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Direitos autorais © 2020 Ana Caetano

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fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais,
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ISBN-13: 9781234567890
ISBN-10 1477123456

Design da capa por: Pintor de arte


Número de controle da Biblioteca do Congresso:
2018675309

Impresso nos Estados Unidos da América


Sob o seu Olhar

Juliana Valdez
Índice

Direitos autorais
Página do título
Capítulo 1 - O Sonho
Capítulo 2- As Cartas não mentem
Capítulo 3- O Sol
Capítulo 4 - Olhos de Pantera
Capítulo 5 - Furacão Rayka
Capítulo 6 - A Latina
Capítulo 7 - O Encontro
Capítulo 8 - Mensagem pra Você
Capítulo 9 - O Beijo
Capítulo 10 - Recomeço
Capítulo 11 - Sombras
Capítulo 12 - Meu Lugar Favorito
Capítulo 13 - O Lado Bom da Vida
Capítulo 14 - Perfect
Capítulo 15 - Seja Minha essa Noite
Capítulo 16 - Flores para você
Capítulo 17 - Eu te amo
Capítulo 18 - Eu Prometo
Capítulo 19 - Meu Coração vai
Continuar
Capítulo 20 - Feliz Cumpleaños
Capítulo 21 - Presente para você
Capítulo 22 - Eclipse
Capítulo 23 - Eu vejo você
Capítulo 24 - A Fênix
Capítulo 25 - Surpresas
Capítulo 26 - Nasce uma Estrela
Capítulo 27 - Buraco Negro
Capítulo 28 - Tudo por Ela
Capítulo 29 - O Pedido
Capítulo 30 - Mulher de Sorte
Capítulo 31 - Vida de Casada
Capítulo 32 - O Pesadelo
Capítulo 33 - Olha para Mim
Capítulo 34 - Ohana
Capítulo 35 - Eu Aceito
Epílogo
Referências Musicais
Capítulo 1 - O Sonho
Nova York 6:45 am

Era uma manhã atípica em Nova York,


com sol. Logo nos seus primeiros raios
tocando as persianas, ela abre os olhos
depois de esfregá-los por um tempo.
Embora ela não o veja, pode sentir seu
calor refletindo em seu quarto. por entre
as persianas. Espera ainda deitada que o
silêncio seja interrompido pelo
despertador estridente.

Durante esses minutos faz um exercício


de respiração que a tem ajudado a lidar
com as crises de ansiedade que a
afligem desde o dia fatídico.
Quando ele soa, desliga rápido e se
levanta. Na verdade queria ficar
deitada, mas é primavera. Sua estação
preferida. Antes daquele dia que mudou
sua vida para sempre, amava acordar
cedo e correr pelo parque próximo a
casa de seus pais em Miami.

Quando se mudou para Nova York amou


a proximidade com o Central Parque.
Manteve a rotina de correr, se alongar e
meditar. Agora isso parecia uma vida
distante, ou de uma outra pessoa como
dos personagens de seus livros
favoritos. Nem se reconhecia mais.

Antes de chegar ao banheiro tateou seu


criado-mudo em busca dos remédios que
aliviam suas dores musculares. Ela abre
as persianas e sente os raios do sol mais
intensamente. Em sua mente imagina
como deve estar meio alaranjado
refletindo sobre os vidros dos arranha-
céus, uma beleza que poucos moradores
apreciam. Suspira nostálgica e vai para
o banho.

Já vestida abre a porta e ouve:

- Bom dia srta Mackenzie. Caiu da


cama?

- Bom dia Jess. Quase isso. Eu disse que


iria, não disse?

Roxanne tinha sua primeira visita a um


grupo de apoio a alcoólatras. Depois de
três anos de tentativas de controle e
recaídas marcadas por muitas dores e
desentendimentos com a família ela não
teve mais como negar, precisava aceitar
a ajuda, se quisesse mudar sua atual
situação.

- Mas ainda é cedo srta Mackenzie. Sua


mãe disse que era às nove horas, e ainda
são sete e trinta agora.
- Eu vou dar uma volta no Parque antes.

- Mas eu acabei de chegar e ainda não


fiz seu café.

- Não se preocupe Jess.

Ela interrompe a diarista que cuida do


seu apartamento, mas que tem um imenso
carinho, nesse momento de sua vida, sua
única companhia.

- Vou tomar café no caminho.

Complementa e continua andando no


corredor tateando as paredes até tocar a
porta principal do apartamento.
- Jess? - chama.

-Oi. Estou aqui srta Mackenzie. Vai


sozinha mesmo? Eu posso te
acompanhar se quiser.

- Não se preocupa. Só veja minha roupa


se não tem nada do avesso desta vez.

- Parece tudo bem. Passou protetor solar


dona vampira? O sol hoje promete. -
brinca.

- Hum... engraçadinha. Sim. Até mais


tarde.

Abre a porta e pega sua bengala, sempre


pendurada ao lado da mesma. Ela desce
pausadamente os degraus que a levam a
rua. Recebe o bom dia do porteiro e
ouve o portão sendo aberto. Agradece e
acena depois de ajeitar os óculos
escuros.

Enquanto caminha conta os quarteirões,


pensa em como se lembra exatamente a
localização dos buracos que encontra
nas calçadas e o rebaixamento que essas
possuem dificultando sua caminhada.

Lembra a primeira vez que tentou sair


sozinha e dos tropeços e quedas, ainda
tem marcas nas pernas dessas
desastrosas experiências. Três anos e
seis meses exatamente, ela sabe porque
conta dia após dia.
Sentiu o cheiro de café contou quinze
passos, tocou a porta com a bengala que
se abre automaticamente. Rapidamente
um balconista lhe cumprimenta com um
bom dia.

- O mesmo de sempre senhorita? Duplo


com creme de avelã?

- Exatamente Thomaz. Obrigada.

Geralmente ela não era de conversar,


mas aquele balconista a venceu pelo
cansaço. Dois anos insistindo em ser
gentil. Resolveu aceitar.

Pegou o café, pagou com o cartão


acrescentou seu donuts favorito e saiu
rumo ao Parque. Sentou-se assim que
teve certeza de não ter pessoas por perto
para incomodá-la.

Estava cansada de ouvir a voz melosa


de pessoas que sentiam pena dela
oferecendo o lugar para a cega sentar ou
puxando conversa em alto tom como se
ela fosse surda e não cega.

Inclinou a cabeça pra trás de frente para


o sol enquanto bebericava sua bebida
quente e saborosa. Precisava de toda
força possível para encarar aquela nova
fase. Seriam dias difíceis ela sabia, mas
estava disposta a tentar e isso já era um
começo.
Após terminar o café apertou o botão de
seu relógio que falava as horas. Ainda
tinha vinte minutos e o endereço da
clínica era muito próximo ao Parque. De
repente começou a sentir a falta de ar
acompanhada da dor sufocante no peito.

"Oh não! Estou tendo uma crise de


Pânico de novo!"

Começou a respirar profundamente


tentou afastar a gola da camiseta em
busca de ar.

- Hey moça! Está tudo bem?

Roxanne ouviu alguém dizer e


subitamente a tocar levemente no ombro.

Oh não....não queria ser vista como uma


coitada incapaz de manter a própria
respiração. Balançou a cabeça
afirmando que sim.

- Moça? Você está bem mesmo?

Roxanne precisava de sua bombinha


urgente. Abriu a bolsa, mas não
conseguia achar. Reparou que a voz
simpática estava mais perto dessa vez e
carregada de sotaque.

- Eu sei o que é isso. É uma crise de


Pânico. Por favor, se acalme tente
respirar pelo nariz e segure o ar
contando até quatro para cada respiro.

Roxanne queria se afastar dali, ficar


sozinha e em paz, mas sabia que a voz
tinha razão começou a inspirar devagar
e segurar o ar e expirar pausadamente o
máximo que conseguia.

Aos poucos foi sentindo o ar voltando


aos seus pulmões. Suspirou aliviada
enquanto a mão da pessoa massageava
seus ombros devagar.

- Obrigada. - agradeceu e achou a


bombinha na bolsa.

- Que bom. Precisa de ajuda? Posso te


ajudar a ir para algum lugar...um hosp...
- Não. Obrigada... estou bem mesmo.

Disse sentindo realmente a crise ficar


controlada. Levantou-se apressada
enquanto guardava a bombinha na bolsa
e agradeceu novamente a desconhecida.
Apressou-se em se afastar antes que
passasse mais vergonha. Tocou no
relógio.

"Droga! Estava atrasada".

12:55

O táxi parou em frente ao seu prédio.


Agradeceu e desceu sem mais delongas,
não antes de ouvir o inevitável: Precisa
de ajuda?
Queria muito conseguir entender que as
pessoas queriam apenas serem gentis,
mas ela se sentia uma inútil. Ao abrir a
porta sentiu o cheiro de comida sendo
preparada.

- Como foi lá srta Mackenzie? Tudo


bem?

- Sim Jess. Obrigada. Vou tomar outro


banho e volto para comer.

- Espero que esteja com fome, fiz seu


prato favorito.

- Eu sei Jess. Senti o cheiro ainda no


corredor. Lasanha de quatro queijos.
Acertei?

- Como sempre. Oh nariz abençoado a


senhorita tem hein? Deus me livre!

Riu, apesar de não estar no clima. Já no


banho envolta pela espuma da banheira
encostou a cabeça e fechou os olhos
refletindo sobre a reunião que
participara.

- Pessoal, temos uma visitante hoje.

Ouviu alguém dizer enquanto entrava e


esbarrava em três pessoas antes de
achar uma cadeira desocupada.

- Como vamos recebê-la? Por favor


querida, diga seu nome.

- Meu nome é Roxanne. Roxanne


Mackenzie.

- Bem vinda Roxanne!

Então ouviu durante meia hora falarem


sobre força de vontade, determinação...e
depois mais uma hora de depoimentos
de pessoas que estão tentando uma nova
vida. Não achou ruim. Mas não sabia se
isso poderia ajudá-la, já tinha feito isso
outras vezes.

Afinal essa era terceira vez que sua


família e a terapeuta a obrigavam
frequentar esse lugar tentando uma
mudança em sua vida. Mas o que eles
não sabiam é que sua vida havia
acabado naquele dia 15 de Dezembro há
três anos e seis meses.

(Flashback on)

- Ela tem pulsação, mas está baixa


e caindo.
- Mantenha a pressão. Não
diminua. Estou tentando achar o local
exato da hemorragia, tem muito sangue
aqui...

- Vamos tentar achar no caminho,


põe na ambulância agora! Ela já
perdeu muito sangue.
- Alguém sabe o nome dela?
Acharam os documentos?

- Nada doutor.

- Mande uma mensagem para a


polícia procurarem no local do
acidente. Não temos como contatar a
família. Ninguém procurou por ela
ainda?

- Não doutor!

- Estranho.

Três dias depois

"Ela está inconsciente, tivemos que


colocá-la em coma induzido devido a
gravidade dos ferimentos. Foram cinco
cirurgias muito complicadas."

"Nesse momento ela está sendo


monitorada e só podemos torcer para
ela acordar e só depois poderemos
analisar os dados e dar mais respostas
a partir de novos exames".

[...]
Roxanne estava muito feliz. Havia feito
testes para a faculdade de música de
Nova York a Rochester University.
Havia passado na segunda fase e agora
havia acabado de realizar o último teste
que era o de piano. Estava aceita na
universidade para realizar seu sonho.
Fazer música.

Amava isso. Sua família não aceitou tão


bem a ideia de não seguir os passos de
todos os Mackenzies, que vinham de
uma linhagem de advogados, juízes e
promotores na família de origem
escocesa que haviam criado um legado
na América.

Ela bem que pensou em seguir a


tradição. Mas definitivamente não
poderia fazer algo que não gostava. Era
sua vida não? Desde pequena sonhava
em tocar piano.
Aprendeu aos cinco anos. Aos dez
tocava e cantava lindamente canções que
ela mesma compunha com o pai.
Apesar de não apoiar o sonho de viver
da música, seu pai amava ver a filha
cantar e sabia que ela tinha talento. Mas
era protetor demais para incentivá-la
nesse mundo tão ingrato dos artistas e
profissionais da música.

Após terminar o ensino médio decidiu


se inscrever em três universidades
diferentes de música. Não acreditou
quando recebeu a notificação para o
primeiro teste em Nova York. Era seu
primeiro passo.

Teve que ficar uma semana em uma


pousada barata para realizar os testes.
Comendo em lanchonetes e
economizando ao máximo. Não queria
arrumar briga com os pais por causa de
dinheiro, mesmo que sua família fosse
uma família de posses consideráveis.

Com o dinheiro da bolsa conseguiria se


manter, mas não seria fácil. Vendo seu
esforço seus pais resolveram ajudá-la e
assim ela pode dividir um apartamento
com sua prima Harley que cursava
direito e sua amiga, que também cursava
música em Rochester University. Mas já
estava no terceiro semestre.

Naquele dia estava voltando para casa


dos pais para passar o Natal e seus
últimos dias de férias antes de iniciar as
aulas do próximo semestre. Despediu da
prima e entrou no táxi para o aeroporto.
O taxista falava alguma coisa, mas ela
não ouvia.

Estava digitando uma mensagem


avisando a família que chegaria antes do
jantar. Percebeu o taxista diminuir a
velocidade, de repente uma chuva
torrencial impossibilitava de ver alguma
coisa pela janela.

Só faltava seu voo atrasar por causa


disso. Recebeu a mensagem da mãe.
Tinha lido apenas a primeira parte:
"Que bom, vou fazer seu prato
favorito". O taxista parou no semáforo
vermelho.
De repente viu um clarão em sua
direção. Achou que era um relâmpago
cortando o céu. Mas ele ficou muito
mais alto e próximo. Ouviu o taxista
gritar alguma coisa, mas não conseguiu
ouvir diante do barulho ensurdecedor
que se seguiu.

O clarão atingiu o táxi em cheio e última


coisa que viu foi seu sangue descendo
quente sobre sua face tingindo sua visão
de vermelho escarlate.
...

Roxanne não sentia seu corpo, uma


sensação muita estranha inundava sua
mente.
Ela não via nada. Mas sentia que estava
deitada. Tentou se levantar, seu corpo
não a obedece. Procurou a voz, inútil.
Só sons do silêncio, um bip constante,
um pingar incessante.

"Que cheiro...eca! Onde será que


estou? Cheiro de flores mortas!"

Assustada pensou :

"Devo estar morta! É isso".

Aos poucos sua mente se enche de


reflexos de memória. Táxi, chuva,
clarão... barulho... silêncio.

"Como é escuro e frio. Cadê a luz


do fim do túnel?"
Ri sozinha no silêncio, mas não ouve sua
própria risada. Estranho. De repente se
sente caindo de um prédio, como nos
seus pesadelos de criança onde sempre
acordava chorando com o coração
disparado.

O chão nunca chega, mas dessa vez


sentiu exatamente isso, o impacto no
chão. De repente o bip dispara e ela
ouve vozes.

- Roxanne? Roxanne? Acalme-se


querida. Eu estou aqui.

É sua mãe. Ela chora. Tenta falar mas


tem alguma coisa enfiada na sua
garganta.

- Por favor Sra Mackenzie. Afaste-se.


Precisamos tirar esse tubo. Sua filha
está de volta.

Ela sentiu alívio sem aquilo na sua


garganta. Mas não conseguiu falar. Nem
se mexer. Mas conseguia ouvir tudo com
perfeição. Às vezes tudo ficava em
completo silêncio, achava que dormia e
acordava era como dar uma volta em
uma montanha russa gigante.

Decidiu lutar contra aquela sensação


estranha. Precisava se mexer, falar
alguma coisa. Ouvia a voz de seu pai, às
vezes o choro da mãe.
Um dia ouviu alguém cantar uma música
que dizia: Não desista! Estranho...
conheço essa música, conheço essa
letra.

"Não desista, ainda que seja difícil.


Acredite em você.

Existem dias bons e dias maus, mas


você precisa decidir.

Você já chegou até aqui...

Vamos se levante.

Não desista"
Ela tinha escrito isso há cerca de uns
dois anos atrás. Foi com essa música
que ela passou no teste da universidade
há seis meses.

Ela decidiu não desistir. Usando toda


força que possuía ela abre os olhos.

- Roxanne querida. Sou eu. Sua mãe.


Oh! Graças a Deus você voltou.

- Olá - sua voz não passa de um rouco


grutal. - Onde estou?

- No hospital Santa Maria. Você sofreu


um acidente filha.

- E por que não acendem a luz? Está tão


escuro.

Clarice Mackenzie sente o coração bater


nos próprios ouvidos. Por que sua filha
está no escuro se as luzes do hospital
chegam ofuscar? - Calma - Pede a si
mesma.

- Não se preocupa filha. Vou chamar o


doutor. Ainda é madrugada.

O doutor Sanchez rapidamente faz as


primeiras avaliações e pede novos
exames e tomografias.

- Hey Roxanne. Já era hora. Seja bem


vinda. Pode me ouvir?
- Sim.

- Sei que está muito dolorida e


provavelmente sentirá muito desconforto
ao falar. Mas isso vai passar. Você levou
uma pancada na cabeça muito forte.

Foi necessário uma cirurgia para drenar


a hemorragia cerebral, duas costelas
quebradas. Baço dilacerado. Fêmur
quebrado.
Hemorragia interna. E braço e mão
direita fraturados.

Roxanne não consegue impedir as


lágrimas descerem quentes pelo rosto.

- Eu sei - continua o doutor- parece


horrível. Mas você está de volta e
inteira. Colocamos tudo no lugar. Vamos
precisar de tempo para avaliar sua
evolução, mas só de ter você viva
consciente e falando. Temos um ótimo
quadro.

- Obrigada doutor Sanchez. Quando ela


vai poder tirar a sonda e se mexer quem
sabe...

- Sra Mackenzie, vamos observar essas


24 horas. Serão decisivas. Já pedi os
exames e ela logo irá fazê-los e teremos
mais respostas. Tudo bem Roxanne?

Ela vira a cabeça na direção do som da


voz do doutor, no entanto só vê um vulto
branco rodeado de escuridão. Logo se
arrependeu de mexer a cabeça. A dor foi
dilacerante. - doutor Sanchez. Eu não
vejo nada.

- Srta Roxanne Mackenzie. Como eu


disse, você levou uma pancada forte na
cabeça. É normal a visão estar turva
nesse momento.

Já pedi a ressonância vamos avaliar


como está sua cabeça agora.
Tudo que posso dizer é que seja
paciente. Estamos fazendo tudo o que é
possível.

O choro se torna ainda maior. Ela não


sabe bem o porquê. Mas aquelas
palavras tinham outro significado para
sua mente. Seu medo aumentava e se
tornava uma sentença: ela estava cega!

Ouviu o doutor chamar sua mãe no


particular. Portas abrindo e fechando.
Bips...silêncio. Lágrimas.
Capítulo 2- As Cartas
não mentem
Nova York 6:45 am

Roxanne desliga o despertador antes


que ele dispare. Cinco minutos de
meditação e se levanta. Remédios.
Banho. Sai do quarto colocando um
casaco leve. Resolveu colocá-lo após
conferir a previsão do tempo no
aplicativo ativado pela voz.

- Bom dia srta Mackenzie. Caiu da cama


de novo? - Jess solta aquela gargalhada
exagerada que ela já conhece muito bem.

- Bom dia Jess. Tenho reunião hoje de


novo. Não se preocupe com o café.
Volto para o almoço.

- Tem certeza que vai sozinha mesmo?

- Sim. Obrigada Jess. Eu estou indo


mesmo. Avise a mamãe. Sei que ela te
liga todo dia.

- Está me chamando de fofoqueira? -


pergunta indignada.
- Não. De informante. Eu estou indo às
reuniões e vou voltar para terapia. Eu
estou bem.

- Fico feliz minha menina. Sinto que


dessa vez será diferente.

- Espero que sim. - fecha a porta depois


de pegar sua bengala.

Ao sentir o cheiro do café conta quinze


passos e vira a direita batendo na porta
da sua cafeteria preferida, que se abre
automaticamente. Aquele dia não ouviu
o bom dia do Thomaz. Resolveu
levantar a mão pedindo atenção. Após
sentar-se na banqueta em frente ao
balcão.

- Pois não senhora? Posso ajudar? Qual


seu pedido?

A voz era feminina e carregada de


sotaque.

- Duplo com creme de avelã e um donuts


de morango.

- Acho que conheço a senhora. É a moça


do Parque.

- Desculpa? - Roxanne passa a mão


pelos cabelos nervosamente e ajeita os
óculos. Só o que faltava. Thomaz não
veio, mas deixou uma substituta enxerida
à altura.

- A moça com ataque de Pânico. Há dois


dias no Central Parque.

- Ah….sim. Eu mesma. Você me ajudou.


Obrigada.

- Imagina. Aqui está seu pedido. Para


viagem?

- Sim. Obrigada.

- $12.00 .

- Obrigada. - após pagar pelo aplicativo


com comando de voz. Ela se levanta
rapidamente. Não gostava de conversar
com ninguém, principalmente pela
manhã.

- Adeus. A propósito. Rayka.

- Hum? O que disse? - ajeitou os óculos


escuros.

- Meu nome é Rayka…

- Obrigada, Rayka. - se virou rumo a


saída apressada. E Rayka era lá nome de
gente?

A atendente continuou olhando e


esperando ouvir o nome da moça dos
cabelos escuros e pele tão branca que
lembrava uma vampira. Mas recebeu um
tapa no ombro de Thomaz.

- Não espere nem bom dia dessa aí.


Demorei mais de dois anos para receber
um. Achou que seria fácil?

- Hum...não sei. Sensação estranha…


sabe o nome dela?

- Não, mas ela vem quase todos os dias.

Centro de Apoio aos Alcoólatras

- Meu nome é Roxanne Mackenzie.

- Olá Roxanne!
- Tenho 21anos. Sofri um acidente há
três anos e seis meses. Fraturei o fêmur,
duas costelas, perdi o baço, quebrei o
braço e tive a mão esmagada. Tive
traumatismo craniano e hemorragia
cerebral.

Fiquei 22 dias em coma e quando


acordei descobri que o impacto da
batida na cabeça prejudicou as minhas
córneas desenvolvendo um glaucoma
traumático. Me deixando cega.

Eu estava na universidade de música.


Era meu sonho. Tive que desistir da
matrícula e perdi a bolsa. Meus dedos
não voltaram todos os movimentos
ainda, mesmo com um ano de
fisioterapia.

E isso me deixou muito depressiva.


Fiquei seis meses em cadeira de rodas.
As dores eram muitas e a mistura de
remédios com bebida era um alívio. Só
percebi um ano depois que era refém
daquele alívio momentâneo.

Roxanne abaixou a cabeça. Não tinha


orgulho daquela história. Não se sentia
bem falando sobre sua vida. Essa era
uma parte que preferia apagar.
Mas desde que decidiu colaborar com o
tratamento sabia que não dava pra pular
essa parte.

- Eu não consegui mais ser a mesma.


Desisti de tudo. Da vida, da família, dos
sonhos. Comecei a beber, e a me cortar.
Achei que tinha o controle. - suspira
profundamente limpando uma lágrima
teimosa.

- Podemos esperar mais um pouco por


isso Roxanne. Se quiser. - Dra Mendez
diz tentando acalmá-la.

- Tudo bem. Eu quero falar. - ajeita o


corpo na cadeira e prende os cabelos
antes de prosseguir.- Eu perdi o
controle. Remédios e bebidas, cortes.
Eu sou uma viciada. E estou aqui em
busca de apoio. É isso.

- Muito bem Roxanne. - Dra Mendez diz


enquanto ouve aplausos seguidos de
palavras de incentivo.- É para isso que
estamos aqui, para te apoiar.

Ela pegou o táxi, mas não quis ir pra


casa. Estava sentindo uma explosão de
emoções. Raiva, vergonha, medo tudo
misturado. Enfrentar suas dores e
fraquezas, era uma coisa que machucava
ainda. Mas se quisesse vencer seus
medos, era hora de enfrentá-los.

Pediu para o taxista deixá-la no Central


Parque. Sentou-se no primeiro banco
vazio e se permitiu chorar. Sabia se
chorasse em casa Jess contaria para sua
mãe, que pegaria o primeiro avião e a
internaria de uma vez em um centro de
reabilitação. Como já havia feito antes.
Mas que não adiantou muito, porque
acabou ficando mais depressiva. Dessa
vez queria fazer diferente. Era sua
última chance.

Voltou a tempo de almoçar e não


causar preocupação em Jess. Sabia que
ela não contava por maldade. Sua mãe
havia dado ordens. Jess era uma senhora
mexicana corpulenta de cabelos e olhos
negros, traços indígenas e trabalhava
para os Mackenzies desde que Roxanne
tinha dois anos.

Sua mãe só permitiu que voltasse para


Nova York tendo Jessinda Valdez Perez
como sua carcereira.
Na época não gostou muito da ideia, mas
hoje não sabe como teria suportado tudo
sem a presença da mexicana mística. Ela
não morava com Roxanne, pois a pouco
conheceu um cowboy texano e se casou.

Sim, aos sessenta anos ela se casou pela


terceira vez. E estava muito feliz. Mas
continuava cuidando do apartamento e
da vida de Roxanne muito bem.

Era sexta-feira e Jess iria embora mais


cedo. Mas não antes de ler sua sorte.
Mesmo não acreditando nadinha nas
cartas e toda aquela baboseira de
energia da lua e tal….ela respeitava as
crenças místicas de Jess.
- Srta Mackenzie….as cartas não
mentem. Você sabe disso não?

- Sim Jess.

- Hoje é lua cheia. Sabe o que significa?

- Que a noite está mais clara?

- Hum….puxe uma carta. - ela obedece e


logo coça o nariz. Odiava o cheiro de
incenso que Jess acendia para ler as
cartas.

- Vejo...uma luz mesmo. Você tirou a


carta sol. Significa novos começos.
Renovação. Interessante.
- Bem, eu não vejo nada. Você sabe. -
brinca.

- Ela já está no seu caminho. Essa luz


virá te trazer paz, e muitos sonhos
abandonados retornarão para sua
vida…Puxe outra carta.

- Ok . E agora que carta é essa?

- Do amor e plenitude. Oh…

- Amor? - ri incrédula.- tem certeza ? A


última vez disse que eu iria conhecer
alguém, agora uma luz…

- Vejo que já conheceu. Está muito


próxima a você. Pegue outra carta. - ela
obedece. Espera em silêncio e Jess
demora mais que o habitual para
concluir.

- E??? Então??

- Isso não é bom.

- O que não é bom?

- Você puxou a carta da tempestade.

- Isso seria….

- Que tem algo que vai causar grande


dificuldade querendo afastar vocês.
Vocês serão juntos sol e lua. Diferentes
mas que se completam. Você sabe Srta
Mackenzie que a lua não tem luz
própria?

- Não Jess. Como ela brilha tanto? - Ela


sabia que a lua não tem luz própria. Mas
queria saber o que a mística mexicana
lhe diria.

- A lua é escura e fria, mas o brilho do


sol é tão forte que quando ela o cobre,
ela espelha menos de 10% da luz do sol,
e mesmo assim é o suficiente para
aquecê-la e deixá-la iluminada.

- Humm

- Você é a lua srta Mackenzie. É fria e


escura. Mas seu sol vai chegar na sua
vida, vai te aquecer e te iluminar de
uma forma…que você será lua cheia e
brilhante para sempre. Esse sol vai lhe
dar o que falta em sua vida, amor e
plenitude.

Roxanne não conseguiu dizer nada.


Ouviu Jess se levantar, recolher as
cartas e se despedir dizendo que a janta
estava na geladeira.

Ela continuou sentada na sala. Escura,


mas não mais tão fria.

Nova York, 12:30 pm

Rayka Rivera tira o avental da cafeteria


e solta os cabelos tentando ajeitar suas
madeixas. Estava sol.
Amava o sol. A fazia lembrar de sua
terra natal. Havana tem clima quente e
agradável na maior parte do ano.

O vento que vem do oceano sopra o ano


todo e ela amava passear pelas ruas
coloridas e centros históricos cheio de
gente caliente refrescando-se nas
calçadas dos bares e sorveterias. Não
tinha uma vida fácil lá, é verdade.

Quando ainda era muito nova seu pai foi


trabalhar no México. Depois de alguns
anos juntando dinheiro decidiu que
levaria a família para a América para
dar uma oportunidade de ter uma vida
melhor. Foi uma época difícil. Ela era
pequena mas se lembrava de morar em
vários lugares diferentes no México e de
chegar na América ilegalmente sem o
pai.

Foram deportados várias vezes. Nessas


idas e vindas foram anos de colégio
perdidos. Sua irmã mais nova acabou se
envolvendo com más companhias no
bairro periférico que conseguiram se
esconder.

Aos dezessete ela engravidou de um


traficante. O pai morreu de infarto. A
mãe voltou para o México de tristeza e
desgosto. Mas Rayka resolveu voltar à
América para tentar salvar sua irmã
dessa vida louca que ela se envolveu.
Mas aos dezenove anos sua irmã morreu
de overdose em seus braços.

O sol a obrigou reaplicar o protetor.


Colocou os óculos escuros e acenou
para Thomaz. Tinha uma hora de
almoço. Não queria ficar pensando em
coisas tristes. Pensou na pequena Alana.
Sua sobrinha.

Após a morte da irmã ela ficou com a


menina em guarda provisória, mas o pai
tomou a menina depois de seis meses.
Desde então Rayka não tem mais
notícias dela.

Alana era uma miniatura de sua irmã


Sophia. Olhos castanhos com cílios
enormes e um cabelo liso que nenhuma
fita segurava. Bochechas redondinhas e
sempre vermelhas. Ela tinha agora dois
anos. Pegou o celular e olhou a foto
dela. A última que tiraram bem no
Central Parque. Seu lugar favorito em
Nova York.

- Eu vou te achar minha pequena. Vamos


ficar juntas pra sempre como eu te
prometi.

Ainda nostálgica seguiu para o


restaurante japonês que amava. Não
podia gastar muito. Mas era sábado. Ela
merecia. Ainda de cabeça baixa
mexendo no celular virou a esquina do
restaurante e quando levantou a cabeça
para empurrar a porta.

- Oh não!

Não deu tempo de fazer nada, sentiu a


colisão com alguém que saía do
restaurante. Seu celular caiu, sua
rasteirinha enroscou no tapete da porta.

A porta vai e vem bateu na sua cabeça e


a empurrou fazendo-a cair sobre a outra
pessoa que amaldiçoou até a sua quinta
geração.

Era uma mulher! Era ela.

- Hey !
- Desculpe moça. Eu...eu - segurou a
moça pela mão ajudando-a se levantar.

- Tudo isso é fome?

- Perdão...eu estava hey... é você. A


vamp...quer dizer. A moça do café e do
Parque.

- Oh... E você seria…

- Rayka.

- Ah claro…

Foi impressão sua ou ela revirou os


olhos? Não podia ter certeza, pois a
vampira usava óculos escuros, assim
como estava toda de preto.

- Que prazer Rayka. Obrigada por me


salvar...ou não.

- Desculpa moça foi…

- Eu sei. Sem querer. Por favor, minha


bengala? Você viu?

- Bengala? - Rayka estava confusa. Que


bengala? E porque ela usava uma? Sua
cabeça ainda doía .

- É. Um bastão de alumínio que eu uso.

- Ah claro!. Aqui está. - pegou o objeto


próximo a porta. Ela era cega? Que
vergonha. Derrubando cegas pela
calçada.

- Obrigada. Com licença sim.

- Eh... desculpe-me de novo…

- Tudo bem.- aquilo já estava chato não?


Moça desastrada.

Tudo bem que um dia a ajudou, mas hoje


quase a matou. Limpou o suor da testa e
ajeitou os cabelos. Havia perdido a
direção da rua. Se aquele furacão não a
tivesse atropelado!

- Você não me disse seu nome…


- Hum. Para qual lado é o Parque?

- A direita.

- Obrigada furacão.

- Oi?

- Agradeço a informação!

- Ah..Ok…

- Mackenzie. Esse é meu nome srta


Rayka.

- Ah...ok. prazer. Precisa de...


- Sim. Que saia da minha frente.

- Desculpa…

Rayka ainda ficou ali parada


admirando a vampira Mackenzie se
afastar. Como ela não havia percebido
que a moça branca era cega? E que
perfume era aquele? Gente...sua roupa
ficou impregnada...rosas…hum...

Almoçou correndo porque acabou


perdendo muito tempo pensando na
vampira e tinha que voltar ao trabalho.
A tela do seu celular trincou. Lamentou.
Não tinha dinheiro para arrumar.

Mais um item para a sua extensa lista de


coisas que precisava arrumar. Mas até
que valeu a pena. Descobriu o nome
dela. Mackenzie. E aquela voz? De
vampira com certeza. Rouca...sexy...fria
e congelante. Arrepiou-se.

Pegou o celular e discou para o centro


de assistência social. Ainda precisava
saber se eles tinham alguma notícia de
Alana Rivera.

Saiu pela rua de volta ao sol. Sorriu


apesar de tudo. Dias de sol era o que ela
mais precisava.
Capítulo 3- O Sol
Centro Clínico de Apoio
aos Alcoólatras 9:00 am

Roxanne chegou bem no horário. Dessa


vez reservaram-lhe uma cadeira. Ficou
grata não precisar esbarrar nas pessoas.
Enquanto ouvia a Dra Mendez explicar
as fases de um viciado não pode deixar
de se sentir desconfortável.
É bem verdade aquela frase que diz que
a verdade dói. Ouvir sobre os seus
erros, sua fragilidade não era uma tarefa
fácil. Queria mesmo que daquela vez
fosse diferente.

Lembrou-se do dia que recebeu alta do


hospital. Não pode voltar para Miami,
estava cheia de pinos, grades, cadeira
de rodas. Assim seus pais concordaram
em alugar um apartamento por alguns
meses enquanto ela se recuperava das
lesões.

Antes estava dividindo um apartamento


com Harley e Ellie, mas era totalmente
inviável cheio de escadas. A mãe tirou
uma licença no trabalho para cuidar
dela, seu pai viajava a cada quinze dias
para vê-la. Junto com seus dois irmãos
mais novos.

Hoje agradecia muito a família


maravilhosa que tinha. Jess veio de
Miami exclusivamente para cuidar dela.
Foram meses muito difíceis.

Roxanne não foi uma companhia muito


agradável. Chorava noite e dia. No
início enxergava tudo muito embaçado,
mas conseguia detectar rostos de perto e
conseguia se desviar dos móveis. Mas
sua vista foi aos poucos escurecendo.
Até se dar conta de que sua vida tinha
mudado completamente.
Seu cabelo antes tão comprido tinha
sumido, tinha uma cicatriz enorme no
crânio do lado esquerdo. Mas o que
mais a deixava triste era não enxergar e
a falta de mobilidade da mão direita.
Suspeitava de não poder nunca mais
tocar piano.

Sua rotina incluía fisioterapias, terapia,


exames, remédios. Seis meses depois
voltou para Miami e abandonou a bolsa
na universidade.

Uma fase muito escura da sua vida se


iniciou.

Não saia do quarto. Não sabia se era dia


ou noite. E mesmo sem a intenção,
afastou as pessoas que amava.

Flashback on

- Oh….bom dia Roxe, ou melhor, boa


tarde. Não vai sair desse quarto não?
Nossa acho que você morreu, que cheiro
é esse?

Essa era Manuela Alika, sua vizinha e


melhor amiga. Estudaram juntas desde
pequenas e eram como irmãs. Só se
separaram quando Manu entrou para
universidade em Miami e Roxanne foi
para Nova York.

- Oh...não Manu. Por favor, feche essas


cortinas. Eu não quero sentir o sol que
não posso ver.

- Sra Cullen. Até os vampiros dão uma


voltinha com um dia lindo como esse.

- Não...não quero sair.

- Eu não pedi sua opinião. Banho agora!


Vou esfregar sua bunda branca e depois
vamos tomar café na "dreams" sua
padaria predileta que tem aqueles
bolinhos de Nutella com morangos que
você tanto ama.

Enquanto falava arrancava seu pijama já


a empurrando para o banheiro onde a
banheira enchia. Podia ouvir o barulho.
Sabia que com Manu não dava para
discutir. Então simplesmente se deixou
levar.

Fora Manu também que percebera sua


depressão, sem hesitar se comprometeu
em levá-la às consultas de terapia e
mesmo cheia de trabalhos da
universidade e sua vida corrida não
deixava de visitá-la.

Mesmo assim Roxanne não reagia.


Sentia que dentro dela algo havia
morrido mesmo. Era tão frustrante não
conseguir atingir às expectativas das
pessoas que a amavam. Ela não queria
que ninguém sofresse. Mas sentia que
aos poucos se tornava um fardo. Seus
irmãos foram para universidade. Seu pai
estava trabalhando em dobro e ela
percebia que ele estava sofrendo muito
com tudo e sair para trabalhar lhe fazia
bem.

Quanto a sua mãe, não podia ver seu


rosto, mas com certeza ela havia
adquirido algumas rugas. Sempre ouvia
seu choro quando fingia que estava
dormindo. Ela voltou a trabalhar meio
período e Jess cuidava para que
Roxanne não precisasse se preocupar
com a comida ou sair rolando pela
escada da casa enorme.

- Sabe Roxanne, acho que você precisa


encontrar algo que goste para fazer. Você
está muito vagabunda.
- Obrigada...nossa.

- Não. É sério. Eu sei que você está


vivendo um inferno. Mas, chega uma
hora que você precisa mostrar para essa
merda de vida que é você quem dá as
cartas.

Estavam na padaria. Manuela falava alto


e provavelmente estava gesticulando
escandalosamente como sempre fazia.

- Eu sei. Manu. O problema é que eu não


tenho carta alguma. Olha pra mim...o que
eu posso fazer?

- Pode começar parando de se fazer de


vítima. Não estou dizendo que você
mereceu isso. Nunca. Mas o que você
vai fazer com o que restou?

- Não restou nada de mim Manu….

- Espera aí um pouco.

- Não grita. Estou cega, não surda.

- Meu Deus Roxanne. Você está viva.


Você é jovem, linda e perfeita. Tem uma
família que te ama e tem a mim. Que
modéstia parte, sou melhor que dez
amigas juntas.

Roxanne recebeu o abraço de urso.


Sabia que ela tinha razão. Já tinha um
ano desde o acidente. Precisava reagir,
mas não sabia como.

- Obrigada Manu. Você é sim.

- Eu sei amore. Agora vamos indo que


eu quero levar você para tomar sol e
tirar seu mofo. E não ponha esses óculos
de John Lennon. Fica péssimo em você.

- Sabe que eu preciso deles, não é?

- Vamos comprar algo mais moderno e


estiloso. Você parece do século passado,
seria interessante pensar em pentear o
cabelo de vez em quando.

- Sinto-me cada vez melhor.


- Eu sabia que sim.

Roxanne ainda tinha muito remorso de


não cumprir sua promessa com a melhor
amiga. Quando conseguiu sair sozinha
de casa o primeiro lugar que visitou foi
um bar.

O alívio que o álcool misturado aos


remédios antidepressivos a faziam
sentir, mesmo que por pouco tempo, foi
maior que sua força de vontade de
melhorar.

Mentindo que estava indo a cafeteria e a


praça dar uma volta ela passou uma vez
por semana frequentar o bar.
Passou para duas vezes. Em seis meses
ia todos os dias. Não ficava bêbada no
início. Passou a comprar e esconder as
garrafas na mochila dentro do guarda
roupa. Todas as noites apagava suas
dores, em goles de whisky, vodka,
tequila, e remédios.

Manu foi a primeira a perceber que algo


não estava bem. Além da depressão. Um
dia ela fez uma varredura no quarto atrás
de drogas. Quando achou seu
esconderijo simplesmente jogou no vaso
e chorou, sem dizer uma única palavra.
Aquilo foi pior que um sermão. Ver
alguém que amava sofrendo por sua
causa.
- Roxanne, escuta. Está tudo bem. Nós
vamos dar um jeito nessa merda toda.
Você me ouviu?

- Perdão Manu. Eu sinto muito não ser a


pessoa que você queria que eu fosse. Eu
sou uma farsa, eu sou fraca.

Recebeu um abraço, mas no mesmo dia


a família soube que tinha uma viciada
entre eles. As portas foram trancadas,
não tinha permissão para sair. Não havia
mais uma gota de álcool em casa.

Flashback off

- Boa tarde senhorita. O de sempre?


- Olá Thomaz. Sim...obrigada. - que bom
que não foi atendida pelo furacão Rayka.

- Para viagem, certo?

- Na verdade hoje eu quero uma mesa.


Tem alguma desocupada?

- Sim. Só um instante. - o rapaz solícito


a guiou até uma mesa com um sofá
confortável. Não ouvia muito as
conversas, concluiu que estava em um
local mais reservado.

- Já trago seu pedido senhorita.

Enquanto aguardava atendeu uma


chamada. Era sua mãe. Resumiu a
reunião, prometeu visitá-la em breve e
se despediu jurando que estava bem.

- Boa tarde srta Mackenzie.

- Boa tarde srta Rayka. Estou segura


aqui ou devo temer ser derrubada da
mesa? - reconheceu o sotaque e o
perfume doce.

- Na verdade minha mão poderia


começar a tremer e esse creme ir parar
bem na sua cara branca de vamp..

- Oi?- Ouvira direito? Mas que ousadia


como poderia falar assim com ela?

- Não se preocupe. Sua identidade


secreta está segura comigo. - sussurrou.

- Minha o quê? - silêncio. Estava


sozinha. Sentiu cada pelo de seu corpo
reagir aquele sussurro.

Já em casa foi recebida por uma Jess


chateada por não querer almoçar.

- Eu como mais tarde, prometo.

- Mas que cara é essa Srta Mackenzie?

- Que cara?

- Essa de boba.

- Cara nenhuma.
- Me engana que eu gosto. Por falar
nisso sua mãe ligou. Queria saber se
você está comendo.

- Nossa...eu falei com ela.

- Não se preocupe. Eu disse que estava


gorda como uma baleia.

- Obrigada pela parte que me toca.

- Eu vou indo. Tenho um jantar


romântico hoje. Só acho que você devia
aceitar meu convite de sair para dançar
comigo lá na festa de Guadalupe.
Garanto que você iria tirar o mofo dessa
sua…
- Jess! Já entendi. Eu disse que irei.
Algum dia, não hoje.

- A senhorita pegou muito sol hoje hein?


Está corada e estou vendo um brilho aí
nesses olhos verdes.

- Tchau Jess….

- Luz srta Mackenzie… não esqueça...as


cartas não mentem.

Suspirou e foi direto para o banheiro,


encheu a banheira. Já relaxada se pegou
rindo do atrevimento da srta furacão.
Rayka, que nome diferente, acabou
pesquisando na internet e descobriu que
o nome de origem grega significava a
deusa do vento. Que perfeição! O nome
lhe caía como uma luva. Mas aquele
sotaque? Era nítido que ela não era
americana. Achou-a bem ousada na
verdade. Como ela tinha a audácia de
devolver seu sarcasmo e ainda deixá-la
no vácuo? Riu sozinha enquanto lavava
os cabelos.

Amanhã tomaria outro café.


Capítulo 4 - Olhos de
Pantera
Bronx, 7:25 am

Rayka está correndo em um campo


florido. Sol brilhando. Seriam
girassóis? A sensação é de paz.
De repente o sol desaparece assim como
as flores, ela se vê em um vale escuro,
frio e o pior, um buraco negro está
disposto a sugá-la.

Ela corre, perde os sapatos, corre e cai,


se levanta e continua a correr. Mas é em
vão. Sem conseguir mais fugir se vê em
um redemoinho escuro. A sensação é
que como se você estivesse pulando de
uma altura considerável sem pára-
quedas.

Então subitamente ela é envolvida por


uma luz fraca, azulada, quase etérea.
Seria um anjo? Ou demônio?
Uma mão translúcida segura a sua
firmemente. Ela levanta os olhos, mas
não consegue discernir o rosto.

Todavia os olhos de um verde muito


marcante, quase turquesa, a cor do mar
de Havana, esses olhos eram
inesquecíveis. Era como se eles
pudessem ler sua alma. E toda vez que
ela os fitava.

Droga!

Acorda ofegante, suada e....

Não... não... não. Atrasada!

Deu um pulo da cama. Não podia se


atrasar era nova nesse emprego. Sua
vida dependia desse emprego. Se
perdesse mais um emprego corria o
risco de não conseguir seu visto
americano. Correu para o banheiro
depois de enviar uma mensagem para
Tomaz avisando que iria se atrasar.
Ligou o chuveiro enquanto escovava os
dentes ao mesmo tempo que tomava
banho.

- Mierda!

Para seu desespero a água quente já era.


Ali naquele prédio a água quente durava
até às sete. Azar de quem não acordasse
antes. Agora a água só voltaria
esquentar lá para às oito da noite.
Melhor assim.

Não iria demorar. Ainda estava ofegante


pelo pesadelo. Não era a primeira vez
que o tinha, mas já havia um tempo que
acreditava que tinha superado. Pelo jeito
não. Aqueles olhos estavam sempre nos
seus sonhos, ou pesadelos.

Pareciam olhos de gato, ou de uma


Pantera Negra. Apesar de
amedrontadores ela se sentia segura ao
vê-los, afinal sempre era salva por
aquela figura misteriosa.

Vestiu a primeira coisa que tinha na


cômoda, já que não tinha um armário e
muito menos um closet. Calça jeans justa
preta, uma blusa de manga longa com
rendas no busto na cor amarela e seu
inseparável All Star surrado amarelo
também.
Adorava essa cor. Ajeitou os cabelos e
desceu pulando os degraus de dois em
dois. Faria a maquiagem no trabalho
mesmo. Chegou na estação de metrô sem
fôlego. Com muita sorte estaria no
trabalho em 30 min.

- Está atrasada. Chica.

- Disculpame. Perdí la hora. Esto no


pasará otra vez. ¡yo juro!

- Hey, não entendi uma palavra. Mas


guarde para o Sr. Flynn. - Thomaz disse
entregando-lhe o avental.

- Gracias! - bufou
Seu dia prometia.

O café estava lotado. O relógio marcava


2:00 pm e ela ainda não tinha saído para
o almoço. Levou um baita sabão do Sr.
Flynn e achou melhor pagar logo o
atraso.

Seu estômago já não achava isso tão


legal. No fim já estava com dor de
cabeça. Atacou uns cookies do setor de
degustação. Ao se virar depois de ter
sido pega por Thomaz ainda com a boca
entupida, a porta da frente se abre.

É ela. Vampira Mackenzie. Como


sempre, toda de preto, coturnos e uma
calça justa rasgada nos joelhos.
Ainda bem que podia olhá-la a vontade,
já que ela não enxergava. Que isso
Rayka? Pediu perdão a virgem de
Guadalupe enquanto ela se aproximava.

- Rayka? Hey? - Thomaz estalou os


dedos na sua face despertando- a.

- Que?

- Que cara é essa Chica?

- Cara nenhuma.

- Hummm. Tá secando a vampira.

- Eu?
- Boa tarde senhorita.

- Boa tarde Thomaz.

- O de sempre?

- Sim. Obrigada.

- Para viagem?

- Sim. Por favor.

Rayka limpou a boca e ajeitou o avental.


Foi nesse momento que seu mundo parou
de girar. Como se fosse uma estrela de
cinema a vampira tirou os óculos
escuros em câmera lenta colocando-o
sobre o balcão e jogando o cabelo para
trás como se estivesse sentindo calor.
Na verdade foi Rayka que sentiu o ar
esquentar de repente.

Parecia cena de comercial de shampoo.


Os cabelos negros como a noite caíram
em cascatas totalmente alinhados. E
Rayka não percebeu, mas seu queixo
também havia caído.

"Os olhos de Pantera".

Impressão sua ou a vampira olhou em


sua direção? Como? Por um milésimo
de segundo ela sentiu a mesma sensação
do pesadelo. Os olhos de gato fitavam
sua alma.
- Olá Rayka.

- Mamá del cielo!

A desgraçada riu.

Disfarça Rayka.

A maneira que ela proferiu seu nome


a fez sentir um calafrio percorrer todo
seu corpo.

- Aqui está senhorita. - Thomaz colocou


o pedido sobre o balcão. - Hey Rayka.
Mexa-se! Olha o fluxo.

- Hum. Perdeu a língua srta Rayka?


Rayka procurava alguma coisa para
dizer. O que era estranho, pois sempre
tinha uma resposta na ponta da língua.
Mas naquele momento aqueles olhos
deixaram-na completamente
desconsertada.

- Não. Mas quem não gosta de falar aqui


é você. Mas, eu já disse. Seu segredo
está seguro comigo.

- Que segredo seria esse?

Oh Dios! Ela sorriu? Que sorriso era


aquele?
Sentiu suas pernas bambas.
Ela não sabia porque estava jogando
com aquela vampira, mas algo naqueles
olhos a atraía. Era como se já a
conhecesse. Iria jogar sim. Deu a volta
no balcão e falou próximo ao seu
ouvido:

- Que na verdade você é uma vampira


srta Mackenzie. E que meu sangue
caliente latino é bastante atrativo para
você.

Acertou no alvo. Viu quando as


bochechas antes pálidas tornaram-se
escarlate. O sorriso morreu. Ela
recolocou os óculos escuros, pagou o
café e saiu apressada sem dizer nada
batendo a bengala pelo caminho.

Só depois de ter certeza que ela tinha


mesmo ido embora, Rayka soltou o ar
dos pulmões aliviada.

- Rayka??? O que foi isso?

- Eu preciso me sentar Thomaz. Acho


que vou desmaiar.

- Eu que quase caí duro aqui. Que tiro


foi esse? Só sei de uma coisa. Você
cutucou a onça. Espero que sua vara não
seja curta demais. Chica!

- Não é uma onça, é uma Pantera! Estou


muito ferrada!
Nova York, 6:50 pm

Quando o despertador soou Roxanne


gemeu. Sua cabeça parecia uma bomba
relógio prestes a explodir.

Tentou aliviar com a respiração para se


levantar. Conhecia aquela sensação...as
lágrimas desceram sem controle quando
aos poucos sua mente vai lhe
devolvendo suas memórias. Abraçou o
travesseiro empurrando uma garrafa.

O que ela havia feito?

Lembrou-se que saiu o mais rápido que


pode daquele café.

O furacão Rayka havia sacudido sua


cabeça com aquelas palavras. Sentiu-se
ruborizar até a raiz dos cabelos. Nunca
se sentira daquela maneira. Sabia que
estava apenas brincando com o jeito um
pouco desastrado da moça. Mas de
repente se viu refém da sua própria
armadilha.

Rayka insinuou que sabia exatamente a


sensação que provocava nela. Sendo que
nem ela mesma sabia definir o que se
passava. Ela nunca falava com
estranhos. Sempre foi até meio anti-
social. Sem falar que sempre teve um
humor ácido como Manu diz.
Uma linha de limite foi ultrapassada, e
com certeza isso não era um bom sinal.
Saiu dali meio sem rumo. Pegou um táxi
na porta. Decidiu aproveitar que tinha
saído de casa mesmo e ir até o shopping
central. Entrou em uma livraria e
comprou dois audiobooks e alguns cds.
Queria ouvir música e distrair sua mente
do furacão.

Acabou demorando mais do que o


esperado e resolveu comer por lá
mesmo. Achou que poderia pedir um
aperitivo de bebida.

Só uma batida de frutas com saquê.


Estava de bom humor, era raro. Isso
seria normal para qualquer pessoa. Mas
não para uma viciada em recuperação e
consumidora de antidepressivos.

Jess ligou e ela mentiu. Vários


aperitivos depois só se lembra de pedir
ao garçom para chamar um táxi. Ao
chegar em seu apartamento tomou
remédios para aliviar seu sentimento de
fracasso e desmaiou.
Agora Jess batia na porta.
Escondeu a garrafa de vodka entre os
lençóis antes que ela entrasse.

- Está atrasada srta Mackenzie.

- Não vou sair daqui. Estou bem -


mentiu tentando ser convincente.- minha
cabeça dói. Só preciso descansar.

- Hum tem certeza senhorita? Você sabe


que sua mãe...

- Não se preocupe Jess. É só uma dor de


cabeça.

- Tudo bem. A senhorita que sabe. Vou


fazer um café forte. Licença.

É claro que ela iria contar. Roxanne


fechou os olhos com força decepcionada
com ela mesma. Nem queria imaginar se
Manu descobrisse sua recaída. Logo
agora que estava decidida a mudar de
vida.
E essa simples dor de cabeça durou três
longos dias. Ela beliscava alguma coisa
que Jess a forçava a mastigar. Dormia,
acordava, chorava até dormir de novo.

O álcool é um potenciador do efeito


sedativo dos remédios que ela consumia
para depressão e para a enxaqueca
crônica.

Isso a tornava uma dependente química,


já que tomava outros remédios para
aliviar o efeito causado pela mistura
com álcool. Às vezes vomitava sangue.
E sempre se arrependia por não ter sido
mais forte.

No terceiro dia não aguentava mais a


mãe ligava a cada trinta minutos. Mas a
última ligação deixou seu coração feliz
e preocupado ao mesmo tempo.

- Roxanne Mackenzie!

- Manu?

- Sua cachorra sem coração!

- Hã?

- Estou ligando o dia todo. Já achei que


não queria mais falar comigo!

- Eu...estava meio ocupada. - nossa essa


não colou mesmo - Acabei não ouvindo
o celular.
- Ocupada? Hummm

- Ouvindo livros que comprei. - e a


mentira crescia.

- Ok. Te perdoo. Afinal meu coração é


grande. Tenho novidades.

- Conta logo. Vai casar?

- Quê? Está louca querida? Nunca ouviu


dizer que casamento acaba com a vida
sexual? Vou preservar a minha ativa
obrigada.

- Manu!
Só ela mesmo para conseguir fazê-la
rir.

- O negócio é o seguinte. Amanhã estou


chegando. Vou fazer um curso aí em
Nova York e não vou pagar hotel caro se
minha amiga rica mora bem aí.

- Que legal Manu!

- Também acho minha linda. Então tira


esse fedor de mofo do seu quarto que eu
vou dormir na sua cama. Chego amanhã,
ok ?

- Claro que sim. Vou adorar ter você


bagunçando minha casa e mexendo nas
minhas coisas.
- Eu sabia que iria gostar. E como está
tudo por aí? Terapia e a clínica?

- Ótimo. Quando estiver aqui te conto as


novidades.

- Ok minha fantasminha camarada.


Agora tenho que trabalhar. Aviso quando
estiver a caminho. Se cuida hein? E faz
compras. Não quero chegar aí e achar
um rato morto na geladeira.

- Aff..que louca.

- Te amo.

- Também te amo.
Estava ferrada. Operação limpeza.
Capítulo 5 - Furacão
Rayka
Cafeteria Starbucks
4:30pm

Rayka olha para o relógio pela


centésima vez. Por que não passava logo
essas horas?
Estava bastante apreensiva desde ontem
quando a assistente social do centro de
proteção a criança, a Sra Annie Smiths,
marcou um encontro. Ela tinha notícias
de Alana Rivera, mas não lhe adiantou
nada. Apenas que ela estava bem.

- Hey Rayka, vai se trocar. Está


tranquilo aqui. Eu seguro as pontas.

- Obrigada Thomaz.

Abraçou o amigo e saiu rápida para a


área dos funcionários. Trocou a blusa e
colocou uma sapatilha guardando o all
star amarelo no armário.

Passou uma maquiagem leve e ajeitou os


longos cabelos castanhos soltando o
coque que usava no trabalho e fazendo
um rabo de cavalo preso com uma fita
vermelha combinando com sua blusa.
Queria causar boa impressão.

Ganhou as ruas faltando ainda dez


minutos para às cinco. Tinha que pegar o
metrô. No caminho foi relembrando sua
dura jornada para conseguir cuidar da
sobrinha.

Sua irmã conheceu um rapaz no colégio


todo boa pinta, galanteador. Era bonitão
e jogava no time de basquete da escola.
Tinha talento também. Era visível isso.
Mas infelizmente não tinha bom caráter.
No penúltimo ano do ensino médio ele
cismou de conquistar a garotinha doce e
inocente. Sophia não tinha maldade e
não via isso também nas pessoas. Logo
caiu nos braços de Paul James, o PJ.

No começo foram muitas flores e


docinho de amor perfeito. Logo vieram
as cenas de ciúmes, Sophia se afastou de
suas amigas porque ninguém suportava
aquele machista escroto. Todo mundo
sabia que ele usava drogas. Ele não
escondia de ninguém.

Rayka descobriu no entanto que ele não


só usava como passava drogas na
escola. Sophia arrumou uma guerra
dentro de casa com Rayka e sua mãe,
pois ninguém queria que ela entrasse
nesse caminho sem volta.

Logo ela fugiu e foi morar com PJ. Isso


ela descobriu depois, e Sophia já
estava grávida aos dezessete anos.

- Boa tarde srta Rivera. Como você


está?

- Boa tarde Sra Smith. Bem obrigada.

- Deve estar ansiosa, não? Entre.

- A senhora não imagina. Por favor, não


me esconda nada.

Disse entrando na sala após a assistente.


- Tenho boas e más notícias. Vamos
começar pelas boas.

- Sim. - Rayka estava nervosa.

- Primeiro, localizamos Paul James. E


sim, Alana está com ele e está bem.
Digo ao menos de saúde e não temos
indícios de maus tratos.

- Graças a Deus!

- Sim. A má notícia é que o mesmo


continua nessa vida de tráfico, bailes,
bebedeiras e Alana está pulando de casa
em casa das amantes dele.
Rayka não conseguiu segurar as
lágrimas. Só de imaginar aquele
pedacinho de gente indefeso passando
por tanta coisa.

- E...o que podemos fazer agora?

- Bem, primeiro vamos monitorar os


passos dele. A polícia está envolvida e
não vai demorar para que ele faça
alguma coisa ilícita.

Segundo, vamos exigir a matrícula de


Alana aqui no centro onde ela estará
segura da violência, mesmo que ela
esteja bem fisicamente, temos certeza
que o ambiente que ela vive é
prejudicial à sua saúde psicológica.
- Sim. Com certeza. Sem falar que ele
não é confiável.

- Sim, exatamente. E a senhorita fez


aniversário não é mesmo?

- Isso. 21 agora.

- Isso significa maioridade, está


trabalhando registrada?

- Sim.

- Moradia?

- Não é o melhor lugar do mundo, mas


estou conseguindo pagar um aluguel no
Bronx e fica muito perto do centro posso
trabalhar e estar próximo de tudo. Como
escola, hospital.

- Isso é ótimo srta Rivera. O que vamos


fazer agora é esperar as investigações
sobre o Paul James e cuidar da Alana.
Você poderá visitá-la duas vezes por
semana.

- Que maravilha! Obrigada Sra Smith. -


estava chorando.

- E seu visto de permanência


americano?

- Então...eu ainda não consegui. Eles


pediram um registro de trabalho com
mais tempo e consegui outro emprego a
pouco.

- Eu sei. Isso não é fácil mesmo. Só tem


uma coisa srta Rivera. Se você não
estiver com o visto americano em mãos
quando sair o processo, você não
poderá ter a guarda de Alana. Nem
provisória.

Essa foi uma mudança na lei recente.


Visto que muitas pessoas estavam
adotando crianças americanas em troca
de vistos permanentes. E nem preciso
dizer que isso foi péssimo. Pois depois
de obterem os vistos as crianças eram
devolvidas, abandonadas.
- Não acredito nisso!

- Mas vamos com calma. Certo?

- Certo. Eu agradeço muito Sra Smith.

- Por favor, assine esses papéis e


qualquer novidade eu te ligo.

- Obrigada por tudo.

- É meu trabalho srta Rivera.

Bronx, 7:45pm

Rayka começou a preparar um jantar


decente enquanto a roupa batia na
máquina. Estava um pouco mais animada
com a notícia que logo poderia ver
Alana. Seis meses que não a via.

Tinha até medo que a bonequinha não a


reconhecesse. Iria comprar um presente
pra ela amanhã mesmo. Também não
conseguiu segurar a emoção pensando
em Sophia. Quanta falta ela fazia.

Era tão ruim ser sozinha nesse mundo.


Graças a Deus tinha ainda sua mãe,
falava com ela quase todos os dias. Mas
estavam tão longe. Alana era um
pedacinho muito importante da sua
família. Sorriu.

Serviu-se de um pouco de Ajiaco. Um


prato típico cubano, feito com sopa de
batata, frango e milho. Caprichou no
tempero com Guasca ( Erva muito
apreciada em Cuba). Modéstia a parte,
ela cozinhava muito bem.

Aprendeu com sua mãe que trabalhou


por muito tempo em restaurantes no
México. Com boas vibrações lembrou-
se da vampira Mackenzie. Por onde ela
andava que não voltara ao café? Já
estava com saudades dela.

Três dias desde que a havia provocado.


Não sabe o deu na sua cabeça para fazer
aquilo. Iria se desculpar. Queria muito
poder conhecê-la melhor. Como será
que ficou cega? Seria de nascença?
Olhos tão lindos! Na verdade ela era
toda linda. Como não notar? Será que
foi a sopa que a fez esquentar?

Colocou o prato vazio na pia e foi


procurar sua pasta de desenhos.

Ainda não conseguira esquecer aqueles


olhos verdes. Lembrou-se que havia
desenhado aqueles olhos uma vez depois
de acordar do mesmo pesadelo e não
conseguir voltar a dormir. Achou alguns
desenhos de Alana.
Que meigos!

Não passavam de rabiscos. Mas ela


estava sensível. Guardou-os de volta.
- Aqui! É esse!

Olhou o desenho e daria tudo para ter


uma foto da vampira Mackenzie agora
em mãos para comparar. Havia marcado
uma data na folha. Sentiu o corpo todo
se arrepiar.

Por que sonhava com os olhos da


vampira Mackenzie desde seus
dezesseis anos?

Ela iria descobrir o segredo que cercava


aquela branquela!

Nova York, 8:00pm


- Tem certeza que não prefere comer em
casa? Jess deixou comida na geladeira.

- Tenho absoluta certeza. Dois dias já


deu para descansar. Estamos em Nova
York meu bem. Não se perde tempo em
casa morando em Nova York!

Roxanne revirou os olhos. Bem que


havia tentado segurar essa louca. Dois
dias em casa foi um recorde.

Amarrou os coturnos e colocou a jaqueta


de couro. Manu fez questão de maquiá-
la também.

- Você está uma gata! Aposto que vai


chover gatinhos na sua cola hoje.
- Ai....ai... não digo nada.

- Quê gatinha? Está na hora não? Quem


sabe dar uns pega! Não se sente mofada
não aí na…

- Hey? Sua louca! Não estou procurando


nada. Além do mais quem iria querer
sair com a ceguinha do grupo?

- Boba! Não quero ouvir mais isso. Essa


mulher linda e fodástica que você é, não
pode ser resumida em apenas um
detalhe.

- Um grande detalhe.
- Concentre-se no que tem, e não no que
não tem!

Disse isso lhe dando um tapa na bunda.


Beijou seu rosto e a puxou.

- Vamos. E não vai levar essa bengala.


Eu vou te guiar. Vamos curtir a noite!
Não sei nem por onde começar! Há tanto
para curtir.

- Começamos pelo jantar, por favor.

- Ânimo Roxe. Vamos comer lá mesmo


em Greenwich Village, tem vários
restaurantes top das galáxias. Depois
vamos dançar muito no Blue Note.
- É sério?

- Muito sério amiga! Pessoal da empresa


recomendou. Quero saber se é tudo isso
mesmo. Diz que tem dez homens bonitos
por metro quadrado!

Riu escandalosa como sempre, puxando


Roxanne pelo braço. Estava perdida.
Pegaram um táxi. Escolheram um
restaurante com mesas quase na calçada
a céu aberto. A noite estava fresca e
agradável. Riram muito.

Afinal não dava pra ser diferente com


Manuela Alika. Quando chegaram no
Blue Note tinha fila para entrar. Mas
Manu não desistiu. Embora Roxanne
várias vezes tivesse tentado dissuadi-la
a isso.

A casa de shows tinha apresentações ao


vivo. Tocava desde jazz até um rock
mais clássico. Era a primeira vez que
Roxanne ia a um show depois do
acidente.

- Viu Roxanne, pegamos ingressos na


frente...graças aos detalhes!

- Que vergonha Manu!

- Vergonha? Direito amor! Vamos fazer


bom uso desse lugar privilegiado.
Estamos no paraíso Roxanne.
Gritou no seu ouvido por causa do
barulho. Roxanne achou que iria
estranhar, mas achou muito agradável.
Manu fazia questão de detalhar os
cantores, principalmente a parte da
anatomia dos mesmos. E eles eram bons
mesmo.

Gostou muito dos acústicos de pop.


Quando começou a tocar um música
latina dançante, lembrou-se da caliente
Rayka furacão. Não sabia como ela era
de aparência, mas a voz era doce, fina
mas harmoniosa, no tom certo e seu
cheiro era doce também. Ela cheirava a
morangos. E a língua afiada. Não havia
superado a maneira toda sexy que ela a
havia provocado.
Não soube o que fazer a não ser fugir.
Não sabia que sensação estranha era
aquela. Como poderia sentir uma
ligação quase erótica com uma total
desconhecida? E ainda mulher? O que
estava pensando?

E para piorar...não conseguia tirá-la da


cabeça.

- Hey Roxanne, vou pegar algo para


bebermos. Algo saudável.

- Sim, obrigada.

- Que cara é essa? Safada. Está com


cara de quem está fantasiando.
- Miga sua louca! Só estou curtindo a
música.

- Ok. Depois vai me contar tudinho.


Estou sentindo cheiro de safadeza.

- Você é pervertida!

- Amém!

E o seu sangue esquentou. Acabara de


ter uma ideia. Pensou em uma maneira
de descobrir como era o rosto de Rayka
furacão.
Capítulo 6 - A Latina
Nova York, Sábado, 11:00
am

Roxanne acordou com um tapa na cara.


Assustada percebeu que era a mão de
Manu que ainda dormia, concluiu ao
chamá-la duas vezes sacudindo-a e nada
de resposta. Chegaram de madrugada e
ainda ficaram batendo papo na sala
antes de deitarem. Apesar da cama ser
de casal Manu era espaçosa.

Saiu da cama e foi se apoiando nos


móveis até chegar ao banheiro. Tomou
um banho rápido e colocou um short
jeans e um cropped branco. Seu closet
era organizado por cores e tipo de
roupa. Jess era a idealizadora dessa
arte. Hoje agradecia muito a sua
competência.

Lembrou-se dos remédios diários.


Estranho. Hoje não acordou com as
conhecidas dores.

Como era sábado a Jess não estava. Foi


para a cozinha tomar seu café da manhã
e deixou Manu dormir.

Depois de tomar um suco de frutas,


comer uma maçã. Fez torrada integral
para comer com mirtilo. Tentou não
fazer muito barulho.

Mas sempre esbarrava em alguma coisa.


Por sorte não quebrou nada. Jess
conseguia deixar as coisas da cozinha
sempre nos mesmos lugares, isso
facilitava sua vida. Quando foi dar uma
mordida na sua torrada apetitosa a
mesma foi arrancada de suas mãos:

- Obrigada amore...estou morrendo de


fome.
- Isso. Me mata de susto vadia!

Risada escandalosa.

- Olha boca Roxe. E aí o que vamos


fazer hoje?

- Descansar?

- Pirou foi? Sábado?

- Um ótimo dia para descansar.

- Ótimo dia para fazer compras.


Estou com uma lista de pedidos da
família. E você também está precisando
atualizar seu estilo mendiga.
- Pronto! Eu mereço!

- E depois vamos cair naquela piscina


mara do condomínio. Você está
precisando de um sol amiga.

- Já estou cansada só de imaginar. -


Roxanne tomou mais um gole do suco. -
Sabe Manu? Preciso te contar algo.

- Manda Sra Cullen.

- Eu realmente amei a noite. Sair com


você... ouvir música. Foi ótimo mesmo.

- Eu sei. E me dá mais disso pelo amor


de Deus. Que coisa gostosa. - disse
comendo a geleia de mirtilo pura.
- Mas, preciso confessar. Tive uma
recaída há uns dias atrás.

- Eu sei amore. Por isso estou aqui. Eu


senti que você não estava bem. Somos
como irmãs lembra?

- Eu não sei explicar...eu não tinha


motivo algum sabe…

- Roxe, não cabe a mim julgar você.


Cada um sabe onde aperta seu calo,
entende? Só você sabe o que passa. Mas
eu acredito que você deveria começar a
pensar em escolhas, decisões lembrando
que toda decisão tem consequências.
- Eu sei. - suspirou.

- Por que não volta a fazer o que gosta?


O que sabe? Por que abandonou a
música?

- Falta alguma coisa. Uma inspiração...


não sei.

- Sabe onde se encontra inspiração?


Vivendo. Conversando com amigos,
família, show, teatros, viagens.
Que inspiração vai pegar alguém
mofando dentro de casa em um sábado
de sol?

- Eu preciso mudar essa situação.


- Muito bom. E a clínica de apoio? E a
terapia?

- Dei alguns furos essa semana. Mas não


vou mais perder. E já agendei a terapia
para a próxima semana.

- E eu vou estar aqui para garantir que


isso aconteça.

- Tem outra coisa que eu queria te falar.

- Sou toda ouvidos.

- Lembra do Dr Sanchez que cuidou de


mim aqui em Nova York após o
acidente?
- Sim. O gostosão da medicina. Como
esquecer?

- Manu! Enfim, ele me ofereceu um


tratamento alternativo, na verdade uma
pesquisa revolucionária que está sendo
feita a partir de células tronco de um
médico cubano renomado na área, para
regeneração da cartilagem das córneas.

- Uau. Roxanne! Isso é fantástico!


Quando foi isso? Por que não me contou
antes?

- Foi no ano passado. Como eu disse é


uma pesquisa, já começaram os testes.
Mas eu não queria dar falsas esperanças
a ninguém.
- Eu entendo. Você já está participando?

- Então...para participar do
programa...eu preciso ficar limpa…

- Você precisa de mais motivação pra


isso? É a sua chance Roxanne. - Manu
estava visivelmente emocionada - Estou
muito feliz por você. Vem aqui. Acho
que precisa de um abraço de ursa. Mais
motivos para sairmos por esse mundo de
Deus e aproveitar tudo de bom que
Nova York tem.

- Você tem razão Manu.

- Eu sempre tenho, querida.


Abraçaram-se e choraram juntas.
Roxanne estava feliz, um pequeno raio
de sol começava invadir sua vida.

Cafeteria Starbucks, segunda-


feira, 8:00 am

“Siento magia,

con tus ojos siento magia


Es tan fuerte y se contagia

Y hoy quiero gritarle a la gente

Que te quiero”

- Hey... cantando essa hora? vejo que


alguém teve um final de semana caliente.
- Thomaz riu quando Rayka mostrou-lhe
a língua fazendo graça enquanto lavava a
louça.

- Para de graça. Só estou feliz e nada,


absolutamente nada vai estragar meu
bom humor hoje.

- Falou cedo demais Rayka, olha quem


chegou.
Ela virou-se tão rápido que deixou um
copo cair com força na pia fazendo um
barulho considerável. Mierda! Só
pensou na palavra feia. Pois seus olhos
não podiam crer no que viam. Vampira
Mackenzie adentrava o café.

Ela usava uma saia godê xadrez


vermelha e preta acima dos joelhos,
meias pretas, coturnos e um cropped
preto também que deixava seu umbigo
de fora, assim que passou a porta tirou
os óculos e percebeu um colar de
crucifixo entre os seios.

Rayka fez o sinal da cruz. Mas, depois


do impacto inicial percebeu que a
vampira não estava só. Uma morena alta
estonteante segurava a sua mão? Quê? E
porque diabos aquela cópia de Beyoncé
parecia íntima?

- Thomaz, vampiros não tem medo de


cruz?

- É o que dizem. Mas eles evoluíram


muito - riu

- Estou vendo. Mierda! Não diz meu


nome….por favor…

- Bom dia senhoritas. Posso ajudar?

- Bom dia Thomaz. Nós vamos procurar


um lugar, mas o de sempre pra mim,
minha amiga vai ver o cardápio.

- Já vou atendê-las. Fiquem a vontade.

Rayka viu as duas se sentarem no fundo


da loja. Soltou o ar dos pulmões
lentamente.

- Agora desembucha.- Thomaz falou


sério cutucando sua barriga.- O que está
rolando entre você e a vampira?

- Nada. É que ela ...sei lá.

- Olha, eu estou sentindo uma energia


tensa no ar. Toda vez que ela chega aqui
você parece que se transforma. Tudo
bem que ela é uma gata. Mas, a energia
entre vocês está quase palpável.

- Você acredita em destino, conspiração


do universo, essas coisas?

- Se acredito? Meu bem...isso é mais


real e verdadeiro que minha
homossexualidade.

- Quê? Mas isso é só olhar para sua cara


de bicha assanhada.

- Exatamente. Isso entre vocês basta


olhar para sua cara de latina pervertida.

- Esquece. Eu tenho que te mostrar algo.


- Rayka tira o desenho do bolso e mostra
para Thomaz. Os olhos de pantera dos
seus sonhos.

- Você desenhou isso?

- Sim.

- Uau. Lindo. Perfeito.

- Quer saber quando?

- Quando?

- Há cinco anos atrás. No México. O que


parecem?

- Espera aí…São os olhos da vampira?

- Sabia que eu não estava louca!


- Minha Santa Periquita! Espera eu tenho
que ir atendê-las.

Thomaz se afastou sem conseguir


disfarçar o espanto. Quando se
aproximou da mesa onde elas riam
descontraídas, não conseguia tirar os
olhos de cima de Roxanne.

- Já escolheram?

- Sim, pode trazer o meu pedido de


sempre e um chá verde gelado para
minha amiga e um pedaço de que mesmo
Manu?

- Quiche de queijo e escarola.


- Muito bem. Algo mais?

- Por enquanto só. Obrigada Thomaz.

- Já trago os pedidos. Com licença.

- E então Roxanne, porque viemos


tomar café aqui tão cedo? Tenho certeza
que não é por causa do atendente
Thomaz. Se era, sinto-lhe dizer. Ele é
gay!

- Manu! Como sabe disso? Viemos pelo


café.

- Apesar de quase engolir você com os


olhos, a cara não nega. Nem essas
calças esmaga-bolas.

- Fala baixo Louca! - Riram - Eu quero


que repare nos atendentes por mim.

- Hum...tem dois rapazes ali, muito


novos, seria pedofilia Roxanne.

- Só?

- Tem uma moça limpando a


mesa...vixi...idade de ser sua avó.

- Então ela não está.

- Quem? - Manu diz interessada.

- O furacão que te falei. Que me


derrubou no restaurante.

- Ah...a Latina? Pois se segure na


mesa...1,2,3, agora.

- Com licença. Seus pedidos. - disse


Rayka colocando a bandeja sobre a
mesa. Não conseguiu deixar de olhar
bem firme para os olhos verdes.

- Olá Rayka…

Manu percebeu um leve tremor na


voz de Roxanne?

- Olá srta Mackenzie. - Afastou-se o


mais rápido que pode.
- Hey, Roxe, essa é o furacão?

- Com certeza. Não fez algum estrago


por um milagre da sua presença, tenho
certeza.

- Isso está ficando cada vez melhor.

- E então? Como ela é?

- Espera um pouco...você está


interessada em saber a aparência da
Latina?

- Sim. Eu estou - respondeu Roxanne


corando violentamente. - E pelo amor de
Deus, fala baixo.
- Ok….vamos lá. - Manu bebeu um
pouco do seu chá.

- Seja discreta...se conseguir não é


mesmo?

- Ela é um pouco mais baixa que você.


Talvez uns 10 cm. hum...cabelos
castanhos, estão presos num coque. Mas
devem ser grandes, tem fios compridos
soltos. Ela usa uma franja grande. Tem
pele morena de latina, nariz arrebitado e
olhos grandes, castanho-claros, cílios
enormes e nossa...a boca da Angelina
Jolie.

- Quê? Como você está conseguindo ver


tudo isso de longe?
- Porque estou com o celular na mão e
usando o zoom da câmera... e ela está
bem de frente para nós.

- Manu….eu disse para ser discreta!

- Hey...ela não sabe que estou fazendo.


Bem, a roupa não ajuda muito, esse
uniforme parece feito para uma série de
detentas. Mas, vejo que é ajeitada, mas
bem….Pelos deuses latinos!!!

- O que foi? Ela te viu…?

- Não, ela se virou. Os deuses latinos


abençoaram sua comissão traseira.
Realmente é uma pena você não poder
ver isso. Mas tirei várias fotos.

- O quê? Enlouqueceu? Isso é crime.


Pelo amor de Deus me dá esse telefone
aqui.

- Espera. Ela não para de olhar para


nós. Hey Mackenzie. Está rolando
alguma coisa entre vocês e você não me
contou?

- Claro que não. Eu nem a conheço. E te


contei que ela era um furacão
desastroso. Foi só.

- Ai...eu não acredito!!

- O quê? - Roxanne já estava


arrependida da ideia.

- Miga!!! Você está atraída pela latina!

Roxanne se engasgou com o café.


Péssima ideia fazer apenas uma pergunta
a Manu. Não deveria ter inventado isso.
Do jeito que ela fala alto, estavam todos
provavelmente olhando para elas.

- O quê? Louca! Nunca!

- E pelo visto não é a única. Ela está me


fuzilando com os olhos. Acha que somos
una pareja! (casal em espanhol) - Manu
se aproxima de Roxanne e alisa seu
rosto.
- O que você está fazendo? Tonta!

- Testando minha teoria. Meu amor…-


Diz mais alto do que o necessário.

Que ódio!

Rayka derrubou uma bandeja e quase


caiu ao se abaixar para pegá-la bateu a
cabeça na mesa do cliente. Tudo piora
quando ela quer disfarçar. A verdade é
que não ouviu uma palavra do pedido do
cliente. Seus olhos estavam sobre a
Beyoncé que afagava a vampira, ria,
pegava em seus cabelos carinhosamente.

Desgraçada! Queria ter cuspido naquele


chá gelado! Saiu dali correndo antes que
provasse que ainda podia fazer isso.

- Teoria provada! O furacão fugiu. Não


antes de me matar com os olhos.

- Sério?

Seria possível que Manu não


estivesse sendo tão ela nesse momento e
falando a verdade? E porque essa
simples possibilidade fez seu café
revirar no estômago? Estaria mesmo
atraída pela Latina de sangue quente?

- E você está vermelha feito uma


pimenta mexicana! - Riu escandalosa -
Eu não posso acreditar! Roxanne
Mackenzie, você está muito ferrada.
Quer saber? Devia falar com ela. Que
tal pegar o telefone dela?

- Enlouqueceu?

- Convida ela para sair com a gente essa


semana.

- Vamos embora que já deu a hora.


Esqueceu que eu tenho reunião e você
precisa ir para o curso ainda?

- Verdade. Mas, isso não acaba aqui.


Vou querer saber de tudo que está me
escondendo.

Rayka mostrava o celular para Thomaz.


- Como conseguiu tirar essa foto?

- Enquanto colocava a bandeja na mesa


enfiei a mão no avental e peguei o
celular. E ela não enxerga mesmo.
Perdoa-me Virgem de Guadalupe!

- Isso é crime, louca! - Thomaz riu.

- Vamos aos fatos, o que me diz?

- Magia! O universo está conspirando


por algo entre vocês. Esses olhos são os
da srta Vampira!

- Eu estou muito ferrada.

- Muito ferrada...você viu a


concorrente?

- Projeto de Beyoncé! Me aguarde!

Shopping Manhattan Mall,


quarta-feira, 6:20 pm

Rayka agradeceu por ter estar de All


Star, saiu do serviço e caminhava pelas
ruas de Manhattan, atravessou a avenida
33 entrando na 32, cortou a rua pelo
meio dos carros mesmo. Estava com
pressa.

Não podia demorar muito, não gostava


de andar pelo Bronx depois que
escurecia. Chegou na 6ª avenida e entrou
no shopping Manhattan Mall.
Ali poderia comprar um presente bom
sem gastar muito. Estava animada, pois
recebeu uma ligação da Sra Smith
dizendo que Alana já estava
frequentando a creche do centro. Isso
significava que ela poderia vê-la em
breve.

Não sabia o que comprar, em seis meses


as crianças mudam de gosto muito
rápido. Sabia que ela gostava muito do
filme meu malvado favorito. Lembrava
que não aguentava mais assistir aquele
filme com ela, até havia decorado as
falas. Ela adorava unicórnios. Iria
procurar alguma coisa com unicórnio.
Depois de encontrar seu presente estava
atravessando o piso principal quando a
viu.

Ela, a poderosa, a intimidante, a


vampira dona dos olhos mais lindos que
ela já havia visto!

No mesmo instante podia ouvir seu


coração bater desesperado no peito. Que
poder emanava daquela mulher?

Ela estava sentada em uma sorveteria.


De calça justa preta, uma camiseta larga
de alguma banda de rock com uma
jaqueta jeans clara por cima. E ria. Ao
seu lado a projeto de Beyoncé. Toda de
vermelho parecendo a pombagira cigana
sensualizando! Como iria se livrar dela?
Droga!
Não iria perder essa chance. Se
escondeu atrás de uma pilastra. Alguns
instantes depois a Beyoncé se levantou e
foi em direção aos banheiros.

Sua chance! Pensa rápido Rayka!

O que falaria para ela? Não tinha ideia.


Mas saiu do lugar.

- Olá srta Mackenzie.

Disse nervosa. Esperava que sua voz


não denunciasse seu nervosismo.
Percebeu quando ela tossiu engasgada
com a água que tomava na garrafinha.
- Rayka?

- Tem certeza que você é cega mesmo?


Estou começando a duvidar disso.

- Cega. Não surda.

- Como sabia que era eu?

- Difícil não notar você. Está


trabalhando aqui também?

- Na verdade estava te seguindo. Em


busca de provas para minha teoria.

- Quê?
- Gosta de alho? O que acha de água
benta no banho? Você usa óculos para
esconder a vermelhidão dos olhos? Sua
cama é um caixão?

- E você é alguma caçadora de vampiros


por acaso?

- Não tente me enganar. Quero te ver na


luz do sol. Se quiser provar que não é
uma vampira. - anotou seu número no
guardanapo e colocou nas mãos dela - se
não for já saberei a resposta.

Virou-se sem esperar confirmação.


Acelerou o passo quando avistou a
Beyoncé se aproximando.
Roxanne ficou ainda vários minutos sem
conseguir raciocinar o que acabara de
acontecer.

- Roxanne, você se lembra que amava


unicórnios nos tempos do colégio?

- Sim…

- Lembra aquela vez que você vestiu um


pijama de unicórnio para o baile de
Halloween?

- Por que isso agora?

- Sei lá...um sinal talvez.

- Sinal de quê?
- De furacão. Porque acabei de ver a
latina sair daqui correndo com um
unicórnio de pelúcia maior que ela.

- Ela esteve aqui!

- Sério? O que ela disse?

- Coisas estranhas sobre vampiros não


entendi nada.

- Hey...o que é isso? - Manu pegou o


guardanapo na mesa.- Ela te deu isso?

- Sim. O que é?

- Mais é uma atirada mesmo! Latina


safada!

- Por quê?

- Porque ela acaba de dar o número de


telefone para você.

- E como eu iria ver esse número?

- Não percebeu? Ela sabia que eu iria


ver! Mesmo achando que somos mais
que amigas. Ela acaba de dar uma
cartada no jogo! - Manu riu com
vontade.

Roxanne continuava com a boca aberta


tentando assimilar tudo. Quando Rayka
perguntou como sabia que era ela, quase
disse que a reconheceria em uma
multidão, que a sua voz doce e o
perfume de morango eram exclusivos.
Mas isso seria muito gay não?

- Roxanne me conta tudo. O que foi


exatamente que ela disse?

- Ela disse umas loucuras e disse que


era para eu provar para ela que não era
uma vampira e encontrá-la ao sol.

- Quê? Calma aí - Manu abriu todo


guardanapo. - Tenho que admitir. Ela
tem atitude.

- Por quê? O que foi?


- Está escrito Bethesda Fountain.
Amanhã. 12 pm e tem o número do
celular dela.

- Sério?

- Acorda Roxanne! O furacão te pegou.


Você tem um encontro.

- Um encontro?

- Essa latina ganhou meu respeito. Se


fossemos um casal ela estaria morta
amanhã boiando na fonte!
Capítulo 7 - O
Encontro
Centro Clínico de Apoio
aos Alcoólatras 8:45 pm

R oxanne desceu do táxi se despedindo


de Manuela com um beijo. Estava
adiantada. Também não se lembra de ter
pregado o olho a noite toda. Primeiro
porque Manu não a deixou em paz um
minuto sequer querendo falar sobre o
furacão Rayka.

Ficaram até tarde comendo besteira e


ouvindo músicas antigas. Quando
deitaram para dormir Manu desmaiou e
Roxanne ficou lá, rolando de um lado
para o outro. O que será que estava
acontecendo com ela?

Por que Rayka a fazia sentir-se como


outra pessoa? Que sentimento era aquele
de euforia que a tomava ao ponto de
perder o sono?

Levantou-se ainda mais cedo, tomou


banho lavando e secando os cabelos,
Manu fez questão de escolher sua roupa
e fazer uma maquiagem básica. Tomaram
café com Jess e pegaram um táxi. Manu
seguiu para o seu workshop depois de
mil e uma recomendações.

Quando a reunião começou uma jovem


deu seu depoimento sobre a sua luta
contra o álcool e drogas. De como
encontrou forças e apoio nas pessoas
que a amavam.

Dra Mendez fez questão de chamar


Roxanne no particular. Como havia
faltado em duas reuniões ela estava
preocupada. Roxanne fez questão de ser
honesta e falou sobre sua recaída.
Recebeu apoio e palavras de incentivo.
Saiu de lá o relógio já marcava um
pouco mais de dez horas. Queria fazer
uma coisa ainda antes de ir para o
Central Parque. Pegou o táxi e seguiu
para Hospital Santa Maria.

- Srta Mackenzie. Que surpresa


agradável. - Foi recebida calorosamente
pelo Dr Sanchez. - Sente-se por favor.
Como vão as coisas?

- Obrigada doutor. Na verdade estou


bem melhor, mais do que há muito
tempo.

- Isso é ótimo. Fico contente. Mas ainda


não estamos próximos dos seus exames
de rotina. O que posso ajudá-la por
hoje?

- É verdade. Estou aqui para saber um


pouco mais sobre aquele programa de
voluntários para a pesquisa com células
tronco.

- Que notícia boa. Tenho algumas


novidades, avançamos bastante nos
últimos resultados.

O Dr. Sanchez passou os próximos


quarenta minutos explicando os avanços,
os riscos e o quanto os resultados só
melhoraram com mais investimentos
recebidos.

Também explicou que se Roxanne


participasse da pesquisa seu nome
voltaria para a lista de espera para
transplante de córneas.

- Já que estará participando da pesquisa


suas chances são maiores. Mas, conhece
as regras. A cada três meses você será
chamada para os exames toxicológicos,
precisa estar em tratamento psicológico,
nada de bebidas, cigarros etc...nem ficha
suja com a polícia. Acho que não terá
problemas quanto a isso. - Deu uma
risada descontraída.

- De jeito nenhum. Eu espero.

- Ótimo. Vou pedir para minha assistente


preparar os papéis e ela te liga assim
que sair tudo e você vem para os
exames. O que acha?

- Perfeito.

Roxanne não sabia descrever o turbilhão


de emoções que a envolvia. Tinha agora
exatos dez minutos para chegar no
Central Parque.

Ela ainda tinha um encontro com a


latina. Seria um encontro mesmo? Não
sabia explicar o porquê mas começava a
entender aquela expressão de borboletas
no estômago.

Central Parque, 11:35 am


Rayka verificou o relógio pela milésima
vez. Conferiu a caixa térmica que trouxe.
Arrumou o cabelo que o vento insistia
em bagunçar.

Escolheu uma camisa branca e azul de


manga curta com um nó na cintura. Uma
calça jeans azul escura e all star.
Colocou uma fita branca no cabelo
lavado e fez até babyliss. Antes de sair
do serviço refez a maquiagem.

Pediu uma saída que pagaria no sábado.


Já que hoje ela iria no centro visitar
Alana também. Antes de sair ligou no
restaurante e fez um pedido que pegou
no percurso e colocou na caixa térmica.
Não sabia que loucura estava fazendo.
Só sabia que precisava descobrir
porque o destino colocou aqueles olhos
verdes no seu caminho. Sorriu ao
lembrar da cara do Thomaz ao contar
como se arriscara no shopping para
conseguir se encontrar com Roxanne
Mackenzie.

Nem sabia se ela viria. Já que ela não


mandou nenhuma mensagem. Nem sabia
se ela havia recebido seu recado. Estava
arriscando nesse jogo. E isso a excitava!
Por falar em excitação ela viu
exatamente quando ela chegou, era como
se uma energia a atraísse até ela.

A imagem de uma deusa grega!


O vento balançando seus cabelos, ela
usava uma calça preta de cintura alta
com cordões na cintura. Um cropped
branco de alcinhas e seus coturnos
pretos. Estava de óculos e andando
devagar com sua bengala. A pele branca
reluzia aos raios do sol.

Deveria ser pecado ser bonita desse


jeito. Rayka precisou pôr a mão no peito
e respirar fundo para impedir um ataque
de ansiedade logo agora. Viu quando ela
se sentou no primeiro banco em frente a
fonte. E agora Rayka? Ainda buscando o
ar repetia a si mesma:

Você consegue! Você consegue!


- Você veio!

Não achou outra frase melhor, porque


quando chegou perto percebeu que ela
estava ainda mais bonita. Maquiada,
usava um colar de lua, batom escuro
puxado para a cor marsala e brincos de
argolas.

- Olá caçadora. Então, na hora mais


quente do dia, em pleno Parque em um
dia de sol. - debochou divertida.

- E você não está virando cristal, nem


queimando ou derretendo?

- Já já vou começar nesse calor. Está


satisfeita?

- Muito. Aliás, meu nome é Rayka


Rivera. Acho que não começamos com o
pé direito.

- Não mesmo. Você me atropelou com os


dois. Roxanne Mackenzie.

Ela estendeu a mão esperando o aperto.


Rayka engoliu a seco antes de apertá-la.
Sentiu um arrepio até a nuca. Incrível.

- Muito prazer. Você está com fome?

- Por quê?

- Quer almoçar comigo?


Direta e reta. Como ela demorou a
responder Rayka tentou consertar.

- Um pacto de paz Roxanne.

Que nome gostoso de falar, Roxanne,


Roxanne... Como a dona...aff concentra
Rayka.

- Tudo bem. - Ela se levantou- Onde


gostaria de ir?

- Na verdade já estamos aqui. Eu trouxe


nosso almoço. Venha.

Antes que a deusa dissesse alguma


coisa, pegou no seu braço.
- Como assim?

- Venha comigo. Não vou te raptar.

Rayka procurou um lugar junto às


árvores com sombra e longe dos
curiosos. Não tinha um ser humano que
não olhasse para ela.

Bando de urubus!

Ajudou-a na grama para evitar


acidentes. Abriu a bolsa que havia
trazido e tirou uma toalha grande. Forrou
certificando-se não ter formigas e outros
insetos. Não podia abusar da sorte.
- Pode se sentar agora. - avisou.

- É um piquenique?

- Pode ser.

Abriu a caixa térmica e tirou as


caixinhas de comida japonesa. Arrumou
tudo sobre a toalha.

- Comida japonesa. Não sabia qual era


sua preferência, então peguei um pouco
de tudo. Trouxe molhos, hashis ,
talheres.

- Isso é sério mesmo?

- Muito sério - respondeu sorridente-


tem sushis variados, temaki, hot roll,
sashimis, maki, niguiri. suco natural de
frutas vermelhas e laranja.

- Uau. Impressionada.

- Veja que aquele pequeno acidente teve


seu lado positivo. E não se preocupe
que eu trouxe tudo dentro de uma caixa
térmica. Peguei no restaurante há meia
hora atrás. Tudo fresco. E não coloquei
alho, água benta em nada!

Brincou. Funcionou, porque ela sorriu.


Que sorriso lindo! Anotar na agenda:
fazer ela sorrir mais.

- Estou mesmo com fome. Se você puder


me servir não quero estragar o almoço
derrubando tudo.

- Achei que a desastrada fosse eu.

E ela sorriu de novo.Não pareciam mais


desconhecidas. Uma hora Rayka contava
uma de suas muitas histórias de
desastres em público e Roxanne ria.
Outra hora Roxanne contava algo
engraçado dos tempos de criança com os
irmãos.

- Então você é latina mesmo. Seu nome é


diferente.

- Sim, eu nasci em Cuba, mas minha


família e eu nos mudamos para o
México tentando vir pra cá. Morei
bastante tempo lá. Minha mãe mora lá
ainda.

- E seu pai? Irmãos?

- Meu pai faleceu há cinco anos. E


minha irmã há três.

- Eu sinto muito, não fazia ideia.

- Não tem problema. Se você não for


uma agente do governo eu contarei outro
dia como tudo isso aconteceu. Hoje só
vamos aproveitar o dia de sol.

- Tem razão.
- E meu nome tem origem espanhola,
significa bonita, mas em grego é um
nome de alguma deusa que não me
lembro do que.

- Deusa do vento.

- Como sabe?

Roxanne engasgou com a própria saliva,


não poderia dizer que pesquisou sobre
seu nome.

- Eu me lembro das aulas de história.

- Ah...legal. E a sua namorada?

- Minha o quê?
- A sua namorada aquela loira.

- Ah...a Manuela? - riu

- O que foi?

- Ela não é minha namorada.

- Achei que fosse…

- Ela é minha amiga-irmã. Está passando


uns dias aqui fazendo um curso da
empresa...mas ela é de Miami.

- Que bom! Quer dizer…legal.

Gracias a Dios!
- Ela disse que se fosse minha namorada
essa hora seu corpo estaria boiando na
fonte.

- O quê?

Foi a vez de Rayka engasgar - Riram


muito.

- Não ligue. Eu já me acostumei com as


loucuras dela. Mas ela é um amor, juro.
Rayka recolheu o lixo, guardou a toalha
e andaram até a ponte Bow Bridge.
Compraram um sorvete para amenizar o
calor.

- Hey... espera aí...tem uma mancha de


sorvete aqui na sua boca.

Rayka passou o dedo pelos lábios da


vampira. Foi meio que automático. Só
percebeu o deslize quando a sentiu
recuar.

- Oh... desculpa. Já limpei.

- Obrigada. Isso sempre acontece.

O que será que sempre acontece? O


sorvete manchar o canto da sua boca ou
as mulheres quererem limpá-la? Droga!
Concentra Rayka!

- E me conta. O que houve para você


ficar sem visão? Não precisa falar se
não se sente bem com isso.

- Está tudo bem. Um acidente de carro.


Eu tinha 18 anos. Há quase quatro anos
atrás.

- Deve ter sido horrível.

- Sim, foi uma carreta de combustível se


chocou no táxi que eu estava. O
motorista estava bêbado e o do táxi
morreu na hora. Eu me quebrei toda.
Mas estou aqui

- Então isso é suficiente. Que bom que


está bem. Sabia que tem alguns
vampiros que se auto regeneram? É tipo
um dom.
- Esse não é o Wolverine?

- Uau... isso aumenta meu campo de


teorias srta Mackenzie.

E ela sorriu de novo. Puxa. A hora tinha


passado tão rápido!

- Eu preciso voltar. Tenho um


compromisso.

- Tudo bem. Eu vou pegar um táxi


você…quer...

- Não. Eu moro no Bronx. Vou de metrô


é bem mais rápido. Eu agradeço.
Então…
- Obrigada pelo almoço. Estava ótimo.

- De nada srta Mackenzie. A gente se vê


no café?

- Sim. A gente se vê.

- Vamos que eu deixo você no táxi.-


vendo que ela não queria ser guiada,
Rayka segurou-a pela mão. - Eu sei que
você é perfeitamente capaz de ir
sozinha. Mas eu não seria gentil
deixando você aqui. Por favor.

- Ok. Tudo bem.

- Só uma coisa. Continue olhando nessa


direção. Mostre a língua.

- Para quê?

-Estou testando uma teoria.

E antes que ela desconfiasse Rayka


passou a mão pelo seu pescoço
abraçando-a e bateu uma foto.

- Ouvi falar que vampiros não saem em


fotos.

- Vampiros ou fantasmas?

- Estou pensando em todas as


possibilidades Roxanne Mackenzie.
Nova York, 5:05 pm

Roxanne afundou-se na banheira cheia


de espuma. Não sabia descrever tudo
que se passava em sua cabeça agora.
Primeiro as ótimas notícias do Dr
Sanchez. Ela estava disposta a tentar de
tudo para melhorar, quem sabe a sua
condição. Três anos e meio. Não podia
se esconder para sempre.

E sorriu ao se lembrar da Latina,


como Manu a chamava, a srta furacão,
que agora tinha nome e sobrenome: Srta
Rayka Rivera.Um nome diferente para
uma pessoa diferente de tudo que já
tinha conhecido também.
Não dava boas risadas como hoje há
bastante tempo. Ela era divertida, não
fez mil e umas perguntas como a maioria
das pessoas sempre com pena dela. E
quando perguntou sobre seu acidente fez
graça a chamando de vampira.

Não se importava com isso Manu a


chamava de tantos nomes estranhos, mas
a verdade é que gostava da maneira
despojada como ela falava de assuntos
sérios. Ela era sensível. Isso era bom.
Ela era agradável e tinha um cheiro de
morangos incrível.

Lavou os cabelos sem pressa. E que


surpresa ela levar o almoço no Parque.
Queria dizer que era a primeira vez que
fazia isso, mas ficou com vergonha.

Quase desmaiou quando ela passou os


dedos nos cantos da sua boca. Por que
sentiu o corpo todo arrepiar? Será que
ela era gay? Ou estava tão carente que a
qualquer toque se derretia?

- Srta Mackenzie??

- Sim, Jess. Estou no banho.- gritou

- Minha querida. Já tem duas horas que


está aí. Está tudo bem?

- Estou indo. Você pode fazer um lanche


reforçado pra mim? Manu também já
deve estar chegando. Por favor…
- Já está pronto. Já está criando mofo te
esperando sair daí.

Sempre exagerada. Roxanne saiu logo


do banho, pois sentiu a barriga doer.
Vestiu um moletom folgado que adorava
e uma camiseta larga.

Enquanto comia seu lanche Jess se


preparava para ler as cartas. Diferente
das outras vezes, hoje ela queria saber
algo sobre o futuro. Nem se importou
com o cheiro do incenso.

- Preparada srta Mackenzie? Pegue uma


carta.
- Sim. - ela suspirou antes de obedecer.

- Ora ora...você tirou a carta A


Imperatriz.

- E isso é bom?

- Muito bom. Significa estabilidade


emocional, financeira e espiritual.
Também no campo das emoções
significa que uma figura feminina muito
forte, cheia de boas vibrações está
entrando em sua aura.

- E o que isso pode causar?

- Hum...Você possuirá consciência de


seus problemas e saberá como enfrentá-
los da melhor forma, estará também apta
para entender profundamente questões
relacionadas ao seu coração. Essa figura
feminina é um sol. Como uma força ativa
da natureza te guiando.

Roxanne engoliu a seco. Nunca


acreditou tanto naquilo como agora.

- Mais uma carta senhorita...e lembre-


se: As cartas não mentem!

- Estou começando a acreditar nisso. -


pegou mais uma carta.

- Essea carta da Lua...As principais


questões que expressam a energia desta
carta são: a sensação de desequilíbrio
da parte emocional, medo de se entregar
em relacionamentos e o medo do fim, da
morte.

- Nossa!

- Já disse que a você é a lua. E seu sol,


que é uma figura feminina forte é seu
ponto de equilíbrio. Sem o sol, a lua não
pode brilhar. Você precisa desse sol
para encontrar sua paz e equilíbrio, acho
que está na hora de abrir sua janela.

Roxanne sentiu o corpo todo se arrepiar.


Ainda permaneceu pensativa mesmo
depois de Jess sair. Foi pensando em
tudo que havia experimentado em um
único dia que ela abriu a porta do quarto
esquecido.

Ali escondido tinha pedaços da sua


antiga vida. Um teclado profissional
com teclas de piano original, um violão,
uma guitarra, Mesa acústica,
microfones, amplificadores, câmeras.

Não podia ver, mas sabia que nas


paredes estavam as fotos de sua
juventude, escola, time de softball,
premiações de shows de talento,
apresentações no colégio. Sua mãe fez
questão de os trazer de Miami. Abriu a
janela e deixou os últimos raios de sol
entrarem. O sol.

Manuela abriu a porta e ficou paralisada


alguns instantes. Colocou a bolsa no
sofá e tirou os sapatos de salto tentando
não fazer barulho. Não podia crer.
Estava ouvindo a voz de Roxanne
cantando?

Passou pelo corredor se apoiando nas


paredes tentando não fazer qualquer
ruído.

“Às vezes parece que eu não


pertenço aqui

Raízes não podem se firmar porque


eu não me encaixei

Não consigo ver o caminho através


de todas as minhas lágrimas
Eu sei que eles sempre dizem para
esperar por dias melhores”

Manu não conseguiu evitar as lágrimas.


Roxanne estava no teclado dedilhando
com dificuldade. E sua voz tão poderosa
enchia o ambiente com emoção.

“Eu não achei que conseguiria

Chego perto de desistir todos os


dias

O fato de eu estar aqui é incrível

Parece que estou respirando pela


primeira vez
Olhos bem abertos, estou vendo
tudo

Pela primeira vez em anos eu sei


que vou ficar bem

Olha o quão longe eu cheguei


agora

Agora que eu consegui sair”


(Dabin - Alive)

Sem que ela percebesse pegou o celular


e filmou. Esperou que ela acabasse e
entrou batendo palmas.

- Oh Roxanne...que saudades que eu


estava de te ouvir.

- Hey Manu. Obrigada. Eu também,


estava com saudades de mim.

- Bem vinda de volta Roxanne


Mackenzie!

Abraçaram-se. Algo dentro dela


ressurgia.

Bronx, 8:54 pm

Como um dia poderia ser mais perfeito?


Rayka tentava lembrar da última vez que
se sentira tão feliz.

Sua vida de sonho americano não era


nada fácil. A primeira vez que tentaram
entrar nos Estados Unidos pela fronteira
com o México seu pai havia vendido
todas as suas posses, ela tinha quinze
anos, a irmã treze.

Passaram duas semanas dentro de um


barco em péssimas condições de higiene
e estrutura sob as águas do Rio Bravo,
navegavam só a noite para não serem
pegos pela polícia. Depois foram mais
três semanas no meio da mata e viu uma
jovem morrer depois de ser picada por
uma cobra venenosa.

A segunda vez nem conseguiram chegar


na metade do caminho e foram recebidos
a bala. Seu pai foi ferido. Voltaram para
o México onde o pai morreu meses
depois de um infarto.

E depois na última vez ela, a irmã e a


mãe pegaram tudo que lhes restara e
pagaram os coiotes para atravessarem o
deserto do Novo México chegando ao
Texas. Quase foram mortas pelos
fazendeiros da região. Rayka tinha um
lembrete desse dia marcado na pele.

Já no solo americano conseguiram


documentos falsos e assim arrumou o
primeiro emprego junto com sua mãe em
um restaurante de comidas típicas
latinas. Então aconteceu tudo aquilo com
Sophia e sua mãe voltou para o México
desiludida.
Ela não queria voltar, sabia que ali
estava seu destino. Agora sua meta era
conseguir o visto permanente e adotar a
pequena Alana, sua sobrinha linda de
olhos meigos.

Não resistiu e foi às lágrimas quando


atravessou o salão da creche e a
reconheceu de longe. Ela usava um
vestido rodado vermelho com uma tiara
da mesma cor. Seus cabelos estavam
enormes e as bochechas ainda mais
coradas. Ela a chamou e imediatamente
a menina correu para o seu colo a
beijando sem parar.

Ficou tão feliz com unicórnio que não


quis mais soltar. Difícil foi se separar e
dizer que não podia ficar com ela ainda.

- Veja meu amorzinho. Eu estou fazendo


de tudo para isso acontecer. Mas ainda
não deixaram.

- Por favor tia Kaká.. Lana não quer


voltar pra lá.

- Eu sei meu amor. Escuta. Eu te


prometo. Vamos ficar juntas para
sempre. Eu vou lutar com toda a minha
força de unicórnio e vamos ficar juntas e
ninguém vai nos separar mais.

- Lana sente saudades. Lana quer ficar


com Rayka.
- E vamos ficar, eu prometo.

Saiu dali com o coração na mão.

Mas estava feliz. Em breve tudo iria se


resolver e ela poderia seguir em frente.
Não tinha medo de nada. Iria enfrentar
qualquer coisa para ter sua docinho pra
sempre.

E estava feliz também pela tarde


maravilhosa que tiveram com a vampira
Mackenzie. Agora sabia seu nome e
sobrenome: Roxanne Mackenzie. Um
nome forte e marcante, como a dona. Só
de pronunciar aquele nome sentia tudo
por dentro queimar.
Fechou o chuveiro antes que água
ficasse fria. Secou os cabelos e enrolou
uma toalha. Passou hidratante no corpo e
começou a se vestir para dormir. Tinha
certeza que não conseguiria.

A imagem de Roxanne não saía da sua


cabeça. Ela era muito linda. E gostava
do jeito até rude que ela tinha de dar
respostas. Deram muitas risadas. Agora
não sabia mais o que seria dali para
frente. Tinha jogado suas cartas. Mas
não sabia se Roxanne tinha algum
interesse nela.

Ela estava muito interessada.


Aff como não estar? Ficou
sensibilizada por ela ter ficado cega em
um acidente, deve ter sido uma barra
superar um trauma assim.

O que será que Roxanne achava dela?


Será que gostou do almoço surpresa no
Parque? Pegou o celular e olhou a foto
que havia tirado delas.

Ela era linda demais. Achava até que


formavam um belo casal. Será que ela
curtia mulheres? Pois se não curtia ela
iria passar a curtir pelo menos uma: ela.
Porque Rayka não iria desistir tão fácil.

Aqueles olhos de Pantera de seus sonhos


significavam alguma coisa. Estavam
ligadas de alguma forma. Bem que ela
podia lhe enviar uma mensagem, assim
teria seu número. Só lhe restava esperar.
Só não queria que fosse por muito
tempo.

Terminou de se vestir penteou os


cabelos. Ligou a tv enquanto o sono não
vinha. Mas seus pensamentos tinham
endereço certo.
Aqueles olhos...
Capítulo 8 -
Mensagem pra Você
Nova York, 13:20 pm

- Eu ainda não estou acreditando que


ela fez isso!

Manu e Roxanne estavam almoçando e


é óbvio que ela queria saber tudo sobre
o "encontro".
- Quer dizer que a latina furacão fez um
piquenique no Central Parque, no
primeiro encontro?

- Com comida japonesa que eu amo.

- Não...gente. É típico roteiro de


comédia romântica. Desculpa Roxanne,
mas ela não quer ser sua amiga coisa
nenhuma.

- Você acha? Eu achei tão legal…

- Para Roxanne. Você bateu a cabeça e


ficou lerda também? Pensa só, se fosse
aquele cara da escola como era o nome
dele? Zack? Que você namorou. Se ele
te levasse no Central Parque no primeiro
encontro para um piquenique você iria
achar que era amizade que ele queria?

- Não...mas é diferente…

- Por que é uma mulher?

- É...sei lá. Acho que ela só quis ser


gentil e se desculpar.

- E conseguiu? Nem precisa responder.


Está tatuado na sua cara. Você já era.

Roxanne tinha certeza que estava


corada. O que havia acontecido com
ela? Nem ela mesma se reconhecia. Não
era inocente assim. Mas com Rayka era
tudo novidade outra vez.

- Não tem nada na minha cara.

- E agora?

- E agora o quê?

- Só isso? Acabou?

- Eu não sei. Manu eu não sou lésbica!


Lembra disso?

- Eu sei meu amor, só que a gente não


escolhe por quem a Droga do coração se
apaixona.

- Tem razão. O que eu faço?


- Sempre. Dica de Manu número 1: Não
apareça de cara no café. Vai parecer
desespero.

dica número 2: se passar de três dias ela


vai entender como rejeitada. Thanks
next.

Dica número 3: manda uma mensagem


tipo : Que legal, adorei o dia, vamos nos
ver mais vezes.

Roxanne riu tanto que engasgou com o


macarrão sujando toda a mesa com o
molho branco.

- Querida, vai por mim. Nem muito


difícil nem muito atirada. Me dá o
celular aí. Vou mandar uma mensagem.

- Não! Está louca. Ela saberia que não


sou eu. Já que eu só mandaria áudio.

- Manda um nude. Depois um áudio:


mandei sem ver! Sorry.

- NÃO! Não brinca. Eu tenho medo de


você Manu. Juro.

- Então vamos terminar de comer e


ensaiar uma voz bem sexy quando ela
ouvir o sangue latino vai ferver.

- Você não tem jeito não é?


Roxanne ainda contou sobre a leitura
das cartas por Jess no dia anterior. Manu
também não era muito crédula nisso.
Mas ficou surpresa. Disse que iria
querer uma sessão também.

- Eu só sei de uma coisa, você está


menos chata depois desse furacão ter te
pegado de cheio!

- Boba

Bronx, 10:20 pm

Rayka continuava sem conseguir dormir.


Ainda mais com os barulhos da noite
quente que seu vizinho estava tendo. Seu
apartamento era de paredes geminadas e
pareciam de papel. E ela não tinha como
dormir em outro lugar.

Era um apartamento de um quarto 4x4


com o banheiro, cozinha de 2x2 com
uma bancada com um banco, e ainda
dividida com uma mini lavanderia.

Ela dormia em um sofá que virava uma


cama de solteiro. Não tinha mesa, nem
cadeiras. Tinha uma cômoda, uma tv
antiga e uma escrivaninha que usava
para desenhar quando estava inspirada.
Na parede dois quadros. Foto dos pais e
de Sophia, Alana e ela no Parque e
alguns desenhos seus presos com fita.

Como estava sempre se mudando e


fugindo da imigração, não acumulava
nada. Mas esperava conseguir um lugar
melhor para criar Alana. O bairro que
morava era um dos mais perigosos de
Manhattan.

Os moradores consistiam em sua


maioria de imigrantes ilegais como ela,
pobres negros e latinos. Ou seja, os
excluídos socialmente. Eram tantos
idiomas que se ouvia nas ruas que nem
parecia a América. Colocou os
protetores auriculares e pensou em algo
melhor.

Roxanne Mackenzie. Ela não apareceu


no café. Será que a havia assustado?
Foi rápida demais? Suspiros.

Seu celular acendeu. Mensagem.

Esticou o braço com preguiça.

10:45pm áudio de número


desconhecido

- Quê?? Será possível que seja ela?

Deu um giro rápido na cama se apoiando


sobre os cotovelos.

"Passando para agradecer e dizer


que senti sua falta. Boa noite. Ah..Aqui
é a Roxanne."
Como se existisse outra voz como
aquela. Hija de una perra! Voz grave,
quase rouca, sexy, quente.

- Calorrrrrrrr!! Oh meu Deus!!

E Rayka ouviu, e ouviu de novo, e de


novo. Mais alto, mais baixo. Perto do
ouvido, longe.
Mas não respondeu. Fingiria sanidade,
mesmo que já não a tivesse.

Bronx, 6:35 am

Rayka nem esperou o despertador


acordá-la. Tivera uma noite daquelas,
dormiu pensando na vampira e
fantasiando com sua voz, mas de
madrugada teve batida da polícia no
prédio, então ela não dormiu mais, com
medo de invadirem seu apartamento e
ser pega pela imigração.

Quando tirou um leve cochilo teve o


mesmo pesadelo de estar sendo sugada
pelo buraco negro, a diferença é que
agora no próprio pesadelo ela sabia que
aquela figura etérea era Roxanne.

Por que Roxanne parecia salvá-la? Por


falar nela iria mandar uma mensagem de
bom dia. Todo mundo manda mensagem
de bom dia para as amigas. Não é?

Como não conseguia dormir fez um


desenho de Roxanne, já que ela não saia
da sua mente. Era impressionante como
cada detalhe do rosto dela continuava
nítido em sua cabeça.

Terminou de se arrumar, ajeitou os


cabelos e deixou para se maquiar no
serviço.

Pegou os cupcakes que fez no dia


anterior e colocou em um pote. Hoje ela
iria ver Alana e sabia que ela amava
cupcakes coloridos. Separou uns para
Roxanne Se tivesse sorte a veria hoje.

Gravou a mensagem e saiu. Quando


estava chegando no último lance de
escada encontrou Rosália, uma
colombiana que morava no prédio e que
várias vezes ajudou Rayka a escapar da
fiscalização.

- Bom dia Rayka. Como você está?


Anda sumida das festas do pessoal.

- Olá Rosália, estou trabalhando muito e


correndo atrás de conseguir a guarda de
Alana.

- Mas que boa notícia. Fico feliz com


isso. Soube que houve batida ontem?

- Eu ouvi. O que aconteceu?

- Denúncia de venda de drogas. Aí você


sabe, a polícia chega achando que todo
mundo é bandido. Pegaram o Ramirez
ontem, está no centro de detenção
provisória. Provavelmente amanhã a
essa hora já terá sido deportado.

- Que pena. Ele não merecia.

- Não mesmo. Só fique atenta Rayka,


essa semana nosso patrulhamento
percebeu movimentação de pessoas que
não são do bairro rondando por aqui. E
como você está sempre sozinha, você
sabe. Tenho medo por você.

- Não se preocupe Rosália, vou me


cuidar. Obrigada por avisar.

- Cuidate chiquita. Eres tan buena de


corazón, pero este mundo de Dios está
perdido.

- Sí. Yo me cuidaré Gracias, buen dia.

Mais essa agora. Só esperava que


Roxanne respondesse sua mensagem
para deixar seu dia melhor.

Nova York, 6:45 am

Roxanne desligou o despertador. Fez seu


exercício de meditação e respiração e já
se levantou. Manu ainda dormia. Estava
animada para dedilhar o teclado
novamente.

Tomou os remédios e quando estava


indo para o banheiro ouviu o celular
avisar sobre mais uma mensagem. Voltou
tateando o criado mudo. Pegou o celular
e se trancou no banheiro para não
acordar Manu. Ativou o celular pela voz
e logo ouviu:

Você tem três novas mensagens.

A primeira era da sua mãe toda melosa,


dizendo que estava feliz orgulhosa.
Pedindo para visitá-la logo. Roxanne
achou estranho.

A segunda era do Dr Sanchez. Ela havia


conseguido a vaga para participar da
pesquisa e já poderia fazer seus exames.
Segundo ele daqui a duas semanas ela
poderia fazer a aplicação da primeira
fase dos testes. Se estivesse tudo ok nos
exames.

Respirou profundamente.

Mensagem de furacão latina, às


6:42:
"Bom dia srta Mackenzie. Passando
para lhe desejar um dia maravilhoso.
Também estou com saudades. Não bebe
mais café? Se vier ganha um doce.
Beijos"

E de repente seu sorriso se iluminou.


Riu porque Manuela havia salvado o
número dela como furacão Latina.
Pensou no trocadilho Furacão Katrina.
Bem ela mesmo. Seria normal ouvir de
novo?

Aquela voz doce com pitada de malícia.


Com certeza tomaria um café hoje.

- Repetir última mensagem.

- Repetir última mensagem.

- Repetir última mensagem.

Após a reunião do Centro de Apoio


Roxanne seguiu a pé mesmo para a
cafeteria. Eram apenas dois quarteirões
de distância. E ela estava de bom humor,
não iria se irritar com o trânsito, barulho
e esbarrões que levava constantemente
na calçada.
Em sua mente tentava visualizar a
imagem do rosto de Rayka descrita por
Manu. Tinha certeza que era muito
bonita.

Starbucks, 11:05 am

Rayka estava repondo os salgados no


balcão. Pelo vidro viu quando ela
chegou. De imediato sentiu o coração
bater nos ouvidos. Sentiu a mão trêmula.
Era impressão sua ou ela estava mais
bonita do que antes? De vestido branco
soltinho de alças e botinha preta.

- Bom dia senhorita. O de sempre?


- Bom dia Thomaz. Sim, por favor.

- Para viagem?

- Não. Vou me sentar um pouco.

- Só um minuto que vou arrumar um


lugar confortável.

Thomaz olhou para Rayka que


continuava inclinada no balcão vendo-a
pelo vidro. Pisou no seu pé fazendo
sinal para que ela fosse ajudá-la.

Saindo do seu transe ela rapidamente


deu a volta no balcão e se aproximou
pigarreando. Mas antes que abrisse a
boca:
- Achei que não fosse falar comigo.

Rayka fechou e abriu a boca várias


vezes.

- Tem certeza que não enxerga? Muitas


dúvidas quanto a isso.

Balançou a mão em frente ao rosto dela


e imediatamente Roxanne segurou seu
pulso. Um choque percorreu a ambas.
Isso fez com que ela a soltasse depressa.
Não podia dizer que a reconhecia pelo
cheiro e pela vibração do seu coração.

- Reflexo apenas. - concluiu


- Vem, vou arrumar uma mesa para você.

Puxou-a pela mão carinhosamente.

Após acomodá-la longe dos curiosos


serviu seu pedido e se sentou.

- Não posso demorar. Estou feliz que


você veio. Estava com saudades srta
Mackenzie - falou baixo quase
sussurrando.

- Eu também. Como você está?

- Bem. Olha - pegou sua mão sentindo o


mesmo choque de novo e entregou um
pote com os cupcakes. - fiz pra você.
Roxanne corou instantaneamente. Não
esperava por isso.

- Wow...e o que é?

- Ah Desculpa...São cupcakes. Achei


que gostasse.

- Ah...sim..eu ..eu gosto. Obrigada.

- De nada. São de unicórnios. Então se


não quiser parecer esquisita pode levar
para casa.

- Amo unicórnios.

- Sério?
Rayka riu e Roxanne amou aquela
risada. Estava tão tocada pelo gesto,
abriu a caixinha e queria muito que
pudesse ver.

Sem pedir permissão Rayka pegou o


doce e o aproximou dos seus lábios. Ela
mordeu se sujando com o creme, Rayka
riu de novo.

- Desculpa. Mas seu nariz virou um


arco-íris. Toma. - ela entregou-lhe o
guardanapo.

- Obrigada. Está muito delicioso. Você


tem talento.

- Obrigada. Eu tenho que ir agora.


Thomaz já está me fuzilando com os
olhos.

Antes que perdesse a coragem Roxanne


disse tudo de uma vez.

- Você gostaria de sair com Manuela e


comigo amanhã a noite?

- Sério?

- Sim, ela volta pra casa semana que


vem e não vai sossegar até conhecer
todas as baladas de NY. Achei que se...
você...
- Sim. Eu aceito.

- Ah.... legal. Eu te mando mensagem


para combinarmos.

- Está bem. Vou esperar. Tchau.

Rayka queria dar um pulo, mas conteve-


se. Na rádio ambiente começou a tocar:

"É você, amor

E eu sou uma idiota pelo jeito que


você se move, amor

E eu poderia tentar fugir,

mas, seria inútil

A culpa é sua
Apenas uma dose de você

e eu soube que eu nunca mais seria


a mesma"
(Camila Cabello - Never be the
Same)

Nunca achou algo tão verdadeiro para


aquele momento. Estava apaixonada por
Roxanne Mackenzie.
Capítulo 9 - O Beijo
Bronx, 7:35 pm

Rayka estava muito nervosa. Depois de


trocar de roupa umas quatro vezes,
finalmente se decidiu. Queria estar bem,
afinal a amiga de Roxanne, a projeto de
Beyoncé era estonteante.

Queria ter certeza que as duas eram só


amigas mesmo. Decidiu por uma calça
justa preta de couro sintético e uma
camisa social de mangas longas, mas de
véu transparente deixando o corpete da
mesma cor em evidência.

Colocou um salto até considerável e


caprichou na maquiagem. Combinaram
de se encontrarem na Time Square.

Roxanne disse que Manuela queria


conhecer um outro lugar, mas Rayka
insistiu para conhecerem a noite latina
no "Copacabana", mais conhecido
como The Copa , uma casa de balada
com muita música latina e comidas
variadas desde a latina até a francesa.
Elas concordaram.
Terminou de ajeitar o penteado e passou
mais um pouco do perfume, hoje iria
esbanjar mesmo. Chamou um táxi em vez
de ir de metrô. Conferiu a hora.
Chegaria em cima do horário.

Time Square, 8:05 pm

- E então Manu? Nada?

- Calma Roxanne, está com medo que


ela não venha?

- Não...

- Está nervosa? Que fofa! Parece uma


adolescente. Ainda estou besta que você
conseguiu convidá-la. Orgulhosa da
minha bebê.

- Boba. É só uma balada, não foi você


mesma que disse?

- Isso...vamos nos divertir, lembra?

Manu escolheu um vestido tubinho preto


com detalhes dourados no busto e salto.
Roxanne estava de calça pantalona
branca de tecido quase transparente com
fendas nas duas pernas e uma camisa
social de mangas curtas e justa e meio
salto.

Manu fez questão de fazer cachos nos


seus cabelos e maquiá-la. Às vezes tinha
até medo se Manu não a deixava com
cara de perua.

Rayka desceu do táxi e já avistou as


duas aguardando na calçada logo a
frente. A famosa crise de ansiedade
teimava em pegá-la, esperou dois
minutos para conseguir se acalmar.
Roxanne estava toda linda de branco e
de repente na cabeça de Rayka a fez
relembrar a figura dos seus sonhos.

Sentiu um arrepio percorrer todo seu


corpo.

- Roxe, puta merda!

- O que foi Manu?


- Estou me sentindo naquela cena do
filme uma linda mulher, sabe quando a
Julia Roberts desce do carro com aquele
chapéu humilhando as vendedoras…

- E por que isso agora ?

- Estou me perguntando o quanto aquele


uniforme de detenta da cafeteria estava
escondendo...Porque tem uma latina
vindo na sua direção e está parando o
trânsito. Só faltou aquela música de
fundo agora.

Roxanne ficou sem reação. Tentando


entender ainda as metáforas de Manuela,
Às vezes ela se empolgava demais.
- Oi. Demorei? - disse nervosa.

- Oi. Rayka... Não. Você lembra da…

- Manuela Alika. Prazer. Acho que não


fomos devidamente apresentadas!

Rayka sorriu tímida e apertou a mão da


morena que estava incrível toda de
preto.

- Rayka Rivera.

- É eu sei...Pois vamos logo porque


estou curiosa se esse lugar é bom
mesmo.

- Aposto que vai amar.


- Imediatamente Rayka segurou no braço
de Roxanne aproximando-se e sentindo-
lhe o perfume peculiar de rosas.

- Você está muito bonita.

Sussurrou próximo ao ouvido de


Roxanne que corou violentamente. Um
passo à frente Manu sorriu.

Escolheram jantar primeiro e Manuela


adorou o lugar. Estavam a vontade rindo
e tirando fotos. Rayka gostou de Manu
instantaneamente. Logo se arrependeu
por pensar mal dela, em poucos minutos
estavam muito confortáveis.
Algum tempo depois foram para a
balada no segundo piso que estava
lotada. O lugar era um luxo. Ficaram em
um lugar vip que Manu fez questão de
pagar.

A música contagiante do reggaeton


latino fazia a pista ferver.

- Uau esse lugar está bombando. Eu vou


pegar alguma coisa saudável para
bebermos. O que vão querer? Água....

- Eu não bebo. Obrigada. - respondeu


Rayka.

- Já gostei de você Ray.


- Ray? Já são íntimas agora?

- Hum alguém está com ciúmes. Vou


trazer água e suco natural. Já volto.

- Vamos dançar Roxanne?

Rayka estava empolgada com as


músicas envolventes, fazia tempo que
não saia para curtir. E não seria tão cedo
que voltaria em um lugar como aquele.

- Hã? Ops, me desculpa é que eu não


danço há muito tempo e não sei dançar
essas novidades aí.

- É só se mexer. Eu te acompanho.
- Eu não sei não…

- Por favor…- disse quase implorando.

- Você vai passar vergonha comigo.

- Garanto que vou passar qualquer


coisa, menos vergonha.

Roxanne foi puxada pela mão. Achou


que apenas ficaria ali disfarçando que
dançava, mas logo sentiu a mão de
Rayka na sua cintura.

Possessiva...

- É só sentir a música e fazer o que seu


corpo pede no mesmo ritmo.
Ela abraçou Roxanne por trás e começou
a mexer seu quadril de um lado para o
outro devagar, e sua voz estava muito
próxima ao seu ouvido devido ao
barulho.

- Movimenta os braços pra cima e


requebra lentamente. Pode se apoiar em
mim. Eu te levo no ritmo.

Imediatamente Roxanne sentiu aquela


conhecida vibração atravessar todo o
seu corpo.

Manu chegou com as bebidas e procurou


por elas na pista. Seus olhos custaram a
crer. A Latina dançava colada a Roxanne
deslizando, praticamente se esfregando
nela.

E ainda com a aquela comissão de trás


não tinha como não notar. Viu os olhares
sobre ambas. Comemorou bebendo seu
drink. Rayka era tudo que Roxanne
precisava para voltar a vida de vez.
Depois se juntou a elas, logo foi
convidada por um moreno de olhos
verdes para dançar.

Depois de vários ritmos alucinantes


finalmente começou uma música mais
lenta. Roxanne estava exausta. Há muito
tempo não dançava já sabia que no outro
dia estaria toda dolorida. Difícil
acompanhar aquela Latina.
- A gente pode descansar um pouco? -
Segurou o braço de Rayka para chamar-
lhe atenção.

- Só essa vai...a última.

Antes que Roxanne pudesse responder


os braços de Rayka a envolveram pelo
pescoço e ela sentiu seu perfume
adentrar suas narinas e ativar alguma
coisa dentro da sua cabeça que a deixou
com borboletas no estômago e um calor
entre as pernas. Sentiu o hálito quente
dela próximo ao seu rosto.

- Você está arrasando. Se isso é porque


não sabe dançar, não sei como será
quando aprender.

Que voz era aquela meu pai?

Ela jogou a cabeça pra trás e riu alto.


Aquela risada que faz o coração de
Roxanne pular o compasso.

- Ok. Só mais essa.

Colocou a mão em sua cintura e foi a


primeira vez que pode ter uma ideia de
como era seu corpo. Não queria parecer
ousada, mas desceu as mãos um pouco
desenhando seu quadril.

E as borboletas começaram a voar


freneticamente dentro dela.
Quem desligou o ar? Droga de calor!

Rayka não conseguiu segurar o gemido


baixo de satisfação ao sentir as mãos
dela subirem e descerem pela lateral do
seu corpo. Que sensação maravilhosa
era aquela? Estava perdendo a razão.

Começou a conversar baixo no ouvido


dela, mas nem prestava atenção direito
no que falava. Só gostava de ouvir a
risada dela próximo ao seu pescoço.
Aspirou seu cheiro de rosas. Sua pele
era tão macia. Estava inebriada por
aquelas sensações.

Duvidava que ela não estivesse


sentindo. Encostou mais seu quadril no
dela, encaixe perfeito. Seus seios se
colaram. No ritmo da música os corpos
se enroscavam sensualmente.

Olhou bem para o rosto dela, assim de


perto era o símbolo da perfeição, as
luzes piscando dava-lhe uma aura toda
sexy. Olhou bem naqueles olhos verdes
e ela parecia saber que estava sendo
observada, pois sorriu.

Que boca gostosa! Vou beijá-la!

Rayka mordeu o lábio inferior


observando os dela se entreabrirem e
ela soltar um gemido rouco quase grutal:
- Rayka, eu preciso fazer uma coisa.

Sim, ela estava sentindo também. Iria


beijá-la!

- Faça Roxanne Mackenzie! Apenas


faça!

- Não posso fazer aqui.

BANG!

Seria uma indireta? Tipo na sua


casa ou na minha?

- E o que você quer fazer, Roxanne?-


perguntou sexy no seu ouvido deixando
sua língua roçar seu lóbulo ao mesmo
tempo que se insinuava entre suas pernas
mexendo o quadril.

- Xixi. Eu preciso de um banheiro!

WHAT????

Bronx, 3:25 am

Rayka tirou os saltos para subir os


lances de escada. Seus pés doíam.

Ainda bem que viera de táxi, Roxanne


insistiu em lhe pagar um. Enquanto subia
pensou que noite louca fora aquela.
Riu tanto ao ver Roxanne gritar por
Manu e correr para o banheiro. O resto
da noite ela não se aproximou mais.
Resolveu dar o espaço necessário.
Abriu a porta já se dirigindo ao
banheiro. Precisava de um banho, havia
suado muito dançando, e também porque
Roxanne lhe causava um calor...

Mal havia deitado ouviu as batidas


frenéticas na porta. Era o código para a
presença de batida policial.
Pulou da cama vestiu uma calça por
cima do pijama, um moletom de capuz,
pegou seus documentos e arrancou as
fotos da parede guardou na bolsa, estava
se dirigindo para a porta quando ouviu:
- Polícia de Nova York!

Em um salto só passou pela estreita


janela da lavanderia tentando não fazer
barulho e chegou a escada de incêndio.
Ouviu sua porta ser arrombada e luzes
de lanterna pelo corredor.

Com o coração batendo acelerado,


calculou a altura para pular na varanda
do vizinho. Ela não poderia ser pega.
Não agora que estava tão próxima da
sua sonhada liberdade. O que seria de
Alana sem ela? Jamais a veria
novamente.

Não! Não! Pensa rápido Rayka!


Se pendurou o máximo que pode, a
adrenalina correndo por suas veias.
Ficou pendurada há mais de seis metros
de altura no escuro.

Balançou o corpo em um vai e vem para


pegar impulso. Sentiu os cortes nos
dedos. Não morreu na fronteira, não
morreu no deserto, não morreu na
armadilha de urso. Não morreria ali.
Repetiu mentalmente e saltou. Sentiu um
baque. Esperava não ter quebrado nada.
Rosália abriu a sua Janela.

- Rayka, eles estão no seu apartamento.


Corre mi hija!

- Gracias…
Desceu pela escada agora do outro
prédio e saiu na rua se esgueirando no
escuro. Quando sentiu que estava
sozinha começou a correr. Não sabia
para onde, mas tinha que sair dali.

De repente uma luz fortíssima surgiu


atrás dela, era um carro. Tampou
parcialmente os olhos com as mãos
tentou identificar o motorista. Não era a
polícia. Mas não se sentiu segura,
continuou a correr. O máximo que pode!
Sua mente trazia imagens da fronteira
com o México, as balas cortando o ar
próximo a sua cabeça.

Seu pai caindo...choro…gritos.


Era o buraco negro a sugando. As luzes
ficaram mais próximas. Só então se deu
conta.

Ela era o alvo!

Sem poder reagir sentiu o carro avançar


sobre seu corpo atirando-a junto ao
muro. Fingiu-se de morta. Talvez o
motorista recuasse. Sentiu o sangue
descer pelo rosto. Se tentasse fugir o
carro investiria contra ela esmagando-a
ao concreto.

Foram apenas alguns segundos, mas


pareceu uma eternidade. Ouviu a voz de
um homem falar ao celular.
- Feito. Barra tá suja. Ok.

Assim que o farol se afastou tentou se


mexer para ver se estava inteira.
Suspirou profundamente sentindo uma
dor dilacerante nos pulmões.

Será esse o suspiro da morte?

Droga! 21 anos. Nem começou a viver.


Reaja Rayka! Mantenha-se
consciente...passou os dedos na testa.
Muito sangue. Sua calça estava rasgada
nos joelhos, sangravam também.
Conseguiu se levantar com dificuldade.

Não sabia se iria sentido o bairro tentar


um socorro dos próprios moradores ou
se iria até a avenida e pegar um táxi
para o centro. Celular? Onde estava?

Droga! O carro passou por cima do seu


celular.

Decidiu ir para a avenida, o metrô já


estaria aberto. Precisava de um hospital,
mas não podia ser próximo, tinha certeza
que iriam procurá-la. Ou a polícia ou
aqueles capangas. Tinha certeza que
vieram a mando de PJ. Ele a havia
encontrado.

- Hijo de una puta!

Começou a andar mais rápido. O dia já


começava a clarear. Foi quando sentiu o
toque gélido de uma arma em sua
cabeça. Tudo que conseguiu pensar foi
em Alana Rivera e o fato de não poder
se despedir de sua vampira Mackenzie.

- Polícia de Nova York!


Capítulo 10 -
Recomeço
Nova York, sábado 8:51 pm

Roxanne acordou cedo, na verdade nem


sabia se tinha dormido direito. Todo seu
corpo doía. Não mais que a sua mente.

Não conseguia parar de pensar nas


sensações que Rayka despertara nela,
mais uma vez ela se sentiu acuada e
correu. Como poderia se sentir atraída
por uma mulher?

Como podia se sentir atraída por alguém


que mal conhecia? Como poderia se
sentir atraída por alguém que nunca vira
sequer o seu rosto?

Tomou um café da manhã reforçado, e


foi para o teclado dedilhar algo que
surgia em seu peito. Na escuridão dos
seus olhos ela via uma luz...sua voz, seu
cheiro, sua risada, seu toque...seus
corpos envolvidos pelo ritmo quente.

"Eu tenho tudo o que preciso


quando eu tenho você e eu
Olho ao meu redor, e vejo uma vida
doce

Eu estou preso no escuro, mas você


é minha lanterna

Você me ajuda, me ajuda a


atravessar através da noite

Não posso parar meu coração


quando você brilha em meus olhos

Não posso mentir, é uma vida doce

Eu estou preso no escuro, mas você


é minha lanterna
Você me ajuda, me ajuda a
atravessar através da noite"
(Hailee Steinfeld- Flashlight)

- Você Rayka! Você é minha luz!

Mandou-lhe uma mensagem. Precisava


estar com ela. Era quase sufocante essa
vontade. Pensava nela vinte quatro horas
por dia. Sentia sua falta, saudades da
sua voz, da sua risada e até do seu
cheiro doce.

Mais tarde saíram para almoçar fora.


Manu não sabia fazer um arroz sequer. E
mais compras, só não reclamou porque
estava perdida em seus próprios
pensamentos, que eram sempre da latina.
Agora estavam largadas no sofá e fazia
massagem nos pés de Manu.

- Eu amei aquele lugar... The Copas.


Roxanne...o que você achou?

- A comida era ótima.

- Com certeza. Tudo muito luxuoso.


Rayka tem bom gosto não?

- Acho que sim.

- E o que foi aquilo entre vocês duas?

- Aquilo o quê? - pronto, o rosto estava


afogueado. Era só mencionar o nome
dela.

- Meu bem, vocês estavam quase se


fundindo em um corpo só.

- Ela só queria me ajudar a dançar e não


ficar lá parada boiando na festa.

- Hurum...sei. E você como está com


tudo isso?

- Sinceramente eu não sei o que se


passa. No começo achei que era só
brincadeira, sei lá, era até engraçado.
Mas agora...minha cabeça está toda
confusa.

- Só sei de uma coisa. Rayka é uma


pessoa muito boa. Ela tem aquela
vibração, deve ser o sangue latino. O
pouco que conversei com ela dá para
ver que ela não leva uma vida fácil não.
Ela é guerreira, empoderada, feminina,
exala sensualidade. Não tem vergonha
de ser o que é. Você não sentiu isso?

- Sim. Ela me disse que perdeu o pai e a


irmã tentando entrar na América, ou algo
assim. A mãe está no México e ela vive
aqui sozinha...eu não me imagino
sozinha no mundo. É um cenário até um
pouco triste não?

- Verdade. Muito.

- Manu. Se eu te perguntar algo você


promete ser madura?

- Sempre sou.

- Igual aquela vez que te contei da minha


primeira vez e você colocou nas redes
sociais #minhaamigadeupelaprimeiravez
com uma foto nossa?

- Naquele tempo eu era meio louca.

- E agora não?

- Não. Eu juro. - levantou a mão.

- Você acha que sou gay?

- Hey…
Manuela acariciou seus cabelos
carinhosamente. Suspirou
profundamente.

- Você fala como se fosse algo ruim. Oi


eu tenho sífilis! Oi eu sou gay!

- É que é muito estranho tudo isso.

- Não tenho experiência. Mas eu acho


que a gente se sente atraída por aquilo
que a pessoa é e não pelo gênero. Amor
é amor, não tem gênero, nem cor, nem
raça, nem religião.

- Tenho muito medo. Você lembra no


colégio como as lésbicas, gays eram
zombados?

- Se lembro! E tinha muitos ali que não


se assumiram com medo de retaliação,
preconceito da família, do grupo, da
sociedade.

E aí o sofrimento é maior. Você não


poder ser você! Ter que se moldar em
um padrão para tentar ter uma vida
melhor. É um absurdo. Século XXI e
ainda não aprendemos respeitar o outro
como um ser humano.

- É verdade. Assusta. Será que alguém


vira lésbica?

- Acho que não. Seria escolha. Veja, se


eu quiser ser freira, Deus me livre! Eu
tenho que escolher, eu tenho que me
inserir no seminário, eu tenho que
estudar, eu tenho que fazer voto.

Eu virei porque eu escolhi. Já ouviu


alguém fazer curso pra virar gay? Eu
acho que quero ser gay...ou Dormiu
hétero e acordou gay?

Ah não. Acho que a pessoa vai


descobrindo aquilo que é inerente a sua
particularidade. O seu verdadeiro eu.

E isso é construído socialmente no


contato com o outro com novas
experiências, o ser humano deve estar
Sempre em evolução. Ou nossa
passagem nessa vida seria muito
insípida.

- Filosofando Manu?

- Sabe o que mais? O mundo precisa da


arte e da cultura para expor essa
evolução a fim de acabar com o
preconceito de qualquer espécie.

- Concordo. Você já se sentiu atraída


pelo mesmo sexo? Tipo já admirou o
corpo feminino?

- Sinceramente não. Mas admirar a gente


admira não? Eu admiro mulheres fortes,
empoderadas... mas sexualmente acho
que nunca.
- Como saber separar isso?

- Quer saber vamos ver na internet


alguma coisa sobre isso.Que tal fazer um
quiz ? Vai ver a gente é e não sabe.
Hey...a gente podia assistir uns filmes
sobre isso.

- Não se empolga. Daqui a pouco vai


sugerir pornô lésbico.

- Pervertida você hein! Estava pensando


em algo mais romântico sua vadia.

- Olha o preconceito!

Ficaram até tarde assistindo, comendo


pipoca e Manu fazia questão de detalhar
o filme. Assistiram "Desobediência" e
choraram também.

- Que forte não? -Manu disse

- Olha quanto sofrimento.

- Amiga, se você for lésbica ou qualquer


outro rótulo, eu estarei sempre ao seu
lado. O que eu mais quero é te ver feliz.
Acima de tudo.

- Te amo amiga. Prefiro sem rótulos.

- Eu também minha branquinha.


Hospital Central, 9:05 am

Rayka abriu os olhos e virou a cabeça


para o lado, arrependeu-se
imediatamente. Tudo doía. O coração
pulou em alerta. Tudo branco, claro
demais para ser a prisão ou o fundo de
um camburão mexicano.

- Bom dia senhorita.

- Focou a visão em uma policial negra,


alta e esbelta parada a sua frente.

- Já tive melhores. Você vai me prender?

- Deveria? - devolveu perspicaz.


- E privar o mundo da minha
companhia? Péssima ideia.

- Pelo menos está melhor então. Você


bateu a cabeça.

- Percebo todos os efeitos. - gemeu.

- Sim, você desmaiou ao entrar no carro.

- Obrigada por me ajudar. Agora, por


favor, eu preciso fazer uma ligação.
Tenho direito não?

- Vou chamar o doutor para avaliá-la.


Enquanto isso tente descansar.

Ela saiu da sala e Rayka suspirou


aliviada. Pelo menos ela parecia querer
ajudar. Ou poderia ser um disfarce.
Pensou em fugir. Seria uma bela cena
correr pelas ruas com aquela camisola
de bunda de fora.

Droga!

Precisava ligar para a assistente


social a Sra Annie Smith. Sua única
preocupação agora era Alana. Pelo
menos aquela policial não era uma
agente da imigração. Talvez no fim tenha
conseguido escapar. Tentou manter os
olhos abertos a todo custo. Com certeza
tinha algum sonífero naquele soro.

Medo de acordar no México!


Meia hora depois a Sra Smith entrou na
sala carregando uma maleta e alisando a
saia social elegante.

- Srta Rivera! Como está?

- Poderia ter sido pior.

- Já sabemos que foi mesmo o PJ.


Conheceu a comandante Torres? - ela
apontou para a policial negra que
voltava ao quarto.

- Sim. Isso é mal?

- Ela está cuidando do caso. Ontem


interceptamos algumas mensagens
codificadas da quadrilha que PJ
participa e conseguimos entender
algumas partes, entre elas a que se
referia a você.

- Eu sabia!

- Mas vejo que chegaram um pouco


atrasados.

- Na verdade eu que tive que sair


correndo de casa. Os agentes você sabe
do quê, invadiram meu apartamento. -
Ela cochichou olhando desconfiada para
a policial.

- Também achamos que foi proposital.


Ele deve ter feito a denúncia. Mas o
importante é que você está bem.

- Eu não vou ser presa?

- Claro que não. Srta Torres estará de


olho nos passos do PJ e já temos essas
mensagens como prova contra ele.
Podemos iniciar o processo de retirar
Alana desse meio.

- Oh…Graças a Deus!

Rayka não segurou as lágrimas,


esqueceu as dores por alguns instantes.

- Eu não vejo a hora disso


acontecer, Sra Smith.
- Agora descanse. Já conversei com o
médico e você deve sair ainda hoje.

Bronx, 6:50 pm

- Muito obrigada comandante.

- Tem certeza que consegue subir as


escadas?

- Eu vou devagar. Obrigada pelas


roupas.

- Vou deixar meu cartão com você.


Qualquer atitude suspeita, você me
avisa. Estamos de olho. Mas, eles são
perigosos.
- Ok. Eu vou arrumar outro celular e
aviso.

- Pode me chamar de Callie.

- Obrigada Callie.

- Se cuida. Nada de andar sozinha à


noite.

- Ok. Vou me cuidar.

Subiu as escadas e a cada degrau era um


palavrão. Teria alguma parte do corpo
que não doesse?

Rosália veio logo ajudá-la. Não tinha


quebrado nada, mas as luxações nas
pernas, braços e os joelhos com
curativos deixam-na ágil como uma
múmia. Tirando a fechadura quebrada o
apartamento estava em ordem.

- Já pedi para o Sr. Hernández trocar.


Logo ele estará aí.

- Muito obrigada Rosália. Você sabe que


foi o PJ não é? Ele me denunciou para
imigração e ainda mandou seus
comparsas me atropelarem.

- Vete al diablo! ( Vai ter com o diabo)

- Sí. Mas ele está desesperado. Logo


isso vai acabar. Mas eu terei que mudar.
Não posso ficar aqui esperando ele
voltar. Assim que estiver menos
dolorida vou procurar outro lugar. Hora
de recomeçar mais uma vez.

- Tens razão mi hija!

Depois de tomar um banho o que mais


queria era saber de Roxanne. Sem seu
número, não sabia nem onde ela morava.
Estava incomunicável.

Daria um jeito. Depois da última noite


tinha certeza que ela sentia alguma coisa
por ela. Teria que mudar sua técnica, já
que Roxanne não enxergava, não dava
para flertar apelando para olhares,
piscadas, roupas sexys. Teria que passar
para o nível 2. Tocá-la, fazer uso das
palavras muito bem escolhidas, com
muito toque de malícia.

"Hum. Muito bem Rayka. Aquela


Vampira já era. Vai ficar caidinha por
você."

Precisava arrumar outro celular urgente.


Como falaria com ela? Estava cinco
dias atestada do trabalho. Como a veria?
Daria tudo para ouvir aquela mensagem
na voz rouca dela bem perto do seu
ouvido outra vez. Conseguiu sorrir
depois de tanta coisa que tinha passado.
Roxanne tinha esse efeito sobre ela.
Capítulo 11 - Sombras
Nova York, 10:30 am

Roxanne estava preocupada. No dia


anterior encheu a caixa postal de Rayka
de mensagens. Nada. Agora após a
reunião partiu direto para a cafeteria.

Mas ficou decepcionada quando Thomaz


disse que ela não tinha ido trabalhar.
Também não tinha ligado. Frustrada foi
até o Central Parque. Quem sabe a
encontraria por ali como na primeira
vez. Algumas horas depois de espera
desistiu. Manuela voltaria para Miami
na quinta-feira. Resolveu ir até o
shopping almoçar e comprar algumas
lembranças para Manu e sua família.

Seu celular vibrou. Esperançosa que


fosse Rayka ativou a mensagem.

"Olá Mackenzie... tenho novidades


muito boas. Seu pacote chega hoje.
Bye"

Ficou estatática por alguns minutos, seu


humor repentinamente mudou, sua rota
também.

Starbucks, 10:45 am dia seguinte

- Bom dia srta Mackenzie.

- Olá Thomaz. Ela está?

- Sinto muito. Ela não veio.

- Alguma informação?

- O Sr. Flynn disse que foi avisado por


outra pessoa que ela não viria trabalhar
porque está de atestado. Mas ele não me
disse mais nada. Já tentei ligar pra ela e
nada.
- Tem alguma coisa estranha. Não acha?

- Com certeza. Rayka teria me ligado.


Ela me conta tudo.

- Hum. Vocês são... íntimos?

- Muito! Conheço Rayka há dois anos.


Eu que consegui esse emprego para ela.

- Ok. Vou deixar meu número, você


poderia me avisar quando tiver notícias?

- Sim. É claro.

- Você sabe onde ela mora?

- Só sei que é no Bronx, ela se mudou


recentemente.

- Muito íntimos…- bufou

- Oi.??

- Nada. Me liga qualquer coisa?

[...]

- Como assim ela sumiu?- Manu juntou-


se a Roxanne no sofá.

- Sumiu. Não foi trabalhar já faz três


dias. Não atende o celular, parece que
está de atestado no trabalho. Mas pode
ser mentira.
- Calma Roxe, você está muito agitada.

- Foi por minha causa?

- Mas é claro que não.

Manu percebeu a tremedeira das mãos


da amiga. Ela se levantou começou a
andar de um lado para outro na sala.
Sacudia as mãos. Estava vermelha,
suando. Seu alerta acendeu.

- Você não fez nada, Roxe. Ela deve ter


ido visitar alguém e não tem sinal de
celular...ou ela perdeu o celular.

- Ela não tem ninguém para visitar...eu


acho. Não sei nada sobre ela. Droga!
- Escuta. Não vai adiantar nada ficar
assim. Ela tem seu número. Se fosse
algo grave, ela te ligaria.

- Eu sinto que alguma coisa está errada.

- Hey, vamos assistir um filme e esperar


notícias, amanhã nós voltamos na
cafeteria antes do meu voo. O que acha?

- Eu não quero ver filme eu vou tomar


banho e deitar. Minha cabeça está
doendo muito.

- Ok. Vou ver o que tem na geladeira e


levo para você.
Roxanne foi em direção ao quarto e
Manu ligou para Jess para saber que
horas ela havia saído e voltado para
casa. Esperava estar errada. Não sentiu
cheiro de álcool, mas obviamente ela
estava tendo uma crise.

Ela poderia ter disfarçado o cheiro.


Começava assim. Nervosa, ansiosa, sem
apetite, sudorese, variação de humor,
enxaqueca depois náuseas...queria muito
estar errada.

Falava com Jess enquanto preparava um


lanche natural e um suco. Jess confirmou
que ela havia ficado fora o dia todo.
Bateu na porta do quarto e já entrou.
Ouviu barulho no banheiro.
Era o que pensava. Ela estava sobre o
vaso. A noite seria longa.

- Hey...Você está bem?

Ela levantou a cabeça com olhos


lacrimejando e perdidos sem brilho,
como que pedindo por socorro. O
coração de Manu apertou. Quantas vezes
já os tinha visto assim?

- Desculpa Manu…

Passava das duas da manhã quando


finalmente ela se acalmou. Manu deu-lhe
um banho trocou suas roupas, conseguiu
fazê-la engolir pelo menos o suco. Ela
chorava descontroladamente. E Manu
sabia que era o efeito dos remédios.

Teria que ter paciência. Amanhã ligaria


para o Dr Sanchez, talvez ela
necessitaria ir ao hospital. Teria que
rever sua passagem. Não poderia partir
e deixar sua amiga assim. No dia
seguinte assim que Jess chegou ela saiu.
Teria que ir pessoalmente procurar por
Rayka.
Algo lhe dizia que só ela poderia ajudar
Roxanne.

Starbucks, 8:10 am

- Thomaz, bom dia. Você se lembra de


mim?
- Oh sim... Beyoncé…Como vai?

- Hã? Tá ok. Eu preciso falar com a


Rayka.

- Ela está…

- De atestado. - completou.

- Isso.

- Vocês não tem um registro de endereço


algum telefone de recado...eu sei lá.

- Só o Sr. Flynn pode dizer isso.

- Chama ele agora! É caso de vida ou


morte.

Depois de ameaçar processá-lo se algo


acontecesse por negar a cooperar saiu
com um telefone de recado. Não era
grande coisa. Mas era algo. Rosália
Fuentes.

Bronx, 9:31 am

Rayka acabara de passar mel na sua


panqueca quando bateram à porta. Deu
uma olhadinha no espelho antes de abrir.
Fora as manchas roxas estava razoável.

-Manuela! -

Não conseguiu disfarçar a surpresa.


- Graças a Deus te achei.

A loira abraçou-a forte e só depois


notou os ferimentos de Rayka.

- Meu Deus Ray! O que houve?

- Um acidente. Fui atropelada.

- O que está havendo com o universo?


Alguma piada? Tudo acontecendo ao
mesmo tempo? O que vem agora? Os
quatros cavaleiros do Apocalipse?

Depois do choque inicial, um pouco


mais calma, Manu sentou-se no único
banco enquanto Rayka servia-lhe um
pouco de chá gelado.

- Ray, estou muito feliz que está melhor.


De verdade. Mas a Roxanne precisa de
você.

- O que houve com ela?

Seu coração falhou um compasso.

- Calma.

- Primeiro, como me achou? Eu estou


sem celular. Não sabia como achar
vocês.

- Eu entendo. Consegui falar com


Rosália Fuentes, e ela sentiu compaixão
do meu desespero.

- Está me assustando Manu.

- Vou te contar tudo. Você precisa saber


que Roxanne Mackenzie é uma
dependente química.

Então de repente o chão se abre aos seus


pés. Ela revive o pesadelo de ver
Sophia morrendo de overdose em seus
braços. Colocou as maos sobre a boca
para abafar um grito:

- NÃO!

De repente as cenas de Sophia


desfalecida em seus braços tomaram sua
mente e um turbilhão de emoções a
sacudiram.

- Não! De novo não. Não pode ser. Diz


que não.

As lágrimas desceram quentes.

- Hey Ray. Calma.

Ela precisou de alguns instantes para se


recuperar.

- Eu vou resumir, porque não posso


demorar. Roxanne precisa mesmo de
ajuda.

- Eu.. não entendo.


- É o seguinte, a vida de Roxe antes do
acidente: Ela sempre foi a mais
dedicada, mais aplicada nos estudos.
Ela ama música, ela toca piano, violão e
tudo mais. O sonho dela era fazer
música profissionalmente. Ela conseguiu
entrar em uma universidade aqui em
Nova York, a melhor. Em seis meses ela
já tinha chamado a atenção dos
professores e olheiros do ramo que
estão sempre por lá. Ela foi escolhida
para participar de um reality famoso,
estava tudo se encaixando.

Até que em dia ela estava voltando para


a casa dos pais em Miami, quando uma
carreta dirigida por um homem
alcoolizado, esmagou literalmente, o
táxi em que ela estava. Se você vir as
fotos você não acredita que ela
sobreviveu. A família só foi encontrá-la
três dias depois. Ela ficou em coma por
22 dias.

- Não acredito, que coisa horrível!

- Sim, a vida de Roxanne depois disso:


não existe mais aquela Roxe. Sonhadora,
dedicada, alegre. Ela ficou cega, seis
meses usando cadeiras de rodas, perdeu
a bolsa na universidade, a oportunidade
de estrear para o mundo todo na
televisão.

Um ano depois ela continuava


depressiva. Então vieram os remédios.
Ela toma muitos remédios. São
antidepressivos, anticoagulantes,
analgésicos para as dores, relaxantes
musculares, ela tem enxaqueca crônica,
é como se ela levasse choques nos olhos
o dia todo.

Lampejos de luz que a deixam exausta.


Então ela começou a beber. Acredito
que é duro pra ela essa ironia, ela está
nessa condição por causa de um
alcoólatra, agora ela é uma. Então ela se
jogou mesmo. Se rendeu.

O efeito do álcool misturado aos


remédios proporciona a ela uma fuga
total da consciência, das dores. Mas o
resultado da abstinência é devastador.
Ela tem síndrome do pânico, crise de
ansiedade entre outras coisas.

- Isso é horrível. Como ela consegue


viver assim?

- Ela tem vivido um inferno, mas ela


está muito melhor agora. Ela está
fazendo terapia com um grupo de ajuda.
Ela está participando de um programa
de pesquisa para operar as córneas. E as
crises diminuíram bastante.

- Oh...eu não imagino o que ela sofre...


pobre Roxe.

- Sim, e tem mais, ela tem essa tendência


autodestrutiva. Ela se cortava. Tentou se
suicidar quando a família internou-a em
uma clínica de reabilitação. Não deixa
ser ajudada. Por isso ela voltou para
Nova York. O apartamento foi comprado
com o dinheiro da indenização. Ela não
quer a família em cima o tempo todo
ajudando-a. Ela se sente inválida. Ela se
isolou. Por isso estou aqui agora.

- Por quê?

- Porque ela está em crise agora.


Apagada. Sofrendo. E eu só a vi sendo a
antiga Roxe de novo depois que ela te
conheceu. Veja esse vídeo dela cantando
e tocando. - ela estendeu o celular.- isso
foi após o primeiro encontro de vocês.
- Uau…que lindo - Rayka ficou sem
fala.

- Eu vim te contar tudo isso para você


pensar e decidir se é isso realmente o
que você quer. Porque eu posso dizer
pra ela que você foi deportada e nunca
mais vai voltar.

Ela vai sofrer, um dia ela supera e vida


que segue. Mas, se você quiser ficar,
saiba que não será fácil e não dá para
simplesmente desistir dela no meio do
caminho. Você me entende? Roxanne não
pode se apegar e depois ser deixada, eu
penso que seria o fim definitivamente.
- Sim. Eu perdi minha irmã para o vício.
Eu vi ela definhar pouco a pouco. Eu
não entendia como alguém poderia ir
atrás de algo que a destruía.
Eu vi nos olhos dela a vontade de viver
sendo sugada. Eu fiz tudo... tudo para
salvá-la.

- E eu sinto muito por tudo isso.


Acredite, não é porque ela quer. Ela não
consegue impedir, é algo mais forte que
ela. Ela não se cortava para morrer, e
sim para aliviar a dor de ser assim, ou
de estar assim.

As lágrimas vieram com força. Não


conseguia imaginar Roxanne se
cortando, se drogando, sofrendo.
Estaria disposta a passar tudo isso de
novo? Até onde iria com tudo aquilo por
ela?

- Ray, você precisa pensar…escolher.

- Não tenho nada que pensar. Manu,


você pode não entender, não acreditar,
mas Roxanne e eu estávamos
predestinadas a nos encontrarmos. E não
tem outro lugar no mundo para mim a
não ser ao lado dela.

- Ela precisa de você.

- E eu preciso dela. Essa é a minha


escolha.
Capítulo 12 - Meu
Lugar Favorito
Nova York, 11:35 am

Depois de ouvir tudo aquilo sobre


Roxanne, Rayka se arrumou e saíram
depressa. Quando chegaram Jess as
recebeu e seus olhos estavam
vermelhos.

- Oi Jess, o que houve?


- A menina Mackenzie...

- Ela acordou? Desculpa Jess, essa é


Rayka Rivera ela é amiga de Roxanne.

- Prazer mi hija, que bom que veio. Srta


Mackenzie vai precisar de amigos.
Entrem.

- Prazer é meu.

- Diz Jess, ela acordou?

- Sim, mas já voltou a dormir, chorou até


agora. Está péssima.

- Ok. Vamos dar uma olhada nela.


- Já fiz o almoço. Depois venham comer.

- Obrigada, Jess.

Rayka foi puxada por Manu. Notou que


o apartamento era enorme. Tudo muito
branco. A sala era muito espaçosa com
um sofá retrátil gigante cinza, um tapete
na mesma cor. Uma lareira à gás linda
de mármore, além da tv gigante. Lindo.
E não havia divisórias entre a sala e a
cozinha. Toda branca com pedras de
mármore pretas e cinzas. Uma enorme
ilha e uma mesa de madeira escura.
Tudo muito luxuoso e organizado.
Passaram por um corredor e no final
dele Manu parou na última porta.
- Preparada Rayka?

- Sim. Estou.

- Ela abriu devagar, estava escuro, muito


escuro. Manu abriu só um pouco a
persiana para não incomodá-la.

- Entre. - convidou.

O quarto também não era diferente do


resto do apartamento, grande, todo
branco com detalhes cromados, tinha
uma poltrona no canto, um espelho que
tomava uma parede toda, uma
escrivaninha com cadeira giratória, uma
tv um pouco menor que a da sala e um
aparelho digital de música
computadorizado.

Viu que lado esquerdo havia um closet


que era do tamanho do seu apartamento
todo. Mas seus olhos se prenderam
sobre a cama centralizada que ocupava
metade do quarto.

Que cama era essa? Queen, King,


Prince, Family size? Caraca!

Sobre ela um ser humano totalmente


indefeso. Ela usava um pijama de calça
e mangas de panda.

Sério? Uma vampira sexy de


Panda?
Manu aproximou-se tocando-lhe a testa.

- Está gelada! Vamos cobri-la.

Rayka aproximou-se fitando seu rosto


angelical, estava com semblante sofrido,
abatido. Olheiras profundas e os lábios
muito brancos. Ela se moveu na cama,
mas não abriu os olhos. Mesmo assim
ela começou a falar coisas sem sentido.

- Não se preocupe, Ray. Ela delira. Faz


parte.

Rayka não conseguiu segurar e deixou


uma lágrima cair.
- Vem, vamos almoçar... ela não vai
acordar agora.

Saíram, mas deixaram a porta aberta.

Enquanto comiam Manu lhe falava mais


sobre as crises.

- Mas onde ela consegue esses


remédios? Não são proibidos? -
Perguntou.

- Sim, mas a Cocaína, Ecstasy, Lsd


também não? Até encomenda da internet
entregam isso. Existem fornecedores,
existe até uma máfia dentro do setor
farmacêutico, Rayka. Tem gente ruim
para tudo nesse mundo.
- É verdade. Lastimável.

- Eu vou ligar para o Dr Sanchez e pedir


uma orientação sobre...

De repente elas ouviram um grito rouco


apavorante. Saíram correndo até o
quarto e a cena que se seguiu parecia
surreal. Roxanne estava de pé sobre a
cama derrubando tudo no chão.

- Saí daqui...me deixa...

Ela gritava, desceu da cama e golpeava


o ar. Tateava e pegava os objetos do
chão atirava-os para o alto. Manu correu
e a segurou por trás imobilizando-a.
- Roxe... Roxe... não é real. Calma.

Dizia tentando acalmá-la. Rayka ajudou


pegando pelas pernas e a deitaram na
cama afagando-lhe a face, limpando o
suor repentino.

Ela começou a chorar e se agarrou a


Manu. De repente ela começou a tossir
como se estivesse engasgando.

- Rayka...me ajuda levá-la ao banheiro


agora!

Rayka correu tornando a carregá-la.


Sobre a pia do banheiro ela expelia
sangue sem parar. Rayka começou a
chorar. Quando ela se acalmou Manu
começou a despi-la.

- Ray, encha a banheira por favor.

Ela obedeceu rapidamente e amarrou os


cabelos de Roxe em um coque. Meia
hora depois ela estava dormindo
novamente. E nem sabia que elas
estavam ali presentes. Ela parecia
sonâmbula, falava coisas desconexas e
seus olhos reviravam lentamente. Era
uma cena triste.

- Agora vamos deixá-la descansar.

Saíram e Manu colocou a mão sobre


seus ombros.
- Isso acontece às vezes. Eu vou ligar
para o Dr Sanchez. Não se preocupe.
Ela vai ficar bem.

- Eu espero que sim. Não consigo vê-la


sofrer assim.

Manuela ligou e o Dr Sanchez pediu que


ela fosse até ao hospital buscar um soro
preparado que iria ajudar na
desintoxicação. Ela saiu junto com Jess
e Rayka voltou para o quarto de
Roxanne. Ficou alguns instantes
olhando-a de longe. Coração apertado.

Até que sentou ao seu lado e começou a


afagar-lhe o rosto. Viu no banho as suas
cicatrizes nas pernas na altura das
coxas. Queria abraçá-la e dizer que tudo
iria passar.

Deitou ao seu lado de frente ao seu rosto


lindo. Alguns instantes depois ela os
abriu. E Rayka se perdeu neles. Seus
olhos estavam vermelhos distantes e
quase congelados.

- Cheirinho de morango. Eu sei que você


está aqui.

Rayka continuou imóvel. Seria um


delírio? Não queria estressá-la.

- Eu sabia que viria...meu sol.


Então seus olhos se fecharam e ela
sorriu antes de dormir de novo.

Rayka abraçou-a carinhosamente.

- Eu quero ser esse cheiro de morango,


ser sol para você Roxe. Vou ser o que
você precisar que eu seja. E eu nunca
vou te deixar sozinha. - chorou.

Mais tarde Manu chegou com o soro,


seringas, remédios. Deixaram-na o mais
confortável possível.

- Você sabe...

- Acredite eu já fiz isso várias vezes.


Ela "pegou" a veia de Roxanne
colocando o catéter. Regulou o soro e
ligou o ar condicionado em uma
temperatura agradável.

- Ela vai ficar bem... não vai?

Rayka perguntou tocada.

- Vai sim. Ray, eu tinha que ter voltado


hoje para casa, mas nessas condições,
eu consegui mudar o voo para amanhã.
Eu realmente preciso voltar, eu enviei
uma proposta de emprego para a filial
daqui já fiz a entrevista, mas ainda não
sei a resposta. Estou tentando arrumar
um emprego aqui para poder ficar
próxima dela.
- Manu, se quiser pode ir tranquila. Eu
vou cuidar dela. Ainda tenho amanhã,
sábado e domingo sem trabalhar. Na
segunda-feira deixo-a com Jess e voltou
para ficar e cuidar dela durante a noite.

- Tem certeza? Não está assustada?

- Não significa que não consigo. Farei


meu melhor.

- Obrigada. Espero conseguir essa vaga


e volto assim que for possível. Não
quero alertar a família, isso a deixaria
ainda mais nervosa.

- Tudo bem. Eu ficarei o tempo que for


necessário.

- Você pode dormir aí com ela, eu vou


ficar no quarto da Jess. Qualquer coisa
pode me chamar. Mas com esse soro, ela
vai dormir tranquila. Talvez ela queira ir
ao banheiro. Mas, pode me gritar.

- Obrigada Manu. Eu queria ter uma


amiga como você.

- E você tem Latina. Você praticamente


roubou meu coração. Somos amiga
agora.

Se abraçaram tentando amenizar toda


aquela situação difícil. Manu pegou uma
manta e dois travesseiros e saiu
fechando a porta.

Rayka voltou a se deitar ao lado de


Roxanne, tomando cuidado com o soro.
Ficou mexendo em seu cabelo,
afagando-lhe o rosto. E cantou baixinho
perto do seu ouvido:

"Sei que seu coração está pesado


esta noite

Mas apenas lembre-se que você é


uma lutadora.

Você nunca sabe o que o amanhã


reserva.

E você é mais forte do que acredita


Você é mais forte do que acredita

E quando a noite estiver


encerrando

Não desista e não se renda

Isto não irá durar, não é o fim

Não é o fim

Você vai ficar bem."


( You are gonna be ok - Bryan e
Jen Johnson)

Abraçou-a carinhosamente e adormeceu


imediatamente sabendo que aquele era o
seu lugar favorito no mundo.

Nova York, 9:45 am

Roxanne abriu os olhos lentamente,


sentiu um mal estar, tateou em busca do
celular para confirmar o horário. Nem
sabia que dia era aquele. Tentou se
levantar, mas sentiu algo em seu braço a
incomodando.

- Oh não. De novo. - suspirou.

Tateou o catéter. Voltou a encostar a


cabeça no travesseiro tentando se
lembrar das coisas horríveis que com
certeza ela fez nas últimas horas.
Só lembrava de estar tomando banho e
Manu a carregando para a cama. Havia
sonhado até com Rayka. Será que ouvira
a sua voz doce...cantando? Não sabia
que ela cantava tão bem. Ou será que foi
a sua mente pregando-lhe uma peça? E o
como explicar esse...cheiro de morangos
no seu travesseiro? Pressionou o rosto
sobre ele várias vezes. Seria delírio
ainda? Precisava de Manu para tirar
esse soro e lhe ajudar com a realidade.

[...]

Rayka se despediu de Manu com um


abraço apertado prometendo deixá-la
informada sobre tudo.
- Às vezes ela pode ficar chata, mas não
são os remédios. É ela mesma!

Avisou e as duas riram, então ela partiu.

Jess chegou e tomaram café juntas


enquanto ela lhe falava sobre
acontecimentos da infância de Roxanne.
Alguns eram bem engraçados. Contou-
lhe sobre sua vida no México, e ficaram
ainda mais confortáveis uma com a
outra.

- Vou preparar o café da srta Mackenzie.


Mas acho difícil que ela vá comer. Ela
costuma ficar bem arisca após as crises.

- Eu vou ser bem insistente. Pode


colocar em uma bandeja?

[...]

Roxanne já iria gritar por Manu, estava


apertada para ir ao banheiro, quando
ouviu uma batida na porta.
Graças a Deus.

- Bom dia srta Mackenzie. Eu sabia que


os vampiros dormiam, mas não que
hibernavam.

Surpresa Roxanne ergueu a cabeça em


direção aquela voz inconfundível.

- Rayka? O que faz aqui?


- Como você está hoje?

Espera...Ela se sentou na minha


cama?

- Calma aí. Como você chegou aqui?


Onde estava em primeiro lugar...e...

- Hey...calma. quantas questões. Diz


primeiro se está se sentindo melhor.

Rayka colocou a bandeja sobre o criado


mudo e segurou as mãos dela fitando-a.
Ela ainda tinha olheiras profundas, mas
parecia bem lúcida.

- Sim... melhor. Desde quando você…


- Ok. Vamos lá. Meu celular quebrou.
Um carro passou em cima dele.

Não iria contar os motivos, ela já tinha


muitos problemas para se chatear com
os dela. Falaria no tempo certo.

- Eu caí bati a cabeça na calçada e o


médico me atestou 5 dias. Manu me
achou pegando o telefone de recado da
minha vizinha no meu serviço e ela
precisou voltar para Miami hoje. E eu
prometi que iria cuidar de você. É isso.

- Eu…pensei que... não sei.

- Eu trouxe seu café. Mas primeiro


vamos tirar esse catéter. Deve estar
precisando ir ao banheiro.

- Com certeza. Rayka, eu não sei o que


você viu ontem...mas...

- Não tem que me dizer nada. Vamos nos


concentrar no hoje. Consegue tomar um
banho sozinha?

Instintivamente Roxanne puxou as


cobertas se cobrindo.

Será que ela a tinha visto no banho


ontem? Misericórdia!

Rayka notou seu embaraço. Terminou de


tirar a agulha e se afastou.
- Não se preocupe. Não vi nada. Eu
juro. Manu cuidou disso.

- E você está bem...você se machucou


muito no tombo?

- Ah... só uns raladinhos. Estou ótima.


Agora levanta, temos uma consulta com
o Dr Sanchez daqui a pouco.

- Temos? - surpreendeu-se

- Temos! E depois vamos dar uma volta


no Central Parque e almoçar. O sol está
lindo lá fora. Um ótimo dia para sair.

Roxanne enxugou os cabelos e demorou


um pouco mais para se trocar naquela
manhã. Sua cabeça ainda doía. E estava
ainda perplexa por ter Rayka Rivera no
seu apartamento. Mas estava aliviada
que Manu pode voltar para casa, não
queria atrapalhar sua vida sendo um
fardo para ela. A verdade é que estava
envergonhada que Rayka soubesse sobre
aquele lado escuro da sua vida.

Quando chegou na cozinha Jess a


abraçou feliz. Retribuiu o carinho.

Quando alcançaram a calçada Roxanne


agradeceu por ter colocado um boné e
óculos. Estava realmente quente.
Pegaram um táxi e Roxanne tentava se
acostumar com a presença de Rayka.
Sentiu quando seus dedos se tocaram no
assento do carro. Ela tentou retraí-los,
mas Rayka os segurou firme
entrelaçando-os. A sensação foi boa.

A consulta foi rápida. Dr Sanchez fez


alguns exames de rotina. Chamou sua
atenção quanto a se manter sóbria para a
pesquisa e lhe deu o encaminhamento do
psiquiatra, não antes lhe dizer que era
uma obrigatoriedade e não um conselho.

Agora estavam tomando sorvete no


Central Parque e Rayka fazia questão de
guiá-la pelo braço abraçando-se junto a
ela. Achou maravilhosa a sensação.

- Eu te contei sobre minha irmã Sophia?


- Não muita coisa.

- Ela teve uma filha.

- É mesmo? Que bom. Isso é bom não?

- Ah é sim. Eu queria saber se você quer


conhecê-la.

- Eu? Onde ela está?

- Eu cuidei dela quando minha irmã


morreu. Mas o pai a tirou de mim e eu
não pude vê-la durante seis meses. Mas,
agora ela está matriculada em uma
creche no Centro Social e eu posso vê-
la duas vezes por semana.
- Que legal Rayka. Fico feliz por você.
Eu gostaria sim. Quando?

- Agora. Que tal?

- Sério?

- Vamos passar em uma padaria, vou


levar um agrado doce pra ela. Ela se
chama Alana Rivera e tem dois anos e
meio. Ela é muito linda e inteligente.
Você vai amá-la.

Rayka queria saber explicar os


sentimentos que a envolveram ao ver
Alana Rivera correndo ao seu encontro
com os braçinhos abertos e sorriso no
rostinho corado.
- Hey minha princesa. Como você está?

- Com saudades de você.

- Ah desculpa. Eu tive uns


problemas...mas hoje trouxe alguém para
você conhecer. Essa é a Roxanne
Mackenzie, amiga da tia Rayka.

- Oi Roxanne.

A menina de rosto corado e olhos


meigos estendeu a mão a Roxanne.

- Alana, a tia Roxe não enxerga ainda. -


pegou a mão de Roxanne e juntou a de
Alana.
- Oi Alana. Como vai?

- Por que ela não enxerga ainda? Ela já


não é um bebê.

- Eu tenho várias teorias Alana. Eu acho


que ela é uma vampira e só enxerga a
noite. Mas ainda não consegui provar
isso. - cochichou no ouvido da pequena
que riu divertida.

- Que legal. Lana adora histórias de


vampiros.

Roxanne achou graça, pelo jeito a risada


gostosa era de família, e de repente
sentiu os braços da pequena enroscar em
suas pernas. Abaixou-se e a pegou no
colo.

- Se quiser posso lhe contar várias


histórias legais de vampiros.

- Lana quer sim. Lana pode te chamar de


tia Roxe?

- Ahhh...claro que pode. Eu não tenho


sobrinhos, vai ser legal ter uma tão
cheirosa quanto você.

- E Lana só tem a tia Rayka. Vai ser


legal ter outra tia bem mais bonita.

- Puxa saco hein Alana?


Rayka sentiu o coração transbordar ao
ver as duas se abraçando e rindo. Ela
aproveitou para conversar com a Sra
Smith que lhe informou que o Estado já
havia entrado com o pedido de guarda
de Alana. Cada dia ela estava mais
próxima de levá-la para casa.

Estavam agora almoçando no restaurante


de comida japonesa. Aquele mesmo que
se esbarraram na porta causando um
reboliço na vida de ambas.

- Rayka…

- Oi.

Roxanne queria dizer tanta coisa, mas as


palavras não vinham. Limpou a boca no
guardanapo tentando ganhar tempo.

- Eu queria te agradecer.

- Pelo quê?

- Por isso que está fazendo. Eu adorei


conhecer sua sobrinha. Ela é muito
inteligente. E eu não me orgulho das
coisas que soube sobre mim. Sei que
você só quer ajudar, mas não quero
atrapalhar sua vida, a minha é bastante
complicada.

- Não precisa agradecer. Estou aqui


porque eu quero. E tem mais, depois a
gente decide quem tem a vida mais
complicada. Nesse momento eu só quero
que você me deixe participar da sua.

Rayka segurou suas mãos sobre a mesa.


Roxanne mordeu o lábio pensativa.

- Você já faz parte dela desde o dia que


me derrubou naquela porta.

- Não resisti. Vi uma moça cega saindo


sem direção e pensei: Uau...aquela
ceguinha está precisando de um
empurrãozinho na vida.

Roxanne riu ao mesmo tempo que ouvia


de novo a risada linda que ela tinha.

- Empurrãozinho ou um furacão?
- Chame do que quiser. Você ficou
caidinha por mim. Literalmente
caidinha.

Antes que pudesse responder, Roxanne


sentiu os lábios dela em sua bochecha
depositarem devagar um beijo suave.

Sentiu-se corar. Mas sorriu. Não iria


negar o óbvio. Estava tombada não
caída. E se sentiu bem com aquilo.
Quando voltaram para casa Rayka pediu
para ver seu mini estúdio. Roxanne ficou
surpresa quando ouviu os acordes do
violão.

- Hey. Você sabe tocar?


- Sou meio mexicana esqueceu? Todo
mexicano que se preze sabe tocar
violão.

- Eu não sabia.

- Quando os bebês nascem no México o


primeiro presente é um violão. - disse
rindo.

- Ok. Está mentindo. Saquei.

Roxanne sentou-se no teclado e dedilhou


alguns acordes.

Rayka começou a cantar uma estrofe de


How long Will I Love you, de Ellie
Goulding:

"Por quanto tempo vou te amar?

Enquanto as estrelas estiverem em


cima de você

E por muito mais tempo, se eu


puder"

Roxanne começou a acompanhar no


teclado e completou com a estrofe
seguinte:

"Por quanto tempo eu vou precisar


de você?

Enquanto as estações precisarem


Seguir suas rotas"

E ela respondeu:

"Quanto tempo vou estar com você?

Enquanto o mar for o encarregado


de Lavar a areia"

Roxe: "Quanto tempo vou te


querer?

Enquanto você me quiser

E que seja muito tempo"

Ray: "Quanto tempo darei a você?


Enquanto eu viver com você

Não importa por quanto tempo você


diga"

Rayka colocou o violão no chão e se


sentou no banco ao lado dela. Juntas
cantaram o coro:

"Estamos todos viajando através do


tempo juntos

Todos os dias de nossas vidas

Tudo o que podemos é fazer o


nosso melhor
Para apreciar este passeio
extraordinário"

Roxanne dedilhou o último acorde e


sentiu a respiração de Rayka muito
próxima ao seu ouvido ao mesmo tempo
que o acorde morria no silêncio do
quarto.

- Isso foi incrível Roxe.

Rayka aproximou-se mais, os lábios de


Roxe se entreabriram. Seria um convite?
De repente Jess surgiu na porta e Rayka
rapidamente fez sinal para que ela
sumisse dali.

Mierda! Era mais fácil ganhar na


loteria do que beijar aquela Vampira.

- Eu poderia passar minha vida todo


ouvindo isso. Você é incrível. Que voz.
Estou emocionada Roxe.- sussurrou.

- Eu digo o mesmo.

Voz rouca….sexy...quente…

Sem esperar mais Rayka colou os lábios


nos dela carinhosamente. A princípio
apenas um selinho, meigo e suave.

Roxanne sentiu uma corrente elétrica


atravessar por todo seu corpo. Estava
mesmo acontecendo aquilo ou era um
sonho fruto da sua mente?
Rayka Rivera estava a beijando?

Céus! Como se beija uma mulher?

Idiota! Da mesma forma ou não?

E se não for? Se não souber beijar?

Cala a boca e concentra sua lerda!

Os lábios dela eram carnudos, quentes e


doce. Podia sentir seu coração bater nos
ouvidos no momento que ela sugou seu
lábio inferior devagar…

Seria fogos que via explodindo na sua


mente?
Rayka soltou o lábio inferior dela
devagar, pensou em se afastar, não
queria assustá-la. Mas estava difícil se
afastar enquanto um calor começou a
tomar conta do seu corpo.

Para sua surpresa Roxanne colocou as


mãos na sua cintura impedindo-a de se
afastar. Era o sinal que ela precisava.
Enfiou as mãos pelos cabelos compridos
e a puxou com vontade para si. Virou-se
de frente e sentou no seu colo colocando
uma perna de cada lado do banco e do
seu corpo.

Oh My God! Roxanne não conseguiu


evitar um gemido de satisfação ao sentir
ela sentar-se sobre seu colo.

Ao mesmo tempo Rayka avançou sua


língua pedindo passagem contornando
seus lábios para em seguida começar
uma sucessão de movimentos dentro da
sua boca. As mãos de Roxanne a
puxavam mais para si. Rayka arfava
extasiada.

Quando ar estava faltando se afastaram


um pouco sem se desgrudarem
totalmente, mordiscando os lábios uma
da outra. A língua de Roxanne era quente
e macia, e sensualmente serpenteava sua
boca, aquele gosto de tesão molhado a
fazendo gemer. O beijo passou de doce
para desesperado, as mãos de Roxanne
subiam e desciam por suas costas,
sentiu vontade de rebolar sobre suas
pernas, mas conteve-se.

De repente Jess aparece chamando por


Roxanne na porta e ela se assustou e fez
menção de se levantar derrubando
Rayka no chão, que rolou por cima do
violão, que bateu na guitarra, que
derrubou o microfone e a orquestra
estava toda destruída.

- Desculpe srta Mackenzie. Só vim dizer


que já vou indo e seu celular não para
de tocar.

- Ahh claro. Obrigada…


Rayka continuava enroscada nos cabos e
instrumentos.

- A senhorita está bem srta Rivera?

- Estou ótima. Estou procurando meu


brinco…

De quatro no chão!

- Rayka... desculpa...eu…

- Eu sei. Foi uma vingança. Agora eu


estou caidinha aos seus pés.

Ela continuou deitada porque suas


pernas sequer a podiam sustentar.
Que beijo foi esse?

Definitivamente o beijo da Vampira era


o melhor do mundo!
Capítulo 13 - O Lado
Bom da Vida
Nova York, 6:05 am

O sol nem despontara ainda e Rayka já


estava desperta. A verdade é que não
conseguira dormir direito. Os últimos
dias foram bastante atípicos até para a
sua vida louca sempre agitada. Mas,
hoje ela tinha algo em mente. Estava
disposta a mostrar a Roxanne que existia
o lado bom da vida e que não
precisavam de muito para desfrutá-lo.

Tomou um banho rápido e vestiu um


short jeans branco com uma camiseta
regata vermelha e branca, a previsão era
de muito sol, e ela já havia maquinado
tudo.

Agradeceu por estar no quarto de Jess,


apesar de ter desejado muito estar ao
lado de Roxanne, preferiu não parecer
tão invasiva, assim pode se arrumar e
sair sem fazer muito alarde no
apartamento silencioso.

[...]
7:08 am

Roxanne acordou diferente hoje. Não


saberia descrever a sensação de querer
sorrir sem parar. Seria isso a
Felicidade? Há quanto tempo não sentia
isso? E a sensação só aumentava quando
se recordava dos acontecimentos do dia
anterior.

Ter Rayka na sua vida tornava tudo


diferente. Ficou tentando imaginar o
rostinho da pequena Alana Rivera, e
também ficou tocada quando Rayka lhe
contou sobre ter cuidado da pequena
depois da morte da irmã, mas o pai, que
pelo jeito era um escroto, literalmente
sumiu com a criança.
Bem, a vida de Rayka também parecia
não ser muito fácil. Mas ela conseguia
ser tão alegre e espontânea, nunca
reclamava de nada. Roxanne tinha muito
a aprender com ela. E tinha o pequeno
detalhe de que ela a havia beijado.

Só de pensar na sensação de ter aqueles


lábios, que agora ela sabia que eram
carnudos e doces, sobre os seus lhe
dava um frenesi por dentro e as
borboletas se agitavam.

Onde ela estava se metendo hein? Nunca


beijara uma mulher antes, mas tinha
certeza que aquele era o melhor beijo da
sua vida. Se gostar daquilo a fazia ser
Lésbica, ela estava bem ferrada. Ou
não...

Pegou o celular e ativou uma chamada


para sua amiga-irmã e melhor
conselheira amorosa que existe.

- Hey Manu...

Ela demorou vários minutos para


responder.

- Santo Deus! Quem morreu para você


me acordar em um sábado a essa hora?

- Bom dia para você também. Sim, eu


estava com saudades também...
- Boba...fala sério. Isso é hora?

- Fala sério você. Estou ligando para


minha amiga.

- Como você está? - Manu bocejou


escandalosamente.

- Eu estou bem. Com saudades.


Obrigada por tudo, como sempre você
me salvou.

- Só fiz o que devia ser feito. Está se


cuidando?

- Sim. Fui na consulta e fiz os exames


finais. Semana que vem começam os
testes.
- Que boa notícia! E a Rayka? Está
apagada na sua cama?

- Como assim?

- Vocês transaram? Você precisa me


contar os detalhes.

- Claro que não. Fala baixo que ela está


dormindo no quarto da Jess.

- Aff...é sério isso? Pois da última vez


que a vi estava bem colada a você na
sua cama!

- O quê? - Roxanne corou violentamente.


- Ah Roxe ...vai dizer que não se
lembra de nada. Tive que tapar os
ouvidos você berrava feito uma louca.-
riu escandalosamente como lhe era
peculiar.

- Estou percebendo que você está bem


acordada...

- Falando sério agora, eu estou


aguardando o resultado de uma
entrevista que fiz em uma filial da
empresa aí em Nova York. Se tudo der
certo estarei indo de mala e cuia para
ficar com você.
Acho que será bom para nós duas. Uma
oportunidade para minha carreira e
poderei ficar de olho em você.
- Sabe que fico muito feliz. Vou te
esperar ansiosa.

- Você não iria me ligar essa hora para


isso. Vamos. Desembucha.

- Hum...eu não sei como dizer...

- Dizendo. O que foi? Está precisando


de alguma coisa?

- Não...é que...talvez eu seja lésbica


mesmo.

- Talvez? Como assim?

- Eu beijei a Ray....- começou a


sussurrar

- O QUÊ?

Manu gritou do outro lado fazendo-a


se assustar e derrubar o celular na cama.

- EU SABIA SUA PERVERTIDA!


TARADA SEM VERGONHA!

- Não grita sua louca. Só queria que


soubesse que foi o melhor beijo da
minha vida.

- Essa Latina furacão não perde


tempo...- riu.- Pois eu super apoio. Ah e
como foi? Onde? Quando?
- No piano.

- Caramba!! Muito comédia romântica


clássica. Hey...tem essa cena em "Uma
linda mulher". Suas safadinhas...vejo
que você já está tocando bem, hein
mocinha?

- Te ligo depois, estou ouvindo um


barulho na cozinha.

- Vai sua Tarada. Joga ela naquela mesa


gigante e toma seu café da manhã
quentinho.

- Manu!!!

- Depois me fala como é o pornô


lésbico.

- Adeus!!!

Desligou o celular só então percebeu


que seu coração estava fora do
compasso. Nem conseguiu se recompor
e ouviu a voz de Rayka.

- Roxanne, bom dia. Como você está


hoje?

- B.o..m d..i..a...eu estou...b..e..m.

- Nossa Roxe, você está vermelha. Tem


certeza que está bem?

Sentiu ela se aproximar e tocar em sua


testa. O cheiro de morangos maduros a
invadiu fazendo-a corar ainda mais.

- Estou bem sim. Já desperta?

- Troca de roupa, vamos tomar um café


da manhã gostoso que fiz para você e
depois temos um roteiro a seguir.

- Ah? Como assim. Hoje é sábado. Dia


de não fazer nada.

- Bobinha.

Rayka foi abrindo o closet em busca das


roupas adequadas.

- Eu mesma vou escolher porque não


vou te dizer o local.

- Estou com medo.

- Tem medo de mim Roxe? Não confia


em mim?

- Então me diz para onde vamos.

- Para o lado bom da vida!

Tomaram um café maravilhoso com


panquecas, um cappuccino com creme e
canela, salada de frutas, suco de laranja
e ovos mexidos.

- Nossa, você fez tudo isso? Que horas


você acordou?
- Gostou? Eu estava muito animada para
dormir. Agora vamos que não podemos
perder tempo.

Roxanne foi aconselhada a vestir short


curto, camiseta e um maiô por baixo.
Achou que iriam para a piscina. Tal qual
foi sua surpresa ao chegar na calçada
Rayka lhe entregar um capacete de
motociclista.

- Coloque isso Roxe.

- Quê? Ficou louca? Por que precisamos


de um capacete?

- Porque a lei exige Roxe. - disse


divertida enquanto a ajudava a colocar o
objeto.

- Você tem uma moto? Rayka Rivera,


quantas coisas não sei sobre você
ainda?

- Não é minha. É do Thomaz. Ele me


emprestou e vamos precisar porque é um
pouco longe.

Roxanne custava a crer que aquilo


estava acontecendo. Seria louca de
seguir Rayka naquela aventura
desconhecida. Fechou o capacete e ela
colocou uma mochila em suas costas.

- Vamos Roxe. Vem com cuidado. - ela


puxou-a pela mão.- Agora levanta a
perna e senta na Clotilde com carinho.

- Quê? Clotilde?

- Dei esse nome para ela.

- Você tem certeza que sabe pilotar isso?


- Roxanne estava temerosa.

- Claro que sim. Agora se segure em


mim.

- Você tem carteira de habilitação?

- Roxe, você faz muitas perguntas. Senta


essa bunda gostosa na minha Clotilde e
vamos embora para o paraíso.
- Rayka!

E ela gargalhou daquele jeito


gostoso. Que menina solta era aquela?

- Garanto que você vai gozar...


ops...gostar

- Você ficou muito tempo com a Manu...

Então Rayka pisou fundo na Scooter de


250 cc. Roxanne se agarrou ainda mais
em sua cintura, não sem antes soltar um
grito.

- Sinta o vento Roxanne...a gente vai


voar. - disse rindo.
Roxanne não saberia mesmo que
aquela moto não passaria dos 110km por
hora. Até por que Rayka não poderia
tomar uma multa de trânsito sem ser
presa. E neste momento não era isso que
tinha em mente.
Nem morrer, nem ser presa.

Deveria contar-lhe que sua carteira


de habilitação era falsa?

Coney Island, 9:10 am

Roxanne tinha que admitir, cruzar o


Brooklin na garupa de uma moto
agarrada a Rayka foi uma das coisas
mais divertidas que já fez na vida.
Rayka gritava o nome dos locais onde
estavam passando
e como Roxanne já conhecia antes,
ela ia montando as imgens na sua
cabeça. Sem falar que Rayka era
engraçada. Tudo ela fazia graça. Mas ao
mesmo tempo era perceptível a
sensualidade que emanava dela.
Contradições do Furação Rayka Rivera.

Chegaram até rápido, o trânsito estava


livre e até que ela fora bem prudente de
piloto. Estacionaram próximo ao Paul's
Daughter. E Rayka a arrastou
literalmente para o Luna Park, um
enorme Parque de diversões pé na areia.
Começava a duvidar da idade mental de
Rayka.

Ela queria ir em todos os brinquedos, e


ai de Roxanne se não fosse. Ela até
ganhou dois ursinhos de pelúcia no tiro
ao alvo. Não sem antes insistir para que
Roxanne segurasse a arma e ela a
abraçou por trás dando as instruções
como se Roxanne pudesse enxergar
mesmo. Depois de duas tentativas
entregou-lhe feliz um ursinho.

- Um pra você e o outro para a Alana,


não quero ver vocês duas brigando por
causa disso.

Rayka a segurava pelo braço e com a


mão entrelaçada a sua, Roxanne achou
incrível ficar tão próxima dela, podia
sentir sua energia contagiante e seu
perfume impregnava-lhe as narinas.

Pararam para beber água porque o


calor só aumentava. Estavam de boné e
óculos escuros, mas ainda era
insuportável ficar muito tempo ao sol.

- Hey Roxe, que tal a roda gigante? A


gente pode comprar algodão doce e
amendoim para jogar nas pessoas lá de
cima.

- Rayka? Quantos anos você tem


mesmo?

- Brincadeira. Vamos?
- O que vamos fazer lá se o mais
atrativo é a vista?

- Te mostro algo mais atrativo.

E foi puxada mais uma vez. Já no


brinquedo Rayka aproximou-se mais
colando as pernas nas suas. Seu plano
de seduzi-la estava dando certo. Sentiu
quando Roxanne estremeceu.

- Roxe, Manu me disse que você fazia


faculdade de música.

- Sim. É verdade.

- Onde?
- Na Rochester University.

- Você não pensa em voltar?

Roxanne sentiu-se desconfortável.


Limpou a garganta antes de responder.

- Como? Impossível para mim.

- Por que? Vi que você toca


maravilhosamente bem. Mesmo sem ver.

- Meus dedos ainda não voltaram ao


normal. Veja. São tortos e doem muito se
tocar por um tempo considerável.

Rayka segurou seus dedos, notou


algumas cicatrizes.

- Posso te ajudar com isso. Conheço uns


exercícios ótimos para os dedos
amolecerem rapidinho.

- Sério? Você sabe muitas coisas. Estou


impressionada.

Rayka riu sozinha. Roxanne não


entendeu a piada? Não. Ela era tão
lerdinha...tinha tanto a aprender.

- Escuta, você consegue. É treino. Hoje


existem tantos aplicativos suportes que
transformam texto em áudio e vice
versa. Isso ajudaria na parte teórica.
Acho que deveria tentar. A parte prática
você está indo muito bem.

- E eu não sabia que cantava.

- Meu pai adorava tocar violão nas


festas da Virgem de Guadalupe, a gente
fazia uma grande roda e cada um cantava
uma parte enquanto outros dançavam.
Mas não entendo nada disso.

- Você foi muito bem. Vou pensar nessa


possibilidade.

- Jura?

- Sim, eu prometo.

- Não faça promessas que não deseja


cumprir. Porque eu vou cobrar Roxe.

- Eu vou fazer um experimento semana


que vem sobre regeneração da
cartilagem das córneas. É uma pesquisa,
mas já está em fase final. Os resultados
são muito animadores. Quem sabe
depois disso?

- Eu fico tão feliz por você. Não vejo a


hora de você poder enxergar. Vou te
ensinar a pilotar a Clotilde.

- Sério? - Roxanne ria tanto que sua


barriga doía. Eu não sei se quero isso.

- Só espero que quando me veja ainda


queira ser minha amiga.
- Boba. Por que não seria?

- E se não gostar?

- Eu gosto de você Ray.

- Ray? Hum...passamos de nível. Ganhei


uma estrelinha.

- Você é uma figura.

- Estamos na parte mais alta Roxe. Quer


saber o que é mais atrativo que a vista?

- Quero sim. Diga.

Antes que ela tivesse qualquer reação


sentiu o hálito quente dela cheirando a
menta muito próximo.

- Não é dizer... é fazer!

Capturou seus lábios de forma


totalmente inesperada. Rayka enfiou a
mão por dentro dos seus cabelos
fazendo movimentos suaves acariciando
sua nuca de forma ousada e possessiva.
Roxanne respirou profundamente se
rendendo, abriu a boca para receber a
língua ousada que pedia passagem.

Ela podia ter recuado. Mas não


conseguia. Rayka tinha um poder sobre
ela inexplicável. Segurou-a pela cintura
sentiu os óculos caírem, boné voar, e ela
só queria se perder naquela boca.

De repente seu corpo todo se arrepiou


ao sentir a mão dela escorregar para
dentro da sua blusa e lhe tocar
suavemente sobre um dos seios que
automaticamente correspondeu.

Caraca! O que era aquilo? Sentia tudo


queimar. Rayka desceu a língua para seu
pescoço sem soltar sua nuca impedindo-
a de escapar enquanto apertava seu seio
com vontade.

- Aí Roxe... você é tão linda e gostosa.


você tem ideia disso?

Roxanne não conseguia dizer nada. Ela


começou a chupar seu pescoço acima da
pulsante. Roxanne jurava que iria ter um
infarto. Sua pulsação foi a mil.
Aproveitou a proximidade e cheirou o
pescoço dela. Aquele cheiro de
morangos maduros inebriou-a todinha.

- Você tem cheiro de morango.

Rayka parou instantaneamente.

- O que disse?

Será que tinha feito algo errado?

- Eu gosto do seu cheiro de morango


maduro.
- Aí Roxe... acabei de ganhar o dia.

E tornou a capturar seus lábios com


ímpeto enquanto as borboletas de
Roxanne dançavam freneticamente
despertando nela sensações até então
desconhecidas. Quando desceram do
brinquedo as suas pernas estavam
bambas.

Estava apaixonada por aquela menina


solta. Não tinha dúvidas. Aquele furacão
invadiu sua vida e seu coração.

- Vamos para água Roxe. Você já me


deixou molhada mesmo. Menina
malvada você.
Rayka riu divertida vendo Roxanne
corar violentamente.

Guardaram as coisas na moto e


desceram para a água. Roxanne deixou
ser guiada por Rayka. Nunca havia
voltado a praia depois do acidente.
Achou que seria deprimente não poder
ver o mar. Mas Rayka ria, se escondia
dela e começava a gritar: Estou aqui.
Vem me pegar! E Roxanne sempre
pegava, às vezes caía quando atingida
por uma onda mais forte, mas era
amparada por uma Rayka risonha.

Outra hora ela subiu em suas costas e fez


levá-la até o fundo. Quando voltava a
superfície a agarrava pelo pescoço
fingindo que estava se afogando.
Voltaram horas depois e deitaram
embaixo do guarda-sol. Rayka pegou seu
celular.

- Hey Roxe, vamos tirar uma foto. Como


liga esse troço?

- Ativa pela voz. Diga: ativar câmera.

- Que chique Roxe. Ativar câmera. Não


funcionou.

- Só reconhece a minha voz.

- Gente, estou impressionada.

- Meu irmão que adaptou esse celular


para mim. Ele criou um sistema de
reconhecimento de voz para tudo.
Quando eu quero ligar para alguém eu
digo : ativar ligação Manu, por exemplo,
e automaticamente ele liga. Quando
recebo uma ligação ele toca e eu digo:
atender ligação.

- Uau...Seu irmão é muito inteligente.

- Sim, ele ganhou uma bolsa no MIT.


(Instituto de Tecnologia de
Massachusetts)

- E sua irmã mais nova?

- Está fazendo moda! Veja só.


- Vocês são bem diferentes hein? Vem,
vamos registrar esse dia Maravilhoso.

Rayka continuava tirando fotos de


Roxanne sem ela saber. Ela era muito
linda e chamava a atenção com aquele
corpão. Ela estava de maiô e um
shortinho curto por cima. Rayka tinha
quase certeza que era por causa das
cicatrizes. Ela estava deitada com as
mãos levantadas perto da cabeça. Estava
corada, radiante. Rayka pegou o protetor
solar.

- Hey Roxe, você está vermelha. Eu


comprei seu protetor fator 3000
vampirista. Deixa eu retocar não quero
você parecendo um tomate de olhos
verdes.

Na verdade ela não estava tão vermelha


assim. Era só uma desculpa. Ela queria
mesmo era passar a mão naquela obra
de arte e fazer inveja para os héteros
que as fitavam. Depois almoçaram
hambúrgueres no Paul's Daughter, e
deram uma volta no calçadão lotado.
Voltaram para casa já estava
escurecendo.

Roxanne estava tão feliz como há muito


tempo não se sentia. Naquele dia teve
certeza que Rayka era o seu sol. E ela
precisava daquela luz na sua vida.
Assim como as cartas de Jess já haviam
previsto. A lua e sol. E as cartas não
mentem jamais!
Capítulo 14 - Perfect
Nova York, 9:45 am

Rayka estava a preguiça em pessoa.


Olhou no relógio e tornou a virar a
cabeça. Aquela cama era duas vezes
melhor que a sua. Ainda tinha um
banheiro lindo dentro daquele quarto
maravilhoso. Mas era hora de voltar a
realidade.
Ontem chegaram já tarde e Roxanne
pediu pizza para o jantar. Ficaram
conversando até tarde no sofá. Estava
amando a proximidade que alcançara até
ali com ela.

Queria deixar as coisas acontecerem.


Era óbvio que Roxanne sentia algo por
ela, nem que fosse só atração. Não dava
para negar naquele último beijo.
Sem falar que ela acabou confessando
que adorava seu cheiro, e no dia que
dormiu ao seu lado achou que ela
estivesse delirando.

Mas também entendia que ela deveria


estar confusa com a sua sexualidade.
Lembrou da própria experiência quando
se viu apaixonada pela sua melhor
amiga no ensino médio. O quanto tinha
sido confuso, sofrido e perturbador
descobrir que não era "normal" para os
padrões da sociedade. Contudo
acreditava na intensidade do amor.

Se Roxanne viesse amá-la poderiam


vencer qualquer obstáculo. Decidiu se
levantar e preparar um café. Tomou um
banho rápido e passou a pomada para
seus hematomas que estavam agora em
tons amarelados.

Chegou na cozinha Roxanne já estava lá


fazendo café. Ficou parada observando.
Ela se movimentava de um lado para o
outro com uma destreza impressionante.
Abria a geladeira e tateava. Abria o
pote e cheirava até encontrar o que
queria. Às vezes batia a cabeça em
alguma porta do armário.

Ela estava com um short jeans preto e


uma camiseta de um grupo de rock
branca. Seus cabelos estavam amarrados
em um rabo de cavalo bem feito. Ela
estava corada, radiante, feminina e
sensual...aff o calor subia.

- Bom dia Rayka.

- Hum...como sabia que eu estava aqui?


- Eu sempre sei. Esqueceu?

- Ainda acho que você não é cega. Está


me enganando. Como conseguiu fazer
tudo isso sozinha?

- São só torradas, suco natural, creme de


amendoim, e lanche de peito de peru e
queijo e pouco de café, que não chega
nem perto do seu.

- Só? - provou o café puro.- está ótimo.


Por que não me acordou?

- Para quê? Ontem você cansou demais.


Precisava descansar.

- Eu praticamente desmaiei. Que cama


maravilhosa aquela. Sabia que meu
apartamento todo é do tamanho do seu
closet?

- Mentira! Exagerada.

- Claro que não. Mas está ótimo, pelo


menos por enquanto, estou só
aguardando as coisas melhorarem para
sair de lá. Você gosta de branco e preto
não? Todo seu apartamento é nessas
cores.

- É proposital. No claro eu vejo


sombras, isso me ajuda nos reflexos e a
não esbarrar em tudo. Quanto mais claro
mais eu vejo os vultos das coisas e
pessoas, e os móveis escuros me dam
mais percepção de onde eles estão em
contraste com o branco.

- Hum... interessante. Mesmo assim


achei muito bonito e de muito bom
gosto.

- Obrigada. Agora coma. Não me enrola.

- Sim senhora.- experimentou o lanche


natural - Hey Roxe, hoje tem jogo dos
Yankees contra o Cardinal's. E...euzinha
aqui…tenho dois ingressos para o jogo
no estádio dos Yankees lotado e
esgotado para hoje à tarde.

- Como conseguiu isso?


- Digamos que eu tenha meus meios.

Não iria revelar que seu meio era lavar


o banheiro durante um mês no serviço no
lugar de Thomaz.

- Não acredito!

Roxanne adorava baseball. Era o


programa preferido em família. Até
jogou no time de softbol do ensino
médio.

- O que me diz?

- Você vai ter paciência de narrar o jogo


para mim?
- O que você não me pede chorando que
eu não faça sorrindo?

Almoçaram no shopping Manhattan Mall


e seguiram na Scooter Clotilde.

Dessa vez Roxanne estava mais


confiante nas habilidades de Rayka.
Compraram camisetas e bonés no
shopping. E Rayka a ajudava o tempo
todo.

Segurava sua mão, avisava sobre


degraus, amparava-a pela sua cintura até
conseguirem se acomodar. O barulho era
estarrecedor. Lotado.

Rayka comprou pipoca e suco,


descobriu que ela não tomava
refrigerante. E quando o jogo começou
ela berrava sem parar.

- Roxanne, você não viu, mas o 25 está


vendido, entregando o jogo na cara
dura...Desgraçado!!! Ladrão!!

- Calma Ray. Vamos ser expulsas. -


Roxanne ria mais dela do que da
desgraça do seu time que perdia.

- A única vez que venho assistir essa


droga e eles querem perder? Quero meu
dinheiro de volta!

- Calma, ainda faltam 3 jogadas. Tudo


pode acontecer.
Ela se sentou um pouco mais calma.

- Tomara Roxe….tomara. Não vou


torcer mais. Ingratos!

Pausa técnica e a música alta tomou


conta do estádio: Anything Could
Happen.

- Roxe, não faça movimentos bruscos


agora. A gente está no telão.

- Sério?

- Muito sério. Na câmera do beijo.

- O quê?
- OK...Eu faço esse sacrifício. Fecha os
olhos, agora!

E ela a beijou na frente de 50.292


pessoas fora os milhões de
telespectadores. Rayka era um furacão
em sua vida. E a música repetia: “Tudo
pode acontecer”

A noite Rayka fez tacos para o jantar e


jericallas de sobremesa (doce mexicano
feito de amido de milho, ovo, leite e
canela). Ela sabia mesmo cozinhar, o
jantar foi delicioso.

Mais tarde Manu ligou e ficaram


sentadas no sofá em uma vídeo chamada
com durante uma hora.

- Então você sabe cozinhar, faz cupcakes


deliciosos, café cremoso, toca violão,
canta afinadíssima, pilota uma moto. O
que mais hein mocinha você anda
escondendo?

- Acho que não sobrou nada.

- Dúvido muito. VocÊ é uma caixinha de


surpresas.

- Bem, eu faço desenhos.

- É mesmo? - Perguntou surpresa

- Gosto de desenhar paisagens e rostos.


- Você estudou sobre artes ou…

- Não. Eu nunca estudei nenhum curso,


embora quisesse.Terminei o ensino
médio atrasada porque vivia mudando
de cidade em cidade, às vezes em Cuba,
México, América…

- Entendo. Gostaria muito de poder vê-


los.

- Acredito que não vai demorar e você


poderá vê-los.

- Você acredita mesmo, ou está sendo


gentil?
- Acredito mesmo. O primeiro passo
para se alcançar qualquer coisa é
acreditar. Depois suar tentando realizá-
lo. Por enquanto estou suando muito,
mas um dia a gente chega lá.

- Eu estou no início do começar a


acreditar.

- Isso é bom, não?

- Acho que sim.

- Claro que é. Quer saber? Vou desenhar


você.

- Agora?
- Sim, você é uma obra de arte por si só.
Quem é Mona lisa a seus pés?
Convenhamos que ela não é nada bonita
mesmo.

- Acho que não se pode dizer isso de


uma obra prima.

- Tenho outros conceitos de obra prima.


Vou pegar meu caderno de desenhos,
está nas minhas coisas.

- É sério isso? Achei que estivesse


brincando.

- Eu não brinco em serviço. Quando


voltar quero você nua nesse sofá só com
esse colar de lua aí, como a Rose
Dewitt de Titanic.

Roxanne sabia que ela estava brincando,


mas isso não a impediu de corar
violentamente enquanto ouvia sua risada
encher todo o apartamento. Ficou
petrificada no sofá imaginando a cena de
Titanic. Quando ela retornou soltou seus
cabelos e ajeitou sua camisa.

- Se ficar cinco minutos nessa posição


eu consigo ter uma base. Mas, pode
conversar enquanto isso. Só mantenha
esse olhar nessa mesma direção.

Ajeitou a altura do seu pescoço e se


sentou à sua frente. Não imaginou que
algum dia estaria de frente com os olhos
de Pantera dos seus sonhos e
desenhando-os e colocando naquele
papel todas as sensações que eles lhe
despertavam.

Sabia que Sob aquele olhar ela nunca


mais seria a mesma. Alguma coisa no
universo as tinha juntado. Ainda não
sabia o propósito disso, mas sentia que
a cada dia estava mais próximo.

Roxanne estava inquieta. Só o fato de


saber que Rayka mantinha os olhos nela
era capaz de se sentir em chamas.
Mesmo que não pudesse vê-la, ela era
como uma aura de calor, de energia que
era possível sentir no ar.
- Você se divertiu esse final de semana?
- perguntou ela após alguns minutos de
silêncio.

- Com certeza. Muito. - não estava


mentindo.

- Viu. Três dias de diversão. Sem


álcool, sem drogas, esse é o lado bom
da vida Roxanne. Pensa nisso. Quando
você sentir que não consegue suportar,
pensa nas coisas boas que tem desse
lado. E não se mexa. Estou quase
acabando a base, então você poderá se
mover. Você é tão linda, deveria sorrir
mais.

Roxanne se perdeu naquelas palavras,


em sua mente flashes de sua vida antes
do acidente a atingiram. A oportunidade
de representar a universidade em um
programa de tv, suas primeiras músicas
que seu professor a elogiara, o sonho de
estar em um palco, o som da colisão no
táxi, a escuridão.

De repente isso não a fez chorar. Sentia


que a vida lhe dava uma segunda chance,
e essa chance estava "Sob aquele olhar"
latino de ver o lado bom da vida.

- Acabei. Pode se mexer Roxe. Agora


vou firmar os detalhes com o
sombreamento. Amanhã volto a
trabalhar. E você tem reunião, consulta e
o que mais?
- Um sorvete no shopping? - brincou.

- Não. Treino de piano. Eu volto às 5:00


pm. Você está melhor hoje?

- Sim. Obrigada pelo jogo, por tudo.

- Por nada. Vou deixar esse desenho aqui


na sua sala. Para todos apreciarem a
minha Mona lisa versão Vampira.

- Está parecendo que será um terror


mesmo.

- Oh não...a única coisa que ela destrói


são corações com esses olhos de
Pantera.
Rayka deu boa noite e se retirou, mas
ela ficou acordada ainda por muito
tempo. Pensou em tudo que havia
acontecido até aqui. Sentia que alguma
coisa dentro dela tinha mudado. Rayka
tinha razão ao lhe mostrar o quanto
estava perdendo tentando fazer tudo
sozinha.

Gostava de ser ajudada por ela, a forma


como pegava em sua mão, conduzindo-a
com delicadeza, fazia questão de
detalhar tudo ao seu redor, não se sentia
incapaz ao seu lado, pelo contrário,
sentia-se cuidada e completa.

Lembrou-se das palavras de Manu:


"Acho que a gente se apaixona pelo
jeito que a pessoa é. Admiramos a
essência e não o gênero".

Ativou o aplicativo de pesquisa no


celular:

- Como saber se você está apaixonado?

Esperou a resposta do video de


pesquisa.

" 5 sinais de que você está


apaixonado:

1º- você pensa nessa pessoa o


tempo todo.
2º- você quer fazer tudo com essa
pessoa. Passear, viajar, almoçar, sair
para um rolê. Absolutamente tudo.

3º- você gosta de tudo nessa


pessoa. Desde a risada até a unha torta
do dedinho você acha uma graça.

4º- quando essa pessoa não está


com você até o cheiro dela você
consegue sentir e recordar de cada
detalhe.

5º- você tem fantasias sexuais com


ela. Mesmo que nunca tiveram nada
você se pega imaginando como seria o
momento íntimo."
Roxanne desligou o aparelho e riu
sozinha da sua própria atitude, a
verdade é que se sentia com 16 anos
outra vez.

- Total de pontos 5. Roxanne Mackenzie,


você está apaixonada pelo Furacão
Latina, mais conhecida como Rayka
Rivera.

Tinha uma ideia em mente. Nunca


dormiu mais feliz.

Starbucks, 8:00 am

Rayka acordou cedo por volta das cinco


da manhã. Tomou um banho quente. Que
chuveiro maravilhoso!
Demorou mais que o necessário.

Notou que suas roupas tinham acabado.


Teria que ir no seu apartamento arrumar
suas coisas, mas queria ter certeza antes
que Roxanne ficaria bem. Talvez semana
que vem Manu já estaria de volta.

Saiu de Scooter e a devolveria a


Thomaz. Fizera bom proveito da
Clotilde. Chegou 20 minutos adiantada.
Tomou café antes de começar a
trabalhar.

Lá pelas 9:00 horas o Sr Flynn chegou e


conversou com ela. Foi bastante
simpático e ainda lhe deu um
adiantamento do salário para ajudar.
Ficou muito grata. Iria comprar um
celular, não podia ficar o dia todo sem
saber de Roxanne. Mais tarde fez um
resumo das suas últimas aventuras a
Thomaz. Ele era um rapaz muito
simpático, gostava dele, eram amigos há
bastante tempo.

Na verdade ele era o seu único amigo.


Ele tinha um cabelo alisado pintado de
loiro contrastando com sua pele morena.
Era muito alto e magro, isso fazia seu
andar ser extremamente engraçado.

- Menina, eu estou cho.ca.do. você está


morando na casa da vampira ?
- Não estou morando. Estou... ficando.

- Meu amor, já era. Já estou prevendo


casamento à vista.

- Bobo.

- Quer dizer que seu plano deu super


certo? Jogo, jantar romântico, praia.

- Nem foi um plano. Na verdade foi bem


divertido. Só aconteceu.

- Estou vendo essa sua cara de boba


apaixonada. Mas e a polícia, que lance
foi aquele?

- Na verdade a polícia me livrou da


imigração, isso sim. E você sabe que foi
aquele idiota do PJ. Mas ele está na
mira da polícia. Um passo em falso e ele
já era. Sem falar que logo isso aconteça
Alana ficará comigo.

- Amiga, tenho que te dizer...tua vida


parece roteiro de novela mexicana.
Drama, paixão, máfia mexicana, par
romântico de cair o queixo. Eu tenho
inveja de você Latina. Na minha não
acontece nada.

- Eu dispensaria o drama, os tiros,


ficaria só com o amor.

- Mas que graça teria a vida sem drama?


Adoroooo.
Nova York, 7:35 am

Roxanne já estava bem desperta e de


banho tomado. Acordara tão bem aquela
manhã que não tomou os remédios para
as dores musculares nem para
enxaqueca. Na verdade agora que havia
se dado conta que há dias não os
tomava. Vestiu uma roupa confortável, e
estava terminando de arrumar os cabelos
ainda úmidos quando Jess chegou.

- Bom dia srta Mackenzie.

- Bom dia Jess.

- Que sorriso bonito é esse?


- Segunda-feira...não é um bom dia para
sorrir?

- Hum... está me cheirando outra coisa.

- Coisa da sua cabeça. Eu vou chegar


mais tarde hoje Jess. Vou na reunião,
depois tenho uma consulta com o
psiquiatra, e vou dar uma volta no
centro, porque preciso comprar umas
coisas.

- Vou deixar o almoço pronto. Eita srta


Mackenzie. Que desenho bonito é esse
na sua estante?

- Rayka que fez. Está bom mesmo?


- Bom? Parece uma foto sua. A menina
tem talento. Uma verdadeira artista
mesmo.

- Jess, lembra das cartas? Lembra da


figura feminina?

- A imperatriz. Claro que lembro.

- Eu acho que é a Rayka.

- Você acha? Eu tenho certeza. O jeito


que eu vi essa menina chorando por ver
a senhorita naquele estado.

Ela ficou ali do seu lado. A senhorita


tem sorte de ter amigos assim, quem
escolhe ficar do nosso lado nos piores
momentos devem ser muito valorizados
por nós. E tem mais, as cartas não
mentem.

- Eu não me lembro de nada daquele dia.


Mas sei que ela estava ao meu lado.

- Não tenha dúvidas. Se ela for o motivo


desse sorriso iluminado aí, vou concluir
que ela também é o sol.

- Isso ela é mesmo.

- Nem preciso ler as cartas para saber


que está apaixonada.

- Fui jess.
Centro de Apoio de Apoio aos
Alcoólatras, 9:00 am

Naquela manhã Roxanne se prontificou a


dar um testemunho na reunião. Falou da
sua última crise. E principalmente da
sua decisão de olhar para o lado bom da
vida a partir daquele dia em diante.

Falou sem citar nomes da importância


de ter alguém que acredite em você ao
seu lado nos momentos mais difíceis.

E no final cantou uma música que


escreveu na naquela madrugada em
homenagem a Rayka. Foi muito
aplaudida e saiu dali convicta que
acabara de dar um grande passo para
sua recuperação.

No consultório do Psiquiatra ela relatou


sua última crise e a lista de remédios
que tomava. O psiquiatra pediu um
exame de sangue, mas mudou os
remédios, para segundo ele, mais fracos
com menos efeitos colaterais.

Quando saiu de lá já era quase meio dia


e ela ainda precisava visitar algumas
lojas. Queria fazer uma surpresa para
Rayka. Uma forma de agradecer sua
companhia nesses últimos dias.
Precisava de uma ajudinha de sua amiga
louca: Manuela Alika.
Rayka estava ansiosa para o fim do
expediente. Aquela era uma sensação
nova, com Roxanne se sentia livre para
ser quem era de verdade. Sem reservas.
Podia dizer qualquer coisa sem medo de
ser julgada, podia ser engraçada e falar
sobre coisas sérias ou tudo ao mesmo
tempo.

Esses últimos dias foram os mais felizes


que já tivera na América. E só tinha
certeza que queria aquela sensação para
sempre. Suspirou pensando que podia se
acostumar com aquela sensação.

Chegou no prédio teve que se identificar


na portaria. Não sabia explicar ao
porteiro seu grau de relacionamento com
Roxanne. Ele ligou para o apartamento e
minutos depois o portão foi destravado.

Tratou logo de pegar o elevador parado


no térreo. Só percebeu que estava
ansiosa quando socou os botões pela
demora em fechar as portas.

- Oi Jess. Tudo bem?

- Oi menina Rivera. Deixei suas roupas


dobradinhas na cama.

- Oh Jess. Não precisava. Iria lavar


hoje.

- Imagina menina. Estou aqui para isso.


Srta Mackenzie me contou que fez
jericallas ontem.

- Verdade. Ainda sobrou um pouco na


geladeira.

- Tinha sobrado. Srta Mackenzie já


atacou tudo hoje.

- Sério? Eu fico feliz.

- A senhorita precisa ir na festa da


Virgem de Guadalupe no meu bairro.
Tem todo tipo de comida do meu amado
México.

- Hey, que coisa boa. Eu iria gostar


muito. Vou chamar a Roxe. Por falar
nela, onde ela está?
- Vixi. Duas horas no banho. Toma um
café com bolo de cenoura que acabei de
tirar do forno. Eu já vou indo.

- Obrigada querida. Estou com fome


mesmo.

Roxanne escolheu uma calça justa preta,


camisa social branca de cetim com
botões dourados com as pontas
amarradas na cintura. Uma sandália
meio salto completava o look que Jess
ajudou a escolher.

Passou perfume e um creme para o


rosto, um pouco de batom vermelho que
Jess jurou não ser muito forte. Estava
ouvindo a voz de Rayka na cozinha.

Queria muito poder ver a cara dela ao


vê-la. Será que ela gostaria do que iria
ver? Comprou um vestido preto tubinho
com fios dourados, com abertura nas
costas, e um scarpin preto salto médio
para ela.

Esperava que Manu acertasse na


medida. Foi ela que lhe passou as
instruções quanto ao tamanho. Por mais
boba que parecesse, estava nervosa. Só
queria levá-la para jantar. Ajeitou os
cabelos jogando-os de lado e saiu.

Rayka cortou um pedaço do bolo e


estava levando-o à boca quando ouviu
os passos dela no corredor. O que
chegou primeiro foi o perfume de rosas.

Em seguida seus olhos simplesmente


ficaram vidrados na morena estonteante
que adentrou a sala. Só então percebeu
que seu bolo caiu, assim como seu
queixo.

Ela estava magnificamente bela em uma


calça justa de cintura alta preta, camisa
social branca de gola preta de mangas
compridas e os cabelos cheios de
cachos jogados de lado. Batom?

Sim... vermelho. Teve que piscar várias


vezes e soltar o ar que nem sabia que
estava segurando por aqueles longos
segundos.

Roxanne parou na soleira esperando


ouvir alguma reação de Rayka. Mas tudo
que ouviu foi um talher caindo no chão.
Contou até dez. Nada. Deveria chamar?
Ela estava ali porque sentia suas
vibrações.

- Hey sua vampira sensual! O que fez


com a minha Roxe?

Roxanne soltou o ar devagar. Sorriu.


Essa era a sua Rayka, a deusa do vento,
seu furacão Latino.

- Bobinha. Tenho uma surpresa para


você.
- Calma aí...

Rayka pegou em sua mão e a fez girar


360° graus.

- Srta Mackenzie. Você está


incrívelmente Linda. Como sempre, mas
um pouco mais mortífera.

- Obrigada. - sorriu sem jeito.

- Onde vai?

Queria te convidar para jantar fora


comigo. Hoje. Agora.- falou tudo em um
fôlego só para não perder a coragem.
- Em Dubai? Porque você está
parecendo uma rainha.

- Deixei uma roupa especial para você


no seu quarto. Vou esperar aqui enquanto
se arruma, isso se você for aceitar sair
comigo.

- Nunca deixaria você sair assim


sozinha. Escute bem: NUNCA! Me
aguarde.

E ela saiu correndo deixando Roxanne


com um sorriso bobo na cara.

Rayka fechou a porta e se encostou na


mesma buscando o ar que insistia em
deixá-la. Céus! Que tiro foi esse?
Tinha uma gata morena de olhos verdes
tentando matá-la do coração.

Viu o vestido lindíssimo sobre a cama.


Cheirava a vários dólares aquilo.
Correu para o banho. Não queria perder
um minuto sequer. E se ela desistisse?
Melhor não arriscar. Hoje a noite
prometia.

Roxanne estava inquieta. Parecia uma


adolescente no primeiro encontro. Não
queria sentar e se arriscar amassar a
roupa. Ligou o sistema de som e colocou
sua playlist favorita. A voz de Ed
Sheeran invadiu o apartamento. Perfect.

Experimentou o bolo de Jess. Resolveu


passar mais perfume, não estava
sentindo direito. Deveria ter comprado
um novo.

Droga!

De repente percebeu que estava com


falta de ar. Uma crise de pânico.

Não...agora não.

Tratou de achar sua bombinha.


Nunca desejou tanto poder ver Rayka
como naquele momento que ouviu o
barulho dos saltos no corredor.

Rayka parou na soleira. Nunca desejou


tanto que Roxanne pudesse vê-la. O
vestido se ajustou perfeitamente no seu
corpo, sendo extremamente confortável
ao mesmo tempo.

Valorizava suas curvas sem ser vulgar e


tinha uma fenda acima da coxa. O tecido
reluzia em contato com a luz pequenos
fios dourados e discretos. Prendeu os
cabelos em um coque deixando sua
franja e alguns fios caídos, caprichou na
maquiagem e teve certeza que esvaziou
o vidro de perfume.

O scarpin era tão lindo cheio de


detalhes dourados, completou com um
par de brincos que estavam sobre a
cama. Roxanne escolhera para ela tudo
aquilo? Estava impressionada.
Roxanne virou-se ao som de seus
passos.

- Tenho certeza que está perfeita!

Ela falou sorrindo.

Aff!! que sorriso era aquele? De


lado sedutor. Socorro!

- Por que não vem conferir?

- Gostaria muito de poder ver você hoje.


Gostou da roupa?

- Se gostei? Acho que nunca fiquei tão


feliz em me vestir.
- Que bom. Fico feliz.

Rayka aproximou-se e a puxou pela


mão. O cheiro doce invadiu-a trazendo
aquele arrepio gostoso por todo seu
corpo.

- Você pode ver com as mãos Roxe.

Dizendo isso colocou as mãos de


Roxanne em sua cintura.
Roxanne engoliu a seco. Mas não baixou
as mãos. Pelo contrário, lentamente
começou a subir contornando sua
silhueta. No sistema de som a voz de Ed
Sheeran concluiu:
"Eu encontrei um amor para mim

Amor, entre de cabeça e me siga

Bem, eu encontrei uma garota,

linda e doce
Ah, eu nunca soube que era você
quem estava esperando por mim.

Bem, eu encontrei uma mulher

Mais forte que qualquer pessoa que


conheço

Ela compartilha dos meus sonhos

Eu espero que um dia eu


compartilhe seu lar

Eu encontrei um amor."

E Roxanne sabia que poderia se perder


nas curvas daquele corpo Latino
caliente.
Capítulo 15 - Seja
Minha essa Noite

Delicadamente com as pontas dos


dedos foi serpenteando o corpo
curvilíneo da Latina. Podia sentir sua
aura sensual. Tocou de leve seus braços
sentiu quando ela se arrepiou ao seu
toque. Enquanto a tocava sentia seu
próprio corpo responder e estremecer
junto. Suas mãos chegaram em seus
ombros desnudos pelo vestido.

Sua pele era macia e delicada. Fez o


contorno do vestido na altura do seu
colo roçando os seios bem feitos. Uma
onda de calor a invadiu com o simples
toque. Enquanto a música ainda
entornava sua mente, subiu as mãos e
tocou no seu rosto fino, delicado.
Parecia esculpido por um artista.

O nariz era levemente arrebitado.


Percebeu que ela sorriu. Acariciou as
maçãs do rosto sentindo a textura
aveludada. Ouviu um gemido baixo e
não soube confirmar se era seu ou dela.
Com os polegares acariciou seus lábios
carnudos que automaticamente se
abriram. As borboletas saíram em
revoada por todo seu interior. Buscando
algum resquício de controle subiu as
mãos e tocou de leve seus cabelos, bem
arrumados, não resistiu e se aproximou
para cheirá-los.

Rayka tinha certeza que suas pernas se


dobrariam a qualquer momento jogando-
a ao chão inerte. Será que Roxanne fazia
a mínima noção do que estava fazendo
com ela? A cada toque sua pele
arrepiava-se todinha enquanto sentia
aquele calor no íntimo do seu ventre.

Aquela maldita música inebriando sua


mente fazendo tudo ao seu redor se
resumir unicamente naqueles dedos que
quase imperceptívelmente faziam sua
alma se derreter. Quando ela se inclinou
para cheirá-la, seu controle foi para
outra galáxia. Colocou as mãos em sua
cintura perfeitamente modelada pela
calça justa e a trouxe para mais perto de
si. Encaixe perfeito.

- Já disse que você cheira a morangos


maduros?

Roxanne sussurrou com aquela voz


rouca e sexy.

- E você gosta de morangos maduros?-


insinuou lânguida.

- É minha fruta preferida!


A hija de una perra soprou em seus
ouvidos de novo aquela voz sexy, rouca,
quente. Seu corpo respondeu de
prontidão entre suas pernas.

- Roxanne, eu preciso que você me


beije.

Implorou. Não poderia mais fingir


inércia diante do furacão de emoções
que a sacudiam violentamente.

Roxanne sentiu ao ouvir aquele pedido,


uma vibração sair de dentro das suas
entranhas e percorrer seus braços,
chegar até a ponta dos seus dedos onde
sem hesitação alguma eles se
entrelaçaram nos seus cabelos puxando-
a pela nuca trazendo-a para mais perto
enquanto seus lábios se colavam aos
dela.

Não conseguiu impedir um gemido


rouco quando ela lambeu seus lábios
devagar pedindo espaço, o que
prontamente ela cedeu para sua língua
quente e possessiva começar uma dança
ritmada que Roxanne ainda não
conhecia.

Sentiu seu mundo capotar no universo


infinito quando ela desceu suas mãos
delicadas, mas bem ousadas para suas
nádegas e apertar com ímpeto fazendo-a
literalmente colar seus corpos e o tecido
fino permitiu sentir a pulsação de ambas
intimidades se tocando.

Não soube dizer quanto tempo durou


aquele frenesi. Quando ambas arfaram
em busca de ar, Rayka afastou-se
sutilmente.

- Roxe, senão sairmos agora para esse


jantar eu não respondo por mim! Não me
importo nem um pouco de comer a
sobremesa primeiro.

Roxanne demorou alguns minutos para


voltar à Terra. Pigarreou recompondo-se
totalmente sem graça. Nem sabia sua
localização espacial na sala.
- Certo... você poderia pegar as chaves?

Que diabos houve com sua voz?


Parecia um rádio com a bateria
acabando.

- Espera Roxe, precisamos retocar o


batom. Estamos parecendo o Coringa.

Ela se afastou e Roxanne agradeceu


poder respirar novamente liberando o ar
dos pulmões.

Céus! Precisou sentar-se. Suas pernas


não conseguiam mantê-la de pé. Ela
reapareceu e refez toda maquiagem,
sombra, delineador, batom, rímel. Pegou
sua bolsa e saíram.
Nova York, 7:26 pm

O táxi parou em frente ao magnífico


edifício Time Warner Center. Rayka
custou a crer. Sabia que ali era o refúgio
da alta sociedade de Nova York. Os
restaurantes e lojas mais caros da
América estavam ali.

- Roxanne, tem certeza que é esse o


local mesmo?

- Sim, absoluta.

Rayka desceu e deu a volta no carro


abrindo a porta e segurando-a pela mão.
- Obrigada. Está pronta?

- Definitivamente não.

- Vamos assim mesmo. 12° andar.

Na entrada do restaurante Per Se, Rayka


notou uma fila de espera. Mas foram
recebidos pelo Maitre que
cumprimentou Roxanne pelo nome.
Levou-as até uma mesa reservada
próxima às janelas de onde se podia ver
a Cidade que nunca dorme toda acesa.

- Uau...que vista é essa? - não se


conteve.- Desculpa Roxe, não quis ser
indelicada.
- De jeito algum. Sei que é uma vista
impressionante.

O Maitre puxou a cadeira para ambas e


entregou o menu de vinhos.

- Nossos melhores vinhos.

- Sem álcool, por favor.- Rayka


adiantou-se.

- Moças prudentes. Temos batidas de


frutas totalmente sem álcool. O que
acham? Posso trazer as melhores e mais
inusitadas frutas exóticas.

- Perfeito. Obrigada.
- Vou buscar enquanto vocês decidem o
jantar. Licence.

Rayka aproveitou a privacidade.

- Roxe, esse é o restaurante mais caro da


cidade. Tem certeza que podemos
pagar? Eu não posso ser presa.

Roxanne jogou a cabeça para trás e riu


divertida.

- Hey, fica tranquila. Ninguém vai ser


presa. Eu posso pagar. E quero pagar.

- Por quê?

- Porque você merece. É um


presente...de agradecimento.

- Aí Roxe, não precisava disso. Um


cachorro quente no Central Park estava
ótimo, desde que fosse ao seu lado.

- Bobinha. Vamos escolher o jantar


degustação. Assim eles vão servir
pequenas porções dos melhores pratos
do menu. O que acha?

- Você é alguma mafiosa? E eu não sei?

- Não. Privilégio de ser vampira. Você


acaba juntando muito dinheiro durante
séculos de vida.

- Ahhh Bobinha.
Rayka olhou o menu e tinha pratos de
350 dólares! Teria que vender um rim
para pagar a conta. Não escondeu o
susto, mas achou graça ao vê-la tão
descontraída. E linda. Não soube como
conseguiu largar as mãos dela. Precisou
reunir toda a sua força e autocontrole.

Logo foram servidas e Rayka ficou


olhando para a quantidade de talheres na
mesa e taças e tanta coisa.

- Hey Roxe, quando falei para a gente


brincar de Titanic não era bem sobre
essa parte.

- Qual parte?
- Aquela que o Jack Dawson vai comer
com os ricos. Para que minha nossa
senhora tantos talheres? Só tenho uma
boca!

E ela riu de novo. Percebeu que mais a


frente um homem de terno bem
apresentável a fitava com interesse.

Sentiu-se irritada. Idiota! Tratou logo de


olhar feio para ele.

- Estamos nas entradas, deve-se


escolher o garfo médio. Geralmente ele
está na posição três, contando do seu
prato para fora.
- Certo. Espero que a saída seja mais
generosa Roxe, ou teremos que comer o
cachorro quente no caminho de volta.

Riram divertidas. E Rayka apreciou


cada prato do restaurante chique.
Brindaram com as bebidas adocicadas e
se fartaram com as sobremesas.

Estava tudo muito perfeito. E a última


sobremesa foi lhe entregue pelo próprio
chef. Um verdadeiro Guenguel,
sobremesa cubana feita de milho moído,
açúcar, calda de coco com um toque de
canela. Com a calda estava escrito:

"Te quiero".
Rayka ficou tão emocionada. Não soube
o que dizer. Repetiu gracias, gracias,
gracias sem parar. Esse é um doce muito
comum em Havana. Fazia parte da sua
infância.Trouxe-lhe memórias da sua
família e as lágrimas foram inevitáveis.
Precisou ir ao banheiro recompor-se.

Quando voltou recebeu um abraço


caloroso de Roxanne, e sorriu satisfeita
ao ver a decepção na cara do homem
que as fitava curioso, saíram do local
em seguida.

No táxi conversaram e Rayka soube que


na família de Roxanne eram todos
advogados, juízes, promotores e que sua
família era de muita influência em
Miami.

Seu pai sempre visitava clientes


importantes em Nova Iorque, e foi ele
quem fez a reserva em nome de
Roxanne.

- Espero que tenha gostado Rayka. Não


queria lhe fazer chorar.

- Não, Roxe. Eu fiquei muito feliz.


Obrigada. Nunca tive uma experiência
como essa. Estou mesmo agradecida.
Estava me sentindo muito rica e
importante. Foi inesquecível.

- Que bom. Fico feliz. Mas você é


importante. Você merece.
Rayka apertou suas mãos que estavam
entrelaçadas sobre o banco. E sorriu de
gratidão. Ela não merecia Roxanne e
tudo que fazia por ela. Deixou uma
lágrima cair e ficou aliviada por
Roxanne não perceber. Chegaram em
casa por volta das 11:00 pm O clima
estava um pouco tenso entre elas. Rayka
sentou-se no sofá e tirou os sapatos.

- Eu me diverti muito hoje, Roxe.

- Ainda tenho algo para você.

- Mais surpresas? Não me acostuma


mal, Roxe.
Roxanne saiu da sala tateando as
paredes e voltou instantes depois com
um embrulho nas mãos. Rayka guiou-a
até o sofa ao seu lado.

- Para você.

- Hey, mas não é meu aniversário.

- É um presente de agradecimento.

Rayka abriu o pacote igual a uma


criança em noite de Natal.

- Não precisava Roxe...e..uau! É o que


eu estou pensando? Não!

Rayka ficou estupefata ao ver que era


um iPhone 12 na caixa. Vermelho
cromado. Lindo.

- Gostou?

- Não, Roxe. Isso já é demais. Não


posso aceitar isso.

- Como não?

- Como não? Isso é um iPhone 12! Isso é


muito caro!

- Hey Rayka, escuta. Você precisa de um


telefone.

- Sim, mas não esse...monstro da


tecnologia cibernética.
- Se não aceitar vou ficar ofendida.

- Mas eu não posso pagar por isso Roxe.


Nem se economizar durante um ano.

- Presente não se paga. Além do mais


você precisa para falar comigo. Quase
não aguentei o dia todo sem saber de
você hoje. Então considere uma
obrigação falar comigo usando ele.
Pronto. Resolvido.

- Não sei o que dizer.

- Não diga nada.

Rayka aproximou-se e lhe beijou o


rosto.

- Obrigada srta Mackenzie mandona da


Silva. Prometo lhe telefonar todos os
dias.

Ficaram sentadas no sofá, Rayka ligando


o aparelho tirando fotos toda eufórica,
aproveitou para tirar várias de Roxanne.

- Só mais uma coisinha.

- Ah não. Não aceito mais nada.

- Terá que aceitar.

Roxanne retirou do bolso um pequeno


embrulho.
- Mandei fazer especialmente para você.

- Cada minuto você me assusta mais


vampira.

Rayka abriu a caixinha e ficou vários


minutos de boca aberta olhando para a
jóia. Uma correntilha de ouro com um
pingente em formato de sol. Atrás estava
gravado: My Sunshine.

- Roxe! Eu não acredito nisso. Isso é a


coisa mais linda...eu…

- Gostou?

- Amei. Por favor, ponha em mim. Você


consegue?

- Sim. Venha cá.

Rayka aproximou-se levantando os


cabelos que ela já havia soltado do
coque, permitindo que ela tocasse seu
pescoço.

- Pronto. O que acha?

- Aí Roxe. Ficou tão lindo. Eu não tenho


nenhum presente para você. Não é justo.

- Você já me deu muito mais. Não se


preocupe.

- Eu quero te mostrar uma coisa. Você


pode abaixar o zíper do meu vestido?

- Hum? Quê?

- Não é o que está pensando.

- Não pensei nada.

- Está bem. Então abaixa.

Rayka virou-se e não percebeu o quanto


Roxanne estava desconsertada. Tateou à
procura do zíper e o deslizou lentamente
para baixo.
Rayka deixou seu vestido cair até abaixo
dos seios.

- Quero te mostrar uma coisa. Lembra


quando te contei que fugi da polícia
várias vezes na fronteira com o México?

- Sim.

- Então, na última vez nós fomos pelo


deserto chegando pelo Texas. Lá as
primeiras propriedades americanas são
as grandes fazendas.

Para evitar a entrada de imigrantes


ilegais os fazendeiros põe emboscadas
como poços, covas, cachorros e outras
coisas mais.

- Nossa Rayka. Você passou por isso?

- Sim. E eu cai em uma armadilha de


ursos.

- Mas espera, não tem ursos no Texas.

- Não….são para os imigrantes mesmo.

- Que horror!

- Sim, e eu cai em uma e quase morri.


Porque era velha e enferrujada e sinta
isso. Me dê a sua mão.

Rayka pegou sua mão e colocou sobre


seu lado direito abaixo das costelas e a
fez deslizar sob sua pele marcada.

- Você sente as cicatrizes?


- Sim, são um pouco elevadas.

- Isso porque eu não podia ir para um


hospital, pois seria presa. Então uma
curandeira que estava com a gente no
grupo me tratou com ervas e costurou
minha pele como pode, tudo sem
anestesia.

- Nossa! Rayka...

- Toda vez que me olhava no espelho eu


via uma marca de dor, de sofrimento.
Então eu fiz uma tatuagem em cima.
Cada risco se transformou em um raio e
no centro tem um sol.

O sol na cultura mexicana é símbolo de


renovação. Porque por mais que você
tenha tido um dia de mierda, no outro
dia, no mesmo horário e no mesmo local
o sol voltará a brilhar, dando a você a
oportunidade de fazer diferente.

- Rayka….

- Agora quando eu olho no espelho, eu


não vejo a marca da dor, eu vejo a
oportunidade que a vida me deu de
transformar algo feio em algo símbolo
de esperança e renovação.

- Eu estou sem palavras.

- E você me deu um símbolo de sol.


Você não acha que é por acaso. Acha?
- Eu só sei que você é meu sol.

Rayka sentiu seu corpo todo arrepiar.


Que ligação profunda havia entre elas?
E somado ao fato de sonhar com aquelas
duas esmeraldas afogueadas desde a sua
adolescência, era algo muito marcante e
estarrecedor.

- Eu serei o que você quiser que eu seja.


O que você precisar que eu seja. Eu
serei.

Antes que Roxanne dissesse qualquer


coisa voltou a beijá-la. Tinha plena
certeza que o universo tinha um
propósito em tudo aquilo.
Roxanne não resistiu quando Rayka a
envolveu em seus braços e tomou sua
boca. Se beijaram ainda com maior
sofreguidão do que antes.

Rayka jogou a cabeça para trás


permitindo que ela beijasse seu pescoço
aspirando seu inebriante perfume. Logo
em seguida foi ela que beijou seu
pescoço dando-lhe mordidas de leve
cheia de insinuações que a deixaram
fora de si.

Sua mente não conseguia pensar em


outra coisa que não fosse tocar aquela
mulher. Sentiu as mãos de Rayka
desabotoando sua camisa que foi
arrancada com pressa.

Ela terminou de descer o zíper do


vestido dela sentindo-o cair aos seus
pés. Suas mãos subiam e desciam pelas
costas totalmente nua.

Rayka gemeu baixinho. Estava nua na


sala da sua vampira sexy. Céus!

Colocou a mão no botão da calça dela e


desceu o zíper com urgência. Sentiu uma
certa resistência.

- Está tudo bem Roxanne?

- Eu... é que …
- Hey. Escuta. Está tudo bem. Eu não
quero nada que você não queira.

- Não é isso..é que eu nunca…

- Fez isso com uma mulher?

- É...e..eu não sei..se..

Rayka tornou a beijá-la no pescoço. Mas


Roxanne a afastou.

- Se você não está pronta. Está tudo bem


para mim. Eu entendo. De verdade. Não
quero apressar as coisas. O mais
importante pra mim é estar com você.

- Hurum. Acho que não estou pronta


para avançar . Você entende?

- Vamos fazer o seguinte. Por que a gente


não fica juntinhas e quando você estiver
mais a vontade a gente deixa acontecer?

- Está bem. Obrigada

- Ok. certo.

Rayka pegou as roupas do chão, os


sapatos e o celular.

- Vamos. Você troca de roupa fica mais a


vontade e eu vou fazer o mesmo. A gente
pode conversar um pouco, ouvir uma
música. O que acha?
- Certo.

Roxanne sentou-se na cama com o


coração acelerado a mil. Engoliu a seco.
Estava tão nervosa. Mas Rayka sabia
como acalmá-la. Agora estava sentada
ali ouvindo o chuveiro do quarto dela
ligado. Só conseguia pensar que ela
estava nua a menos de seis metros dela.

Havia recuado, confusa demais com


tudo que sentia e Rayka respeitou.
Achou isso tão fofo da parte dela. Mas a
verdade é que estava totalmente atraída
e a queria.
Só não sabia como demonstrar sem
parecer uma idiota. Durante longos
cinco minutos lutou com a crise de
pânico. Fez exercícios de respiração,
andou de um lado pra outro no quarto.
Precisava criar coragem.

Rayka reapareceu pouco tempo depois.


Tomou um banho rápido porque não
seria possível ficar ao lado da morena
daquele jeito. Não queria apressar as
coisas com ela. Mas também não era de
ferro. Ouviu quando Roxanne ligou o
sistema de som. Resolveu verificar se
ela estava bem.

- Roxe?

Começou a procurar o interruptor, pois


todo apartamento estava no escuro. De
repente sentiu uma mão puxando-a.
- Ai... Roxanne. Que susto!

Sentiu as costas contra a parede e os


lábios dela em seu pescoço, arrepiou-se
toda com a voz quente, rouca e sexy
próxima ao seu ouvido.

- Eu preciso de você Rayka. Seja minha


essa noite?

Oh céus! A vampira sexy a pegou de


jeito. Claro que ela seria.

- Eu sou toda sua Roxanne Mackenzie!

Os lábios se encontraram e dessa vez


pareceu único, cheio de cuidado,
carinho e ao mesmo tempo carregado de
desejo, firme e quente de um jeito que
transportava Roxanne para uma nova
dimensão.

Jogou seus temores para um canto


escuro e remoto da sua mente enquanto
ouvia os gemidos de Rayka sufocados
pela sua boca se intensificarem.

Rayka estava surpresa pela atitude de


Roxanne, sabia que agora não tinha
volta, sentiu seu ventre se contrair ao
sentir a pressão do corpo dela contra o
seu fazendo-a chocar-se com a parede
com força.

Agarrou-a pela nuca puxando levemente


seu cabelo o que a fez gemer
guturalmente. Precisava pensar com
calma. Essa era a primeira vez de
Roxanne, queria que fosse especial,
como poderia lhe render uma noite
inesquecível de prazer sem poder contar
com os recursos visuais? Teve uma ideia
e se afastou um pouco segurando-a pelos
ombros.

- Hey...Roxe, escuta. Eu preciso pegar


uma coisa na cozinha. Já volto.

- Na cozinha? Isso é sério?

- Não se mexe querida. Um minuto...

E ela saiu correndo. Abriu a geladeira e


aliviada constatou que ainda estavam ali
intactos, lavou-os colocou em uma
vasilha. Pegou uma garrafa d'água e
voltou.

Acendeu as pequenas luzes da sanca do


quarto e a viu encostada lindamente na
parede, iluminada com a cor dourada
das luzes leds. Deusa grega! Seu rosto
estava levemente corado. Puxou-a pela
mão.

- Trouxe água. Acredite, vamos precisar.

- Sério?

- Não subestime meu fogo Roxanne.


Dizendo isso puxou-a para si.

- Não sabe como esperei por esse


momento.

Tomou seus lábios novamente enquanto


suas mãos alcançaram sua camisa que
ela tornara a vestir.

Dessa vez ela não se opôs, e Rayka


abriu botão a botão admirando o corpete
branco meia taça que modelava
perfeitamente seus seios firmes e fartos.

- Roxanne... - gemeu - você é tão


linda...e sexy. Oh meu Deus!

Roxanne não disse nada. Rayka entendia


que ela deveria estar um pouco insegura,
mas estava disposta a acabar com toda a
resistência da sua morena de olhos
verdes.

- Escuta Roxe. Quando não quiser ou


não gostar de algo, basta dizer não. Não
é não. E eu paro.

- Não pára!

Era tudo que ela queria ouvir. Com


certeza deve ter quebrado o zíper da
calça tão rápido se desfez dela.

Abriu o zíper do corpete deixando-o


cair aos seus pés enquanto admirava
aqueles seios alvos como a neve.
Não resistiu e tocou-os com as duas
mãos de maneira suave, mas firme.
Fazendo questão de observar as
expressões no rosto dela enquanto seus
polegares circulavam os mamilos
levemente enrijecidos.

- Gosta? - Perguntou com a voz baixa e


provocativa.

- S..i..m...

Rayka não resistiu aquela voz, era


elouquecedora. Tratou logo de arrancar
o pijama que vestia atirando-o para
algum lugar daquele quarto. Fez o
mesmo com a parte de baixo, ficando
apenas de calcinha na frente dela. Pegou
as mãos dela e as guiou até seus
próprios seios.

- Você pode me tocar se quiser.

Roxanne sentiu-se como um astronauta


no espaço sem a força da gravidade.
Flutuando entre o que era real e o
turbilhão de emoções que a tomaram.

Não saberia descrever nem daqui a cem


anos a sensação de tocar Rayka daquele
jeito. Sentiu seu próprio corpo
estremecer ao tocar os seios da Latina,
que não eram nem grandes nem
pequenos, mas na medida certa das suas
mãos, sua pele era extremamente macia
e convidativa ao toque.

Percebeu os sussurros dela e isso ativou


alguma corrente elétrica por dentro das
suas veias.

Rayka chegou ao seu limite. Precisava


experimentar sua vampira em cada
detalhe do seu corpo lindo e esbelto. Foi
empurrando-a levemente para a cama
enquanto tomava seus lábios
mordiscando-lhes.

Empurrou a morena para a cama gigante,


ela não se opôs escalou seu corpo com
sua mão, língua e olhos. Tudo ao mesmo
tempo. Tateou o criado mudo achando os
morangos maduros e gelados que pegara
a pouco. Deu uma mordida na fruta
gelada e esfregou nos lábios quentes
dela. Ela gemeu baixinho.

Sentou-se em seu quadril, pegou mais


uma fruta gelada, mordeu e fez um
caminho descendo pelo pescoço,
passando pelo colo, o vale entre os
seios e parou sobre um deles besuntando
o bico já enrijecido.

Refez o caminho novamente dessa vez


com a língua limpando todo o suco da
fruta. Quando alcançou o seio demorou-
se ali sugando-o com sofreguidão ao
mesmo tempo que acariciava o outro
delicadamente. Era uma sensação
inebriante, avassaladora, não conseguiu
conter a excitação que umedecia entre
suas pernas, mas não parou.

Roxanne agarrou-se aos lençóis com


força temendo que seu corpo
literalmente fosse consumido pelo calor
que a devorava sem piedade.

Sua respiração ficou mais rápida, seu


coração acelerou as batidas quando
sentiu a língua ousada e quente da Latina
subindo e descendo pela sua pele em
contraste com o suco da fruta gelada.

Em seu ventre uma aglomeração de


desejo teimava explodir a qualquer
momento. E ela ainda fez a mesma coisa
agora com o outro seio. Roxanne sentiu
extrema urgência em ter Rayka em
contato com sua intimidade.

Tateou o corpo curvilíneo escorregando


as mãos até encontrar suas nádegas
arrebitadas e cravar seus dedos
lascivamente ali puxando-a com ímpeto.
Deu resultado porque ela gritou seu
nome lânguida.

- Oh Roxeeeeeeee!

Rayka foi descendo sobre aquele corpo


delirante até ficar entre as pernas de sua
vampira, sabia que ela a queria. Seu
corpo dizia isso. Lentamente deslizou a
peça íntima branca rendada que era sua
última barreira. Cheirou sua intimidade,
e esse gesto ativou sua líbido para o
nível master, antes de arrancar a peça e
lançá-la para Marte. Percebeu que ela se
contorceu sexy na cama. Pegou mais uma
fruta e se posicionou entre as pernas
dela e com as mãos acariciou suas coxas
grossas e firmes.

- Raykaaaaa

Seu nome nunca soou tão bem na boca


de alguém como na dela. A voz rouca e
envolvente.

- Abre as pernas para mim vai...

Pediu carinhosamente. Ela não se


moveu. Começou a beijar suas coxas e
dar pequenas mordidas enquanto ia
subindo...subindo...

Então sentiu as mãos dela impedi-la de


continuar.

Roxanne gemeu com a voz de Rayka


sexy e melosa. Mas lembrou-se das
marcas horríveis em suas coxas e
travou. O ar começou a fugir de seus
pulmões. Uma crise de pânico ameaçava
tomá-la.

- Roxe???

Rayka percebeu a hesitação quando ela


tentou esconder suas cicatrizes com o
lençol.
- Hey... Roxe. Está tudo bem. Elas são
parte de você, mas não te definem.

- São uma parte ruim que eu prefiro


esquecer.

- Não dá. Lembra da minha tattoo do


sol? O que eu disse para você? É olhar
para um símbolo de dor e transformá-lo
em algo de esperança. Cicatrizes são
marcas de guerra, mas significa que
você sobreviveu. Mostra o quanto você
é humana. Deixe-me te mostrar como
curar cada uma delas?

Dizendo isso começou a beijar cada


marca de corte. Quando ela virou a
cabeça para o lado viu lágrimas no seu
rosto. Mas não parou. Continuou
acariciando-a e beijando-a sobre as
marcas de navalha. Foi sentindo seu
corpo relaxar aos poucos. Escalou
novamente até alcançar sua boca.
Segurou seu rosto carinhosamente e
fitou-a nos olhos verdes de pantera.

- Você é linda. Perfeita! Nunca duvide


disso. Ouviu?

Deu-lhe um beijo suave sobre os olhos,


testa, nariz, até alcançar-lhe os lábios.
Foi surpreendida com a declaração
quase susurrada:

- Eu te amo Rayka!
Rayka sentiu uma vertigem. Piscou
vários segundos antes de fitar novamente
aqueles olhos verdes que pareciam
enxergar sua alma, mesmo que não
pudessem vê-la fisicamente. Uma
felicidade desconhecida a invadiu.

- Eu também Roxanne. Te amo do fundo


da minha alma. Deixa eu te amar?

Roxanne inclinou-se e tomou seus lábios


em um beijo cheio de confissões
enquanto a puxava para si.

- Sim. Eu deixo, quero ser sua hoje.

Céus! Rayka sentiu sua intimidade


entumecer diante da declaração. Tocou
suas coxas e dessa vez ela não a
impediu.

- Roxanne, você sabe acabar com o


controle de uma mulher.

Espremeu o morango na mão e traçou


uma rota do umbigo até o centro do seu
prazer. Começou a lamber e a sugar até
tocar o ponto mais sensível da sua
intimidade.

Sentiu o nervo já enrijecido. Toda sua


entrada estava molhada provocando um
frenesi de excitação nela. Abriu bem as
pernas de Roxanne para ter mais contato
e começou a sugá-la com vontade. O seu
gosto era incrível! Era uma mistura de
mel, com morango, com uma pitada
salgada.

E Roxanne nunca experimentara nada


como aquilo. As descobertas de pontos
sensíveis do seu corpo que ela nem
imaginava que pudesse sentir, a
sacudiam em um mar de sensações.
Sentiu seu ventre se contrair.

A língua quente de Rayka brincava com


seu clitóris, ora tocando levemente, ora
sugando com ímpeto. Sentiu quando ela
introduziu a mesma em sua entrada
incrivelmente molhada. Não sabia que
poderia ficar tão molhada a ponto de
sentir escorrendo. Mas sabia que tinha
mais e não queria mais esperar, queria
sentir tudo que aquela Latina era capaz
de proporcionar.

- Raykaaaaaa.

- Hum.

- Por favor, eu...

Rayka parou de sugá-la um instante para


fitá-la.

- Fala amor. O que você quer? Preciso


que me diga. Assim que você quer?

Madre de Dios! Ela a tocou com os


dedos começando masturbá-la.
- Rayka...

- Ou assim?

Dedos ávidos e língua ao mesmo tempo


e Roxanne se contorceu gritando seu
nome, começou a rebolar em sua boca
involuntariamente.

- Fala Roxe...

- Eu quero que você me faça sua, agora!

- Isso! Palavra mágica, seu desejo é uma


ordem.

Sem hesitar tocou sua entrada


introduzindo dois dedos se
movimentando com eficiência em um vai
e vem constante, ao mesmo tempo que
seu opositor continuava estimulando seu
nervo rígido.

Enquanto ouvia os gritos e espasmos


da morena totalmente entregue encaixou-
se em sua coxa grossa e começou a
estimular sua própria intimidade sem
diminuir as estocadas cada vez mais
rápidas.

Sentiu as unhas dela cravarem em seus


ombros e descerem até suas nádegas e
começar a puxá-la em um vai e vem
frenético. Ali perdeu o último resquício
de juízo. Começou a gemer e a gritar
junto com sua morena.

- Rayka...eu vou...eu vou...

- Calma amor, eu preciso provar você.

Antes que Roxanne explodisse colocou a


boca em sua entrada esperando o
resultado do ápice que se anunciava. O
ventre dela se contraiu e Rayka sentiu
seu cabelo ser puxado enquanto colhia
seu mel até a última gota.

Segundos depois sentiu o seu também


descer pelas coxas grossas dela
cobrindo suas cicatrizes com a prova do
seu amor. Escalou o corpo da sua
morena que ainda arfava e beijou-lhe os
lábios ainda molhados com seu gosto
feminino e quente.

- Eu te amo Roxanne.

Deitou sobre seu coração ouvindo as


batidas elevadas no mesmo ritmo que o
seu. John Legend cantava All of me.

Roxanne abraçou-a fazendo carinho em


suas costas enquanto a respiração
voltava ao normal lentamente, e o corpo
lânguido de ambas se extasiavam.
Ficaram em silêncio ouvindo algumas
verdades que elas não precisavam dizer
uma a outra.

"Porque tudo de mim


Ama tudo de você

Amo as suas curvas e seus


contornos

Todas as suas imperfeições


perfeitas

Me dê tudo de você

Eu darei tudo de mim para você

Você é o meu fim e o meu começo

Mesmo quando eu perco estou


ganhando
Porque eu te dou tudo de mim

E você me dá tudo de você"

- Rayka?

-Hum

- Preciso daquela água.

Riram juntas enquanto brincavam de


beber água uma na boca da outra.
Comeram os morangos e ficaram se
acariciando anestesiadas de prazer.

- Você é tão linda Roxe. Não me canso


de olhar você. Eu nunca vou me cansar
disso. Poderia passar a vida toda só te
admirando.

- E você também é. E eu nunca vou me


cansar de sentir você assim. Gostaria
muito de ver seu rosto, pois sei que ele é
perfeito. Mas te sentir assim é algo
inexplicável.

Começou a desenhar em seu corpo


fazendo movimentos circulares.

- Você é muito quente, Roxe.

Falou em seu ouvido provocativa. Viu-a


corar levemente.

- O que achou da sua primeira vez com


uma mulher?
- Perfeita, pois é com a mulher que amo.

- Por que você tem que ser tão perfeita


sua vampira maldita? Você acaba
comigo assim.

Beijaram-se e logo estavam arfando


novamente.

- Rayka, eu quero provar você!

- Oi? Roxe, não precisa...olha eu...

- Eu quero! Eu preciso!

Dios mio!
Em um único movimento Roxanne já
estava sobre si descendo por entre suas
pernas que ela prontamente abriu, já
sentindo seu íntimo latejar de
antecipação.

Quando sentiu a boca quente dela sugá-


la com avidez não conteve um grito de
prazer.

- Você aprende rápido hein sua


pervertidazinha?

Roxanne agarrou-se em suas coxas


firmemente enquanto a Latina rebolava
frenética em sua boca. Só pensava em
retribuir pelo menos a metade do prazer
que ela lhe dera. Seguiu seus instintos
mais primitivos, e ouviu-a choramingar.
Parou imediatamente.

- Amor?...estou te machucando?

- Não, não, não pára...por favor


continuaaaa

- Mas você está chorando...

- Não é choro acredite...aí..pelo amor


Roxe...continua agora ou eu vou chorar
de verdade...porra!

Rayka gemeu segurando a cabeça dela


entre suas pernas para garantir que ela
não iria parar. Quando sentiu que o
prazer se aproximava empurrou-a para o
outro lado da cama gigante encaixando
seus sexos molhados e segurando uma
de suas pernas firmemente em seu ombro
começando a rebolar com urgência.

Seus corpos quentes suavam e Rayka


não resistiu a imagem daquela mulher
linda rendida a ela tendo sua pele alva
iluminada pelo luar que adentrava pelas
persianas abertas.

Roxanne agarrou-se aos seus cabelos.


Por Deus! Ela tinha algum fetiche com
seu cabelo! Será que amanheceria com
eles ainda? Gritou forte.

- Desculpe, eu...
- Pode puxar...eu gosto. - Disse rindo.

Não demorou para seus corpos se


derreterem em um ápice épico marcado
por muita entrega, carinho e amor
genuíno.

Chegaram no paraíso juntas e perderam


a passagem de volta!
Capítulo 16 - Flores
para você
Nova York, 6:34 am

Antes que o despertador soasse Rayka


acordou. Alguns pequenos raios de sol
tocavam o corpo da sua vampira sensual
que estava desmaiada ao seu lado. De
bruços, cabelos escuros espalhados pelo
travesseiro tendo apenas uma parte das
nádegas cobertas pelo lençol branco.

- Que visão!

Levantou sem fazer barulho, como a


cama era gigante, Roxanne nem se
mexeu. O quarto estava uma desordem.
Sorriu ante às lembranças das últimas
horas.

Ao tocar o chão sentiu dores em todo


corpo. Uma dor gostosa, muito gostosa
tinha que dizer. Saiu recolhendo as
roupas e enfiando no cesto. Ao chegar
no banheiro se olhou no espelho.

- Hija de una perra!


Estava toda marcada com chupões e
mordidas. Teria que passar base para
trabalhar. A sua vampira exauriu suas
forças, se essa fora sua primeira vez,
nem imaginava como seriam as
próximas. Como queria que hoje fosse
sábado. Escovou os dentes e ligou o
chuveiro no box. Mas não podia se dar
ao luxo de perder um dia de trabalho.

Como trabalhar depois de uma noite


daquelas? Quando finalmente foram
dormir o relógio já marcava cinco da
manhã. Ou seja, ela só descansara os
olhos. Mas não se arrependia nenhum
pouco. Foi a melhor noite da sua vida.
Roxanne dissera que a amava. Como não
se apaixonar? Estava louca por aquela
vampira.

Esperava que ela realmente tivesse


gostado de fazer amor com ela. Porque
ela não poderia mais viver sem sentir
aquelas sensações de novo. Passava
shampoo nos cabelos quando ouviu o
box sendo aberto.

- Roxe?

- Posso tomar banho com você?

Riu divertida vendo ela já entrando e


fechando o box, não antes de bater o
nariz nele.

- Desde que se comporte. Não posso


perder a hora e você também não.

- Vamos brincar de Titanic?

- Titanic? Qual parte?

Rayka assustou-se ao ser erguida no ar.


Entrelaçou-a com as pernas e sentiu as
costas bater no azulejo gelado.

- Aquela que eles embaçam os vidros.

- Ui!

Centro de Apoio aos Alcoólatras,


10:15 am

Roxanne estava realmente tentando


prestar atenção na reunião, mas a sua
mente não colaborava. Ainda bem que
não enxergava mesmo, não tirou os
óculos escuros e na verdade estava era
com os olhos fechados.

Seu corpo estava todo dolorido e a


sensação era boa porque a fazia
recordar dos motivos. A boca de Rayka
beijando cada parte do seu corpo, suas
cicatrizes, sua língua ousada sugando-
lhe os seios...hummm

- Srta Mackenzie?

- Hã? - Alguém a tocou. - Oi.

- Estou vendo que está tão radiante hoje.


- Ah...é verdade. Eu me sinto bem. Dra.
Mendez. Muito bem.

- Fico feliz. Aquele seu discurso da


semana passada foi realmente
inspirador. Gostaria de lhe fazer um
convite.

- Qual seria?

- Sexta-feira teremos a despedida de um


grupo de participantes que cumpriu todo
o programa. Como se fosse uma
formatura da recuperação.

- Que legal.
- E visto que a senhorita arrasou
cantando na semana passada, eu gostaria
de saber se não estaria disponível para
fazer uma pequena apresentação para
todos familiares e amigos.

Vamos ter comes e bebes, nada


alcoólico, é claro. Faremos uma festinha
de despedida. O que acha?

- Eu não sou profissional Dra Mendez.


Mas ficaria feliz em ajudar.

- Ótimo! Que bom. Pode trazer sua


família também.

- Que bom. Que horas será?


- Às sete da noite.

- Combinado.

- Muito Obrigada srta Mackenzie. Será


um grande incentivo para esses jovens.

Hospital Santa Maria, 11:40 am

Roxanne pegou o resultado dos últimos


exames e aguardava ser atendida pelo
Dr. Sanchez.

Enquanto aguardava recebeu a


mensagem de Rayka. Não aguentou
esperar para ouvir.
"Oi amor, estou no horário do
almoço e testando o celular. Só queria
que soubesse que já estou com
saudades.
Vou chegar um pouquinho mais
tarde, pois visitar a Alana na creche.
Mas pode me esperar nua na cama
para agilizar o processo...
até mais. Beijos"

Roxanne corou violentamente tentando


ao mesmo tempo diminuir o volume do
aparelho. Esperava que ninguém tivesse
ouvido. Colocou na lista: Comprar fones
de ouvido urgente. Para a sua sorte o Dr.
Sanchez chamou seu nome em seguida.

Saiu de lá já com a carta de autorização


para a internação para a sua primeira
cirurgia da primeira etapa da pesquisa.
Antes de voltar para casa comprou um
buquê de rosas na cor champanhe para
Rayka.

Nunca comprara uma flor sequer, mas


estava tão sacudida pelas sensações
novas que a Latina a fazia sentir que
achou muito bom aquele frenesi de lhe
fazer um agrado.

A florista disse que eram as mais


bonitas do dia. Esperava que ela
gostasse.

Universidade Rochester, 17:35 pm


Rayka aguardava sua vez de ser atendida
pelo Coordenador acadêmico do curso
de Música da Universidade Rochester.
Havia marcado desde a semana passada.
Esperava ter êxito na sua tentativa de
ajudar Roxanne.

- Boa Tarde srta. Rivera. Seja bem


vinda. Em que posso lhe ser útil?

Um senhor de uns 55 anos de cabelos


grisalhos vestido formalmente em um
terno azul escuro, sorriu e lhe estendeu a
mão.

- Boa tarde sr. Conner. Feliz em ser


recebida. Sei que o senhor é muito
ocupado.
- Quando disse que era sobre a srta
Mackenzie, fiquei curioso, confesso. Há
anos não temos notícias dela. Apenas
soubemos do fatídico acidente.

- É verdade. Bem, resumindo ela está se


recuperando maravilhosamente bem.

- Fico muito feliz em saber disso. É uma


moça excepcional.

- Com certeza. Eu vim pedir ao senhores


a reconsideração da bolsa que ela
infelizmente teve que abandonar. Agora
que ela está bem de saúde, acredito que
seria um incentivo ainda maior para sua
total recuperação.
- Mas, ela não ficou cega srta Rivera?

- É verdade. Mas, continua tocando e


cantando magnificamente e dentro de
alguns meses estará enxergando
novamente.

Rayka passou mais meia hora


explicando o tratamento de Roxanne, a
situação difícil que ela passou e como a
música poderia ajudá-la até mesmo a
recuperar a visão.

- Bem srta Rivera, não temos problema


nenhum em receber pessoas deficientes,
se ela já se adaptou a sua condição e
não tem dificuldade com isso, não vejo
impedimento nenhum. A única condição
seria refazer os testes. Afinal ela
deveria concorrer com os demais
normalmente.

- Claro que sim. Ela também jamais


aceitaria que fosse diferente. Eu trouxe
alguns áudios e vídeos dela recentes e
antigos para que o senhor faça a
comparação.

- Ótimo. Eu mesmo indiquei Roxanne


Mackenzie para nos representar em um
programa revelação de talentos. Ela
estava perfeita. Sua voz é totalmente
fora do comum e suas habilidades
musicais eram impecáveis. Além do
mais era excelente em suas notas e
apresentações.

- Tenho certeza que só melhorou.

- Obrigada srta Rivera. Vou levar a


questão ao conselho e entramos em
contato.

- Obrigada sr. Conner. Será uma honra


depois comemorarmos o desempenho
dela nas maiores gravadoras desse país.

- Assim espero. Adoro ajudar pessoas


talentosas.

Rayka saiu dali ainda mais confiante do


que chegara. Caminhou pela 48th e tinha
uma sensação estranha. Como se
estivesse sendo observada. Parou em
uma barraquinha de flores e resolveu
levar um mimo paraRoxanne. Nunca
comprara uma flor na vida, nem ganhara
também. Mas estava tão radiante que
achou inspirador.

Escolheu, claro, um girassol. Era como


se sentia. Buscando sempre a luz e
virando as costas para o que não lhe
agradava. E sua luz era bem branca de
olhos verdes de pantera. Recebeu uma
mensagem no celular, ainda não tivera
tempo de ver todas as mensagens desde
o dia que perdeu seu celular, quando
colocou o chip a caixa de mensagens
disparou.
Ligou apenas para a mãe que já estava
preocupada. Mandou uma mensagem
para Roxanne e leu a mensagem da Sra
Smith avisando que Alana não tinha ido
a creche naquele dia. Ficou triste.
Queria muito vê-la. Não via hora de tê-
la ao seu lado de uma vez por todas. No
dia seguinte iria vê-la sem falta. Iria
pedir a Sra Smith uma saída para levá-la
ao cinema.

Como o apartamento de Roxanne era


próximo ao centro foi andando mesmo.
Precisava economizar para sair com
Alana. Andou dois quarteirões e achou
algo estranho. Ela era muito detalhista e
observadora.
Quando estava na barraca de flores viu
um rapaz alto de boné preto encostado
no ponto de táxi. Ele a observou quando
ela passou por ele, mais que o normal.
Agora dois quarteirões a frente ele
acaba de virar a esquina na sua frente.
Caminhou um pouco mais rápido para
alcançá-lo e tirar essa dúvida se
realmente estava sendo observada.
Chegou na esquina tinha uma banca de
jornal. Fingiu ler alguma coisa, mas
estava atenta a rua. Nada.

Pára Rayka. Que paranóica. Não é


nada.

Voltou ao seu caminho pela calçada


larga e lotada de gente apressada na
avenida 47 th. Mal tinha dado dois
passos sentiu um braço envolver seu
pescoço tapando sua boca.

- Não diga nada. Se fizer qualquer


movimento estará no freezer ainda hoje.

Em algum lugar de Nova York, 6:44


pm

Rayka sentiu o sangue congelar em suas


veias. Sabia que precisava obedecer se
quisesse sair daquela situação viva. Foi
empurrada para dentro de um carro que
rapidamente saiu das avenidas
principais entrando em vielas mais
vazias e longe do centro.
- Onde ele está?

- Se você souber terei que te matar.

Resolveu se calar. Sabia que aquele


rapaz, que era até jovem demais para
estar naquela vida errada, era apenas um
comparsa de PJ. O carro parou em uma
das vielas já escuras.

Só queria poder avisar a comandante


Torres. De repente o celular do que
estava dirigindo tocou. Ele passou para
o segundo que estava ao seu lado no
banco de trás.

- Atende.
Pegou o celular e sua mão tremeu, antes
mesmo de ouvir a voz de PJ tão bem
conhecida por ela.

- Alô?

- Olá Latina Vadia! Que saudades estava


de você.

- O que você quer PJ?

- Eu que pergunto Rivera. O que você


pensa que está fazendo?

- Como assim?

- Hum...vou refrescar sua memória.


Primeiro você foge com a minha filha.
Minha ok? Quando eu te encontro para
pegar o que é meu, você tenta me matar.
E foge. Agora depois de oito meses
você reaparece visitando a minha filha?

- Que eu me lembre ela é minha


sobrinha.

- Você matou sua irmã Rivera. Quer


arruinar a vida da Alana também?

Sentiu o sangue ferver, como ele poderia


falar assim da sua irmã? Ela estava
morta por causa dele!

- Você a matou PJ. Não eu. E eu só


quero o melhor para a Alana e o melhor
não é você.
- Aprendeu a enfrentar agora Rivera? -
Ele riu com desdém. - Sua irmã chegou
em casa transtornada por sua causa,
dizendo que você só sabia cobrá-la,
ameaçá-la, humilhá-la. Comparando-a
com você todo tempo.

Ela queria aliviar a carga que você a


fazia carregar. Eu não conseguia mais
controlá-la.
Rayka sabia que ele estava jogando.
Resolveu só concordar. Se tentasse dizer
a verdade poderia morrer.

- E o que vai fazer agora?

- Eu não quero te matar sua vadia suja


mexicana. Vou te dar uma opção. Se
você for ver a minha filha de novo, eu
vou te mandar de volta para o deserto do
México.

Apenas um telefonema para a Imigração


sobre uma latina com documentos falsos
e uma ficha suja cometendo crimes de
vendas de drogas.

E se tentarem tirar a minha filha de


mim...Você vai presa por tráfico e
tentativa de homicídio. Será deportada
presa e nunca mais pisará na América.

Rayka soltou o ar dos pulmões


lentamente, arrepiou-se por inteira. Mas
manteve silêncio.
- E se não resolver e você insistir em
atrapalhar minha vida, sim, você está
atrapalhando...por sua causa a polícia
está no meu encalço.

Se não resolver uma pobre moça cega


pode sofrer um acidente. Afinal Rivera,
acidentes acontecem o tempo todo.

- Hey...alô???

Rayka sentiu o coração perder uma


batida no compasso. Antes que pudesse
dizer ou fazer alguma coisa sentiu-se
empurrada para fora do carro que saiu a
mil cantando pneu. Ela caiu na calçada
sentindo uma dor alucinante no tornozelo
direito.

Droga!

Limpou a roupa e pegou sua bolsa do


chão. Quis chorar, mas não havia tempo
para isso.Tentou se localizar voltando
para a parte mais movimentada. Acenou
para um táxi e entrou rapidamente.
Arrumou o arranjo de girassol. Pegou o
celular na bolsa.

- Boa Noite. Comandante Torres? Aqui é


Rayka Rivera.

Nova York, 7:55 pm

Roxanne estava impaciente. Já havia


deixado duas mensagens para Rayka na
caixa postal. Ela avisou que iria
demorar, mas não tanto assim. Conferiu
as horas novamente.

Pegou o celular para tentar mais uma


vez. Não sabia se estava sendo
exagerada. Nem entendia o tipo de
relacionamento que tinham ainda, mas já
sabia que não gostava de imaginá-la
demorando porque saiu com Thomaz,
com uma amiga ...Aff, iria ter uma
ataque se ela saiu com uma ex.

Rayka respirou fundo antes de subir para


o apartamento de Roxanne. Conversou
com Callie. Marcou de encontrar-se com
ela no dia seguinte e concordaram que
seria melhor não preocupar Roxanne,
afinal ela poderia cair em uma crise e
essa era a última coisa que Rayka
queria. Bateu na porta e tentou ser o
mais normal possível.

Roxanne pulou do sofá ao ouvir as


batidas. Graças a Deus! Só podia ser
ela. Abriu a porta e sentiu o cheiro
peculiar de morangos.

- Rayka...eu estava preocupada.

- Desculpa meu amor.

Rayka abraçou-a pelo pescoço.

Só de imaginar que alguma coisa


poderia acontecer com ela...sentiu seu
coração disparar. Tentou engolir o
choro. Mesmo assim uma lágrima
desceu. Felizmente ela não percebeu.

- Senti sua falta. - Roxanne beijou-lhe no


rosto.

- Eu também. Eu trouxe isso pra você.

- Oh...uma flor? - disse ao tocar.

- Sim, tente adivinhar qual.

Roxanne tocou levemente o arranjo para


não deformar a flor.

- Hum...My Sunshine. É um girassol!


- Isso. Você gosta?

- Eu amei. Me lembra você. Obrigada.

Abraçaram-se e Rayka se aconchegou no


seu ombro suspirando.

- Por que não vai tomar um banho? Eu


vou esquentar o jantar. Jess deixou
pronto no forno.

- Ok. Já volto.

Quando chegou no quarto que estava


ocupando tinha um arranjo lindo de
rosas cor champanhe em cima da cama e
um bilhete.
"Onde faltam palavras as flores
falam. Se precisar eu enfrento o
mundo
com uma mão só, se tiver certeza
que estou segurando a sua com a
outra. Senti sua falta".
Sua Roxe

Rayka não suportou a carga emocional


que estava testando suas forças. As
lágrimas desceram copiosamente.
Percebeu a letra cuidadosamente
desenhada em um papel sem linhas,
demonstrando que Roxanne fez com o
próprio punho necessitando de muita
dedicação a isso.
Entrou no box e ligou o chuveiro para
que ela não percebesse seus soluços.
Chorou. Chorou por Sophia, pelas
coisas horríveis que ela sofreu antes de
morrer, chorou por Alana tão pequena e
indefesa já sofrendo sem uma família
para lhe apoiar.

E chorou pela ínfima possibilidade


sequer de Roxanne sofrer algum tipo de
retaliação por sua causa. E chorou por si
mesma. Por não entender porque o
universo não alinhava a sua vida de uma
vez. Parecia sempre ser jogada para o
solo após a decolagem. Até quando
resistiria? Até quando iria fugir da
polícia, de PJ?
Queria muito contar tudo para Roxanne,
mas temia pela sua segurança, sua
saúde. Logo agora que ela estava
melhorando. Não poderia arriscar, a
cirurgia estava próxima.

Deixou o chuveiro levar seus medos,


suas dores, sua raiva. Roxanne
precisava dela e não deixaria que nada a
atingisse. Perdeu Sophia, mas Roxanne
não perderia. Ainda que isso
significasse se afastar dela. Se arrumou
depressa e tratou de disfarçar suas
angústias. Tinha uma mulher
maravilhosa na cozinha esperando por
ela. Pegou o arranjo e saiu.

- Roxe?
- Oi!

- Pode me dizer que história é essa?

- Achou? E gostou?

- Não dá pra competir com você. Eu


trouxe uma flor e chego aqui tem um
arranjo enorme de rosas.

- Não estamos competindo. Estou feliz


que pensou em mim enquanto eu pensava
em você.

- Isso é verdade. Obrigada Roxe. Esse


cartão me deixou emocionada. Eu amei.
É a primeira vez que ganho flores. Acho
que comecei no nível master. E eu quero
segurar sua mão sempre.

Rayka colocou o arranjo na mesa e


abraçou-a por trás.

- Que bom que gostou. Eu também


gostei. É a primeira vez também que
alguém me dá uma flor sem ser meu pai.

- Pois se depender de mim vai ganhar


sempre. Porque você merece ser
mimada todos os dias.

- Agora vem aqui.

Roxanne sentou-se no sofá e a puxou


para seu colo. Abraçou-a como se ela
fosse um bebê.

- Eu quero saber por que você está


triste. Não diga que não está porque eu
sei.

- Não é nada, não se preocupe.

- Hey... estamos juntas nessa. Pode me


contar qualquer coisa. Deixa eu cuidar
de você também.

Rayka começou a chorar. Tinha que ser


forte. Mas como?

Roxanne abraçou-a forte fazendo


carinho em seus cabelos. Oh céus! Não
sabia porque ela estava assim. Mas
sentiu uma vontade de protegê-la de tudo
e de todos. Quem quer que fosse o
responsável por aquele choro tinha seu
ódio declarado.

- Calma Ray. Vai ficar tudo bem.

- Obrigada Roxe.

Rayka ergueu a cabeça e a fitou.

- É que eu estou preocupada, só isso.

- Com o quê?

Roxanne limpou suas lágrimas.

- Alana não estava na creche, já tem


dois dias que ela não aparece.

- Oh...e a sra Smith? Ela não sabe?

- O pai dela é um bandido. Traficante.


Muito perigoso. Ele soube que eu estou
tentando a guarda dela. E eu acho que
ele vai sumir com ela novamente. Como
na outra vez.

- Hey. Não fica assim. Nós vamos dar


um jeito. Meu pai é advogado de muita
influência. Vamos procurar o caminho da
justiça para resolver isso. Está bem?
Amanhã eu ligo pra ele para saber um
caminho. Talvez ele possa ajudar a sra
Smith. Vai dar tudo certo.
- Sério mesmo Roxe? Você faria isso
por mim? Eu não posso pagar por…

- Shiuuuu. Quem falou em pagar?


Estamos juntas nessa.

- Obrigada Roxanne. Eu te amo.

- Também te amo.

Rayka não mentiu. Estava mais aliviada


por desabafar, e se ela pudesse ajudar
com um bom advogado seria uma coisa
muito importante para ela. Queria poder
contar tudo. Mas não era o momento.

Beijaram-se ternamente.
E ela nunca se sentiu tão segura como
agora naquele colo.

Starbucks, 9:06 am

Rayka estava muito inquieta. Tivera uma


crise de ansiedade logo cedo. Estava
muito preocupada com tudo. Com
Roxanne, Alana e consigo mesma.
Precisava tomar muito cuidado dali em
diante para não causar mais danos além
do que era inevitável. Roxanne estava
sendo muito importante em sua vida. A
forma carinhosa com que cuidara dela
na noite passada a tinha tocado
profundamente.

Talvez por sempre ser sozinha não


imaginava mais como era bom ser
cuidada por alguém. Sentiu-se a mulher
mais amada do mundo ao ser carregada
no colo para o quarto, mesmo batendo a
cabeça em vários móveis porque dizia a
Roxanne direita quando era a esquerda e
vice versa. Dormiu em seu peito
ouvindo seu coração e descobriu que ali
se sentia completa.

Por isso precisava agir com muita


cautela. Respirou aliviada quando a
porta do café abriu e a policial se
aproximou.

- Bom dia srta Rivera.

- Comandante Torres. Bom dia. Por


favor, vamos sentar mais lá nos fundos.

- Ok. Pode me chamar de Callie.

- Certo. E eu de Rayka. Thomaz...me dá


uns minutos?

- Vai lá Latina. Está calmo por aqui.

- Obrigada. Te devo essa.

Sentaram em uma mesa mais reservada.

- Callie, estou muito preocupada.

- Calma. Precisamos traçar um plano


para que ele mesmo acabe facilitando
nosso trabalho. Está nítido que ele está
ficando sem opção.

- Sim, ele está desesperado.

- Já sabemos onde a Alana está.

- Graças a Deus!

- Sim, ela está bem e com uma mulher


que aparentemente cuida bem dela e de
mais dois filhos que ela tem dele.
Parece que eles não vivem juntos, mas
ele sustenta essa mulher e está em uma
casa até confortável.

Mas, é claro que não é o ideal.


Conversei com a sra Smith e o Estado já
fez o pedido de tutela dela. Ele já deve
ter ficado sabendo da notificação e está
desesperado.

Ele tem trinta dias para voluntariamente


atender o pedido, ficando livre de
punição e podendo visitar a filha e tudo
mais. Acontece que ele está foragido. O
que significa que ele não verá a filha tão
cedo. Por esse motivo ele a escondeu.
Mas a justiça pode simplesmente ir lá e
retirá-la a qualquer momento.

- Isso é ótimo.

- O problema é que estamos


preocupados com você.

- Ele me ameaçou. Eu sei. Você sabe que


podem me deportar a qualquer momento.
Ele disse que vai me denunciar e
implantar falsas provas de tráfico e de
sei lá o que mais.

- Sim, mas estou pensando além. Ele


pode se vingar de você de forma muito
pior.

- Ele ameaçou a vida da Roxanne.

- E quem é Roxanne?

- Ela é….minha...hum...

- Companheira?

- É. Acho que sim.


- Então ele acabou de achar um jeito de
dificultar nosso lado.

- Ele disse que algo poderia acontecer


com ela.

- E ela mora com você?

- Não….não. Eu estou passando uns dias


no apartamento dela porque ela estava
doente. Mas o ponto é que ele me seguiu
então ele sabe onde ela mora e isso me
assusta.

- Vou tentar inseri-la no plano de


proteção a testemunhas. Não se
preocupe. Eu não queria que fosse
assim. Mas vamos ter que vigiar vocês
duas.

- Eu sei. - suspirou.

- Sendo assim, sugiro que esperemos


mais dois dias para mandar buscar
Alana. É o tempo que preciso para
traçar um plano de proteção de acordo
com a rotina de vocês.

- Ótimo. Amanhã ela vai cantar em um


evento no Centro de Apoio aos
Alcoólatras. Se você pudesse já mandar
um agente disfarçado. Sei lá.

- Fica tranquila. Eu mesma irei. Que


horas será?
- Vamos sair de casa às 6 da tarde,
porque temos que levar uns
instrumentos.

- Ótimo. Eu vou levar vocês.

- Obrigada comandante Torres!

- Calie, por favor. Eu vou indo e te ligo


se tiver novidades e você por favor, faça
o mesmo e me mantenha informada
sobre qualquer coisa que suspeite.

- Sim, é claro. Obrigada Callie.

- Já ia me esquecendo. Seu celular está


sendo rastreado a partir de hoje. É por
segurança. E tenha cuidado.

- Eu terei. Obrigada.

Rayka suspirou aliviada. Alana estava


bem. Logo estaria em seus braços.
Recebeu uma mensagem de Roxanne. Só
aquele gesto já trouxe um pouco de
alívio ao seu coração.

"Oi amor, como está sendo seu dia?


Estou com saudades e pensando em
você. Sinto sua falta. Volta logo"

Ah...aquela voz de vampira sexy!

Nunca se acostumaria. Sempre se


arrepiava inteira. Sorriu. Talvez no final
tudo realmente ficasse bem.

Nova York, 5:22 pm

Roxanne acordou tão inspirada.


Acordou primeiro que Rayka. Estava tão
preocupada com ela. Fez questão de
colocá-la em sua cama e dormir bem
juntinho dela.

De madrugada percebeu que ela estava


tendo pesadelos. Ela ficou agitada e
dizendo palavras desconexas. Ora
pedindo socorro, ora chorando.
Abraçou-a com carinho prometendo
cuidar dela. E queria poder tirar todo
aquele peso que ela vinha carregando
sozinha por tanto tempo.
Ligou para seu pai e ele ficou feliz em
poder ajudar. Ele iria entrar em contato
com a sra Smith para se inteirar da
situação e prometeu ajudar no caso.

Fcou tão animada que após a reunião foi


dar uma corrida no Parque. Nunca mais
tinha feito uma caminhada, sempre
achando que não era mais a mesma
coisa, além de poder cair e se machucar.
Acabou descobrindo um grupo de
pessoas com deficiência que se reuniam
duas vezes por semana para prática de
esportes, exercícios e até clube da
leitura. Achou muito interessante e se
inscreveu.
Conheceu uma moça paraplégica de 19
anos que dançava balé de cadeira de
rodas, jogava basquete e ainda
organizava saraus de poesias para o
grupo. Quanta coisa havia no mundo de
especial. Isso trouxe muita inspiração,
passou o resto da tarde gravando
músicas que estavam enchendo sua
cabeça e seu coração.

Estava nervosa para apresentação do dia


seguinte. Ainda que pequena. Mas sentiu
uma forte responsabilidade de mostrar
todo poder transformador que a música
tem. Escolheria as músicas a dedo.
Queria fazer da música a sua voz.

Voz de liberdade e transformação que


ela mesma estava vivendo agora. Sorriu
ao ouvir Rayka bater na porta. Tinha que
mandar fazer uma chave para ela. Podia
se acostumar com essa vida. Nunca se
sentira tão feliz.

- Boa noite Roxe.

Abraçou-a carinhosamente depois deu-


lhe um selinho.

- Hum, senti sua falta.

- E eu a sua. Como foi seu dia?

- Ótimo. Fiz até uma caminhada no


Parque e entrei para o clube da leitura.
- Nossa. Que legal. Feliz em ouvir isso.
Mas toma cuidado, você foi de táxi?
Tenho medo de você andar por aí
sozinha.

- Sim, mamãe. Eu tomarei cuidado.

- Não me zomba! Eu me preocupo com


você.

- E eu com você. Vem cá.

Roxanne puxou-a para um abraço.

- E como foi seu dia? Você está tão


cheirosa...como consegue ficar cheirosa
o dia todo?
- Boba. Estou é suada. São 20 minutos
de caminhada até aqui. Para mim é um
recorde. Sempre odiei exercícios.

- Hum... acho que isso vai mudar.

- Não vai não. Foi um ótimo dia. Callie


a policial que está auxiliando no caso da
guarda da Alana disse que eles já sabem
onde ela está e a qualquer momento ela
será retirada das garras daquele
monstro.

- Sério? Que boa notícia.

Ela beijou-lhe o pescoço.

- Sim, muito boa. Roxe, está me


desconcentrando. Vou fazer o jantar
ainda.

- Já está feito. Jess deixou pronto.

- Eu tenho que tomar um banho.

Tentou se desvencilhar dela. Mas foi


apertada ainda mais.

- Roxe, o que aconteceu com você? Está


estranha.

- Nada. Só estava com saudades…

- Hum. Está bem. Deixa só eu tomar um


banho rápido.
- Tenho uma ideia melhor.

Saiu puxando-a pela mão. Entraram no


quarto dela e Roxanne pegou o violão
sobre a cama.

- Por favor, senta na poltrona Rayka.

- Ok.

- Já sentou?

- Já.

- Mentira!

- Como sabe?
- Não ouvi o barulho que a poltrona faz
quando eu sento.

- Ok...e agora?

- Muito bem. Boa menina.

Ela se aproximou com o violão em


mãos. O coração de Rayka disparou.
Roxanne Mackenzie iria cantar só para
ela. Como sempre ela estava linda.
Usava uma roupa toda casual, mas ainda
sim linda. Um shortinho de sarja preto,
uma camiseta regata larga com a
bandeira do reino unido e um top preto
aparecendo muito sedutoramente. Os
cabelos estavam soltos jogados de lado
dando uma aura toda sensual, e estava
descalça.

Como alguém pode ser sexy assim?


Nossa Senhora das Calcinhas Molhadas!
Tinha certeza que se ela usasse um saco
de lixo preto ao redor daquele corpo,
continuaria sendo a mulher mais sexy
das galáxias. Ela estava concentrada nas
notas. Presta atenção Rayka!

"Eu sempre precisei de um tempo


pra mim mesma.

Eu nunca pensei que eu

Precisaria do seu apoio quando


chorasse
E os dias parecem anos quando eu
estou sozinha

E a cama aonde você dorme

Está arrumada do seu lado

Quando você sai

Eu conto os passos que você dá

Você percebe o quanto eu preciso


de você agora?

Quando você vai embora

Os pedaços do meu coração sentem


a sua falta
Quando você vai embora

O rosto que eu conheci também me


faz falta

Quando você vai embora

Tudo que eu faço

Me lembra você

E as roupas que você largou estão


espalhadas pelo chão

E elas tem o seu cheiro

Eu amo as coisas que você faz


Quando você sai

Eu conto os passos que você dá

Você percebe o quanto eu preciso


de você agora?

Eu sinto sua falta…"

Céus! O que faria com uma mulher


dessas? Estava chorando? Maldita
Vampira sexy!

- Você gostou? Fiz pra você.

- Roxe... se eu gostei?
Levantou-se e tirou o violão da mão
dela, colocando lentamente no chão.

- Tenho três coisas a dizer.

Ela começou a arrancar sua própria


roupa.

- Primeiro: Eu amei a música. É linda.


Incrível.

Segundo: Você é a mulher mais sexy


desse mundo.

Terceiro: Eu também tenho algumas


palavras lindas para você. Mas elas não
saem da minha língua. Então eu vou
deixar que ela te mostre cada vírgula.
Puxou-a para si beijando sua boca com
sofreguidão ao mesmo tempo que
arrancava suas roupas sem se importar
se iriam se rasgar toda.

Roxanne assustou-se com a intensidade


da urgência dela.
Queria mostrar como Rayka era
importante para ela e tentar fazê-la
esquecer pelo menos momentaneamente
seus problemas. Mas admitiu que estava
saindo melhor do que esperava.

Não mostrou resistência ao ser


praticamente arrastada para a banheira
já cheia e atirada dentro dela. Gemeu ao
sentir Rayka sentar em seu colo de
frente, já nua entrelaçando-a com as
pernas. Sua intimidade reagiu
instantaneamente com o contato. Rayka
puxou-a pelos cabelos gemendo gostoso
no seu ouvido.

- Rayka... você é tão... é...

- Hum?

- Linda.

- Não era isso que você iria dizer!

- Agora lê minha mente!

- Sim...você está com cara de


safadinha...pode falar.
- Linda.

- Fala no meu ouvido bem baixinho. Não


vou contar pra ninguém.

Tocou-lhe os seios incitando seus


mamilos brincando com eles entre o
dedo indicador e o polegar.

- Aí... Ray… - gemeu

- Fala.

- Não posso.

- Eu quero ouvir…
Desceu a boca pelo seu pescoço
provocando-a.

- Eu te quero…

- Não! Vou sair daqui se não me disser.

Ameaçou sair da banheira. Rapidamente


Roxanne a puxou pelas nádegas com
força.

- Não!

- Então fala…

Encostou o ouvido direito próximo a


boca dela enquanto sentia seus dedos
tocando sua intimidade lascivamente.
- Humm

- Hija de una perra! Fala!

- Mexe mais e eu falo.

Rayka estava excitada demais. Adorava


provocá-la. Isso a deixava ainda mais
libidinosa. Introduziu dois dedos em sua
intimidade sem aviso prévio. Sentiu ela
estremecer, estava pronta para ela. Com
a outra mão segurava sua nuca. Não
parou até sentir seu ventre contrair-se
em seus dedos, introduziu mais um dedo
enquanto seu polegar sensibilizava seu
nervo já rígido.
- Raykaaaa

Ela estava quase no ápice. Parou as


estocadas e a agarrou pelos cabelos
puxando sua cabeça para trás.

- Fala! O que eu sou?

- Você é muito…

- Muito???

Voltou a movimentar dentro dela


devagar. Mordeu seu lóbulo e lambeu
sua orelha fazendo-a arrepiar.

- Gostosa…
- Assim não! Mais alto...não ouvi.

Roxanne agarrou suas nádegas cravando


as unhas nelas.

- GOSTOSAAAA! VOCÊ É GOSTOSA


PRA CARAMBA!

Rayka gemeu alto sentindo seu próprio


climax chegar enquanto aumentava o
ritmo fazendo-a gritar também.

- Isso... assim que se fala.

Tomou seus lábios em um beijo sôfrego


e quente. Não aguentou mais seu gozo
veio quando Roxanne a tocou também
cheia de vontade.
Fogos de artifícios anunciavam a
chegada ao paraíso!
Capítulo 17 - Eu te
amo
Central Park, 7:37 am

Roxanne levou Rayka até o café de taxi


e voltou a pé até o Parque. Deu umas
dez voltas na pista de corrida enquanto
ouvia sua playlist da noite.

Sentou-se na grama mais próxima


parando para descansar e deixou o
grupo seguir. Bebeu toda a água da
garrafa e se deitou exausta. Costumava
ser bem atlética, mas três anos e oito
meses enferrujando dificultava.

Participou do encontro do clube da


leitura, onde foi carinhosamente
recebida. E mais tarde voltou pra casa
andando. Não gostava de andar nas ruas
lotadas e aquele trânsito infernal. Mas
estava de bom humor e a temperatura
estava agradável. Recebeu uma
mensagem de voz de Rayka.

"Roxe, você já voltou? Toma


cuidado. Passou protetor? Precisa
reaplicar, não gosto de vampira
vermelha. Me manda mensagem
quando chegar? Bjs."

Riu divertida. Nem ligou quando levou


um empurrão. Rayka alegrava seu dia,
por pior que ele estivesse sendo.
Apertou o interruptor no seu prédio. Iria
ensaiar o resto do dia.

Quando abriu a porta ouviu aquela voz


que amava.

- Onde você estava Roxe?

- Manu?!

- Eu chego de viagem esperando uma


recepção e vejam só.
- Hey…

Recebeu um abraço apertado da sua


amiga-irmã.

- Estava com saudades, Roxe.

- Por que não me disse que chegava


hoje? Também estava com saudades.

- Achou que eu iria perder seu primeiro


show?

- Show? Eu te disse que era apenas uma


apresentação no Centro.

- Um show! Quando ficar famosa vai se


lembrar: Quem estava comigo no
primeiro show? Manuela Alika!!

- Boba. Estou feliz que tenha vindo. Para


ficar?

- Ainda aguardando aquela resposta.


Mas vim para fazer uma pressão. Quem
sabe?

- Por falar nisso, como entrou?

- Pela porta. Sou um anjo mas não criei


asas ainda.

- Ai ai... quantos anos você tem?

- A Jess estava aqui. Mas ela precisou ir


ao mercado.

- Ah sim. Vamos comer alguma coisa.

- Já ataquei tudo. Mas me conta as


novidades. Como está a Latina.
Melhorou os machucados? Ela está
ficando aqui ainda?

- Machucados?

- A última vez ela estava toda estrepada.


Também não é para menos, coitada.
Atropelada!

- Quê?? Atropelada?

Roxanne deixou cair a vasilha de salada


de frutas que pegava na geladeira. Bateu
a cabeça na porta da mesma.

- Ela não te contou?

- Que atropelamento?

- Pronto. Causei a primeira D.R.

- Ela disse que tinha caído e batido a


cabeça.

- Com certeza ela não quis dizer porque


você estava péssima não é amiga?!
Convenhamos.

- Pode ser. O que houve de verdade?


Roxanne sentou-se próxima a amiga
puxando a cadeira.

- Fui atrás dela desesperada e quando a


vi tomei um susto. Ela estava toda
machucada. Pernas, braços, cabeça com
curativo.

- Ela não me disse nada.

- Mesmo assim largou tudo e veio


correndo cuidar de você. oohhhh
Vou deixar ela te contar e pelo amor não
vá discutir por causa disso. E você
parece ótima. Que bom ver você feliz
assim.

- Estou bem. Semana que vem faço a


primeira cirurgia. Entrei para um grupo
de pessoas deficientes que fazem
exercícios e esporte no Central Park,
tem até clube de leitura.

- Que legal Roxe.

- Vem. Vou te mostrar minha playlist de


hoje. Quero sua opinião.

5:21pm

Rayka chegou apressada para se


arrumar. Queria estar bonita ao lado de
Roxanne. Precisava escovar os cabelos.
A porta estava só encostada. Entrou
ouvindo-a cantar no quarto de música.
- Amor, cheguei.

Gritou caminhando até a porta. Levou


um susto ao ver Manuela ali.

- Oi Manu! Que surpresa agradável!

Cumprimentou a loira estonteante que


estava muito bem vestida como sempre.
De vestido branco com detalhes em
preto e bem justo ao corpo atlético.

- Hey...como vai Ray?

- Bem. Obrigada. Oi Roxe.

Beijou a testa dela toda sem jeito.


- Oi. Como foi seu dia?

- Tudo ótimo. Eu vou me arrumar para


não atrasar.

- Tá bom. Já vou também.

Rayka saiu e foi para o banho. Manu


cruzou os braços interessada.

- O que está rolando aqui???

- Hum o quê?

- "Amor cheguei...como foi seu


dia...vou me arrumar...Roxe ..ah eu já
vou…"
Manu imitava uma voz fina para Rayka e
uma rouca para Roxanne.

- Pára com isso. Boba.

- Já sei... vocês transaram!

- Hum??

- Caraca! Sinto cheiro de sexo no ar.


Você também não perde tempo hein?
Abusando das mocinhas indefesas.

- Manu... fala baixo.

- Então é verdade? Oh meu Deus!

Manu tapava a boca com as mãos.


Sentou-se ao lado dela.

- Não faz drama. Mas é verdade.

- Foi nesse banco? Ai que nojo!

- Shiuuuu. Está louca?

- Quero saber tudoooo.

Roxanne riu da amiga. Pelo jeito ela não


iria mudar nunca.

- Resumindo: Melhor sexo da vida!

- Prefiro a edição completa!

- Te conto depois, preciso me arrumar.


- Isso não acaba aqui mocinha. Vou
escolher uma roupa de matar qualquer
Latina!

Às seis horas em ponto a campainha


tocou.Rayka que já estava pronta,
atendeu.

- Boa Noite Callie. Entra por favor.

- Boa noite Rayka. Tudo pronto?

- Sim, a Roxanne já está saindo. Deixei


os instrumentos lá na recepção já.

- Ok. Com licença.


- Quer alguma coisa? Água, suco, café?

- Não obrigada. Estou ótima.

Rayka iria dizer algo mais. Mas


quandoRoxanne apontou no corredor
ouviu seu coração bater nos ouvidos e
as pernas titubearem.

- Nossa! Roxe...

Ela estava simplesmente incrível em um


vestido preto tomara que caia
desenhando todas as curvas e com um
fenda na coxa direita, complementando
com salto alto, os cabelos estavam
escovados e lisos, maquiagem perfeita
com um batom em tom escuro e brincos.
Teve que piscar várias vezes para tentar
disfarçar o impacto. Já que Callie
continuava olhando para a cara dela de
abobalhada.

- Hey...o que está havendo aqui?

Manu perguntou assustada, já que Callie


estava de uniforme da corporação. E que
diga-se de passagem lhe caia
perfeitamente. Todo justo, preto e o
distintivo preso à lapela. Ela estava com
as mão sobre a cintura fina e sorria
divertida.

- Manu, Roxanne...esta é a Comandante


Torres da Polícia Civil de Nova York.
- Prazer meninas. Podem me chamar de
Callie.

Manu ainda não tinha piscado. O


silêncio foi até constrangedor, sendo
interrompido pelo cochicho dela para
Roxanne.

- Lembra que eu disse que nunca senti


atração pelo mesmo sexo?

- Quê?

- Retiro o que eu disse. Puta que pariu!

- Então vamos? - Callie disse sem


desviar os olhos de Manuela.
- Por quê? Estamos presas? - Roxanne
disse perdida.

- Eu não me importaria em ser algemada


por ela.

Manu sussurrou novamente para


Roxanne.

- Ai gente, desculpa. Callie está no caso


da Alana minha sobrinha, e ela se
ofereceu para nos dar uma carona hoje.

Explicou sem explicar nada.

- Claro, você me falou dela. Prazer


Callie.
- Prazer é todo meu. Peço desculpas,
estou em horário de trabalho, então
preciso estar uniformizada. Vamos
então? A estrela principal não pode
furar.

- Gostei dessa morena. - Manuela


sussurrou de novo.

- Sério? Nem percebi. Se comporta.

Foram no carro da Polícia, nada


discreto, assim como as conversas de
Manu no banco da frente. No banco de
trás Rayka estava fissurada em Roxanne.
Com certeza ela não tinha noção da sua
beleza. Ela parecia até debochada, sem
se esforçar nem um pouco, era
fatalmente sexy.

- Hey Rayka. Está muito calada. O que


houve?

Ela segurou sua mão acariciando-a com


o polegar.

- O que posso dizer se você me rouba


até o ar que eu respiro?

- Bobinha. Aposto que está linda como


sempre.

- Bem, isso você não vai saber.

- Você sabe que tem um jeito de eu


saber.

Deslizou sua mão sobre a coxa dela.

- Se comporta Roxe.- Disse segurando


sua mão.

- Acredite, não tem ninguém olhando


para nós.

- Chegamos!

Callie disse cortando o clima.

O evento foi no Centro Cultural de Nova


York, Rayka não queria deixar Roxanne
nervosa, mas estava cheio o local e não
era nada pequeno. Quando chegaram
rapidamente vieram recebê-las e
Roxanne foi levada pela equipe técnica
de som.

Rayka estava tão orgulhosa dela. Esse


seria um passo importante para a sua
vida. Fez questão de trazer a câmera
semi-profissional que estava no quarto
de música abandonada em um canto. Foi
nela que achou vários vídeos antigos
dela, com a ajuda de Manu fez uma
edição e acrescentou um que ela havia
filmado e colocando em um pendrive
entregara na Universidade de Rochester.
Esperava ter algum resultado.

Logo a cerimônia iniciou-se e houve


discursos, depoimentos e homenagens.
Estava tudo perfeito, mas o coração de
Rayka deu um salto mesmo quando a
Dra Mendez fez o anúncio toda
orgulhosa de Roxanne.

- Genteeee é ela…..hey é minha


amiga!!!!

Manu se colocou de pé falando alto toda


eufórica.

- Linda, gostosa, rica e poderosa!!!!

- Manu! Ela vai ter um ataque! Estou


vendo que ela corou daqui.

Roxanne foi guiada até o centro do palco


e cumprimentou a todos. Suspirou fundo
e contou um pouco da sua vida e como
ela mesma estava em processo de
recuperação e como desejava em breve
estar ali pegando aquele certificado que
simbolizava um recomeço.

Rayka começou a chorar e tremeu a


câmera. Manu também estava
emocionada. Sobrou para Callie pegar a
câmera e filmar. A primeira música era
por demais perfeita para a ocasião.

Era Titanium, uma música poderosa de


letra forte que falava sobre resistência e
que necessitava de grande performance
vocal devido às notas elevadas. Mas no
primeiro acorde a voz dela explodiu
cheia de emoção. Rayka teve a absoluta
certeza, ela nascera para aquilo. Ela se
transformava na performance. Quando
ela cantou o coro ouviu uma explosão de
gritos e aplausos:

“Sou à prova de balas, nada a


perder

Atire, atire

Ricocheteiam, você acerta o alvo

Atire, atire

Você me derruba, mas eu não caio

Sou de titânio
Você me derruba, mas eu não caio

Sou de titânio”

- Que tiro foi esse?? - Manu gritou para


ser ouvida. Estava de boca aberta.

Rayka estava com as duas mãos


cobrindo a boca aberta. O pessoal
começou a dançar e gritar.

- Gente...ela é incrível.

Completou Callie também estupefata. A


segunda música era ainda mais
emocionante: Scars to your Beautiful de
Alessia Cara. Essa música falava sobre
não se importar com a opinião dos
outros:

“Então para todas as meninas que


estão sofrendo,

me deixem ser o espelho de vocês

Ajudá-las a ver um pouco mais


claramente

A luz que brilha dentro de vocês

Há uma esperança te esperando na


escuridão

Você deveria saber que é linda do


jeito que é
E que você não tem que mudar
nada,

o mundo poderia mudar de ideia

Não há cicatrizes na sua beleza

Nós somos estrelas e somos lindas”

Rayka já estava agarrada a Manu e a


plateia enlouquecida assobiava e
aplaudia. Outras duas músicas
maravilhosas também fizeram os mais
calados sorrirem.
Mas certamente algo mais emocionante
foi deixado para o final. Com a ajuda do
baterista, Roxanne foi conduzida até o
teclado. As luzes se apagaram ficando
apenas um foco azul sobre ela. Ela
sentou-se elegantemente e conferiu o
microfone.

- Como eu já disse a vocês essa noite,


eu mesma estou em processo de
recuperação. Estar aqui hoje, é motivo
de muita emoção. Houve um tempo em
minha vida que eu me vi em um fundo de
poço intransponível.

E tentei tirar minha vida me enchendo de


remédios e me cortando em uma
banheira que poderia ter sido cheia com
minhas lágrimas diárias.

Alguém me achou, me socorreu e eu não


fiquei feliz, comecei deixar de viver
pouco a pouco em uma escuridão de dor,
silêncio e solidão.

Mas um dia um raio de sol, chegou e me


alcançou naquele fundo e me mostrou
que a vida não é fácil, mas é possível
ser feliz com as coisas mais simples que
ela nos oferece. Se não fosse esse raio
de sol, eu não estaria aqui hoje.

E hoje tudo que eu quero é viver a cada


dia ao seu lado. Eu não posso vê-la, eu
sei que é linda, mas eu a sinto e a vejo
em tudo que eu faço. Eu amo cada
pedacinho desse raio de sol. E fiz essa
música para dizer o quanto ela significa
para mim.
Meu Raio de Sol está aqui essa noite,
aliás é o único sol que brilha o dia todo.
My Sunshine, essa é para você.
Eu te amo!

- O meu Deus! - Manu gritou - Rayka,


você está viva? Porque eu morri.
Tombada aqui amiga.

Rayka tentava controlar a respiração


para não morrer de infarto e entrar para
a história de amor mais trágica que
Romeu e Julieta. As lágrimas desciam e
uma senhora lhe ofereceu um lenço de
papel, rapidamente a câmera a focalizou
e seu rosto foi exposto no telão.

Lá no palco Roxanne de olhos fechados


dedilhou os primeiros acordes em total
abstração da euforia dos convidados que
aplaudiam. Sua voz grave ecoou:

“Teve um momento em que eu


guardei meus sonhos longe

Vivendo em uma concha,


escondendo de mim.

Havia um tempo quando eu tinha


tanto medo

Eu pensei que eu tinha chegado ao


fim.

Baby, foi então que você chegou


Você me mostrou o significado do
amor

Veja onde estou agora,

E eu estou respirando novamente.

Você me viu no meu pior momento

Mesmo assim você escolheu ficar

Quando penso que vou cair, lá está


sua mão

Eu era cega para tudo nessa vida,


hoje eu

só vejo amor…
Quando olho pra você eu vejo tudo

sob seu olhar

Encontrei motivos pra viver, sonhar

sob seu olhar”

Rayka e Manuela se abraçaram aos


prantos. Roxanne agradeceu os aplausos
que perduraram longos minutos. As
luzes se acenderam e a plateia estava de
pé.

Depois foi servido o Buffet e estavam


sentadas junto a Dra Mendez e mais um
monte de pessoas importantes que
vinham a todo momento cumprimentá-la
pela performance.

Manu se divertia tirando selfies, Callie


continuava filmando tudo, e Rayka não
conseguia ainda acreditar na sua sorte.
Estava ali ao lado da mulher que virou
seu mundo de cabeça para baixo. Ficou
ali de frente a olhando sem culpa se
perdeu naqueles olhos verdes de pantera
que há cinco anos vinha lhe salvar todas
as noites de seus mais sombrios
pesadelos.

Roxanne achava que ela a havia


salvado? Bem, ela não sabia que na
verdade era ela que todos os dias
salvava sua alma do abismo frio da
solidão e desesperança.

Se ela era seu Sol, bem Roxanne era sua


lua cheia, a mais brilhante que iluminava
sua vida, seu coração, sua alma. Estava
a salvo. E se não estivesse. Sua vida já
valera a pena até ali. Estava feliz como
nunca estivera na América antes.

Nova York, 9:00 am

Roxanne virou-se na cama e se sentiu


nostálgica, passou a mão sob os lençóis
quem sabe encontraria o que buscava.
Sua latina não estava. Como era
estranho acordar sem ela. Ouviu o
barulho da chuva lá fora. Até o dia
concordava com ela, sem seu raio de sol
o dia era triste, frio e úmido. Após o
evento do Centro de Apoio aos
Alcoólatras na sexta, fizeram uma
pequena comemoração no apartamento.

Há muito tempo não se divertia tanto.


Até a policial Callie participou das
brincadeiras infantis patrocinadas pela
irreverente Manu. Fizeram uma sessão
de cinema com pipocas e guloseimas.
Não soube como, mas terminaram
brincando de guerra de almofadas de
olhos vendados, alguns objetos foram
perdidos e por fim a noite terminou em
pizza e karaokê às cinco da manhã.

Depois do almoço Rayka insistiu que


precisava voltar ao seu apartamento.
Roxanne não queria deixá-la ir. Até se
sentia egoísta por isso.

- Roxe, eu realmente preciso voltar. Não


posso abandonar meu apartamento
assim, tenho até sérias dúvidas se
quando abrí-lo não vou dar de cara com
outros moradores.

- Então não corra o risco.

- Bobinha. Escuta, a Manu está aqui para


lhe fazer companhia e eu fico muito mais
tranquila em saber que você está bem
acompanhada. Mas, eu estou tentando a
guarda da Alana, e isso inclui ter um
lugar para morar.
Daqui a pouco vão começar as visitas
das assistentes sociais e do serviço do
conselho tutelar e eu preciso causar uma
boa impressão. Imagine chegarem lá e
eu nunca estou presente?

- Está bem. Não quero atrapalhar sua


vida. Mas, é que não é mesma coisa sem
você aqui.

Rayka abraçou-a desejando nunca ter


que se afastar daquele lugar de refúgio
que era seus braços.

- Eu sei. Você não atrapalha. Mas, a


gente se encontra. Você pode ir no café
como nos velhos tempos. A gente pode
ir ao Parque, preciso conhecer o grupo
que você participa. Sabe, deixar claro a
todos que eu existo.

Roxanne riu e a beijou com carinho


enqunto tateava seu rosto que aprendeu a
amar.

- Marcando território?

- Chame como quiser.

Mais tarde Callie lhe deixou em frente


ao prédio no Bronx e ela sentiu um
arrepio percorre-la ao passar pelo local
do atropelamento. Por que não se sentia
segura ainda? Sabia que a sra Smith e
até Callie estavam fazendo de tudo para
ajudá-la, mas seu coração não conseguia
descansar em paz. Algo dizia para não
baixar a guarda.

Quando subiu as escadas que levavam a


sua porta se deparou com algumas
pichações novas. "Morte aos latinos",
"A América está suja de imigrantes",
"Escórias da América".

Mas nada comparado com pichação que


tomava toda a sua porta: "Vadia latina
sua hora vai chegar" Com letras bem
grandes e na cor vermelha. Pegou o
celular e tirou algumas fotos e enviou a
Callie Torres. Soltou um suspiro ao
adentrar aquele lugar que lhe parecia
ainda mais vazio e frio. Jogou-se na
cama e chorou exausta.
[...]

Roxanne encontrou Manuela na cozinha.

- Hey Roxe, venha ouvir essa. Você está


no jornal da cidade.

- O quê?

- Isso mesmo. O porteiro fez questão de


me mostrar quando eu voltava da
padaria. Ouça:

"Na noite de sexta-feira um evento


do Centro de Apoio aos Alcoólatras,
que aconteceu no Centro Cultural de
Nova York reuniu vários políticos e
pessoas que apoiam causas sociais, a
primeira dama da cidade esteve
presente.

A noite foi marcada por


homenagens e depoimentos
emocionantes de pessoas beneficiadas
pela iniciativa do programa de
recuperar jovens com problemas com
álcool e drogas.

Mas a apoteose do evento ficou


mesmo para o final com uma
apresentação musical de uma
belíssima: jovem : Roxanne Mackenzie,
que é também membro do programa.

Após relatar que um acidente lhe


deixou cega e depressiva, ela disse que
se tornou alcoólatra e agora a música
e o amor a estavam trazendo de volta à
vida. O que ninguém sabia era que
estavam diante de uma estupenda
revelação musical.

Com uma voz potente e peculiar


com arranjos pra lá de
impressionantes, a jovem sacudiu o
Centro Cultural. Gravem esse nome:
Roxanne Mackenzie. Aposto que em
breve a veremos nas manchetes de
Nova York."

- Roxe, você ouviu isso?

- Caramba!
- Eu sabia que seria um estouro, mas não
esperava uma avaliação tão positiva da
mídia e tão rápido.

- Isso é bom?

- Bom? Meu amor, eu trabalho com


publicidade, eu sei do que estou falando.
Esse aqui é o primeiro passo, e que
passo Mackenzie. Acho que já arrumei
um emprego em NY. Serei sua assessora
de publicidade. Quero um salário digno
de mim.

- Que linda...

- Não está feliz?


- Estou sim.

- E por que essa cara?

- Qual cara?

- Meu bem se eu saísse no jornal da


cidade a essa hora já tinha estourado
uma champanhe. Tem uma foto sua
enorme na matéria!

- Legal.

- Legal? hum...deixa eu adivinhar. Essa


cara tem nome. Falta da Latina.

- Não sei o porquê ela tinha que voltar.


- Hum...amore você já parou para pensar
que ela tem uma vida além daqui? Eu sei
que você fez uma declaração super gay
no palco, foi realmente lindo. Até agora
estou pensando como você passou de
hétero curiosa para gay assumida e
símbolo sexual da comunidade LGBTQ.

- Está louca? Eu?

- Espere só para ver se não tenho razão.


Mas, o que você tem com a Latina?
Vocês são o quê? Namoradas, ficantes,
amigas com privilégios...

- Eu não sei...eu nunca estive em uma


situação parecida. É tudo tão diferente,
quando falei aquelas palavras no palco
não me importava que ela fosse uma
mulher e todo mundo essa hora esteja me
chamando de lésbica, sabe? Eu só abri
meu coração e não pensei nas
consequências de ser rotulada e nem o
que isso significa.

- Pois é. - Manu serviu mais suco nos


copos entregou um a Roxanne - Talvez a
Rayka esteja na mesma situação. Sei que
ela é lésbica assumida, mas talvez as
questões dela sejam outras. Tem a
sobrinha e aquele rolo todo com o
cunhado.

Acredito que tenha mais coisas rolando


que ela não quis dizer. Quem é
atropelada em frente de casa? Parece
que ela vive fugindo da imigração. E
outra, o lugar que ela mora não é nada
agradável. Digo o bairro, o prédio.
Parece cenário do filme bad boys.

- Eu sei que a vida dela não é fácil.


Queria poder ajudar mais, achei que ela
poderia ficar aqui. Mas pelo jeito não é
o que ela quer.

- Talvez um pouco de espaço para vocês


pensarem que relação é essa, seja bom
para ambas. Sem pressão.

- Não gosto de ficar sem ela.

- Com certeza você está muito


apaixonada. Babona até os ossos. Limpa
essa baba e come.

Bronx, 9:05 pm uma semana


depois.

Rayka estava feliz. Pela manhã Roxanne


foi ao café, depois marcaram de
almoçarem juntas e só sabia que a cada
dia se apaixonava mais por ela. Riram
lembrando dos primeiros encontros. E
ela teimava lhe chamar de Furacão e ela
de chamá-la de vampira.

Ainda gostava de provocá-la. Ela seria


sempre sua vampira sexy. Mas não sabia
que nível de relacionamento estavam.
Rayka só havia namorado sério uma
única vez. E não chegava nem aos pés
dos sentimentos que nutria por Roxanne
agora.

Há dois anos ela se envolveu com uma


mulher mais velha que conheceu no
restaurante mexicano que trabalhou por
um ano. Era tão boba naquela época que
não percebeu o buraco que estava
caindo.

Alexa era seis anos mais velha e uma


falsa hétero. Ficou louca de curiosidade
pela Latina. Enchia-a de presentes,
jantares caros, roupas, jóias. Mas não
assumia publicamente. Não podiam sair
de mãos dadas nem postar fotos juntas,
no começo Rayka aceitava pensando que
tinha que dar tempo para ela se
descobrir.

Mas, no final acabou percebendo que


ela era um passatempo para Alexa. Pois
ela tinha um noivo que era um
empresário muito conhecido na rede
alimentícia e cheio da grana. Ela
passava os dias com ela e as noites com
ele. Quando Rayka exigia um
posicionamento, ela só chorava e dizia
que a família não aceitava sua
homossexualidade.

Mais tarde percebeu que estava em um


relacionamento abusivo. Sim, as pessoas
acham que relacionamento abusivo só
existe entre héteros. E também acham
que relacionamento abusivo é somente
quando há violência, agressão. Mas não.
Ela vivia em uma violenta agressão
psicológica. Um relacionamento de mão
única, doando-se e nada recebendo em
troca a não ser desprezo por aquilo que
ela era e sendo manipulada por seus
sentimentos.
Mas, com Roxanne, era como ter
dezesseis anos outra vez.

Dar risada sem motivo aparente, sujar o


nariz dela de sorvete, ligar para ouvir a
voz, aquela dorzinha no coração quando
se afastavam. E Roxanne, apesar de ser
hétero quando se conheceram, nunca
disfarçou nada em público, pelo
contrário, recebera uma declaração
muito gay no evento aquela noite. Um
tipo de amor que não tem rótulo de
gênero, apenas amor, e isso bastava.

Suspirou diante das lembranças. Sabia


que eram de mundos bem diferentes. A
família de Roxanne parecia ser rica,
importante. Quem sabe seriam até
conservadores? Não queria nem pensar.
E o que ela poderia lhe oferecer? Nada.
Só seu amor puro e verdadeiro. Não
tinha mais nada nessa vida.

Afastou esse pensamento negativo e


terminou de preparar seu jantar. Estava
feliz porque vira Alana também, ela
voltou a frequentar a creche. Em breve
estariam juntas e felizes. Foi logo para
cama mesmo sabendo que não iria
dormir tão cedo.

- Boa noite Cinderela.

Riu de si mesma. Queria ser a Cinderela


e Roxanne a princesa vampira herdeira
de algum trono. Só em Nárnia mesmo.
Podia sonhar não?

Não. Acordou com um barulho estranho


perto da sua janela. Passos?

Já totalmente desperta saltou da cama


pronta para fugir. Seria os agentes da
imigração? Com todos sentidos alerta
começou a se vestir enquanto pegava sua
mochila com seus documentos e fotos.
Olhou no relógio da cômoda. 3:30 am.
Silêncio.

Calçou seu all star, se vestiu rápido, já


estava com a mão na maçaneta quando
lembrou de algo, um pendrive que
estava guardando por muito tempo.
Voltou a mexer na cômoda procurando
entre as roupas.

- Depressa Rayka! Droga!

Ouviu a maçaneta sendo girada. Passos


na escada de incêndio. Achou o
pendrive, escondeu no bolso do
macacão jeans que vestira, pegou o
celular e ligou para Callie Torres. Caiu
na caixa postal.
Olhou pela janela não tinha ninguém,
mas o cadeado tinha sumido. Ela jurava
que ele estava ali antes de dormir.
Guardou o celular, ouviu a maçaneta ser
arrombada. Prendeu a respiração, tinha
que agir. Se pendurou na janela para sair
pela escada de incêndio, mas antes que
conseguisse passar o corpo inteiro foi
puxada para trás.

- Onde vai com tanta pressa?

Sentiu seu sangue congelar nas veias.


Não viu nenhum rosto, um braço enorme
tapou sua boca com um pano fétido e
úmido. Ela gritou o máximo que
conseguia.
Estava sendo erguida no ar, suas pernas
não tocavam o chão. Continuou tentando
se livrar dos braços fortes se debatendo.
Sua visão ficou embaçada e faltava ar
nos seus pulmões....ela estava apagando.

Uma lágrima desceu quente quando


percebeu que era inútil lutar. A última
coisa que ouviu foi: Sua latina suja. E a
última coisa que pensou foi nos olhos
verdes de sua vampira Mackenzie.
Capítulo 18 - Eu
Prometo
Nova York, 3:30 am

Roxanne acordou sobressaltada. Seu


coração parecia estar em sua garganta
sufocando-a enquanto tentava bater.
Tirou os lençóis que a cobria
percebendo que estava suada.
Levantou-se devagar tateando as
paredes até o banheiro e lavou o rosto.
Há muito tempo não tinha pesadelos. E
nenhum que já tivera na vida a assustara
tanto. Acionou o celular para que a hora
fosse falada. 3:30 am. Precisava beber
um pouco de água. Seria possível que
fossem os remédios novos que seu
psiquiatra havia receitado?

Andou devagar para não acordar Manu


no quarto ao lado. Sua mente estava
confusa. Ela se viu correndo em um
campo florido...seriam girassóis? O sol
ofuscava-lhe a vista, pelo menos no
sonho não era cega.

Ela corria para encontrar alguém, de


repente o campo florido se tornava
negro, um gigante redemoinho sugando
uma pessoa vestida de amarelo como os
girassóis.

Ela corria o máximo que podia e tocava-


lhe de leve em seus dedos e então ela
levantava os olhos e a fitava. Era uma
moça jovem de olhos castanhos
amendoados, enormes cabelos castanhos
que escorregava para o buraco negro.
Segurava sua mão...ela chorava?

Seus dedos escapavam ela gritava:


Rayka! E acordou.

Bebeu um copo d'água e sentou-se no


sofá da sala, uma sensação horrível
tomou conta dela. O que estaria por
detrás desse sonho?
Um sinal? Nunca vira o rosto de Rayka,
mas sabia no sonho que era ela. Ligaria
logo cedo para saber notícias. A dor no
peito continuava.

[...]

Rayka estava sentindo um calor. Seu


corpo todo suava. Virou a cabeça
abrindo os olhos tentando se lembrar
onde estava. Sua vista estava turva e sua
cabeça doía, sua garganta estava seca,
queria tossir.

Rapidamente recordou-se dos braços


fortes puxando-a e tentou se mexer.
Estava em seu apartamento, estava viva.
Amém. Não conseguiu se mexer. Que
cheiro era esse? Fumaça! Já em alerta
verificou as mãos amarradas no sofá-
cama. Droga!

Estava presa, mãos, pés e a boca


tampada. Estava sentindo cheiro de
fumaça mas não via fogo. O que estaria
acontecendo? Não via ninguém. Não
poderia gritar.

O que poderia fazer para conseguir se


soltar? Mexeu as mãos de um lado para
o outro puxando. A corda não era
grossa, mas firme. Sentiu-a cortando a
pele. Melhor que morrer. Continuou o
movimento enquanto chutava a cama,
quem sabe a corda escaparia. Graças a
Deus!

Foi o que aconteceu lá pelo décimo


chute o encosto se rompeu. Suas pernas
já doíam. Percebeu que o fogo vinha da
cozinha. Não demoraria para acontecer
uma explosão se chegasse aos canos de
gás. Com as pernas soltas se jogou no
chão podendo fazer mais força.

Agora não havia mais quase ar para


respirar. Ela se lembrou dos sermões da
igreja que frequentava com a mãe e a
avó no México. O fogo que aguardava as
lésbicas e gays. Disse para a mãe que
morreria queimada então, porque não
poderia mudar quem era por dentro. Não
esperava que fosse tão cedo.

- Nada de morrer Rayka. Foco!

Trouxe o rosto próximo às mãos


amarradas e conseguiu tirar a corda da
boca. Poderia gritar. Alguém a ouviria e
lhe salvaria. Procurou sua mochila com
os olhos. Estava perto da janela, seu
celular estava ali. Nunca alcançaria.
Estava a uns três metros de distância.

Começou a tossir pra valer. Não


enxergava mais nada. A fumaça tomou
conta do apartamento todo. Se jogou
para baixo do sofá-cama tentando fugir
da densa fumaça. Assim que conseguiu
respirar melhor teve uma ideia.
Empurrar o sofá até a janela. Alcançaria
o celular. Pediria socorro. Gritou várias
vezes, mas não ouviu nada. Ninguém
estaria vendo aquela fumaça? Ou
sentindo o cheiro? A não ser que
pessoas estivessem envolvidas nisso
também.

- Socorro! - Socorro!

Estava muito quente. Estava tentando


manter a calma, mas o desespero
começou a dominá-la. Tentou roer as
cordas com os dentes. Impossível.
Levaria horas que ela não tinha.
Começou a empurrar o sofá.
Quando conseguiu alcançar a janela
estava exausta. Não tinha mais ar para
respirar. A mochila ainda estava longe.
Droga! Subiu no sofá, ficou meio
agachada devido estar presa pelas mãos.

Com uma perna só deu um chute na


janela quebrando o vidro. Imediatamente
sentiu um corte rasgando-lhe a pele.
Gritou de dor. Mas a janela quebrada fez
com que a fumaça saísse e ficasse
visível do lado de fora e entrasse um
pouco de ar puro.

Tossiu mais ainda em busca de oxigênio.


Começou a gritar próximo a janela.
Gritou o quanto pode. Até sentir as
chamas um pouco mais próximas e a
fumaça invadir seus pulmões.

Assim que tudo acabaria? Droga de


vida! Morreria queimada? Ou asfixiada
pela fumaça? A cozinha já estava toda
em chamas e o fogo se alastrava subindo
pela cortina. Começou a ouvir gritos.

Alguém vira as chamas. Graças a Deus.


Suspirou aliviada abaixando a cabeça
para não inalar mais fumaça.

- Raykaaaaa!!

- Aqui....aqui...Graças a Deus!

Callie deu um pontapé na porta


arrombando-a de uma só vez. Cobrindo
o nariz com uma camiseta velha
encharcada, invadiu o minúsculo
apartamento totalmente tomado pela
fumaça e em chamas.

Agachou-se para não inalar fumaça.


Rayka estava próxima à janela.

- Faca! Você tem uma aí?

- Você está bem?

- Sim...sim. uma faca. Essa corda é


forte.

- Certo.

Callie viu que seria impossível pegar


uma faca na cozinha. Estava em chamas.

- Tesoura você tem aqui?

- No banheiro. Primeira gaveta.

Caliie andou ainda agachada tentando


não inalar fumaça mais do que o
inevitável. Seus olhos começaram a
lacrimejar. Achou a tesoura voltou
rápido e começou cortar a corda.

- Isso vai demorar séculos!

- E agora?

- Rayka. Fecha os olhos. Se afasta o


máximo que puder da cama.
- Caliie, não!

- Não temos escolha.

Sacou a arma. Sem dizer mais nada


mirou na corda bem enrolada no sofá-
cama com vários nós e atirou.

Rayka soltou um grito. Mas deu certo,


terminou de soltá-la enquanto ouvia
sirenes se aproximando. Callie colocou
a camiseta no rosto de Rayka e a puxou
para fora.

- Espera, minha mochila, meus


documentos. Está próximo a janela.
Roxanne levantou-se depressa.
- Aconteceu alguma coisa?

- Rayka já chegou?

- Eu vou verificar. Ela não costuma se


atrasar.

- Obrigada. Ela não está atendendo o


celular.

- A senhorita precisa se acalmar. Quer


saber? Venha comigo. Vamos entrar e a
senhorita pode se sentar enquanto
espera.

- Obrigada Thomaz.
E ela esperou. Esperou. Mandou
mensagem para Manu e seu coração
continuava apertado. Era melhor aceitar
que ela não viria. Onde ela estaria?
Teria sido deportada? Sem perceber
estava chorando. Meia hora depois seu
celular vibrou.

Atendeu a ligação de um número não


identificado.

- Srta Mackenzie?

- Isso.

- É a policial Callie Torres.

- Oi...o que houve?


- Você pode vir ao hospital?

- Por quê? Não me diga que...

- É a Rayka.

E de repente parecia que o chão havia se


partido ao meio e ela caíra na fenda do
centro da terra sendo engolida. Não
ouviu mais nada. Lembrou-se do
pesadelo e esperava que fosse só isso
mesmo que estava vivendo, um
pesadelo. Pegou outro táxi às pressas,
não reclamou de ser ajudada por
Thomaz.

Hospital Central, 7:35 am


- Obrigada Callie. Mais uma vez você
me salvou.

- Não por isso querida. Quando vi duas


ligações sua perdidas retornei em
seguida. Quando não atendeu já fiquei
em alerta.

- Essa foi por muito pouco.

- Rayka, infelizmente tenho que te dar


péssimas notícias.

- O que foi? Aconteceu alguma coisa


com a Roxe?

- Não. Veja, você não pode mais contar


com a sorte. Realmente ele está
obcecado em fazer você sofrer. Nós
vamos esconder você.

- Hã? O quê? Não!

- Sim, infelizmente não podemos colocar


um vigilante 24 horas com você. Então
nós vamos colocar você em um lugar
seguro.

- Eu não posso Callie. E a Alana? E meu


emprego? E a Roxe? Não posso.

Rayka tentou se sentar na cama, mas foi


impedida pela policial.

- Hey, calma. Escuta o plano primeiro e


tenta ser o mais racional possível.

- Eu não posso perder a Roxanne… -


Começou a chorar.

- Exatamente nisso que eu quero que


pense. Você disse que ele a ameaçou.
Sabendo que você sobreviveu quem será
o próximo alvo?

- Roxe….

- Isso.

- Não...não eu não posso deixar isso


acontecer.

- Minha sugestão seria você desaparecer


por um tempo. Estaria em um abrigo
seguro, podemos até ver com a sra Smith
a possibilidade da Alana ficar com
você.

Enquanto a gente tenta pegar esse


maldito. Mas tendo a garantia de que ele
não vai pôr a vida de mais ninguém em
risco. Já conseguimos imagens do
homem que lhe atacou.

Ele foi visto comprando diesel em um


posto próximo, temos imagens dele
atravessando o pátio atrás do seu
prédio. E é um dos comparsas dele.

- Por que ele não me matou logo?


- Estamos falando de um criminoso, tudo
é possível. Ele queria que parecesse
acidente.

- Ou foi só mais recado?

- Por isso não podemos arriscar.

- E o que eu vou falar para Roxanne?

- A verdade. Nesse momento você está


tentando protegê-la. Eu sei que não será
fácil. Mas é o mais seguro e sensato a se
fazer. Posso avisá-la?

- Pode. Vou me preparar para a coisa


mais difícil da minha vida.
Roxanne foi recebida já na porta do
hospital por um policial. Ele começou a
guiá-la até ao elevador. Entraram e não
podia disfarçar o nervosismo.

Quando ouviu o bip das portas se


abrindo ouviu a voz conhecida.

- Obrigada Cabo Fraser. Eu assumo


daqui.

- Callie?

- Bom dia srta Mackenzie. Sinto não


estar sendo tão bom assim.

- Onde ela está? O que houve?


- Calma. Venha comigo. Ela está
fisicamente bem.

- O que aconteceu? Eu sabia que algo


estava errado.

A policial a segurou pelos ombros.

- Rayka sofreu uma tentativa de


homicídio.

- O Quê? Meu Deus...eu...como??

- Colocaram fogo no apartamento dela, e


ela estava amarrada dentro e
desacordada. Felizmente antes de ser
apagada ela fez uma ligação para mim e
eu consegui chegar a tempo.
Como eu disse, fisicamente ela sofreu
apenas um corte na perna tentando abrir
a janela, está tomando oxigênio devido a
quantidade de fumaça que inalou, mas a
doutora precisou medicá-la para
acalmar-lhe os nervos. Ela está
dormindo agora, mas deve acordar a
qualquer momento.

Callie abriu a porta e guiou-a até o leito.

- Vou ficar lá fora. Quando a equipe


aparecer eu aviso.

- Obrigada Callie.

E Roxanne ficou ali de pé, com as mãos


no rosto chorando por não poder vê-la.
Queria tanto poder ver seu rosto. Estaria
machucada demais? Estaria queimada?
Quem faria isso com seu raio de sol?

Estendeu a mão procurando encontrar a


dela. Passou os dedos de leve pelo
braço fino e delicado, sentiu o catéter do
soro, desceu mais um pouco e achou
seus dedos imóveis. Entrelaçou os seus
dedos nos dela e apertou de leve.
Suspirou.

Encostou sua cabeça no seu colo e


ficou ali...chorando, rezando,
implorando para que seu raio de sol
voltasse a brilhar e tirar aquela frieza do
seu coração. Não poderia imaginar o
motivo que alguém teria para querer
matá-la, uma flor tão delicada como ela.
Que só sabia fazer o bem. Nem queria
pensar na possibilidade de perdê-la.

Rayka abriu os olhos letárgica. Sentiu o


incômodo gostoso de uma cabeça com
um tufo de cabelos escuros espalhados
por seu ventre. Acariciou-lhe a nuca e
sentiu a cicatriz enorme que ela tinha ali.

- Minha Vampira favorita. Você veio.

- Rayka! Graças a Deus!

Rapidamente ela se levantou tateando-a


de leve em busca do seu rosto. Segurou-
o com as duas mãos.
- Como você está? O que fizeram a
você?

- Não se preocupe, estou bem. A gente


precisa conversar.

- Não, agora você precisa descansar.

- Eu estou bem. Eu juro.

Roxanne chegou mais perto e deu-lhe um


beijo suave sobre os lábios carnudos da
sua Latina.

- Então me diz por que você mentiu para


mim?
- Eu menti?

- Você foi atropelada naquele dia e me


disse que tinha caído.

- Hum...ok.

Rayka sentou-se na cama segurou as


duas mãos dela e olhou bem no fundo
daquela íris de oceano. Havia chegado o
momento difícil.

- Vamos lá, eu vou lhe contar tudo e


você vai ter que entender o motivo pelo
qual eu vou fazer o que vai acontecer a
seguir.

PJ o pai de Alana, eu lhe contei que é


um bandido perigoso. Ele “tentou” fazer
com que eu assumisse o lugar da minha
irmã na vida dele assim que Sophia
morreu.

Eu fiquei cuidando de Alana que era um


bebê ainda e ele vinha até minha casa
vê-la, e enfim ele ficava dando em cima
de mim e eu nunca dei chance para ele.
Um dia ele me ameaçou tirar Alana de
mim se eu não me tornasse sua amante.
Bem, ele tirou Alana de mim.

- Miserável.

- Sim, e desde então o jogo dele é me


infernizar, o que ele vem conseguindo
com bastante êxito. A sra Smith
conseguiu tirar Alana dele. Ela já está
em um abrigo provisório de proteção à
criança.

Então ele veio se vingar. Ele me


atropelou para dar o recado. Outro dia
ele mandou seus comparsas me
sequestrar em plena luz do dia para dar
outro recado. Se eu tentasse tirar a
Alana dele ele me mandaria de volta ao
México e ele ameaçou a sua vida
também.

- A minha vida? O que ele sabe sobre


mim?

- Tudo Roxe, você precisa acreditar em


mim. Eu não lhe contei porque você
estava passando uma barra muito mais
pesada, como eu iria despejar esse
monte de problemas que se resume a
minha vida?

- Você devia ter me contado!


Poderíamos ter tentado resolver juntas.
Se envolve a minha vida não acha que
eu deveria saber?

- Sim, mas eu não achei que era o tempo


propício. Estou dizendo toda a verdade
agora. Ele mandou outro dos seus
comparsas colocar fogo no meu
apartamento porque a pequena Alana
está livre dele para sempre.

- Por que não confiou em mim? Eu disse


que a gente estava junto nessa.

- Roxe, coloca-se em meu lugar. O que


você faria? Você não tem ideia com o
que estamos lidando. Eu o conheço e sei
do que ele é capaz.

- Eu confiaria em você. Eu teria lhe


contado tudo e pedido ajuda.

Roxanne estava ferida. Sentia que ela


escondera tanta coisa importante sobre a
sua vida quando ela simplesmente abrira
seu coração e sua vida sem reservas.

- Eu confio em você mais do que em


mim mesma Roxe. Acredita em mim. Por
isso eu juro que daqui em diante não vou
esconder nada de você. Tanto que vou
lhe contar o plano da polícia para
assegurar sua vida a salvo.

Contou-lhe o plano de Callie Torres em


escondê-la por um tempo a fim de
protegê-la assim como Roxanne também.
Talvez sendo considerada como morta
ela estivesse fora de perigo e ele
acreditaria que a polícia esqueceria
dele.

- Não Rayka, isso significa que vai se


afastar de mim.

- É só por um tempo. Quando isso


acabar eu juro, se você ainda me quiser
é claro, vamos ficar juntas sem medos
sem culpas.

- Você não entende? Não existe vida


para mim sem você.

- Amor, por favor. Escuta. Não vai


demorar eu juro.

- Você não sabe Ray. Pode levar meses,


anos e você nem se lembrará mais de
quem eu sou.

- Como se isso fosse possível. Está


dizendo um absurdo. Você disse que eu
era um furacão, tinha razão. É isso que
eu sou, um furacão que onde passa
destrói alguma coisa. Eu quero consertar
agora. Quero fazer o que é certo.
- Eu quero ficar no furacão. Me sinto
viva nele.

- Você não está facilitando. Vamos fazer


um pacto. Você vai me prometer que
não, nunca, em hipótese alguma vai
sequer cogitar voltar aos seus hábitos
antigos.

Nada de remédios, nada de álcool, sua


cirurgia está chegando e eu não ficarei
tranquila se não prometer nunca desistir,
e eu vou lhe prometer entrar em contato
sempre que for possível. Callie vai lhe
manter segura e informada.

Quando isso passar vamos aproveitar


tudo de bom que a vida tem para nos
oferecer. Você, Alana e eu.

Roxanne não disse nada. Seu coração


doía demais. Começou a chorar
novamente. Não conseguia imaginar sua
vida longe de Rayka. Só via escuridão
na sua vida antes dela, tinha medo de
não ser forte o suficiente.

- Roxe, graças ao seu pai Alana estará


comigo. Sra Smith disse que foi ele que
conseguiu agilizar o parecer do juiz.
Mas, ele não ficou nada feliz ao saber
que você está envolvida com um furacão
Latino.

- Se você estiver comigo eu enfrento


qualquer tempestade. Só não me deixe
sozinha...por favor.

- Roxanne, já deu a hora. Você precisa


ir.

A policial apareceu na porta.

- Prometa Roxe….por favor. Eu te amo.


Não duvide disso, eu só estou tentando
lhe proteger.

- Eu sonhei com você...eu vi seu rosto.


Eu sei como é seu rosto. Estamos
predestinadas Rayka. Não adianta você
fugir de mim.

- Eu sonho com você toda noite desde


que tinha dezesseis anos amor. Não será
agora que irei lhe esquecer. Prometa.

Roxanne beijou-a sôfrega com lágrimas,


coração batendo descompassado,
dilacerado pela incerteza do futuro, o
qual não conseguia imaginar longe da
mulher que amava.

- Eu prometo.

- Eu também prometo. Eu te amo.

E Callie saiu puxando uma Roxanne


totalmente desfalecida enquanto Rayka
chorava vendo um pedaço do seu
coração ser arrancado do seu peito.
Capítulo 19 - Meu
Coração vai Continuar
Hospital Santa Maria, 4:00
pm

Manuela e Roxanne fizeram o check-in


de internação exatamente uma hora antes
da cirurgia como foi pedido. Manu
acompanhou a amiga auxiliando-a trocar
a roupa pela vestimenta hospitalar azul.
Estava feliz por ela, mas não conseguia
esconder a preocupação de nada dar
certo, ou pior, dar muito errado.
Agradeceu que Roxanne não podia ver
seus olhos úmidos.

- Está muito sexy Roxe. O azul lhe cai


bem.

- Não precisa se preocupar Manu. Vou


ficar bem.

- Eu sei que vai.

- Callie ligou?

- Não. Mas não quero que pense nisso


agora.

- Uma semana sem saber nada dela. Não


vou suportar mais que isso.

- Hey, ela está segura e é isso que


importa agora. Logo essa palhaçada toda
vai acabar. E nós vamos dar boas
almofadadas naquela bunda grande
Latina.

Roxanne sorriu. Manuela Alika era seu


braço direito, sua parte alegre, sempre
fora assim. Lembrou-se da vez que caiu
de skate e ralou o rosto todo no asfalto.

Manu escondeu-a em sua casa três dias


cuidando dos seus ferimentos para que
sua mãe não a proibisse mais de andar
de skate. Elas tinham dez anos. E sempre
fora assim. Sempre ao seu lado a
protegendo de tudo e de todos. Agora
estava ali de novo, abandonou sua vida
em Miami e veio cuidar dela. Havia
conseguido emprego em uma empresa
multinacional e com salário duas vezes
superior ao que tinha em Miami. Ela era
extremamente competente em tudo que
fazia.

Já estavam no quarto aguardando virem


buscá-la para a cirurgia.

- Manu?

- Oi Roxe. Está precisando de alguma


coisa?

- De um abraço.

- Hum… - Abraçaram-se afetuosamente.

- Te amo minha amiga, obrigada por


tudo.

- Também te amo.

- Tenho que lhe contar uma coisa.

- Já sei que você é gay. Aliás Nova York


inteira sabe.

- Boba. Comprei um presente de


aniversário para você.
- Você não está pensando em morrer
antes de amanhã. Está? Nada de
discursos de despedida. E não se dá
presente adiantado que dá um puta azar.
E não precisamos de azar agora.

- Espero que não. Daqui cinco dias será


o meu. A gente sempre comemora juntas.
Esqueceu?

- Assim que vai ser.

- Quando voltar ao apartamento procura


o Sr. Steven da portaria. Deixei com ele.

- Ok. Agora…
O celular de Manuela começou a vibrar.
Ela atendeu e passou para ela.

- É para você.

- Alô?

- Oi Roxe.

- Rayka?

- Eu... só queria que soubesse que eu


estou bem e quero que você também
fique. Eu queria muito estar ao seu lado
agora. Mas meu coração está com você
todo tempo e ele vai continuar.

- Eu sinto sua falta.


- Eu também, mais do que o suportável.
Mas logo estaremos juntas. Então fique
bem e volta para mim. E não deixa eles
estragarem seus olhos lindos, é o que
mais me atrai em você.

- Eu vou tentar. Quando eu vou te


encontrar?

- Logo. Te amo. Se cuida, Roxe.

- Você também, Ray. Até então...

- Hey Roxe, nada de choro. Está tudo


bem. Eles vão te levar agora. Vou ficar
até você voltar, está bem?
- Obrigada Manu.

Duas horas depois Dr. Sanchez veio


conversar com Manuela sobre a
cirurgia.

- Como ela está doutor?

- Ótima. Ocorreu tudo bem. Fizemos três


aplicações em cada olho. Aqui estão as
receitas de alguns remédios que ela vai
precisar para atenuar os incômodos.
Dentro de 5 a 6 dias ela pode ter dores
oculares, coceira, ardência. Receitei
aqui um colírio de uso diário que vai
ajudar.

Às vezes uma dor de cabeça é normal.


Mas se passar de dois dias deve trazê-la
ao hospital. Estamos trabalhando com
regeneração de células, então não vai
acontecer da noite para o dia.

Mas nos outros pacientes com 15 dias


eles começaram a ver clarões, focos de
luzes, que não são coisas da mente. São
reflexos da claridade que aos poucos o
cérebro vai restabelecendo as ligações
de nervos e de neurotransmissores e ele
mesmo vai interpretando como reaia
gradualmente.

- Eu espero ter entendido alguma coisa


doutor.

- Ela pode achar que está delirando.


Mas as imagens são reais. Sugiro que
ela não saia sozinha. E também evite o
sol, a claridade por mais ou menos uma
semana. Usando os protetores oculares
por sete dia seguidos ficará tudo bem.
Todos os demais eu escrevi na receita
para facilitar.

- Obrigada Doutor. Eu posso vê-la?

- Pode sim. Mas ele não acordou ainda.


Amanhã nove horas da manhã ela já
estará liberada. Qualquer coisa é só me
ligar.

- Agradeço doutor.

- Estamos animados pelos bons


resultados.

- Assim seja.

[...]

Rayka não conseguia dormir. Desejava


tanto estar com Roxanne naquele
momento. Mas sabia que o melhor para
as duas era manter a distância. Puxou as
cobertas e cobriu a Alana que cochilava
na cama.

- Lana tem saudades da vampira Roxe.

- Eu também bonequinha. Em breve


estaremos as três juntas. Agora feche os
olhos para dormir, já passou da hora de
bebês dormirem.

- Lana não é bebê. Lana é mocinha.

- Ok, mocinha. Mas vai dormir mesmo


assim.

- Boa Noite tia Rayka. Lana ama você.

- Boa noite meu anjo. Eu também te amo.

Rayca beijou-lhe sobre os cabelos


negros e macios. Estavam em uma casa
pequena, em Manhattan. Callie a
ajudava ir ao mercado comprar comida
sempre disfarçada. Alana ia para a
creche todos os dias com o transporte da
prefeitura. E ela passava os dias
sozinha.

Não sabia mais quanto tempo iria


aguentar. A saudade de Roxanne só
crescia, chegava a doer. Chorava a
noite. Queria ligar, mas Callie proibiu
usar o celular, porque poderia ser
rastreado. Assim ela dependia do
celular da própria policial para ligar
para Manuela. Sabia que o aniversário
de Roxanne estava chegando. Tinha
algo em mente.

Iria falar com a policial para ajudá-la.


Não queria pôr a vida de Roxanne em
risco. Mas precisava ao menos vê-la
novamente. Por que sua vida tinha que
ser tão complicada? Tanta gente que se
ama e não está junto, tanta gente que está
junto e não se ama!

Abraçou Alana carinhosamente. A única


coisa que a confortava era estar com
aquela bonequinha ao seu lado.
Protegendo-a de tudo e de todos.

Fechou os olhos e suspirou às


lembranças dos olhos verdes que amava
e que em breve poderiam vê-la também.
Se Deus quisesse. Dias melhores viriam.
Precisava acreditar nisso. Dormiu
mentalizando sonhar com ela.
Capítulo 20 - Feliz
Cumpleaños
Nova York, 8:23 am

Manuela já estava pronta para buscar


Roxanne, quando Jess chegou sorridente.

- Bom dia senhorita Alika! Feliz


aniversário!

- Ohhh que fofa. Obrigada Jess. Que


presente melhor do que buscar minha
bunda branca e trazê-la para casa?

- Com certeza melhor notícia. Nem


acredito que em breve srta Mackenzie
estará enxergando novamente. Parece um
sonho.

- Com certeza Jess. Não posso nem


imaginar minha alegria quando isso
acontecer.

- Vem, vou fazer um café gostoso para


senhorita antes de sair.

- Não vai dar Jess. Se eu não chegar lá


no horário Roxanne me mata. Tomarei na
volta.
- Que pena, então vou fazer um almoço
especial para vocês e um bolinho para
comemorar.

- Ai Jess, você é um amor.

Manuela abraçou-a depositando um


beijo na bochecha saliente da mexicana.

- Imagina, vocês merecem.

- Hey Jess, será que hoje meu


aniversário, você não poderia ler as
cartas para mim? Estou precisando de
umas respostas do universo.

- Claro. Será um prazer. O universo


sempre tem respostas e as cartas nunca
mentem.

- Ótimo. Vou indo.

- Olha, deixei um embrulho aí na


bancada, sr Steven pediu para entregar,
disse que foi a menina Mackenzie que
deixou para você.

- Ah claro, era para ter pegado ontem,


mas eu acabei esquecendo. Obrigada
Jess.

A loira pegou um embrulho pequeno em


papel dourado. Havia um cartão
anexado.
“Para minha irmã-amiga mais
amada desse mundo.

Feliz aniversário Manu.

te amo”

Roxe

PS: Só abra no estacionamento do


prédio. Por favor, obedeça!

- Ok. Mackenzie está aprontando de


novo. Fui.

Quando desceu do elevador no térreo,


assim que chegou no pátio do
estacionamento seu coração pulou dois
compassos.

- O que é isso meu pai?? Jesus, Ave


Maria!!!

Bem de frente uma Honda CR-V Touring


vermelha com um laço rosa enorme e
uma placa no vidro dianteiro dizia:
"Parabéns Manu", estava a sua espera.

- Cacetada!

Rasgou o embrulho e a chave caiu no


chão tamanho era seu nervosismo.

- Puta que pariu Roxanne! Não acredito!

Bem, ela ficou ali vários minutos


pulando, dançando, cantando até
finalmente retirar o laço e o cartaz jogar
no bagageiro enorme para ir buscar sua
irmã-amiga. Sabia que os Mackenzies
tinham dinheiro, mas isso já era demais!

- 0km! Automático! Roxe... você me


mata desse jeito. Eu vou ficar um nojo
nesse carro!

Quando chegou no hospital e entrou no


quarto, Roxanne já estava trocada com a
mochila nas costas.

- Bom dia Roxe. Aliás lindo dia. Ouviu


os sinos quando entrei?

- Sinos?
- Coral de anjos?

Ela tirou os óculos escuros pendurando


sobre o decote em vê do vestido azul
royal justo, que deixava suas coxas e
pernas bem torneadas à mostra, enquanto
se aproximava da cama onde Roxanne
estava encostada dando-lhe um abraço
demorado.

- Porque é meu aniversário e o dia está


belíssimo.

- Ah Parabéns Manu! Mas porque


demorou? Não sabe que detesto
hospitais?
- Eu meio que estava em choque. Tinha
um avião no estacionamento com meu
nome!

- Então entregaram errado.

- É uma pegadinha ou coisa do tipo?

- Boba. Por que eu faria isso?

- Mas é um carro muito caro Roxe…

- Eu tinha umas economias e você


merece. Se vai morar comigo achei justo
que pudéssemos ter mais conforto e
segurança.

- Linda. Então vamos que precisamos


estrear o avião em uma boa pista.

- Já estou com medo e arrependida.

- Você está bem? Alguma dor?

- Estou ótima. Só esse tampão que é


desconfortável.

- Coloca os óculos escuros Roxe,


porque nós vamos arrasar em Nova York
inteira desfilando pelas avenidas!

- Eu já imaginava…

Fizeram o percurso de vinte e cinco


minutos em uma hora, porque Manu
queria ficar rodando pela cidade de
vidros abaixados, CD da Beyoncé no
último volume e cantando junto.
Roxanne já sentia uma leve dor de
cabeça, mas estava feliz pela amiga,
quanta coisa difícil ela já tinha feito por
ela. Manu merecia.

Depois do almoço delicioso que Jess


preparou sentaram sobre o tapete da sala
e Jess se preparava para ler as cartas de
tarot. Manu foi a primeira.

- Muito bem srta Alika. Está é a carta do


rei de copas.

- Isso é bom não é?

- Sim. O rei de copas simboliza


sabedoria para novas decisões. A
senhorita está em uma fase de novas
metas e de decisões importantes que vão
resultar em grandes mudanças na sua
vida.

E uma delas está no relacionamento.


Novidades em seu caminho vão balançar
seus conceitos e você terá grandes
surpresas e boas. Muito boas.

- Uau...estou de queixo caído.

- E tem mais, essa pessoa é de muita


confiança de muita estabilidade
emocional. Será uma âncora para seu
barquinho errante.
- Um marinheiro hein? Estou totalmente
aberta às possibilidades!

- Espero que esteja mesmo senhorita.


Porque pode ser que as aparências
enganem.

- Adoro surpresas. Pago para ver Jess. E


que o destino me surpreenda.

- Agora é sua vez srta Mackenzie.

- Ok. Vamos lá. E não, eu não gosto de


surpresas.

Ela virou uma carta e ouviu suspiros.

- O que foi?
- A senhorita tirou a carta da morte.

- Jesus acenda a luz!

Manuela gritou fazendo sinal da cruz.

- Calma. Muitos associam essa carta a


morte física.

Continuou Jess bem concentrada.

- Não é assim. Essa carta está ligada à


recomeços. É hora deixar o passado
finalmente para trás e começar uma nova
fase, enterrar o que passou.

- Interessante.- Roxanne disse pensativa.


- Srta Mackenzie... é hora de deixar
antigas mágoas, antiga vida para trás,
essa carta avisa que é hora de mudar, e
que para isso as energias do Universo te
ajudarão a tomar uma importante
decisão.

- Certo.

Mais tarde Manu e Roxanne ficaram


disputando no karaokê até tarde da noite.
Comeram pizza de jantar e estavam
agora comendo bolo de aniversário de
sobremesa.

- Sabe que eu pensei Manu?


- Diga.

- Que a gente devia ir para Miami no


meu aniversário.

- Sério? Nos dois últimos você não quis


ir.

- Bem, acho que está na hora mesmo de


enterrar o passado. E eu sei o quanto
minha família sofre com minha ausência.
O que acha?

- Acho ótimo. Tia Clarice vai ficar


muito feliz. Seu aniversário é no sábado.
Maycon e Tessa vão poder vir, será
maravilhoso.
- Então vamos. Podemos ir na sexta a
tarde quando você chegar do trabalho.

- Não. Podemos ir cedo. Falo com meu


chefe sem problemas, posso trabalhar a
distância. Mas você está bem para
viajar? Seus olhos estão sensíveis.

- Estou bem sim. Vou tomar todos os


cuidados. A consulta de retorno é só
daqui há sete dias. Vamos ir e voltar a
tempo.

- Uau. Estou surpresa com essa nova


Roxanne. Disposta a surpreender.

- Preciso conversar com minha família,


vou aproveitar o momento.
- O que? Vai falar sobre a Latina?

- Vou falar sobre mim. Espero que não


se decepcionem.

- Tenho certeza que vão entender. Talvez


apoiar no início não, mas eles amam
você demais.

- Espero que sim. Pois estou decidida


que quero aquela Latina na minha vida.

- Ixiiii….pedido de namoro à vista?

- Está na hora não?

- Meu Deus! Você é outra pessoa. E eu


gosto muito dessa nova Roxanne
Mackenzie!

Miami, 11:35 am

Ao desembarcarem Henry Mackenzie já


aguardava ansioso pelas duas.
Abraçaram-se afetuosamente por alguns
minutos cheios de saudades.

- Como foi o voo?

- Tirando a parte da Manu roncando no


meu ouvido estava ótimo.

- Absurdo! Só fechei os olhos!

- E você está bem após a cirurgia?


- Ótima Papi.

- Nem acredito que você veio. Se


prepara porque sua mãe anunciou para
gangue Mackenzie inteira. Casa cheia
daquele jeito.

- Eu sabia. Estou preparada.

E foi mesmo uma surpresa muito boa


para a família ter Roxanne em casa
novamente. Tios, tias, avô, avó, primos
e primas...não cabiam na casa.

E é claro que no sábado programaram


uma festa de aniversário com muito
churrasco, comida e doces ao exagero,
marcas da família Mackenzie.

Estava no seu quarto que continuava


intacto como se ela nunca tivesse saído
daquela casa. Manu fez questão de lhe
comprar uma roupa nova para a ocasião.
Um vestido xadrez vermelho e preto de
tecido leve, sem mangas e acinturado,
comprimento na altura das coxas e com
um cinto fino preto e meio salto, pois
não se dava com saltos, estava sempre
tropeçando então não era nada seguro.

Manuela havia ligado pedindo para


esperar que ela viria lhe fazer uma
maquiagem. Ouviu a porta ranger.

- Roxe? Posso entrar?


- Tetê?

- Isso. Nossa, há muito tempo ninguém


me chama assim.

- Às vezes esqueço que você cresceu.

- E você está tão linda.

- Sério? Nada do avesso?

- Não.

Ouviu a irmã mais nova rir. Coração


apertou um pouco. Não sabia que sentia
tanta falta dela.
- Vim fazer sua maquiagem.

- Onde está a louca da Manu?

- Disse que tinha que buscar uma


encomenda que era seu presente.

- Pensei que essa roupa fosse o presente.

- Você conhece ela. Senta aqui que eu


vou fazer você ficar ainda mais linda.

- Você aprendeu a maquiar? Porque me


lembro da sua festa de 15 anos e você
parecia o Coringa.

- Boba!
Roxanne levou um tapa.

- Hey... não me bate!

- Senta aí. Aprendi umas coisinhas esses


anos.

- E aquele tal de Jimmy que está na


festa. Quem é?

- Hum... você também?

- Por quê? Papi também já deu um


sermão?

- Dois. Por que ninguém dá sermão em


você?
- Porque não preciso. Sou a mais
ajuizada da família.

- Sei...fica quieta aí um pouco. Estou


feliz que esteja tão bem. Jimmy é só um
amigo. Agora você parece apaixonada.
O que aconteceu hein?

- Nada. Estou contente pela cirurgia, se


tudo der certo poderei enxergar
novamente em breve.

- Isso é fantástico. Mas acho que esse


brilho todo na íris deve ser de outra
coisa.

- É sim. Do colírio que estou usando,


por isso não abusa da maquiagem.
- Que saudades que eu estava desse seu
humor. Só vou te avisando. Tem bolo
surpresa e a sala tem mais gente que nas
bodas da vovó.

- Mesmo eu implorando para ser


discreto não é?

- Conhece a mamãe. Tem até balões


coloridos. Quantos anos ela acha que
você tem? Vem, vamos descer. Finge
surpresa.

A festa de aniversário estava rolando


desde sexta a noite com muita gente,
comida e barulho. Roxanne pediu nada
de surpresas. Pelo jeito não adiantou.
Já eram cinco da tarde e a casa ainda
estava cheia, assim como a piscina já
que a temperatura estava muito
agradável devido a aproximação com o
verão.

Ela desceu as escadas apoiada pela


irmã. Devido não estar mais acostumada
com a casa. Quando chegou nos últimos
degraus da sala ouviu o famoso
parabéns para você e Tessa a guiou até a
mesa da sala de jantar para soprar as
velas.

- Faça um pedido! - gritaram

- Cuidado Roxe, os desejos podem se


realizar bem mais rápido do que você
imagina.

Manuela gritou acima das outras vozes.

Agradeceu o carinho da família e


assoprou. Recebeu alguns abraços e
então foi quando seu coração pulou um
compasso e disparou no peito. Um
silêncio caiu de repente e uma voz
harmoniosa começou a cantar:

" Feliz cumpleaños a ti,

Feliz cumpleaños a ti,

Feliz cumpleaños Roxe


Feliz cumpleaños a ti.

Que los cumpla feliz,

Que los vuelva a cumplir,

Que los cumpla bastante,

Hasta el año 3000"

Será que os delírios que Dr. Sanchez


havia previsto já tinham começado? Ou
seria possível que ela estaria na sua
casa em Miami entre toda a sua família
cantando-lhe parabéns?

- Rayka???
- Felicitaciones cariño!
Capítulo 21 - Presente
para você
Miami, 5:35 pm

Roxanne achou que estava tendo um


delírio, mas o cheiro de morangos
maduros invadiu suas narinas e ela
soube que era real. Por mais louca que
aquela ideia parecesse.
- Rayka?

- ¡Feliz cumpleaños cariño!

- Oh meu Deus! É você mesmo?

- Sí. Soy yo!

Tinha umas quarenta pessoas na casa,


mas Roxanne não ouvia mais nada e nem
ninguém. Agarrou sua Latina cheirosa
como agarraria um colete salva vidas no
Titanic.
Não se importou de chorar. Ouviu o
pessoal pedindo bolo, mas só queria
ficar ali agarrada ao seu porto seguro.

- Hey Roxe...eu trouxe um presente para


você.

- Você é meu presente!

- Que euzinha trouxe!

Manu chegou abraçando as duas.

- Parabéns amiga.

- Eu te amo Manu.

- Difícil não me amar. Eu sei.

Enquanto a música ganhava volume e as


pessoas se afastavam Roxanne saiu
puxando Rayka.
- Acha as escadas e entra na porta roxa.
Agora!

- Ok, calma aí minha vampira linda.

Rayka subiu as escadas segurando-a


pelas mãos com os dedos entrelaçados.
Pareciam duas adolescentes rindo das
próprias traquinagens. Rayka fechou a
porta e passou a chave. Não que tivesse
nada em mente. Nem tinha conhecido a
família Mackenzie ainda, mas já estava
assustada.

- Não acredito que você está aqui!

Rayka sentou-se ao seu lado na cama.


- Nem eu. Manu falou com a Callie e
duas horas depois a gente estava no
avião.

Rayka puxou-a para si colocando as


mãos em seus cabelos sedosos tocando-
lhe a nuca. Seus lábios se encontraram
com doçura, mas sedentos ao mesmo
tempo de saudades. Como sentira falta
daquela boca linda. Enquanto a beijava
seu coração parecia subir pela garganta.
Mordiscou-lhe o lábio inferior buscando
mais ar.

Encostou a testa na dela olhando


para aqueles olhos verdes que tanto
amava. Ela estava simplesmente linda.
Aspirou-lhe o perfume e beijou-a
novamente sobre os olhos notando o
inchaço e pequenos pontos próximos às
sonbracelhas.

- Como estão seus olhos Roxe? Como


foi a cirurgia? Você está bem?

- Estou bem. Eles ardem às vezes e


coça, mas estou bem. Estou feliz que
veio. Callie está aqui?

- Está...não sei não. Ela parecia bem


empolgada para ver a Manu.

- Será que...as duas...

- Eu não sei. Mas fico feliz se estiver


rolando alguma coisa.
- Manu? Uau...

- Eu trouxe um presente para você.

- Já disse que você é meu presente.

- Segura Roxe.

- Obrigada. Não precisava.

- Vou abrir para você.

Desembrulhou a caixa. Colocou sobre as


mãos dela.

- Eu queria te dar algo que pudesse


contar um pouco da nossa história. Diga-
se de passagem é bem louca. Eu fiz uma
caixa de memórias.

- Nossa. Você sempre me


surpreendendo.

- Eu sei que você não pode ver agora,


mas vai poder ver em breve, então eu fiz
uma linha do tempo da nossa história.

- Queria muito ver isso.

- Eu te mostro, escuta só: primeiro


encontro no Central Parque, você
esqueceu essa pulseirinha preta no
banco que estávamos sentadas e você
teve uma crise de pânico.
- Puxa. Não sabia que tinha perdido lá,
não aquele dia.

- Eu queria devolver, mas sei lá. Tinha


seu cheiro... então guardei.

Roxanne sorriu e pegou nas mãos a


pulseira simples que ganhou do pai antes
de ir para faculdade.

- Segundo encontro: Starbucks. Você


pediu um duplo com creme de avelã e
um donuts de morango. Você limpou os
lábios nesse guardanapo e ficou a marca
do seu batom.

- Estou ficando com medo.


E Rayka riu, aquela risada gostosa que
ela amava.

- Terceiro encontro: Restaurante Sushi


way.

- Você me atropelou.

- Culpe o universo, ele queria que a


gente se encontrasse de qualquer jeito.
Guardei o panfleto com o especial do
dia e tem a data impressa.

- Uau...isso é legal.

- Quarto encontro eu te vi no shopping


Manhattan Mall e eu escrevi um bilhete
no guardanapo.
- Foi bem ousado da sua parte.

- Eu entreguei um com meu número e o


nome fonte Bethesda 12 pm. Mas antes
eu tinha escrito esse: Estou pesquisando
Vampiras preciso de uma cobaia. Ainda
interessada no meu sangue latino? Me
liga.

- Estou começando achar que você


estava muito interessada em mim.

- Você duvida ainda? Ah e tem essa foto


do nosso piquenique no Central Parque,
primeiro encontro oficial.

- Foi maravilhoso esse dia. Eu estava


tão impressionada...que eu não sabia o
que dizer.

- Hum eu consegui te impressionar? E


tem a pulseira da balada no The
Copacabana. O dia que quase te beijei.
Mas você fugiu para o banheiro.

- Vamos pular essa parte.

- Que droga foi aquela? "Eu preciso de


um banheiro?"

- Eu estava nervosa. Comecei a sentir


um calor estranho pelo corpo todo. Não
sabia o que era.

- Agora sabe?
- Ah sei...como sei.

Beijou-a ternamente.

- Calma aí Roxe. Tem ainda foto nossa


na Clotilde e na praia.

- Inesquecível também. Dia louco


aquele.

- E por último tem um vídeo do nosso


primeiro beijo. Tirei uma foto e
emoldurei.

- Peraí. Como você tem um vídeo


daquele momento?
- Eu coloquei a câmera para filmar você
tocando e aí me perdi naquela magia
toda e consegui um beijo antes de você
me jogar no chão.

- Hey! Não foi bem assim.

- Está filmado para próxima geração


você me jogou no chão.

- Eu me assustei! Não sei se quero


realmente ter essas memórias. Pareço
uma boba em todas elas.

- Ohhh bobinha. É a coisa mais fofa


falando assim. E para terminar fiz
bombons recheados de morango em cada
bombom tem uma letra de chocolate que
você pode ler passando os dedos.

- Hum...adoro morangos, adoro


chocolates. Deixa eu ver se consigo -
tateou a caixa com delicadeza.

- "Eu amo você Roxe".

- Isso. E é verdade.

- Obrigada Rayka, você é tão sensível e


ao mesmo tempo é tão impetuosa como
um furacão e eu amo isso. Não é à toa
seu nome ser de uma deusa do vento.

- Foi um elogio?

- Bobinha. Claro que sim.


- Quando meu apartamento pegou
fogo, só pensei nessas lembranças que
estavam na minha mochila porque era a
única coisa que eu não queria perder,
além das fotos da minha família.

- Obrigada. Eu amei. De verdade.

- Agora experimenta.

Colocou um bombom na boca de


Roxanne e a beijou.

- Delícia.

Alguém bateu na porta.


- Roxanne??

- Ferrou! E se for sua mãe?

- Não é. Pode abrir. É a Tetê.

- Não. Espera preciso esconder tudo


isso.

- Põe embaixo da cama.

- Roxe???

- Já vai.

Rayka levantou-se e abriu a porta às


pressas.
- Hey... estão te procurando lá embaixo
e a mamãe estava subindo e eu achei
melhor...vir na frente.

- Estamos indo. Obrigada.

- Você deve ser a Rayka. Certo?

- Sim. Prazer em te conhecer. Desculpa


a indelicadeza.

- Roxanne é a indelicada aqui que não


apresenta as "amigas". Tessa Mackenzie.

- Vem Rayka, não liga pra ela. Ela não


tem amigas porque é muito chata. Vou te
apresentar minha família.
Desceram rindo e Tessa deu um tapa em
Roxanne. Logo Rayka conheceu a
família Mackenzie tentando memorizar
os nomes, recebeu um abraço apertado
da Sra Mackenzie que era tão bonita
quanto todo o resto da família.

Todos foram muito gentis e educados e


aos poucos a casa foi esvaziando
conforme a noite chegava. Sentou-se no
sofá ao lado da avó de Roxanne que era
muito gentil e contava histórias de
quando ela era criancinha.

O irmão de Roxanne, Maycon, chamou


todos para a piscina e a festinha mais
jovem continuou noite a fora. Roxanne
insistiu para que ela colocasse biquíni
também e foram participar da bagunça.

O Sr. Mackenzie continuava assando


churrasco enquanto só sucos e
refrigerantes eram servidos.
Roxanne recebeu um cutucão do irmão.

- Hey Roxanne, fala bem de mim para


sua amiga. Ela é muito gata. Nossa!

- Hey seu idiota...tira o olho dela. Não é


para seu bico.

Empurrou-o para a água.

- Hey Roxe, vou indo nessa.

Manuela apareceu com Callie ao seu


lado.

- Já? Ainda não é nem dez da noite.

- Roxe, você perdeu a noção mesmo. Já


deu meia noite e a Callie trabalhou o dia
todo. Vou levá-la para descansar.

- Ok...me dá um abraço.

- A gente vem amanhã para o almoço. O


que acha?

- Ótimo. Obrigada por isso.

- Está falando da Latina?

- Estou sim.
Abraçou a amiga que cochichou.

- Quer que ela durma lá em casa ou você


vai cuidar disso?

- Com certeza eu vou cuidar disso.

- Assim que se fala. Fui.

Rayka estava com frio. Pegou um roupão


que Roxanne havia lhe dado e vestiu.
Aos poucos a piscina foi esvaziando,
procurou ela com os olhos e viu seus
pais recolhendo as coisas e fechando
tudo.

Maycon foi o último a sair da água


levando os amigos e primos junto com
ele. Roxanne voltou guiada pela irmã e
se sentou em umas das espreguiçadeiras
próximas a piscina. Rayka foi até ela.

- Senta aqui comigo.

- Onde está a Manu?

- Ela já foi.

- E me deixou?

- Sim.

- Achei que iria ficar na casa dela. Eu


nem trouxe roupa.
- Não se preocupa. Pode usar todas as
minhas. Minha mãe mantém até minhas
meias da pré escola intactas.

- Adorei sua família.

- Sério? Não são barulhentos e


intrometidos?

- São sim...e isso é bom. Uma família


grande e todo mundo junto celebrando é
emocionante. Eu não tenho nenhuma
família. Apenas Alana que me sinto
muito mal por deixá-la para vir para cá.

- Hey, não se sinta assim. Vem cá.

- Desculpa por isso. Estou muito feliz de


te ver.

- E eu estou feliz que veio. Logo vamos


estar todas juntas. Ok?

- Sim. Onde estão seus pais?

- Já foram dormir. Maycon foi para outra


festa. Tessa saiu com o tal de Jimmy,
meus avós já estão deitados há horas e
Manu fugiu com Callie.

- Hum...então acho que podemos


aproveitar o seu segundo presente.

- Segundo presente?

- Eu vi que vocês têm um ofurô bem no


jardim ao lado da piscina. Vem.

Saiu puxando Roxanne pelo braço


depois de arrancar o roupão.

- Calma señorita.

- Vem Roxe...a água está quente. Me dá a


mão. Devagar.

- Certo.

Rayka ajudou-a descer segurando-a pela


cintura. Os corpos se tocando. Puxou-a
para mais perto beijando-a no pescoço.

- Rayka...tem certeza que esse é um bom


lugar...???
- Esse é o lugar perfeito Roxe. O que
acha que as pessoas fazem em um ofurô?

- Relaxam?

- Hahaha. Você é tão meiga Roxe. É isso


mesmo. Eu vou fazer você relaxar... feliz
aniversário Vampira!
Capítulo 22 - Eclipse
Miami, 1:01 am

Rayka puxou-a para si, com uma mão


segurou-a pela cintura, com a outra
segurou seu queixo e a mordeu em um
beijo quente deslizando os seus lábios
sobre os dela, a segurando firme
enquanto o tesão explodia entre elas.
Desceu os dedos por entre as coxas
grossas de Roxanne, tateando,
pressionando seu desejo e ela gemeu
alto.

- Shiuuuu...não pode fazer barulho Roxe.

Cochichou lascivamente ao pé do
ouvido dela sentindo-a arrepiar-se toda.

Roxanne agarrou-se a sua Latina


pressionando seus quadris contra os
dela enquanto a puxava pela nuca se
perdendo naqueles cabelos cheirosos
pedindo por mais. Estava louca de
vontade e de saudade dela. Foi então
que Rayka empurrou o rosto dela para
trás, sem tirar os dedos de onde estavam
e falou algo tão safado no seu ouvido
que a reação foi instantânea, soltou os
cabelos agarrou-a pelas nádegas
cravando suas unhas ali com uma
pontada de tesão.

- Raykaaaaa - gemeu de novo.

- Eu estou tão louca de vontade de você


Roxe, mas você não pode gemer alto, ou
serei expulsa em menos de 24 horas da
família. Mantenha sua boca aqui.

E ela tomou-lhe os lábios de novo em


outro beijo de tirar seu fôlego. E os
beijos foram ficando ousados e quentes
sem conseguirem mais aplacar as ondas
vibrantes do desejo. Rayka tocou sua
virilha tateando o canto do biquíni
pedindo passagem, escorregou um dedo
para dentro dela, apenas um, trazendo
um gemido forte abafado pelos seus
lábios em sua boca. Abriu os olhos
porque precisava daquele olhar.

Estavam a meia luz, apenas o luar


refletindo nas águas da piscina e fazendo
movimentos de luz e sombra sobre ela.
Linda com o rosto em brasa, lábios e
cabelos molhados.

Os olhos verdes como duas esmeraldas


se abriram lentamente e Rayka não
duvidava de que de alguma forma ela a
pudesse ver. A íris dilatada como olhos
de gata, pantera a fitaram enquanto seus
lábios se curvaram em um meio sorriso.
- Linda...eu poderia me perder sob esse
olhar.

- Então me faça te ver nas estrelas


Rayka.

Foi a vez de Rayka gemer inebriada, em


seus ouvidos podia ouvir Crazy in Love
de Beyoncé na versão remix, levando-as
à loucura, escorregou mais um dedo,
bem devagar, gostava de senti-la em
cada pulsação, gostava de ver suas
reações, mudou a posição dos dedos
sentindo-a toda pronta, excitada, quente,
pulsando.

Roxanne enroscou-se entre os quadris


dela, quando ela se sentou na borda
inferior do ofurô puxando-a ainda mais
para si perdendo-se naquelas sensações,
esqueceu onde estava, do perigo de
serem pegas, só queria sentir Rayka
dentro de si o máximo possível.

Rayka sentia a urgência de Roxanne,


aprofundou mais os dedos dentro dela
enquanto sentia-a empurrar sua pélvis
contra ela tornando os movimentos mais
firmes, precisos, ousados, quentes!

- Estava com saudades de mim


Roxanne?

Ela sussurrou enquanto mordia seu


ombro e puxava a alça do biquíni para
baixo revelando seus seios fartos e
firmes banhados pelo luar revelando
toda a sua brancura e a excitação
evidente.

- Simmm...es..ta..va. Muita.

Sua voz não passava de um gemido


rouco. Sua razão começou a esvair-se
quando Rayka inclinou o rosto
passeando pelo seu colo com aquela
língua quente e ousada enquanto seus
dedos aumentavam o ritmo dentro dela.

Com Rayka era sempre assim, o prazer


era tortuoso, intenso como um furacão. A
deusa do vento que havia varrido sua
sanidade para longe. Seu corpo tremia
ante a expectativa do prazer inevitável.
Ela mordeu-lhe os mamilos enrijecidos.

- Raykaaaaa...

- Amo quando fala meu nome assim.

E Rayka tomou-lhe os lábios de novo


enquanto seu corpo era sacudido como
um vulcão prestes a ser ativado.
Agarrou-se ainda mais a ela puxando-a
pelos cabelos a temperatura subindo
mais do que naquela água quente, as
duas estavam ofegantes.

Rayka mordiscava-lhe os lábios, tornava


a insinuar sua língua passeando por
aquela boca gostosa e quente sentindo-a
em todas as suas vibrações, movia-se
em frenesi enquanto sentia seu próprio
sexo pulsando em brasas.

Iria explodir em êxtase a qualquer


momento somente em senti-la, porque
Roxanne era seu tudo, seu mundo, seu
prazer, seu ar ela era tudo que ela
precisava, bastava ouvir seus gemidos,
olhar naqueles olhos, tocá-la e pronto
ela se sentia viva, plena, completa.

Roxanne sentiu seu ventre todo se


contrair, sua pulsação estava a mil, seu
corpo queimava daquele jeito que só
com Rayka podia sentir. Ela sabia onde,
como e quando a tocar. Era carinhosa e
terna e ao mesmo tempo podia ficar
selvagem e devastadora como uma
tempestade de verão. Queria gritar ou
explodiria.

- Raykaaaa...

- Roxeeee...goza….pra mim e comigo


agora...

Rayka continuou investindo seus dedos


procurando aquele ponto mais sensível
ao mesmo tempo que seu polegar tocava
seu nervo rígido que anunciava o ápice
iminente. Sentiu seu próprio corpo
estremecer ao perceber a contração do
interior dela sobre seus dedos, Roxanne
cravou a boca no seu pescoço como uma
vampira faminta enquanto ela sugava-lhe
um dos seios para abafar seu próprio
grito de prazer.

E Roxanne sentiu, viu as estrelas,


enquanto Rayka agarrava um dos seus
seios e a tomava com tanta
possessividade fazendo dela a mulher
mais feliz do mundo.
Tão sua. Estremeceu três vezes tentando
buscar ar para respirar espasmando de
prazer. Só então Rayka a soltou subindo
a boca para seus lábios novamente
enquanto as mãos colocavam o biquíni
no lugar.

Depois se abraçaram sentindo uma o


coração palpitante da outra, ofegantes,
em êxtase. Era uma sensação incrível de
pertencimento.

- Tudo bem amor? Eu gosto de ouvir seu


coração assim…- disse Rayka.

Roxanne sorriu extasiada jogando a


cabeça para trás daquele jeito
debochada e sexy. Maldita vampira
sexy!

- Eu amo ver você sorrindo assim…-


continuou ofegante.

- Sabe o que me faria sorrir assim


sempre?

- Hum...pede e eu farei.
Por Deus, Rayka era dela por inteiro, se
ela estalasse os dedos atenderia como
um animal de estimação. Estava
loucamente perdida por aquela morena
de olhos verdes.

- Seja minha namorada!

- O quê??

- Rayka Rivera, você quer namorar


comigo?

Roxanne desejou muito poder ver a


expressão dela, pois houve alguns
instantes de silêncio durante os quais
seus coração não bateu. Apenas o
barulho dos jatos d’água no ofurô
quebravam o mesmo. Segurou-a pelos
ombros.

- Rayka? Tudo bem?

- Tudo bem? Eu entendi direito? Acabou


de ter um eclipse lunar milenar em
minha mente. O que disse?

- Se você quer ser minha namorada.

- De verdade? Tipo oficial? Tipo andar


de mãos dadas na rua? Tipo viajar
juntas?

- Eu acho que é isso que namoradas


fazem. Não é?
Silêncio.

- Hey, o que foi? Foi muito impulsivo?


Não é isso que você quer? Rayka???

- Roxanne Mackenzie está me pedindo


em namoro dentro de um ofurô seminua.
Dá pra você entender minha posição
aqui? Estou chocada. Nem nos meus
melhores sonhos planejei isso.

- Por que tudo que envolve você é meio


louco? Diz sim ou não.

- Estou lembrando a primeira mensagem


de áudio que recebi sua.

- Queria entender sua mente...


- Eu quase tive um orgasmo com ela.
Meu corpo queimava todinho só de
imaginar você falando qualquer coisa ao
pé do meu ouvido…

- E????

- E...estou sentindo a mesma coisa


agora. Você poderia repetir no meu
ouvido?

Roxanne teve vontade de sacudi-la. Mas


queria saber a resposta para a pergunta
mais difícil que já fizera. Abraçou-a
carinhosamente e suspirou em seu
ouvido sentindo-a estremecer todinha
com a voz baixa, quente e sexy.
- Rayka Rivera, você gostaria de ser
minha namorada oficial, para andar de
mão dada na rua, viajar, e tudo mais que
isso significa para você?

- Sim meu amor. É tudo que eu mais


quero nesse mundo.

Beijaram-se afetuosamente selando o


pacto de amor, e a luz da lua brilhante
no céu testemunhou.

Miami, 4:05 am

Roxanne segurou a mão dela junto ao


seu coração.
- Sinta isso Ray.

- E o povo diz que Vampiros não têm


coração. Olha só isso!

- Você me deixa assim.

- Sinta o meu também. É recíproco meu


amor. Desde o primeiro dia que te vi.

- Hey, vamos subir? Daqui a pouco o sol


nasce e a gente está aqui.

- Vamos. Preciso de um banho.

Entraram na casa na ponta dos pés para


não acordar ninguém. Antes passaram
pela geladeira e pegaram um pote de
sorvete, suco e guloseimas.

Subiram as escadas dando risadas e


tropeçando uma na outra causando mais
risos. Rayka trancou a porta, colocou a
comida na escrivaninha. Nem podia
acreditar que estava na casa da família
Mackenziei. Que por sinal era enorme.

Toda em estilo vitoriano com janelas


enormes de madeira escura, uma sala de
jantar, uma sala de estar, uma cozinha
extensa em conceito aberto, um salão de
jogos, cinco quartos todos suítes e um
jardim estupendo também com piscina.
Mansão Mackenzie.

Na sala de estar tinha um piano de cauda


preto lindo. Estava impressionada. O
quarto de Roxanne era grande, mas bem
menor que o seu de Nova York.

Era todo roxo com uma cama grande


branca linda, nas paredes tinha posters
de bandas de rock e algumas fotos dela
criança. Ficou se perguntando como
seria sua vida se ela não tivesse sofrido
o acidente. Uma coisa ela sabia, nunca
teriam se conhecido.

- Rayka, você pode pegar roupas para


nós? Minha mãe sempre enche de roupas
novas, escovas de dente, calcinhas, toda
vez que eu venho.

- Ok. Eu vou procurar. Você pode tomar


seu banho primeiro.

- Está bem. Fica a vontade.

Que mundo era esse que ela estava se


metendo.

- Calma Rayka, tenta não surtar.

Achou roupas confortáveis para as duas,


achou produtos de higiene e entrou no
banheiro para escovar os dentes
enquanto esperava ela sair do banho.
Descobriu que era difícil a tarefa de
escovar os dentes vendo-a nua no box.
Um calor começou subir pela planta dos
pés.
- Se quiser cabe você aqui.

A safada sabia que ela estava ali.


Mesmo sem fazer qualquer movimento!

- De jeito nenhum. A vista está ótima


daqui.

E ela riu jogando a cabeça para trás.

Droga! Por que ela faz isso?

Saiu dali antes que perdesse o controle.


Roxanne tinha esse poder sobre ela.
Nunca sentira essas loucuras por outra
pessoa. Ela saiu do banho de roupão e
outra toalha enrolada no cabelo.
- Achei um pijama para você Roxe.

- Obrigada. Tem certeza que não é das


meninas super poderosas ou de alguma
princesa? Minha mãe esquece a minha
idade.

- É do ursinho Pooh. Não sei se ajuda.


Eu acho fofo.

- Meu Deus! Se você acha então eu uso.


Agora vai tomar seu banho.

Depois de vestidas, Rayka se pôs a


pentear os longos cabelos escuros dela,
secou, escovou e ficaria horas ali
cuidando dela. Enquanto cuidava
conversavam e riam. E entre um riso e
outro um beijo.

Depois secou o seu próprio cabelo.


Comeram sorvete e deitaram para
dormir quando o dia clareava. Estava
deitada sobre o coração de sua Vampira
que fazia carinho nela enquanto cheirava
seu cabelo, vez ou outra beijava sua
cabeça.

- Quando você vai voltar para Nova


York Rayka?

- Callie disse que segunda-feira temos


que voltar. Porque ela está a serviço.

- Já? Queria muito que ficasse aqui


comigo.
- Eu sei. Mas tenho que voltar para
Alana.

- Sim. Eu também preciso voltar para as


reuniões e consultas. Mas achei que
teria mais tempo com você. Ainda vai se
esconder de mim?

- Não é de você Roxe, mas sim, por um


tempo.

- Ah não. Eu não aguento mais isso.


Agora somos namoradas, não podemos
ficar sem nos vermos e nem sem falar
uma com a outra.

- Eu sei Roxe. Será por pouco tempo.


Callie disse que falta muito pouco para
prenderem ele. Parece que ele está
envolvido com a máfia mexicana.

- Eu tenho tanto medo de que possa


acontecer alguma coisa com você.

- E eu de que aconteça com você. Por


isso concordei em me afastar amor, para
garantir sua segurança.

- Eu sonhei com você. E você estava em


perigo.

- Estou aqui agora. Não vou a lugar


algum. Me proteja nos seus braços.

- Sempre. Aqui é o seu lugar. No meu


coração.

Dormiram abraçadas querendo uma


proteger a outra do desconhecido futuro.

Roxanne despertou com os raios de sol


sobre seu rosto. Havia esquecido de
fechar as cortinas. Sentiu o peso do
corpo de sua Latina sobre o seu. Que
sensação maravilhosa acordar assim.
Cheirou seus cabelos e carinhosamente
lhe deu um beijo sobre eles. Deu um
jeito de escorregar da cama para não
acordá-la. Fez sua higiene matinal e
desceu as escadas devagar rumo à
cozinha.

Estava com muita sede. Foi passando as


mãos sobre os móveis para não de
esbarrar porque já não estavam mais nos
mesmos lugares. Já havia chutado vários
móveis.

Sua mãe adorava redecorar tudo. Foi


quando passou a mão pelo piano. Seu
piano. Onde passara parte da sua
infância horas e horas a fio. Quanto
tempo não o tocava? Quatro anos, desde
que fora para a faculdade.

Abriu o protetor de teclas e sentou-se.


As lembranças vieram nítidas em sua
mente. Seu pai sentado ao seu lado
corrigindo cada deslize seu.
Incentivando cada vez que queria
desistir. Começou a dedilhar os
primeiros acordes tentando não fazer
muito barulho. E seus dedos foram
dominando suas emoções como sempre
acontecia. Começou a cantar baixinho.
Até ouvir um choro reprimido.

- Mãe?

- Ai desculpa filha. Não queria


atrapalhar, mas não aguentei.

- Estava tão ruim assim?

Brincou recebendo o beijo na testa da


mãe.

- Tão lindo quanto na primeira vez.


Tantos anos que não ouvia você tocar.
Sempre me emociono. Você sabe.

- Você é manteiga derretida mãe.

- Como você está?

- Bem, na verdade queria mesmo falar


com a senhora.

- O que houve? Aconteceu alguma


coisa? Você está sentindo algo?

- Calma mãe. Eu estou bem.

- E a cirurgia? Não tivemos tempo de


conversar direito.

- Foi ótima, e eu estou bem. Eu só queria


te perguntar uma coisa.

- Hum. Fala meu bebê.

- Eu quero dizer que mudei muito nesses


últimos anos e eu sei que foi para pior.
Fiz todo mundo sofrer. Eu tenho essa
consciência. Mas, eu estou bem agora.
Eu estou me recuperando das drogas e
álcool. Estou cogitando voltar a
faculdade.

- Sério? Oh meu Deus Roxanne, que boa


notícia.

- Sim, e tudo isso tem uma razão.

- Fico feliz em ouvir isso. Notei que está


feliz no momento que pisou na porta.
Parece a minha menina de antes.

- Esse é o problema Mãe. Não sou a


mesma de antes.

- Hum...isso se chama crescer filha.

- E se eu for diferente? E se não for a


sua menininha perfeita mais?

- Diferente como? Eu não estou te


entendendo filha.

Roxanne segurou as mãos de sua mãe.


Seu coração batia na garganta, mas ela
estava decidida não voltar atrás.
Precisava colocar tudo para fora. Queria
muito que sua mãe pudesse entendê-la.

- Mãe, até pouco tempo eu estava me


afogando nos remédios e no álcool. Só
pensava em acabar com a minha vida de
uma vez. Mas então eu me apaixonei por
uma pessoa e ela está me ajudando a ver
o mundo de uma forma que eu nunca vi.
Eu tenho vontade de viver, eu tenho
vontade de tocar, de estudar, ela colocou
um sorriso no meu rosto de novo.

- Que bom filha! Isso é maravilhoso. Eu


só fico ainda mais feliz em saber disso.

- Eu quero saber se a senhora vai


continuar me amando desse jeito que sou
agora.
- Filha, eu te amo. Você é minha filha
linda, e amada, e eu vou continuar te
amando independente de qualquer coisa.
Veja, imagina se você vira uma
assassina. Eu vou ter que ver você
sofrer as consequências disso, mas eu
jamais deixaria de te amar. Filhos são
para sempre filhos.

- Espero que sim, Mamãe.

- Então, estamos falando de quem?

- É complicado.

- É sobre a Latina morena que está na


sua cama agora?
- Mãeee!

Oh céus! Corou violentamente.

- Vamos filha. Vocês podem ser qualquer


coisa menos amigas.

- Está tão evidente assim?

- Muito. Quem sai de Nova York para


vir cantar parabéns para a amiga em
Miami? E vocês estão o tempo todo
grudadas. E rindo e se tocando. Se não
queria que gente soubesse precisava
disfarçar mais.

- E você está bem com isso? Por que


isso me faz gay Mãe.

- Eu confesso que não fico tranquila com


isso. Não por mim, eu já disse que te
amo e isso não muda pela sua orientação
sexual. Mas o mundo lá fora filha, é
cruel para todos, mas para com essas
pessoas... é o dobro. E eu não queria ver
você sofrer com isso.

Roxanne já estava chorando. Abraçou


sua mãe e ficou ali em seu ombro
tentando fazer com que o turbilhão de
pensamentos desordenados se
acalmassem. Sentiu-se amada e isso era
tudo que ela precisava no momento.
Saber que sua mãe não deixaria de amá-
la, era reconfortante por demais.
- Obrigada por isso Mãe.

- Se Rayka está te fazendo voltar a vida,


acho que deveríamos comemorar por ela
aparecer no seu caminho na hora certa.

- Sim. Você vai ver como ela é incrível.

- Mas como terei meus netos Roxe?


Sempre quis meia dúzia deles correndo
por essa casa.

- Mãe, vamos com calma? Pedi ela em


namoro ontem.

- Hum...que fofo. Eu quero te ver feliz


filha. E se ela te faz feliz eu estou em
dívida com ela. Venha tomar café, já fiz
seu bolo preferido. Ninguém acordou
ainda nessa casa.

De repente a vida poderia ser melhor do


que ela esperava., suspirou aliviada.

Às 13 horas a mesa já estava repleta


pela família Mackenzie de
novo.Manuela apareceu com Callie,
Maycon e Tessa, seus avós, sr
Mackenzie, e Rayka e Roxanne.

Rayka ajudara a mãe de Roxanne a


preparar um belo almoço com comida
caribenha. Arroz Ceviche com Arepas
(tipo de tortilha muito apreciada no
Caribe e em outros países da América
Latina como Colômbia e Peru)
recheadas com salmão e camarão,
salada mediterrânea e rabanada cubana
de sobremesa. Todos elogiaram os dotes
culinários da Latina.

- Estou impressionado Rayka.

O pai Mackenzie disse servindo-se de


mais um prato.

- Imagina. É um prato simples de se


fazer.

- Ah não é não. - foi a vez da sra


Mackenzie dizer - Muito trabalho. Você
está de parabéns mesmo.
- Obrigada.

Rayka abaixou a cabeça sem graça. Não


estava acostumada com elogios.

- Onde aprendeu cozinhar assim Rayka?


- Clarice perguntou.

- Com minha mãe. Ela vive no México


agora, mas trabalhei com ela em um
restaurante.

- Que incrível. Parabéns.

- Hey Roxe… espera deixa te


ajudar...está derrubando um pouco aqui.

Rayka que estava ao lado de Roxanne,


ajeitou seu prato, limpou sua boca com o
guardanapo e colocou uma garfada na
sua boca.

- Está melhor assim, amor?

Enquanto isso a mesa estava em


silêncio. Manu pigarreou.

- Que calor hoje, não?

- Eu estou sentindo mesmo o clima


esquentar.

O sr Mackenzie disse e Roxanne tossiu


engasgada, Rayka ficou vermelha e
Manu ria.
- Vocês moram juntas em Nova York?

Foi a vez de Maycon abrir a boca.

- Não! - Rayka quase gritou.

- Cala a boca Maycon.- Roxanne gritou

- Calma meninos, onde está educação


que eu dei para vocês? - a Sra
Mackenzie disse colocando as
rabanadas na mesa.

- Aliás gente. É bom que estejam todos


aqui.

Roxanne bebeu um pouco da água antes


de continuar.
- Gostaria de dizer que eu sou gay e a
Rayka é minha namorada. Alguém me
passa a salada?

Silêncio…. silêncio... silêncio

E Tessa gritou :

- Você me deve cem contos Maycon.


Perdeu.

- Caramba! Não acredito! Que droga!

- Você o quê filha?

Henry Mackenzie arregalou os olhos e


colocou as duas mãos na mesa.
- Por que o Maycon te deve cem contos
Tessa?

- Porque apostamos que Roxanne era


gay. Ele disse que não. Eu ganhei.

Rayka tampou a boca com as duas mãos.


Estava mais vermelha que uma pimenta
mexicana. Roxanne continuava comendo
como se não tivesse jogado uma bomba
na mesa. Os avós riam não sabiam do
quê.

Até Manuela estava em choque,


precisava agir. Callie era única achando
graça da situação.
- Hey gente… um lado gay é igual
piolho todo mundo já teve mas não
assume. Absolutamente normal. O
importante é que elas estão felizes.

Manuela completou e ergueu o copo de


suco.

- Ao casal!

- Bem vinda a família Mackenzie Rayka!

Clarice disse tocando em seu copo


fazendo um brinde.

Roxanne deu-lhe um selinho e todos


gritaram:
- Viva!

Menos o sr Mackenzie. Porque havia


perdido a fala.
Capítulo 23 - Eu vejo
você
Miami, 3:23 pm

- Calma Roxe, as coisas vão se ajeitar.


Rayka tentava acalmar Rooxanne que
andava de um lado para o outro no
quarto batendo uma vez ou outra em
alguma coisas e dizia palavras nada
bonitas.
Já tinha uma hora que sua mãe estava
trancada com seu pai no quarto e vez ou
outra ouvia-se um xingamento em voz
alterada do Sr. Mackenzie. Ele ficou
muito transtornado com a revelação
dela, deu um soco na mesa assustando a
todos.

- Não brinca comigo Roxe, nem


sonhando me diga uma coisa dessas!

- Henry! - A sra Mackenzie tentou


apaziguar os ânimos. - Não fala assim.

- Ela não deve falar assim. Que tipo de


filha criamos? Eu não mereço isso em
troca de tudo que sempre fiz por você
Roxanne.

- Henry, vamos com calma. Depois


falamos sobre isso.

- Ela pode despejar essa vergonha na


mesa e eu tenho que conversar depois?

- Pai! - Tessa interveio - Não precisa


falar assim.

- Não se intrometa Tessa!

- Vamos terminar de comer e pensamos


nisso depois.

Clarice estava nervosa com a reação do


marido. Ele tinha pressão alta e isso a
deixava preocupada.

- Perdi a fome.

Ele saiu pisando firme deixando um


clima extremamente tenso na mesa.

- Eu vou falar com ele. Não se


preocupem que ele vai se acalmar.

Nessa hora Roxanne já estava chorando.


Ela queria ir falar com o pai. Não podia
imaginá-lo sem falar com ela. Ele era
sua base, sempre a apoiando em tudo.
Como ficaria sem seu amor naquele
momento?

- Não Roxe, espera as coisas se


acalmarem.

Tessa disse abraçando a irmã.

- Nós estamos com você mana, não


importa o que aconteça.

Maycon disse solicito abraçando-a


também.

- Ele te ama Roxanne, ele só não entende


muito bem tudo isso.

Manuela também a confortou.

- Obrigada gente. É bom poder contar


com vocês. Sou grata por essa amizade.
Eu não sei o que seria de mim sem
vocês todos.

Roxanne agradeceu e subiu para seu


quarto. Logo Manuela saiu com Callie, e
os irmão de Roxanne também prefiram
sair de cena até a poeira baixar.

- Roxe, acho melhor eu ir com a Manu.


Até seus pais se acalmarem. - disse
Rayka.

- Não. Você fica.

- Então vamos sair daqui. Essa agonia


não faz bem para você.

- Eu não devia ter dito nada.


- Um dia você teria que dizer. Não achei
muito propício dizer durante o almoço
em família, mas agora já foi.

- Eu fiquei nervosa, você sentiu a


pressão. E quando fico nervosa faço
besteira.

- Então vamos dar uma volta. Quando


voltar pode ser que tudo não tenha
passado de um surto.

- Você tem razão. Quer saber? Vamos


chamar Manu e a Callie, tem um parque
aqui próximo com pista de patins,
ciclovias, um lago lindo. Vamos tomar
um ar puro.
- Você tem patins Roxe?

- Sim, por quê? Você quer andar?

- Nós vamos andar.

- Deve estar brincando não é?

Não, ela não estava. Roxanne queria


saber por que sempre acabava fazendo o
que Rayka queria. Manuela pegou o
carro da família, Roxanne pegou seu
patins velho e o da Tessa, arrumou
roupas para Rayka, e partiram. No carro
era disputa de quem cantava mais alto.

Vinte minutos de carro já estavam no


Bayfront Park que fica em Downtown. O
dia estava quente e abafado,
aproveitaram para tomar os famosos
sorvetes gigantes de Miami vendidos
aos montes no parque.

Manuela queria andar de bicicleta,


acabaram alugando bicicletas duplas e
apostando corrida,Manu e Callie contra
Rayka e Roxanne. Manuela sumiu na
frente, também pudera, Callie era
atlética. Não valia essa aposta.

- Não acredito que vamos perder Roxe.

- Eu não estou preocupada com isso.


Minha bunda está doendo e eu estou
suando.
- Eu não gosto de perder.

- Eu acho que elas fizeram de propósito.


Não acha? Dar um perdido na gente.

- Então vamos dar um nelas também.

Rayka parou a bicicleta junto ao lago


principal. Sentaram-se na grama e
Roxanne deitou a cabeça no seu colo.
Ficaram descansando na sombra e
Rayka afagava-lhe os cabelos.

- Quando a gente voltar vou comprar


uma aliança para nós, Ray.

- Hum...não precisa disso Roxe. O


importante é isso que temos aqui.
- Nada disso. Não quer usar minha
aliança?

- Calma, só acho que não é necessário


gastar com isso.

- É sim, e você vai usar, bem grossa


para se ver em um raio de um
quilômetro de distância.

- Ótimo. Se quiser pôr algemas também.

- É impressão ou estou sendo rejeitada


aqui?

- Amor, se você quiser que eu use uma


melancia, uma coleira com seu nome, eu
vou usar.

- Bom mesmo. Assim que eu gosto.

Beijaram-se afetuosamente.

- Bonito hein….a gente morrendo de


pedalar e vocês ai de love só love.

Manuela apareceu se jogando na grama


também.

- Inveja é uma coisa triste, não é Manu?

Mais tarde foram andar de patins e


Manu e Callie sumiram outra vez.
Roxanne jamais imaginou que iria andar
de patins novamente depois do acidente.
Mas Rayka fazia isso com ela, virava
sua vida de ponta cabeça. Ela a ajudou
colocar os patins, a se levantar,
segurava-a pela cintura com as duas
mãos por trás mantendo-a firme ao
mesmo tempo que a empurrava com
cuidado.

Quando sentiu-se segura, ela até a


soltou, mas sempre ao seu lado para
ampará-la. Caiu algumas vezes levando-
a junto. E riam e se beijavam.

De repente um vento forte anunciava um


chuva repentina. Sentaram-se para tirar
os patins e saírem correndo a procura de
abrigo.
Mas, a chuva foi mais rápida, como é
típico em Miami, a chuva veio sem
aviso e sem dó. Em alguns minutos a
chuva era tão forte que Rayka achou
melhor aceitar que não iria adiantar
muito correr.

- Roxe, não adianta correr estamos


encharcadas mesmo.

- Eu não gosto de tempestades. Está


longe?

- Muito. Não é tempestade. É só uma


chuva de verão.

- Ai meu Deus...e se cair um raio? Do


jeito que a minha maré de azar está em
alta é melhor não arriscar.

Rayka parou de correr e começou a


dançar na chuva.

- Aceita que dói menos Roxe. Vem,


vamos dançar.

- Está louca? Nem pensar. Vamos achar


um lugar para nos abrigar.

- Só tem árvores aqui. Ouvi dizer que


nunca se deve ficar perto de árvores.

- Rayka, por favor.

Estavam próximas ao lago e não tinha


nenhum lugar próximo para se
abrigarem. Rayka começou a cantar e
dançar de braços abertos cabeça erguida
enquanto a chuva inundava cada poro do
seu corpo. Roxe ficou ali parada no
escuro dos seus olhos sentindo as gotas
fortes e geladas inundando-a por inteira.

- Meu Deus, eu vou morrer!

Gritou mas quase não se fez ouvir, o


barulho da chuva era muito mais alto.
Um raio cortou o céu que se escurecera
de repente. Quando ouviu o trovão
colocou as duas mãos no ouvido. Tinha
pavor de tempestade, raios e trovões.

- Roxe...é só água. Deixa a chuva te


lavar... Se está na chuva é para se
molhar.

Mas ela começou a sentir uma dor de


cabeça de repente. Um clarão estampava
suas vistas. Colocou as duas mão na
cabeça. Podia ouvir Rayka cantando
Halo de Beyoncé. Repentinamente seu
coração disparou e já não estava tão no
escuro assim. Foi abrindo os olhos
lentamente hipnotizada com a claridade
iminente.

Piscou várias vezes sentindo uma


vertigem repentina. Seguiu a voz de
Rayka e era como um sonho, uma visão,
uma miragem no deserto. Em seus
ouvidos não ouvia mais o barulho da
chuva, só a música:
“Em todos os lugares que estou
olhando agora

Estou cercada pelo o seu abraço

Querida, eu posso ver sua aura

Você sabe que é a minha graça


salvadora

Você é tudo que eu preciso e mais

Isso está escrito em todo o teu rosto

Querida, eu posso sentir a sua aura

Rezo para que ela não desapareça


Eu posso sentir a sua aura, aura,
aura

Eu posso ver a sua aura, aura,


aura”

- Oh Meu Deus!

Não estava mais escuro, um raio cortou


o céu mais uma vez e iluminou o corpo
ensopado da Latina que usava sua
camiseta branca dos Ramones e um short
preto, descalça na poça rodopiando de
braços abertos. Sacudiu a cabeça de um
lado para outro e começou a andar em
sua direção. Tudo foi tão rápido, mas em
sua cabeça parecia em câmera lenta. Ela
via seu anjo, sua aura, seu raio de sol,
sua latina, sua namorada.

- Rayka! Eu vejo você!!

- Eu também vejo você minha linda. É


uma brincadeira do filme Avatar? Eles
diziam isso quando...

Roxanne agarrou-a com duas mãos no


seu rosto fitou-a profundamente em seus
olhos e Rayka parou de falar, de sorrir e
de respirar.

- Roxe?? Você...me vê??

- Eu te vejo.
- Oh meu Deus! Roxe!

Roxanne beijou-a ali...no meio da


tempestade, chorando as duas. Sua
cabeça doía tanto, mas ela sabia que era
real. Ela a viu...em frações de segundos.
A dor aumentou, outro raio cortou o céu
e a escuridão a invadiu novamente.

- Roxanne...Roxanne...

E ela apagou caindo em seus braços.

----X----

Miami, Hospital Johns Hopkins,


6:08 pm

Rayka tremia-se toda de frio e medo.


Nunca sentira tanto medo como ter
Roxanne desmaiada aos seus pés. Gritou
tanto por socorro até que um guarda do
parque apareceu carregando-a para a
sala de emergência.

Chamaram uma ambulância, Manuela e


Callie apareceram desesperadas e em
menos de quinze minutos já estavam no
Hospital que a famíliaMackenzie
costumam se tratarem.

Agora estava na recepção encharcada


até a última célula do corpo e Manu
avisava a família. Estava sentindo-se
mal por ter tirado-a de casa. Não sabia
ainda o que tinha acontecido com, mas
temia ter agravado seus problemas de
saúde.

- Hey, Rayka. Vou ver se arrumo algo


para você se secar. Pode ficar doente
desse jeito.

- Estou bem Manu. Você acha que foi


grave o que houve com ela?

- Já liguei para o Dr. Sanchez ele está


falando com os médicos daqui. Não se
preocupe, ele havia me dito que ela teria
delírios. Não deve ser nada anormal.

- Não foi delírio Manu. Ela me viu


mesmo.

- Rayka, ela pode ter tido uma visão, sei


lá uma lembrança.

- Ela não tem lembrança comigo. Estou


te dizendo, ela olhou no fundo dos meus
olhos. Foi muito rápido, mas não foi
uma visão. Eu sei que não.

- Vamos esperar os médicos a


examinarem. Vai ficar tudo bem.

De repente a porta vai e vem do


corredor principal quase saiu voando,
mais rápido que os raio lá fora eram os
passos firmes do Sr.Mackenzie.
- Onde ela está Manuela?

- Oi tio, ela está sendo atendida pelo Dr.


Matheus. Ele está em ligação com o Dr.
Sanchez o médico dela, logo teremos
notícias.

- O que houve? O que aconteceu com


ela?

- Nada, ela desmaiou. Não caiu, nada.


Simplesmente sentiu uma dor e
desmaiou.

- Ela não devia ter saído de casa.

- Poderia ter acontecido em casa


também - a mãe de Roxanne aproximou-
se.

- Não! Se ela estivesse em casa nada


disso teria acontecido.

Rayka afastou-se, a última coisa que


queria era causar mais tumulto na
família.

- Calma tio, o Dr. Sanchez já tinha


avisado que aconteceria isso, faz parte
do processo de regeneração de alguma
coisa, o médico vai explicar melhor.
Está tudo bem o senhor vai ver.

Mas ele avançou em direção a Rayka


que estava encostada na janela
observando a tempestade lá fora.
- A culpa é sua!

- Oi?

- Isso mesmo. Se você não estivesse


aqui minha filha estaria a salvo em casa,
onde é o lugar dela.

- Desculpa sr. Mackenzie, entendo sua


dor, mas não tente me punir por algo
totalmente imprevisível.

- Hey, Henry. O Dr. Matheus vem vindo.


- A sra Mackenzie interrompeu-o.

O médico chegou e Manuela pegou em


sua mão dando-lhe apoio. Callie lhe
ofereceu uma jaqueta que fora buscar no
carro. Ela prontamente aceitou.

- Sr. e Sra Mackenzie, bom revê-los,


mas não pelo momento.

- Doutor, como ela está?

- Ela está bem. Todos exames deram


normais. Conversei com o Dr Sanchez
que me explicou os procedimentos
recentes que ela passou e fiquem
tranquilos. O que ela teve foi uma leve
convulsão resultante de sinapses
nervosas que estão em choque no seu
nervo óptico que é um bom sinal aliás.

Parece um bicho falando assim, mas


nada mais é que choques elétricos que
seu nervo óptico está recebendo
restabelecendo conexões neurais.
Provavelmente ela recebeu uma forte
carga de emoção e acabou apagando.

- Oh meu Deus! - A sra Mackenzie


começou a chorar.

- Mas, está tudo bem. Aplicamos um


remédio para ela descansar e relaxar os
nervos, ela deve acordar em breve.
Talvez ela fique confusa entre o que é
real e o que é imaginário, ela vai
precisar de toda compreensão possível.
Sugiro acreditarem até se ela disser que
viu um E.T. A mente dela pode ficar bem
confusa. Vai ser bom manterem-na calma
e confiante.

- Obrigada Doutor.

- No momento só é permitida a entrada


de uma pessoa responsável. Quando ela
acordar veremos se será necessário
mantê-la aqui no hospital ou não.

Rayka ouviu tudo a distância. Estava


acariciando seu colar do sol que ganhara
dela. Estava aliviada sim. Ela estava
bem, mas sentia que uma tempestade
maior se levantava entre elas. A mãe
entrou no quarto.

Não demorou o Sr Mackenzie


direcionou-lhe um olhar de fúria. Ela
não se intimidou, segurou firme o olhar
no dele.
Bem, se ele queria culpá-la que
culpasse, mas não ficaria acuada pelo
preconceito bobo dele.

- Contente? Viu o que você fez minha


filha passar? Se tivesse acontecido algo
grave com ela não desejaria estar na sua
pele.

- Desculpa, o senhor está me


ameaçando? Tem todo direito de estar
bravo, mas me parece que está
descontando outro tipo de raiva em mim.
Ela não estaria aqui se não estivéssemos
em casa ouvindo seu piti no quarto ao
lado. Ou você acha que ela não ouviu
seu discurso de ódio e vergonha por ter
uma filha gay?

- Você está pervertendo minha filha! Ela


não é isso.

- Isso? Isso o quê?

- Isso que você é. Não percebeu que


Roxanne não é do seu mundo?

Ele já estava quase gritando. Calma aí,


ouvira mesmo ele dizer isso? Manu
chegou entrando na frente dele, mas ele
era um homem bem forte. Viu seu rosto
mudar de cor enquanto seu dedo
indicador a ameaçava.
- Está falando da minha sexualidade ou
da minha condição social? Que nível
estamos nesse diálogo? Eu sei muito
bem que vocês têm dinheiro, e daí? O
que isso tem a ver com o amor que sinto
por sua filha?

- Que amor? Isso não é amor. É


perversão! Está se aproveitando dela.
Não vai conseguir o que está tentando
sua Latina.

- Tio? Que isso? Que vergonha. Vamos


sentar e agir como adultos aqui.

Manuela puxou-o pelo braço.

- Se quer me ofender vai ter que fazer


mais que isso. Eu não estou nem um
pouco preocupada se ela é rica e eu
pobre, se sou latina, gay, imigrante,
suja, escória da américa, chame do que
quiser.

Mas eu estou aqui porque fiz uma


promessa para ela. Agradeço muito
poder tê-la conhecido a tempo de ajudá-
la a sair do fundo do poço, pois foi lá
que a conheci, e adivinha, você não
estava lá quando ela precisava.

Eu estava. E vou ficar até que ela me


diga para sair da vida dela. Eu faria
absolutamente qualquer coisa para
salvá-la. E é por isso que estou indo
embora daqui hoje, porque nesse
momento ela precisa muito mais do
apoio da sua família do que do meu,
pois ela sabe que tem tudo de mim. Mas,
da vida dela Sr.Mackenzie, eu só saio
quando ela não me quiser mais. Dane-se
você e seu preconceito idiota.

Virou-se e saiu pisando firme rumo a


porta de saída. Foi seguida por Manu e
Callie. Não conseguiu evitar as
lágrimas. Sabia que não deixariam
mesmo ela vê-la, também não iria ficar
ali ouvindo insultos desnecessários.

- Vamos embora Rayka, eu levo você.


Você foi ótima!

Callie disse pegando-a pela mão.


- Calma gente, isso vai passar...ele é um
pouco alterado, mas tem bom coração.

- Manu, obrigada por tudo. De coração,


você é incrível. Cuida dela por mim.
Vou voltar para casa hoje ainda. Vamos
Callie?

- Claro, vamos buscar nossas coisas,


você precisa de um banho quente.

- Eu vou com vocês.

- Então vamos, não tem nada que eu


possa fazer aqui mesmo.

[...]
Roxanne sentia sua cabeça pesada e um
zumbido estranho nos ouvidos. Abriu os
olhos, mas tudo era escuro de novo.
Sentiu cheiro de...hospital. Sons de
bip...bip… Aos poucos foi se lembrando
dos últimos acontecimentos, estavam na
chuva e Rayka dançando.

Sorriu ante às lembranças. Ela vira


realmente o rosto dela? Sim, era igual
ao do seu sonho, sabia agora. Pele
morena levemente dourada do sol,
cabelos castanhos compridos, olhos
amendoados e aquele sorriso nos lábios
naturalmente vermelhos pronto para
um...beijo?
Nunca esqueceria essa cena. Mesmo se
nunca mais enxergasse, estava feliz por
ter visto seu rosto. Sim, ela era linda.
Como imaginara que fosse.

- Rayka??

Chamou tentando se levantar.

- Roxanne Como você está filha?

- Oi Mamãe. Tudo bem, só uma dor de


cabeça. O que aconteceu comigo? Onde
está a Rayka?

- Você desmaiou no Parque. Está todo


mundo lá fora preocupados com você.
- Não foi nada. Eu posso ir embora?

- Vou avisar o médico que acordou e ele


vai fazer uma avaliação. Não se esforça
filha.

- Estou bem mãe. De verdade. Manda a


Rayka entrar eu quero muito falar com
ela.

- Está bem.

Sua mãe voltou com o médico e seu pai.


Depois de alguns exames ela foi
liberada para ir para casa. Recebeu
medicação e sua mãe trouxe roupas
limpas e secas e a ajudava se trocar.
- E a Rayka?

- Desculpa filha, Manu levou-a para


casa, ela estava toda molhada e com
frio.

- Ah tá. Ela está bem?

- Digamos que seu pai não foi muito


gentil.

- O quê? Achei que ficariam felizes de


me virem em casa, voltando a enxergar.
Eu tive algum vislumbre de luz hoje.
Não era motivo suficiente para estarem
felizes por mim?

- E estamos Roxe, dê um tempo para seu


pai. Você sabe que ele é muito bom de
coração, mas teimoso como uma porta.

- Não vou admitir nenhuma retaliação


contra ela. Onde ela não cabe eu também
não fico.

- Vamos conversar em casa está bem?

Quando chegaram em casa recebeu o


carinho dos irmãos e subiu para seu
quarto. Tomou banho e já ligou para
Manuela.

- Sinto muito Roxe, elas já voltaram


para Nova York.

- Como assim? Por quê?


- As coisas ficaram meio tensas. Callie
iria amanhã cedo, mas resolveram
adiantar a viagem de volta.

- Então nós também vamos voltar.

- Você está bem mesmo?

- Sim. Já disse. Não foi nada.

- Então amanhã eu bato aí para a gente


conversar direito e decidir o que fazer.

- Já está decidido. Nós vamos embora


amanhã mesmo.

Roxanne pediu para Tessa ajudá-la


refazer a mala. Não sabia o que seu pai
havia dito para Rayka, mas com certeza
foi algo bem grave. Ela não iria embora
assim sem ao menos se despedir.

Que droga! Será que nunca teriam um


respiro? Estava feliz de ter vindo e ter
tomado a decisão de contar a família e
ao mesmo tempo pedi-la em namoro.
Tinha dado um grande passo e não
haveria nada que pudesse fazê-la voltar
atrás. Podia ouvir a chuva torrencial lá
fora. Jess tinha razão, uma tempestade
estava prestes a querer separá-las.

[...]
Nova York, 00:45

Quatro horas de voo não foram


suficientes para Rayka se acalmar. Seu
coração estava palpitando e sentia como
se estivesse com falta de ar. Callie a
consolava uma vez ou outra, mas dando-
lhe a privacidade necessária.

Foram direto para o apartamento dela


devido ao horário. Diferente de Miami,
o céu estava todo estrelado e uma lua
brilhante iluminava a noite. A lua
lembrava-lhe Roxanne. Não se
arrependia de ter ido atrás dela, a
experiência de estar com a família dela,
saber que ela estava tendo bons
resultados da cirurgia, essas coisas
foram muito importantes, além do mais
fora pedida em namoro de uma forma
bem inusitada.

Adorava essa montanha russa louca que


era estar com ela, a fazia sentir-se viva,
mas ultimamente só queria um pouco de
paz. Era pedir muito? Sufocou o choro
com o travesseiro para que Callie não
notasse a tempestade que estava
desabando dentro dela.

[...]

Miami, 00:20

Roxanne não desceu para jantar. Estava


com as malas prontas. Ligou sua playlist
sofrência nível hard e ficou ali deitada.
Seu pensamento estava em quando veria
Rayka novamente.

Daria o tempo necessário que seu pai


precisava, mas não aceitaria nenhuma
palavra torpe dirigida a Rayka. Se
quisesse brigar com ela tudo bem. Mas
Rayka não merecia isso. Ouviu alguém
bater à porta.

- Entra.

- Filha, sou eu.

Roxanne não se virou, estava de


frente para a janela e assim ficou.
- Oi Papi.

- Eu queria conversar com você.

- Tem dois minutos da minha atenção.

- Escuta. Eu estive pensando muito em


tudo que aconteceu nessas horas. Eu
queria que você me entendesse.

- Engraçado, eu queria a mesma coisa.

- Filha, você é minha bebê, minha Roxe.


Eu te amo. Por favor, se coloca no meu
lugar.

O pai aproximou-se sentando na cama


ao seu lado.
- Coloca-se no meu também.

- Eu sei que exagerei na forma de me


expressar. Mas não muda o que penso
sobre isso.

- Isso o quê? O que lhe incomoda Papi?


Seja franco comigo. Você tem vergonha
de mim porque eu amo uma outra
mulher?

- Acho que está confusa. Só isso. É só


uma fase. Vai passar. Você já teve vários
namorados homens, você não é isso ai.
Essa Latina está mexendo com sua
razão.
- Está mesmo. Isso ela faz muito bem
comigo.

Buscou as mãos do pai e disse


pausadamente para que ele entendesse
de uma vez por todas.

- Sabe qual era a minha razão antes de


Rayka aparecer na minha vida?

- Filha, não estou dizendo que não


possam ser amigas...mas...

- Papi, minha vida era uma merda! Eu só


pensava: Que droga que eu acordei mais
um dia! Eu estava afundando na bebida,
no vício dos remédios. Eu não era feliz.
Eu nunca tinha ido a praia de novo...
Não segurou as lágrimas.

- Eu andei de moto, eu fui à praia, eu


cantei em um evento, eu dancei numa
balada, eu fiz piquenique no Central
Parque, eu toquei de novo, eu andei de
patins! Tem ideia do que é isso para uma
cega?

- Roxe…

- Não me chama assim! Eu estou limpa


há meses, eu fiz uma cirurgia e hoje eu
tive minha primeira visão em quatro
anos...eu vi a luz do dia!

Fique um dia que seja com vendas nos


olhos e vai desejar ver nem que seja a
luz de um fósforo aceso. E sabe o que
me dói? Você não consegue ficar feliz
por isso. Você só está pensando que
vergonha minha filha é gay! Eu sou só
isso? Minha orientação sexual resume
quem eu sou?

- Roxanne, escuta. Eu te amo. Mas isso é


demais pra mim. Imaginar você que
sempre foi a minha companheira em
tudo. Eu sempre fiz de tudo por você.
Onde foi que eu errei?

- Não é um erro Papi. Isso não tem a ver


com educação. Eu amo aquela Latina
porque ela me deu motivos para querer
viver. Não é o suficiente para você eu
estar viva?

Roxanne ouviu o choro reprimido do


pai. Ela também estava arrasada. Mas
não poderia voltar atrás. Era tempo de
decisão.

- Você sabia que a sobrinha dela é filha


de um sicário? Um traficante da máfia
mexicana?

- Sim. Eu sei.

- Que ela é imigrante ilegal? Sem eira


nem beira?

- Papi, ela não é bandida se é isso que


está pensando.
- Como sabe? E se ela está se
aproximando de você com intenção de
se aproveitar de uma vida fácil, e atingir
uma família de advogados criminais,
juízes, promotores de renome?

- Que? É sério isso?

- Acredite Roxe, eu já vi de tudo nesses


anos de profissão.

Ela levantou-se estupefata. Não podia


acreditar no que acabara de ouvir.
Rayka bandida. Era isso que seu pai
pensava dela?

- Ok...e se eu estivesse namorando uma


advogada rica? Estaria tudo bem para
você?

- Se fosse um advogado rico estaria tudo


bem. Não criei uma filha lésbica. Não
mereço isso.

- Então nossa conversa acaba aqui Papi.


Espero que repense seus conceitos e
então quem sabe poderemos conversar
de novo. Por favor, apague a luz quando
sair. Eu particularmente estou
acostumada à escuridão mesmo. Boa
noite.

Ouviu a porta bater. O silêncio era


quebrado pelo som da chuva, sufocou o
choro no travesseiro enquanto uma
tempestade particular sacudia-a por
dentro.
Capítulo 24 - A Fênix
Nova York, 6:45 am Um
mês depois

Roxanne despertou antes do alarme.


Cinco minutos de técnica de respiração.
Suspirou. Precisava de forças para mais
um dia. Desligou o alarme. Não tomava
mais remédios para dores. Tomou um
banho rápido e vestiu as roupas de
corrida.
Estava firme no grupo de apoio aos
deficientes do Parque. Corria 10 km
todos os dias, participava do grupo de
leitura dois dias na semana. Isso
mantinha sua mente ocupada para não
enlouquecer de saudades dela.

- Bom dia srta Mackenzie.

- Bom dia Jess.

- Já fiz seu café e preparei um lanchinho


para senhorita levar para comer no
Parque. Correr dá fome.

- Obrigada querida. Você é maravilhosa.


Você sabe não é?
- Eu sei sim. E a srta Alika?

- Dormindo. Esquece ela hoje. Chegou


de madrugada.

- É mesmo? Vixi...vou fazer um café


forte para quando ela acordar.

- Isso. Acho que vou voltar e ela não


terá acordado ainda.

- Trouxe a correspondência srta


Mackenzie. Tem uma carta aqui parece
importante.

- É mesmo?
Roxanne sentou-se à mesa para tomar
café antes de ir. Nunca mais tomara café
no Starbucks, seu coração apertava ao
passar em frente ao sentir o cheiro de
café que amava. Imagina se entrasse.
Muitas lembranças.

Falara com Callie apenas duas vezes


nesses trinta dias, ela garantiu que
Rayka estava bem e que logo poderia
vê-la. Mas até agora nada.

- O que diz aí Jess? Quem é o


remetente?

- Universidade Rochester.

- O quê??? - Sobressaltou-se.
- Isso mesmo.

- Meu Deus Jess. Abra isso!

- Vamos lá...

- O que diz? Jess...

- Calma. Bem...diz assim:

"Cara srta Mackenzie.

A comissão de bolsas do curso de


música tem a satisfação de convidá-la
para uma avaliação em duas fases para
aquisição de uma bolsa integral em
nossa Universidade. Uma de técnica
vocal e outra de prática instrumental.
Aguardamos contato se houver
interesse.

Atenciosamente reitoria da
Universidade de Rochester".

- Não acredito!

- Acho que estão convidando a senhorita


para estudar lá de novo.

- Sim. Mas como?

- Boas vibrações Srta Mackenzie. Eu


sinto vento de mudanças.

- Não fala em vento que o último virou


tempestade.

- Depois da tempestade vem a bonança


menina.

- Amém. Obrigada Jess. Você pode


deixar anexado no mural para mim?

- Claro. Notícias da menina Rivera?

- Nada Jess.

- Eu sinto muito. Gostei tanto dela. Sinto


falta daquela pequena.

- Eu então...mas um dia de cada vez. Vou


indo. Beijos.
- Cuidado hein?. Leva a garrafinha de
água.

- Verdade. Obrigada Jess. Fui.

Foi para a reunião do Centro de Apoio


aos Alcoólatras. Onde recebeu outra boa
notícia. Havia completado quatro meses
de tratamento e recebeu muitos elogios e
mensagens de apoio.

Depois a Dra. Mendez responsável pelo


projeto chamou-a em seu escritório para
lhe entregar uma proposta de
apresentação em um grande evento da
Prefeitura em uma campanha social
sobre inclusão.
- Tem certeza disso Dra. Mendez?

- Absoluta srta Mackenzie. Não é um


convite. É uma proposta de contrato. A
senhorita está sendo contratada para uma
apresentação.

- Eu...não sei o que dizer.

- Soube que a primeira dama ficou muito


impressionada com a sua performance
em nosso evento. Minha sugestão é que
algum assessor jurídico leia esse
contrato e lhe dê alguma orientação.
Mas vejo uma grande oportunidade para
seu trabalho.

- Obrigada Dra. Mendez, eu sei que tem


a mão da doutora em tudo isso.

- Nada que a senhorita não mereça.


Após a sua apresentação tivemos um
aumento de jovens procurando por ajuda
e recebemos mais investimentos para o
projeto do próprio poder público e
também particular. Sua história de
superação é uma inspiração para muitos.

Após a reunião ela foi para o Parque.


Enquanto caminhava conseguia manter
seus pensamentos em ordem. Nunca
mais falara com seu pai. Perguntava dele
para mãe e só. Esperava um dia que ele
tivesse refletido sobre os absurdos que
dissera. Depois daquele dia tivera mais
dois desmaios.
Ainda bem que na primeira vez
estava em casa com Manu e na outra no
clube de leitura rodeado de pessoas.
Mas não precisou de médico. Fora
apenas uma perda de consciência
rápida. Eram como um flashes
repentinos que bloqueavam sua mente
por milésimos de segundos.

O Dr. Sanchez disse que era sinal de que


a cirurgia foi melhor que o esperado. Já
que em outros pacientes esses sintomas
só apareceram na segunda fase. Em três
dias iria fazer a segunda. Estava muito
animada. Agora com aquela notícia da
Universidade, mais ainda.
Quem sabe os ventos soprariam ao seu
favor?

Nova York, 4:50 pm 19 dias mais


tarde

- Roxeee, cheguei.

Manuela entrou arrancando os saltos e


se atirando no sofá.

- Até que enfim. Está atrasada.

- Estou exausta. Me dá um desconto.

- Como foi sua apresentação na


empresa?
- Ótima. Contrato assinado. Dólares à
vista. E nós vamos comemorar esse
contrato e essa carta aqui nas minhas
mãos.

- Hum. O que é?

- Universidade Rochester.

- Será o resultado do teste?

- Escuta : "Srta Mackenzie a


Universidade Rochester tem o prazer
de comunicar a sua efetivação na bolsa
de estudos integral no curso de
produção e instrumentalização musical
e técnica vocal. Sendo necessário sua
apresentação para matrícula na data
mencionada".

- Não acredito!

Manuela abraçou-a forte.

- Amiga sua louca! Você passou nos


testes!!!

- Manu... será que eu consigo levar isso


adiante?

- Será? É claro que sim Roxe. Você é


incrível e vai se sair muito bem. Já está
praticamente recuperada da segunda
cirurgia. Além disso o Dr. Sanchez disse
que os exames tiveram resultados muito
bons. Suas córneas estão se
regenerando. Questão de tempo e você
estará enxergando novamente.

- Eu sei. Estou feliz por isso. Muita


coisa boa acontecendo ao mesmo tempo.
Não dá medo?

- Uma hora a maré tem que mudar para


melhor não é amiga? Convenhamos que
passamos umas tormentas aí de cão!
Agora vamos nos arrumar que hoje a
noite vai ser longa.

- Estava te esperando porque sei que


você não aprovaria qualquer roupa que
eu escolhesse mesmo.

- Fez bem, daria o dobro de trabalho


para desmanchar. Comprei uma roupa
especial para hoje.

- Manu! Não está exagerando?

- Claro que não. Você não é mais uma


desconhecida. Seu canal no YouTube
está bombando. Foi uma ótima ideia da
Latina criar suas redes sociais. E outra o
evento não é pequeno não meu bem. Isso
será perfeito para sua imagem.

- Callie vai estar lá?

- Sim. Ela vai.

- E Rayka?
- Ela não deu certeza. Callie acha que
eventos em lugares a céu aberto são
arriscados.

- Não aguento mais isso.

- Eu sinto muito amiga. Acredito que


isso está com os dias contados.

- Será Manu?

- Mas ela estará te assistindo ao vivo


através do YouTube.

- Daria qualquer coisa para falar com


ela pessoalmente.

- Ânimo querida. Você é uma


Universitária agora. E hoje é seu
primeiro compromisso como artista
contratada. São muitas boas vibrações,
não?

- Sim. Antes eu queria te mostrar algo.


Venha.

- Ok. Mas sem atrasos. Temos muito o


que fazer.

Roxanne pediu para que a levasse até


seu closet, abriu uma das últimas portas.

- Procure atrás dos vestidos pendurados


um cadeado próximo ao fundo do closet.

- Hum...Achei. O que tem escondido


aqui sua vadia?

- Preciso da sua ajuda para me livrar do


meu passado. Aqui está a chave. Abra.

- Ok. Vamos ver...Será dinheiro? Iria ser


o máximo.

Manu empurrou os vestidos para um


canto do closet Para facilitar o acesso
bem escondido. Era um fundo falso.
Como um cofre. Abriu o cadeado
pequeno e seus olhos não podiam crer.

- Roxe....não!

- Sim. Eu o chamava de santuário de


uma viciada.
Em um espaço até grande do closet
estava cheio de garrafas de vodka,
whiskey, destilados, bebidas de todas as
marcas e nacionalidades, caixas e mais
caixas de remédios tarja preta,
comprimidos formulados, analgésicos e
muitos outros que Manu não saberia
dizer o que eram, possivelmente drogas
sintéticas.

- Isso é bem assustador, confesso que


não esperava.

- Eu quero me desfazer deles. Para


sempre.

Manuela deu-lhe um abraço apertado,


assim como seu coração estava naquele
momento. Precisava ajudá-la.

- Ótimo! Eu tenho uma ideia. Mas temos


que ser rápidas. Vou colocar tudo em um
saco plástico e vamos até o térreo.

Demoraram cerca de meia hora


despejando o conteúdo das garrafas em
um latão de lixo vazio. As garrafas
foram colocadas para reciclagem nas
caçambas do prédio e em seguida Manu
ateou fogo.

Enquanto as chamas subiam, Manu


ajudava-a jogar as caixas de remédios
no fogo. A cada caixa jogada era um
grito de euforia de Roxanne. Um grito de
liberdade, de alívio e de esperança.

Ficaram abraçadas por longos


minutos sem conseguirem segurar as
lágrimas, enquanto ali simbolicamente o
passado de sofrimento de Roxanne era
consumido e apagado pelas labaredas.

- Agora vamos Fênix! Hora de voar alto!


Você tem um show para apresentar em
poucas horas. E acho que acertei na
escolha da roupa!

- Manu, obrigada. Por tudo!

- Irmãs Forever lembra?

Chegaram ao local do evento uma hora


mais cedo para que Roxanne fizesse o
teste do som. Manu achou o máximo,
tinha até vaga no estacionamento com o
nome de Roxanne Mackenzie.

- Eu disse que esse evento aqui é nível


hard Roxe.

- Estou nervosa.

- Hey. Você vai arrasar. Você está linda,


você é capaz. Não esqueça de aquecer a
voz.

- Sim.

- Espera que eu vou te ajudar a descer.


Rapidamente uma equipe apareceu para
cuidar dos detalhes para que a
apresentação fosse perfeita. Manuela se
apresentou como assessora e pode ficar
junto a amiga que parecia uma estrela
famosa. Havia outros participantes então
fizeram um mini ensaio. Callie ligou.

- Oi Callie. Já chegaram?

- Sim. Onde você está?

- No camarim. Já vou encontrar vocês.


Ela veio?

- Sim. Como não? Difícil segurá-la.

- Tem uma mesa VIP reservada no nome


de Roxanne. Vão para lá. Já encontro
vocês.

- Ok. Beijos.

Manuela sorriu. Seria uma noite


maravilhosa!

O evento contava com a presença do


prefeito, algumas celebridades do
esporte e representantes de grandes
corporações multinacionais, e havia
fechado a Praça principal da Time
Square. Representantes da mídia como
televisão e emissoras de rádio
marcavam presença.

Por ser véspera de feriado nacional, em


plena sexta-fera, estava superlotado.
Manuela se despediu de Roxanne com
um abraço desejando-lhe boa sorte e foi
ao encontro de Callie.

- Hey...preparadas?

- Manu! Estamos assustadas com a


quantidade de gente.

- E você? Seria?

Disse brincando se referindo a peruca


ruiva de Rayka.

- Oi Manu. O que achou?

- Bem esquisita. Ainda bem que a Roxe


é cega e o amor também.

- Boba!

Todas riram. Manu sentou-se à mesa.

- Gente, hoje será uma belíssima noite.


Estão sentindo essa energia?

- A única coisa que eu sinto é um frio na


minha espinha. Como ela está?

- Muito nervosa Ray. Estava até fazendo


uma técnica de respiração.

- Ela vai arrasar. Eu sei que sim.

- Prepara o coração. Ela veio vestida


para causar. Uma Fênix renascendo das
cinzas.

- E você tem alguma coisa a ver com


isso?

Callie perguntou divertida.

- Totalmente. Estou pensando


sinceramente de me dedicar a carreira
dela. Acho que seria uma grande
contribuição ela ter uma amiga tão
competente como eu ao seu lado.

- Adoro sua modéstia também Manu.

- Hey Callie, veja só, a Rayka cuida das


mídias, eu da publicidade e você da
segurança. Precisamos arrumar uma
advogada. Ah, já sei. A prima dela
Harley. Elas moravam juntas. São bem
amigas. Ou o pai dela, se um dia ele
acordar para vida.

- Hey, Manu. Veja.

Rayka engoliu a seco.

- O que foi Ray?

- Falando no diabo.

- Boa noite meninas. Posso me sentar


com vocês?

- Tio?
- Claro. Sente-se Sr Mackenzie.

Rayka puxou outra cadeira.

- Obrigada. Por favor, não avisem ela


que estou aqui.

Silêncio na mesa.

O nervosismo não era só de Roxanne.


Todas estavam nervosas, pois sabiam
que estavam diante de uma plateia
bastante considerável e a mídia em
massa. Às oito em ponto, horário
marcado e reservado para Roxanne, o
apresentador fez questão de fazer vários
elogios a primeira apresentação dela no
Centro Cultural, e como era uma honra
recebê-la naquela noite. Manu já estava
de pé, seguida das demais.

- Com muita boas energias...recebam


Roxanne Mackenzie!!

Entre uma nuvem de fumaça e luzes


piscantes, ela surgiu guiada por um
servidor do evento segurando-a pela
mão.

- Céus!!!

Rayka nunca se acostumaria com aquilo.


Aplaudida e ovacionada, ela entrou toda
no preto, vestindo um corpete espartilho,
coberta por um sobretudo fino, botas de
salto amarradas até o alto das
panturrilhas, sobre as meias pretas
também. Os cabelos presos em um rabo
de cavalo que a deixava extremamente
sexy. Maquiagem perfeita para uma
diva.

- Eu avisei!

Manuela gritou empolgada ao ver a cara


des admiração de Rayka e Callie.

- Hoje ela veio para matar!

- Não acredito nisso.

Nenhuma das três teve coragem de olhar


para trás, ou veriam um Sr. Mackenzie
extremamente chocado com a visão que
tinha do palco.

Ela cumprimentou a plateia, o convite e


o som da guitarra pesada ecoou.

A voz potente explodiu no Rolling in the


Deep em uma versão carregada de
sensualidade. A plateia cantava junto.
Antes de iniciar a segunda música ela
pediu a atenção de todos. Falou sobre a
importância de eventos que
valorizassem as diferenças e pregasse a
inclusão como aquele.

- Um dia uma amiga me disse que a arte


e a cultura eram indispensáveis para
disseminar o respeito e acabar com todo
tipo de preconceito. E eu pensei, essa
será minha meta. Contribuir para
reflexão de igualdade.

Gostaria de oferecer essa próxima


canção a todas as pessoas que sofrem ou
sofreram por causa do preconceito e
ignorância alheia. Eu quero dizer que
você não está sozinho, nós temos vozes
e não vamos nos calar.

Martin Luther King disse que não se


surpreendia com o barulho dos maus.
Mas com o silêncio dos bons. Nossa voz
será ouvida acima do preconceito, seja
ele qual for.

Aplausos e gritos de apoio encheram o


ambiente. Ela tirou uma bandeira
colorida de dentro do bolso símbolo da
comunidade LGBTQS.

- Somos muitos e queremos ser vistos e


ouvidos. Eu assumo hoje a minha
Homossexualidade e apoio a todos que
sofrem intolerância dentro da própria
família e na sociedade. Inclusão também
é aceitar o que não se entende ou não
concorda. Respeitar é o caminho para
inclusão social.

- Caramba! Roxanne vai explodir a Time


Square!

Manu disse eufórica.


Uma explosão de aplausos seguidos de
palmas e ovações e gritos histéricos.

Rayka arriscou olhar para o Sr.


Mackenzie discretamente. Ele estava de
pé com uma mão sobre a boca, os olhos
arregalados e vermelhos pelo choro
copioso.

- Nossas mãos serão erguidas mais alto


que os dedos de julgamentos.

Ela continuou e fez o gesto símbolo da


resistência. A mão erguida fechada em
punho.

- Vamos dar um recado ao mundo:


"Você é alguém que não
conhecemos

Mas você parte pra cima dos meus


amigos como um míssil

Por que você está bravo

Quando você poderia ser


prestativo?

O Sol brilhando na rua durante a


parada gay

Mas você prefere permanecer na


idade das trevas

Fazer aquele cartaz


Deve ter levado a noite toda

Você só precisa se acalmar

E então tentar restaurar a paz

E controlar seus impulsos de gritar

Sobre todas as pessoas que você


odeia

Porque jogar indiretas nunca fez


ninguém menos gay"

A batida divertida de “You Need To


Calm Down” contagiou o público e ela
foi retirada do palco sob forte aplausos
e assobios. Manuela saiu correndo para
acompanhá-la. Callie abraçou Rayka
que chorava copiosamente. Olharam
para trás e o Sr. Mackenzie já tinha
sumido.

Roxanne Mackenzie estava livre, viva e


poderosa. Como a Fênix renascendo das
cinzas! Ela chegou para causar!
Capítulo 25 -
Surpresas
Nova York, 00:05 am

Manu e Roxanne ficaram ainda na área


reservada aos participantes e até
entrevista para emissoras de rádio e TV
ela deu. Apesar do susto que Manu
imaginou que seria sobre sua orientação
sexual, foi exatamente o contrário.
Houve grande aceitação e acolhimento
da comunidade e de outros públicos.

Ela consultava as redes sociais e elas


estavam repletas de mensagens de apoio
e de fotos, vídeos sobre a nova cantora
sexy e empoderada.

Foi difícil sair do local, pois foram


cercadas por novos admiradores que
queriam tirar uma foto, um autógrafo.
Foi necessário ajuda da equipe de
segurança para conseguirem deixar o
estacionamento.

- Manu!! O que está acontecendo?

- Você foi incrível e muito corajosa.


Quantos artistas escondem sua
orientação sexual por medo de
represálias, medo do preconceito.
Você… simplesmente jogou uma bomba
e dançou no meio do fogo!

- Se for acontecer algo na minha vida


nesse segmento, será baseado na
honestidade. Essa sou eu.

- Adorei. Orgulhosa de você. A rede


social está bombando. Vamos
comemorar. Tem algo especial
esperando a gente em casa. Será
impossível comemorar aqui perto. Você
é uma estrela Roxe.

- Prefiro ficar com você.


- Ohhhh…preciso te dizer algo.

Manu tirou os olhos da direção um


segundo e tocou-lhe sobre a perna.

- Diga.

- Seu pai estava lá.

- Sério? Mas...como?

- Ele deve ter visto nas redes sociais.


Além disso a tia Clarice está sabendo.
Tessa e Maycon encheram as redes
sociais também.

- Hum. Então ele deve ter tido um


infarto.
- Ele sumiu de repente.

- Logo vamos saber.

- Está certo.

Quando chegaram na porta do


apartamento Manu fingiu atender o
celular.

- Hey Roxe, Callie disse que esqueceu


um presente pra você no meu carro. Vou
voltar lá e procurar. Já volto.

- Está bem. Eu vou tomar banho depois a


gente come alguma coisa.
- Ok. Beijos.

Roxe entrou e jogou a bolsa sobre o


sofá. Retirou o sobretudo foi quando
percebeu que o sistema de som
amplificado estava ligado.

Estranho. Não lembrava de ter ligado


ele antes de sair. Prestou atenção na
música que tocava trazendo lembranças
de sua Sunshine. My Girl.

"Eu tenho o brilho do sol

Num dia nublado

Quando está frio lá fora


Eu tenho o mês de maio

Bem, acho que você vai dizer

O que pode me fazer sentir desse


jeito?

Minha garota

Estou falando da minha garota,


minha garota"

Suspirou profundamente. Coração


chegava a doer. Saudades da sua garota.
Da sua Sunshine. Cinquenta dias sem
ela. Sabia porque contava até as horas.
Saudade é um sentimento que dói.
Descobriu isso. Poderia virar roteiro
clichê: Cinquenta dias sem ela.
Tateou a estante em busca do
controle para desligar. Não queria ficar
triste. Não hoje.

- Não desliga! Eu gosto dessa música!

- Puta que pariu!

Ela levou um susto tão grande que quase


caiu para trás. Mas foi surpreendida por
uma mão delicada segurando seu braço
com firmeza.

- Rayka?

- Estava esperando outra?


- Rayka. Não acredito!!!

Agarrou-a fortemente já em lágrimas.

- Roxe...senti sua falta.

- Não tem adjetivo que defina o que eu


senti nesses dias sem você. Meu amor.

E ela a beijou. E tinha gosto e jeito de


primeiro beijo. Foi a única coisa que
passou pela cabeça dela quandoRayka a
puxou para sua boca, pegando firme em
sua cintura agarrando sua roupa com
ímpeto.

Os lábios carnudos deslizaram sobre os


dela arrancando um suspiro obrigando-a
abrir os seus para receber sua língua
quente e possessiva em sua boca. Suas
bocas tinham um encaixe perfeito, a
pegada certa, assim como seus corpos.
O beijo foi longo, profundo cheio de
saudade e vontade. Rayka escorregou
uma das suas mãos pegando-a pela nuca,
empurrou-a para o sofá obrigando-a
sentar-se.

Então ela escorregou para seu colo sem


tirar os lábios dos seus. Sentou de lado
e suas mãos começaram a tocar-lhe o
abdômen. Ela encostou a cabeça no seu
pescoço buscando ar que já faltava para
ambas.

- Roxe, que roupa é essa, meu pai…


Tocou no abdômen definido com uma
covinha de cada lado. Era firme. Subiu
as mãos mais um pouco, a roupa não
escondia nada. Queria tocá-la por
inteira. E ela abriu os olhos verdes tão
cheios de paixão e desejo.

As mãos de Roxanne tocaram o rosto da


Latina quente. Sua pele era tão macia e
delicada. Agora que sabia como era seu
rosto a sensação era diferente.

- Você é linda Rayka...e eu te vi uma


vez.

- É verdade. Você me viu. Ainda gosta


de mim?
- Eu te amo. Meu coração dói tanto sem
você.

- O meu também querida. Estava


insuportável ficar sem você.

Roxanne deslizou as mãos sobre o


vestido vermelho tomara que caia que
ela usava, sentiu suas curvas. Parou
sobre suas nádegas. Sua cabeça
encostou no seu ombro e aspirou seu
perfume doce.

- Está usando alguma coisa por debaixo


desse vestido?

- Hey! Tenho cara de quem anda sem


nada por baixo por aí?

- Vou descobrir.

Começou a puxar o zíper suavemente.

- Calma aí querida. Tenho uma surpresa


para você antes.

- Não pode ser depois?

- Não... não. Não me tente.

Dizendo isso ela se levantou e a puxou


pela mão.

- Preparei algo pra você.


- Hum. Cheia de surpresas.

- Vou descrever. Eu fiz um jantar para


você. Fiquei sabendo que gosta de
comida italiana. Então fiz um macarrão
cacio pepe com molho branco, um arroz
risotto de camarão e tiramisú de
sobremesa.

- Rayka... Por que tanto trabalho?

- Porque é um dia especial. E a mesa


está arrumada a luz de velas que eu vou
acender agora. Vem sentar-se à mesa.

- Uau. Eu não sei o que dizer.

Rayka serviu-a. Já estava tudo pronto e


arrumado. Trouxera a comida de casa e
deixou no apartamento antes de ir na
apresentação. Saiu de lá antes do
término e esquentou tudo e arrumou a
mesa. Acendeu as velas. Sentou-se à
frente da sua morena estonteante. Seria
difícil se concentrar com ela vestida
daquele jeito.

- Roxe, eu estou muito orgulhosa de


você. Gostaria que soubesse que esses
longos dias longe de você eu senti tanto
medo de você regressar... você sabe.

- Sim, meu amor. Eu tive vontade.


Confesso.

- Mas você foi forte.


- Eu prometi não foi?

- Sim. Você foi incrível hoje também. Eu


fiquei tão emocionada e orgulhosa. Você
sabe passar uma mensagem de esperança
com coragem e muita ousadia.

- Você me ensinou a ouvir meu coração.


É o que estou fazendo.

- Experimenta a comida.

- Obrigada querida por isso.

Jantaram se tocando o tempo todo.


Como se a qualquer momento aquela
magia fosse desaparecer.
- Está delicioso. De verdade.

- Que bom. Então come porque você


precisa de muita energia hoje.

- Hum. Hey, esqueci da Manu. Onde ela


está?

- Essa hora no paraíso com a policial.

- Quê?

- Callie me contou. Finge que não sabe


quando ela for te contar, pelo amor de
Deus.

- Manu...Manu, sempre me
surpreendendo.

Depois quando estavam apreciando a


sobremesa com uma música romântica
ao fundo, Rayka colocou um embrulho
sobre a mesa.

- Roxanne...

- Oi amor. Estava tudo perfeito. Como


tudo que você faz.

- Tenho um presentinho para você.

- Mais?

- Você me pediu em namoro não?


- Sim, eu pedi.

- Eu tive a liberdade de comprar isso.

Ela colocou suas mãos sobre a caixinha.


Roxanne abriu já sabendo do que se
tratava.

- Hum...achei que não quisesse alianças.

- Pensei melhor. Como vou fazer com


todo tipo de homem, mulher te
assediando o tempo todo?

- Eu só vejo você e é verdade.

Ela sorriu? Sim, ela sorriu e abriu a


caixinha de veludo preto.
- Ainda quer ser minha namorada srta
Mackenzie?

- Com certeza.

Rayka pegou sua mão direita e colocou


uma aliança francesa com um pingente
de ouro branco. Gastara todas as suas
economias, mas era algo que Roxanne
merecia cada esforço que fizera. Beijou-
lhe a mão.

- Deixa eu pôr a sua.

- Certo.

Entregou-lhe a aliança estendendo a mão


direita.
Ela colocou a aliança e beijou-lhe a mão
também.

- My Sunshine. Eu te amo.

- Eu também te amo, sua vampira sexy.


Agora vem, vamos dançar.

Ficaram agarradas com a cabeça


encostada no ombro suspirando uma na
outra. De olhos fechados, sentindo o
perfume uma da outra, as mãos se
tocando, corpos encaixados embaladas
pela música romântica que tomava conta
do ambiente iluminado apenas pelas
velas nos cadelabros solitárias sobre a
mesa.
- Roxe?

- Hum.

- Eu quero muito que você me beije.

- Que bom. Porque sua boca foi feita


para ser beijada todos os dias e em
todas horas, minutos e segundos.

E ela a beijou. Rayka suspirou. Roxanne


era realmente parecida com uma gata.
Aquela roupa preta sexy, aqueles olhos
verdes dilatados e suas mãos
deslizavam tão faceiras que ela nem
percebeu que o zíper do seu vestido já
estava todo aberto caindo sobre seus
pés.

Ela sentia o coração dela batendo junto


com o seu, palpitante, forte, a boca
ansiosa e o beijo gostoso, gosto de
desejo e paixão.

Tinha que ser gostosa assim?

Sentiu suas mãos abrindo seu sutiã meia


taça vermelho de renda e suas mãos
deslizaram sobre seus seios tocando-os
devagar, lentamente, e seu desejo pulsou
em reação imediata aos seus toques,
como se nunca tivesse sido tocada. Seu
corpo ardia pedindo por ela.

Roxanne tinha uma única certeza, Rayka


era sua maior fraqueza, ela era quente,
viciante, tinha gosto de luxúria, boca
macia e beijo melado sabor de pecado.
Sua pulsação disparou o calor subiu
inebriando sua mente. Perdeu qualquer
pudor de antes, queria amá-la
intensamente.

Sua mão tocou a lateral da minúscula


calcinha que ela usava. Mordeu seu
lábio inferior enquanto sorria pela
malícia da Latina com aquela roupa
sensual que sabia estar linda nela, podia
imaginar enquanto deslizava suas mãos
sentindo-a em cada detalhe. Sentiu sua
intimidade quente ela gemeu na sua boca
ao sentir seus dedos acariciando-a
pedindo permissão.
- Roxe…

- Hum... você gosta?

- Sim, gosto que me toque.

Ela continuou a carícia enquanto a outra


mão a segurou firme pela cintura
levando-a deitar sobre o sofá. Deitou-se
sobre ela fazendo-a arfar de desejo
tendo o peso do seu corpo sobre ela. Os
dedos continuavam dentro da sua
calcinha sem invadi-la. Torturando-a
lentamente.

Sua língua quente desceu sobre um dos


seios da sua Latina ao mesmo tempo que
invadiu sua intimidade úmida e quente.
Rayka não resistiu e gemeu alto sentindo
seu desejo disparar e só pensava em
matar todo aquele tesão guardado.

Roxanne sentiu as vibrações da Latina


se intensificarem, a respiração ficou
descontrolada, tensa e rápida. Como não
podia ver suas expressões, sentia suas
vibrações explícitas em seus gemidos e
sons e pelos movimentos de entrega
inconfundíveis.

Rayka agarrou-a pela nuca fazendo mais


pressão sobre seus seios e Roxanne
sugou mais forte, dando pequenas
mordidas fazendo-a gritar de prazer.
Rayka falava palavras de baixo calão. E
isso a excitava. Mordeu mais forte e ela
gemeu puxando seu cabelo. Aumentou a
pressão dos seus dedos dentro dela
erguendo uma perna dobrando seu
joelho. Beijou na boca agora com
ímpeto, quase selvagem e ela se
contorceu de prazer. Deixou sua boca
para falar em seu ouvido.

- Rayka, você gosta de dar pra mim?

- Oh Roxeeeee não fala assim


...porque….

- Por que o quê?

Maldita vampira da voz sexy do


cacete!

- Porque você me mata.

- Gosta ou não?

- Simmm simmm eu gosto de dar pra


você...e eu vou dar agora... Roxeeeee...
Sou toda sua, me ame meu amor.

Roxanne descobriu que não tinha nada


mais excitante do que uma latina boca
suja gemendo gostoso no seu ouvido.
Seu próprio corpo reagia
instantaneamente. Estava toda vestida,
mas estava em êxtase.

Pegou os lábios carnudos de novo


sentindo o ventre dela se contraindo.
Precisava sentir seu gosto. Deslizou
entre suas pernas e usou a outra mão
para descer a calcinha deixando-a livre.
Invadiu-a de novo com os dedos e
começou a acariciar seu ponto sensível
com delicadeza, porém ousadamente.

A Latina rebolava sobre seus dedos e


língua e gritava palavras feias. Estava
no olho do furacão, sentia que ela iria
explodir a qualquer momento. Não
podia ser diferente com a deusa do
vento.

Rayka esqueceu até seu nome quando a


boca de Roxanne achou seu nervo do
prazer e a maldita sabia torturá-la
lentamente. Estava praticamente se
atirando sobre os dedos dela porque não
aguentava mais de vontade. Puxou seu
cabelo, arranhou o sofá, gritou e o
prazer vinha chegando lentamente, mas
intenso e arrebatador.

Aquela boca Maldita sem experiência e


com toda experiência sabia o que fazia.
Seu tesão só aumentava, não aguentava
mais, agarrou-a pelo cabelo e soltou um
urro selvagem quando atingiu o ápice.
Seu corpo foi sacudido várias vezes até
o clímax. Roxanne levantou a cabeça e
ela a puxou para um beijo melado
levemente salgado.

- Roxeeeeee, você me mata desse jeito.


E maldita sorriu de lado daquele jeito
safado e começou a tirar suas roupas.

- Não morra ainda não. Estamos só


começando.

- Eu não aguento não, isso é demais pra


mim.

Aguentava sim. A noite subia e elas


continuavam agarradas cheias de
vontade, saudade que não acabava, fogo
que não apagava, ficavam se tocando, se
sentindo, fazendo amor, devagar, rápido,
e o prazer vinha novamente.

As mãos se buscando, os lábios se


devorando e acabavam suadas, exaustas
e ofegantes. Mas bastava uma palavra
safada, um beijo mais longo e
começavam tudo outra vez.

No sofá, no tapete felpudo, na cama, na


banheira. A última vez, Rayka se lembra
de ter visto raios de sol entrando pelas
frestas da cortina enquanto sentia os
dedos da vampira tocando seu ponto
mais sensível levando-a ao êxtase
repentino, enquanto chamava seu nome
completo que era sexy por si só, como
se empoderasse seu prazer porque ele
tinha dona.

Ela também tinha dona. Porque seu


coração era todo dela, ela era toda sua.
Nova York, 10:05 am

Felicidade: qualidade ou estado de


feliz; estado de uma consciência
plenamente satisfeita; satisfação,
contentamento, bem-estar.

Então era isso o que era felicidade.

Roxanne havia buscado aquela sensação


de plenitude em tantas coisas, e ela
estava ali agora. Sua felicidade estava
ao seu lado. Acariciou-lhe os cabelos
esparramados pelo seu peito.

Dedilhou-lhe o dorso descendo sobre


seus ombros desnudos. Continuou
descendo e acariciando suas costas
desenhando corações imaginários. Não
deixaria ela se afastar outra vez.

A sensação era de que elas estavam


ligadas por uma energia muito maior,
algo que transcendia seus corpos. Achou
que era isso que chamavam de ligação
de almas. Sentiu um beijo no seu
pescoço provocativo.

- Bom dia Sunshine.

- Bom dia Roxe. Estou sonhando ou


estou na sua cama mesmo?

- Se for um sonho eu não quero mais


acordar.
- Eu também não.

- Rayka, você acredita em ligação de


almas?

- Como assim? Tipo almas gêmeas?

- É, sei lá tipo... transmigração de almas


onde a gente se encontrou em outras
vidas?

- Se for para ter você em várias vidas eu


acredito.

- Esses dias sem você, foram bem


difíceis. Talvez a razão pela qual dói
tanto nos separarmos é porque as nossas
almas estão ligadas. Talvez, sempre
tenha sido assim e para sempre será.
Talvez, tenhamos vivido mil vidas antes
desta, e em todas elas tenhamos nos
encontrado de alguma forma.

- Deve ser por isso que sonho com seus


olhos desde que tinha dezesseis anos.

- É sério isso?

- Sim. Eu desenhei seus olhos porque


apareciam sempre nos meus sonhos. Um
dia no café quando vi você sem óculos
eu tive certeza que eram seus aqueles
olhos que me fascinavam e ainda
fascinam.
- Que forte, achei que você só estava
flertando. Então acho que é verdade.
Estou mais crente de que você e eu não
podemos ficar separadas por nada.

- Então eu sou a mulher mais sortuda de


todas as vidas.

- Você não vai voltar para aquele abrigo.


E não é uma pergunta. Seu lugar é aqui
comigo.

Abraçaram-se mais forte.

- Mas Roxe, ele ainda não foi preso.


Calliei disse que ele foi rastreado no
México na última vez. Mas ele pode
mandar seus comparsas fazerem algum
mal.

- Está tão segura aqui quanto lá. Não


vamos falar mais nisso.

- Mas Roxe, e sua família? Não creio


que eles ficarão muito felizes em saber
disso. Principalmente seu pai. Ele
deixou isso bem claro.

- Bem, ele vai ter que repensar. E outra,


não vou deixar você ir para o Bronx
nunca mais. Nem lá e nem um outro
lugar onde possa ser sequestrada,
colocarem fogo no seu apartamento, ser
atropelada. Chega disso. Estamos juntas
nessa. E é aqui que você vai ficar.
- Mas...eu não... Roxe. Eu não tenho
nada para oferecer a você. Tudo que eu
tinha foi destruído e eu não quero que
sua família pense que estou usando
você.

- Deixa eles pensarem o que quiserem.


Importa o que temos entre nós. Vem,
vamos tomar um banho e comer alguma
coisa que estou morta de fome.

- Ainda vamos discutir isso.

- Não. Não vamos.

Rayka esquentou o resto do jantar, que


estava ótimo e comeram. Estavam
jogadas no sofá e Rayka estava
atualizando as redes sociais que havia
criado com a ajuda de Manu.

- Família! Cheguei! Estão vestidas pelo


menos?

Manuela abriu a porta tão gentil quanto


uma manada de touros selvagens.

- Entra sua piranha safada. Temos muito


a conversar.

- Ah não Roxe, o sexo não melhorou seu


humor? Vai me dizer que não gostou da
surpresa?

Manu jogou-se no sofá juntando-se a


elas.
- Obrigada. Eu amei.

- Assim está bem melhor.

- Hey Manu, veja só o vídeo da


apresentação de ontem. Está bombando
no YouTube.

Rayka virou o notebook para que ela


pudesse ver.

- Não tinha como ser diferente. Escuta,


nós temos direito a filmagem
profissional do evento, estava no
contrato. Poderemos fazer uma boa
propaganda e ainda quem sabe atrair
alguns patrocinadores que estavam lá no
evento. Já estou pensando nos dólares.

- Boa ideia Manu.

- E como foi a noite de vocês?

Piscou maliciosa a loira para Rayka.

- Ótima e a sua?

Roxanne devolveu.

- Ótima também. E não eu não vou falar


sobre isso. Não agora que estou
morrendo de fome. Meu Deus tem
comida nessa casa?

- Fica a vontade Manu. Tem bastante


comida.

- Seja gentil Roxe, não está ajudando.

Rayka cochichou para ela.

- Caramba, que comida gostosa. Rayka,


você pode cozinhar todos os dias que eu
deixo.

- Obrigada Manu.

- Manu, tenho uma missão para você.

Roxanne disse tateando em busca da sua


bolsa jogada por ali desde a noite
passada.
- E o que seria?

- Isso!

Roxanne levantou seu cartão de crédito.

- O quê? Já me interessei.

Manu largou o prato na bancada e se


aproximou animada e curiosa.

- Rayka perdeu todas as roupas no


incêndio. Adoro que ela use as minhas
ou nenhuma, mas...

- Roxe! - Rayka lhe deu um tapa.

- É verdade amor. Mas, acho que ela


precisa de roupas novas. Sua missão.

- O quê? Cartão de crédito Mackenzie


sem limites na minha mão? Tem
certeza?

- Roxanne, não preciso de nada.

- Tenho sim. Vamos às compras. E como


eu detesto fazer isso. Eu deixo com você
essa missão.

- Caramba! Isso é demais!

- Roxe...o que conversamos mais cedo?

- Hey Rayka, você é minha namorada


agora. Namoradas cuidam uma da outra.
E eu quero e vou cuidar de você.

- Ohhh….esse amor é tão fofo!

Manu disse pegando o cartão e dando-


lhe um beijo.

- Eu disse pra você que tinha alguma


coisa de comédia romântica entre vocês.
E você Latina tem sorte de participar
como coadjuvante nesse filme onde
Manuela Alika, a estrela, vai te
transformar em "Uma linda mulher".

- Ela se empolga Rayka. Não liga.

Roxanne disse beijando sua namorada,


um pouco receosa, mas feliz. Era bom
ser cuidada por alguém. Se esse alguém
for quem você ama mais que tudo na
vida, é ainda melhor.

Uma hora depois estavam desfilando nas


avenidas de Nova York, som do carro no
último volume, pegaram Callie também
no caminho. Fazia calor, mas isso não
era empecilho para Manuela arrastar as
demais de loja em loja, de shopping em
shopping. Cansada Roxanne sentou-se
em uma sorveteria colocou os fones e
ficou esperando Manu se cansar. Logo
Callie apareceu para lhe fazer
companhia.

- Posso lhe fazer companhia? Cansei.


- Claro Callie. Eu já estou acostumada
com Manu.

- Meus pés estão doendo. Teremos que


deixá-la voltar pra casa só com as
sacolas e vamos ter que pegar um táxi.

- Deixa ela ser feliz. Aproveitando que


estamos falando de felicidade. Está
rolando alguma coisa entre vocês duas?

- Epa. Interrogatório? A policial aqui


sou eu.

- Quais são suas intenções com a minha


irmã?

- Ok...Garanto que são as melhores


possíveis. Mas não sei se ela está
interessada.

- É mesmo? E ontem a noite?

- Você é irmã ou pai dela?

- Não desvia o assunto.Quero saber.


Desembucha logo.

- Não aconteceu nada ontem a noite.


Terminei sozinha no sofá. Está bom para
você?

- Hum. Mas está rolando ou não?

- Ela sabe o que eu quero, mas ela está


digamos...confusa. Eu entendo o lado
dela. Conheci a família Alika em Miami
e são bem tradicionais, além disso tem
dois irmãos macho-alfas em casa. A
gente estava se conhecendo. Mas ela
pediu um tempo para entender tudo isso.

- Se serve de consolo, posso garantir


que ela vale a pena.

- Eu sei que sim.

- Ela tem esse jeito muito doida, mas


tem uma alma muito iluminada.

- Vou esperar. Sei ser bem paciente


quando o motivo vale a pena.

- Tem meu apoio.


- Obrigada Roxanne. Sei que será muito
bom contar com sua ajuda.

Rayka voltou para o emprego no


Starbucks, dois dias da semana Alana
ficava com ela no apartamento de
Roxanne. Ela até mandou reformar o
antigo quarto de Jess exclusivamente
para Alana. Pintou de rosa com papel de
parede de unicórnio. Rayka fazia o
jantar todas as noites, e Manu até tinha
ganhado peso, o que a fez ir para
academia, justamente a que Callie
frequentava.

Roxanne começou a estudar de dia. E


mudou seu horário das reuniões para
tarde, mas não deixou de ir.
O psiquiatra lhe deu alta. Recomendou
apenas uma terapia ocupacional que ela
fazia uma vez por semana. Rayka
cuidava para que ela não perdesse uma
consulta, um exame, estava sempre ao
seu lado.

Quinze dias depois Roxanne fez a


terceira cirurgia. E Rayka ficou com ela
todo tempo no hospital. O Dr. Sanchez
chamou-a para conversar sobre a sua
recuperação e alertou sobre a
possibilidade dela começar a enxergar
as coisas borradas, clarões e os
possíveis desmaios que não podiam ser
descartados.
Rayka cuidou para que ela não saísse de
casa por causa do sol, Manu a levava
todos os dias para faculdade, a buscava
no seu horário de almoço.

E ela estava usando ainda o tampão


protetor. Durante os sete dias ela não
teve nenhuma febre, dor ou desmaio.
Estavam agora no hospital esperando o
Dr. Sanchez que tiraria o tampão e
avaliaria a cirurgia com exames.

Rayka estava muito ansiosa. Não contou


para Roxanne o que o médico disse para
não gerar expectativas demais e gerar
frustração depois. Mas queria muito que
tivessem um bom sinal.
- Está nervosa Rayka?

- Não. Por quê?

- Quando você fica calada é porque está


nervosa.

- Não amor. Estou só um pouco ansiosa


só isso. Mas tenho certeza que teremos
boas notícias.

- Segurou a mão dela entrelaçando os


dedos.

- Eu também sinto isso. Obrigada por


estar comigo aqui.

- Sempre meu amor.


Logo foram chamadas a sala de exames.
Onde o Dr. Sanchez já as cumprimentou
sorrindo animoso.

- Roxanne Mackenzie. Como está hoje?

- Eu me sinto ótima.

- Nenhuma dor, nada de desmaios...


delírios.

- Não. Estou muito bem. Sinto apenas


vontade de coçar.

- Sim, então vamos retirar a proteção.


Vou pedir para srta Rivera desligar a luz
porque você pode sentir muito
incômodo.

- Claro.

Foram longos seis meses de tratamento.


Três cirurgias, vários experimentos,
remédios, injeções, aplicações. Roxanne
estava muito ansiosa também.

Queria muito receber boas notícias. Sua


vida estava tão maravilhosa nesses
últimos meses. Estava estudando,
tocando, compondo. Rayka estava ao seu
lado cuidando o tempo todo dela. Manu
também, dando sempre apoio em tudo.
Só faltava isso para completar sua
felicidade.
- Sugiro que não abra os olhos de uma
vez. Pode lhe causar uma confusão
mental.

Cada segundo das mãos do Dr. Sanchez


retirando o protetor parecia uma
eternidade. Rayka segurou em suas mãos
firmemente, estando em pé ao lado da
maca onde Roxanne estava sentada.

- Prontinho. Srta Mackenzie, abra


apenas um dos olhos devagar. E em
seguida o outro.

Ela abaixou a cabeça, suspirou


profundamente. Tinha tantos medos, mas
tratou de mentalizar pensamentos
positivos. Seu coração estava acelerado.
- Ardem!

- Tudo bem. Normal até aí…

Sentiu quando Rayka apertou mais suas


mãos, e desejou muito ver seu rosto para
sempre.

Ergueu os olhos para o teto e foi


abrindo-os devagar piscando várias
vezes. Flashs de luz inundaram suas
vistas.

- Não está tão escuro.

- Ótimo. Vou acender a luz agora e me


diz se faz diferença.
Rayka sentiu quando seu coração
disparou frenéticamente. Suspirou forte,
pois sabia que estava vivendo um dos
dias mais emocionantes da sua vida
toda. Jamais esqueceria aquele dia,
aquela cena. Viu Roxanne esfregar as
pálpebras com uma mão. Notou também
sua respiração alterada. Seu peito
arfava. Queria muito presenciar tal
milagre, temia que um fracasso a levasse
a uma crise novamente.

Então ela os abriu. Aqueles olhos


verdes como o mar do Caribe. Piscou
várias vezes e sorriu daquele jeito torto,
de lado mostrando os dentes
incrivelmente brancos. E seu foco de
visão tinha endereço.

- My Sunshine! Eu vejo você!

Rayka não soube mais o que aconteceu.


Só se lembra de agarrá-la ali mesmo em
lágrimas.

Até o Dr. Sanchez abraçou-a


emocionado.

- Oh meu Deus Roxanne!!!

Ficaram vários minutos ali, chorando em


um abraço de pura felicidade.

Foram fazer os exames de visão e


coletas e aplicações. Mas a verdade era
que sua vampira estava enxergando,
pouco, mas era um começo muito
promissor. Com resultado em mãos o Dr.
Sanchez constatou que ela tinha 45% do
olho direito e 35% do esquerdo. E a
tendência era que a cada dia ela
passasse a perceber uma diminuição na
visão mais embaçada, até se estabilizar.

Ela chorava como criança. Logo toda


equipe da pesquisa vieram
cumprimentá-la e examinar também.
Foram testes e mais testes. Amostras.
Mas dessa vez ela não se importou com
isso. Estava o tempo todo sorrindo para
a Latina ao seu lado que chorava
enquanto ligava para Manu.
Em menos de trinta minutos ela
estacionou o carro na frente do hospital
correndo o máximo que seus saltos
permitiam. Quando invadiu a sala do Dr
Sanchez como um raio de tempestade,
todos se assustaram.

- Roxe??

Rayka soltou a mão de Roxanne que


se levantou da maca e veio em sua
direção chorando já abrindo os braços.

- Manu, você fica linda de vermelho.


Minha amiga.

- Sério?!! Roxe...é verdade mesmo?


Ela correu ao seu encontro deixando a
bolsa cair pelo caminho. E Rayka soube
enfim que milagres existem. Soltou o ar
lentamente fazendo uma oração de
gratidão. A vida era bela e o futuro não
podia ser mais promissor.

Juntou-se a elas em um abraço coletivo


de amor, amizade, cheio de esperança,
sonhos e felicidade!
Era assim que se sentia, ela pertencia a
algum lugar. Finalmente ela tinha irmãs,
uma família, um lar.

N/A
Esse tratamento feito com células
troncos já existe, e esse tipo de
cirurgia e tratamento já são realizados
na China. Com cura quase que total
da cegueira causada por lesões nas
córneas. Os resultados são reais.
Capítulo 26 - Nasce
uma Estrela
Nova York, 10:25 am

Rayka estava tão feliz que estranhava a


sensação. Mexeu o molho Bolonhesa
experimentando pela décima vez. Queria
que tudo estivesse perfeito.

Sua namorada estava desmaiada depois


de passarem a madrugada toda
comemorando sua recuperação. Callie
foi embora com o sol nascendo e Manu
estava apagada em cima do unicórnio
gigante no tapete da sala. Já a tinha
sacudido várias vezes sem sucesso.
Estava preparando o almoço, logo mais
a família Mackenzie estaria toda
reunida, então ela praticamente nem
dormiu.

Primeiro porque Roxanne não queria


dormir, disse que tinha medo de acordar
e estar no escuro de novo. Ficou
apoiada sobre os cotovelos observando
Rayka o tempo todo.

- O que você tanto olha Roxe?


- Antes de dormir sempre tentava
mentalizar seu cheiro, sua voz para que
pudesse sonhar com você. Agora não
preciso sonhar, posso ver você em cada
detalhe. Por que eu iria querer dormir?

Rayka sorriu e a última coisa que viu


antes de ser vencida pelo sono foram
aqueles olhos verdes que tanto a
fascinava mirando-a com admiração e
ternura.

Estava ansiosa, não sabia como seria a


reação da família dela ao saber que
estava praticamente morando ali.
Despejou a calda no pudim e colocou na
geladeira. Sua mãe sempre dizia que
uma boa comida aplacava qualquer
raiva. Esperava que ela tivesse razão.

Será que o Sr. Mackenzie viria? Não


queria confusão, mas estava preparada
para se defender. Sentiu os braços de
sua amada ao redor da sua cintura.
Ganhou um beijo na nuca.

- Bom dia Roxe. Nem te ouvi entrar.


Como você está?

Virou-se para vê-la e beijou-lhe os


lábios.

- Com sono ainda, mas você saiu...não


consigo dormir sem você.

- Uau...Você está linda.


- Não sabe como é bom vestir-se
sabendo que roupa está pondo. E
também fiquei muito tempo me olhando
no espelho.

Ela usava um vestido branco soltinho


sem mangas, estava maquiada e prendeu
as laterais do cabelo fazendo duas
trancinhas finas.

- Está perfeita como sempre meu amor.

- Hum, o cheiro está ótimo. O que está


fazendo?

- Lasanha, arroz à grega, tapas de


salmão defumado e salada de carpaccio.
Fiz pudim de leite de sobremesa, Manu
disse que é o preferido do seu pai.

- Um banquete! Está tudo tão lindo.


Outra maravilha de se poder enxergar.
Ver o que se coloca na boca.

- Hummm...vamos pensar mais sobre


isso…

- Safada! Vem cá.

Roxanne ergueu-a no ar e a colocou


sobre a bancada no meio da cozinha.

- Você que tem a mente poluída. Estava


falando disso.
Pegou um dos tapas de salmão, deu uma
mordida e colocou o restante na boca
dela.

- Delícia...assim como isso.

Roxanne puxou o laço do avental que ela


usava e escorregou as mãos para dentro
da camiseta larga, era sua camiseta, pelo
jeito ela continuava roubando suas
roupas.

- Roxe, não começa ou não vai sair


almoço nenhum nessa casa.

- Pode atrasar um pouco não pode?

- Não, não pode. Eu preciso mexer o


molho.

Mas ela não estava com muita vontade


de parar.

- Ah não!! Na cozinha gente?

Manu apareceu meio descabelada.

- Não é na cozinha que tem fogo?

Roxanne disse divertida. Rayka


aproveitou e escapou dos seus braços.

- Vocês passaram de comédia romântica


para pornô. Isso são horas de um fogo
desses?
- Manu, vai se arrumar que a família
Mackenzie está chegando. Temos que
causar boa impressão.

- Ah é Rayka? Transando em cima da


bancada? Começamos muito mal.

Ela saiu arrastando o unicórnio. Rayka e


Roxanne trocaram mais um beijo
cúmplices.

- Agora é sério amor. Preciso me


arrumar ainda.

- Ok. Vou ajudar. Vou fazer um suco


natural.

- Isso. Muito bem. Vai ganhar um ponto.


- O que eu ganho com esses pontos?

- Pode trocar os pontos por beijos mais


tarde.

- Hum...isso muito me interessa.

Rayka estava terminando de se maquiar


quando ouviu a campainha tocar. Olhou-
se no espelho de novo para ter certeza
que estava tudo em ordem, precisava
conquistar aquela família, não queria
que eles se afastassem de Roxanne por
sua causa.

Escolheu um vestido soltinho amarelo


de alças, sandálias de salto da mesma
cor e prendeu os cabelos em um rabo de
cavalo deixando alguns fios soltos e
escovou a franja para ter melhor
caimento.

- Seja o que Deus quiser.

Falou para si mesma no espelho antes de


sair do quarto.

Roxanne estava ainda abraçada a mãe na


porta, que estava muito emocionada.
Cumprimentou Tessa com um beijo e
abraçou Maycon. que também tinha os
olhos marejados.

Manuela foi pegar um copo de água para


a Clarice Mackenzie, fortemente
emocionada. Foi então que olhou por
cima dos ombros de Clarice e Roxanne
e seus olhos encontraram os do Sr.
Mackenzie, gélidos.

Sentiu um arrepio percorrer todo seu


corpo, mas não desviou o olhar, deu um
pequeno aceno com a cabeça e voltou a
atenção para Tessa e Maycon
oferecendo algo gelado para beber, pois
estava bem quente naquela tarde.

Roxanne saiu dos braços da mãe e


ficou parada na porta, um turbilhão de
emoções a invadiu ao ver o rosto do seu
pai. Eles sempre foram muito ligados.
Companheiros um do outro. Não sabia
qual seria a reação dele. Mas desejava
que ele tivesse refletido um pouco desde
o último encontro.

- Roxe.

- Oi Papi. Você está velho. - Brincou

- E você parece um anjo.

Abraçaram-se e Rayka ouviu os soluços


de ambos. Não conseguiu evitar uma
lágrima também.

Depois de todo interrogatório sobre a


cirurgia e o que viria depois, Rayka
serviu a todos na mesa e sobraram
elogios sobre seus dotes culinários.
Roxanne não conseguia parar de sorrir.
Aquela cena de toda sua família reunida
em seu apartamento que comprara
exatamente para sair de perto deles,
representava muito para ela.

Rayka estava tão linda e radiante como


um raio de sol, toda de amarelo e seu
perfume estava em todo lugar.
Segurava sua mão debaixo da mesa o
tempo todo.
Ela olhava-a dava uma piscadinha e
sorria com a língua entre os dentes.
Pequenos detalhes que nunca vira, e
queria conhecer tudo dela. Se perdeu
nos olhos marrons de cílios grandes.

Seu pai pelo menos estava sendo


educado. Mas, o clima era um pouco
tenso. Todos ficaram muito felizes em
vê-la recuperada dos vícios, da falta de
visão e mais orgulhosos em saber que
ela havia voltado para a Universidade.

Após o almoço ela tocou e cantou para


todos reunidos na sala. Rayka serviu a
sobremesa e viu quando o Sr. Mackenzie
foi para a sacada do apartamento e
Roxanne foi até ele levar um pedaço da
sua sobremesa favorita.

- Linda vista você tem aqui filha.

- Tem razão. É a primeira vez que vejo.

Roxanne entregou-lhe a sobremesa e


ficou observando a movimentação
frenética de carros na cidade.

- Estou muito feliz filha. Não sabe o


quanto, em te ver tão bem.

- Eu também estou.

- Minha sobremesa favorita? Obrigada.

- Foi Rayka que fez. Ela teve o cuidado


de pesquisar seu gosto.

- Filha, eu quero me desculpar pelas


coisas horríveis que falei. Eu sei que
você não merece nada do que eu disse.

- Que bom.
- Quero que saiba que estou me
esforçando bastante para entender tudo
isso.

- Era tudo que eu queria que tivesse dito


na primeira vez. Não vou esperar que
aceite. Só que entenda e respeite a
minha decisão. Eu estou feliz como
nunca estive antes, e Rayka tem muito a
ver com tudo que tenho experimentado
de bom nesses últimos meses. Se não
fosse por ela, talvez não estivesse
apreciando essa vista agora.

- Eu quero que me dê mais uma chance.


Tudo que eu mais quero é te ver feliz. Eu
sofri tanto após seu acidente. Agora olha
para você. Está melhor que antes.
- Todos nós podemos mudar para melhor
Papi. Eu só quero que me ame, e o amor
pode superar qualquer diferença.

- Eu te amo.

- Eu também te amo.

Na sala a sra Mackenzie sorriu para


Rayka ao ver os dois abraçados lá fora,
e ela suspirou aliviada. Era um bom
sinal que tudo ficaria bem afinal.

A noite eles se despediram, passariam a


noite em um hotel, já que não daria para
acomodar todo mundo ali. A sra
Mackenzie prometeu voltar em breve
com mais tempo, pois Tessa e Maycon
precisavam voltar por causa das aulas.
Manu saiu com os dois para uma balada,
mas Roxanne só queria ficar sozinha
com sua namorada linda.

Rayka terminou de lavar a louça e


Roxanne secou e guardou. Depois ela a
puxou para seu colo no sofá macio.

- Acho que deu tudo certo, não deu? O


que acha Roxe?

- Acho que foi perfeito.

- Bem, seu pai não falou comigo, mas


pelo menos não me xingou.
- Ele está se esforçando. Vamos dar
tempo para ele.

- Que tal a gente assistir um filme bem


romântico. Só nós duas?

- Qualquer coisa com você fica bom.

- Ai Roxe... você está tão mudada.

- Isso é ruim?

- Não. É bom. Só preciso me acostumar


com tanta coisa boa acontecendo ao
mesmo tempo.

Rayka ligou o aparelho de TV acessando


o streaming.
- Vou cobrar meus pontos, sequei e
guardei a louça.

- Boa menina. Vamos assistir esse


"Retrato de uma Jovem em chamas".

- Não tem a protagonista queimando em


algum incêndio não? Não posso nem
pensar que você passou por isso.

- Não amor. É outro tipo de fogo.

- Hum. Já gostei.

- Essa Roxe ousada me assusta.

- Não gosta?
- Amo.

Rayka deitou-se no sofá colocando a


cabeça no colo dela que olhava mais
para ela do que para o filme.

- Rayka…

- Hum. Que foi Roxe?

Ergueu os olhos para fitá-la.

- Estou me apaixonando de novo por


você.

- Como assim? Tinha desapaixonado?


- Não. É que antes me apaixonei pelo
seu cheiro, sua voz...sua risada..

- Hum...isso é bom. Não?

- Agora eu estou juntando tudo como um


quebra cabeça. E descobri que estou me
apaixonando de novo. Como se fosse a
primeira vez.

- Está me derretendo já.

- Quando olho para você, vejo a sua


beleza e seu encanto e sei que passei
todas as vidas, antes desta, procurando
você. Não alguém como você, mas você,
porque a sua alma e a minha têm de estar
sempre juntas. E assim, por alguma
razão que talvez nunca saberemos, nós
vamos sempre voltar uma para a outra.

Rayka sentou-se de frente para ela.


Segurou seu rosto entre suas mãos.
Sorriu mirando aqueles olhos verdes
lindos que amava.

- Eu tenho certeza disso meu amor.


Prometo sempre voltar pra você de
alguma forma. E eu prometo me
apaixonar por você todos os dias. Será a
promessa mais fácil de manter que já
tenha feito.

Selaram a promessa com um beijo


carregado de sentimentos.
Universidade Rochester, 8:45 pm

Roxanne foi chamada a sala do


coordenador do curso. Em vez de ir para
o intervalo subiu as escadas para o
segundo andar e bateu na porta do Sr.
Conner.

- Bom dia srta Mackenzie. Por favor,


sente-se.

- Obrigada. Bom dia.

- Primeiramente parabéns pela


recuperação. Estamos muito felizes por
sua conquista.

- Obrigada Sr Conner.
- Bem, eu a chamei aqui para lhe
oferecer uma oportunidade. Desde o dia
que a srta Rivera me entregou seu
acervo, fiquei muito empolgado com as
possibilidades.

- Srta. Rivera?

- Sim, ela esteve aqui há alguns meses.


Estamos muito agradecidos por ela ter
feito isso. Bem, conversei com a reitoria
e decidimos indicá-la para representar a
Universidade na categoria solo feminino
no programa de caça talentos. O mesmo
que a senhorita iria participar alguns
anos atrás.
- Sim...eu...nossa! Não sei o que dizer.

- Diga sim. Está maravilhosamente


preparada. Temos visto algumas
apresentações sua na rede. Queria dizer
que nós temos muito orgulho de tê-la
conosco. E mais de um empresário já
nos procuraram. Inclusive a Rebecca
Vives que participa desse programa está
bastante interessada no seu trabalho.

- Obrigada Sr Conner. Seria uma honra


representar a Universidade.

- Ótimo. Vou lhe entregar a parte de


papelada, mostre a um advogado seu, se
estiver de acordo devolva assinado.
Também criei uma comissão para
ensaiar com você. Só temos dez dias
para nos preparar.

Estava feliz pela oportunidade, não


havia dúvidas, mas para ser sincera
estava mais ainda por saber que Rayka
estava por detrás de tudo de bom que
acontecia na sua vida. Quando saiu da
aula pediu para Manu parar na
floricultura. Iria comprar a floricultura
inteira para ela.

Estúdios Sony, 7:06 pm 10 dias


depois.

Manu estacionou o carro e antes de


descerem deram as mãos fazendo uma
oração de gratidão. O programa era
gravado, chegaram dentro do horário
reservado, Manu havia comprado uma
roupa maravilhosa para a ocasião. Toda
de vermelho. Mas a maquiagem era por
conta da emissora. Roxanne estava
muito nervosa, principalmente porque as
luzes ofuscava-lhe totalmente a visão.

Estava com medo de acontecer algum


imprevisto. Mas foi tranquilizada por
Manu que prometeu cuidar desses
detalhes com a produção.

Rayka também havia preparado uma


roupa especial para aquele dia, um
vestido preto comprido até ao chão,
justo de gola alta e sem mangas. Estava
tão orgulhosa de Roxanne. Sabia que ela
seria fantástica.

Ela passou nas duas primeiras etapas


antes de chegar ao programa. Passou os
últimos dias treinando a voz, acordes.
Mesmo assim sentia um frio na barriga
tamanha responsabilidade representar a
melhor Universidade de música de NY.

Gravaram uma introdução com ela antes


da apresentação e depois ela foi levada
pela equipe. Manu e Rayka sentaram em
um lugar próximo ao palco reservado
para elas.

- Ela vai conseguir, Ray.

Manu apertou-lhe a mão dando-lhe


apoio.

- Vai sim. Ela nasceu pra isso.

Quando o apresentador chamou o nome


dela foi guiada por um assistente de
palco até o microfone. Ela não
enxergava de longe. E as luzes eram
muito fortes.

O apresentador comentou com os


jurados que ela havia passado nos testes
há quatro anos.. Mas havia sofrido um
acidente que havia lhe tirado a visão e
fez um resumo dos acontecimentos na
vida de Roxanne, sempre enfatizando
sua superação.
- Hey Roxanne, você se sente voltando
no tempo quatro anos atrás ou acha que
seria completamente diferente de hoje?

- Há quatro anos poderia ter dado certo.


Mas eu me sinto muito mais preparada
hoje. Porque todas as dificuldades que
passei. Os vícios, a depressão, tentativa
de suicídio, a cegueira.

Tudo contribuiu para aperfeiçoar minha


sensibilidade, a forma como a música
me toca hoje é muito diferente de quatro
anos atrás. A mensagem que eu trouxe
hoje em forma de música, não teria
qualquer sentido para mim quatro anos
atrás.
- Incrível! Estamos ansiosos.

Um dos jurados disse. No bancada de


jurados tinha nada mais nada menos que
Demi Lovato, Alicia Keys, dois
empresários famosos do ramo da
música, Paul Cowell e Rebecca Vives.

- Roxanne Mackenzie, diga qual música


escolheu e porquê.

Demi Lovato pediu.

- Vou cantar Rise up de Andra Day.

Ouviu-se um coro de ohhhhhh. Porque


seria muito ousado para qualquer um
cantar Andra Day.
- Não é arriscar demais? Continuou
Demi Lovato.

- Viver é um arriscar-se diário. Um dia


um pessoa muito especial segurou minha
mão e disse: A vida é uma guerra,
cicatrizes são marcas de que você
sobreviveu, não tenha vergonha de
mostrá-las ao mundo.

E ela me ajudou a me levantar do


abismo profundo que eu me encontrava.
Essa música fala tudo pelo qual passei.
E estou aqui expondo minhas cicatrizes
que só me fizeram mais forte.

A plateia enlouquecida começou a


aplaudir. Rayka e Manu se olharam e
sabiam que não iriam se acostumar
nunca com aquela montanha russa de
emoções que era ouvi-la.

- Então mostre isso para o mundo


Roxanne Mackenzie.

As luzes se apagaram. Apenas um foco


sobre ela, estonteante em um vestido
vermelho. Ela fechou os olhos e
derramou seu coração:

" Você está triste e cansado

De viver a vida em um carrossel


E você não pode encontrar o
lutador

Mas eu vejo isso em você então nós


vamos caminhar com isso

E mover montanhas

Nós vamos caminhar com isso

E mover montanhas

E eu vou me levantar

Eu vou me levantar como o nascer


do dia, eu vou me levantar
Eu vou me levantar sem medo, eu
vou me levantar

E eu vou fazer isso mil vezes

Por você

Quando o silêncio não é tranquilo

E parece que está ficando difícil de


respirar

Eu sei que você sente como se


estivesse morrendo

Mas eu prometo que vou levar o


mundo a seus pés
E mover montanhas

Eu vou me levantar sem medo, eu


vou me levantar

E eu vou fazer isso mil vezes

Por você

Tudo o que precisamos

Tudo o que precisamos é


esperança"

De repente o público estava todo de pé.


Quando ela atingia as notas mais altas
podia-se ouvir todo auditório vibrando
junto.

Demi Lovato arregalou os olhos


aplaudindo várias vezes durante a
apresentação. Rayka viu lágrimas no
rosto de Roxanne. Sabia quão difícil foi
para ela chegar até ali. Limpou as
próprias lágrimas enquanto ouvia os
aplausos eufóricos.

A cantora Alicia Keys foi a primeira a


se pronunciar sobre a apresentação.

Disse que também se emocionou e


elogiou a potência da voz dela, falando
sobre seu timbre bem desenvolvido e
técnica. E deu seu sim. Mas quando foi a
vez de Demi Lovato ela disse que seria
uma idiota se não fizesse o que ela iria
fazer agora. Se levantou, foi até
Roxanne, deu-lhe um abraço.

Elogiou sua performance e desceu


novamente a bancada e apertou o botão
dourado do programa.

Cada jurado tinha direito de apertar uma


vez esse botão em cada programa, e isso
significava que quem ganhasse um botão
dourado estava classificado
automaticamente para as semifinais do
programa.

E quando ela apertou o público estava


em êxtase e Rayka e Manu aos prantos.
O apresentador comentou:

- Hoje nasce uma estrela diante dos


nossos olhos!

Era isso que ela era. Uma lua, uma


estrela, seu universo, sua galáxia toda,
sua alma gêmea.
Capítulo 27 - Buraco
Negro
Nova York, 8:00 pm Uma
semana depois.

Chegou o dia do programa ir ao ar.


Manu estava empenhada na propaganda
da carreira de Roxanne. Com a ajuda de
Rayka fizeram uma campanha para
aumentar a audiência do programa
naquele dia. Alguns vídeos de Roxanne
já estava sendo muito bem aceitos pelo
público.

O mais comentado e compartilhado no


entanto foi do evento na Time Square. O
vídeo já tinha mais de 300 mil
visualizações. A comunidade LGBTQ
havia abraçado a causa de divulgação
de uma cantora que representava bem o
grupo. Foi uma explosão de hashtags no
Twitter apoiando-a.

Bem, até shipper de ela já tinha na


internet. Rayka preferiu ignorar essa
parte. Roxanne não mexia muito em
aparelhos eletrônicos, suas vistas
doíam. Ela estava usando o óculos com
grau forte.

Às vezes ela sentia muita tontura. O


oftalmologista disse que era normal,
uma questão de adaptação. Então quem
cuidava disso eram Rayka e Manu,
sempre atualizando as redes,
respondendo os comentários.

- Vai começar o programa Roxanne.

Manu abriu espaço no sofá para Callie.

Prometeram não chorar.

- Ah caramba...não consigo fazer isso.

Manu disse limpando os olhos já na


primeira cena.

Callie abraçou-a solícita.

- Nem acredito que isso está


acontecendo Roxe.

Roxanne segurou a mão de Rayka.

- Por sua causa Rayka.

- Eu não. Competência sua.

- Acha que não sei que foi na


Universidade Rochester pedir minha
bolsa de volta?

- Estava fazendo um favor pra eles. Olha


agora. O nome da Universidade está na
TV.

- Te amo.

Roxanne fingiu que dormia. Com os


olhos entreabertos viu-a abrir o closet.
Caramba! Como era linda!

As gotas d'água refletindo sobre a meia


luz do quarto. Viu quando ela conferiu se
estava mesmo dormindo. Então ela tirou
a toalha começando a se secar. Para sua
tortura. Nunca se cansaria de olhá-la.
Ela vestiu um pijama de seda preto
rendado. Sem calcinha, observou.

Caminhou até penteadeira provençal


penteou os longos cabelos deixando-os
soltos. Passou hidratante no corpo todo
e apagou a luz. E a música continuava
baixa no sistema de som amplificado.

- Roxe?

Continuou fingindo imóvel.

- Hija de una perra! Pensa que não sei


que está acordada?

Roxanne começou a rir sendo atacada


por cócegas.

- Tá bom, confesso. Se você sabia, por


que não disse nada?
Roxanne acendeu o abajur da cabeceira
porque queria muito poder olhar
naqueles olhos lindos e meigos.

- Não sabe que quando a gente quer


comer alguma coisa a primeira etapa é
comer com os olhos?

- Safada!

- Quem sabe você não acabaria ficando


com vontade?

- Funcionou.

Roxanne deu um giro na cama ficando


sobre ela. Capturou seus lábios
carnudos. Não fechou os olhos. Queria
vê-la por inteira. Puxou a parte de cima
do pijama dela e jogou longe. Inclinou-
se para sentir o cheiro delicioso que ela
tinha. Mistura de sabonete com morango
doce e maduro. Mas sua atenção foi
capturada pela tatuagem dela.

- Seu sol…

Ela virou-se de lado para que Roxanne


visse melhor.

- Lembra que te falei dele?

Roxanne passou os dedos sobre as


marcas rosadas, eram muitas, com a
ponta do indicador foi contornando todo
o tracejo da tatuagem de um lindo sol,
não conseguiu evitar uma lágrima ao
imaginar sua dor. Então a beijou. Beijou
seu sol. Queria apagar sua dor. Queria
protegê-la, amá-la, não sabia porquê seu
coração doía tanto. Fitou-a nos olhos
lindos e ela sorriu.

- Obrigada por isso Roxe.

- Você é meu sol.

- Você é minha lua.

Capturou seus lábios novamente


provando o sabor de se estar
apaixonada. Amou-a com tanta ternura.
Acariciando sua pele, sentindo seu
cheiro. Não houve um pedacinho do
corpo Latino que não foi tocado
suavemente.

Encaixou seu corpo sobre o dela, os


sexos se tocando, trocando energias,
sons, cheiros e sensações, carícias. Suas
mãos deslizavam sobre seus seios
tocando-os devagar...excitando-a
lentamente. Deixou marcas sobre a veia
pulsante do seu pescoço provocando-a.
Lambendo e gemendo gostoso próximo
ao seu ouvido.

Ela inclinava o rosto se contorcendo de


prazer. Roxanne segurou seu rosto
enquanto deslizava seu corpo em um vai
e vem pulsante sobre ela.
- Abre os olhos Rayka. Olha pra mim.

Ela obedeceu mordendo o lábio inferior.


A respiração estava acelerada. Podia
ver os cabelos grudados no rosto
levemente suado. Sua expressão de
prazer evidente a fez acelerar as
investidas dos sexos molhados. Mirou
bem aqueles olhos amendoados.

- Eu te amo Rayka. Nunca me deixe.

- Eu também te amo... muito. Não vou te


deixar, não consigo.

Tomou-lhe os lábios carnudos enquanto


ela atingia o ápice do prazer, trazendo o
dela em seguida.
Ficou apoiada sobre ela, esperando os
espasmos cessarem e a respiração voltar
a ficar mais controlada. Rolou na cama
puxando-a para seu peito. Abraçaram-se
carinhosamente.

- Obrigada Roxe. Isso foi tipo...


perfeito.

- Tipo único!

- Sim.

- Sabe My Sunshine. Estive pensando.

Roxanne começou a acariciar seus


cabelos enquanto ela tentava estabilizar
sua respiração.

- Hum.

- Não quero que você vá trabalhar mais


no Starbucks.

- Por quê?

- Nada contra. Mas você tem muito mais


potencial. Ficar servindo café o dia
todo.

- Não é um emprego digno?

- Claro que é. Mas você está em nível


acima, amor.
- Não quer que eu fique às suas custas
aqui. Quer? Ai sua família vai mandar
me prender por extorsão.

- Não amor. Não é isso. Estive pensando


que você pode estudar, tipo arte,
desenho sei lá o nome...ou então ter seu
próprio negócio. Seu próprio café por
exemplo.

Você cozinha maravilhosamente.


Cupcakes, bolos, sobremesas. Já pensou
em ter seu próprio espaço para
apresentar suas deliciosas invenções
culinárias?

Rayka caiu na risada.


- O que é tão engraçado?

- Desculpa. Você está falando com uma


coitada que nem documentos
verdadeiros tem. Parece surreal o que
está me dizendo.

- Pois não é. Quando sofri o acidente


recebi o dinheiro do seguro de vida e
um bom dinheiro de indenização. Parte
eu comprei esse apartamento. A outra eu
investi no setor imobiliário. Eu vivo dos
rendimentos. Meu pai cuidou disso pra
mim.

- Que bom Roxe, mas o que tem isso?

- Que podemos pensar nisso como um


investimento a longo prazo. O que acha?
Você poderia criar um espaço de café e
arte. Expor suas obras, seus desenhos.
Eu vi seu portfólio. Você é muito boa.

- Obrigada amor. Vamos pensar tá bom?


Eu prometo.

- Eu estou falando sério Raya. Você tem


esse jeito de ajudar todo mundo e
quando é para ser ajudada você recua.
Deixa eu cuidar de você?

- Mais do que você cuida? Impossível.

Rayka inclinou-se para beijá-la.

- Promete pensar com carinho?


- Sim. Eu prometo.

- Eu também estou cogitando comprar


um apartamento maior.

- O quê?? Para quê?

- E quando a Alana vier morar conosco


de vez? E outra, coitada da Manu
roncando sobre os unicórnios. Não. Não
vai dar. Vamos precisar de mais espaço.

- Vamos com calma, ok?

A verdade é que o coração de Rayka


estava assustado. Alana morar com
elas? Seu próprio negócio? Aumentar a
casa? Nunca sequer conseguira pensar
tão alto.

Seus sonhos se resumiam em


permanecer viva no dia seguinte, ter uma
roupa, comer, conseguir emprego e ter
Alana. Quando foi que tudo mudou tanto
assim?

Abraçou-a forte, não deixando ela ver


suas lágrimas. Adormeceu assim, e pela
primeira vez depois de muitos meses
voltou a ter aquele pesadelo.

[...]

8:00 am
Roxanne acordou sentindo um calor
insuportável. Empurrou os lençóis com
os pés. Percebeu que Rayka suava
demais. A noite ela estava tendo
pesadelos. Várias vezes teve que
sacudi-la para tirá-la de um tipo de
transe, onde ela chorava e dizia palavras
desconexas.

Colocou a mão sobre sua testa. Ela


estava com febre. Levantou e foi encher
a banheira com água quase fria.
Acordou-a carinhosamente com beijos.
Ela estava mole.

- Rayka, você está com febre. Vem, vou


te pôr no banho e buscar um antitérmico
para você. Tudo bem?
- Estou bem. Não é nada.

- Se não baixar vamos para o hospital.

- Nada de hospitais vou ficar bem.

Pegou-a no colo e a colocou na


banheira. Ela tremeu.

- Só cinco minutos meu amor. Isso ajuda


a baixar.

Deixou-a na banheira e foi procurar um


remédio. Não achou porque ela tinha
jogado tudo fora. Resolveu acordar
Manu e ver se ela tinha algum guardado.
Diferente dos dias normais ela pulou da
cama quando disse que Rayka estava
doente.

- Eu tenho na minha bolsa.

Já foi pegando a bolsa procurando o


comprimido.

- Obrigada Manu.

- O que houve com ela?

- Ela teve pesadelos a noite e acordou


com febre. Mas já medi, não está muito
alta. 39.2.

- Nossa. Vou fazer um café e a gente


pode levá-la ao médico se não baixar.
- Tá bom. Obrigada.

Voltou com o comprimido e um pouco de


água. Fez ela tomar. Tirou-a da banheira
e a secou. Procurou uma roupa fresca e a
vestiu.

- Que fofa você Roxe. Eu estou muito


melhor. Obrigada.

- Vamos tomar um bom café da manhã e


se você não melhorar vamos ao médico.

- Não é nada. Você vai ver. Acho que é


emocional. Tive aquele sonho de novo.
Onde estou caindo no buraco negro e
você aparece para me puxar.
- Buraco negro? Tipo como um
redemoinho?

- É...eu estava correndo em um campo…

- Florido com girassóis?

- Como sabe?

O coração de Roxanne disparou.

- Eu sonhei isso uma vez e aconteceu


que você estava em um incêndio naquele
momento!

- Nossa. Você disse que tinha me visto


no sonho. Foi nesse?
- Sim, você estava correndo e caía e eu
tentava segurar suas mãos e te puxar.

- Roxe, estou começando a acreditar


naquele negócio de ligação de almas.

- Por quê?

- Esse é meu pesadelo desde os meus


dezesseis anos e então eu via você, seus
olhos me salvando.

- Então, eu estou aqui para cuidar de


você! Nada vai nos separar lembra?

Tomaram café e Rayka estava mesmo


melhor. Manu estava verificando as
redes sociais. Ora ou outra lia um
comentário engraçado. Roxanne estava
sentada no sofá com Rayka deitada
sobre seu colo.

- Olha, até eu fiquei famosa. Meus


amigos mandando oi dizendo que eu
estava linda na telinha. Meus queridos,
eu sou linda em qualquer lugar.

- E convencida também.

- Segura a onda Roxe. Deixa eu curtir


meus minutos de fama.

Bateram à porta. Manu levantou-se e foi


atender.
- Deixa comigo. Deve ser a Callie.
Combinamos de ir no shopping, nossa.
Mas está cedo. Não?

Assustou-se ao se deparar com cinco


policiais.

- Polícia Federal dos Estados Unidos.


Valentina Rayka Rivera?

- Quem??

O coração de Rayka pulou um compasso


todo. Deu um pulo do colo de Roxanne.
O chão abria-se aos seus pés. Roxanne
levantou também e se dirigiu à porta
confusa.
- Quem?

- Valentina Rayka Rivera. Temos um


mandado de prisão.

- Prisão?

- Sou eu. Estou aqui.

Roxanne olhou para trás e viu Rayka


com a cabeça baixa e lágrimas nos
olhos.

- Tem alguma coisa muito errada aqui.


Espera aí…

Manuela disse abrindo passagem para


que os policiais entrassem.
Roxanne tentou dizer alguma coisa, mas
a voz não saiu.

- Polícia Federal dos Estados Unidos.


Serviço de imigração. A senhorita está
sendo presa por falsidade ideológica,
permanência ilegal nos Estados Unidos
da América e tentativa de Homicídio.

- O quê?

Roxanne gritou vendo um policial pegar


nas mãos de Rayka e algemá-la.

- Roxe, escuta. Não é nada do que você


está pensando.
- Você tem direito de ficar calada tudo
que disser será usado contra você no
tribunal. Tem direito a um advogado…

Enquanto o policial falava Roxanne


começou a chorar.

- Você se chama Valentina?

- Sim...eu me chamo, mas olha...liga


para Callie, ela sabe o que fazer. Não é
nada disso…. Roxanne... Roxeeee

- Se você não tiver dinheiro para pagar


um advogado o Estado tem o dever…

Alguém cala a boca desse policial?


O que está acontecendo?

Quem é Valentina?

Tentativa de Homicídio?

Rayka assassina?

- Roxe, olha para mim. Nada vai nos


separar...lembra?

Manu amparou Roxanne a tempo, antes


que ela caísse dura no chão.

- Roxe, eu vou voltar para você. Eu vou


dar um jeito. Olha para mim. Acredita
em mim...
E ela foi arrastada para fora.

O sonho então começava a fazer sentido.


Ela iria para o buraco negro do México,
bem longe dos seus olhos verdes
salvadores que a fitavam agora cheios
de dor.

---X---

Centro de Detenção
Provisória - Rikers Island,
11:45 pm
Rayka foi levada primeiramente a uma
delegacia, foi fichada e imediatamente
transferida para Rikers Island, mais
conhecida como a Rocha. Apesar de
tudo, estava aliviada por estar em Nova
York ainda.

Foi obrigada a tirar suas roupas, seu


colar do sol, e sua aliança. As lágrimas
desceram ao passar o dedo indicador o
colar. Colocou suas roupas, o chinelo
havaianas de Roxanne que usava, e a
aliança em um saco plástico. A
funcionária escreveu seu nome com uma
sequência de números. Sua matrícula.
Era isso que ela era agora. Uma Mierda
sequenciada de nove dígitos!

Recebeu uma caixa com um kit de calças


de brim laranja, camisetas brancas, um
tênis horroroso três vezes maior que seu
pé, peças íntimas que lembravam da sua
avó, e um kit higiene.

Foi revistada por duas policiais nada


gentis e conduzida ao banheiro para
passar de baixo de um cano de água
gelada e se trocar. Não era a única a
sentir-se como uma carne animal
exposta. Ao terminar foi conduzida a
uma cela com mais três mulheres.

Cumprimentou educadamente sem


direcionar o olhar, não queria arrumar
confusão. E novatas sempre se ferram
em qualquer lugar, seja em escola,
faculdade ou presídio. Arrumou sua
cama ajeitando o lençol áspero, sentou e
escondeu seu rosto com os braços e só
então se permitiu chorar, todavia
abafando o som dos seus gemidos.

Seu pensamento estava em Alana, o que


seria dela? Cresceria em um abrigo,
seria colocada a adoção correndo o
risco de ser rejeitada, crescer revoltada
com a vida, esquecer suas origens? E
Roxanne?

Desejou que ela ainda não pudesse


enxergar. A dor que viu naqueles olhos
verdes, cortou seu coração. Só queria
que ela pudesse entender tudo que
estava acontecendo e não desistir dela.
Quanto a ela mesma, sua única
esperança era Callie conseguir entrar em
contato para lhe entregar a única prova
que tinha a seu favor.

Iria aguardar sua única ligação


permitida no dia para falar com ela.

- Oye novata, no te pongas así. (Não


fica assim)

Rayka levantou a cabeça e leu o nome


no crachá da jovem tatuada e
intimidadora. Valdez.

- Gracias, Valdez.

Ela lhe ofereceu um pedaço de papel


higiênico.
- El primer día es siempre el peor. (O
primeiro dia é sempre o pior). Juliana
Valdez, mucho gusto. (Prazer)

- Rayka Rivera.

Acabou descobrindo que a jovem de


pele morena era Colombiana e estava
presa há três por tráfico de drogas, tinha
apenas 21 anos, mas parecia ter mais,
falava quase tudo em espanhol. Pelo
menos ela foi gentil em ajudá-la
localizar o refeitório, ouviu-se um
alarme e descobriu que era hora do
almoço.

Recebeu um recado da carcereira que


após o almoço poderia fazer sua
ligação. Pegou sua bandeja de almoço
ouvindo as recomendações da
Colombiana de onde poderia sentar-se.
Antes de começar a comer fez uma
oração que aquele pesadelo acabasse
logo. Principalmente quando teve sua
cabeça empurrada para dentro do prato
onde tinha um purê com cheiro de ovo
podre.

- Estava à sua espera Rivera. Se cuida.

Levantou a cabeça para ver uma mulher


parecendo uma lutadora de MMA.
Cabelo todo trançado, corpo bombado.

- Droga. Sinto muito por isso.


- Quem é essa?

Rayka limpou o rosto na camiseta


enquanto ouvia as risadas ao seu redor.

- Tracey Rojas. A segunda rainha da


cadeia. Ela entra e sai daqui igual troca
de roupa. Máfia mexicana, nunca olhe
pra ela, não fale com ela, não respire
perto dela.

- De repente estou achando que o


México não seria tão ruim assim.

[...]

Nova York, 9:45 am


Quando a porta se fechou Roxanne caiu
sobre os braços de Manuela.

- Calma Roxe…hey...vem vamos sentar.

Colocou-a no sofá e foi buscar um copo


d'água. Manu estava tão nervosa que
deixou o copo cair espatifando no chão
em mil pedaços.

- Droga! Tem que haver uma explicação


muito coerente para essa merda toda.

- Manu, liga para a Callie Torres, agora


pelo amor de Deus. Larga esses cacos
aí.

Roxanne colocou as mãos no rosto e os


braços ao redor dos joelhos cabisbaixa.
Essa era uma situação a qual nunca
imaginara em toda a sua vida passar.

Ver Rayka sendo algemada fez sua


pressão arterial despencar. Sentiu
náuseas, palpitações, crise de pânico
tudo junto e misturado.

- Certo. Ela vai saber o que temos que


fazer.

Enquanto Manu falava ao celular caiu no


choro. Qual era o problema do Universo
contra ela? Em outra vida ela teria sido
uma assassina em série? Não havia
explicação para tamanha fúria do
destino contra sua vida com Rayka. Não
tinha um tempo de respiro!

Levantou-se abriu as janelas francesas


que levavam a sacada. Precisava de ar.
Pois o Universo veria do que ela seria
capaz por sua Latina.

Manu saiu ao seu encontro nervosa.

- E aí?

- Callie foi para a delegacia agora.


Assim que falar com ela vai ligar de
volta. Disse também que é muito
estranho a polícia federal fazer uma
apreensão sendo que Rayka estava sob
proteção da polícia de Nova York. E eu
acho que ela vai precisar de um
advogado.

- Não um advogado. O melhor


advogado.

- Sim.

- Meu pai.

- Tem certeza?

- Absoluta. Vou esperar Callie dar


notícias e vou ligar pra ele.

- Está certa. Precisamos de toda ajuda


possível.

- Eu vou me trocar, talvez possa vê-la.


- Eu vou com você.

- Certo. Obrigada querida.

- Força Roxe, vai ficar tudo bem.

- Vai sim...precisa ficar.

Uma hora e vinte minutos depois a


campainha tocou. Manu saiu correndo
seguida por Roxanne ao seu encalço.

- Oi Callie. Entra.

- Roxanne, gente eu sinto muito por isso.

- Senta Callie. Por favor.


Manu disse fechando a porta.

- E então? Você a viu?

- Não tenho boas notícias.

- Oh meu Deus!

- Calma Roxe, ela apenas foi fichada na


delegacia e já foi transferida para
Rikers Island.

- O quê? Um presídio?

- Centro de Detenção Provisória.

- Dá no mesmo.
Roxanne já estava de pé andando de um
lado para outro.

- Eu tive acesso ao processo dela. -


Callie abriu seu bloco de anotações-
Bem, ela se chama Valentina Rayka
Rivera.

- Sério? Não tem mais algum nome aí


não? Tem certeza?

- Espero que não Roxanne. Ela tem 21


anos, nasceu em Cuba, tem cidadania
mexicana onde morou mais de 10 anos,
há três anos ela entrou na América com
documentos falsos. Com o nome
Valentina Rivera. Porque já tinha sido
deportada uma vez com o nome original
completo. Essa acusação é bem simples,
uma fiança bem gorda resolveria
facilmente.

- Ótimo. Vamos fazer.

- O problema é que ela é imigrante


ilegal. O presidente Trump tornou as leis
mais severas para imigrantes no último
ano. Imigrante com passagem pela
polícia está descartado de conseguir
cidadania americana. E por último a
acusação de tentativa de Homicídio.

- Diz que é mentira.

- Não é mentira.
- O quê?

Manu trouxe um copo d'água dessa vez


sem derrubar.

- Calma Roxe...bebe isso querida.


Respira fundo.

- Rayka não tentou matar ninguém.


Calma. Falei com ela por telefone.

- Como ela está?

Roxanne bebeu toda água em um gole só.

- Por enquanto bem.


- Como assim por enquanto?

- Soube que PJ tem uma amante lá


especificamente implantada para dar
boas vindas a ela.

- E como ele sabia?

- Na verdade a gente vacilou muito em


protege-la.

- Como assim Callie? O que a gente fez


de errado?

- Rayka apareceu na televisão em rede


nacional em horário nobre. Tem certeza
que a gente pensou que ela estaria
segura?
- Droga! Sim, eu fui uma assassina em
outra vida e posso voltar a ser nessa
também.

- O que Roxe? Você está delirando? O


que está dizendo?

Manu disse medindo sua temperatura.

- Estou indo pra lá agora pedir a


transferência de setor antes que algo
aconteça com ela. E não ela não matou
ninguém, ela se defendeu de PJ. Ela tem
um pendrive. Ela disse que está na
mochila dela com seus documentos.
Você pode procurar?
- Eu...sim. eu sei qual é. O que tem nesse
pendrive?

- Vou descobrir assim que você me


entregar. Vou direto para Rikers Island.
Pois tenho quase certeza que vão
deportá-la. Só mais uma coisa Roxanne.

- Não! Por favor, não tem mais nada não


é?

- Eu iria dizer para você arrumar um


bom advogado. Ela vai precisar. E outra
coisa, ela mandou dizer que te ama e que
não vai desistir de você.

- Se falar com ela, diga que eu vou ao


inferno atrás dela.
Callie pegou a mochila certificou-se que
o pendrive estava lá e saiu às pressas.
Cada minuto contava para o destino de
Rayka.

Roxanne já pegou o celular em prantos.


Seu pai era o único que poderia lhe
ajudar. A questão era se ele estaria
disposto a ajudar a namorada de sua
filha, segundo a qual ele julgava
bandida, aproveitadora e pervertida.

Bem, a situação não era mais nem


tempestade, nem furacão, era um ciclone
tropical.

- Alô? Papi?
- Roxe? O que houve? Você está bem?

- Preciso do senhor aqui em Nova York.

- Aconteceu alguma coisa filha?

- Sim, não comigo. Mas só você pode


me ajudar

- O que você precisa querida?

- De você...aqui.

- É tão urgente assim?

- Sim é, Rayka foi presa!


Capítulo 28 - Tudo
por Ela

Nova York, 12:34 pm

Roxanne só ouvia seu coração batendo


em seus ouvidos descompassado.
Respirou fundo buscando encher os
pulmões.

- Papi?
- Estou indo para NY agora, chego em
duas horas.

- Mas são quatro horas de voo.

- Vou pegar uma carona no jatinho da


empresa. Sabe onde ela está? Qual
distrito policial?

- Ela está em Rikers Island.

- Mando notícias quando chegar. Se


cuida.

O telefone ficou mudo. Bem, agora era


esperar para conversar olhando nos
olhos dele. Rezando ao Universo que
soprasse ao seu favor, só assim seu pai
poderia ser flexível diante daquela
situação.

Rikers Island, 3:07 pm

Rayka foi escalada para ajudar na


cozinha, já que em sua ficha constava ter
trabalhado em restaurante. Achou que
era muito melhor do que ficar em sua
cela fétida só pensando nas coisas
horríveis que poderiam acontecer com
ela naquele lugar. Já que Tracey Rojas
parecia disposta a acabar com ela antes
que fosse deportada.

- Rivera?
- Sim. - Rayka ouviu a carcereira
chamá-la.

- Você foi chamada na sala de


depoimentos.

- Ok. Obrigada.

Continuou descascando a batata em suas


mãos.

- Agora! Não tenho o dia todo.

- Ok.

Levantou-se rapidamente largando o


descascador e acompanhando a bruta
montes estressada a sua frente. Foi
algemada antes de entrar na sala e fixar
os olhos na última pessoa que esperava
ver ali.

- Srta Rivera. Como está?

- Já estive melhor sr. Mackenzie.

- Sente-se.

Ela sentou-se à sua frente sem encará-lo


diretamente. Percebeu que ele estava
impecável em um terno azul escuro,
camisa branca e gravata cinza de cetim,
o porte atlético de Roxanne tinha o dedo
da genética, sem falar nos olhos verdes
intimidadores, prefiria os de Roxanne.
- Sinto muito por tudo isso, sr
Mackenzie.

Silêncio. Ele dedilhou sobre a mesa em


um movimento nervoso.

- Estou aqui para ajudá-la.

- Bem, creio que para me ajudar o


senhor teria que acreditar em mim em
primeiro lugar. O que acho bem difícil
de acontecer, porque aparentemente o
senhor já tem uma ideia bem formada
sobre mim. Talvez esteja dizendo por
dentro: Eu sabia. Eu avisei.

- Tem razão.
- Está aqui por pena? Vingança? Por que
Roxanne mandou?

- Ela não sabe que estou aqui.

- Não? - assustou-se com a informação.

- Não. Ela me ligou, acredito que queria


me pedir ajuda, mas resolvi vir direto
para cá. Quero conversar com você
primeiro.

- Ok. Obrigada por sair de tão longe,


olha eu não queria que as coisas fossem
assim, ok? Esse é o último lugar que
gostaria de conversar com o senhor.

- Eu só tenho trinta minutos, serei o mais


direto possível. Quero sinceridade.

- Certo.

Rayka fitou-o nos olhos, não tinha o que


esconder. Se ele queria saber de toda a
verdade ela teria o prazer de tentar fazer
ele enxergar que estava ali por uma
grande tombada do Universo contra ela.

Ele ajeitou-se na cadeira inclinando


mais o corpo sobre a mesa e a fitou
também nos olhos.

- Você ama minha filha de verdade?

- Quê?
Não estava esperando por aquilo.
Pensou que ele queria falar sobre o fato
de estar sendo acusada de tentativa de
homicídio.

- Você realmente ama a minha filha


Roxanne?

- Absolutamente que sim. Com todas as


minhas forças.

- Quais são suas intenções com ela?

Gente? Interrogatório de sogro na


prisão? Isso era por demais bizarro.
Sentiu vontade de rir, mas ao mirar nos
olhos verdes intimidantes do sr.
Mackenzie, soube que não era
brincadeira. Pigarreou ganhando tempo
e respondeu sincera.

- Minhas intenções sempre foram cuidar


e ajudá-la. Não estava nos planos me
apaixonar perdidamente por ela. Somos
antes de tudo amigas, companheiras.

E sim, eu sempre soube que não estava a


altura dela. Sempre soube que não a
merecia, e nunca ela soube de todo
perigo que me cercava, não queria que
ela se envolvesse, sofresse qualquer
represália.

Infelizmente por infortúnio do destino


esse cara PJ, ele tentou me separar de
Alana e conseguiu, eu fugi. Mas, de
Roxanne, eu não consegui me afastar,
mesmo sabendo que poderia acontecer
algo assim. Porque de alguma forma me
sinto ligada a ela. Acho que o senhor
não entenderia. Eu faço tudo por ela.

- Estaria disposta a tudo para ficar com


ela?

- Sim, se eu for deportada, vou


atravessar o deserto sozinha a pé. Vou
cruzar La ruta del diablo (nome dado a
estrada no deserto do México para os
EUA), quantas vezes forem necessárias
para voltar para ela.

De repente ele se levantou e se pôs a


andar pela sala de um lado para outro
em silêncio com as mãos no bolso.

- Muito bem… srta Rivera. Minha filha


voltou à vida, voltou a ter um brilho uma
vontade de não ser apenas mais uma na
multidão. Ela sempre foi assim...de
causar impacto desde pequena. E quer
saber?

Ele parou e fixou os olhos nela. Rayka


assentiu com a cabeça.

- Nenhum homem foi capaz de salvá-la,


ou lutar por ela, ou sequer amá-la como
você faz. Nem eu.

- O senhor é pai. Entendo seus motivos


de vê-la em perigo ao meu lado.
- Não. Eu fui além disso. Eu tive meu
orgulho arranhado e fiquei cego para o
que realmente importa. O fato de Roxe
voltar a enxergar, não é só resultado de
um cirurgia incrível, e sim a soma disso
mais a vontade de viver que ela
encontrou em você.

Rayka não segurou uma lágrima teimosa


que percorreu seu rosto.

- Eu acredito muito nisso senhor.

- Srta Rivera, embora nunca tenha me


pedido, eu concedo a honra de namorar
minha filha. Peço que me desculpe pelas
ofensas desnecessárias que ouviu de
mim. Estou realmente tentando mudar.

- Obrigada sr.Mackenzie. Isso significa


muito para mim.

- Agora me diga: Você tentou matar


alguém?

[...]

Roxanne estava impaciente. Já passava


das cinco da tarde e nada do seu pai
aparecer.

- Roxe, porque você não tenta tomar um


banho quente, relaxar. Você parece uma
bomba relógio.
- Não, Manu. Não dá.

- Então venha comer alguma coisa. Jess


fez tanta coisa tentando lhe agradar.

- Enquanto não souber alguma coisa de


Rayka não ficarei em paz, não desce
comida nenhuma.

Ouviram a campainha.

- Deixa comigo.

Ela já estava com a mão na maçaneta em


um pulo.

- Papi...já era hora.


Abraçou-o carinhosamente.

- Como está meu anjo?

- Péssima. Entra.

- Olá Manu.

- Oi tio. Senta aqui na mesa, tem café


servido, bolo.

- Obrigada. Estou mesmo faminto.

Manu serviu o sr.Mackenzie, enquanto


Roxanne olhava-o atentamente.

- Por que demorou pai? Achei que


viesse de jatinho.
- E vim, fui direto para Rikers Island.

Enquanto tomava o café ele foi falando


já que ela mostrava-se impaciente.

- Você a viu?

- Sim.

- Roxe, por que não espera seu pai


comer primeiro? Calma querida.

- Tudo bem Manu, eu entendo. Ela está


bem na medida do possível, sabe que
aquele lugar é horrível não é? Sinto
muito querida.
Dizendo isso retirou um embrulho de
plástico do bolso do terno e colocou
sobre a mesa. Roxanne começou a
chorar na mesma hora, era o colar e a
aliança de Rayka.

- Roxanne, você ama verdadeiramente


essa moça?

- Muito. Mais do que eu consigo


imaginar. Pai, eu sei que não entende
isso, mas o senhor precisa me ajudar a
tirá-la de lá.

- Está disposta a qualquer coisa para


ajudá-la?

- Claro. Absolutamente tudo. Eu faço


qualquer coisa por ela. Tudo por ela.

- Sabe que esse episódio pode manchar


a carreira que está prestes a deslanchar,
a mídia não tem dó. Será um verdadeiro
inferno.

- Inferno é viver sem ela. E eu sei


porque já estive lá.

- É o seguinte. Sobre a acusação de


falsidade ideológica. O nome dela, as
informações eram verdadeiras, o
documento era falso, mas não foi ela que
fez certo? Temos uma fiança razoável
que eu já paguei.

- O quê??
Manu e Roxanne falaram ao mesmo
tempo.

- Tem uma coisa que você precisa saber.

- O quê?

- Rayka sofreu uma, uma não, várias


tentativas de abuso.

O tempo parou, a terra não girou, alguma


coisa aconteceu na cabeça de Roxanne.
Manu veio ampará-la em seus braços
enquanto um choro descontrolado tomou
conta dela.

O sr. Mackenzie carregou-a no colo


colocando-a sobre o sofá macio. Manu
lhe deu um comprimido e um copo
d'água, nem perguntou o que era. Pois
não havia som em sua boca, engoliu e
esfregou as têmporas tentando absorver
toda aquela loucura.

- Eu sinto muito por isso querida.

- Como? Quando? Onde? Meu Deus!!!

- Calma Roxe...vamos ouvir seu pai.

- Esse tal de PJ, tentou fazer com que ela


assumisse o lugar da irmã, assim que ela
morreu. Ele usou de chantagem
emocional, ameaçando tirar a pequena
Alana, que era só um bebê na época, de
perto dela.

Ela resistiu o quanto pode, sempre


fugindo dele, mas um dia ele usou da
força e foi por muito pouco, uma vizinha
acabou ouvindo os gritos dela por
socorro e chamou a polícia, ele fugiu e
ela não deu queixa com medo que ele
tirasse a menina dela. Mas, ela colocou
uma câmera na casa com medo de que
ele fizesse de novo.

- Eu vou vomitar. Isso é demais para


mim.

- E ele fez tio? - Manu estava tão


chocada quanto todos.
- Sim, e dessa vez ela só conseguiu fugir
porque esfaqueou-o na perna. Nada de
muito grave. Ela fugiu, e nunca mais
pode ver a sobrinha até que ela foi
resgatada pelo Conselho Tutelar e a
partir daí vocês conhecem a história.

- E ela não denunciou?

- Não. Questionei muito isso. Mas


entendo e concordo agora quando ela me
disse que só existe lei e justiça nesse
país para brancos, americanos, ricos, e
de preferência héteros moralitas.

- Essa é a Latina que eu conheço. - Manu


comemorou.
- E agora?

- Ela tem as imagens, já peguei com a


policial Callie, que encontrei assim que
estava saindo de lá. Vou montar o
processo e amanhã cedo apresentarei o
pedido de habeas corpus, pois ela não
tem antecedentes, não apresenta
qualquer risco à sociedade e é inocente.

- Amém!!! Obrigada pai. Eu sabia que o


senhor era o único que podia nos ajudar.

Abraçou-o carinhosamente.

- Eu quero ver essas imagens.

- Melhor ainda não. Depois quem sabe


eu deixe, é muita coisa para você. Só
tem mais uma coisa…

- Sempre tem! não...não.

- Ela está ilegalmente no país. E contra


isso não tem fiança, nada que os impeça
de deportá-la. Eles podem querer que
ela responda esse processo no México.

- Não! Se isso acontecer eu atravesso a


fronteira a pé e vou buscá-la.

O sr. Mackenzie riu.

- Bem, são três as opções para


conseguirmos a cidadania americana
para ela e assim evitar sua deportação :
a primeira seria ela ter parentes
americanos. O que parece não ter.

- Droga!

- A segunda seria a loteria que o


governo faz anualmente sorteando 50 mil
green cards para imigrantes. Não
podemos esperar essa sorte.

- Não. Não podemos.

- Terceira e última opção, é por isso que


lhe perguntei o quanto está disposta a
fazer por essa moça.

- Já disse. Faço tudo por ela. Tudo que


for possível e impossível.
- Ok. Então você se casa com ela.

- Quê???

Dessa vez foi Manu a ser amparada.

O mundo não gira, ele capota!


Capítulo 29 - O
Pedido

- Papi? O que disse?


- Gente, para o planeta aí que eu vou
descer. Isso é demais pra mim.

Manuela começou a se abanar já se


jogando no sofá.

- Para conseguir um green card de forma


rápida e legalizada só se casando com
um americano. No caso americana. São
algumas exigências, mas no máximo em
seis meses esse green card está
licenciado, e durante o processo ela
pode permanecer legalmente no país.

- Oi? Mas...e…

- Roxanne, eu lhe devo desculpas por


tudo que fiz você sentir sem meu apoio.
Eu disse que estava tentando mudar. Eu
quero começar agora. Vou fazer de tudo
para reparar meu erro.

- Eu estou muito orgulhosa de você Papi.

- Quando a vi ali algemada como uma


criminosa, quando na verdade nosso
sistema é o culpado por tudo de mal que
tem acontecido com ela. Ela deveria
estar sendo protegida.

- Sim, pai. Eu disse. Ela não é


criminosa. Ela é a vítima.

- Então temos que salvá-la. Ou ela disse


que vai atravessar o deserto sozinha a
pé. O que eu não duvido.

- Eu caso! Manu, temos um casamento


para preparar.

- Como? Não acordei ainda me dá um


tempo.
- Eu não sei como sua mãe vai reagir,
uma coisa é namorar, outra coisa é casar
com uma “presidiária”.

- Deixa a sra Mackenzie comigo. O que


precisamos fazer para agilizar isso?

- Preciso dos seus documentos, os dela


estão aqui. Vou amanhã cuidar disso no
cartório no máximo depois de amanhã
deve estar tudo pronto.

- E esse casamento é válido mesmo…

- Desde 2011 Nova York aprovou o


casamento homoafetivo. Tem toda
validade jurídica para que ela receba o
green card.
- Viva o progresso!

Manu disse acordando do susto.

- Roxanne, vocês têm a minha bênção.

- Pai, eu estou tão feliz por ouvir essas


coisas de você.

- Eu quero te ver feliz. Se ela te faz


feliz, eu fico feliz. E terei prazer em
levá-la ao altar. Nesse caso, à prisão.

Todos riram apesar das circunstâncias.

- Não vai se arrepender. Eu prometo.


- Ótimo. Eu vou indo. Deixei minhas
coisas no hotel.

- Mas pai, poderia ficar aqui.

- Não meu amor, não quero dormir em


cima de unicórnios e não gosto de sofás.
Pode ficar tranquila. Amanhã volto com
os papéis e qualquer novidade te ligo.

- Obrigada Papi. Te amo.

- Também te amo meu amor.

O coração de Roxanne estava aquecido.


Uma chama de esperança começava a
despertar dentro dela trazendo conforto
e paz. Afinal, acabara de presenciar um
verdadeiro milagre.

Rikers Island, 9:00 pm

Rayka estava deitada na beliche na cama


de baixo. Estava tudo completamente
escuro. Um ou outro murmúrio e os
passos das carcereiras que circulavam
pelos corredores.

Sua primeira noite na prisão. Suspirou


profundamente. Callie conseguiu
transferi-la para longe de Tracey Rojas,
que supostamente era uma das amantes
de PJ. Estava em uma área para detentas
de baixa periculosidade. Não tinha
grades, eram celas abertas. Isso a
tranquilizou, pelo menos por enquanto.

Mas sabia que amanhã apareceria outra


no seu caminho. Seu pensamento foi até
Roxanne. Estava feliz pela conversa
com o sr Henry Mackenzie. Ele
prometeu tirá-la dali o mais rápido
possível. E ela sabia que estava fazendo
mais que isso. Estava aceitando-a em
sua família. Família.

Foi assim que pegou no sono. Sorrindo


imaginando uma família ao lado de sua
vampira sexy. Dormiu sentindo uma
chama de esperança começando a
aquecer sua vida, em contraste com a
cela fria que estava agora.
Mas acordou com uma coisa ainda mais
fria sobre sua garganta. Abriu os olhos e
deu de cara com uma detenta branquela
forte parecendo um buldogue francês.

- Não te avisaram que não se pode


fechar os olhos na primeira noite?

- Rojas te mandou para fazer o serviço


sujo? Ou foi o PJ?

- Você fala demais.

Rayka avaliou suas opções. Uma faca no


pescoço, presa na beliche, com uma
buldogue em cima dela. Agradeceu a
Deus por lhe dar uma cabeça bem
resistente.

- E você fede.

Deu-lhe uma cabeçada pegando-a


desprevenida. O nariz dela começou a
sangrar e Rayka tomou a faca jogando-a
no chão da cela caindo por cima
invertendo os papéis.

- Manda um recado para PJ. Diz pra ele


que na próxima eu arranco as bolas dele
fora!

Se levantou pronta para revidar caso ela


avançasse. Mas ela fungava e
desapareceu pelo corredor. Guardou a
faca na meia. Pelo menos naquela noite
estaria a salvo.

- Hija de una perra!

Sua cabeça doía. Mierda! Será possível


que não poderia ter uma noite de paz?

Pela manhã tomou logo um banho


gelado. Sentiu saudades até do chuveiro
velho do seu apartamento no Bronx que
era melhor que aquilo.

Mas estava sentindo um bom


pressentimento. Não seria aquela água
gelada que iria esfriar sua esperança.
Callie prometeu visitá-la hoje.
Entregou-lhe a única coisa que poderia
salvá-la de uma possível condenação. E
com Henry Mackenzie como seu
advogado suas chances aumentavam
muito.

Foi para seu posto na cozinha, pelo


menos ali podia beliscar frutas mais
frescas. As duas da tarde, horário de
visitas. Deu uma arrumada do melhor
jeito que pode nos cabelos e passou um
batom vermelho que Valdez lhe deu
antes de ser transferida.

Foi algemada e entrou na sala de visitas.


Era uma espaço aberto com várias
mesas e era toda de vidro. Entrou e não
havia ninguém na sua mesa identificada.
Sentou-se e esperou olhando as famílias
chegando e abraçando seus entes. Havia
crianças, velhos, e sempre muito choro.

Pensou em Alana e sentiu-se triste


também. Mas por milésimos de
segundos. Isso porque sua Vampira sexy
apareceu na porta de entrada e seu
coração disparou.

- Caramba!

Não conseguiu evitar ar de surpresa. Ela


caminhava em passos firmes e decisivos
em sua direção. Estonteante em um
conjunto de terno cinza claro muito sexy
e empoderada.

- Puta que pariu! Que mulher!


Cobriu a boca com as mãos algemadas.
Sufocando a palavra torpe. Como sentira
falta daquela obra de arte ambulante.
Seus olhos se encontraram e ela sorriu.
Parecia uma advogada sexy.

Piscou várias vezes seguidas para ter


certeza que não era uma miragem. Ela se
aproximou. Toda meiga. Como pode uma
pessoa ser tão sexy e meiga ao mesmo
tempo? Roxanne era assim.

- Roxanne... você aqui? É sério?

- Estava esperando outra?

- Boba.
Abraçaram-se afetuosamente, até o
guarda se aproximar pedindo
afastamento. Soltaram uma da outra a
contra gosto. Roxanne limpou uma
lágrima.

- Como você está meu amor?

- Melhor agora com certeza. Achei que


era Callie, mas milagres existem.

- O que houve com sua testa?

- Hum...caí da escada.

- Não tem escadas na prisão.

- Você não sabe.


- Sei sim.

- Ah..vamos usar nosso tempo falando


de coisas boas. Você está linda. Sua
Vampira maldita!

- E você é a única a ficar sexy nesse


laranja. Laranja é a cor mais quente
agora pra mim.
Rayka riu daquele jeito que ela amava.
Roxanne segurou suas mãos algemadas
sentindo um nó na garganta.

- Temos pouco tempo, vamos ter que ser


bem objetivas. Escuta amor. Por que
nunca me disse as coisas horríveis que
você passou?
- Hum… passado e porque você me faz
esquecer tudo de ruim na minha vida.
Com você só existe o hoje que é um
presente. E eu amo isso.

- Eu sinto muito... muito mesmo. Nós


vamos tirar você daqui e nunca mais
você vai passar por isso.

- Eu sei meu amor. Sei que não vai


demorar.

- Certo. Você disse que comigo é só o


hoje que você vê.

- Hurum. Maravilhoso presente.


- Não vê futuro para nós?

- Claro que sim. É que sempre o futuro


pra mim é o dia seguinte. E agora é
exatamente assim. Sair daqui e voltar
para o seu lado e ter Alana comigo. Esse
é o futuro que consigo ver agora.

- E eu estou olhando para o meu futuro.


Eu queria que fosse diferente Rayka, eu
juro. Mas situações drásticas exigem
medidas desesperadas.

- Roxe, não estou entendendo nada.

Roxanne enfiou a mão no bolso e se


ajoelhou em sua frente fazendo com que
todos os olhares se voltassem para ela.
Abriu um caixinha de veludo vermelha.

- Roxanne? O que você está fazendo??

Rayka sentiu suas pernas fraquejarem,


ainda bem que estava sentada, ou teria
caído. Imediatamente aquela sensação
de respiração curta, coração sambando
no peito e o sangue corando todo seu
rosto.

- Valentina Rayka Rivera e quantos


nomes mais você tiver aqui, em Cuba no
México ou em outra galáxia.

- Roxeee...o que está acontecendo?

- Você aceita se casar comigo?


- Isso é sério???

Começou a ouvir a plateia murmurando


aceita! aceita!

- Roxanne Mackenzie! Nós vamos ser


algum tipo de casal tipo Alex e Piper de
Orange in the New Black? Macarena e
Rizos em Vis a Vis? Perdeu o juízo?

- Amor, escuta...é o único de jeito de


você não ser mandada para o México.
Eu nunca vou deixar isso acontecer.

- Está fazendo isso só para eu


permanecer no país? Eu nunca deixaria
você estragar sua vida, sua carreira, o
nome da sua família por causa disso.
Está se precipitando Roxanne.

Roxanne suspirou, assim como toda a


plateia, abaixou a cabeça tentando
reverter aquela situação. Estava
ajoelhada aos pés da sua amada
pedindo-a em casamento na frente de um
monte de gente totalmente
desconhecidas, mas isso parecia não ser
nada para ela.

- My Sunshine. Nada nunca foi normal


desde o dia que te conheci. Estou
fazendo isso porque não existe vida para
mim sem você, nem carreira, nem nome.
Você é meu raio de sol, você é a razão
do meu coração está disparado agora e
eu quero sentir isso para sempre ao seu
lado.

Seu sorriso, seu perfume, essa loucura


que é viver ao seu lado como se
estivessemos em uma montanha russa.
Eu quero você no meu passado, eu quero
você agora e vou te querer em cada dia
do meu futuro.

Você pelo amor de Deus, aceita se casar


comigo?

- Roxe… pedido de namoro em ofurô às


escondidas e agora pedido de casamento
na prisão. Você vai ter que melhorar
isso.
- Estou ficando paralítica aqui Rayka. O
que você tem contra as respostas sim ou
não?

- Sim...eu aceito!

“Aleluia!” Um coro pode ser ouvido.

Colocou o anel no dedo de Rayka.

- Esse anel a minha avó me deu, e está


na família a mais de 100 anos. Sei que
não poderá ficar com ele agora, mas tem
que ser como manda a tradição.

- Nossa Roxe...que lindo, de pérolas.

O sr Mackenzie entrou no recinto e


abraçou Rayka rápidamente, antes que
algum agente o impedisse.

- Parabéns Rayka. Preciso que assine


esses papéis.

- Obrigada sr. Mackenzie. Certo.

Ela assinou os papéis tentando fazer o


melhor possível, estava algemada.

- Bem vinda à família Mackenzie, Rayka


.

- Como assim?

- Precisa assinar agora Mackenzie no


final do nome.
- Hã? Roxe… nós vamos nos casar em
um futuro próximo não é? Esses papéis
fazem parte do processo certo?

- Sim, processo matrimonial. Você está


casada sra Valentina Rayka Rivera
Mackenzie.

- Oi??

- Pode beijar a noiva!

O Sr. Mackenzie disse guardando os


papéis.

Antes que pudesse assimilar tudo que


estava acontecendo viu Roxanne com
aquele sorriso safado de maldita
vampira sexy agarrá-la.

- Guarde esse uniforme, podemos


colocar na nossa caixa de memórias. A
roupa que usou no dia dos seu
casamento.

Não deu tempo de responder, pois seus


lábios foram capturados e seu coração
arrebatado para fora do seu corpo
enquanto ouvia os aplausos ao seu redor.

- Viva as Noivas!!
Capítulo 30 - Mulher
de Sorte
Rikers Island, 12:05 pm

Rayka conferiu as horas no grande


relógio digital da cozinha pela milésima
vez. O que havia de errado com tempo
hoje? Parecia que estava em câmera
lenta.
Mexia o grande tacho de polenta
cremosa enquanto o suor descia pela
fronte. Lá fora o sol parecia agradável,
mas a beira daquele grande forno
industrial parecia muito com o inferno.

- Hey Rivera, então é verdade que você


se casou?

Perguntou uma companheira de cozinha,


uma ruivinha sardenta que parecia a
única disposta a conversar com ela.
Depois ficou sabendo que corria a fama
que ela já tinha furado uma detenta
branquela forte com cara de buldogue.

- É sim López.
- E vai sair hoje?

- Exatamente. Sou inocente, já te disse.

- Todas nós somos Chiquita. Todas nós.

Rayka achou graça. Hoje era o quarto


dia ali dentro. Não aguentava mais. Não
via hora de ir para casa. Casa...lar. Não
tinha se acostumado ainda com a
palavra. Estava casada!

Não sabia o que esperar dali para frente,


PJ continuava foragido, mas não tinha
mais medo de nada. Sentia-se forte, ao
lado de Roxanne seria capaz de
enfrentar qualquer coisa.
Recebeu uma ligação no dia anterior do
Sr Mackenzie falando sobre a sua
soltura hoje às 2 horas, durante o
horário de visitas. Por isso contava as
horas e os segundos de abraçar sua
esposa. Só de pensar nela o sorriso era
automático.

Lembrou-se da primeira vez que a viu


no banco do Central Park em frente a
fonte. Ela estava tendo uma crise de
pânico, depois a viu no café tão esnobe.
Mas com certeza suas vidas mudaram
mesmo após se atropelarem na porta do
restaurante. Sentiu o perfume de rosas
inebriante e seu coração acelerou. Quem
diria que estaria casada com sua
vampira sexy?
- Você é muito sortuda Rivera.

Não tinha ouvido nada que a ruivinha


sardenta dissera. Mas essa parte ela
tinha que concordar. Ela era uma mulher
de muita sorte.

Mais tarde desfez sua cama e juntou seus


poucos pertences e deu para a ruivinha.
Agradeceu por ela ser gentil e deu-lhe
um abraço. Saiu sem olhar para trás.
Não queria qualquer lembrança daquele
lugar. Encontrou o sr. Henry Mackenzie
todo sorridente na recepção. Ela assinou
alguns papéis e então saíram rumo à
liberdade.
- Muito obrigada Sr. Mackenzie. Sem o
senhor eu não sei o que teria sido de
mim.

- Acho que pode me chamar de Henry


agora. Não foi nada. Somos uma família.
E em uma família cuidamos uns dos
outros.

Ganhou um abraço caloroso, o primeiro


do sogro. Sogro….quem diria? Até se
emocionou.

- Eu vou direto para o aeroporto. Tenho


trabalho lá me esperando.

- Oh...eu pensei que…


- Eu vou de táxi. Você tem uma carona.
Dá uma olhada lá no estacionamento
virando o quarteirão à esquerda.

- Certo. Mais uma vez obrigada Sr…

- Henry.

- Henry. Obrigada por tudo.

- E nem pense em fazer minha filha


infeliz, ou eu mesmo te mato.

- Que bom que estamos melhorando


nossa relação.

Ele saiu rindo e acenou antes de entrar


em um táxi que já o esperava.
- Ok. Então vamos lá.

Alisou o shorts jeans preto que era a


roupa que usava no dia que foi presa, e
uma regata branca e chinelos havaianas
de Roxanne. Respirou fundo e caminhou
até o estacionamento. Já imaginava
Manu com o carro enorme com Callie e
Roxanne penduradas no vidro da porta
gritando eufóricas. Mas descobriu que
estava redondamente enganada.

De longe avistou sua Vampira sexy


quase translúcida brilhando sob o sol.
Ela usava uma calça preta de couro,
coturnos e uma regata preta também.
Estava de óculos escuros e
provavelmente não a estava enxergando
de longe. Rayka sorriu instantaneamente
ante a visão maravilhosa da sua esposa.
Os cabelos balançavam ao vento e então
ela sorriu. E o seu mundo parou de girar.

Ela baixou os óculos e começou a andar


rápido ao seu encontro e Rayka começou
a correr. O sentimento de felicidade se
traduziu em lágrimas misturadas ao som
do riso.

Quando se aproximaram pulou em seu


colo sendo agarrada instantaneamente
pelos braços fortes de sua amada.
Entrelaçou as pernas em sua cintura
enquanto ela a girava e depois a beijou.
- My Sunshine.

- Minha maldita vampira sexy!

- Senti sua falta.

- E eu a sua.

Os lábios se encontraram de novo dessa


vez ansiosos e cheio de saudade. Rayka
escorregou para o chão sem soltar-se
dela. Aspirou aquele perfume inebriante
como se fosse seu oxigênio.

- Vamos para casa Roxe. Não vejo a


hora da gente ter a nossa lua de mel.
- Hum...antes a gente vai dar uma volta.
Vem.

Ela pegou em sua mão entrelaçando os


dedos. Que sensação gostosa era
aquela? Parecia um sonho. Mais a frente
ela parou.

- Cadê o carro? Cadê a Manu? Ela não


veio?

Roxanne jogou a cabeça para trás e


passou a mão no cabelo comprido
jogando para o outro lado. Aquela
risada gostosa!

Roxanne riu do jeitinho meigo de Rayka


fazendo bico.
- Ela não veio.

- Por quê? Agora como vamos embora?


Seu pai pegou um táxi mais rápido que o
Superman.

- Veja só!

Roxanne apontou para uma moto


estacionada mais a frente.

- Hã?? Roxe???

- Sim, nós vamos de Clotilde.

Dizendo isso pegou os capacetes que


estavam em cima da moto e entregou-lhe
um. Riu divertida de novo da cara da
sua Latina Rayka de boca aberta.

- Como assim amor?

- Presente de casamento do Sr
Mackenzie. Eu não tenho nada com isso.

- Sei! Não acredito! Uma Clotilde 0 km?

- Zero. Meu pai a trouxe até aqui. Agora


você vai me levar para dar um rolê. Vem
esposinha.

- Puta que pariu! Não estou acreditando


ainda.

Rayka pegou o capacete e pulou na moto


eufórica como uma criança.

- Sobe Roxe. Põe sua bunda gostosa


aqui. O céu é o limite para nós agora.

- Hey, calma aí. Já se empolgou?

Roxanne colocou o capacete, os óculos


e ganhou um beijo jogado ao vento.

- Eu sou uma mulher de muita sorte


Roxe.

- É sim, casou comigo!

Riu debochada enquanto sentava na


motocicleta agarrando-se a sua esposa.
Ela saiu queimando o pneu da Scooter e
Roxanne agarrou-se ainda mais.

Rayka sabia onde queria ver o pôr do


sol naquele dia. Cortaram Nova York,
pegaram a ponte do Brooklyn fazendo
aquele mesmo percurso de tempos atrás.
Roxanne ria gostosa no seu ouvido e ao
fundo Rayka até podia se ver em uma
comédia romântica tocando Photograph
de Ed Sheeran emoldurando aquele
momento para sempre.

"Então, você pode me guardar

Dentro do bolso do seu jeans


rasgado

Me segurando por perto até nossos


olhos se encontrarem

E você jamais estará sozinha

Espere por mim para voltar para


casa

Amar pode curar

Amar pode consertar a sua alma

E é a única coisa que eu sei

Eu juro que vai ficar mais fácil

Lembre-se disso em cada

pedaço seu
E isto a única coisa que levamos
quando morremos"

Chegaram em Coney Island em menos de


uma hora. Roxanne estava tão
emocionada de voltar àquele lugar agora
podendo enxergar as expressões de sua
esposa que a puxou pelo braço rumo a
praia assim que estacionaram.

Ela rodopiava dando saltos na beira do


mar molhando os pés e abrindo os
braços absorvendo os raios do sol.

Pegou o celular para registrar aqueles


momentos que queria para sempre em
sua memória e em sua vida.
Quando o sol ameaçava partir sentaram-
se na areia. Roxanne abraçou-a por trás
reclinando a cabeça no seu ombro,
sentindo seu cheiro de morangos
maduros. Juntaram as mãos entrelaçando
os dedos em silêncio.

Nada precisava ser dito. Roxanne fez


uma oração de gratidão por ser uma
mulher de sorte. Chegaram em casa já
anoitecendo. Subiram aos beijos pelo
elevador.
Rayka abriu a porta foi surpreendida
com uma decoração de balões coloridos
e uma faixa de seja bem vinda de volta
ao lar.
Manuela e Callie vieram recebê-la na
porta erguendo-a do chão.

- Obrigada gente...que coisa linda. Quem


preparou tudo isso?

- Já era hora não? Caramba! Onde vocês


estavam? Não me digam que pararam no
motel para consumar o casamento!

- Manu!

Todas disseram ao mesmo tempo. Mas a


surpresa maior mesmo foi quando um
bolinho de bochechas rosadas saiu de
debaixo da mesa.

- Tia Kaká…
- Alana?? Oh meu Deus!

Rayka pegou sua bonequinha no colo


recebendo um abraço gostoso e um beijo
melado na bochecha.

- E esse é o segundo presente de


casamento.

Roxanne disse e juntou-se a elas no


abraço.

- Tia Kaká, a tia Manu disse que Lana


vai morar aqui para sempre agora. Lana
está muito feliz.

- Como assim?
Rayka disse buscando os olhos de
Roxanne que sorria feito boba.

- Para sempre não porque você vai para


a faculdade daqui uns anos.

- Roxanne? O que está acontecendo?

Rayka segurou seu queixo forçando-a


mirá-la. Manu aproximou-se entregando-
lhe um envelope.

- Presente do sogrão.

Rayka passou Alana para o colo de


Roxanne e abriu o envelope já sentindo
seu coração bater nos ouvidos de tão
acelerado. Seria possível um sonho de
três anos finalmente se realizar?

Já leu em lágrimas o documento que lhe


concedia a guarda provisória de Alana
Rivera.

- A sra Smith disse que embora seja


provisória, com uma família, uma casa e
com seu green card que logo estará em
mãos. Não há nada que impeça você de
ganhar a guarda permanente daqui há uns
seis meses. - Callie disse.

- Seu pai fez isso Roxe?

- Ele mexeu os dedos.


- E o bolso.

Manu completou ganhando o olhar


repreensivo de Callie e Roxanne.

- Quê gente? É verdade. Agora vamos


comer o bolo? Estou morrendo de fome.

- Eba bolo de festa!

Alana desceu do colo correndo indo


atrás de Manu toda feliz.

- Finalmente não é bebê? Vem com a


melhor tia do mundo. Vou roubar uns
docinhos para você.

- Lana gosta de docinho.


- Puxou a tia Manu!

Mas Rayka continuava olhando para


aquele documento incrédula,
praticamente sem piscar. Quando foi que
o universo resolveu ser maneiro com
ela?

- Não gostou da surpresa Ray?

- Roxe, eu não sei o que dizer. Não é


muita informação de uma vez?
Casamento, uma criança…

- É o que acontece quando se casa.


Ganha-se uma família. Eu sou uma
mulher de sorte. Não acha?
- Não, eu que sou.

Rayka se refugiou no abraço caloroso da


sua esposa ouvindo o coração dela bater
no mesmo ritmo do seu. Sentiu-se
segura, em paz, feliz. O futuro de repente
não lhe assustava mais.
Capítulo 31 - Vida de
Casada
Nova York, 11:34 pm

Mais tarde depois de dar um banho em


Alana, toda suja de cobertura de
chocolate, Rayka contou-lhe uma
história de uma princesa que salvou seu
próprio príncipe e ficou fazendo-lhe um
carinho até que ela pegasse no sono
sugando a inseparável chupeta.

Manu já estava desmaiada na cama ao


lado com seus protetores oculares de
oncinha. Rayka achou graça, apagou a
luz do abajur e fechou a porta. A
felicidade não cabia dentro de si.

Alana estava a salvo, ela estava a salvo,


será que merecia tanta felicidade? No
quarto ao lado sua esposa aguardava
ansiosa pela noite de núpcias.

Foi até a cozinha pegou um cacho de uva


na geladeira, lavou e pegou uma garrafa
d’água. Com certeza iria precisar de
muita energia aquela noite. Abriu a porta
do quarto, ela estava sentada na cama
com a luz da luminária acesa e com seus
óculos pretos lendo um livro.

Esperava que fosse Kamasutra! Como


ela ficava sexy de óculos! Aff! Ao vê-la
entrar olhou-a por cima da armação e
sorriu de lado daquele jeito que fazia
sua calcinha molhar.

- Estava à sua espera esposinha.

- Linda.

Aproximou-se da cama lhe deu um beijo


passando a uva da sua boca para a dela.
Ela soltou o livro agarrando-a pela
cintura fazendo-a sentar-se em seu colo.
- Quer dizer que estamos casadas
mesmo? De papel passado e tudo?

- Sim...sra Rivera Mackenzie. De papel


passado e tudo.

- E tecnicamente hoje é a primeira noite


pós casamento?

- Hurum...noite de núpcias.

- E tem que ser especial não é?

- Tem que ser sim.

Roxanne beijou-lhe os ombros desnudos


cheia de sensualidade.
- Calma sra Mackenzie. Tenho umas
coisinhas em mente.

Rayka levantou-se entrou no closet,


quando voltou pegou o controle do som
amplificado e Earned It de Weeknd
trilha de Fifty Shades of Grey se fez
ouvir baixinho. Puxou sua vampira pela
mão e a faz sentar-se na poltrona que
havia ao lado do closet.

- Vou mostrar para você como uma


Latina dança Stilleto. (Dança sensual de
saltos).

Rayka calçou uma sandália de saltos


altíssimos e começou a fazer
movimentos nada apaziguadores para a
tempestade que se iniciava no ventre de
uma estupefata Roxanne.

Bem, precisou cruzar as pernas para


garantir que sobreviveria. Ela usava um
baby doll preto de renda todo
transparente sobre uma calcinha
minúscula que já estava imaginando
rasgá-la com os dentes logo mais. Seus
olhos estavam vidrados na sensualidade
latente daquela Latina quente.

Quando ela ficou de costas descendo até


o chão com as mãos dentro dos cabelos
exalando sensualidade e deu uma
olhadinha pra trás sorrindo daquele jeito
safado com a língua entre os dentes,
Roxanne não aguentou mais. Deu um
salto e agarrou-a por trás beijando sua
nuca com a súbita loucura.

- Não..não..não.. você fica sentada e não


pode me tocar!

- Eu sou cardíaca! Piedade!

- Se você levantar eu paro.

- Cacete!

Rayka empurrou-a novamente sobre a


poltrona. E a Latina queria mesmo que
ela tivesse um infarto. Praticamente
sentou em seu colo rebolando aquela
bunda arrebitada em sua intimidade que
reagiu instantaneamente.
A música inebriante, o perfume dela
invadindo-lhe a mente confundindo seus
sentidos, seu corpo sensual tocando-a.
Foi demais para sua sanidade.

Com uma mão enlaçou-a pela cintura e a


outra tocou-lhe o abdômen definido
subindo os dedos chegando aos seios
perfeitos que amava tocar.

Ela gemeu rendida aos seus toques.

- Eu disse que não podia me t.o.c.a.r...

- Só um pouquinho... deixa…

Então ela não era tão forte assim.


Escorregou os dedos para dentro da sua
calcinha sentindo-a toda molhada.

- Roxeeeeee...

- Fala amor…

Respondeu bem perto do seu ouvido.


Sabia que ela gostava disso. Sentiu todo
os pelos do corpo dela se arrepiarem.

- Maldita voz de vampira sexy.

- Mas bem que você gosta…

E ela voltou a rebolar agora sobre seus


dedos enquanto arrancava a parte de
cima do babydoll permitindo Roxanne
encher suas costas de beijos e lambidas.

Ela jogou a cabeça para trás entregue.


Sua pele era quente, seus gemidos
viciantes, aspirou o perfume dos seus
cabelos segurou-os e deu uma puxada de
leve e ela gemeu baixinho.

- Latina gostosa…

- Só pra você esposa.

Essa palavra carregada de malícia fez


Roxanne perder o ar. Sob a luz fraca da
luminária podia ver a sombra de ambas
refletindo nas cortinas e achou a cena
muito excitante. Rayka estava em êxtase
em seus braços e sentia que o clímax
não demoraria.

De repente ouviram uma vozinha nada


sexy dizendo:

- Tia Kaká...Lana não consegue


dormir…

Puta merda!

Rayka saltou tão rápido pulando na


cama se enrolando no lençol e Roxanne
nem tinha conseguido piscar ainda.

- Alana???

- Você pode cantar uma música para


Lana dormir tia Roxe?
- Uma música... certo.

- Alana. O que houve?

Rayka reapareceu enrolada no lençol até


a cabeça, parecendo uma múmia.

- Tem um bicho papão no meu quarto


fazendo um barulho e Lana não consegue
dormir.

- Não é um bicho papão, é só a tia Manu


roncando.

Roxanne levantou-se pegando a


bonequinha de chupeta no colo.
- Vem. Vou cantar uma música para Lana
dormir. E você me espera naquela cama.

Disse apontando para Rayka.

Mas acordou com uma risada


escandalosa no quarto e um beijo
melado de leite fresco no nariz.

- Parece que sua noite de núpcias foi por


água abaixo.

- Tia Roxe...tia Kaká disse que é hora de


ir para escola.

- Não ria Manu! Sim... Lana. Temos que


ir para escola. Que horas são?
- Está atrasada Mackenzie. Tem 10
minutos para se arrumar. Eu disse que
casamento acabava com a vida sexual.
Filhos então...zera!

- Estou arruinada. Depois da faculdade


vamos voltar à corretora. Precisamos
resolver isso o mais rápido possível.

- Toma um banho gelado. Ajuda. Vem


Alana, vamos terminar nosso café da
manhã.

Roxanne revirou os olhos frustrada.


Chegou na cozinha Lana já estava de
uniforme e sua esposa fazia seu lanche
da escola. Deu bom dia e ela não
respondeu. Manu engasgou com o café
rindo da sua cara. Fuzilou-a com o
olhar.

- Rayka, eu deixo vocês na creche da


Alana e depois a Roxanne na
Universidade. Já está pronta?

- Obrigada Manu. Vou comprar um


capacete infantil para Alana assim posso
levá-la de Scooter.

- Sem problemas é caminho.

Roxanne invisível.

Manu fez sinal para que ela não falasse


nada. Ela estava brava porque ela
dormiu no quarto da Alana? Não era sua
culpa se teve que cantar um CD inteiro
para a bonequinha dormir. Já estava
odiando a vida de casada!

Foram em silêncio no carro, menos


Alana que cantava o tempo todo, hoje no
som não era Beyoncé, mas uma música
chiclete infernal do hi-five. Quando foi
que Manu se transformou na tia ideal?

Quando estacionou Rayka desceu se


despedindo com um até mais. Alana deu
um beijinho em Roxanne e em Manu, e
só depois foi para o colo de Rayka
bicuda da Silva.

Manu só esperou a porta fechar para


cair na gargalhada.
- Qual é a graça Manu?

- Nada. Olha esse mau humor, logo na


lua de mel! Você precisa resolver isso
meu bem.

- Culpa sua. Se não tivesse roncando


Alana não teria acordado e todo mundo
estaria feliz agora.

- Não ponha a culpa em mim do seu


fracasso sexual. Vamos falar de
trabalho. A tal de Rebecca Vives me
ligou ontem, na verdade ligou pra você.
Mas enfim, ela pediu para você ir ao
estúdio do programa amanhã.
Parece que vão gravar um especial para
o programa. E adivinha quem vai fazer
um dueto com Demi Lovato?

- Não!

- Sim. Então trate de liberar as energias


negativas porque essa será uma
oportunidade única meu bem.

- Tem razão.

- Eu sempre tenho amore.

Roxanne desceu na frente da


Universidade se despedindo da amiga
com um beijo. Pensou que teria que
comprar um buquê de flores para sua
esposa para arrancar aquele bico da sua
cara sexy.

[...]

Três dias depois

Finalmente havia chegado a final do


programa de caça talentos. Estavam
todas muito nervosas. Rayka ajudou
Roxanne a ensaiar todos os dias, cuidou
para que ela ficasse o mais relaxada
possível.

Ela foi dispensada das aulas só para ter


mais tempo para se preparar. Rayka
cozinhava as coisas que ela mais
gostava, ajudava ela se preparar como
podia nos ensaios.

Horas antes de sair estava no banho


quando viu a porta ser escancarada
violentamente. Levou um susto.

- Que foi? O que aconteceu?

- Nada. Ainda.

Rayka trancou a porta e começou a tirar


sua roupa já entrando na banheira.

- Tive uma ideia para você relaxar bem


antes do show.

- Sério? E aquele bico de não toque em


mim?
- Não tenho bico nenhum. E isso aqui
não pode contar como noite de núpcias
porque não está de noite.

- Tá bom. Para mim está ótimo.

Ela sentou sobre suas pernas capturando


seus lábios.

- Cinco minutos você tem para relaxar.

- Cinco minutos? Não... não isso não


está certo. Estamos em lua de mel, não é
tempo de ter uma rapidinha, e sim
demoradinha.

- Agora três que ficou perdendo tempo


falando.

- Três minutos? Isso é coisa de macho.

- Ai Cala boca Roxe! É pegar ou largar.

- Eu pego!

E pegou mesmo. Segurou sua nuca


enquanto seus lábios se devoravam com
luxúria, sentiu os dedos de dela
invadindo-lhe a intimidade com lascívia
sem rodeios tocando no ponto certo, no
movimento ousado, pontual e frenético.

Seu corpo queimava, ardia pedindo por


mais. A respiração era curta, sentia
aquela explosão se aglomerando dentro
do seu ventre se contraindo sob os
dedos habilidosos da sua Latina que
mordeu seu lábio inferior com força
total que até achou que estava
sangrando.

Quem se importava com isso agora?


Sentiu as unhas dela cravando nas suas
coxas puxando-a para si com uma
vontade quase selvagem.

Tocou-lhe os seios com volúpia no


mesmo ritmo que ela a invadia e falava
palavras torpes. Não conseguiu impedir
um grito de prazer anunciando seu ápice
evidente.

- Isso Roxe...sente gostoso pra mim.


Pronto era só ela mandar que seu íntimo
obedecia em êxtase. Agarrou-a pelos
cabelos sentindo a explosão interna se
espalhar por todo seu corpo. Ela
impediu seu gemido alto com seus
lábios carnudos. Enquanto ela tentava
voltar a Terra a viu sair tão rápido
quanto entrou.

- Viu o que dá pra fazer em cinco


minutos?

- Vi...sim. Ir para Marte e voltar.

- Você me deve uma noite de núpcias!

- Eu quero pagar com juros!


E ela sumiu do banheiro abandonando-a
sonolenta, inerte na banheira totalmente
sem fôlego e relaxada.

Horas depois Callie chegou porque ela


iria no lugar de Rayka, que não poderia
se arriscar aparecer na televisão de
novo. Era sábado e o como era a final
do programa ele seria ao vivo.

- Callie...que linda você está.

Abriu passagem para morena sexy em


um vestido cor nude justíssimo ao corpo
muito bem torneado.

- Obrigada querida. Tenho certeza que


hoje será uma noite memorável.

- Vai sim. Com certeza.

Alana apareceu arrastando seu unicórnio


gigante, já de pijaminha e chupeta.

- Callie, tia Kaká disse que tia Roxe vai


aparecer na televisão. Você quer ver
com a gente?

- Que gracinha. Eu vou ter que levar


suas duas tias lá na televisão.

- Só Alana não vai aparecer na


televisão!!

Ela cruzou os bracinhos e fez bico.


- Ah pronto! O bico é de família!

Roxanne disse aproximando-se da


pequena e dando-lhe um beijinho na
cabeleira preta.

- Lana quer ir na televisão cantar hi-


five.

- O que a tia Roxe falou pra você?


Vamos ensaiar bastante e então vou te
levar na televisão para cantar junto
comigo. Hoje você vai cuidar da Kaká
para mim, está bem?

- Tá bom. Lana fica.


- Dá um beijo aqui.

Abaixou-se para receber o beijo da sua


bonequinha. Rayka queria saber o que
dizer, mas estava hipnotizada pela cena
e pela estonteante morena de olhos
verdes que podia chamar de sua esposa.

Ela estava com uma calça branca de


cintura alta, cropped lilás brilhante
extremamente justo sem mangas e de
gola alta, e um sobretudo de tecido leve
roxo combinando com o batom da
mesma cor. Uma bota branca de salto
completava o look de tombar qualquer
mortal.

Manu aproximou-se também


maravilhosa em um vestido soltinho
todo branco.

- Uau... está mesmo parecida com a


Beyoncé.

- Obrigada Ray. Só me falta o dinheiro


dela.

- Estão todas maravilhosas. Dignas do


tapete vermelho.

- Então vamos que está em cima da hora.

Callie e Manu saíram muito sorridentes


uma para outra.

- Não vou dizer boa sorte porque você


não precisa de sorte Roxe. Você tem
talento e capacidade. Você está
maravilhosa. E vai arrasar.

- Obrigada Ray. Queria muito você lá.

- Eu também. Mas vamos comemorar


quando você voltar.

- Hum...nada de cinco minutos.

- Não.

- Vou voltar com um contrato assinado e


vamos para as Bahamas em lua de mel.

- Sério? Bahamas?
- Promessa.

- Eu te amo tanto vampira sexy.

- Eu também te amo minha Latina sexy.

Rayka pegou sua bonequinha no colo e


se despediram com um abraço a três.
Ela e Alana ficaram agarradas no sofá
brincando de cócegas esperando o
programa começar.

Horas depois deu risada quando Alana


pulava e batia palmas toda vez que a
câmera mostrava Roxanne. E ela estava
perfeita. Só restavam quatro
participantes que fariam duas
apresentações.
Um solo e um dueto com algum cantor
renomado. Dois seriam eliminados
pelos jurados e então o público votaria
para escolher o vencedor. Família
Mackenzie em Miami toda a postos, nas
redes sociais Manu havia agitado os fãs
e toda comunidade LGBTQ que torciam
por sua esposa Linda.

Quando chegou sua vez sabia que seria


incrível. Ela escolheu tocar o piano e
fez uma apresentação para lá de
emocionante na canção de Lady Gaga
Always Remember Us This Way.

Ela foi brilhante e isso a levou a ser uma


das finalistas, outra candidata era Troy
Kelly, e era fantástica também. Ela
cantou com Ed Sheeran e foi belíssima a
apresentação.

Mas então Roxanne entrou no palco com


Demi Lovato, e a letra poderosa aliada a
performance incrível das duas levou o
público ao delírio ao som forte de
Anyone. Por conhecerem a história de
superação de Roxanne e da própria
Demi, a emoção tomou conta de todos.

Começou a chorar enquanto Alana


beijava a TV.

- Bahamas...aí vamos nós!


Capítulo 32 - O
Pesadelo
Nova York, 4:35 pm
Estádio dos Yankees

- Será que vamos ter sorte hoje Roxe?


- Hoje é um belo dia para se vencer um
jogo. Só acho.
Após uma longa semana de
comemorações onde Roxanne não teve
um minuto de sossego com tantas
felicitações, mensagens, ligações da
família, de amigos e ainda fez uma live
no Instagram para agradecer os fãs e
todas pessoas que votaram nela.

De repente sua vida não era mais a


mesma. A Universidade fez questão de
lhe prestar uma homenagem no corredor
da fama, como era chamado o quadro do
corredor principal com fotos e prêmios
que a Universidade colecionava por ser
a melhor de Nova York e umas das
principais do país.
Mas hoje havia convidado Rayka para
assistir a final do campeonato onde os
Yankees enfrentariam seu arqui rival
novamente, os Cardinal's. Foram de
Clotilde e fizeram Manu e Callie de
babás. Roxanne estava empolgada e ao
mesmo tempo nervosa. Não pelo jogo,
pelo que havia preparado.

Voltar àquele lugar em uma situação tão


diferente, mexia com o seu emocional. A
última vez que estivera ali estava
descobrindo-se apaixonada por Rayka e
cega, agora estava casada e enxergando.

Aliás, Rayka estava eufórica com sua


camiseta do time e uma calça branca
justa delineando suas curvas. Notou os
olhares que ela atraia para si sem
esforço. Roxanne estava camuflada de
boné e óculos escuros. Na entrada do
estádio foi abordada por várias pessoas
que a reconheceram, então comprou um
boné no estádio para ficar mais à
vontade.

Diferente da primeira vez o time vencia.


E Rayka comemorava cada ponto
fazendo uma dancinha estranha. Como
amava aquela mulher, sua vida não
poderia estar mais perfeita. Ainda sentia
náuseas quando se lembrava das
imagens que Callie tinha do tal de PJ
tentando abusá-la.

Chorou várias horas escondida no


quarto de música para ela não ver.
Como podia uma moça ter sofrido tanta
dor e ainda sim ser aquele raio de sol
sempre feliz e sorrindo?

Não entendia, mas jurou fazê-la tão feliz


ao ponto de nunca mais se recordar
daqueles pesadelos. Então tentando
fazer o melhor possível para vê-la feliz
ela aguardava ansiosa pelo intervalo.

- Hey, Roxe. Não está se divertindo?


Estamos ganhando!

- Estou sim...mais com você do que com


o jogo.

Abraçou-a. Então o som do intervalo


apitou e uma música alta se fez ouvir e
Rayka queria ir ao banheiro.

- Não querida, espera só um pouquinho.

- Mas o intervalo é agora!

- Só um minutinho para esperar esvaziar


primeiro.

Ela olhou desconfiada semicerrando os


olhos. Mas sentou-se. Roxanne estava
nervosa. Até que a imagem delas
apareceu no telão na Câmera do beijo,
mas dessa vez tudo programado.

- Rayka, nós estamos no telão.


- De novo?

Ela olhou de imediato e sua boca se


abriu em "oh" de surpresa. Todos
olhavam para elas dentro de uma
imagem de coração de led piscando com
a frase: Casa comigo?

- Roxanne???

Ela colocou as duas mãos sobre a boca


e arregalou os olhos.

- Essa é a hora que você diz sim.

Estendeu lhe o anel de pérolas que havia


lhe dado na prisão, mas ela não pode
ficar no dia.
- Você??..sim...sim...sim...

A multidão aplaudiu, colocou-lhe o anel


e se beijaram.

- Estou tentando melhorar. Não achou


que teria só aquele pedido na prisão.
Achou?

- Eu te amo tanto sua louca. Me enganou


direitinho, isso estava programado. Eu
achando que você queria ver a final do
campeonato.

- Você merece mais que isso. Esse é o


pedido oficial agora, tá ok?
- Eu não te mereço, isso sim. Mas nós já
estamos casadas.

- Então, estamos no papel. Mas você


achou que a família Mackenzie iria
deixar por isso mesmo? Você não sabe o
sermão que ouvi da Mamãe por ter
casado sem a presença dela.

- Como assim?

- Minha mãe está preparando nosso


casamento oficial em Miami. Festa,
vestido branco, barulho, gente e muita
comida.

- Roxanne? Quando você iria me contar


sobre o meu casamento?
- Estava esperando acabar essa correria
do programa, olha será daqui há dois
meses porque terá acabado o semestre
na Universidade e poderemos ir às
Bahamas.

- Sério mesmo? Eu não consigo


acreditar ainda que isso é real.

Depois do jogo pediu para Rayka seguir


para Greenwich Village, conhecido por
suas inúmeras livrarias, cafés, inclusive
onde gravaram o seriado Friends, com
ruas bastante arborizadas e tranquilas.

Quando chegaram em uma rua mais


afastada com casas elegantes pediu-a
para estacionar.

- O que achou da paisagem?

- Maravilhoso. É um dos bairros mais


chiques de Nova York Roxe.

- Vem. Vou te mostrar uma coisa.

Caminharam até uma casa linda com


uma varanda, gramado e uma linda
árvore com um balanço ao lado. Parecia
cenário de um belo filme. Toda branca
com portas enormes de madeira e muitas
vidraças.

- O que acha dessa casa?


- Deve ser um estúdio de hollywood
disfarçado. Posso até citar alguns filmes
em que vi essa casa.

Roxanne deu risada da sua Latina e


puxou-a pela mão.

- Que bom que gostou. Porque é nossa.


Vamos ver por dentro.

- O quê? Como assim é nossa?


Roxeeee...espera...

Mas ela já corria a sua frente toda


eufórica rindo jogando a cabeça para
trás daquele jeito que ela amava.
Quando a alcançou ela já girava a chave
da porta da frente deixando-a ainda
mais atônita.

Uma imensa sala com lareira, sofás


brancos, enormes paredes de vidros com
cortinas marfim, chão de carvalho
original, toda em conceito aberto e uma
enorme sala de jantar.

Tudo era muito branco e muito chique.


Roxanne puxou-a pela mão para ver a
cozinha espaçosa com uma ilha gigante
no centro, uma mesa de carvalho com 8
cadeiras, armários brancos até o teto,
dois fornos, lava-louças, e todo tipo de
eletrodoméstico que parecia uma
cozinha de algum programa de culinária.

- Pensei que você iria gostar de uma


cozinha grande, poderá fazer suas
delícias aqui.

- Roxanne...isso é sério? Você comprou


essa casa? Como fez isso?

- Você tem que admitir que nosso


apartamento está sem espaço. Eu troquei
ele e paguei uma diferença. Nem foi
tanta assim. Acho que Alana precisa de
espaço para correr. Venha ver o quintal.

- Caraca! Piscina? É sério?

- Uma piscina, um playground de


madeira e ali atrás um ofurô. Achei
super importante ter um agora que sei
para que serve.
Ainda subiram no segundo andar para os
três quartos e uma suíte master com
banheira, box gigante com chuveiro a
vapor.

- Nós mudamos depois do casamento. O


que acha?

- Eu acho que vou acordar a qualquer


momento.

- Já que você gosta de fazer


comparações nossas com Titanic, eu
tenho uma para fazer.

Segurou suas mãos e a fitou de um jeito


todo cheio de sentimentos e afeição.
- Diz. Desde que não seja a parte da
constatação que vamos morrer
congeladas, tá valendo.

Riram juntas.

- Não. Você lembra que a tal de Rose


queria pular do navio?

- Sim. Ela era uma rica infeliz.

- Sim, e então o tal do Jack aparece e a


salva. Mais tarde ela vai dizer para ele
que naquele momento ele havia salvado
mais que a vida dela, salvou sua alma e
de todas as formas que ela precisava ser
salva.
- É verdade. Tão fofo isso.

- Isso foi o que você fez comigo, salvou


mais que a minha vida da depressão, dos
vícios, você me salvou de mim mesma,
porque eu era autodestrutiva. Eu
afastava as pessoas que eu amava.

- Não fala assim Roxe.

- É a verdade. Você me salvou de todas


as formas que um mulher precisa ser
salva. Você me escolheu, escolheu ficar
e agora eu quero passar o resto da minha
vida provando para você que fez a
escolha certa.
Rayka limpou uma lágrima teimosa.
Aconchegou-se ainda mais naquele
abraço protetor que ela tinha aspirando
seu perfume de rosas, disse suspirando:

- Eu já sei disso. E faria tudo de novo.


Porque nossas almas estão ligadas,
lembra? Você também me salvou. Me
deu uma casa, uma família, um lar, uma
nacionalidade. Você me ensinou o que é
a experiência de ter um pedaço seu
morando em outro coração. E eu vou te
amar nessa vida inteira e quantas mais
existir.

Roxanne mirou-a profundamente


naqueles olhos cor de âmbar, e se já não
estivesse apaixonada se apaixonaria
naquele momento. Descobriu naquele
instante que o amor verdadeiro é uma
experiência avassaladora. É do tipo que
não se esquece, porque nunca se tenta
esquecer, nunca se quer esquecer. É um
amor tão grande, tão forte que nunca
morre, nunca se enfraquece, nunca perde
a sua eletricidade.

O tipo de amor pelo qual se luta, se


sonha, o amor pode ser dolorido às
vezes, mas quando você se depara nos
olhos da pessoa que ama e consegue ver
seu DNA neles, um futuro, faz todo esse
processo valer a pena.

Era isso que Roxanne via naqueles


olhos, o DNA de seus filhos, seu futuro
só existia se fosse ao lado dela. Isso era
amor mais que suficiente.

[...]

Um mês depois.

Roxanne recebeu seu certificado de


concluinte dos 12 passos para a
recuperação de um Alcoólatra. Foi mais
um evento emocionante e claro que ela
fez um breve discurso e cantou para um
público muito empolgado, pois agora
ela não era anônima.

A mídia noticiou o evento com grande


destaque. E os fãs passaram a admirá-la
ainda mais. Ela não escondia seus
problemas do público, pelo contrário,
gostava de ser mais transparente
possível. Se quisessem amá-la bem, se
não estava tudo bem também.

Agora Rayka cuidava da sua agenda de


compromissos, eventos, gravações e
ensaios. Como ela vencera o concurso
no programa isso lhe rendeu um bom
dinheiro e um contrato com a Sony
Music que patrocinaria seu primeiro
álbum em um prazo de um ano.

Manu tornou-se mesmo sua assessora de


imprensa, cuidando da publicidade,
contratos, do seu guarda roupas e do seu
dinheiro. Roxanne não podia acreditar
como sua vida havia mudado
drasticamente em 12 meses.

Parte do dinheiro que recebeu do


programa doou para a pesquisa com
células tronco e sua utilização em
regeneração de córneas do Dr. Sanchez.

Agora ela havia lançado uma música


onde todo valor arrecadado com os
streamers e mídia seria doado para a
casa de acolhimento e ajuda aos
imigrantes na América. Queria que sua
música tivesse um propósito de ajudar
as pessoas.

Faltava menos de trinta dias para fechar


o semestre na Universidade, isso
significava também que seu casamento
oficial se aproximava. E sua esposa
andava muito nervosa. Por isso, havia
programado levá-la para jantar fora
hoje.

Estava pensativa nestes pormenores que


nem se importou com a música alta no
carro de Manu.

- O que está pensando Roxe?

Ela abaixou o volume do som.

- Em como sou feliz por ter você, Rayka


e Alana na minha vida.

- Ohhhhh e eu por ter vocês. Não vejo a


hora de ver vocês casando de verdade.
- Mas a gente casou de verdade.

- Tudo bem que foi extremamente


necessário, mas não podemos considerar
oficial uma assinatura de papéis na
prisão. Olha, nunca achei que você fosse
se casar um dia, muito menos com uma
mulher e de cara ter uma filha.

- Nem eu Manu. A vida nos surpreende.


Estou esperando você assumir o que
sente pela comandante Torres. Já que
você foi a primeira pessoa a ouvir
minhas inquietações, achei que a gente
teria essa conversa.

Roxanne percebeu o aparente


desconforto da amiga-irmã.

- Digamos que é complicado.

- O amor é complicado. A vida é


complicada Manu. Não existe normal,
normal é uma palavra idiota que
inventaram para nos fazer sofrer.
Quando a gente aceita sentir tudo
intensamente como deve ser, sem se
preocupar com a opinião dos outros, é
libertador.

Você deveria experimentar. Se me


lembro bem, ela seria sua âncora para
seu barquinho errante. Esqueceu o que
as cartas disseram? E as cartas não
mentem. Como Jess sempre diz.
- Você acredita mesmo nisso tudo?

- Nos últimos meses passei a acreditar


em muita coisa.

Manu estacionou em frente à


Universidade.

- Até mais Manu. Bom dia.

- Bom dia branquela, se cuida. Te pego


mais tarde. Obrigada por isso.

- Beijos, te amo.

Roxanne sorriu e se afastou rumo a


entrada principal. Do outro lado da rua
era observada, mas não perceberia nada,
afinal quando se está com o coração
transbordando de felicidade não se
percebe o mal que nos rodeia de tão
perto.

Rayka acordou com uma dor de cabeça.


Tivera aquele pesadelo de novo. O
maldito buraco negro que não a deixava
em paz. Depois de levar Alana na
creche tomou café com Jess, que agora
só vinha duas vezes na semana. Alana
adorava a mexicana.

Também, a senhora fazia todos os seus


gostos. Rayka se divertia vendo as duas
batendo altos papos como se Alana
fosse gente grande. Estava ensinando
algumas palavras em espanhol para sua
bonequinha, queria preservar um pouco
da sua cultura um pedaço da sua família
que era tão pequena.

E Jess ajudava nisso. Alana não falava


mais da sua mãe Sophia, ficava triste em
perceber que quanto mais o tempo
passava menos lembranças ela tinha da
mãe. Mostrava a foto e falava da irmã
para ela. Mas um dia ela disse que
queria uma mãe que não estivesse no
céu. E seu coração doeu.

- Melhorou srta Rivera?

- Melhor Jess.
- Agora tenho que chamar de sra
Mackenzie? Não me acostumei ainda.

- Rayka, só Rayka está ótimo.

- Vem tomar um chá de ervas que fiz


para senhora. Vai se sentir melhor.

- O que são essas cartas Jess?

- São cartas de tarot para consultar o


Universo.

- Interessante. Eu queria perguntar para


o Universo o que significam esses
pesadelos que me perseguem tanto
tempo.
- Bebe esse chá, depois posso ler as
cartas para a senhora. Alguns sonhos são
sinais que o Universo manda nos
avisando de coisas que estão por vir.

Bebeu o chá e se sentiu sonolenta


automaticamente.

Jess espalhou as cartas sobre a mesa e


pediu para que ela retirasse uma.

- Você tirou o valete de espadas. Aqui


temos algo que precisa de muita atenção.

- O que significa?

- A espada sugere que em breve você


estará em uma situação de conflito,
perigo. Mas você é valente e sabe usar a
espada.

- E hoje acordei com essa sensação de


perigo.

- Está muito perto senhora. Você terá que


tomar uma atitude muito importante e
rápido. Mas no final vai valer a pena.

- Assim seja Jess. Vou deitar um pouco,


esse chá me deu uma sonolência.

- Isso. Quando acordar a senhora estará


melhor.

Não sabia explicar o motivo. Mas


parecia que pressentia um perigo
próximo. Dormiu vencida pelo sono,
mas seu coração não estava em paz.

Quando acordou já passava do meio dia


e estava suando frio. Achou que tivera
aquela febre estranha de novo. Resolveu
tomar um banho frio, depois ligaria para
Roxanne. Alguma coisa no seu coração
dizia que algo não estava certo.

[...]

Universidade Rochester, 12:44 pm

Roxanne olhou no relógio de novo. Onde


estaria Manu? Ela nunca se atrasava.

Desceu as escadas na entrada principal


e esperou na calçada para que ela não
precisasse estacionar. Aquele horário na
frente da Universidade a rua era muito
movimentada. Resolveu ligar.

Pegou o celular e viu que tinha uma


mensagem de Rayka.

" Amor, onde você está? Meu


coração está apertado. Acho que estou
com aquela febre de novo. Não demora.
Te amo".

Iria responder quando seu celular foi


arrancado da sua mão. Olhou para o
lado assustada e deu de cara com um
homem alto de boné e óculos escuros e
barba espessa. Ele sorriu de um jeito
que sentiu um calafrio subir pela sua
espinha. Sentiu o cheiro de drogas e
álcool no ar. Antes que pudesse reagir
sentiu algo metálico tocar-lhe as
costelas do lado direito. Imediatamente
seu coração disparou.

- Sem gritar. Vamos entrar no carro da


esquina sem nenhum escândalo. Se fizer
qualquer movimento brusco não verá
mais sua Latina suja.

Ela não disse nada. Apenas começou a


andar sentindo as mãos fortes dele em
sua cintura empurrando-a.
Por algum motivo sabia que aquele era o
tal PJ. Sentiu medo. Só desejou que
alguém a tivesse visto entrando em uma
carro prata e saindo muito rápido dali.

Manu encostou o carro próximo a


entrada principal. Tivera que dar duas
voltas no quarteirão para achar uma
vaga. O trânsito estava carregado de
forma que acabou se atrasando.

Ligou três vezes no celular de Roxanne e


estava desligado ou fora de área.
Desceu, fechou o carro e foi até a
entrada. Nada. Que estranho.

A Universidade tinha duas entradas


principais, resolveu dar a volta e
procurar na outra entrada. Seu celular
tocou.
- Oi Rayka.

- Por que estão demorando?

- Não achei a Roxe na entrada. Estou


procurando. Ela te ligou?

- Não.

Então Rayka começou a sentir aquela


dor pulsante na sua cabeça de novo.
Algo estava errado. Seu coração
disparou, sua boca ficou seca.

- Manu, liga para a Callie Torres.

- Como assim? Por quê?


- Ela não iria sumir assim, celular
desligado. Tem alguma coisa
acontecendo.

- Calma Rayka, não pira. Vou olhar


dentro da Universidade. Vou desligar
que ela pode estar ligando. Relaxa aí.
Qualquer coisa te aviso. Respira hein?

Mas a verdade era que Manu também


estava preocupada. Entrou pedindo
informação para o segurança e ele
garantiu que ela havia saído pela entrada
principal.

Ok. Calma.

Voltou para o carro e resolveu dar uma


volta no quarteirão. Precisava ser
racional. Talvez ela foi tomar um café
devido seu atraso.

Mas então porque seu coração não


conseguia acreditar nisso?

- Jess, já está acontecendo!

- O que foi menina Rivera?

- O perigo...a espada

- Como assim?

- Roxanne sumiu!

- Santa Virgem de Guadalupe!


- Você fica aqui de ouvido nesse
telefone. Eu vou atrás dela.

- Tá bom. Mas não devíamos chamar a


polícia?

- Não! Se for o que eu estou


pensando...Não poderei contar com a
polícia. Vou tentar avisar a Callie.
Qualquer coisa eu te aviso.

Pegou a chave da Scooter e o capacete e


desceu os andares pela escada mesmo.
Não sabia nem pra onde iria, tinha um
palpite, mas sabia quem estava por
detrás disso. Ligou para Callie antes de
subir na moto e sair queimando pneu.
Seu pensamento era só um. Faria
qualquer coisa para salvar sua esposa.
Qualquer coisa!
Capítulo 33 - Olha
para Mim
Em algum lugar do Bronx,
1:27 pm

Rayka conseguiu falar com Callie, a


princípio ela não queria acreditar que
estava acontecendo algo mais sério. Mas
Rayka não tinha dúvidas, seu sexto
sentido estava em alerta. Com a polícia
ou sem a polícia, iria trazer sua esposa
de volta. Foi com esse pensamento que
avançou pela parte periférica do Bronx,
uma área muito perigosa por sinal.

Ela conhecia bem aquele caminho, já o


havia percorrido muitas vezes quando
sua irmã Sophia era viva. Ali em algum
barracão escondido entre os prédios
quase todos demolidos ou caindo aos
pedaços, ficava a toca do PJ.

Toca, porque ele era um rato! Um


monstro! Isso sim. Já havia estado ali
várias vezes para tentar salvar sua irmã,
depois por causa de Alana. A última vez
que vira PJ ela havia cravado um punhal
em sua coxa direita.
Não tinha nenhum arrependimento por
isso. Três vezes ele quase havia abusado
dela. Na última vez usando Alana como
isca para tê-la, ele havia exigido ter
relação com ela, ou não veria mais a
sua bebezinha.

Ela sempre negava e fugia quando ele


estava descontrolado. Mas, em uma
noite ele invadiu sua casa pegando-a
desprevenida deitada na cama.

Arrancou suas roupas totalmente


possuído e tomado por drogas e álcool,
Rayka então passou a andar com um
punhal debaixo das roupas, e esse jazia
debaixo do seu travesseiro. Foi assim
que enquanto sentia sua carne ser
invadida pelo membro enrijecido
daquele rato, ela pegou o punhal e
desferiu-lhe vários golpes na sua coxa
direita.

Enquanto ele gritava de dor ela fugia.


Talvez deveria ter cravado em sua
barriga, ou em seu coração. Não era uma
assassina, mas hoje se necessário,
tornaria-se uma, alisou a cintura
sentindo a frieza do mesmo punhal
companheiro.

Desceu da moto e subiu as vielas


estreitas do bairro. Seu celular vibrou, e
seu coração perdeu um compasso.
Número desconhecido. Era ele.
Sabia que deveria ficar na linha o maior
tempo possível, assim Callie poderia
rastrear a ligação, e também evitaria que
ele machucasse sua esposa.

- Onde ela está?

Ouviu uma risada lânguida, arrastada.


Estava bêbado ou drogado, ou os dois.
Esperava que sim, pois o tornaria mais
vulnerável. Afinal ele era um homem
alto e forte, com sorte estaria sozinho, já
que Callie disse que seus comparsas
estavam presos.

- Latina Rivera. O que eu faço para me


livrar de você?
- Devolvo a pergunta.

Ele riu de novo.

- Temos uma conta a acertar.

- Concordo. Nós temos, não ela.


Somente você e eu.

- Ela será o petisco. Você o prato


principal.

- Onde você está? Solte-a e eu irei para


qualquer lugar com você.

- Nossa, como você mudou. Não pensou


assim quando abandonou uma criança
chorando no berço.

- Não tenho mais medo de você. Vamos


logo com isso.

- Ok. Sabe onde estou, sem polícia, sem


armas e se for uma menina boazinha
deixarei a branquinha inteira.

Ele desligou. Discou para Callie.

- Oi Rayka.

- Consegue rastrear a última ligação?

- Estou passando para o departamento


aqui, acredito que dá sim.
- Escuta, é um barracão no meio do
Bronx, rastreia meu celular.

- Não! Rayka você não pode ir sozinha.

- Ele não vai soltá-la viva se a polícia


aparecer. Você precisa passar essas
informações para seu batalhão. Eu
conheço, ele quer a mim. Vou trocar de
lugar com Roxanne, tentar sair com ele
fingindo uma fuga, sei lá. E então vocês
entram em ação.

- Rayka, é muito perigoso. Ele mandou


te atropelar, colocou fogo no seu
apartamento, mandou te matar na cadeia,
porque você acha que ele não vai te
matar agora?
- Porque ele é só um macho escroto de
orgulho ferido. Se ele quisesse me matar
ele já o teria feito. Ele quer me fazer
sofrer. E eu conto com isso, vai me dar
tempo para salvá-la. Eu tenho que ir.

- Raykaaaa....

Guardou o celular no bolso da calça e o


punhal na meia entre o all star de cano
alto e sua pele e continuou a subir. Cada
passo seu coração aumentava as batidas
até senti-lo quase na garganta. Lembrou-
se das cartas de Jess, perigo, espada,
decisão rápida e sem medo.

Tentou controlar a respiração buscando


a calma necessária. Esperava ter tomado
a decisão certa. Quando chegou próximo
ao barracão no fundo de um prédio semi
demolido habitado por pessoas não
muito amigáveis, colocou o celular no
silencioso e o escondeu entre o lixo que
cercava o local. Pegou seu antigo
celular todo quebrado, respirou fundo e
bateu na porta metálica.

[...]

Roxanne abriu os olhos, mas não


enxergou muita coisa. Estava em algum
lugar muito escuro. Tentou focar a vista,
mas com sua baixa visão e no escuro
não fazia a menor ideia de onde estava.
Sua cabeça doía, tentou passar a mão,
mas estava amarrada com fita silver
tape, assim como seus pés. Estava
deitada em um chão frio e sujo. Rolou
no chão tentando sentar-se. O local
parecia uma garagem ou galpão
abandonado e fétido.

Aos poucos sua mente foi recordando


das últimas cenas. PJ raptou-a na porta
da Universidade, fez ela engolir um
comprimido sem água e ela ficou tonta,
só se recordava de entrar um carro
prateado e ter uma arma junto as suas
costelas. Ouviu uma batida e passos.

Oh não! Era Rayka. Ele iria matá-la, ou


as duas. Que pesadelo sem fim era
aquele? Não conseguiu impedir uma
lágrima. Tentou colocar-se de pé, mas
estava muito tonta e sentia tudo girando.
Aguçou os ouvidos enquanto pensava em
um jeito de arrancar aquela fita maldita
da pele.

[...]

Rayka empurrou a porta pesada e piscou


várias vezes para se acostumar com a
escuridão do ambiente. Logo seus olhos
se encontraram com os negros e
expressivos olhos de PJ. Ele estava
sentado na única cadeira do ambiente
que cheirava a urina de rato, assim como
ele.
De boné, camiseta branca e calça jeans,
seus pés repousavam sobre uma mesa de
plástico. Seu rosto estava muito
diferente do que se lembrava, ele
parecia bem mais magro e velho, devia
ser o resultado do crack.

Reconheceu as pupilas dilatadas e


amareladas, olheiras profundas. Ele
colocou a garrafa de alguma bebida na
boca e sorriu fazendo menção para que
ela se aproximasse. Continuou parada.
Seus olhos buscavam Roxanne,
disfarçadamente sem tirar o olhar de
sobre ele.

- Onde ela está?


- Calma aí gatinha. Tô vendo que esses
anos fizeram bem pra você.

- Não posso dizer o mesmo.

Ele ficou de pé apontando a arma


diretamente em sua cabeça.

- Vamos direto ao ponto Rivera, joga o


celular pra cá e nada de facas desta vez,
não esqueci o estrago que fez em mim da
última vez.

- Ótimo. Andei praticando.

Jogou o celular com força terminando de


despedaçar. Ele pisou em cima.
- Onde está minha filha?

- Segura e feliz.

- Eu quero ela de volta.

- Impossível. A polícia te mataria.

- E porque eu não deveria fazer o


mesmo com você e com a branquela?

- A menos que queira morrer hoje


também. Escuta, solta ela e eu vou com
você, eu não sei se você sabe, mas ela é
uma cantora, a polícia, a mídia toda vai
atrás de você. Mas eu, eu não sou nada,
você a solta e a gente negocia sair do
país.
- Eu não tenho como sair...você arruinou
minha vida, por sua causa meus amigos
foram presos, perdi cargas
consideráveis e muito dinheiro, tive que
me esconder no horror do México, perdi
minha filha, tudo por sua causa.

- É a mim que você quer. Eu estou aqui.


Não aguento mais você infernizando a
minha vida. Droga! Que merda você
quer fazer comigo?

[...]

Roxanne ouviu quando um pedaço de


vidro passou por debaixo da porta.
Escorregou procurando-o, com ele entre
os dedos começou a esfregar na fita que
prendia os pés. Ouvia Rayka
conversando com ele. Ela tinha
enlouquecido? Estava praticamente se
oferecendo para ele. Precisava se livrar
daquelas fitas e pensar em algo para
surpreender aquele verme.

Se ele tocasse em um fio de cabelo dela,


ela iria ver o sol nascer quadrado, mas o
mataria com as próprias mãos.

[...]

- Eu quero você. Quero tirar tudo que


você ama como você fez comigo.

- Ótimo. Eu vou com você. Tenho uma


moto lá na rua, a gente vai para qualquer
lugar. Eu juro que não vou tentar
impedir. Ir com você é a coisa que mais
odeio, pode ter certeza.

Rayka estava com a respiração


acelerada, seu plano era tirá-lo de
dentro do barracão, provavelmente
Callie estaria chegando com uma equipe
de atiradores e poderia impedir uma
tragédia.

Só queria afastá-lo de Roxanne , que


provavelmente estava amarrada atrás
daquela porta que ele protegia com seu
corpo. Ele abaixou a cabeça e parecia
considerar a ideia. Ótimo. Estava
ganhando tempo.
- Certo. Eu tenho um lugar melhor para
gente ficar mais à vontade.

- Mas eu quero vê-la primeiro. Nada de


cordas, apenas trancada.

- Acha que sou o quê?

- Estamos perdendo tempo, anda. Quero


vê-la.

Ele abriu a porta com a arma em punho.


Em vez de entrar ele veio em sua
direção e a puxou junto ao corpo
colocando a arma na sua cabeça.

- Nada de gracinhas. Ou eu acabo com


as duas.

E tudo aconteceu muito rápido. Viu


Roxanne sair do cômodo com um
pedaço de madeira na mão pronta para
atacá-lo. Mas congelou ao ver a arma
em sua cabeça.

- Aí está sua branquela. Você iria fazer


alguma coisa com isso?

Ele debochou e ela soltou


imediatamente. Rayka gelou, era sangue
que havia em suas mãos?

- Roxanne, olha pra mim. Você está


bem? Não faça nada querida. Por favor,
fique calma.
Roxanne sentia gosto de sangue na boca
de tão forte que mordeu o lábio cerrando
os dentes. Seu coração estava totalmente
fora do compasso e seu peito arfava em
busca de ar. Mas ele tinha uma arma
cravada na fronte dela.

- Isso, obedeça sua mulherzinha que


logo mais será minha.

Dizendo isso o desgraçado começou a


passar a mão nos seios dela enquanto
descia aquela boca nojenta pelo
pescoço.

- Monstro.
- Roxe, não se mexa. Eu vou dar um
jeito de voltar para você. Lembra? Eu
sempre volto.

Então foi puxada para fora e ele fechou


a entrada com um cadeado. Infelizmente
em vez de descer para entrada principal
do bairro onde estava a sua moto, ele a
puxou para o matagal na parte de trás
que levava a um pequeno rio de águas
sujas pelo esgoto. Mesmo assim sentia-
se aliviada por Roxanne estar bem.
Esperava que Callie já estivesse por
perto.

[...]

- Desgraçado! Filho da Puta!


Roxanne chutava a porta, sem sucesso
para arrebentar o cadeado na corrente
grossa do lado de fora. Precisava fazer
alguma coisa. Sua cabeça doía e sentia
náuseas. Provavelmente ele lhe dera
algum psicótico.

Mas precisava concentra-se. Não havia


janelas. Olhou para o teto. Ótimo. Era
de telhas. Arrastou a mesa de plástico
mais a cadeira. Só esperava não sentir
tontura na parte de cima do telhado.

[...]

- Você fica aqui agora Manu.


- Não. Eu vou com você.

- Não, não vai. É perigoso. Escuta,


preciso de você aqui com o carro
ligado. Talvez precisaremos fugir às
pressas.

- Mas você não pode ir sozinha!

- Hey, esse é meu trabalho. Faço isso


todo dia. Não se preocupe que eu vou
ficar bem. Mas, preciso que fique aqui e
oriente a polícia quanto a minha
localização. Isso aqui é um rastreador.
Assim que a polícia chegar você passa
para eles essas informações.

Callie entregou-lhe um aparelho


parecido com um page com visor de led
verde.

- Certo. Traga minhas amigas de volta e


toma cuidado querida. Promete.

- Sim. Eu prometo.

Callie desceu da viatura, mas Manu


agarrou sua mão puxando-a de volta.

- Volta a salvo para mim.

E a beijou nos lábios. Callie sorriu.

- Pode apostar que sim!

[...]
Com a arma o tempo todo encostada em
sua cabeça Rayka caminhava com
dificuldade pela trilha íngreme. Vez ou
outra tropeçava e era puxada pelo
cabelo. Estava pensando em como
poderia escapar sem levar um tiro.
Talvez se jogando ao chão poderia pegar
seu punhal e ferí-lo. Naquele matagal
seria difícil ele alcançá-la.

Mas para o seu alívio ouviu:

- Polícia de Nova York! Largue a arma!

Imediatamente ele se virou para a voz de


Callie a poucos metros e fez dela seu
escudo colando seu corpo ao dela e
engatilhou a arma.

- Acho melhor você abaixar a sua, ou


vou estourar os miolos dela.

- O perímetro está cercado. Você não vai


muito longe. Vamos facilitar as coisas.
Solta a vítima.

- Então você vai arrumar um jeito de me


tirar daqui senão ela morre.

- Certo. Podemos fazer isso...

Nesse momento um barulho no matagal


em um ângulo de 45º chamou a atenção
dele, pisadas e galhos se quebrando.
Rayka começou a rezar.
Que não seja ela...Que não seja
ela...por favor.

Era ela esbaforida com o rosto vermelho


há uns cinco metros de distância. De
repente tudo passou em câmera lenta. PJ
mirou a cabeça de Roxanne com a
semiautomática. Isso significava que ele
tinha maior precisão em acertar o alvo à
distância.

- Largue a arma agora! É uma ordem!


Sua cabeça está na mira, há muitos
atiradores no mato.

Na verdade Callie estava blefando,


tentando distraí-lo. Roxanne ainda não
sabia o risco que estava correndo, mas
viu os policiais se aproximando e fez
sinal sem saber que estava na mira da
arma de PJ.

“Espada, você sabe como usá-la,


decisão importante, perigo...vai valer a
pena”

Rayka pensou rápido, pisou no pé dele


distraindo por milésimos de segundos e
se jogou por cima do seu braço puxando
com toda a sua força para baixo, ele
recolheu o braço e ela segurou por cima
da arma lutando contra ele, tentando
impedí-lo de mirá-la, subitamente ouviu
um estrondo seguido do grito de
Roxanne.
- Raykaaaaaaaa.

Estava cara a cara com PJ, seus olhos


negros mostravam medo, sentia-a um
névoa escurecer suas vistas. Estaria
desmaiando? Morrendo? Mas teria que
se livrar daquele monstro, nunca
deixaria ele atirar na sua amada.
Segurou a arma por cima da mão dele e
puxou o gatilho, mas ouviu três
estrondos em vez de um. Olhou para
baixo e viu o sangue tingir sua camiseta
branca. E o corpo dele tombou sobre o
dela.

[...]
Droga!

Callie disparou dois tiros nas costelas


dele. Ele caiu sobre Rayka,
provavelmente ela levou um tiro se
jogando na frente da arma. Roxanne
chegou correndo gritando.

- Roxanne...Calma.

- Não, não, não...ele a acertou. Eu vi.

Callie empurrou ele com as duas mãos


tirando-o de cima de Rayka. Mediu sua
pulsação.

- Ainda está vivo. Se afasta Roxanne.


- Então mata esse desgraçado! Ele atirou
nela.

- Não vai resistir por muito tempo.

Roxanne puxou Rayka para seu colo.

- Rayka, fala comigo...amor...olha pra


mim...

Ela abriu os olhos com dificuldade.

- Roxe, você está bem?

- Sim...sim. Eu estou fica comigo agora.

- Roxanne, precisamos levá-la até o


carro.
- Certo...Rayka...fica comigo. Ela está
sangrando Callie!

- Precisamos estancar o sangue. Ou ela


vai morrer de hemorragia.

Callie rasgou um pedaço da camiseta


dela colocando sobre o ferimento.

- Preciso de mais pano.

- Tem uma faca na minha meia...corta


minha calça que é um pano mais firme.

- Shiuuuu não fala nada meu


amor...poupe suas energias.
Callie pegou o punhal e cortou um
pedaço da sua própria calça enrolou na
cintura dela.

- Amor, eu vou dar um jeito de voltar


para você...eu prometo.

- Não fala nada Rayka...

- Acho que ela está delirando.


Precisamos ir.

- Roxanne, eu te amo querida...eu te amo


mais que a mim mesma. Quando chegar
na outra dimensão vou dar um jeito de
voltar para você. Estamos ligadas
lembra?
- Rayka..você precisa parar de falar,
nada disso. Nada de despedidas. Fica
comigo...aqui...nessa vida. Aguenta
firme.

Começou a chorar descontroladamente.


Callie terminou de ajeitar a faixa
improvisada. Estava assustada também.
Os policiais chegaram em seguida.

- Roxe...olha para mim querida...nos


meus olhos...se for a última coisa que
vou ver nesta vida que seja seu olhar.

- Escuta, para de falar isso. A gente está


indo para o hospital e vai ficar tudo
bem.
Mas ela não sabia se iria ficar tudo bem,
porque ela fechou os olhos e a cabeça se
encostou em seu peito. E ela não ouvia
mais nada. Começou a gritar porque seu
peito doía. Um policial arrancou-a dos
seus braços e Callie a arrastava pelo
chão.

- Roxeeeee….não, não, não. Você não


pode desmaiar agora.

Mas ela queria morrer...se Rayka estava


morta, ela não precisava viver também..

- Escuta, ela precisa que você seja forte


agora. Vem comigo, Manu está
esperando lá no carro. Agora cada
segundo conta.
Callie sabia que ela estava em choque.
Sacudiu-a pelos ombros.

- Vamos Roxe reaja! A mãe dos seus


futuros filhos precisa de você.

Futuros filhos? Existia um futuro?

- Ela está viva e precisa de você agora!

- Tem razão...ela precisa de mim.

Levantou-se e começou a correr.

"Não existe morte pior do que a da


esperança, se há alguma minúscula
fagulha de esperança, a vida vence"
(Rei Arthur)
Capítulo 34 - Ohana
Hospital Santa Maria, 5:40
pm

Roxanne andava de um lado para outro


no corredor do hospital. Calliei
amparava Manu que estava visivelmente
abalada. Já tinha quase duas horas que
Rayka estava em cirurgia.

Manu acabou doando sangue, pois ela


precisou de uma transfusão. Roxanne
chorava, depois se acalmava e sentava.
Em seguida chorava de novo. Não sabia
o que seria dela se ela não resistisse.

- Hey Roxe, eu tenho que levar a Manu


para comer alguma coisa e pegar Alana
na creche. Depois eu volto para você
poder ir tomar um banho.

- Obrigada, Callie.

- Você vai passar a noite aqui?

- Sim, eu vou ficar.

- Acho melhor você ir em casa, comer


alguma coisa, tomar um banho e voltar.
Precisamos trazer algumas roupas e
produtos de higiene para ela.

- Eu...não estou conseguindo pensar.


Mas você tem razão. A Alana está na
creche...eu esqueci meu Deus!

- Não se preocupa. Eu vou e volto para


trocar de lugar com você. Manu precisa
mesmo comer e descansar.

- Sim, claro. Obrigada querida.

Callie lhe deu um abraço apertado.

- Vai ficar tudo bem querida. Relaxa.

- Hurum. Obrigada.
E ela ficou ali. Sozinha. Naquela sala de
espera tão fria como estava sua alma
naquele momento. Limpou as lágrimas e
fechou os olhos fazendo uma oração
pedindo ao Universo pela vida de sua
amada.

Não teriam passado por tanta coisa para


acabar assim. Não. Não. Elas teriam um
futuro maravilhoso juntas. Iriam encher
aquela casa grande de crianças, barulho,
festas de aniversário, de vida, de
sonhos.

Apegou-se a essa esperança de um


futuro feliz. Em sua mente passavam
cenas de Rayka. Como era estranho,
como era cega quando a conheceu, suas
memórias iniciais estavam ligadas a sua
risada descontraída, seu cheiro, suas
brincadeiras de chamá-la de Vampira
sexy.

Isso ela fazia até hoje. Como amava seu


jeito adolescente às vezes de rir,
brincar, mas tão madura para outras
coisas. Como ela conseguia ser tão
alegre e sonhadora tendo marcas tão
profundas de uma vida dura, sofrida e
injusta?

Porque ela era seu sol. Porque ela era


toda luz. E essa luz não podia se apagar
tão cedo.
- Sra. Mackenzie?

Levantou os olhos para ver o Dr.


Rosemberg saindo do centro cirúrgico.

- Sim. Sou eu.

- Deu tudo certo. Sua esposa está fora de


perigo.

Automaticamente ela suspirou


profundamente sentindo um peso gigante
saindo de sobre seus ombros.

- Graças a Deus. Obrigada doutor.

- Retiramos a bala que ficou alojada no


pâncreas. Fiz toda uma minuciosa busca
para ter certeza que os demais órgãos
estavam intactos.

Pode ficar tranquila que ela poderá ser


mamãe sem problemas. Esse era nossa
maior preocupação quando vimos o
tamanho da perfuração e a quantidade de
sangue que ela perdeu.

- Estou muito aliviada.

- Nós também. Bem, ela está no pós


operatório em constante observação.
Acredito que a anestesia deve mantê-la
dormindo mais umas duas horas.

Se a senhora quiser pode ir para casa e


voltar depois desse horário. Porque por
enquanto, não é permitida a entrada de
ninguém no pós operatório, por causa
dos riscos de contaminação.

- Sim. Eu entendo. Mais uma vez


obrigada doutor.

- Vou acompanhar toda a recuperação


dela, acredito que se tudo ocorrer dentro
do esperado ela deve ir para casa em
três dias. Repouso absoluto por no
mínimo 15 a 20 dias.

- Certo. Faremos tudo direitinho.

Assim que o doutor afastou-se ela voltou


a chorar. Dessa vez de alívio. Saiu na
rua e pediu um táxi. Nem dinheiro tinha.
Estava toda suja, suada, descabelada.
Mas aliviada e viva como sua esposa.
Isso bastava.

Chegou em casa parecendo um zumbi.


Callie já estava saindo e pegou o mesmo
táxi de volta, prometeu voltar antes que
ela acordasse e subiu para o
apartamento.

Ao abrir a porta foi recebida por um


sorriso mais lindo do mundo que fez seu
coração aquecer.

- Tia Roxe! Lana estava com saudades.

E pulou no seu colo beijando sua


bochecha suja e molhada por lágrimas.
- Oi amorzinho. Desculpe a demora.

- Tia Manu disse que a Kaká está com


dor na barriga e foi para o hospital.

- Isso mesmo. Sabe por quê?

- Lana não sabe.

- Porque ela comeu muito doce antes do


jantar. A barriga dela encheu de
bichinhos e tiveram que fazer um
buraquinho para tirar eles de lá.

Lana fez uma cara de surpresa e desceu


do colo correndo para seu quarto.
- O que dizer nessa hora não é mesmo
amiga?

Manu estava sentada no sofá bebendo


uma xícara de chá para se acalmar.

- Seria tipo: seu pai filho da puta matou


sua mãe drogada, sequestrou a Roxe e
atirou na sua tia Rayka.

Disse desolada.

- Sim Manu. Tem coisas que ela não


precisa saber nunca. Por falar no filho
da puta, ele morreu antes de chegar ao
hospital.

- Foi tarde, aquele filho do capiroto.


- Eu vou tomar um banho e vou voltar ao
hospital. Ela está fora de perigo.

- Ah...Graças a Deus! Tem comida


pronta que a Jess deixou. Eu fico com a
Alana.

- Na verdade quero que todas nós


estejamos lá quando ela acordar. Somos
uma família.

- Tem razão. Precisamos estar juntas.

Lana apareceu arrastando sua mochila


da escolinha.

- Tia Roxe. Lana não vai comer doces


antes do jantar.

Com a carinha triste estendeu três balas


e um pirulito escondido na mochila.
Quem aguentava aqueles olhinhos
amendoados de cílios gigantes todo
brilhante e aquela boquinha vermelhinha
em um bico desolado?

- Isso mesmo Lana. Entregue esses


doces e vou guardar para você. Mais
tarde você poderá comer um. Está bem?

- Lana não quer ir para o hospital.

- Não. Mas você vai para ver a tia Kaká,


está bem?
- Tá bom.

- Vamos lá escovar os dentinhos e tirar


esses bichinhos daí. Eu vou tomar um
banho e a gente sai.

Enquanto ajudava a bonequinha escovar


os dentes pensava no que havia
conversado com sua terapeuta sobre o
fato de Alana referir-se a si mesma na
terceira pessoa.

Ela havia sugerido que devido sua


constante mudança de casa, de abrigos,
de pessoas que cuidavam dela, ela
poderia ter criado um mecanismo de
defesa para proteger suas emoções.
Ela não queria se apegar às pessoas
porque elas vão embora ou a
abandonam. Então ela dizia que era a
Lana. Como se não fosse ela. Quando
alguém a abandonava, teria abandonado
Lana, não a si mesma. Roxanne queria
ajudá-la com isso.

- Tia Roxe, saiu os bichinhos?

Ela deu um sorriso enrugando o nariz


ficando a cara de Rayka. Sorriu.

- Agora sim. Está ótimo assim.

- Lana não quer bichinhos.

- Quem é Lana?
- Lana é eu.

- Lana sou eu, você deve dizer.

- Tia Roxe, a Kaká disse que a mamãe


da Lana tá no céu.

"E seu pai no inferno!" Não diria isso.


Mas pensou.

- Sim, ela está. A sua mãe.

- Lana quer uma mãe na Terra.

- Diga eu quero uma mãe na Terra. E não


Lana quer. Quem é Lana?
- Tia Roxe esqueceu? Eu sou a Lana.

- Que bom. Então diga eu, e não a Lana.

- Eu quero uma mãe na Terra.

- Isso. Você pode ter outras mães.

- Lana quer que tia Roxe seja a mamãe


dela.

Roxanne congelou, levou um susto. Seu


coração ficou apertado, mas de um jeito
diferente. Seria amor aquilo?

- Você quer que eu seja sua mãe?

- Sim. Lana quer que você seja a mamãe


dela.

- Hey...vem cá.

Roxanne colocou-a sentada sobre a pia e


olhou bem nos olhos dela. Suspirou
buscando ar, foi invadida por um
turbilhão de emoções indescritíveis.

- Eu serei sua mamãe. E você precisa


saber de uma coisa. Eu vou me casar
com a tia Kaká.

- Lana sabe.

- Sabe?

- Sabe, porque você beijou a boca dela.


A professora disse que quando beija na
boca tem que casar.

- Essa professora é muito inteligente.


Viu? Nunca beije ninguém, a menos que
esteja pensando em casar. Lembre-se
disso quando tiver 15 anos. Ouça sua
professora.

- Tá bom.

- Então, se eu serei sua mamãe e vou


casar com a Kaká, ela também pode ser
sua mamãe. O que acha?

- Duas mamães?

- Duas mamães. E tem uma coisa. Você


nunca vai voltar para o abrigo ou para
casa de ninguém. Por que você é
nossa...filha! E filhas ficam com as
mamães.

Roxanne começou a chorar. Nunca havia


pensado naquele sentimento estranho
que a invadia agora. Nunca havia
imaginado ter uma filha, uma família,
parecia um sonho tão distante e
inconcebível.

- Lana quer ter duas mamães.

A bonequinha de bochechas
vermelhinhas bateu palmas eufórica e
sorriu daquele jeito que faz o coração de
qualquer adulto derreter.
- Quem é Lana?

- Eu…

- Então diga eu quero. Você pode ter


duas mamães e você pode ter certeza
que ninguém vai te deixar nunca mais.
Ninguém vai tirar você de mim. Você
entendeu?

- Lana... Eu não quero ir embora.

- Você não vai. E você tem uma


família enorme. Sabia disso? Você tem
vovô, vovó, até bisavô e bisavó, tá você
não sabe o que é isso, mas eu vou te
ensinar. E você tem tio e uma tia que vão
amar tanto você.

Eles vão pagar sua faculdade, é isso que


os tios fazem não é? Nossa, são tantas
coisas para pensar…

- Eu tenho Ohana?

- Ohana?

- No desenho da Lilo ela disse que


Ohana é família.

- Isso, Lilo e Stitch. E sabe o que a Lilo


disse também? Que Ohana quer dizer
família, e família quer dizer nunca
abandonar ou esquecer!
Roxanne não conteve as lágrimas. Tratou
logo de limpá-las. Porque estava feliz
demais naquele momento. Ela havia
acabado de se tornar mãe.

- Mamãe Roxe não vai embora?

- Não eu não vou. Eu prometo. Para


sempre Ohana.

- Ohana. Eu gosto muito de você mamãe


Roxe.

- E eu te amo muito minha filha.

Abraçaram-se selando a promessa.

[...]
Roxanne entrou no quarto onde Callie
acompanhava Rayka. Ela ainda não
havia acordado. Estava tão pálida. Seus
lábios estavam embranquecidos, sentiu
um aperto no coração. Pegou Alana no
colo para que ela pudesse vê-la melhor.

- Ela está dormindo mamãe Roxe?

- Está Lana.

- Lana acha que…

- Quem é Lana?

- Eu...eu acho que a mamãe Roxe tem


que beijar na boca. Igual a Bela
adormecida.

- Você acha que funciona?

- Eu acho. Beijo do amor verdadeiro


cura tudo.

- É verdade!

Roxanne inclinou-se e a beijou de leve


nos lábios.

- Acho que precisa demorar mais.

- Ok. Você poderia me ajudar? Talvez


mais amor funcione mais rápido.

Lana beijou-lhe a bochecha enquanto ela


beijou-lhe os lábios.

Rayka mexeu a cabeça para o lado.

- Funcionou mamãe Roxe!

- Você tinha razão Lana.

Rayka abriu os olhos e sua primeira


visão foi os dois rostos que mais amava
nesse mundo. Então ela estava viva! E
não conseguiu segurar as lágrimas. Não
conseguia mexer o corpo direito, mas foi
invadida por tamanha felicidade que
suspirou aliviada.

- Oi amor, bem vinda de volta.


Roxanne beijou-lhe novamente os
lábios.

- Eu amo vocês. Eu disse que iria voltar.

- Ohana!

Lana falou eufórica. Manu e Callie


aproximaram-se também e em um abraço
coletivo e repetiram:

- OHANA!
Capítulo 35 - Eu
Aceito
Miami, 5:05 pm 28 dias
depois.

- Pelo amor de Deus Roxanne, fica


quieta no lugar, vai ficar toda suada e
fedida e vai amassar todo o vestido.
- Você tem certeza que está tudo em
ordem Manu?

- Pela milésima vez eu vou dizer: Está


tudo em ordem. O jardim está lindo,
todo decorado com luzes led, rosas
brancas, todos estão nos seus lugares, a
banda está tocando...tudo do jeito que
você pediu.

- E você viu Rayka? Ela está bem?

Manu retocava a maquiagem pela


décima vez, porque Roxanne já tinha
chorado várias vezes estragando tudo.

- Ela está linda. Perfeita como uma


noiva deve estar.
- Eu não sei se consigo fazer isso. Minha
bombinha Manu, vou ter um infarto
fulminante, me socorre.

E começou a suar frio, respiração


acelerada, estava tendo um ataque de
pânico no dia do seu casamento! Céus!

- Vou te dar um tapa na cara isso sim!


Fez eu borrar de novo. Respira mulher.
Ela não vai fugir. Isso eu te garanto.

Roxanne abanava-se buscando acalmar-


se. Pensou tanto naquele dia, só queria
que fosse perfeito. Sua mãe cuidara de
tudo, mas certificou-se de cada detalhe.
Para o Buffet ela quis que fosse servido
comida japonesa para relembrar o
primeiro encontro, o bolo era com
recheio de morangos, sobre piscina foi
montada uma estrutura metálica toda
iluminada com mini lanternas onde
foram penduradas todas as fotos que
tinham juntas em mini molduras de
corações.

Alana levaria as alianças, seu pai a


levaria ao altar montado no jardim
saindo de dentro da casa. Rayka seria
levada pelo seu avô chegando pelos
fundos de carro dirigido por Maycon,
que seria seu padrinho com Tessa,
Manuela e a policial Callie.
- Terminei. Por favor não se mexa. Eu
vou ver se já podemos começar.

- Não...não me deixa sozinha. Meu


Deus! Os votos! Esqueci de pegar o
rascunho.

- Calma mulher, está aqui. Eu sabia que


iria esquecer. Veja se não sou a melhor
madrinha que você tem.

- Hum...eu te amo.

- Você está linda. Eu vou verificar se


está tudo pronto. Não saia daí.

Ela estava deslumbrante em um vestido


todo trabalhado em renda que imitavam
rosas, sem mangas, levemente rodado,
comprido e acinturado com um laço
pequeno na parte de trás onde suas
costas estavam desnudas. Os cabelos
lindamente cacheados e soltos. Perfeita!
Bateram à porta.

- Entra.

Era seu pai elegantíssimo em um


smoking estiloso com gravata prateada.

- Oi Princesa. Como você está linda


minha filha.

- Papi, você também. Está um gato.

- Chegou a hora.
- Acho que vou desmaiar.

- Não vai não. Nenhum Mackenzie foge


das suas responsabilidades. A gente
encara o perigo de frente. Estou tão feliz
por você.

- Eu também. Obrigada por ser meu pai.


Não haveria outro melhor.

- E você, obrigada por ser você. Eu te


amo muito. Eu queria entregar meu
presente antes da cerimônia.

- Mais presente? Mais do que o senhor


já fez?
- Esse é especial.

Dizendo isso ele entregou lhe um


envelope. Pensou que era um cheque.
Mas era um documento. Certidão de
Nascimento.

- O que é isso Papi?

- Leia.

- Certificamos…..bla bla bla… que


Alana Rivera Mackenzie, passa a
usufruir os direitos de filiação de :
Valentina Rayka Rivera Mackenzie e de
Roxanne Mackenzie.

Roxanne parou de respirar. Abriu a boca


em um "O" perfeito enquanto era
amparada pelo pai sorridente.

- Visto que os pais morreram,


tecnicamente ela seria adotada. Com
alguns contatos consegui a filiação dela
em vez da guarda permanente. Achei que
era o melhor para ela e para nós. O que
acha?

- Eu...

Já estava chorando de novo. Abraçou-o


emocionada.

- Eu não posso chorar a Manu vai me


matar. Isso quer dizer que eu sou mãe
oficial de Alana?
- Sim, e eu avô. Tem presente melhor
que esse?

Não.Roxanne não poderia estar mais


feliz. Manu lhe deu vários beliscões por
ter chorado de novo.

- Ela chegou...vamos. A banda está a


postos. Trouxe o microfone. Tem certeza
que não vai desmaiar e cair dentro da
piscina?

- Obrigada Manu, pelo apoio.

- Tudo é possível com vocês duas.


Nunca vivi tantas emoções ao extremo.
- Estou pronta.

[...]

- Eu não estou pronta Callie...eu vou


desmaiar eu sinto isso...preciso de
ar...onde foi parar o ar desse carro?

- Calma Rayka, respira ok? Você


consegue. São dez metros apenas de
corredor. Aqui está seu buquê. Lembra
que eu te falei, joga na direção da Manu,
quem sabe assim ela aceita meu pedido
de namoro.

- Certo. Vou tentar, vê se a coloca na


frente.
- Rayka, ela chegou.

Maycon abriu a porta da Mercedes para


que ela descesse. Callie desceu
primeiro ajudando-a ajeitar o véu.
Estava maravilhosamente linda em um
modelo tomara que caia justo
modelando perfeitamente seu corpo
curvilíneo e mais alargado próximo as
panturrilhas como uma sereia.

Branquíssimo forrado de mini pérolas


brilhantes. Seu cabelo lindamente
trabalhado em um coque trançado com
alguns cachos soltos e uma linda coroa
que segurava o véu comprido que
tampava suas costas desnudas,
Maquiagem leve, mas bem feita
deixando seus lábios em completo
destaque no batom vermelho. Um colar
de pérolas também e lindos brincos do
mesmo tipo que eram da vovó Angélica.
Rayka ficou emocionada de usar algo
tão bonito e carregado de sentimentos da
família. Sua família.

- Você está...linda de morrer. Eu não sei


se Roxanne vai aguentar ficar de pé.

- Ela que lute! Vamos.

Sob os acordes do violino e do piano


elas iriam caminhar uma ao encontro da
outra, se encontrariam embaixo das
lanternas na ponte sobre a piscina e
seguiriam ao altar montado de frente,
entre as árvores naturais carregadas de
leds, onde os convidados, poucos, mais
a família e amigos próximos
aguardavam.

Quando Rayka pisou no gramado fez


uma prece rápida de agradecimento por
tamanha felicidade. Sim, essa era a
palavra. Sentimento de plenitude,
completamente realizada. Mais feliz
ainda quando sob os acordes daquela
música que amava: A Thousand Years,
ouviu a voz da sua amada cantando para
ela enquanto andava em sua direção
olhando-a diretamente nos olhos, sim,
aqueles olhos de pantera. Se perdeu
facilmente naquelas esmeraldas
cintilantes. Só tinha olhos para sua
amada.

Não só Rayka estava chorando


emocionada, mas todos os convidados,
até o sr. Mackenzie durão estava muito
emocionado. Roxanne tentou segurar,
mas a voz denunciou sua emoção quando
estavam muito próximas e ela repetiu:

- Eu te amei por mil anos e Eu te amarei


por mais mil.

O sr. Mackenzie apertou a mão do vovô


e entregaram as mãos das noivas.
Roxanne beijou a testa da sua amada
sorrindo daquele jeito que ela amava e
entrelaçaram os dedos seguindo até o
altar. A cerimônia foi sucinta e bem
objetiva, então o juiz de paz pediu que
trouxessem as alianças.

Em um momento para lá de emocionante


surgiu a bonequinha de bochechas
vermelhas em um lindo vestido de
princesa todo branco com detalhes em
dourado de pequenos raios de sol,
segurando uma cestinha toda decorada
em pequenos girassóis. Ela sorria e
parava para as fotos arrancando sorrisos
da plateia.

Rayka foi a primeira a pegar a aliança e


olhar nos olhos verdes da sua vampira,
aqueles olhos que sempre estiveram em
seus sonhos salvando-a, guiando-a,
olhos que fascinam sua alma, iluminando
sua vida. Ela posicionou a aliança no
dedo anelar da sua amada e disse:

- Roxanne Mackenzie, eu Valentina


Rayka Rivera Mackenzie...te aceito
como minha esposa e prometo amá-la,
respeitá-la, falar quando você precisar
ouvir e escutar quando você precisar
falar. Desde o primeiro dia que te vi eu
soube que estávamos predestinadas de
alguma forma a nos encontrarmos.

Não prometo que tudo será fácil, você


sabe que meu apelido é furacão...ah...foi
você que colocou. Mas já provamos que
nosso amor é forte, eu dou todo o meu
amor a você sabendo que também sou
amada.

Minha esposa é gentil, minha esposa é


dedicada, amorosa, verdadeira, linda,
põe linda nisso, e sincera. Minha esposa
é todas essas coisas, e o mais incrível:
minha esposa é você e eu quero ser para
sempre sua.

Ouviu-se um coral de ohhhhh e fungadas


de narizes. Roxanne sorria sem poder se
conter de emoção, Rayka beijou sua
mão. Roxanne pegou a aliança respirou
fundo e olhou nos olhos de sua esposa,
ainda mais linda e radiante.

- Valentina Rayka Rivera Mackenzie, eu


Roxanne Mackenzie, te aceito como
minha esposa. Eu me comprometo a
amá-la completamente em todas as suas
formas e jeitos. Prometo que nunca vou
esquecer que esse é um amor para toda a
vida.

Soube disso no momento que me


atropelou na porta daquele restaurante, e
roubou meu coração. Eu não te via, mas
eu te amei porque minha alma passou a
vida toda te buscando.

Eu estava perdida na escuridão dos


meus olhos e na solidão de um coração
gelado. E você My Sunshine, aqueceu
meu coração e me trouxe para o lado
divertido da vida. Tudo que eu quero é
compartilhar cada dia da minha vida
com você e com nossa filha que você me
deu.

E sempre sabendo na parte mais


profunda da minha alma que não importa
quais desafios tentem nos separar,
sempre encontraremos o caminho de
volta uma para o outra. Eu te amo hoje e
te amarei mil anos mais.

Manu emocionada agarrou-se a Callie.

- Eu aceito! - cochichou

- Hã?

- Namorar com você. Desistiu?


- Nunca. Eu te amo!

- Eu, em nome da lei dos Estados


Unidos da América, as declaro casadas.
Podem selar a promessa com um beijo.

O beijo era doce, mas ao mesmo tempo


com um leve sabor salgado das lágrimas
misturadas aos sorrisos. Essa mistura de
sensações que sempre as definiram.
Abraçaram-se sentindo o pulsar
acelerado do coração uma da outra.

O sol se pôs enquanto elas se abraçavam


e os refletores começaram a dança de
jogo de luzes douradas sobre elas.
Roxanne sonharia com aquele momento
para sempre, e Rayka pintaria uma obra
de arte sobre isso, afinal sua esposa já
estava pintada na tela da sua alma.

Fogos de artifícios dourados e brancos


em cascata foram soltos em sincronia.

- Eu te amo My Sunshine.

- Eu te amo muito mais minha vampira


sexy. E você me deve uma noite de
núpcias há mais de um mês! Estou
praticamente virgem.

Falou no seu ouvido fazendo-a corar


violentamente assim como foi no início.
E Roxanne soube que seu futuro nunca
seria monótono com Rayka. A felicidade
estaria para sempre intacta, sim, desde
que sua Latina estivesse ao seu lado.

- Então vamos apressar essa festa. O que


acha da gente sumir de repente e acordar
em Bahamas?

- Ótimo. Temos muito o que colocar em


dia.

E Roxanne a fitou com aquele sorriso


torto que ela amava e aqueles olhos que
nunca se cansaria de admirar, viveria
para sempre agora presa "Sob o seu
Olhar".

FIM
Epílogo
Greenwich Village, 4:40
pm

Dois anos depois.


- Tomaz, você sabe se os fornecedores
de café entregaram aquela remessa
especial que eu pedi semana passada?
- Sim chefa. Está aqui o recibo da
entrega. Mandei colocar na parte de
cima do depósito para não ter contato
com o chão frio e modificar o sabor dos
grãos.

- Nossa, quanta eficiência. E já disse


para não me chamar assim. Rayka está
ótimo como sempre.

- Sim chefa.

Rayka beliscou o braço do seu amigo


que agora era o gerente do seu café
Sweet Point. Ficava duas quadras de
casa bem em frente a uma livraria
famosa. No começo ela cuidou sozinha
da loja, era só um café com ótimos
doces e salgados.

Mas a clientela foi crescendo e agora já


era um espaço enorme com mesas e
sofás confortáveis, um espaço de leitura
gratuita com vários livros que as
pessoas podiam levar para casa, ler e
devolver, ou trocar. Virou point de
adolescentes e jovens universitários e
principalmente dos fãs de Roxanne.

Não tinha como ser diferente. Nas


paredes vários desenhos em grafite ou
telas pintadas da sua musa que chamava
de esposa. Já na entrada tinha uma
pintura dos olhos de Pantera que
costumava sonhar. Não tinha um fã que
não tirasse uma foto. Roxanne nem podia
aparecer ali pela porta da frente.
Geralmente ela entrava pelo escritório
nos fundos. E às vezes fugia às
escondida.

Isso algo que ela teve que se acostumar.


Costumava ser bem educada com os
fãs,mas com os paparazzis não tinha
muita paciência. Nesses dois anos havia
gravado dois álbuns, o primeiro
intitulado de This is Roxanne.

E agora estava na Flórida terminando


uma turnê de divulgação do segundo
chamado This Love. Ela estaria de volta
no dia seguinte e sairia de férias para se
dedicar a família.
Rayka passou tanta raiva nesses dois
anos. Era tanta mulher, homem dando em
cima da sua esposa. Chegou a socar a
cara Rebecca Vives.

Aquela empresária do adultério que


comia sua esposa com os olhos. Um dia
chegou no estúdio e ela acariciava as
costas da sua esposa. Outro dia no
camarim entrou sem bater e ela estava
inclinada sobre a mesa de maquiagem
com os seios quase esfregando na cara
de Roxanne.

Foi demais para seu sangue Latino.

- Hija de una perra! Sua sem vergonha


eu vou te mostrar como manter distância
da minha mulher!

- Rayka!!!

Roxanne agarrou-a pela cintura e Manu


entrou no meio levando chutes e
safanões. E Roxanne dizia que era coisa
da sua cabeça. Ah tá. Roxanne teria que
trocar de empresária ou de esposa.
Inteligente trocou de empresário.

- Tudo pronto chefa. Pode ir para casa


descansar que eu e a Teddy fechamos
tudo.

- Ótimo. Eu estou parecendo uma baleia


orca com essa barriga. Vou levar meia
hora pra chegar em casa.
- Não é melhor chamar um táxi?

- São duas quadras, Thomaz. Eu


consigo.

- Não sei não. Se a sra Vampira souber


disso vai me arrancar o fígado.

- Ela está na Flórida meu bem. Eu vou


indo.

- Acho melhor ir de táxi.

A porta da frente abriu para uma policial


linda encher o ambiente com seu sorriso
encantador.
- Callie!

- Sabia que iria estar trabalhando. Não


devia estar em repouso?

- Aff... até você? Basta minha mãe em


casa dizendo para eu dormir toda hora.
Gravidez não é doença não gente.

Sua mãe veio do México há um mês para


ajudar cuidar do bebê e da Alana, agora
com cinco anos.

- Mas está quase chegando o dia não é?

- Dez dias e nove horas.

Rayka alisou o ventre carinhosamente.


- Nossa, não está nada ansiosa, contando
até as horas!

- Não vejo a hora de ver a carinha dele.


Senta aí que vou lhe servir o melhor
cupcake de Nova York, e aquele café
com baunilha que você adora.

- Por que você acha que venho aqui?


Para te ver?

- Claro que não. Sua folgada.

- Já escolheu o nome?

- Foi uma briga, ainda estamos


decidindo.
- Ainda?

- Acho que só quando ver a carinha dele


poderei ter certeza.

- Que fofo.

- E aí... saudades da noiva?

- Nem me fala. O que será de nós toda


vez que elas tiveremque ficar longe tanto
tempo?

- Eu que sei? Não me aguento de


saudade e de ciúmes. Você sabe que a
mulherada cai em cima mesmo. Homens
então…
- Boba. Roxanne só tem olhos pra você.

- Pois é bom que mantenha-os em mim.


Você está de viatura aí?

- Sim. Quer uma carona?

- Sim. Graças a Deus. Não estou nem


enxergando o chão mais. Tem como
esticar mais?

Rayka ergueu a bata e Calllie passou a


mão admirada.

- Nossa. Ele está mexendo?

- Mexendo? Ele deve ser sambista. Não


pára um minuto sequer. Principalmente a
noite. Estou dormindo sentada.

- Então vamos. Precisa descansar.


Delicioso o café como sempre.

- Thomaz, estou indo querido. Qualquer


coisa me liga.

- Sim chefa. Pode deixar. Está tudo


tranquilo. Vai descansar.

Saíram para a tarde fresca de outono.


Callie ajudou-a descer do carro. Assim
que atravessaram o gramado Lana
apareceu correndo com um livro nas
mãos.
- Mamá...olha só que a vovó me deu.

- Uau...um livro do pequeno Príncipe.


Que fofo.

- Está em espanhol olha Mamá. Eu sei


ler: El Principito.

- Mas gente que lindeza da Mamá!


Felicitaciones Chiquita!

Ela correu de volta para a vovó que


sorria sentada na varanda da casa
confortável na cadeira de balanço.

- Cada dia me apaixono mais por essa


menina Rayka.
- Não é linda? Está falando espanhol
com a vovó e fica toda metida.

Rayka deu um passo para subir a escada


sentiu um choque na espinha. Essas
dores nas costas iriam acabar com ela. E
sua esposa nem estava ali para fazer
aquela massagem que adorava. Deu mais
um passo e recuou de dor.

- Rayka?

Calie já segurou-a pelo braço.

- São essas dores nas costas. Só preciso


me sentar.

- Tem certeza?
- Tenho sim Callie. Me ajuda a subir
essas escadas porque não enxergo meus
pés. Aí... Mierda!

- Rayka, isso está estranho não?

- Callie….

Rayka deu um grito se contorcendo


todinha. Sua mãe correu ampará-la.

- Filha? O que você sentiu?

- Só uma dor nas costas. Uma tontura,


mas não é nada Mamá.

- Ah é sim. Seu filho está nascendo ou


você fez xixi na roupa!

- Quê?

Rayka e Callie olharam para o chão


constatando a verdade.

- Callie, leva ela de volta para a viatura.


Eu vou pegar a mala do hospital. Lana,
segura a mão da Mamá, o seu irmão vai
nascer!

E ela saiu em disparada para dentro da


casa. Rayka gemeu de novo e Callie
segurou em sua cintura.

- Meu Deus, não faltavam dez dias?


- Eu não posso fazer isso sem a
Roxe...meu Deus!

- Consegue sim. Vamos para a viatura.

- O bebê quer sair Mamá?

- Ele quer Lana. Fala para ele esperar a


mamãeRoxe.

- Espera a mamãe Roxe chegar bebê.


Fica quietinho.

- Isso Lana...fala com ele porque se a


Roxanne não estiver aqui eu vou surtar.

A vovó apareceu com a mala e uma


bolsa, jogou no porta mala da viatura.
Em cinco minutos estavam cortando o
trânsito com a sirene disparada.

Lana passava a mão na sua barriga dura


parecendo que iria explodir a qualquer
momento, a vovó segurava a mão da
filha com a neta no colo e Callie
buzinava e xingava todo mundo a sua
frente.

Em dez minutos estavam no hospital.


Callie correu à frente para pedir uma
cadeira de rodas enquanto ligava para
Manu. Rayka suava frio.

- Manu? Oi amor, olha sem enrolação.


Vocês precisam voltar agora!
- Mas o que houve? Roxanne ainda tem
uma entrevista agora na rádio UOL.

- Cancela. Rayka vai ter o bebê.

- Agora?

- Agora. Estamos no hospital e ela está


amaldiçoando a Roxanne com todos os
nomes possíveis.

- Por Deus!

Callie desligou. Pegou Rayka com


cuidado e ajudou o enfermeiro colocá-la
na cadeira. A mãe da Rayka já estava
fazendo a ficha de entrada segurando
Lana pela mão e Callie segurava a sua.

- Onde está a hija de una perra da


minha esposa?

- Eu já avisei.. logo mais elas estarão


aqui.

- Logo? Logo quando? Quando eu


partir?

- Oh céus! Manu saberia o que fazer


aqui! Vamos tentar acalmar um pouco.

Enquanto isso na Flórida:

- Caramba! Roxanne?
Ela saia do banho quando Manu entrou
no banheiro como um raio.

- Manu? Está branca! O que houve?

- Rápido! Se troca. A gente tem que ir.

Dizendo isso saiu em disparada pelo


quarto pegando as malas e jogando tudo
dentro.

- Manu...a gente tem tempo ainda.


Calma!

- Se você não estiver em Nova York


daqui a pouco sua mulher te mata.

- Por quê?
- Porque seu filho está nascendo!

- Hã?? Não... está marcada uma Cesárea


para daqui dez dias.

- Pois é, como nada é normal nessa


família ele resolveu chegar hoje. Rayka
está no hospital. Vamos...a gente precisa
de um voo.

- São duas horas até Nova York! E


agora?

- Não temos duas horas!

Manu colocou as mãos na cabeça


desesperada.
- Já sei! Helicóptero! Vamos fretar um.

- Vai demorar mais. Precisamos de um


jatinho. Centenas de dólares isso
Roxanne.

- Dá um jeito Manu. Eu tenho que estar


segurando a mão da minha esposa ou ela
me mata! Quanto vale a minha vida?

- Ok. Então vamos. Melhor não arriscar.


Quarenta e cinco minutos estaremos lá.
No máximo uma hora. Corre Roxanne,
Callie está apavorada.

Rayka fez uma ultrassonografia que


mostrou que o bebê havia virado para a
posição de parto normal. Até semana
passada estava atravessado no útero
então a doutora Althermam havia
sugerido a Cesárea.

Mas parece que o pequeno Príncipe


Mackenzie gostava de causar igual a
mãe Roxe. As dores pioraram quando a
colocaram no soro para que acelerasse a
dilatação.

Callie achou que perderia os seus dedos


de tanto que ela apertava sua mão. Já
tinha passado mais de uma hora.

- Calma Ray. Pensa em uma coisa


engraçada...sei lá para desviar a
atenção.
- Certo. Vou te contar como a Roxe ficou
sabendo que eu estava grávida.

- Isso. Vamos me conta.

- Cacete! Maldita vampira!!

- Calma...vamos pensar em coisas


boas…

- Então, foi assim. Nós fizemos três


sessões de inseminação artificial.
Depois da segunda vez não dar
resultado, preferi esperar até ter certeza
que era real. Estava muito enjoada e
sentia náuseas do cheiro do meu
delicioso café. Alguma coisa estava
errada.

Fui no laboratório fazer o exame e deu


positivo. Então liguei para Roxe que
estava no estúdio e chamei para almoçar
comigo no nosso restaurante. Você sabe
qual é Callie?

- Sim, o japonês.

- Isso. E pedi para colocarem dentro do


biscoito da sorte a palavra: Positivo.

- Que romântico.

- Aí mierda!

- Respira fundo Ray.


- Nunca tenha um filho Callie. Minha
vagina está rasgando. Socorro!
Miserável Vampira!

- Continua a história!

- Ah tá... então. Eu sentei lá e esperei a


minha linda esposa chegar. Tive que
esperar mais meia hora de fotos,
autógrafos. Queria morrer!

- Imagino...continua.

- Então a gente….aí….cacete!

- Concentra! Biscoito!
- Isso...a gente comeu e eu pedi o
biscoito.

- Certo.

- Ela mordeu. Tirou o papelzinho de


dentro e disse:

"Está dizendo para eu ser positiva!"

- Não!

- Sim, ela é tão lerdinha ainda para


algumas coisas.

- Estou vendo! Continua.

- Isso ri mesmo. Não é você que está


parindo! Jesus!

- Concentra na história.

- Eu disse Parabéns Roxe. Você


conseguiu. E ela ficou me olhando com
cara de paisagem. Quase enfiei aquele
papel na boca dela. Mas apenas sorri e
disse: Roxe, deu positivo. Pensa! O que
você está querendo tanto?

E a desgraçada riu daquele jeito safado


passando a mão por debaixo da mesa
nas minhas partes baixas que estão
sendo dilaceradas agora. Roxe nunca
mais vai querer…

- Concentra Ray!
- Ah tá...eu peguei o exame e coloquei
na mesa e disse: vê se você sabe ler
pelo menos Sherlock Holmes.
Romantismo foi para o saco.

- Ahhh mas ela deve ter enlouquecido.

- O que? Ela começou a pular e me


pegou no colo e todos olhando para nós.
E foi tão gostoso aquele sorriso lindo
enchendo minha alma.

- Que fofo!

- Fofo o caramba. Liga pra ela agora.


Liga….agora Callie!
- Ok. Calma.

Callie discou para Roxanne.

- Estão chegando? As coisas estão um


pouco tensas aqui.

- Me dá esse telefone.

Rayka pegou o celular. Estava toda


molhada de suor. Até respirar doía.

- Roxanne Mackenzie!! Se você não


estiver aqui quando seu filho nascer eu
vou arrumar outra mãe pra ele.
Aí….Mierda!

- Aí meu Deus... socorro. Está


sangrando. Vou chamar a doutora.

Callie saiu correndo desesperada pelo


corredor na mesma hora que Roxanne
entrava como um foguete.

- Callie! Onde ela está?

Graças a Deus! Na sala pré-parto. Vou


chamar a doutora. Está nascendo.

Roxanne entrou com o coração


disparado a mil por hora.

- Eu vou te matar Hija de una perra!

- Meu amor...como você está?


- Eu acho que não vou conseguir meu
amor…

E ela caiu no choro. Roxanne sabia que


eram os hormônios. Levavam sua esposa
ao extremo do oito ao oitenta em três
segundos.

- Vai sim... porque eu cheguei amor. Vai


ficar tudo bem.

- Sra Mackenzie. Chegou bem na hora.

- Olá doutora Althermam. Como ela


está?

- Ótima!
- Não estou não...estou morrendo. Eu
vejo uma luz no fim do túnel Roxe.

- Sra Mackenzie, pode vestir essa roupa


esterilizada, por favor?

- Sim. Obrigada.

- Estamos indo para a sala de parto. 10


de dilatação... passagem perfeita, está
coroando.

- Eu sabia...ele vai nascer com uma


coroa Roxe... é um príncipe mesmo.

- Shiuuuu...agora fica tranquila, sem


falar mais nada...concentra tá? Vai dar
tudo certo e você nem vai lembrar mais
dessas dores.

- É um parto Roxanne, não Alzheimer.


Não vou esquecer nunca mais…

- Vamos doutora pelo amor de Deus!

Roxanne suava frio também, seu coração


sambava no peito, as lágrimas desciam
quentes. Ela ficou ali ao lado do rosto
da sua esposa Linda que delirava,
xingava, falava rápido em espanhol e de
repente ficava calma e chorava. Ela
beijava seu rosto, arrumava seu cabelo.
Falava palavras doces no seu ouvido.

- Eu te amo Ray. Nosso príncipe está


chegando.
- Como ele vai chamar então?

- Vamos esperar a carinha dele. Eu


queria Leonardo e você disse que
parecia as tartarugas ninjas. Eu queria
Vincent e você disse que é marca de
cigarro em Cuba.

- Meu filho não tem cara de cigarro.


Vamos esperar mesmo.

Então ela deu um grito forte apertou seus


dedos na mesma proporção e Roxanne
tinha certeza que tinha quebrado pelo
menos dois. Mas então tudo parou ao
redor delas. Só existia um som. O choro
do pequeno Príncipe.
- Aqui está o Príncipe! Parabéns
mamães.

Rayka sorria e chorava ao mesmo


tempo, Roxanne sentiu as pernas
bambas.

- Nada de desmaiar sra Mackenzie! Está


mais pálida que o lençol.

- Roxe?... Roxe?

- Ah não! Enfermeiros!

Tempos depois estavam no quarto.


Rayka com seu bebê enrolado ainda nos
panos do hospital mamando como um
bezerro. Nasceu pesando 3.550 kilos. 51
cm. E Roxanne acordou sentindo gotas
de água gelada no rosto. Deu de cara
com Callie e Manu rindo dela.

- Aleluia Roxe!!! O Príncipe já está


fazendo aniversário aqui.

Manu disse fazendo todas rirem.


Roxanne deu um pulo da maca
aproximando-se da sua esposa Linda e
aquele pacotinho enrugado todo fofo que
a fez chorar.

- Olha só quem acordou filho! Sua mãe


Roxe. Diga oi pra ela.

- Ele é lindo! Tem seus olhos!


- Claro que é. E tem cara de Príncipe
Louis Arthur.

- Louis. Sim, ele tem cara de Louis


Arthur. Obrigada meu amor.

- Manu tirou várias fotos de você


desmaiada. Vamos colocar na caixa de
memórias.

- E eu não sei? Piada da reunião de


família.

- Eu te amo tanto Roxe.

- Eu também amor. Agora nossa OHANA


está completa.
- Está sim.

Roxanne era a mulher mais feliz do


mundo. Ao olhar para trás e ver sua
trajetória, acreditava ainda mais que
Rayka era seu raio de sol permanente.
Não tinha nada que elas juntas não
pudessem superar. Elas se completavam,
se entendiam com um olhar apenas.

Brigavam sim, para depois correrem


para os braços uma da outra aos
pedaços buscando o conforto
necessário. Elas tinham ligação de
almas.

Encontrar alguém para amar e ser amado


é um sentimento maravilhoso. Mas
encontrar uma alma gêmea é um
sentimento ainda melhor.

Uma alma gêmea é alguém que te


entende como nenhuma outra pessoa, que
te ama como ninguém, que estará ao seu
lado para sempre, independente do que
aconteça, irá mais do que te completar,
mas sim, te transbordar. As diferenças
se completam e há uma harmonioso
equilíbrio. Era isso que as duas tinham.

Dizem que nada dura para sempre, mas


Roxanne tinha certeza que, na verdade,
para algumas pessoas, o amor era ainda
mais forte que a morte. Capaz de
transpassar universos paralelos e
reencontrar o mesmo coração para se
abrigar, simplesmente porque sua
existência depende disso. E seu coração
era todo de sua Latina, e seria para
sempre assim…

Fim
Referências Musicais

BEYONCÉ. Halo. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?
v=bnVUHWCynig Acesso em
30/01/2021.

CABELLO, Camila. Never be the


same. Disponíve em:
https://www.youtube.com/watch?
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30/01/2021.

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30/01/2021.

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https://www.letras.mus.br/andra-
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em 30/01/2021.

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love you. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?
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Acesso em 30/01/2021.

IORC, Tiago. My Girl. Disponível em:


https://www.letras.mus.br/tiago-
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JHONSON, Bryan e Jen. Youare gonna


be ok. Disponível em:
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LAVIGNE, Avril. When you're gone.


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em Acesso em 30/01/2021.
LEGEND, Jhon. All of me. Disponível
em: https://www.letras.mus.br/john-
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Acesso em 02/02/2021.

SIA. Titanium. Diaponível em:


https://www.letras.mus.br/sia/1944370/#r
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SHEERAN, Ed. Perfect. Disponível


em: https://www.youtube.com/watch?
v=2Vv-BfVoq4g Acesso em
30/01/2021. E Photograf. Disponível em
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v=nSDgHBxUbVQ Acesso em
30/01/2021.
SPARKS, Jordan. This is my now.
Disponível em:
https://www.letras.mus.br/jordin-
sparks/1002415/
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30/01/2021.

STEINFELD, Hailee. Flashligth.


Disponível em :
https://www.letras.mus.br/hailee-
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Acesso em 30/01/2021.

SWIFT, Taylor. You Need To Calm


Down. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?
v=Dkk9gvTmCXY Acesso em
30/01/2021.

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