 1.
Tabela 9: Implicações das dificuldades ortográficas no ensino explícito da ortografia em língua portuguesa
Dificuldades Implicações para o ensino explícito da ortografia em língua
ortográficas portuguesa
A complexidade das - Implica dominar as correspondências e regras de representação
relações sons/letras dos sons. Necessidade de treinar/desenvolver o acesso à forma
ortográfica correcta pela via fonológica ou sublexical (conhecer
regras);
- Implica memorizar a forma ortográfica das palavras (sobretudo
as irregulares – da língua portuguesa). Necessidade de
treinar/desenvolver o acesso à forma ortográfica correcta pela via
visual ou lexical (memorizar a forma convencionada).
A existência de uma - Decorrente do conhecimento do aluno. Necessidade de
forma ortográfica vs a promover a correcção da articulação dos sons das palavras
diversidade do oral (actuação na base da via fonológica)
- Decorrente do conhecimento do aluno. Necessidade de dar a
conhecer a oralidade padrão que serve de base à norma escrita e
de facilitar o acesso a essa variedade4 (actuação na base da via
fonológica);
- Decorrente do conhecimento do aluno. Necessidade de explorar
a via lexical de acesso à ortografia.
4
Em Angola a norma padrão é o acordo ortográfico de 1945.
46
prévia e continuada o diagnóstico/rastreio das incorrecções ortográficas que o aluno apresenta
na escrita.
47
• Identificar os principais símbolos gráficos usados na representação
ortográfica da língua portuguesa;
• Reconhecer as vias de acesso à escrita ortográfica
• Identificar e compreender as razões das dificuldades ortográficas
(incorrecções/erros ortográficos) e suas as implicações no ensino
explícito da ortografia (acção pedagógica preventiva) em língua
portuguesa;
• Compreender a tipologia e a pedagogia do erro ortográfico;
o Conhecer e aplicar estratégias pedagógicas remediativas das
dificuldades ortográficas em língua portuguesa;
• Reconhecer as principais finalidades para o ensino explícito da
ortografia;
• Desenvolver capacidades e competências para conceber e analisar
criticamente tarefas/actividades ou propostas pedagógicas de ensino
explícito da ortografia.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve
aprendizagem discussão em torno das mesmas;
• Análise e discussão de textos, excertos textuais e
figuras/casos/esquemas;
• Trabalho individual de análise crítica de excertos textuais e casos;
• Trabalho em grupo de análise critica de textos, excertos de textos,
casos e tarefas;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno as questões iniciais);
• Trabalho em grupo de análise crítica de actividades/propostas
pedagógicas de ensino da ortografia.
Bibliografia Recomendada
Baptista, M. A., Viana, F. L., & Barbeiro, L. F. (2011). O Ensino da Escrita: Dimensões Gráfica
e Ortográfica (pp. 9-10; 49-104). Lisboa: Ministério da Educação: Direcção-Geral de
Inovação e de Desenvolvimento Curricular - PNEP.
48
Barbeiro, L. (2007). Aprendizagem da ortografia: princípios, dificuldades e problemas (pp. 30-
34; 41-122). Porto: ASA Editores, S.A.
Leite, K. M. (2007). (Orto)grafia e revisão textual: os impasses da correção. Em A. d. Silva, A.
G. Morais, & K. L. Melo, Ortografia na sala de aula (pp. 109-124). Belo Horizonte:
Autêntica.
Lopes, A. M., Carvalho, J. M., & Machado, M. J. (2010). Ortografia: sons, fotografias mentais
e dialectos. Em Í. S. Pereira, O ensino do português no 1.º ciclo do ensino básico:
Construção de saberes profissionais no contexto do PNEP e do novo programa de
português (volume 2) (pp. 39-58). Braga: Instituto de Educação da Universidade do
Minho - Serviço de Publicações.
Melo, K. L. (2007). Refletindo sobre a ortografia na sala de aula. Em A. d. Silva, A. G. Morais,
& K. L. Melo, Ortografia na sala de aula (pp. 77-94). Belo Horizonte: Autêntica.
Morais, A. G. (2007). A norma ortográfica do português: o que é? para que serve? como está
organizada? Em A. d. Silva, A. G. Morais, & K. L. Melo, Ortografia na sala de aula
(pp. 11-28). Belo Horizonte: Autêntica.
Ramos, R. (2022). A ortografia. Em Í. S. Pereira, F. L. Viana, & R. Ramos, Metodologia da
Iniciação à Leitura e à Escrita: Manual da Unidade Curricular (pp. 111-131).
IE.Uminho-UTG/PNFQ-República de Angola (no prelo).
Rego, L. L. (2007). O aprendizado da norma ortográfica. Em A. d. Silva, A. G. Morais, & K.
L. Melo, Ortografia na sala de aula (pp. 29-44). Belo Horizonte: Autêntica.
49
Unidade II: Compreensão e Produção Textual
Noção de texto
O texto está sempre presente em uma aula de Língua Portuguesa no Ensino Primário como
suporte de ensino e aprendizagem dos mais variados domínios de aprendizagem da Língua.
Além disso, está transversalmente presente em todos os restantes domínios curriculares. Por
conseguinte, o texto é um instrumento essencial na aprendizagem escolar.
Um aspecto importante a reter sobre tipos e géneros textuais é o de que os géneros textuais
integram em si as tipologias textuais, operacionalizando-as/concretizando-as, em função da
situação socio-comunicativa, uma vez que, independentemente do género, em situações socio-
comunicativas os discursos/enunciados visam sempre narrar factos, descrever objectos,
expor/explicar ideias ou conceitos, defender, argumentar posições, estabelecer um
50
diálogo/interacção, e/ou dar uma instrução ou fazer um pedido, e isto faz do género textual uma
entidade concreta que surge em função da necessidade situacional e contextual de comunicar,
servindo-se das tipologias textuais.
Outrossim, tendo em conta que a didáctica da língua, em particular do texto, tem de se alinhar
com a realidade socio-comunicativa do aluno, para a qual se espera que o prepare, o ensino
explícito da compreensão e produção de géneros textuais ganha particular destaque, com
particular atenção àqueles géneros de texto que o aluno precisa dominar para a sua efectiva
participação social (Marcushi, 2002, 2008; Pereira, Pinilla, e Costa, 2006).
51
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno as questões iniciais);
• Trabalho em grupo de análise crítica dos textos de um manual de
Língua Portuguesa do Ensino Primário e seu respectivo programa.
Bibliografia Recomendada
Marcuschi, L. A. (2008). Produção textual, Análise de gêneros e compreensão (pp. 58-60; 71-
133). S. Paulo: Parábola.
Marcuschi, L. A. (2002). Gêneros textuais: definição e funcionalidade. Em A. P. Dionisio,
Gêneros textuais & ensino (pp. 19-36). Rio de Janeiro: Lucerna.
Pereira, C. C., Pinilla, M. A., & Costa, M. C. (2006). Géneros textuais e modos de organização
do discurso: uma proposta para a sala de aula. Em M. A. Pauliukonis, Estratégias de
Leitura: Texto e Ensino (pp. 27-58). Rio de Janeiro: Lucerna.
Ramos, R. (2022). Fundamentos da abordagem discursiva/textual. Em Í. S. Pereira, A. M.
Ribeiro, & R. Ramos, Metodologia de ensino da compreensão e da produção textual:
Manual da UC (pp. 5-21). IE.Uminho-Portugal e UTG/PNFQ-República de Angola (no
prelo).
Silva, P. N. (2012). Tipologias Textuais: Como classificar textos e sequências (pp. 124-181).
Coimbra: Edições Almedina/CELGA.
52
2.2. Compreensão Textual
Nesta perspectiva, a compreensão pode ser vista como o processo de uso das experiências
prévias e das pistas do autor para construir um conjunto de significados que são úteis para o
indivíduo que está a ler num contexto sociocultural específico. Este processo envolve o
entendimento e a memória selectiva de ideias em períodos escritos, a inferência de relações
entre orações e períodos, a organização dessas ideias noutras que as organizam no género
textual e a realização de inferências não necessariamente pretendidas pelo autor. Estes
processos trabalham conjuntamente e podem ser controlados e ajustados pelo leitor sempre que
requerido pelos seus objectivos de leitura (processos metacognitivos) e pela situação de
compreensão.
53
Elaborativos, Processos Metacognitivos ou Metaprocessos. Cada um destes processos possui
os seus subprocessos (Cf. Figura 2).
54
• Desenvolver capacidades/competências para conceber e analisar
criticamente tarefas/actividades ou propostas pedagógicas de
compreensão textual.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve
aprendizagem discussão em torno das mesmas (leitura e compreensão do texto “Bula
do Paracetamol);
• Análise e discussão de (excertos de) textos, casos, esquemas, tarefas
ou propostas pedagógicas;
• Trabalho em grupo e/ou individual de análise crítica de (excertos de)
textos, casos, esquemas, tarefas ou propostas pedagógicas;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula;
• Trabalho em grupo de análise crítica de uma proposta de compreensão
de texto de um manual de Língua Portuguesa do Ensino Primário.
Bibliografia Recomendada
55
Lisboa: Ministério da Educação/Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento
Curricular/PNEP.
Viana, F. L., & Ribeiro, I. (2020a). Como a capacidade linguística, o conhecimento geral, as
estruturas cognitivas e afetivas do leitor influenciam a compreensão da leitura (pp. 1-
4). Leitura-Escrita-Recursos.
Viana, F. L., & Ribeiro, I. (2020b). Compreensão da leitura (pp. 1-10). LER: Leitura-Escrita-
Recursos.
56
2.2.1. Ensino da compreensão de texto
Ler é muito mais do que reconhecer uma sequência de palavras escritas. A essência da leitura
é a construção do significado de um texto escrito, i.e., a compreensão textual (Sim-Sim, 2007).
Na sociedade actual, em que toda a informação está ao alcance de um click, a compreensão da
leitura é, cada vez mais, uma exigência para a inserção social dos indivíduos e para o exercício
pleno da cidadania. A facilidade de acesso à informação exige não só que o leitor seja um “bom
compreendedor,” mas também “crítico”. A investigação aponta para a necessidade e a
importância de se ensinar o aluno a realizar essa boa compreensão, seja através de boas práticas
de compreensão, seja através do ensino explícito da compreensão, assumindo-se que, sem este
ensino explícito, muitos alunos não atingirão níveis aceitáveis de compreensão do que lêem
(Viana & Ribeiro, 2020b), sendo que a transversalidade curricular da compreensão textual eleva
a necessidade do seu ensino nas aulas de Língua Portuguesa.
57
compreensão e do ensino metacognitivo (que consiste em desafiar o aprendente a ter
consciência de como se aprende, como aprendeu, o que fez para aprender, etc.) Este ensino
metacognitivo é facilitado pela realização de “perguntas de processo” (ex.: O que fizeste
para...? Explica como descobriste...), essenciais na condução dos alunos ao reconhecimento da
forma como fazem para compreender. Desta forma, o ensino explícito da compreensão
revaloriza o trabalho do professor, mas também exige dele um muito bom conhecimento do que
é a compreensão textual e do que o seu ensino implica (Pereira, 2022b).
58
• Trabalho em grupo de análise crítica de uma proposta de compreensão
de texto de um manual de Língua Portuguesa do Ensino Primário.
Bibliografia Recomendada
59
2.2.2. Ensino da compreensão de vocabulário novo
Pereira (2022b) apresenta deste modo as principais razões para o ensino da compreensão do
vocabulário novo:
a) Por um lado, a compreensão dos significados (literais ou não) da maior parte das
palavras de um texto é condição sine qua non para o compreender. Apesar de se saber
que (ler e) compreender um texto desenvolve o conhecimento do vocabulário, também
se sabe que conhecer o vocabulário ajuda a (ler e) compreender melhor. Ao intervir
pedagogicamente sobre o conhecimento do vocabulário, quer-se potenciar esse ciclo
virtuoso de aprendizagem;
b) Por outro, para os leitores menos experientes, como são os do Ensino Primário, a
existência de vocabulário desconhecido nos textos é, com toda a probabilidade,
frequente e espectável. A investigação revela que a limitação no vocabulário é um dos
factores que afecta a compreensão. Este facto é especialmente importante nos contextos
de língua segunda, como o angolano. Isto significa que a prática de leitura pode não ser
suficiente para ultrapassar as necessidades de conhecimento linguístico do vocabulário,
sendo necessário levar a cabo um tipo de ensino explícito que potencie a capacidade de
o aluno aumentar autonomamente o seu conhecimento lexical. O ensino do vocabulário
visa impedir esse ciclo vicioso de aprendizagem, com provável consequência da
motivação e predisposição para a actividade de compreensão.
Com isto, mais uma vez enfatiza-se o papel do professor e preparação deste para: realizar o
ensino explícito das estratégias que o aluno pode utilizar para descobrir o significado de
palavras novas [ex. usar o contexto para levantar hipóteses sobre (inferir) o significado da
palavra; analisar a estrutura morfológica (estrutura interna) das palavras (consciência
morfológica)]; criar condições para que as novas palavras sejam, de facto, apropriadas e usadas
(e não ‘mecanicamente decoradas’); criar a predisposição/o interesse das crianças pelo
conhecimento das palavras.
60
Tabela 14: Planeamento do tema: Ensino da compreensão de vocabulário novo
Tema Ensino da compreensão de vocabulário novo
Conteúdos • O ensino de estratégias de compreensão de vocabulário: sua
importância, principais objectivos e processos pedagógicos.
Resultados de • Compreender a importância do ensino do vocabulário;
Aprendizagem • Compreender os principais objectivos do ensino do vocabulário;
• Distinguir estratégias de compreensão de palavras novas;
• Conhecer processos pedagógicos de ensino do vocabulário;
• Desenvolver capacidades/competências para conceber e analisar
criticamente tarefas/actividades ou propostas pedagógicas para o
ensino (explícito) da compreensão de vocabulário novo.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve
aprendizagem discussão em torno das mesmas;
• Análise e discussão de (excertos de) textos, casos, esquemas, tarefas
ou propostas pedagógicas;
• Trabalho em grupo e/ou individual de análise crítica de (excertos de)
textos, casos, tarefas ou propostas pedagógicas;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula;
• Trabalho em grupo de análise crítica de uma proposta de compreensão
de texto de um manual de Língua Portuguesa do Ensino Primário.
Bibliografia Recomendada
61
Pereira, Í. S. (2022b). O ensino da compreensão de texto. Em Í. S. Pereira, A. M. Ribeiro, & R.
Ramos, Metodologia do ensino da compreensão e da produção textual: Manual da UC
- Mestrado em Metodologia do Ensino Primário - Especialidade Língua Portuguesa
(pp. 22-85). Documento elaborado pelo Instituto de Educação da Universidade do
Minho – Portugal, no âmbito do Acordo de Cooperação entre a Universidade do Minho
e a Unidade Técnica de Gestão do Plano Nacional de Formação de Quadros da
República de Angola (no prelo).
62
2.3. A produção de texto
Ao longo da escolarização, sobretudo nas aulas de Língua Portuguesa, a escrita de textos é uma
prática constante. No entanto ainda persiste na prática de muitos professores angolanos a
concepção da escrita de textos como ‘actividade de escrita livre de uma composição’ de tipo e
de géneros indefinidos e sem necessidade de ensino explícito. Assim se configuram situações
em que os alunos são desafiados a escrever com a finalidade de serem avaliados, avaliação esta
que incide fundamentalmente sobre o produto final da escrita.
Como forma de contrapor esta realidade e com vista a impulsionar mudanças na prática dos
professores angolanos, neste currículo e no seu respectivo manual concebe-se a escrita de textos
como uma actividade de produção de géneros textuais, i.e., como um processo complexo que
requer a mobilização de diversos conhecimentos e competências, regras e procedimentos
específicos por parte de quem escreve, assumindo-se como objecto de ensino explícito na
escola. Procura-se que os alunos se tornem capazes de escrever textos autonomamente, capazes
de produzirem textos que lhes dêem acesso às múltiplas funções que a escrita desempenha na
sociedade.
63
• Identificar e caracterizar os processos básicos da produção textual;
• Compreender o modo como os processos básicos da produção textual
se relacionam e se articulam entre si;
• Desenvolver capacidades/competências para conceber e analisar
criticamente tarefas/actividades ou propostas pedagógicas para
produção textual.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve discussão
aprendizagem em torno das mesmas;
• Análise e discussão de (excertos de) textos, casos, esquemas, tarefas ou
propostas pedagógicas;
• Trabalho em grupo e/ou individual de análise crítica de (excertos de)
textos, casos, tarefas ou propostas pedagógicas;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno às questões inicias);
• Trabalho em grupo de análise crítica de uma proposta de compreensão
de texto de um manual de Língua Portuguesa do Ensino Primário.
Bibliografia Recomendada
Baptista, M. A., Viana, F. L., & Barbeiro, L. F. (2011). O Ensino da Escrita: Dimensões Gráfica
e Ortográfica (pp. 9-10; 49-104). Lisboa: Ministério da Educação: Direcção-Geral de
Inovação e de Desenvolvimento Curricular - PNEP.
Barbeiro, L. F., & Pereira, L. Á. (2007). Ensino da Escrita: A Dimensão Textual (pp. 7-30).
Lisboa: Ministério da Educação: Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento
Curricular - PNEP.
Pereira, L. Á., & Azevedo, F. (2005). Como abordar a escrita no 1º ciclo do Ensino Básico
(pp. 32-55). Porto: Areal Editores.
Ribeiro, A. M. (2022). O Ensino da produção textual. Em Í. S. Pereira, A. M. Ribeiro, & R.
Ramos, Metodologia do ensino da compreensão e da produção textual: Manual da UC
- Mestrado em Metodologia do Ensino Primário - Especialidade Língua Portuguesa
(pp. 69-88). Documento elaborado pelo Instituto de Educação da Universidade do
Minho – Portugal, no âmbito do Acordo de Cooperação entre a Universidade do Minho
e a Unidade Técnica de Gestão do Plano Nacional de Formação de Quadros da
República de Angola (no prelo).
64
2.3.1. O ensino (explícito) da produção textual: procedimentos pedagógicos
Neste sentido, Barbeiro e Pereira (2007) propõem dois âmbitos de intervenção do professor no
ensino explícito da produção textual, nomeadamente:
• acção sobre o contexto dos escritos: para proporcionar a escrita de textos de géneros
textuais social e culturalmente relevantes e o acesso às suas múltiplas funções. O que se
quer é que os alunos reconheçam sentido aos textos que escrevem.
O Ensino explícito da produção textual incide fundamentalmente sobre o ensino dos processos
básicos da produção de diferentes textos, a planificação, a textualização e a revisão. Outra vez,
Barbeiro e Pereira (2007) distinguem três principais procedimentos pedagógicos ou estratégias
de ensino da produção textual que podem ser utilizadas pelo professor no ensino o explícito da
produção de textos (diversificados), nomeadamente:
65
para que possa escrever de modo mais adequado numa determinada situação de
comunicação;
• Caderno de escrita: Constitui uma prática de incentivo à produção textual por
iniciativa própria, de forma a se desenvolver uma relação pessoal positiva com a escrita.
Tabela 16: Planeamento do tema: O ensino (explícito) da produção textual: procedimentos pedagógicos
Tema O ensino (explícito) da produção textual: procedimentos pedagógicos
Conteúdos • Finalidades do ensino (explícito) da produção textual
• Princípios orientadores do ensino (explícito) da produção textual
• Âmbitos de intervenção do professor no ensino (explícito) da produção
textual
• Procedimentos pedagógicos de ensino da produção textual: Ciclo de
escrita; Sequência didáctica; Caderno de escrita
Resultados de • Compreender as finalidades do ensino (explícito) da produção textual;
Aprendizagem • Distinguir os princípios orientadores do ensino (explícito) da produção
textual;
• Compreender a necessidade do ensino explícito da produção textual;
• Distinguir e compreender os procedimentos pedagógicos de ensino
(explícito) da produção textual;
• Desenvolver capacidades/competências para conceber e analisar
criticamente tarefas/actividades ou propostas pedagógicas para ensino
(explícito) da produção textual.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve discussão
aprendizagem em torno das mesmas;
• Análise e discussão de (excertos de) textos, casos, esquemas, tarefas ou
propostas pedagógicas;
• Trabalho em grupo e/ou individual de análise crítica de (excertos de)
textos, casos, tarefas ou propostas pedagógicas;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas na
aula (retorno às questões inicias);
66
• Trabalho em grupo de elaboração de uma sequência didáctica para
ensinar os alunos a escrever um género textual a escolha dos
estudantes.
Bibliografia Recomendada
Barbeiro, L. F., & Pereira, L. Á. (2007). Ensino da Escrita: A Dimensão Textual (pp. 31-50).
Lisboa: Ministério da Educação/Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento
Curricular/PNEP.
Pereira, L. Á., & Azevedo, F. (2005). Como abordar a escrita no 1º ciclo do Ensino Básico
(pp. 56-102). Porto: Areal Editores.
Ribeiro, A. M. (2022). O Ensino da produção textual. Em Í. S. Pereira, A. M. Ribeiro, & R.
Ramos, Metodologia do ensino da compreensão e da produção textual: Manual da UC
- Mestrado em Metodologia do Ensino Primário - Especialidade Língua Portuguesa
(pp. 69-88). Documento elaborado pelo Instituto de Educação da Universidade do
Minho – Portugal, no âmbito do Acordo de Cooperação entre a Universidade do Minho
e a Unidade Técnica de Gestão do Plano Nacional de Formação de Quadros da
República de Angola (no prelo).
Spinillo, A. G., & Correa, J. (org.) (2019). A escrita de textos por crian<;as: Iimites,
possibilidades e implicações educacionais (1ª ed., Vols. A criança, a leitura e a escrita;
v. 3 pp. 43-104; 151-192). São Paulo: Vetor.
67
Unidade III: Ensino da Gramática
Antes de iniciar a escolarização formal, a criança já é conhecedora da sua língua: ainda que de
forma inconsciente, é este conhecimento que lhe permite participar da sua comunidade
linguística. Dito de outra forma, “antes de entrar para a escola, a criança aprende uma linguagem
vernacular com a qual interage e comunica e, através dela, constrói progressivamente o seu
saber sobre o mundo que a rodeia. Porém, ao iniciar o percurso de escolarização formal, a
criança inicia um novo percurso de aprendizagem da língua, mais concretamente, o da
aprendizagem da linguagem especializada (língua padrão), que tem de passar a dominar para
poder, através dela, construir as aprendizagens escolares” (Pereira, Pereira, & Pereira, 2010, p.
181). Com efeito, a escola passa a ser assim a charneira ou a ponte que ajuda a criança a aceder
a norma padrão da língua que já usa ou conhece.
Em casos em que a Língua Portuguesa (língua de escolarização) não constitui língua materna
(a língua que a criança já conhece e usa), ainda assim é sobre as estruturas que a criança já
possui sobre a sua língua materna que se vai iniciar o percurso de aprendizagem e ou aquisição
desta nova língua que se lhe apresenta. No entanto, para o caso do ensino da gramática, afirma
Costa (2016), há todo um percurso de desenvolvimento e consolidação de competências
comunicativas essencialmente orais nesta língua segunda a ser percorrido pela criança, que é
prévio à capacidade de manipular intencionalmente estruturas da língua de forma a
compreender o seu funcionamento.
Deste modo, há toda uma necessidade de (o professor) proporcionar aos alunos situações de
aprendizagem em que estes tomam consciência do que já sabem sobre a língua, transformando
conhecimento implícito em explícito. No Ensino Primário, ensinar gramática consistirá então
na promoção do conhecimento explícito da língua que se usa, isto é, num processo progressivo
de transição do conhecimento implícito (gramática implícita) para o conhecimento explícito
(gramática explícita) passando pela consciência linguística, conforme ilustra a Figura 3. Essa
explicitação constitui um factor importante para o sucesso escolar não só na língua portuguesa,
mas também noutras áreas curriculares (Silva & Silva, Metodologia do Ensino da Gramática:
Manual da UC, 2022).
De acordo com este entendimento, a gramática normativa dá conta de uma realidade linguística
que começa por ser exterior ao falante: descreve e prescreve a norma da língua.
68
Figura 3: A transição do conhecimento implícito para o conhecimento explícito da língua (Silva & Silva, 2022)
Tabela 17: Planeamento do tema: Da gramática implícita ao conhecimento explícito, passando pela gramática
normativa
Tema Da gramática implícita ao conhecimento explícito, passando pela
gramática normativa
Conteúdos • Os múltiplos sentidos (tipos) da gramática: implícita, explícita,
normativa
• Da gramática implícita ao conhecimento explícito, passando pela
gramática normativa
• Razões para o ensino da gramática
• Objectivos para o ensino da gramática
Resultados de • Distinguir e compreender os múltiplos sentidos (tipos) da gramática:
Aprendizagem implícita, explícita e normativa;
• Diferenciar o conhecimento explícito do conhecimento implícito da
língua;
• Compreender os fundamentos do ensino da gramática, indicando as
razões e as finalidades a atingir com esse ensino;
• Desenvolver capacidades/competências para conceber e analisar
criticamente tarefas/actividades ou propostas pedagógicas para ensino
(explícito) da gramática.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve discussão
aprendizagem em torno das mesmas;
69
• Análise e discussão de (excertos de) textos, casos e esquemas;
• Trabalho em grupo e/ou individual de análise crítica de (excertos de)
textos, casos e esquemas;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas ao
longo do desenvolvimento dos conteúdos (retorno às questões inicias);
• Trabalho em grupo de análise crítica de um programa de Língua
Portuguesa do Ensino Primário.
Bibliografia Recomendada
70
Silva, A. C., & Silva, C. V. (2022). Metodologia do Ensino da Gramática: Manual da UC (pp.
6-20). Documento elaborado pelo Instituto de Educação da Universidade do Minho –
Portugal, no âmbito do Acordo de Cooperação entre a Universidade do Minho e a
Unidade Técnica de Gestão do Plano Nacional de Formação de Quadros da República
de Angola (no prelo).
Silva, C. V. (2008). O valor do conhecimento gramatical no ensino-aprendizagem da língua
(pp. 89-106). Saber (e) Educar(13).
71
3.2. Procedimentos pedagógicos de ensino da gramática
Como ensinar a gramática? Muitos professores do Ensino Primário já se terão feito esta
questão, e, por falta de respostas, muitos acabam por ensinar a gramática do jeito que a
aprenderam quando ainda eram estudantes ou do jeito que lhes convém. No limite, há quem
prefere mesmo não ensinar a gramática, principalmente quando se trata de conteúdos mais
complexos.
Muitos estudos (Duarte, 1998, 2008; Silva, 2008, 2016; Rodrigues, Viegas, & Oliveira, 2021)
defendem que o modelo tradicional de ensino da gramática não é o mais adequado para se
ensinar esta componente do conhecimento da língua, uma vez que o mesmo consagra um ensino
que faz recurso à memorização de saberes transmitidos, resultando numa aprendizagem passiva,
mecânica e repetitiva. Através desta prática, (i) o aluno não se torna capaz de estabelecer e
desenvolver relações entre conceitos (da língua) já adquiridos (conhecimento implícito) e novos
(conhecimento explícito), pelo que (ii) nunca chega a apropriar-se efectivamente dos saberes e,
como consequência, (iii) não desenvolve aprendizagens significativas, (iv) não promove
qualquer tipo de desenvolvimento de consciência linguística, (v) nem promove uma utilização
correcta da língua quer para comunicar de forma adequada quer para organizar o pensamento,
o que poderá terá implicações negativas no comportamento linguístico do aluno.
Concordando com Silva e Silva (2022), no Ensino Primário, as actividades que visam trabalhar
o conhecimento gramatical assentam, frequentemente, em tarefas de memorização e treino, por
vezes de conceitos abstractos (por exemplo: o que é um nome, um adjectivo; um verbo; o sujeito
e outras funções sintácticas) numa fase em que a criança ainda tem um pensamento muito
72
concreto, o que dificulta a consolidação de conceitos e justifica, em certa medida, que o
conhecimento gramatical seja trabalhado de um modo mais activo e indutivo.
Por estas e muitas outras razões, importa criar condições para que o ensino tradicional da
gramática, dê lugar a práticas em que o aluno é chamado a intervir e é implicado no estudo da
gramática, na sequência de uma intervenção educativa centrada em metodologias de trabalho
diferenciadas e activas. A ideia de que o professor é o detentor do saber e o aluno uma “tábua
rasa”, ignorante da sua língua e avesso à aprendizagem gramatical, são outros dois aspectos a
ser contrariados: o aluno deverá ser o protagonista do processo de ensino-aprendizagem e o
papel do professor deverá ser o de o conduzir à descoberta dos aspectos fundamentais da
estrutura e do funcionamento da língua, a partir de situações de uso, promovendo a transição
do conhecimento implícito para o conhecimento explícito, passando pela gramática normativa.
Neste sentido, importa que os professores tenham consciência do conhecimento gramatical a
desenvolver e dos objectivos, razões e princípios que sustentam o seu ensino e aprendizagem
(Silva & Silva, 2022).
73
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve discussão
aprendizagem em torno das mesmas;
• Análise e discussão de (excertos de) textos, casos…;
• Trabalho em grupo e/ou individual de análise crítica de (excertos de)
textos, casos…;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas ao
longo do desenvolvimento dos conteúdos (retorno às questões inicias);
• Trabalho em grupo de observação e análise crítica de uma aula de
gramática numa turma do Ensino Primário.
Bibliografia Recomendada
74
Portugal, no âmbito do Acordo de Cooperação entre a Universidade do Minho e a
Unidade Técnica de Gestão do Plano Nacional de Formação de Quadros da República
de Angola (no prelo).
Rodrigues, S. V., Viegas, F., & Oliveira, C. (2021). Ensinar gramática: Percursos que se criam,
caminhos que se trilham. Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto,
(pp. 499-533). doi:https://doi.org//10.21747/16466195/lingespa22
75
3.2.1. Ensino da gramática pela descoberta: o laboratório gramatical
O laboratório gramatical, proposto por Inês Duarte (1998, 2008), é uma estratégia metodológica
que privilegia o ensino da gramática pela descoberta, segue o modelo indutivo de ensino da
gramática. De acordo com Silva (2010), constitui uma metodologia activa de descoberta e de
resolução de problemas, com uma vertente marcadamente experimental e na qual os alunos têm
a chance de questionar a língua e de reflectir sobre ela de forma crítica, treinando o pensamento
analítico. Dito de outra forma, o laboratório gramatical proporciona aos alunos a oportunidade
para adquirirem, exercitarem e desenvolverem um “olhar de cientista”, para se iniciarem na
forma de interrogar a realidade (neste caso, a língua e os seus usos) e na forma de sobre ela
reflectir, própria do pensamento científico.
3. Levar o aluno a formular hipóteses, a partir das suas intuições sobre a língua e da
observação já realizada;
76
estudos. Relativamente a alguns aspectos, como no caso das regras ortográficas, a
exercitação deve levar ao automatismo;
Tabela 19: Planeamento do tema: Ensino da gramática pela descoberta: o laboratório gramatical
Tema Ensino da gramática pela descoberta: o laboratório gramatical
Conteúdos • Etapas do ensino da gramática pela descoberta: o laboratório
gramatical
Resultados de • Perceber as potencialidades do ensino da gramática pela descoberta na
Aprendizagem construção significativa de saberes linguísticos pelos alunos;
• Apropriar-se das fases do ensino da gramática pela descoberta através
da actividade-modelo apresentada;
• Construir materiais didácticos que privilegiem o ensino da gramática
através do laboratório gramatical;
• Desenvolver capacidades/competências para conceber e analisar
criticamente tarefas/actividades ou propostas pedagógicas para ensino
da gramática.
Actividades de • Levantamento das concepções prévias dos estudantes e breve discussão
aprendizagem em torno das mesmas;
• Análise e discussão de (excertos de) textos, casos…;
77
• Trabalho em grupo e/ou individual de análise crítica de (excertos de)
textos, casos…;
• Exposição, Síntese oral e feedback do professor;
• Auto-reflexão dos estudantes sobre as aprendizagens construídas ao
longo do desenvolvimento dos conteúdos (retorno à questão inicial);
Bibliografia Recomendada
Duarte, I. (1998). Algumas boas razões para ensinar gramática. Em A Língua Mãe e a Paixão
de aprender - 2º encontro de professores de português; homenagem a Eugénio de
Andrade (pp. 110-123). Porto: Areal Editores.
Duarte, I. (2008). O conhecimento da língua: desenvolver a consciência linguística (pp. 17-
19). Lisboa: DGIDC/PNEP.
Pereira, J. C., Pereira, J. R., & Pereira, Í. S. (2010). A promoção do conhecimento explícito da
língua no contexto do PNEP: Renovação de conceções e práticas pedagógicas. Em Í. S.
Pereira, O ensino do português no 1.º ciclo do ensino básico: Construção de saberes
profissionais no contexto do PNEP e do novo programa de português (pp. 179-218).
Braga: Instituto de Educação da Universidade do Minho - Serviço de Publicações.
Silva, A. C. (2016). Sobre a metodologia do laboratório gramatical: apropriação num manual
de Português do 1.º ciclo (pp. 6-19). Exedra-Revista Científica: Entre a Investigação e
as Práticas em Didática do Português.
Silva, A. C., & Silva, C. V. (2022). Metodologia do Ensino da Gramática: Manual da UC (pp.
36-42). Documento elaborado pelo Instituto de Educação da Universidade do Minho –
Portugal, no âmbito do Acordo de Cooperação entre a Universidade do Minho e a
Unidade Técnica de Gestão do Plano Nacional de Formação de Quadros da República
de Angola (no prelo).
78
6 Recomendações Metodológicas
Com base nos princípios metodológicos gerais a seguir, nas aulas da UC Metodologia de Ensino
da Língua Portuguesa no Ensino Primário (e nas actividades que lhe dão seguimento) podem
ser implementadas ou desenvolvidas as seguintes actividades de aprendizagem: leitura e análise
crítica de textos, excertos de textos e documentos ou diplomas reguladores (leis, programas,
manuais escolares, gramáticas etc.); observação e análise de esquemas, gráficos, figuras e
vídeos; resolução de problemas; debates/discussões e reflexões orais ou escritas; brainstorming
(chuvas de ideias), exposição/síntese oral do professor; síntese e feedback do professor;
construção de materiais didácticos6; observação de aulas/escolas; pesquisas; trabalho de
5
Conferir na fundamentação.
6
Como por exemplo, elaboração ou construção de fichas de trabalho para o ensino inicial da leitura.
79
projecto; portefólio; trabalhos de campo; visitas de estudo; troca de experiências/intercâmbio
académico; resumos, etc.
Nesta UC, a avaliação será contínua, flexível, dinâmica, actual, contextualizada, diferenciada,
negociada, integradora, global, inovadora, capaz de considerar o desempenho dos estudantes
nas aulas e extra-aulas, incluindo a assiduidade e pontualidade, participação em debates,
discussões e trabalhos em grupo, realização e apresentação pontual dos trabalhos, projectos,
provas escritas e outras tarefas. Outrossim, o sistema de avaliação da aprendizagem deverá
obedecer ao regulamento da instituição sobre a avaliação das aprendizagens e ter conta o
Regime Jurídico da Formação Inicial de Professores do Ensino Primário, em especial no que
diz respeito ao perfil de qualificação profissional docente do Professor do Ensino Primário.
Assim, sugere-se a adaptação do seguinte sistema de avaliação da aprendizagem.
O feedback do professor ao trabalho dos estudantes deve ser oral e escrito, informando os
aspectos mais conseguidos e os menos conseguidos pelos estudantes e as estratégias/sugestões
de melhoria. Ainda, o feedback deve promover a colaboração entre os estudantes na análise e
melhoria do seu trabalho.
81
O guião7 apresentado em seguida pode apoiar a construção de práticas de avaliação formativa
e somativa, incidindo em quatro dimensões da avaliação:
7
Adaptado de IE.Uminho (2021, p. 12)
82
É feito um acompanhamento das actividades realizadas pelos estudantes?
É fornecido feedback informativo aos estudantes sobre progressos e dificuldades, apoiando
a resolução de problemas sentidos?
É promovida a colaboração entre os estudantes na análise e melhoria do seu trabalho?
Impacto da avaliação no ensino
São realizadas actividades de apoio à melhoria das aprendizagens em função das dificuldades
detectadas junto dos estudantes? As estratégias de ensino são reajustadas em função dos
resultados da avaliação das aprendizagens?
83
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