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Julianna Costa

Alguns Dias

São Paulo
2017

Gogo Books
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610
de 19/02/1998.

Este livro, ou qualquer parte dele, não pode ser


reproduzido por quaisquer meios sem prévia autorização expressa
da autora.
Um.
Quando eu aluguei aquela casa adorável em um dos meus
bairros favoritos da cidade, eu sabia que o jardim iria exigir
muita dedicação. Sabia que não haveria espaço na garagem para
minhas três pranchas de surf. Também sabia que a piscina
precisaria ser drenada antes de ser usada pela primeira vez.
Eu sabia disso tudo.
A única coisa que eu não sabia sobre aquela casa, é que
ela era vizinha da porta do inferno.
Há um ano eu estava no meu novo emprego, em uma nova
cidade.
Há um ano eu a conhecia e trabalhava na sala em frente a
sua.
Há um ano eu amaldiçoava os dias de semana que precisava
encará-la e abençoava os fins de semana em que tinha algum
descanso de seu veneno.
Trabalhar com Dominique Thoen era excelente para minha
profissão e péssimo para o meu humor.
Ela era uma bruxa. Mas usava o Direito a seu favor como
poucas pessoas na Terra jamais ousaram fazer.
No escritório, muitos a chamavam de "tubarão"… Era bem
apropriado: a mulher sentia cheiro de sangue na água a léguas de
distância, e destroçaria qualquer um que caísse entre suas muitas
fileiras de dentes afiados.
No entanto, eu preferia pensar em Dominique como um
furacão. Uma força da natureza que não pode ser contida, deixando
para trás vítimas que, mesmo que conseguissem sobreviver, nunca
poderiam sair ilesas do trauma.
Mas era bom estar no time dela. Em qualquer causa que
trabalhávamos juntos, eu sempre tinha certeza da vitória. Não era
apenas confiança no meu talento. Era confiança nas muitas
fileiras de dentes da Força da Natureza.
Seria Dia dos Namorados em três dias.
Logo depois que concluí minha mudança.
Finalmente abandonei o loft apertado por uma casa ampla
com espaço suficiente para ter paz e um cachorro.
Eu estava feliz.
Pelo menos até começar a distribuir algumas pequenas
cestas que comprei para os vizinhos.
Eu queria causar uma boa impressão e fazer amizades na
vizinhança.
Mas não haveria boa impressão na casa a direita da minha.
Não haveria amizade.
Eu ainda era inocente quando toquei a campainha com um
sorriso no rosto e boa vontade no coração. Segurava a cesta bem
servida a minha frente como uma oferenda dedicada e cortês. Havia
um bom vinho e um bom espumante ali. Havia bolos e enlatados de
preço razoável. Alguns doces, queijos e castanhas.
Eu estava muito satisfeito tocando aquela campainha. Os
três outros vizinhos tinham sido simpáticos ao me convidar para
entrar e beber algo entre votos de boas vindas. Estava sendo um
sábado adorável.
Até ela abrir a porta.
Usava calças de pano cinza que colavam em seus quadris e
uma camiseta branca semitransparente que já seria imoral o
suficiente não estivessem seus mamilos em evidência por causa do
frio.
Para meu eterno sofrimento, eu não consegui desviar o
olhar de seus mamilos rápido o suficiente. O que seria péssimo
fosse minha vizinha qualquer mulher normal. Mas não… minha
desgraça era ainda mais profunda.
- Thoen? - gaguejei.
"Por favor, que ela esteja visitando alguém" foi tudo que
consegui implorar aos Céus.
Mas os Céus deveriam estar ocupados com pedidos em
excesso.
- Holt? Que está fazendo aqui?
Eu engoli em seco aceitando minha desgraça.
- Eu me mudei. - sorri, amarelo - Para aquela casa. -
indiquei com o queixo.
O olhar de Dominique se arregalou quando sua boca se
entortou em uma carranca do mais profundo desagrado.
- Pois é. - suspirei, diante de sua expressão de evidente
horror - Também achei bem legal.
- Está me perseguindo, Holt? - ao contrário de todos os
outros vizinhos que me convidavam para entrar, Dominique tinha
dado um passo para fora da porta e estava quase me tangendo para
longe da sua varanda, como faria a um animal.
- Só uma cesta de cumprimentos, Thoen. - entreguei a cesta
e, pela primeira vez, percebi que não mais a segurava como uma
oferenda e sim como um escudo.
- Saia da minha porta ou chamo a polícia.
Eu expirei profundamente.
- O que foi? - rosnou, antipática.
- Você é mesmo incrível.
- Obrigada. - sibilou estalando os lábios como fariam as
cobras, se tivessem lábios.
- Não foi um elogio. - murmurei, agarrando-me a minha
cesta.
- Nunca é. Tenha um bom dia. - não parecia que ela queria
que eu, de fato, tivesse um bom dia.
- Por que você precisa fazer isso? - minha mente girou
depressa e eu sabia que ia me arrepender daquilo - Você dá uma
nova dimensão para a palavra "desagradável", sabia? - ela virou-
se para mim e piscou, entediada - Não me mudei por sua causa, sua
maluca egocêntrica. Me mudei porque gostei da casa. Não teria
gostado se soubesse com quem eu precisaria dividir fronteiras,
fique você sabendo. E tem mais…
Ela fechou a porta na minha cara.
Não houve um "adeus" ou "até breve". Houve apenas uma
porta fechando-se para mim.
Pela janela, eu a vi se afastar para dentro de casa,
ocupando-se de algo em sua sala de estar.
- ERA UM PRESENTE! - gritei pela janela. Ela me dedicou
pouca atenção e então nenhuma - Vou deixar aqui e espero que você
goste, viu? - berrei para a janela - Ou que atraia um animal
selvagem que te engula enquanto você dorme. - acrescentei para
mim mesmo - Também serve.

********************

- Que mulher! - dobrou o lábio inferior.


Eu quase sentia pena do coitado.
Dominique, com certeza, não ouviu seu comentário
libidinoso ou o pobre inocente estaria morto antes do intervalo
do almoço.
"Que mulher!", na verdade, era uma reação bem apropriada
diante de Dominique Thoen.
Ela era um espetáculo de tão linda.
Inteligente, ousada, sagaz e esperta além de qualquer
limite.
"Que mulher".
O problema é que ela era quase tão maligna quanto era
linda.
A miserável não tinha um único osso bom no corpo.
- Nossa, como vocês conseguem trabalhar por aqui? - John
sorriu, inclinando-se sobre minha mesa, quando Thoen entrou na
sua sala do lado oposto do corredor, ainda visível pela porta
entreaberta. Retirou o sobretudo para expor o vestido preto
colado do busto até a cintura antes de se abrir em uma saia
formal.
Eu já tinha passado por aquela etapa antes: admito.
Não conseguia impedir uma porção de olhares na sua
direção.
Não conseguia impedir a curiosidade.
Tive que aprender do jeito mais difícil que Thoen existia
para ser deixada em paz.
John, no entanto, era novo no escritório e ainda não tinha
sido inoculado.
- Cara, fica longe dela. - sugeri.
- Oh, desculpe, Greg! Não sabia que você estava
interessado.
- Não. Não. - eu ri com gosto - Não me entenda mal…
concordo com você sobre… - encarei a direção de Thoen sem usar
palavras - Mas não é isso.
- O que é então?
Respirei fundo e disse de uma vez:
- Aquela mulher é Satanás.
Ele achou graça do meu comentário.
Coitado.
Não tinha entendido que não era piada.
- Não estou lírico aqui, cara. Estou sendo literal. -
expliquei - Aquela mulher é Lúcifer encarnado, andando pela Terra
para que a gente nunca esqueça que o Inferno existe. Fica longe
dela. Dica de amigo.
- Nossa… - fez uma careta - Tem certeza?
- Oh… - ri - Pobre alma inocente. Duvida de mim? Vai até
lá se apresentar.
John me encarou entre uma risada e uma descrença.
Certamente, assim como muitos antes dele, não acreditava
que um simples "olá" pudesse suscitar qualquer maldade de uma
pessoa. Mas, assim como muitos antes dele, o problema é que não
conhecia Dominique.
- Sério?
- Hmhum. - estimulei, sonso - Vai lá e diz "oi".
John se levantou ainda me observando e eu ergui minha
xícara de café em um desejo mudo de "boa sorte, espero que você
sobreviva para contar".
Ele bateu educadamente na porta entreaberta e entrou na
sala sem ser convidado.
Tenho certeza disso porque Dominique nunca convida ninguém
para entrar na sua sala.
Eu estava tão inclinado por cima da minha mesa que estava
quase deitado. Esticando-me para tentar pegar alguns lances do
show. John, no entanto, estava tapando minha visão das reações de
Thoen de modo que tudo que eu conseguia ver eram as costas do
advogado alto e seus cabelos escuros.
Um sorriso infantil escapou dos meus lábios quando vi John
dando dois passos para trás, balançando as mãos no ar como se
pedisse desculpas.
Olhei para o relógio. Vinte segundos.
Ela estava se aprimorando.
Eu estava gargalhando sobre minha mesa, absolutamente
entretido, quando John se moveu, desobstruindo meu campo de
visão, fazendo com que o olhar erguido de Thoen caísse
diretamente sobre mim.
Merda.
Enfiei-me de volta na poltrona orando para que ela não
tivesse me visto.
- Meu Deus. - gaguejou ao fechar a porta da minha sala de
volta.
- Eu te disse. - ergui os ombros sem me preocupar em
perguntar o que houve.
Os diálogos mudavam, mas o resultado era sempre o mesmo:
ela tinha sido horrível.
- Pelo menos você não está chorando. - acenei, quando John
voltou a sentar.
- Ela já fez alguém chorar? - arregalou os olhos.
- Correção, meu caro: ela faz alguém chorar. - indiquei -
Quase todo dia.
- Você estava certo. - engoliu em seco.
- Eu te disse. - repeti, apenas.
John não se demorou antes de voltar a suas obrigações.
Despediu-se com um gesto amigável e sobressaltou-se ao abrir
minha porta e encontrar Thoen do outro lado.
Veio gritar comigo, com certeza.
Ótimo.
- Oh, olá de novo. - arriscou e, dessa vez, eu ouvi o
pânico em sua voz.
- Hmhum. - ela resmungou, simplesmente.
John não soube se esperava um cumprimento completo,
despedia-se ou apenas ia embora.
Estava demorando demais para decidir.
Dominique piscou seus longos cílios escuros:
- Vai ficar parado aí o dia inteiro? - ela tinha um jeito
de rosnar sem nunca elevar a voz além de um tom trivial. Nunca
era o que ela dizia, ou sequer o volume: era o modo. Aquele modo
meio psicopata assassino que te faz ter certeza que ela não
precisa de um motivo para te matar e se banhar no teu sangue.
John sorriu, amarelo, para mim e se foi.
Inoculado.
- Que foi que eu fiz? - pedi, de uma vez.
- Está se divertindo?
- Não desde que você entrou, não. - abanei a cabeça.
- Preciso da ata da última tentativa de conciliação dos
Mack, não estava nos documentos que você me passou.
- Vai parar de roubar meus clientes algum dia, Thoen?
- Não. Mas você poderia tentar dificultar minha vida para
deixar as coisas mais interessantes.
Abri um sorriso imenso de sociopatia plena.
- Eu queria muito passar 24 horas sem te mandar para o
inferno, Dom. Você podia me ajudar, sabe?
- Se quer ajuda arranje um serviço de concierge. Não estou
aqui para facilitar sua vida.
- Não, não imaginei que estivesse. - completei, sonso -
Aqui. - entreguei o que ela precisava.
Não esperei que ela agradecesse porque já sou um garoto
crescido e aprendi a não esperar milagres.
- Thoen… - me arrependi antes mesmo de terminar a frase -
Só tenta ser cuidadosa, tudo bem?
Seu cabelo negro caía em cascatas suaves e onduladas até
abaixo dos ombros, chamando atenção para o seu decote de um jeito
desagradável.
- Perdão? - ela sorriu, maliciosa.
- Já está sendo um divórcio complicado o suficiente sem
acrescentar mais pressão à panela. E tem duas crianças
envolvidas, então…
- Holt, querido. - quando ela me chamava de "querido" eu
já sabia que não ia gostar do que viesse depois - Cuidar de
crianças não é minha responsabilidade.
- Ai Thoen, tenta ser um ser humano uma vez na vida.
- É responsabilidade dos pais, do Estado, da babá, de uma
porção de educadores infantis e um psicólogo que, considerando a
fortuna da família, será muito bem pago.
- E você devia lhe pedir uma comissão. - reclamei - Devia
pedir comissão pra metade dos psiquiatras da cidade. Com certeza
você é ótima para os negócios.
- Obrigada, ótima ideia. - ela estava saindo.
- Eu tive um professor na faculdade. - avisei,
interrompendo-a - Que dizia que não há vencedores em um caso
assim. Apenas quem se machuca menos.
- Não há vencedores… - fez uma careta de indignação - Esse
seu professor claramente não me conhece.
- Se ninguém pode ganhar, pelo menos tente fazer com que
essas crianças não percam, sim?
- Meu bem, presta atenção que eu vou falar bem devagar
usando palavras simples. - curvou-se para mim, de um jeito que só
não foi sensual porque ela sempre me assustava - Eu. Sempre.
Ganho. Guarde sua Psicologia de Iniciantes para você e seu amigo
novato. Não me serve.
Girou sobre os calcanhares e eu arrisquei com um sorriso:
- Thoen?
- Hm?
- Vai pro inferno. - cantarolei.
Foi embora sem me olhar duas vezes.
"Que mulher", hein John?
Que mulher.

********************

- E aí, Holt? Já tem planos pra hoje ou vai para o bar com
a gente?
Olhei para o relógio.
- Acho que vou com vocês.
- Eu te digo, cara! - Marcel estalou os dedos - Dia dos
Namorados é o melhor dia do ano para ser solteiro em um bar.
- Não vou discordar. - ri.
Ele estava se divertindo comigo até escutar os estalos dos
saltos no chão de mármore, encolheu-se na entrada da minha sala
quando Dominique passou sugando sua alegria.
- Eu não sei se sinto pena ou inveja da sua localização. -
murmurou, sombrio, investigando Thoen com o canto do olho -
Passar o dia todo olhando para ela, não deve ser ruim. Mas também
não deve ser bom.
- Ela não é tão má assim. - voltei minha atenção para os
pedidos em um dos processos.
- Está brincando, Holt?
- Claro que estou. - arregalei os olhos - A mulher é
péssima.
- Rá! E deve estar especialmente ruim hoje, não é? Com o
que aconteceu na audiência dos Mack?
Senti minha testa enrugar.
A audiência de conciliação.
- Foi hoje?
- Foi. E parece que o Tubarão Thoen perdeu a causa.
Não.
Ela não perde.
- Perdeu? Dominique?
- Bem… ou o mais perto que ela chega de perder. - deu de
ombros - Aceitou um acordo que não era exatamente o que queria.
Ainda foi bem melhor que o seu, amigão, com todo o respeito -
gargalhou - mas a gente sabe que a Víbora sempre corre atrás de
um pouco mais de sangue. Deve estar decepcionada. Mais tarde,
então? - apontou para mim antes de sair da sala - Te aviso qual o
bar.
- Combinado.
Marcel fechou a porta da minha sala, trancando-me com meus
pensamentos.
Ela tinha resolvido tudo em uma única audiência?
Ela tinha encerrado tudo de um modo mais indolor?
Ela tinha… seguido meu conselho?
Não.
Isso era quase tão absurdo quanto imaginar Dominique
perdendo.
Quando dei por mim estava andando para o Arquivo. Não eram
mais meus clientes, mas eu precisava saber o que diabos tinha
acontecido.
E se a audiência tinha sido hoje, as informações ainda não
estariam no sistema, mas uma cópia física com certeza estaria no
Arquivo.
- Algo específico? - Val quis saber.
- Não. Acompanhando um cliente. - murmurei quando
encontrei o que precisava ainda na bandeja de entradas.
Minha nossa.
Era como Marcel disse: um acordo melhor que o meu da
audiência anterior, mas bem longe do que Dominique normalmente
conseguia em casos similares. Ela arrastaria aquele casal de juiz
em juiz por meses até vencer todos pelo cansaço. Era comum até
mesmo seus clientes desistirem antes dela.
No entanto, aí estava: tudo resolvido em uma única
audiência.
Célere. Eficaz. Misericordioso.
"Ela não é tão má assim."
Dom? Será que você tem um coração aí dentro dessa
estrutura de lata desalmada?
Estava me permitindo um sorriso sorrateiro quando algo na
pilha da bandeja chamou minha atenção. A relação de nomes e
causas era longa e o nome de Dominique aparecia um milhão de
vezes. Larguei a ata da audiência para investigar o documento
abaixo.
Relação de causas pro bono.
Não acredito.
O escritório agia em uma porção de causas beneficentes.
Ajuda jurídica gratuita a pessoas de baixa condição financeira
que não tinham como pagar um advogado. Todos nós precisávamos
cumprir uma cota mensal, mas a lista de casos de Dominique era
absurda.
Passei as folhas do relatório para descobrir que o nome
dela se repetia nas páginas seguintes quase com a mesma
frequência.
Puta merda.
Ela deveria ter quase tantos casos pagos quanto
voluntários. E o índice de sucesso dela era tão louvável quanto.
Talvez minha brincadeira estivesse certa, no fim das
contas.
Talvez ela não fosse tão má.
Bati na sua porta e entrei sem ser convidado porque era o
único jeito.
- Estou ocupada. - não levantou os olhos - Diga depressa.
- Ouvi que o caso dos Mack foi resolvido em uma única
audiência. - puxei uma das cadeiras a sua frente.
- E veio pedir dicas sobre como ganhar depressa? O que
está fazendo? Não disse que podia sentar.
- Você podia ter prolongado a conciliação até conseguir
fazer tudo do seu jeito. Eu vi o acordo: não é o que você queria.
- Holt, tem algum propósito nessa sua conversa fiada? -
cruzou os braços sobre a mesa.
- Você seguiu meu conselho. - apontei o indicador - Acabou
com tudo rápido para preservar as crianças.
- Você me cansa. - revirou os olhos majestosamente - Não
foi para preservar as crianças, foi só para resolver tudo logo.
- Sim, porque você detesta fazer as pessoas sofrerem por
muito tempo. - ridicularizei.
- Era o que o cliente queria. - sua impaciência começou a
se fazer notar.
Precisei rir:
- E desde quando você liga pra isso?
- Não te devo explicações sobre os meus casos. - baixou os
olhos de volta. Mas os músculos contraídos em seu pescoço me
disseram que eu tinha atingido um nervo.
- Quer sair comigo hoje? - ri.
- Não.
- Já tem um encontro?
Ergueu sua atenção para mim e parecia capaz de cuspir
fogo.
- Me explique em que universo isso é da sua conta.
- É dia dos namorados, Dom. - dei de ombros, sem me abalar
- Imaginei que pudesse ter planos. Mas nós estamos indo para um
bar essa noite. Ainda não sei qual, mas posso te avisar e você
vem com a gente. Vai ser divertido.
- Não.
- "Não", não quer vir?
- "Não", não vai ser divertido.
- E…?
- E "não", não quero ir.
- Não vai te matar socializar um pouco com os colegas de
trabalho.
- Por que quer que eu vá?
- Porque acho que vai ficar sozinha hoje a noite e acabei
de descobrir que você não é um robô. Vamos! Só uma noite.
- Sai, Holt. - sibilou.
- Só precisa ficar por algumas horas. - encorajei.
- Meu Deus, qual o seu problema? - arregalou os olhos,
impaciente - Eu não posso ser tão gostosa assim.
- Perdão?
- Eu sou horrível. - usou a palavra como se fosse um
elogio - E normalmente isso basta para as pessoas me deixarem em
paz. Mas você não! Você. Continua. Voltando. - cerrou os dentes -
Não é possível que eu seja tão gostosa assim!
- Não é. - menti, para cortar sua arrogância. Mas engoli
em seco quase no mesmo instante e tenho certeza que ela notou.
- Então, o quê? Se não fica por perto porque tem algum
delírio insano de que, um dia, vai conseguir me comer, o que
quer? Por que não me deixa em paz? Por que insiste?
Eu expirei.
Puta que pariu, ela era linda.
Era aquela porra daquele par de olhos escuros. Havia um
brilho ali que podia ser facilmente confundido com o gelo que ela
derrubava em cima de todos. Mas, para mim, sempre parecia ser
outra coisa.
Talvez alguma dor que ela nunca conseguiu resolver.
Talvez inteligência demais para o seu próprio bem.
Talvez algo que eu nunca sequer tivesse imaginado, mas que
adoraria descobrir.
Mas ela era igualmente horrível. Isso era um fato.
E, acima de tudo, mesmo admitindo que ela era gostosa como
o inferno, eu não tinha qualquer esperança ilusória de me
envolver - de forma física ou afetiva - com ela.
No entanto, eu não conseguia pensar em uma só resposta
para sua pergunta.
Por que eu insistia?
Por que eu era incapaz de aceitar que ela era ruim e ir
embora?
Por que eu continuava voltando?
Acenei devagar e encarei aquele par de olhos escuros.
- Não faço ideia.

********************

Poucos anos depois

Eu tinha o celular na mão quando ela cruzou o salão da


bilheteria.
- Nossa. - um rapaz murmurou em seu ouvido, com ares de
tesão, quando ela passou.
Coitado.
- "Nossa", o quê? - virou-se sem pestanejar. Dei alguns
passos na direção da briga, antes que virasse uma catástrofe.
- Nossa, como você é linda. - ele sorriu.
- E está me dizendo isso porque acha que eu não sei? -
Dominique se inclinou para o rapaz, na entrada do cinema, e eu o
assisti dar um passo para trás.
- Estou te dizendo isso pra você agradecer.
- Não agradeço por obviedades. Eu sou linda. Nossa. E aí?
- Temos um problema aqui? - tomei sua cintura antes que
ela matasse alguém.
- Ah, ela tá com você? - ele perguntou - Desculpa, cara,
eu não sabia.
- Você não pede desculpas pra ele, queridinho. Você pede
desculpas pra mim.
O rapaz encarou Dominique como se nunca tivesse se
arrependido tanto de uma cantada na vida.
- Foi só um elogio! Maluca. - acrescentou para o amigo.
- Ah, eu sou maluca? Por não demonstrar gratidão eterna ao
ter um estranho sussurrando saliva pra dentro do meu ouvido?
Poxa, muito obrigada. Você quer que eu transe com você para
agradecer? Porque é assim que acontece não é? Você sussurra
qualquer estupidez para uma desconhecida no meio da rua e ela
imediatamente te leva pra cama? Isso já aconteceu alguma vez na
sua vida? Me conta. De verdade.
O rapaz estava fugindo de Dominique.
Fugindo.
Cena impagável.
- Você lava a louça. - lembrei.
- Holt, essa sua aposta é ridícula.
- Não é ridícula. - ri - É o acordo! Toda vez que você
brigar com desconhecidos na rua, você lava a louça. Se a gente
sair e não acontecer, eu lavo.
- Quem perde é você. - deu de ombros.
- Ah, por favor, eu nem lembro mais da textura de um
detergente. - gargalhei e ela me deu tapa no ombro.
- E detesto quando você faz isso!
- O quê? - reclamei, inocente.
- Coloca a mão na minha cintura, como se estivesse
querendo dizer que eu tenho dono.
- Amor, eu já te disse: eu não fico por perto para sua
segurança, mas para a dos outros. Tenho medo que qualquer dia
você avance em alguém.
- Frouxo. - resmungou - E sabe o que mais? Você precisa
aprender de uma vez por todas que…
Eu sorri e a beijei no meio do seu discurso.
Tomei sua boca e sua língua. Ela nunca demorava para se
derreter entre os meus braços, abandonado a fúria e convicção.
Eu estava descobrindo que beijar Dominique era sempre a
melhor ferramenta para acalmá-la. Bem… era uma excelente
ferramenta por muitos motivos…
Nunca me cansei do seu sabor.
Acho que até demorei para perceber como, desde a primeira
vez que a beijei, aquele tinha se tornado meu sabor favorito no
mundo: sua pele. Seu gosto.
Enfiei uma das mãos em seus cabelos e a outra em sua
cintura. Dom agarrava minha camisa pelo peito, igualando minha
intensidade em cada toque. Fiquei mordiscando seu sorriso quando
nos soltamos, minha testa ainda contra a dela.
- Vai perder os trailers. - riu.
- Não ligo. - gemi roçando meu nariz no seu.
- Sei que me beija quando quer que eu cale a boca. -
avisou.
- Claro que sabe.
- E acho adorável. - piscou um olho fazendo-me rir - Às
vezes, sou especialmente irritante só para que você me interrompa
com um beijo.
- Oh meu Deus! - exagerei - Então quer dizer que era isso
o tempo todo?
Dom riu, ainda presa em meu abraço.
Deus, eu amava aquela risada. Seu som era capaz de colocar
um sorriso nos meus lábios imediatamente.
Puxou-me pela nuca para me beijar a boca, minhas pálpebras
pesando enquanto eu me perdia nos seus suspiros.
- Pipoca? - perguntei e agora era ela quem mordiscava meu
sorriso.
- Pipoca! - bateu palmas – Mas eu compro! Você sempre pega
aquele pacote minúsculo que não dá nem pros primeiros quinze
minutos!
- Porque eu pretendo jantar depois. Não sou você, que se
alimenta exclusivamente de pipoca.
- Holt, me escuta: capricha na pipoca. Pula o jantar e a
gente volta logo pra casa, pra você me comer.
- É Dia dos Namorados, Dominique! Cinema, jantar e voltar
pra casa pra fazer amor. Nessa ordem.
Ela revirou os olhos.
- Fazer amor? Não me leva a mal, mas prefiro quando você
me come. - riu e eu belisquei sua cintura.
- A gente pode resolver isso, sem problemas. - prometi.
- Ótimo. Porque estou ansiosa. Já vim sem calcinha, sabe?
Meus dedos agarrados em sua cintura e eu precisei rir de
novo.
- Você faz isso de propósito, não é?
- Querido. - lambeu meus lábios - Tudo que eu faço é de
propósito.
Tudo que eu faço é de propósito.
Nossa…
- O que foi? - hesitou, segurando minha mão.
- Nada, eu só… Você lembra daquele Dia dos Namorados no
meu segundo ano no escritório?
- Qual escritório? Ah! - seu sorriso foi de nostálgico
para descarado - O do bar?
- O do bar. - estreitei os olhos.
- Por que lembrou disso agora?
- Não sei. - apertei sua mão na minha, trazendo-a para
perto - Mas pense nisso: se você não fosse tão teimosa, poderia
ter sido nosso primeiro encontro.
- É! Mas pense, você, nisso: se tivesse sido nosso
primeiro encontro, nunca teríamos feito aquela aposta.
- Aquela aposta foi estúpida. - exagerei nos ciúmes.
- Só diz isso porque perdeu.
Estalei um beijo na sua boca antes de entregar os
ingressos, fazendo-a rir.
- Amor - pedi - quando a gente for contar essa história
por aí você não pode começar dizendo isso: que ganhou. Estraga o
fim.
- Greg. - ela se virou para me beijar com carinho. Aquele
carinho que eu tinha aprendido que existia nela. Transbordava
dela. Sempre. Mas só pra mim. - Eu te amo, você sabe. Mas você é
muito inocente: quem, em sã consciência, vai ouvir uma história
sobre uma competição entre nós dois e imaginar que eu não ganho
no final?
- A não ser na aposta de lavar a louça.
- Essa aposta, sim, é estúpida.
- E você só diz isso porque perde. - estirei a língua e
ela sorriu antes de nos perdermos no escuro da sala.
Dois.

Eu já tinha sorrido para umas quatro mulheres diferentes,


mas ainda não tinha decidido se iria agir.
Ia ser bom voltar para casa acompanhado essa noite.
Eu estava trabalhando muito, merecia um descanso.
- Não vai atacar? - John perguntou.
- Considerando minhas possibilidades.
- E não sou poucas, viu? - olhou ao redor, reclamando -
Estou com inveja de você.
- Quem vai pagar a terceira rodada? - Marcel antecipou-se,
visto que ninguém ainda tinha chegado na metade dos copos de
chopp.
- Eu já paguei a primeira! - John avisou - Além do mais,
eu… Ai meu Deus. - sibilou, de repente.
- O que foi? - virei-me para ele com a boca ainda no copo.
- Sua amiga está ali. - resmungou.
- Amiga? - ergui os olhos para o aglomerado no bar.
- É… Satanás. - explicou desnecessariamente, já que eu não
precisei de qualquer esforço para encontrá-la.
Thoen conseguia ser erótica sem fazer qualquer esforço,
mas, naquela noite, basta dizer que ela tinha se esforçado. Se eu
não soubesse muito bem quem era, teria rasgado o chão no caminho
até ela. Eu e, seguramente, todos os outros homens heterossexuais
em um raio de um quilômetro.
O vestido carmim não era colado, mas tinha um tecido denso
que pesava em suas coxas cruzadas dando a ilusão de que ela
estava coberta por pouco mais que uma mão de tinta. Quilômetros e
quilômetros de pernas escapando do pano em um cruzar sensual que
deixava tanto pra imaginação que me faltava saliva.
Da cintura para cima, a porra do vestido conseguia ser
ainda pior.
O decote drapeado lutava contra a gravidade dado o peso do
tecido, esticando-se para baixo em ondulações pecaminosas que
exibiam carne demais. Nunca a tinha visto enfiada em uma roupa
que deixasse seus seios em tanta evidência e ainda bem! Porque se
ela fosse trabalhar com algo assim, manter a concentração ia ser
uma merda.
- Ei, aquela é Thoen? - os colegas ao meu redor notaram
sua presença.
- Pai do Céu, a mulher é boa.
- Pena que esse é o único tipo de boa que ela consegue
ser. - alguém lembrou fazendo rir a todos.
Engoli em seco, ignorando meu chopp por um instante.
Ela não é tão ruim assim.
Na verdade, "ruim" era estarmos todos nos divertindo às
suas custas: fosse de sua beleza ou de sua ignorância.
- Melhor deixá-la em paz, pessoal.
- Vou acreditar dessa vez. - John prometeu.
- Acho que você tem chances, John! Ela não te bateu. Isso
é bom sinal.
- Olha… se ela estiver usando aquele vestido, pode me dar
quantas palmadas quiser.
- Em mim também! Rá!
Mordi o lábio inferior. Algo dentro de mim dizia que
Dominique riria alto se descobrisse que um homem a defendeu do
que quer que seja. Mas havia outro algo dentro de mim que se
incomodava profundamente com o rumo da conversa.
- Vamos deixá-la em paz, gente. A mulher é uma colega de
trabalho, não acho que é legal fazer isso. - tentei soar casual,
mas fui percebido.
- Está apaixonado, Holt? - Marcel apertou meus ombros,
gargalhando - Sempre defende o Tubarão.
- Não "sempre defendo o Tubarão". - revirei os olhos.
Como se Thoen precisasse de defesa.
- Sempre!
- Todas as vezes!
- Todas mesmo!
Olhei ao redor verificando as expressões de divertimento
dos meus colegas.
Eu a defendo?
Senti a hesitação pesar em meu semblante enrugando minha
testa.
- Se estiver apaixonado, tome cuidado, Holt! Ela é tipo
aqueles Louva-Deus que come a cabeça do parceiro depois que
termina de copular! Rá!
Mordi o meu lábio de novo.
- Acho que você devia ir até lá, Greg! - Marcel incentivou
- Acho que você tem chance!
- Impossível alguém ter chance com aquela ali. Mesmo o
Greg.
- Ah, que nada! - continuaram - Tem um truque ou dois que
derruba qualquer mulher.
- É! Chama "lambidas"!
Risadas.
Muitas risadas.
De que? Não sei.
Eu não estava achando nada particularmente cômico,
principalmente quando senti para onde a conversa estava indo.
- E você, John? Vai ter coragem?
- Amigo, eu só encosto naquela mulher de novo se me
pagarem.
E aí estava.
- Ei, ei, ei! - Marcel chamou - O John teve uma ideia boa
aí! Um chopp de graça para cada guerreiro que se arriscar a dar
em cima de Thoen.
- Gente…
- Shh, Greg! Um chopp para cada. Quem aceita?
- Minha dignidade vale mais que um chopp. - alguém se
lamentou.
- E que tal assim… - Marcel estava firme no curso - Quem
conseguir levar Dominique para casa não paga pelo almoço a semana
inteira?
- Minha dignidade vale mais que cinco almoços. - alguém
riu.
- E que tal assim… - ele não ia desistir.
- Cinco almoços? Eu vou. - aceitei, levantando, depois de
terminar o chopp.
Ela notou minha presença quando eu já estava perto demais.
- Ai, droga. - murmurou - Era esse bar?
- Era. - respondi, sentando-me ao seu lado, no balcão -
Coincidência agradável, não é?
- Oh. Maravilhosa.
- Escuta. Os caras estão bebendo e começaram uma aposta
para ver quem tem coragem de dar em cima de você. Estou te
avisando para você se preparar e tentar não cometer um homicídio,
hoje.
Dom piscou seus longos cílios, considerando.
- Era só isso?
- É. A não ser que você queira fingir que está saindo
comigo, e eu divido o lucro com você.
- Uma mesa cheia de advogados e você acha que é o único
que vai aparecer aqui com essa sugestão?
- Eu fui o primeiro! A ousadia não vale de alguma coisa?
- Não. - riu. Não com descaso ou arrogância. Era uma
risada doce e meiga. Quase parecia um flerte. No palco estreito a
poucos metros de nós, o cantor puxou Over My Sholder no violão e,
apesar da companhia, o clima estava quase agradável.
- Então, nem adianta insistir? - ri.
- Não. - devolveu.
- Você nem sabe quanto é o prêmio.
- Minha reputação é mais importante que dinheiro.
- Dominique, sua reputação é péssima. - lembrei.
- Precisamente! E é assim que pretendo mantê-la. - sorriu.
Sorriu.
Como se estivesse fazendo uma piada.
Algo que não era exatamente do seu feitio. Mas não
consegui me impedir e ri baixinho. Thoen me acompanhou com um
sorriso adorável.
Adorável.
Acenei para o garçom pedindo uma bebida enquanto ela
mordia as cerejas da sua.
- Mas a critério de curiosidade - perguntou - quais os
termos da aposta?
- Ganha quem conseguir sair daqui com você.
- "Sair daqui comigo" como "me levar para a cama"?
- É.
Ela riu com gosto.
- E eles acham têm chance de me seduzir assim? Tão fácil?
Imbecis. - não precisou de uma resposta.
- Em minha defesa, eu argumentei que era uma péssima
ideia.
- É porque você me conhece melhor.
- Conheço? - encarei sua gentileza apenas para assisti-la
revirar os olhos, impaciente.
- Por causa da proximidade geográfica, Holt.
- Ah, claro.
- Não comece a achar que estou sendo gentil.
- Jamais. Apesar de que… - arrisquei, virando minha
atenção para a bebida - Eu acho que você finge.
- Finjo? - mordeu uma cereja suculenta, limpando o suco do
batom em seus lábios fartos.
- Finge ser detestável. Finge muito bem, lógico. Mas não
acho que é genuíno.
- Você é tão inocente que eu tenho vontade de rir. Mas aí
me dá pena e a vontade passa.
- Às vezes você parece ser a pior pessoa do mundo e eu
tenho certeza que ninguém poderia fingir isso. Só que… às vezes
você me surpreende.
- A razão da minha existência. - derreteu-se, sarcástica.
- Por que faz isso? Por que precisa afastar todo mundo?
- Hm. - bebeu um gole superficial - Vou fazer uma aposta
com você, Greg. - piscou um olho - Se um dia você me seduzir, aí
eu te conto.
Murchei, fazendo graça.
- Ok. Não precisa fazer pouco da minha curiosidade.
Ela riu. Tinha uma risada boa de ouvir.
Gostaria que ela sorrisse mais vezes.
- Mas sabe o que mais, Holt? Eu não acho que você é tão…
- Tem certeza que não vai mudar de ideia? - um homem
vermelho e imenso se aproximou dela. Mais do que seria
inteligente mesmo se não soubesse de quem se tratava.
- Não. - ela rosnou, seca.
- Porque eu podia mudar sua vida. - encheu as palavras de
promessa libidinosa e eu o percebi bêbado.
- Ele me interrompeu no meio de uma frase, você percebeu?
- comentou e eu acenei.
- Quem é o cara? - o homem perguntou com uma intimidade
que EU TENHO CERTEZA que Dominique nunca lhe deu.
- Meu noivo. - passou um braço pelos meus ombros, puxando-
me. Eu me pus de pé ao seu lado, recebi seu abraço e fiquei
infinitamente quieto - Eu te disse que era comprometida, não foi?
O homem vermelho me olhou como se duvidasse de minha
existência mesmo me vendo ali, de pé, na sua frente.
- Amor, pode pedir outro para mim? - tocou o copo do seu
drink, ainda mantendo um braço ao meu redor.
Como é mesmo o ditado?
Se está no inferno, abrace o capeta.
- Claro, querida. - envolvi sua cintura - E, xuxu, quero
conversar com você sobre o jantar na casa dos seus pais: quero
chegar mais cedo, você sabe que sua mãe me adora e eu quero muito
ver o que ela vai achar do presente.
Ela sorriu e eu aproximei nossos rostos.
Ah, ela ia me fazer pagar por aquilo.
- Claro, meu bem.
- Eu e o xuxu fazemos uma aula de cerâmica para casais. -
expliquei para o desconhecido que parecia entender muito pouco do
que eu dizia e se interessar por menos ainda - Fiz uma jarra
linda para minha sogra, usando as coisas que a natureza nos deu.
Dominique entalou com a saliva, mas disfarçou em um
sorriso.
- Cara, não faz seu encontro de Dia dos Namorados em um
bar. - chiou, irritado.
- Ah, você está certo! Xuxu! - raspei meu nariz em seu
rosto e beijei sua bochecha - Vamos para algum lugar mais
reservado? - minha voz ficou grave. Rouca. Intensa. Não foi
intencional, mas eu não conseguia me controlar - Só nós dois? -
sussurrei. Meu Deus, Holt, pare! - Vou fazer valer a pena.
Acho que senti um arrepio em seus braços.
Mas… conhecendo Thoen, deve ter sido só impressão.
O desconhecido foi embora sem se despedir. Ou talvez tenha
se despedido e eu não percebi porque estava sussurrando convites
veladamente eróticos no ouvido de Thoen.
- Já pode soltar, Holt. - avisou.
Larguei sua cintura depressa, mas ainda estava rindo.
- Somos um casal de hippies, então? - perguntou.
- Sempre achei que, no fundo, você era paz e amor.
Ela ergueu uma sobrancelha de descrença.
- Bem no fundo. - acrescentei - E desde quando você
precisa de desculpas baratas para se livrar de alguém?
- Bêbados são mais complicados. E se precisasse bater
nele, iam me convidar para sair e eu ainda não escolhi alguém
para levar pra cama.
- Ah, então é isso que está fazendo aqui hoje?
- Holt. - ela me observou, prendendo-me imediatamente em
seus olhos escuros. O que era ótimo, por sinal, já que me
mantinha distraído de seu decote - Eu estou sozinha em um bar, no
dia dos namorados, usando um vestido que expõe mais seio do que
esconde. O que diabos você acha que eu estou fazendo aqui?
- E por que recusou o rapaz? Ele parecia interessante.
- Adoro bêbado inconveniente. Meu tipo.
Ri de sua graça.
Mas talvez meu olhar tenha se demorado um pouco demais.
- O que foi? - ela quis saber.
- Quer sair comigo? - dei de ombros - Jantar, cinema…?
- Sexo? - abriu os olhos, entediada.
- Eu até ia sugerir. - expliquei - Mas tenho medo que você
engula minha cabeça. Ouvi dizer que é algo que acontece.
- Apenas quando eu não gozo. - assentiu, me fazendo
gargalhar.
- Você tem senso de humor! - bati palmas, extasiado - Nem
acredito!
- Melhor que o seu, querido. - exagerou ao jogar os
cabelos pelos ombros, teatral - Não que seja surpresa, já que sou
melhor que você em tudo.
- É melhor do que eu em coisa nenhuma. - estreitei os
olhos, provocando-a.
Ela não respondeu, mas a ponta de sua língua escapou para
experimentar o lábio inferior rapidamente e eu perdi a
concentração.
Nossos olhares se prenderam e era tão confortável.
Tão confortável ficar ali, olhando para Dominique e
recebendo suas ofensas divertidas a noite toda.
- Quem são os candidatos?
- O quê?
- Os candidatos, Thoen. Para sua cama? Fora eu, é claro.
- É claro. Bem, o cavalheiro de gravata ali do outro lado
é o que mais me interessou até o momento. - apontou para um homem
alto do outro lado do bar.
- Atraente. - aceitei. Tinha os cabelos escuros e
arrepiados. Curvou o rosto apenas um pouco. Está olhando para
ela. Claro que está - Mas tem certeza que você quer o tipo de
cara certinho que usa uma gravata no bar? - fiz uma careta
forçada.
- HOLT! - ela riu - Você está usando uma gravata.
- É, mas eu sou certinho e você me detesta. - apontei.
- Bom ponto. - espremeu os lábios quando o cantor
continuou seu setlist de músicas pop antigas.
- E a minha está frouxa. - encarei o nó folgado no meu
pescoço que, sendo sincero, não ia durar muito tempo - A dele
está bem amarradinha. Então, se fomos comparar, ele é mais
certinho do que eu.
- E se eu gostar dos certinhos? - piscou os cílios,
sensual.
- Isso ia prejudicar a sua reputação. - avisei.
- Acho que vou arriscar. - ergueu um ombro e eu senti uma
pontada de inveja do sortudo de gravata do outro lado.
- Bem. Boa sorte. - desejei.
- Não preciso de sorte, querido.
Não, não precisa.
Não precisaria nunca.
E com aquela porra daquele vestido, ainda menos.
- Sabe o que quis dizer.
- Sei. Está acostumado com pessoas que precisam de sorte?
- ergueu uma sobrancelha. Ela parecia estar brincando comigo, mas
não de seu jeito psicopata habitual. Parecia… humana.
- Estou com a sensação que está me provocando de
propósito.
- Tudo que eu faço é de propósito.
- Mas não vai conseguir me irritar, hoje, advogada. Vou
deixá-la em paz com o seu certinho e vou ali conseguir uma
companhia para mim.
- Boa sorte. - riu do duplo sentido.
- Acha que eu preciso de sorte? - pirracei, prolongando
nosso duelo que, rapidamente, se tornava uma de minhas atividades
favoritas.
Deu de ombros.
- Quer fazer uma aposta, Thoen?
- Outra aposta? - arregalou os olhos - Duas em uma noite.
Acho que está na hora de admitir que tem um problema, Holt.
- Não tenho um problema com apostas.
- Talvez não com apostas, mas tenho certeza que tem
problemas.
- Ha-ha. Muito engraçada. Não mude de assunto, Thoen. Se
está com medo de perder, tudo bem. Mas não tente me enganar. -
provoquei.
- Acha mesmo que essa psicologia reversa ridícula vai
funcionar comigo, Greg? Estou ofendida. Diga qual a aposta e qual
o prêmio, primeiro, e eu te digo se vou aceitar.
- Ganha quem sair acompanhado por aquela porta primeiro.
- Simples.
- Não há sentido em complicar. Mas não vale o bêbado
inconveniente.
- Acha que eu ia levar aquele cara para minha cama só para
ganhar?
- Acho.
Ela sorriu, satisfeita.
- Viu como você me conhece? E qual o prêmio?
Tirou os olhos de mim. Colocou-os sobre o engravatado do
outro lado.
Ele estava tentando ser discreto, a princípio, já que ela
parecia estar ocupada. Mas não mais.
Agora, ele a encarava de volta como se hipnotizado.
- Cada um escolhe o que quiser.
- O que quiser?
- O que quiser.
- E o que você quer? - ela mexeu o drink, girando as
pedras de gelo com a ponta do indicador. Levou o dedo embebido de
álcool até os lábios e o engoliu por um segundo a mais do que
seria necessário. Os olhos se ergueram do copo direto para o
homem do outro lado do salão que ainda a observava de longe.
Está flertando com ele.
Seduzindo, descaradamente.
- Se eu ganhar - comecei - você tem que ser gentil com
todo mundo por uma semana.
O encanto se quebrou quando seus ombros afundaram em
frustração.
- Sério, Greg? Você tem dez anos de idade? Pode pedir o
que quiser e quer que eu… Ah, não importa, não vai ganhar mesmo.
Tudo bem.
- E o que você quer? - perguntei, quando ela voltou a
atacar o pobre homem a distância.
- Quando eu ganhar… - demorou-se nas sílabas - Você
admite, para mim, em voz alta, que eu sou melhor do que você em
tudo. Você diz "Dominique, você é melhor do que eu em
absolutamente tudo. E é muito gostosa." - riu, satisfeita.
- E isso não é infantil?
- A diferença é que eu não to nem aí. - deu de ombros.
- Eu também nã… - indignei-me - Tudo bem. São os termos.
De acordo? - ofereci a mão.
Ela a apertou devagar. Sua pele quente me causou tremores.
- De acordo. - murmurou, soltando minha mão para levá-la
ao decote. Acariciou a curva dos seios com dois dedos e, se
atraiu meu olhar, deve ter atraído o do engravatado também.
Merda.
Ela vai ganhar.
Levantei e procurei a melhor das minhas quatro opções
iniciais: a que mais tinha devolvido sorrisos evidentes.
Ela ainda estava sozinha.
Não que isso fosse relevante.
Porque assim que levantei, Engravatado quase tropeçou nos
próprios pés em sua corrida de poucos metros rasos até chegar em
Thoen. Já estava conversando com ela antes que eu chegasse a
ponta do bar, e eu mal tinha alcançado meu alvo quando ele pagou
a conta de Dom e a guiou pela cintura porta a fora.
Nossos olhares se cruzaram e Dominique me soprou um beijo
discreto no seu caminho para a porta.

********************

O que acontece quando você traz uma mulher pra casa, mas
não consegue parar de pensar em outra?
Beth era linda e perfeitamente adorável.
A sensação, no entanto, é que estava faltando alguma
coisa.
Faltando alguma coisa em Beth.
Faltando alguma coisa em todas as mulheres.
Alguma coisa que só ela tinha? Era esse meu problema? Eu
estava interessado em Thoen?
Não, por favor.
Claro que não.
Beijei a boca diante de mim, guiando-a para o meu quarto
acima das escadas. Tocando o corpo diante de mim, guiando-a para
minha virilha. Respirando a mulher diante de mim, guiando-a para
minha imaginação.
- Deixe-me tirar isso, primeiro. - sussurrou em minha
boca.
- Claro.
Eu não entendia mulheres que se escondiam para se despir.
As que preferiam tirar as roupas na segurança de uma porta
fechada enquanto a companhia escolhida esperava do outro lado.
Tem tanto erotismo no despir que parecia um desperdício.
Apesar de qualquer de minhas opiniões, Beth fez sua
escolha e a mim coube apenas respeita-la, lidando com a ereção
dentro das minhas calças enquanto esperava que ela voltasse para
se juntar a mim.
Foi quando um movimento nas grandes janelas da casa ao
lado chamou minha atenção.
Dominique deveria ter chegado antes de mim, mas deve ter
demorado mais para levar a ação ao quarto. Ou isso, ou já tinha
começado e terminado uma ação na sala, antes que eu chegasse.
De qualquer modo, valia-me de muito pouco tentar adivinhar
a frequência com que Thoen escolhia ser fodida.
Ela estava no quarto agora e isso era tudo que eu sabia.
O homem as suas costas passava a mão em lugares que a
maior parte de nós apenas encontrou em pensamento.
A gravata tinha desaparecido e seu toque estava em todos
os lugares, descobrindo a textura de cada centímetro daquele
corpo escultural.
Escultural.
Dominique abanou os dedos para mim em um "adeus"
provocante, com a boca do homem enfiada na curva do seu pescoço.
Devolvi o cumprimento quando senti braços me envolvendo,
atraindo-me de volta.
Beth usava nada além de calcinha e sutiã escuros. Queria
um beijo e eu lhe daria… assim que fechasse as cortinas.
Do outro lado, Thoen dobrou o lábio inferior como se me
parabenizasse pela escolha. Ou pelo fato de eu ter conseguido, no
mínimo, trazer alguém para casa. Com ela, era sempre difícil
saber.
Mas ela também estava inclinada para fechar suas próprias
cortinas. Debruçada sobre o que parecia ser um móvel comprido
apoiado contra a janela, buscando os panos escuros capazes de nos
separar. O corpo curvo, no entanto, deixava sua bunda em perfeita
evidência para o homem que ela tinha atrás de si e, bom Deus, ele
parecia satisfeito com a posição em que se encontrava.
Seus dedos agarraram suas coxas subindo o vestido quando
Thoen fechou as cortinas.
Porque, é claro, ela não era o tipo de mulher que pedia
licença para despir.
Não… ele ia agarrá-la e comê-la antes mesmo de tirar todas
as suas roupas, porque a maldita era gostosa no nível "cuidado,
colega, se não você esporra nas calças".
Apesar de que… eu apostava que, com Dominique, o tesão não
ia diminuir mesmo que ela se enfiasse em um banheiro e passasse
duas horas lá dentro.
Beth enfiou a mão por dentro da minha calça e eu percebi
que aquilo não ia funcionar de um jeito muito cavalheiro.
Agarrei-a pela cintura e virei-a de costas, debruçando-a, também,
contra o meu gaveteiro alto. Tomei sua bunda nas palmas,
esfregando-me ali.
Era isso que ele estava fazendo agora.
O sortudo.
Ia passar os polegares nas coxas dela assim…
Toquei a parte alta das pernas de Beth, onde elas
terminavam dando espaço às nádegas.
Fechei os olhos, imaginando a textura que aquele vestido
carmim deveria ter nas minhas mãos.
Eu já tinha me masturbado pensando em Dominique muitas
vezes.
Mas aquela foi a primeira vez que transei pensando nela.
********************

Poucos anos depois…

Holt tinha se enfiado entre minhas coxas, raspando o nariz


sobre meu grelinho ainda protegido pela calcinha. Oxigênio
começava a me abandonar, o que era normal: bastava que ele me
tocasse para que eu desaprendesse a respirar. Mas quando me
tocava assim: com o nariz e lábios tão enfiados em minha vagina…
era uma verdadeira covardia.
O frescor do seu hálito me atingia em locais delicados,
forçando meus punhos a se fecharem nos lençóis e travesseiros da
nossa cama, os gemidos se condensando em minha boca. Ele não me
chupava. Não me mordia. Não me fodia ou tocava.
Não.
Apenas deixava a boca ali, pairando sobre meu sexo
molhado. Às vezes, eu achava que Gregory enlouquecia com meu
cheiro e, pelo jeito como agarrava as bandas da minha bunda, esse
era um desses momentos. O homem parecia ter uma fome desvairada
pelo perfume da minha boceta, roçava a boca em meu corpo e eu
podia imaginá-lo travando os dentes a centímetros da minha
entrada, lutando contra a vontade de me abocanhar com mordidas.
"Imaginava" apenas, porque minhas pálpebras pesavam demais
para serem combatidas.
Segurei seus cabelos, tentando exigir fricção de algum
tipo. Ou pelo menos que ele tirasse minha calcinha.
- Você me disse que não estava usando. - rosnou, grave,
ainda enfiado em minha vagina. Senti seu dedo longo puxando um
dos cantos da peça íntima - Estava me provocando, Thoen?
- Meu lazer favorito. - gaguejei - Menos conversa, Holt. -
ri.
- Ah é? - eu sentia seu hálito contra meu clitóris. O pano
delicado da calcinha não era capaz de me proteger daquele calor
que alisava minha intimidade como uma carícia erótica plena. O
hálito dele, mais poderoso para meu tesão do que muitas línguas
de outros já tinham sido.
Uma trilha de beijos pela extensão da minha calcinha.
- Se estivesse sem calcinha, isso estaria sendo bem mais
divertido. - lambeu o pano sobre meu corpo.
- Então, tira.
- Não, não. - fez sua birra - Vai ficar de calcinha hoje.
- E vai me comer assim?
- Oh meu amor. - ele riu, carinhoso - Você acha que existe
algum jeito nessa Terra que eu não consiga te comer?
Rebolei contra sua boca, mas ele me segurou pela virilha.
Ia rir e dizer alguma coisa.
Eu sei que ia.
Mas então…
- Mas o quê…
Holt se levantou.
Levantou.
O filho de uma puta.
Saiu da cama.
Eu estava aberta. Molhada. E sozinha.
Ele ia apanhar.
Ia apanhar hoje mesmo.
- Gregory! - gani - Volte aqui, agora mesmo.
- O que é isso? - ele se enfiou em uma das portas
entreabertas do armário. Uma das que tinham sido separadas para
mim.
- O que? Gregory! - rosnei. Ele não estava entendendo o
tamanho do perigo em que estava - São minhas roupas. Terminei de
guardar tudo hoje! Por que isso é importante? - eu quase gritei.
Ele tirou algo do cabide e parecia quase hipnotizado pelo
que quer que fosse.
- O que é isso? - gaguejou.
Torci o nariz para o pano pesado e carmim.
Era uma roupa bonita, tudo bem. Mas sequer era nova.
- Um vestido. - sibilei, furiosa - Quer pra você? Pode
ficar. Agora: Volta. Aqui.
- Eu conheço esse vestido. - ele tinha um sorriso
excepcionalmente tarado no rosto.
Ótimo.
O que foi agora?
- Você estava vestindo isso. - ele trouxe a coisa para a
cama, segurando-a com reverência. Continuava sorrindo como um
idiota - Estava gostosa pra cacete. - fechou os olhos ao gemer as
duas palavras e eu só controlei minha frustração sexual
temporária porque vi potencial ali.
- Não acho que já usei isso para sair com você. -
investiguei.
- E não usou. O Dia dos Namorados no bar. A aposta. -
acenou, como se aquilo devesse significar algo para mim.
- É. Você estava falando disso mais cedo. - encarei o
vestido - Eu estava usando isso? Como você lembra?
- Porque, Dominique. - ele travou os lábios - Você estava
gostosa. Pra. Cacete. - mordeu as palavras, como se fossem
insuportáveis - Veste pra mim? - pediu.
- Amor, eu achei que o plano era me tirar das roupas. Não
colocar outras.
- A gente chega lá. - prometeu - Mas, primeiro: veste. Por
favor. - ofegou.
Respirei fundo.
Homens.
E mulheres é que são complicadas…
Peguei o vestido e comecei a tirar a roupa.
- Não! - me segurou pelos braços, rindo - Troca no
banheiro.
- Por qual razão?
Ele estava rindo como se de uma piada interna.
- Por favor. - pediu.
- Depois você vai me explicar qual é a desse cenário
erótico que eu estou reproduzindo?
- Prometo que vou.
Revirei os olhos e me enfiei no banheiro.
É… eu lembrava desse vestido.
Ele era excelente quando eu queria transar. O decote
drapeado era folgado o suficiente para mostrar meus seios de um
jeito flutuante que sempre parecia que ia exibir mais do que eu
pretendia, atraindo as atenções. Não era baixo ao ponto de
ultrapassar metade do estômago, mas não era alto o suficiente
para usar com sutiã. A saia, por sua vez, não era colada. Mas o
tecido era tão pesado que daria no mesmo se fosse.
Saí do banheiro para encontrar Holt de pé, a
personificação de "expectativa".
Ficou encarando meu corpo daquele jeito guloso enquanto eu
me inclinava para tirar a calcinha que usava. Larguei-a sobre a
cama e peguei outra na gaveta.
- O que está fazendo? - inquiriu, tomando a calcinha que
descartei para levá-la ao rosto.
O homem tinha tesão pelo meu cheiro.
Certeza.
De um jeito poderoso que ele nem se incomodava mais em
disfarçar.
Melhor: parecia um animal, o que me deixava ainda mais
molhada.
- Esse vestido marca muito. Ou uso com fio dental, ou sem
nada. - vesti a outra.
- Usa sem nada. - decidiu, rouco.
- Não. - abanei um dedo - Você disse que ia me foder com a
calcinha e eu quero ver.
Caminhou até mim. A calcinha presa no punho firme. Sem
meus saltos, Gregory ficava mais alto que eu de um jeito
imponente. O tórax amplo e os ombros largos faziam com que eu me
sentisse pequena. Como se ele pudesse vir até mim com aquele seu
tesão de macho e me esmagar.
Ergui o queixo para desafiá-lo com um olhar.
Tomou minha cintura com força.
Os músculos do pescoço enrijecidos, como um bicho forçando
a coleira até o limite da segurança. Esticando-se para
ultrapassar qualquer tipo de controle e me engolir.
Enfiou dois dedos no meu decote e puxou o pano para ver
meus peitos. Emitiu um gemido baixo. Aprovação ou desespero.
Provavelmente uma combinação dos dois.
Sua respiração ficava mais pesada. Audível.
E eu estava me arrependendo de nunca ter usado aquele
vestido para ele, antes. Abençoado fosse.
- Deixa eu ver essa tua calcinha, então. - mandou.
- Não trabalho pra você. Se quer ver a calcinha, faça isso
sozinho. - desafiei.
Talvez não fosse saudável desafiar Gregory quando ele
atingia aquele pico de tesão incontrolável. Mas eu adorava quando
ele perdia o controle…
E foi exatamente isso que ele fez: me agarrou pela cintura
com violência e me jogou contra a penteadeira. Eu gemi, safada,
arrebitando-me.
Suas mãos nas minhas coxas, os polegares acariciando-me em
seu caminho para cima até encontrar a barra do vestido e puxá-la.
Soube quando ele encontrou o fio dental azul claro enfiado na
minha bunda porque arfou como quem pede misericórdia.
Sua respiração pesada e quente. Tocou o fio delicado
puxando-o devagar enquanto descia o zíper para tocar minha pele
com sua carne dura. Gregory era imenso de um jeito que bastava me
tocar com sua cabecinha gorda e eu já estava suprimindo arrepios.
Beijou meu ombro e então um estalo quando espremeu os
lábios.
Ele está babando?
- Dominique. - sussurrou, urgente - Eu vou te comer com
muita força hoje.
- Vai coisa nenhuma. - provoquei.
Seus dedos se enfiando na minha carne, com raiva.
- Fica quieta. - sua voz tremia - Porque eu vou começar
pela tua boceta mas depois eu vou para o teu cu. Se comporta, ou
amanhã você não senta.
Até parece.
Eu sempre sentia vontade de sorrir quando Greg fazia uma
de suas ameaças eróticas. Era uma reação aceitável quando essas
intimidações sexuais vinham do homem que me comia o cu
perguntando - de modo direto ou indireto - se eu estava bem. Eu
sei que ele sempre se controlava, o que era uma pena: eu queria
que ele me comesse com toda a potência daquele pau imenso. Mas
sua gentileza não se permitia sequer arriscar me machucar.
Bobinho.
Deve achar que eu sou frágil como ele.
Empurrei minha bunda contra sua ereção.
- Promessas, promessas… - ri - Mas… - eu o empurrei com o
braço quando algo particularmente interessante me ocorreu - Eu
tive uma ideia.
Gregory me olhou, surpreso, quando virei-me para ele
colocando alguma distância entre nós.
Ele tinha o cacete duro para fora das calças e entre as
minhas coxas. Planejava me comer em algum momento nos próximos
dois minutos.
Bobinho.
- Por que a gente não vai beber alguma coisa?
Seu olhar duro e erótico se furtou em um opaco e
transtornado.
- O quê?
- Beber alguma coisa? Sim! - bati palmas - Excelente
ideia. Aquele bar com o jukebox irritante? Tem música ao vivo dia
de hoje!
- Ahm… - ele me olhou como se não acreditasse em uma
palavra que eu dizia - Eu achei que a gente ia… - apontou para
nossa situação.
- E a gente vai! - prometi - Quer dizer… talvez sim.
Talvez não.
- Talvez não? - gaguejou.
- É! Eu vou te esperar no bar. - decidi - Se você
conseguir me seduzir, eu volto pra casa com você. Se não…
- "Se não…" o quê?
- Espero que você tenha mais sorte hoje do que da outra
vez que me viu nesse vestido.
- "Se não…" o quê? - repetiu, desesperado.
- Ah! - apoiei-me em seu braço para me inclinar e despir o
fio dental - Aqui. - entreguei a peça cheirando ao meu sexo nas
mãos dele - Para você ter certeza que, dessa vez, eu não estou
mentindo.
E parti.

********************

A calcinha dela ainda estava pendurada no meu dedo.


Aquela porra minúscula, azul claro, exalando aquele cheiro
de Dominique que puta que me pariu.
- Você tá brincando, não é? - implorei para o corredor
vazio, ouvindo-a descer as escadas.
Eu estava duro para fora das calças e ela tinha ido embora
sem calcinha.
- Amor? - chamei - Não é sério, não é? Você volta comigo
para casa independente do que eu diga, não é? Independente do que
aconteça no bar? Eu não tenho realmente que… Amor? AMOR?
DOMINIQUE?
É.
Ela tinha ido embora.
Três.
Minha interação com Thoen era complicada. Eu nunca sabia
se éramos colegas, inimigos ou… eu sei lá.
Procurei a data de hoje no calendário. Dia dos Namorados.
De novo. O tempo estava passando rapidamente.
Há um ano, eu estava sentado naquela mesma cadeira,
recebendo o convite de Marcel para ir a um bar enquanto ouvia
suas explicações sobre como o Tubarão Thoen tinha perdido um
caso.
Há um ano, eu a encontrei, por acidente, com aquele
vestido carmim entre galanteios ofensivos e uma aposta que era
nada além de erótica.
Há um ano, eu achei que estávamos nos aproximando.
Há um ano, eu achei que poderíamos ser amigos.
Mas, no dia seguinte, descobri que ela estava me
processando.
Foi a primeira vez que fez isso e, ao longo do último ano,
eu podia dizer: não tinha sido a última.
Ela parecia me detestar. Ao mesmo tempo, no entanto, eu
parecia ser a única pessoa do escritório que ela não detestava.
Bem… pro inferno com tudo isso. Já tinha desistido de
entender Dominique.
Era melhor manter a distância. Principalmente nas últimas
duas semanas: a mulher parecia especialmente possuída por uma
amargura nefasta capaz de contaminar qualquer um.
- Pode dar uma olhada nisso? - entrei na sua sala.
Mas não com o corpo inteiro.
Deixei metade para fora, para facilitar a fuga, caso fosse
necessário.
- O que houve?
- A apelação da Construtora Margot. Quero ter certeza que
está perfeita. Pode dar uma olhada?
Thoen me analisou, confusa.
- Vai me fazer dizer, não é? Você é a melhor advogada
dessa porcaria. - sorri, sem graça - Preciso de uma prova de fogo
para isso aqui. - abanei o papel - Se incomoda?
Respirei fundo e me preparei para o bilhão de piadinhas
que seguiriam para inflar seu ego.
Mas, ao invés disso, ela apenas estendeu a mão.
- Para quando precisa?
Agora era eu quem estava confuso.
- O mais rápido que puder.
- Amanhã. - decidiu.
Deixei o papel na sua mão e…
- Obrigado.
- Hmhum.
- Já está saindo? - arrisquei - Comemorar o dia?
- Não. Tenho muito trabalho. - apontou para a pilha sobre
a própria mesa.
- Sinto sua dor. - resmunguei no caminho de volta para a
minha sala. Eu também não iria a lugar algum naquela noite já que
uma pilha bem similar ainda esperava por mim. Mas acho que o lado
bom de gostar do que faz é que, pelo menos, o tempo de trabalho
passa depressa. Já passava das dez da noite quando fiz uma pausa
para esticar as costas e olhar para o relógio.
Thoen ainda estava curvada sobre seus papeis. Tinha
despido os saltos e, assim como eu, não parecia perto de acabar.
Eu estava com fome.
Revistei a carteira por algumas notas trocadas. Suficiente
para um par de sanduíches da máquina na copa. Ela precisava comer
também, não era? Sempre era um desafio ser gentil com Dominique,
mas ela não me arrastou na lama quando pedi ajuda com a apelação,
então talvez fosse o momento certo para retribuir.
Empurrei a poltrona para trás quando vi o vulto cruzar o
corredor apressado e entrar na sala dela sem pedir licença.
Agarrei os braços da cadeira quando ouvi a voz masculina romper o
silêncio com rancor:
- Sério, Dominque? Nem atende minhas ligações?
Ele parecia ríspido e eu me coloquei de pé. Era improvável
que ela precisasse de ajuda, mas…
- Eu atendi sua ligação. - respondeu, seca. Levantou a
cabeça apenas para ver de quem se tratava - E fale baixo.
- Você chama aquilo de "atender minha ligação"?
- Eu chamo apertar o botão verde do celular de "atender
sua ligação". Há outra definição que não estou familiarizada?
- Você mal disse duas palavras.
- Ah, então eu atendi o telefone? - colocou-se de pé - E
está reclamando, na verdade, porque eu não quis falar com você?
- Qual a diferença?
- Para mim, nenhuma. Preferia se nem sequer tivesse me
ligado.
- Será que você podia pelo menos fingir ter um pouco de
educação?
- Tive educação o suficiente para te atender. - afirmou -
Mas não sou obrigada a querer falar com você, nem com ninguém.
- É Dia dos Namorados. - murmurou, intenso - Eu fiz uma
reserva para nós dois. Vou perder o depósito. E se você não liga
para todo o carinho que tive ao planejar nossa noite, pelo menos
saiba que vai me custar uma pequena fortuna. E você sequer
consegue me atender com consideração! Sequer se incomoda em dar
uma justificativa.
- "Tenho que trabalhar" não é uma justificativa?
- Não é boa o suficiente. - ele estava falando alto de
novo. Dominique não usava os saltos mas parecia umas oito vezes
maior do que ele.
- Não me lembro de ter te nomeado juiz das minhas
justificativas. Se eu digo que tenho que trabalhar, eu tenho que
trabalhar.
- E se eu não acho isso bom o suficiente?
- Então eu recomendo uma boneca inflável, já que os
horários de uma pessoa de verdade te incomodam.
O homem abriu a boca em pura indignação e levou as mãos
aos cabelos como se não acreditasse.
É namorado dela?
Como?
Ele não parecia capaz de sobreviver um dia inteiro de
Thoen.
- Eu vou te desculpar por isso porque eu sei que está em
um momento sensível.
- Que pena, porque eu não pedi desculpas.
- E você pede alguma vez? Eu só queria passar a noite com
você. É tão desprezível assim? Querer passar o dia dos namorados
com minha namorada?
Ela torceu o nariz para a palavra e me senti errado por
observar. Mas a curiosidade era mais forte do que eu.
- Marco, eu te disse que não queria fazer nada hoje. Eu te
disse várias vezes. E eu detesto ter que repetir. Ainda assim
você fez seus planos, suas reservas e seus depósitos. E agora, eu
te digo que não quero fazer nada hoje porque NUNCA QUIS fazer
nada hoje, e você me liga um milhão de vezes como se a pessoa
maluca com problemas para entender informações simples fosse eu?
- Você não quis dizer aquilo.
- Perdão? - ela se empertigou, incrédula.
- Estava só fazendo doce. Toda mulher quer comemorar dia
dos namorados com alguém.
Ai.
Péssima ideia, colega.
Eu engoli uma risada baixa.
Thoen ia destruir o cara.
Do outro lado do corredor, ela era um reflexo do meu
sorriso espontâneo. Só que o dela era muito mais poderoso,
genuíno e desavergonhado.
Acho que ela até quis dar uma de suas respostas ácidas e
imediatas, mas o comentário deve ter soado tão absurdo em seus
ouvidos que ela não conseguiu se impedir.
- Está rindo de mim? - constatou, magoado.
- LÓGICO! - ela gargalhou, feroz - Amorzinho, a gente não
se conhece há muito tempo mas está bem evidente que foi uma
péssima junção.
- Você não quer dizer isso.
- Estou adorando como você sempre parece saber o que eu
quero dizer melhor do que eu. Para referência futura, Marco, não
que a gente tenha um futuro… mas eu sempre digo exatamente o que
eu quero dizer. Sou muito boa com as palavras e estou bem
acostumada a lidar com gente burra. Então sempre me expresso bem.
Quando eu disse que não queria fazer nada hoje, achei que tinha
sido clara: não quero fazer nada hoje.
- Você só está sensível por causa do funeral, então eu te
preparei uma surpresa ainda assim.
Funeral?
Thoen abandonou sua expressão sarcástica por uma quase
homicida.
- Marco, a hora de você ir embora já veio e foi-se.
- Que tipo de relacionamento é esse onde você precisa
enterrar um ente querido e SEU NAMORADO não pode ir com você?
- Eu disse que queria ficar sozinha.
- Sua teimosia é insuportável, Dominique! Escute o que
está dizendo! Você precisava de mim, mas não aceitou admitir
isso.
- Eu precisava ficar sozinha. - rugiu entre dentes
semicerrados - Precisava que você escutasse. Precisava que você
respeitasse. Escutar e respeitar são coisas, no entanto, que você
parece desconhecer.
- Eu queria estar lá para você.
- Não, não queria estar lá por mim. Queria estar lá por si
mesmo. Se quisesse fazer o que era melhor para mim teria me
escutado e respeitado, ao invés de passar os últimos quinze dias
me irritando como um pentelho encravado.
- Você é louca.
- Sou. - rosnou e ele deu um passo para trás - E é melhor
ir embora antes de descobrir o quanto está certo.
- Se você não consegue lidar com sua teimosia, é melhor
esse relacionamento acabar. - murmurou.
- Querido, esse relacionamento acabou no instante que você
pisou no meu ambiente de trabalho, sem pedir minha permissão,
para discutir questões suas.
- Se eu sair por aquela porta… - suspirou - eu não volto
nunca mais.
- E está esperando o quê? Carimbo no passaporte?
O homem marchou para fora da sala e Thoen voltou para sua
mesa e seus papeis como se quase nada tivesse acontecido.
Funeral?
Era por isso que ela estava especialmente impossível nas
últimas semanas.
Esperei alguns minutos antes de seguir para a copa com
minhas notas trocadas. Voltei com dois sanduíches, dois
refrigerantes e a certeza de que era melhor deixá-la em paz. Ela
claramente não queria companhia.
Mordi o lábio ao encarar sua porta aberta.
- Está com fome? - perguntei, sem entrar - Peguei a mais.
- gesticulei.
Ela engoliu em seco e achei que ia me expulsar, mas…
- Obrigada.
Obrigada?
Certo…
Entrei na sala devagar e deixei os itens sobre sua mesa.
- Fiz umas anotações. - devolveu minha apelação - Mas não
está ruim.
- Sério?
Peguei o documento de volta.
"Não está ruim" era "ficou ótimo" na língua dela.
- Você fica surpreso quando seu trabalho não está ruim,
Holt? Ótimo. Encorajador.
- Fico surpreso quando você elogia alguma coisa. - sentei
na cadeira a sua frente para ler suas anotações - Que decisão é
essa? - Vi uma de suas anotações na margem sugerindo a adição de
uma jurisprudência que eu desconhecia. Aliás… "ordenando" uma
adição era mais preciso. A mulher era mandona mesmo em uma frase
de rodapé.
- Pesquise. - resmungou - E não foi um elogio.
- Não, claro que não.
Ela respirou fundo antes de abaixar os olhos e minha
atenção se desviou de suas anotações para sua expressão.
- Eu provavelmente vou me arrepender disso. - acenei -
Mas… você tá bem?
Dominique me encarou com tédio nos olhos, respondendo
minha pergunta sem usar qualquer palavra.
- Ok. Desculpa. - gesticulei - Sabia que ia me arrepender.
É só que… não pude deixar de ouvir sua conversa e…
- Sério? Não pode deixar? - abriu os olhos, descrente.
- Ele mencionou um funeral? - falei, devagar.
- É. Mencionou. - respondeu.
E era isso.
Ela não ia falar mais sobre o assunto.
- Se incomoda se eu comer aqui? Sei que vou voltar a
trabalhar no instante que sentar na minha cadeira e acho que
preciso de uns quinze minutos de descanso.
- Não faça sujeira.
- Sim, senhora. - abri o sanduíche, então olhei para o
lado e abri o dela também - Me acompanha?
- Acho que é inevitável. - aceitou - Por que está
trabalhando hoje? Não tem nada melhor pra fazer? - completou,
sarcástica.
- Do que sentar aqui e ouvir suas ofensas? Nunca! E eu
gosto do trabalho. - dei de ombros.
- É. Eu também. - murmurou baixinho. Acho que talvez tenha
significado algo a mais para ela. Se não me disse, no entanto, é
porque muito provavelmente não era da minha conta.
- E está interessada na minha vida?
- Não. Mas percebi que quando está respondendo perguntas,
não se intromete na minha vida. Então, o que planeja fazer
amanhã?
Eu ri.
- Trabalhar, de novo.
- Isso está horrível. - mastigou o sanduíche.
- É. - concordei - E de nada.
- Não agradeci. - resmungou.
- Agradeceu SIM! - apontei.
- Não, não agradeci. - estreitou os olhos, percebendo seu
ato falho.
- Ah, agradeceu! Agradeceu de verdade! Com um "obrigada"
completo assim que entrei na sala. Vou guardar esse momento no
meu coração para sempre.
- Cala a boca, Holt.
- De nada, Dom. - fiz um floreio exagerado - Foi um
genuíno prazer.
Comemos em silêncio por algum tempo. A vi sorrir uma vez e
considerei um avanço, mas a quietude estava me incomodando. Mexi
no celular procurando algo legal.
- Posso colocar uma música? - pairei o dedo sobre a
playlist de pop dos anos 60.
Ela deu de ombros e, conhecendo Thoen, era o mais perto de
um "sim" que eu jamais chegaria para aquela pergunta.
- Eu estava pensando: é o segundo Dia dos Namorados que
passamos juntos. - ativei a playlist e ela revirou os olhos para
minha escolha musical. Ela realmente transformava "revirar os
olhos" em uma forma de arte - Daqui a pouco vou precisar te
comprar uma aliança.
- Está delirando, Holt.
- E não revira os olhos pra minha música, você gosta.
- Ah é?
- Escolheu aquele bar com música ao vivo, ano passado.
Estava tocando justamente isso.
- Sua memória é uma coisinha engraçada. Lembra a música
que tocou em um bar há um ano, mas não lembra de jurisprudência
da semana passada. - riu e recebeu minha língua estirada de
resposta.
- Não li a jurisprudência, Thoen. Estou desatualizado, é
diferente. Se vai me ofender, pelo menos acerta nos defeitos.
- Oh, perdão. - sorriu.
- Nossa. Consegui um agradecimento e um pedido de
desculpas seu, hoje. Melhor Dia dos Namorados!
A curva em seus lábios se ampliou, com uma risada gostosa.
Havia algo em seu sorriso que sempre me hipnotizava.
Talvez fosse o fato de que eram raros.
Ou talvez… talvez fosse apenas sua boca.

********************

Estava terminando o sanduíche quando o celular de Holt


trocou de música.
Ele arregalou os olhos como se estivesse particularmente
satisfeito.
- Não revira os olhos pra minha música. - apontou, quando
Mustang Sally explodiu no volume máximo do seu telefone, no ritmo
rouco da versão do The Commitments.
Eu nem notei que tinha revirados os olhos.
Mas a sua reclamação me fez ter vontade de repetir e eu me
controlei.
Não porque queria poupá-lo… mas porque Gregory ficava
especialmente sensual quando começava com suas brincadeiras de
intimidade ou falsos erotismos. Eu já tinha sonhos molhados o
suficiente com o homem, não precisava de mais material.
Deveria tê-lo colocado para fora da minha sala assim que
apareceu na minha porta.
Acho que não estou em meu melhor momento.
Compreensível.
O funeral do meu pai não teria sido fácil mesmo que eu
ainda tivesse família por toda parte. O fato, no entanto, é que
eu tinha absolutamente ninguém no mundo fora ele. E isso tornava
as coisas bem mais complicadas.
Intensas.
Tristes.
E aí, Holt, seus sanduíches e sua música antiga no
celular.
Estava me distraindo tão bem quanto o trabalho. Um feito
memorável que ele nunca saberia porque eu nunca admitiria, é
claro.
- Adoro essa. - ergueu-se ao som compassado de Mustang
Sally.
- Percebi. - arregalei os olhos.
Então, ele começou a dançar.
Não era uma simples dança, mas era uma… dança.
Movendo o corpo no ritmo da batida, casualmente, enquanto
jogava os restos de nossas refeições no lixo.
Quadril e ombros marcando o compasso sensual da percussão.
Agitou os braços colados ao corpo como se fizesse pouco mais que
uma graça, mas eu estava passando a língua nos lábios.
Dominique.
Pare.
Os músculos perceptíveis abaixo da camisa apertada em seu
peitoral largo. A gravata frouxa em seu pescoço fazia muito pouco
para esconder seu físico. E as calças… as calças de Gregory eram
sempre indecentes.
Indecentes porque, apesar de devidamente bem cortadas,
aqui e ali ele sempre se movia de algum jeito a deixar sua
virilha pressionada. E aí era notável que o homem tinha um
tamanho do tipo que excesso de pano não consegue disfarçar.
Por Deus, Dominique, pare.
- Dança comigo. - pediu.
- Não.
- Dominique não tem ninguém aqui. Uma música não vai
alterar sua reputação. E eu não vou contar para ninguém!
Ergui uma sobrancelha para sua promessa exagerada.
- E mesmo que eu contasse - lembrou - QUEM ia acreditar em
mim?
Aceitei sua mão com uma expiração de desistência e deixei
que me conduzisse pela cintura.
- Pronto, agora só se balance de um lado para o outro. E
não me morda, por favor. - acrescentou, sério, e eu precisei rir.
Apoiei a mão livre em seu ombro e foi… bom.
Gregory era enorme e tinha um jeito de me pegar pela
cintura que me fazia querer enfiar o rosto na curva do seu
pescoço e fechar os olhos.
Mas mantive o rosto longe de seu pescoço.
Mantive os olhos aberto.
Mantive o olhar seco e distante porque era melhor morrer
do que deixar um tipo gentil como Gregory Holt perceber um tipo
de humanidade em você. Não me deixaria em paz nunca mais.
Agora, eu estava sensível. Um pouco. Apenas.
E não estaria para sempre.
Respirei fundo.
Estava olhando para ele.
Estava olhando para ele?
Quando foi que eu decidi fazer isso?
Não sei. Mas estava fodida presa no seu olhar.
E ele estava ali, preso no mesmo anzol que eu. Afogando-
nos, os dois.
Uma correnteza forte demais para lutar, me prendendo em
seus braços enquanto seu aperto ao meu redor se convertia em um
de natureza muito mais poética.
Minhas mãos em seu torso fazendo-me sentir desajeitada
demais para me mover. Hálitos misturando-se aos poucos naquela
aproximação lenta que é prólogo para beijos de qualquer tipo.
Talvez eu tenha sentido seu nariz tocar o meu antes de nos
afastar.
Nunca teria certeza de quão perto chegamos.
Mas eu o afastei apenas o suficiente para que ele soltasse
o aperto em minha cintura, sem nos separar.
Dançamos até o fim.
Mas as palavras se foram e, com o fim da música, Gregory
também.

********************

Poucos anos depois…

Ela estava sentada no balcão. As pernas cruzadas no


vestido carmim era quase um deja vu.
A única diferença é que, dessa vez, ela estava cercada por
uns quatro interessados e eu estava bem pertinho de explodir de
ciúmes.
O vestido mal chegava aos seus joelhos, o conhecimento da
ausência de sua calcinha causando tremores profundos em meu peito
e estômago.
Dom piscou os olhos na minha direção ao me assistir
aproximar. Rasgando o chão do bar, como um dia imaginei que
faria: pronto para arrancá-la daquela cadeira, empurrando para
longe quem ficasse entre eu e minha mulher. Ia fodê-la no carro
porque nem no meu melhor estado meditativo iria conseguir esperar
chegar em casa.
Estava a poucos passos do meu destino quando percebi uma
coisa.
Eu não ia seduzi-la assim.
Afastar-me de Dom naquele bar, enquanto ela usava aquele
vestido, deve ter sido uma das coisas que meu pau mais detestou
fazer na vida. Mas o forcei a me acompanhar. Passando direto por
ela para sentar a algumas cadeiras de distância, pedi uma bebida.
Eu sabia que ela estava olhando para mim.
Tinha certeza.
E eu apenas fiquei ali. Esperando.
- Boa noite. - uma garota que parecia ter pouco mais de
vinte anos se aproximou, sorridente e avermelhada de bebidas.
- Boa noite. - devolvi com um sorriso.
- Esse lugar está ocupado?
- Não. - convidei.
Ela sentou-se ao meu lado, apoiando os seios sobre os
braços para fazê-los saltar.
- Serena. - apresentou-se.
- Gregory. - apertei sua mão.
- Procurando companhia, Gregory?
- Estou. - admiti.
Uma bem específica sentada logo atrás de você e me
fuzilando com um olhar assassino.
- Ótimo. - sorriu, promissora - Eu também. O que está
bebendo? - tocou meu braço iniciando uma intimidade.
- Aí está você. - Dom chegou, com seu vestido carmim,
envolvendo meus ombros com um abraço possessivo. Eu sorri sem me
abalar.
- Olá. - cumprimentei, descarado.
- Está pronto, querido? Estamos atrasados.
- Ah, é? Para o quê? - provoquei, sentindo suas unhas se
enfiando na minha carne.
Dominique virou-se para Serena com seu típico sorriso
psicopata:
- Você vai ter que nos dar licença, mas eu e o xuxu temos
uma aula de artesanato.
Eu engasguei entre a gargalhada e a cerveja.
- Vamos fazer uma porção de bijuterias com… - olhou para
mim - Como era?
- As coisas que a natureza dá. - expliquei.
- Isso. - sorriu.
Minha Dom linda.
Não sei se Serena foi embora. Dom estava ali e o resto do
mundo raramente me importava quando ela estava por perto.
- O que está fazendo, Holt? - enfiou os dedos no meu
cabelo, acariciando-me como se para deixar claro que eu lhe
pertencia.
- Veja bem - comecei - eu estava pronto para ir até ali
dar em cima dessa morena maravilhosa com um vestido estupidamente
erótico. - encarei seu corpo, libidinosamente, durante meu
discurso - Mas aí eu lembrei de uma coisa.
- Do quê?
- Não ia te ganhar assim: com uma cantada barata e um
sorriso. Homem nenhum te ganha assim porque… homem nenhum te
ganha. Pelo contrário, é você quem sabe o que quer e vai buscar.
Não é sempre assim?
Ela se aproximou na iminência de um beijo.
- E eu já sei que você me quer. - sorri, exagerando na
sensualidade até fazê-la rir. Então roubei um beijo. Há poucas
coisas na vida que eu amo tanto quanto beijar aquele sorriso - Só
precisei esperar que você viesse me buscar. - ergui o ombro.
- Hm. - acenou, julgando minha resposta - Seu plano foi
adorável. - beijou-me - Mas não faça de novo. - torceu o nariz.
- Não, senhora. Mas e aí, gata? - fiz uma careta sensual -
Seu pai é um anjo? Porque você caiu do céu.
- A cantada não é assim, Gregory, presta atenção. A pessoa
é que tem que ser um anjo para poder cair do céu.
- O que eu ia fazer da minha vida sem você?
- Não faço ideia. - mordeu minha boca e eu deixei. Ainda a
entreabri para que ela pudesse me morder mais fácil.
E então, como se fosse uma brincadeira do Universo,
preparado um cenário romântico especialmente para nós… o cantor
puxou um compasso sensual e embalou a letra de Mustang Sally.
Abri os olhos forçadamente.
- Dança comigo? - pedi, apressado - Ou ainda é prejudicial
para sua reputação?
- Acho que é seguro dizer que você foi o fim da minha
reputação.
Tomei-a nos braços, levando-nos para o espaço na frente do
pequeno palco onde aqueles que pretendiam dançar se reuniam.
- E você estava muito sensual naquele dia. - ela disse.
- Que dia?
- Dançando no meio da minha sala. - apertou os lábios como
se para suprimir uma ideia proibida. Eu sabia exatamente do que
ela estava falando.
- Estava desejando meu corpo, Thoen?
- Lógico.
- Faço um striptease pra você depois.
- Não me provoque, porque eu vou cobrar.
- Nunca duvido disso. Mas hoje, quem vai cobrar sou eu.
O lugar estava na penumbra e eu escorrei a mão pela sua
bunda sem muito pudor.
- Ah é?
- Hmhum. Porque o acordo era: se eu te seduzisse, ia
ganhar um prêmio. E já que você está dançando comigo cinco
minutos depois que entrei no bar, eu diria que foi sucesso.
- Não lembro dessa conversa de prêmio, mas tudo bem. O que
você quer?
- Olha pra mim. - ela obedeceu - Eu sei que você está
muito molhada por baixo desse vestido.
- Sabe?
- Sei. Porque eu sei que você não se limpou antes de sair
de casa.
- Está ficando duro, Greg? - provocou.
Ela estava perto demais. A pergunta era ridícula: eu
estava duro e ela sabia. Acho que vim duro o caminho inteiro.
Mas agarrei sua bunda, apertando-a contra mim para que não
se sentisse compelida a perguntar de novo.
- E o que você quer? - esfregou-se.
- Eu quero te comer, óbvio. Mas, Dominique, eu não vou
esperar chegar em casa. Eu vou te comer aqui. Como eu sei que
você é controladora, vou te deixar escolher: fora do carro ou
dentro?
Dom me lambeu devagar.
- Os dois. - sussurrou.
Minha ereção se expandiu, fora de controle, como se
quisesse correr para sua vagina molhada. Agarrei sua cintura,
descobrindo que não era mais dono da minha própria respiração.
Eu não era dono de nada, essa era verdade.
Nunca.
Ela era a dona de tudo.
Apesar de todos os meus joguinhos eróticos, ameaças
sensuais e pedidos de vestido… eu não tinha qualquer controle
sobre a situação.
O controle era sempre dela.
E, só de pensar nisso, eu ficava ainda mais duro.

********************

Entre nós dois, a safada normalmente era eu.


Por isso, quando senti os dedos de Gregory subindo pelas
minhas coxas, ainda dentro do bar, percebi que o caso era grave.
Ele tinha uma das mãos sobre o meu estômago enquanto andava mais
agarrado a mim que minha própria sombra. A outra mão tinha
desaparecido entre nós e eu ainda não tinha alcançado a porta de
saída quando o percebi experimentando os resquícios de meu
lubrificante, ressecado entre minhas pernas.
Entre a frustração do sexo oral mais cedo e toda essa
sequência de ameaças e promessas, eu estava com um tesão forte o
suficiente para sair de mim e ganhar vida própria. Inclusive, eu
o sentia querendo fazer exatamente isso: ardendo em minhas
entranhas e escorrendo para fora de mim pela vagina. Condensando-
se em gotas pesadas em sua fuga de minha carne como se em um
manifesto expresso de quem se recusa a viver dentro de um corpo
acometido de tanta tensão sexual sem promessa de alívio.
Promessa de alívio que tinha se tornado uma expressão bem
pertinente quando os dedos de Holt abandonaram qualquer pudor em
seu caminho - libertino e exibicionista - coxas acima.
Eu me entreabri para lhe dar passagem e acho que devo ter
gemido baixinho, porque ele perdeu o controle.
Eram duas coisas, sempre: eram meus gemidos, era meu
cheiro.
Bastava um mero indício dessas duas coisas, e Gregory
desistia da racionalidade que o fazia humano e abraçava aquele
instinto indócil que o fazia animal.
Lembrava-me um tigre. Um animal imenso e poderoso,
descansado sobre uma pedra em um banho de sol. Quase parecia
manso. Você poderia se aproximar ou até tocá-lo. Poderia colocar
uma coleira ao redor do seu pescoço e exibi-lo em programas de tv
matinal. Adestrá-lo para fazer truques em um picadeiro diante de
crianças.
Aquele era Gregory. Deitado em banhos de sol, encoleirado
em um picadeiro.
Quase parecia manso.
Mas aí dedilhava a entrada molhada de minha boceta ardente
no meio da passagem lotada de um bar na penumbra, e eu tinha
certeza que ele ia me foder com os dedos ali mesmo. No meio de
toda aquela gente, com os dentes cerrados em minha orelha e os
sussurros quentes em minha pele.
Para não me deixar enganar.
Para não me deixar esquecer.
O tigre ainda era um tigre.
Onde estivesse. O que usasse.
Não podia ser domesticado.
Eu tremia sob o vestido carmim, de sofrimento e desejo
Óbvio que eu queria que ele me comesse.
Mas, em dias assim, eu queria que ele fosse violento.
Rude. Ríspido. Primitivo.
Selvagem.
Se dependesse do meu Greg, no entanto, ele seria sempre
gentil. Faria amor um milhão de vezes antes de me foder.
Que interlocutores jamais me entendessem mal: fazer amor
com ele era a melhor parte do meu dia.
Mas eu amava quando me fodia.
Seu tórax era um bloco teso às minhas costas quando me
pressionou contra uma das mesas altas que percorria todo o
perímetro do bar. As pessoas se aglomeravam na entrada: tentando
entrar, tentando sair, tentando permanecer ali para atrapalhar a
passagem e obrigar Dominique a ser fodida em público.
Gregory apertou-me contra a mesa e seus dedos precisariam
de dois centímetros para se enfiar na minha carne. Sua respiração
em meu pescoço era audível. Aquela respiração de homem
desesperado lutando contra uma tortura de um tipo muito
específico.
- Que está fazendo? - gemi.
- Enlouquecendo. - respondeu em um pânico erótico - Não
era isso que você queria? - um de seus dedos fez um carinho quase
romântico em meu grelo. Digo "quase" porque há um limite para
romantismo que talvez esteja em algum lugar entre eu estar sem
calcinha e Gregory estar enlouquecendo de tesão no meio de gente
demais.
Seu toque tremia, embebendo-se em meu mel. Um conflito
evidente do tigre na coleira.
Queria se controlar.
Mas não queria se controlar.
Soltou minha vagina, mas ainda estava agarrado às minhas
coxas quando me conduziu para fora do bar com uma brutalidade
urgente que fazia meu tesão escorrer ainda mais furioso.
Me joga contra o carro e me come.
Só faz isso, Holt.
Levanta meu vestido.
Abaixa as calças.
Sem preliminares.
Sem conversas doces.
Me fode pelo cu sem pena de me poupar.
Enfia a mão inteira na minha boceta.
Eu ia dizer as palavras para conduzi-lo aonde eu precisava
que fosse, mas quando me virei para vê-lo só o que notei foi o
tremor em seu lábio inferior. Tinha levado os dedos ao rosto para
limpar a saliva quando deve ter sido acometido por um raspar leve
de meu cheiro e meu sabor.
Ele tinha um fogo nos olhos firmes sugerindo que ele
precisaria de pouca instrução.
O beco que fazia as vezes de estacionamento estava vazio.
Cedo demais para que alguém estivesse saindo. Tarde demais para
que alguém estivesse chegando.
Gregory me apertou a cintura e jogou-me de costas para
ele, pressionada contra a lataria fria de sua Mercedes preta.
Abaixou-se até estar quase ajoelhado, acariciando o vestido
carmim sobre minha bunda como se revivesse uma memória. Levantou
o pano devagar até exibir uma das nádegas. Um gemido rouco,
seguido pelo ardor na bochecha que ele escolheu para morder com
força.
Arranhou-me em sua angústia para pôr-me de frente para si.
Repetiu, com a parte da frente do vestido, o que tinha feito com
a parte de trás. Carícias longas e lentas ao erguer o tecido,
seguindo as etapas do ritual erótico que não se incomodou em
explicar.
Não que eu me importasse.
Ele encontrou minha vagina coberta por poucos pelos, ralos
e curtos, e foi o seu gatilho para me engolir.
Na boca de Gregory, era difícil me importar com qualquer
coisa.
Chupava-me entre gemidos, fazendo com que seu hálito me
atingisse tão poderoso para o meu prazer quanto a sucção. Agarrei
seus cabelos, com força.
- Não. - ele ofegou, mordendo minha entrada - Não.
Sua voz era grave e… insana.
Como se tivesse, de fato, enlouquecido.
Soltou-me e fiquei, eu, em pânico.
- Isso de novo? - exasperei-me.
- Não. - rugiu, mas não acho que estava falando comigo -
Não. Não. Não.
Ele parecia tão animalesco e voraz que eu não sabia se
perguntava e arriscava quebrar o encanto, ou deixava rolar para
ver aonde iríamos.
Abriu a porta do carro e me agarrou pelo pescoço,
enfiando-me no banco de trás. Tive vontade de rir. Tive vontade
de dançar.
Deixar rolar, então.
Fechou a porta e se enfiou no banco do motorista.
Eu estava muito confusa.
Mas estava igualmente excitada e decidi que a loucura de
Gregory era problema de Gregory.
Enfiei a mão entre as pernas e comecei a me tocar. Holt
urrou ao volante quando percebeu meus gemidos evidentes - e
intencionais - tomando as ruas que faziam nosso caminho de volta
para casa.
Um percurso que levava quinze minutos e Holt fez em cinco.
Parou o carro dentro da garagem e acho que ainda não tinha
puxado o freio de mão quando abriu a porta.
Eu me masturbava lá atrás como faria uma puta: mais para o
lazer do espectador que para o meu.
Acho que o tigre que eu criava em casa ainda estava
murmurando seus "nãos" incoerentes quando abriu a porta de trás e
me agarrou do banco, jogando-me sobre o ombro.
- Isso é mesmo necessário? - perguntei, curvada sobre seu
ombro direito.
E aí parece que acabaram todas as preliminares que jamais
puderam existir.
Dois dedos de Holt estavam dentro do meu corpo.
Penetrando-me no calor úmido entre minhas coxas.
Um grito agudo de surpresa quando me revirei em seu ombro
e só não caí porque ele me agarrava com um aperto sobrenatural.
- Quieta. - rosnou, enfiando seus dedos em mim.
Não chegamos ao quarto.
Não chegamos à escada.
Não chegamos sequer ao sofá.
Assim que entramos pela porta dos fundos, Holt me tirou do
ombro e me apertou contra a parede.
- Quieta. - repetiu e eu obedeci, manhosa.
Seus dedos lavados com meu suco foram prontamente
lambidos, espremendo os lábios enquanto os experimentava de um
modo mecânico.
Não estava me saboreando como gostaria ou esporraria na
cueca.
Estava apenas limpando os dedos.
De joelhos aos meus pés. Apertando meu corpo, despindo-me
como se me desembrulhasse.
Fiquei nua sentindo a corrente fria de vento que entrava
pela porta ainda entreaberta.
Nua, fria e sem conseguir impedir um sorriso meigo.
Como Holt conseguia fazer aquilo?
Hoje, ele ia me comer. Não ia ter fazer amor, agarrando-me
pelo pescoço e me mandando ficar quieta.
Mas… entre todos seus rosnados e fogo no olhar, ele estava
ajoelhado aos meus pés. Apreciando o ato de me despir como se eu
fosse sagrada. Engolindo trilhas de beijos pelo meu corpo nu não
para excitar qualquer um de nós, mas porque parecia incapaz de se
impedir.
Seus braços me envolveram e eu senti aquele carinho
queimando minha pele.
Eu o amo tanto.
E ele me ama.
Ele me ama muito.
Eu conseguia sentir quando ele me abraçava. Quando sorria
ou me beijava. Quando fazia amor ou me fodia.
Eu conseguia sentir o tempo todo.
Ele chegou a minha boca e eu segurei seu rosto.
Queria ver seus olhos. Aquele tom esverdeado que eu amava
mais que qualquer coisa.
Ele hesitou.
Rocei os nós dos dedos em suas bochechas, o polegar sobre
seu lábio. Um beijo lento e superficial que transformou seus
lábios espremidos em um sorriso tímido e lindo.
- Achei que queria que eu te comesse. - brincou.
- Mudei de ideia. - sussurrei, urgente, abraçando seus
ombros - Tem problema?
Greg não respondeu. Apenas me beijou.
Devagar.
Então, inclinou-se para me carregar no colo.
- Para a cama?
- Não. - fugi brevemente - Eu não aguento mais ir para
lugar nenhum. - choraminguei e ele riu - Faz amor comigo, mas faz
aqui.
- No meio da entrada de casa, contra a parede?
- Se vira. - pisquei e ele se derreteu na minha boca,
esmagando uma risada entre a combinação de nosso tesão.
Eu já estava absolutamente molhada.
Ele já estava completamente duro.
Holt tomou meu corpo como se tomasse minha alma. Fazendo-
me envolvê-lo com braços, pernas e intenção.
Eu era dona de mim.
Mas a verdade é que também havia alguma parte de mim que
era dele.
E quando ele me invadia daquele jeito lento, ondulando o
corpo sobre o meu, beijando minha pele com um afeto infinito…
nesses momentos eu não tinha qualquer pudor em admitir. Eu não
tinha qualquer receio de sentir.
Eu era minha.
Mas eu também era dele.
Assim como ele era meu.
Gregory me beijava como se me fodesse, mas o impacto do
seu corpo era gentil. Acariciando minhas curvas com as suas. Um
sentimento presente no movimento que não podia ser facilmente
descrito.
E então ele invertia e me comia com ferocidade no impacto
enquanto tomava meu rosto nas mãos para me beijar de um jeito
doce e apaixonado.
O orgasmo ia chegar rápido demais. Estava sendo
construindo há horas e não ia suportar esperar.
Meu gemido deve ter denunciado o quão perto eu estava e
Holt, conhecendo meu corpo como um especialista, me levou ao
ápice sem qualquer esforço. Suspirando as lamúrias da minha crise
ao seu ouvido enquanto ele não tardava para me acompanhar.
Despejou-se em mim buscando beijos ofegantes e
intermináveis.
O alívio fez o tesão das últimas horas me abandonar e, em
sua ausência, pude notar o sacrifício que ele tinha exigido: foi-
se deixando para trás meu corpo mole e trêmulo.
- Vou guardar esse vestido para sempre. - avisei.
- Ótima ideia. - riu, tomando-me nos braços e guiando-nos
para o quarto.

********************

Soltei o cabelo ao sair do banho e engatinhei por cima


dele até alcançar os travesseiros.
- Vai me contar o que houve? - beijei sua bochecha,
fazendo um cafuné em seus cabelos molhados.
Greg abandonou o celular e esticou os braços para que eu
me aninhasse perto dele.
- O que houve onde?
- Com todos aqueles "não", no estacionamento? Achei que ia
me comer ali mesmo. - provoquei, enfiando a mão por baixo de sua
camisa para sentir seu estômago. Holt era mais rígido e definido
do que homens tão gentis deveriam ser. Tudo nele era meigo e
adorável. Menos os músculos. Menos aquele pau enorme. Menos seu
olhar quando estava perdido de tesão.
Agora, no entanto, ele me abraçava, espalhando mordidas
brincalhonas em meu queixo e parecia um bicho de pelúcia gigante,
quente e sarado.
- Tinha muita gente saindo do bar, Dom. Ia ser um sexo
meio público. Achei melhor me controlar e Deus sabe que eu quase
não consegui.
- Você é certinho demais, lindo. O que há de errado com
sexo meio público?
- Absolutamente nada. - me mordeu de novo - Mas não tinha
conversado com você antes. Não sabia se você topava e não ia
tirar suas roupas no meio da rua sem ter certeza.
- E por que não me perguntou?
- Pela minha experiência, pessoas podem se arrepender de
coisas que aceitam quando estão excitadas.
- Quero saber mais sobre essa experiência. - ergui uma
sobrancelha - Vou voltar a esse assunto depois. Mas, no futuro,
não se preocupe: se estiver fazendo algo que eu não quero, vou te
parar.
Ele acenou.
- Tudo bem. Queria que eu te comesse em público, é?
- Um pouco. - piquei um olho.
- Antes de desistir. Você sempre desiste. - riu, baixinho.
- O quê?
- Você sempre começa agressiva, querendo que eu te coma,
te foda, te pegue pesado… - roçou nossos narizes em sua
brincadeira infinita - Mas depois sempre muda de ideia.
- Não mudo de ideia. - enruguei a testa.
- Muda, sim. Toda vez. Acho que a gente não consegue mais
fazer só um ou só outro - me cobriu com seu corpo, passando uma
perna por cima das minhas e me puxando para si - Precisamos
misturar.
Eu mudo de ideia.
Adoro a ideia do sexo pesado, forte, dolorido e violento.
Mas adoro ainda mais o modo como ele me olha.
O modo como me beija.
O modo como me sinto.
É mais forte que orgasmo.
É muito mais forte.
- Acho que precisamos. - decidi, aceitando.
Greg enfiou o nariz em meus cabelos e se perdeu em um
carinho preguiçoso pelos meus braços. Eu estava mergulhando para
os sonhos, sentindo-o ao meu redor, envolvida por aquele calor
metafísico que sempre se apoderava de mim quando ele estava por
perto. Uma sensação de proteção que transcendia questões físicas
ou materiais.
Eu tinha dado meu coração para ele.
Era isso que tinha acontecido.
E, agora, por mais que eu fosse dona de mim, tinha aquele
pedaço que era dele.
Sorri, encolhida em seu abraço, comparando-o com todas as
outras relações que já tive em minha vida. Com todas as que
imaginei que poderia ter.
- Amor? - chamei.
- Hm?
Eu não precisava dizer aquilo.
Sabia que não precisava.
Mas eu queria.
- Obrigada por não ter tirado minhas roupas em público sem
me perguntar.
Ele se afastou, apenas um pouco, vencido pela curiosidade.
- Está tudo bem? - estranhou minha gratidão espontânea. Eu
ri.
- Está. - alisei seu rosto, beijei o canto da sua boca.
- Dom? - ele me apertou, ainda curioso.
- É só que… - agora era eu quem grudava nossos narizes -
Acho que o respeito que você tem por mim é maior do que o tesão.
Eu vi seu pomo de adão se mover quando engoliu em seco.
- E isso é ruim? - murmurou.
- Não. - deixei meu sorriso crescer para que ele soubesse
que estava tudo bem. Estava tudo muito bem - É perfeito. Na
verdade, acho que é por isso que me apaixonei por você.
Ele sorriu, tranquilo e eu o beijei.
- Coisa nenhuma. - fechou os olhos, se enfiando nos meus
cabelos, de novo - Se apaixonou por mim porque eu sou gostoso.
- Nhé. - dei de ombros e ganhei um beliscão na bunda - Ai!
- gargalhei.
- Shh. - resmungou, fingindo-se de rabugento.
Epílogo

Muitos anos depois...

Amanda dormiu durante o filme e eu a retirei do carro nos


braços para leva-la a cama. Dominique sempre preferia que as
crianças tomassem banho e escovassem os dentes antes de dormir,
mas, hoje, minha bebê estava desmaiada em meus braços.
Dormia tão tranquila e pacífica que a mera perspectiva de
acordá-la me causava calafrios. Cinco anos era uma pessoa muito
miúda. E pessoas muito miúdas choravam quando acordavam com sono.
E pais de pessoas muito miúdas sofrem horrivelmente quando elas
choram.
Na verdade, com Mandy, eu descobri algo que nem Ty nem
Hyatt tinham me ensinado: assistir as lágrimas de um filho era a
pior dor que poderia ser imposta a um ser humano. Amanda chorava
e - por mais falso que fosse seu choro infantil ao implorar por
um chocolate antes do almoço – era como se alguém estivesse
tentando arrancar meu coração do peito com uma serra mal afiada.
- Vai querer acordá-la? – murmurei, sofrendo em
antecipação.
- Não. Se acalme. – riu, baixinho – Você é muito frouxo
com ela, Holt. Vai ficar mimada se continuar assim.
- Achei que a gente já tinha decidido que eu não tenho
pulso firme. A responsabilidade é sua. – beijei a testa da minha
pequena nos meus braços – Eu estrago, você conserta. – sorri,
satisfeito.
- Adoro esses seus arranjos.
Coloquei-a na cama devagar e Dom me trouxe seu pequeno
pijama. Troquei sua roupa com cuidado para não acordá-la,
enquanto Thoen ligava para descobrir como Ty estava.
- Vão virar a noite jogando vídeo game. – reclamou.
- Deixe-os, Dom. São crianças. É isso que fazem em festas
de pijama.
Mandy choramingou, despertando, quando passei a camisa
pela sua cabeça.
- Shh. – cantarolei, baixinho.
Ela se esticou e espreguiçou, bocejando devagar.
- Pronto... pronto. – beijei sua testa antes de me
afastar.
- Greg, eu vou tomar um banho, você quer...
- Papai?
Eu já estava sorrindo antes da minha mulher terminar o
convite. Mas a pequena voz às minhas costas fez com que eu
parasse a porta.
- Boa noite, meu amor. – acendi a luz do abajur mais fraco
para que o quarto ficasse apenas na penumbro ao invés de um
escuro completo.
- Papai, fica. – choramingou.
O rostinho apertado contra o travesseiro. A mão de
dedinhos pequenos inclinada na minha direção como um pedido cheio
de sentimento.
- Fica, papai.
Que espécie de ser humano consegue dizer “não” para uma
cena dessas?
Todos os músculos do meu corpo se contraíram quando
encarei Dominique implorando para que me deixasse ficar.
Ela, por sua vez, revirou os olhos até enfiá-los na nuca.
- Você vai estragar todas as crianças dessa família. –
atestou.
- Uma de cada vez. – concordei, sem resistir. Jogando-me
na cama ao lado da minha filhinha.
Ela se encolheu no meu tórax e sorriu quietinha.
- Fica, mamãe. – piscou e eu percebi que toda aquela
brincadeira a despertou.
- Se está acordada para conversar, está acordada para
tomar banho. – riu.
Amanda fechou os olhos bem apertados.
- Dormiu. – avisei, cúmplice – Está dormindo.
- Tenho certeza. – riu, revirando os olhos para mim, de
novo.
- Fica, mamãe. – pedi, dengoso.
- Fica. – Mandy a chamou com sua mão ousada de dedos finos
e miúdos.
- Cheguem pra lá. – Dom engatinhou pelo lado oposto da
cama, deitando ao seu lado – Vocês dois não têm jeito.
Entre nós, Amanda saiu do meu peito para se encolher no
colo da mão. Dom a abraçou, acariciando seus cabelos claros
enquanto ela fechava os olhos para dormir.
- Papai, conta uma história.
- Nada de historia. Hora do sono. – Dom decidiu.
- Era uma vez em um reino muito distante... – comecei e
recebi de minha esposa o mais hilário olhar de “Deus, homem, como
você é fraco”. O problema é que eu tinha o começo na ponta da
língua por hábito, mas não sabia para onde ir a partir dali.
Dominique fazia carinho nos cabelos de nossa filha, assistindo-me
improvisar com um sorriso calmo. Ela era tão linda. Meu bom Deus,
como era linda. – Era uma vez uma guerreira. – ri – A guerreira
mais forte, inteligente e bonita do reino. Mas todos tinham medo
de se aproximar dela porque ela...
- Engolia a cabeça dos homens. – me ajudou, entendendo
para onde eu estava indo.
- Isso mesmo. – Amanda abriu os olhos para investigar a
rápida insanidade de seus pais. Mas sorriu e rapidamente os
fechou de novo – Até que um dia chegou um príncipe.
- Ah, é um príncipe? – ela riu.
- Sim. Um príncipe muito garboso e...
- “Garboso”? – gargalhou.
- Você quer me deixar contar a história?
- Oh, sim. – riu – Por favor.
- Um príncipe muito garboso. Inteligente.
- Mas não tanto quanto a guerreira.
- Jamais. Mas mais modesto. – completei – E então, o
príncipe chegou no reino e se apaixonou pela guerreira
imediatamente.
- Coisa nenhuma.
- Amor, me deixa contar a história.
Ela deu de ombros, beijando os cabelos de Amanda para
controlar as risadas.
- O príncipe se apaixonou pela princesa...
- Guerreira.
- Pela guerreira, obrigado. E tentou conquista-la de
muitos modos diferentes. Mas a guerreira estava acostumada a ter
homens aos seus pés e não deu muita atenção para o pobre
príncipe. Não importava o quanto ele se sacrificasse para provar
o seu verdadeiro amor desde o primeiro dia.
- Essa história está correndo cada vez mais para o campo
da ficção.
- Silêncio. – torci o nariz, fazendo-a rir – Mas o
príncipe nunca desistiu até que, um dia, venceu a guerreira pelo
cansaço! E eles viveram felizes para sempre.
Amanda se remexeu entre nós, aprovando a história maluca
que não sabia ser perfeitamente verdadeira.
- Não foi assim que aconteceu. – Dom recriminou.
- Não?
- Não. – seu sorriso foi tímido. Aquele sorriso carinhoso
que ela guardava só pra mim. Nossa, eu amava aquela porcaria
daquele sorriso. – A verdade é que a guerreira estava muito
cansada de lutar sozinha. E, com o tempo, ela descobriu que o
príncipe também era um ótimo guerreiro. E, juntos, eles eram
melhores do que separados.
- Faz sentido. É, seu final é melhor. – dei de ombros –
Vou autorizar.
- Mas aí veio um dragão. – sussurrou para Mandy – E fez
com que a guerreira tivesse que ir para bem longe, se esconder.
- Não. – Amanda reclamou.
Eu não pude interferir dessa vez. Meu peito estava gelado.
Detesto essa parte.
Sempre detesto essa parte.
- Não se preocupe. – tocou a ponta do nariz dela – Porque
o dragão não fazia ideia de como eles eram fortes. – prometeu – E
mesmo que tenham passado um tempo separados, eles conseguiram se
reencontrar e derrotar o dragão.
- E aí foram felizes para sempre? – Mandy perguntou.
Dom estava olhando para mim quando respondeu:
- Com certeza.
Amanda aprovou esse final também e se encolheu de volta na
mãe para dormir.
- Detesto a parte do dragão. – murmurei.
- Eu sei. – ela fazia um carinho preguiçoso no meu braço,
acalentando meu espírito – Mas aconteceu há muito tempo atrás. –
sorriu – Em um reino muito distante.
Levei minha mão ao seu rosto para sentir sua pele.
Desenhando as linhas de seu queixo... seu lábio...
- Já acabou. – sussurrou uma promessa de conforto – Já
acabou há muito tempo.
Beijei sua boca e envolvi, as duas, com um abraço
poderoso. Elas riram, apertadas perto de mim, mas logo estavam
escapando para o mundo dos sonhos.
E Dominique, apesar de todos os seus melhores discursos
sobre deixar as crianças dormirem sozinhas, estava entregando-se
ao peso das pálpebras e logo dormiu como a nossa pequena.
E eu fiquei ali.
Deitado.
Assistindo as duas dormirem abraçadas.
Minhas garotas.
Era engraçado pensar naquilo: pensar na felicidade.
Porque a felicidade não é barulhenta. Não é cheia de
tremores violentos ou fogos de artifício.
A felicidade é simples e silenciosa.
É encontrar alguém que tenha uma força compatível com a
sua.
É se render a uma emoção que pode parecer assustadora.
É assistir duas pessoas dormirem e não conseguir parar de
sorrir.
Eu já devia estar ali há quase uma hora quando decidi
levantar e ir para a cama. Peguei Dominique nos braços, mas ela
acordou antes que eu a erguesse.
- Greg?
- Shh, amor. Vou levar minha outra garota para a cama
também. – beijei sua testa.
Dom passou os braços pelo meu pescoço e me deixou erguê-
la.
Atravessei o corredor até o nosso quarto levando-a em meu
colo. Sentindo-a quente e protegida em meu tórax.
Ajudei o seu despir até que estivesse enfiada em uma de
minhas camisas. Despi, eu também, as roupas e me deitei ao seu
lado.
Dom virou-se para se agarrar ao meu corpo, fazendo-me de
travesseiro.
- Filme do Bob Esponja e na cama antes das onze. –
sussurrou, beijando meu peito, sonolenta – Belo Dia dos
Namorados, hein?
Ri baixinho de sua tentativa de fazer graça.
Porque eu estava perdendo meus dedos em seus cabelos.
Sentindo seu perfume ao meu redor. Sentindo-me invadir por aquele
tipo de felicidade tão poderosa que não pode ser quantificada em
vocábulos de qualquer natureza.
Belo Dia dos Namorados, hein?
Apertei seu corpo contra o meu.
- O melhor de todos. – prometi.
Coloquei meu nariz em seus cabelos.
Dormi respirando seu corpo.
Table of Contents
Um.
Dois.
Três.
Epílogo

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