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Alguns Dias
São Paulo
2017
Gogo Books
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610
de 19/02/1998.
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- E aí, Holt? Já tem planos pra hoje ou vai para o bar com
a gente?
Olhei para o relógio.
- Acho que vou com vocês.
- Eu te digo, cara! - Marcel estalou os dedos - Dia dos
Namorados é o melhor dia do ano para ser solteiro em um bar.
- Não vou discordar. - ri.
Ele estava se divertindo comigo até escutar os estalos dos
saltos no chão de mármore, encolheu-se na entrada da minha sala
quando Dominique passou sugando sua alegria.
- Eu não sei se sinto pena ou inveja da sua localização. -
murmurou, sombrio, investigando Thoen com o canto do olho -
Passar o dia todo olhando para ela, não deve ser ruim. Mas também
não deve ser bom.
- Ela não é tão má assim. - voltei minha atenção para os
pedidos em um dos processos.
- Está brincando, Holt?
- Claro que estou. - arregalei os olhos - A mulher é
péssima.
- Rá! E deve estar especialmente ruim hoje, não é? Com o
que aconteceu na audiência dos Mack?
Senti minha testa enrugar.
A audiência de conciliação.
- Foi hoje?
- Foi. E parece que o Tubarão Thoen perdeu a causa.
Não.
Ela não perde.
- Perdeu? Dominique?
- Bem… ou o mais perto que ela chega de perder. - deu de
ombros - Aceitou um acordo que não era exatamente o que queria.
Ainda foi bem melhor que o seu, amigão, com todo o respeito -
gargalhou - mas a gente sabe que a Víbora sempre corre atrás de
um pouco mais de sangue. Deve estar decepcionada. Mais tarde,
então? - apontou para mim antes de sair da sala - Te aviso qual o
bar.
- Combinado.
Marcel fechou a porta da minha sala, trancando-me com meus
pensamentos.
Ela tinha resolvido tudo em uma única audiência?
Ela tinha encerrado tudo de um modo mais indolor?
Ela tinha… seguido meu conselho?
Não.
Isso era quase tão absurdo quanto imaginar Dominique
perdendo.
Quando dei por mim estava andando para o Arquivo. Não eram
mais meus clientes, mas eu precisava saber o que diabos tinha
acontecido.
E se a audiência tinha sido hoje, as informações ainda não
estariam no sistema, mas uma cópia física com certeza estaria no
Arquivo.
- Algo específico? - Val quis saber.
- Não. Acompanhando um cliente. - murmurei quando
encontrei o que precisava ainda na bandeja de entradas.
Minha nossa.
Era como Marcel disse: um acordo melhor que o meu da
audiência anterior, mas bem longe do que Dominique normalmente
conseguia em casos similares. Ela arrastaria aquele casal de juiz
em juiz por meses até vencer todos pelo cansaço. Era comum até
mesmo seus clientes desistirem antes dela.
No entanto, aí estava: tudo resolvido em uma única
audiência.
Célere. Eficaz. Misericordioso.
"Ela não é tão má assim."
Dom? Será que você tem um coração aí dentro dessa
estrutura de lata desalmada?
Estava me permitindo um sorriso sorrateiro quando algo na
pilha da bandeja chamou minha atenção. A relação de nomes e
causas era longa e o nome de Dominique aparecia um milhão de
vezes. Larguei a ata da audiência para investigar o documento
abaixo.
Relação de causas pro bono.
Não acredito.
O escritório agia em uma porção de causas beneficentes.
Ajuda jurídica gratuita a pessoas de baixa condição financeira
que não tinham como pagar um advogado. Todos nós precisávamos
cumprir uma cota mensal, mas a lista de casos de Dominique era
absurda.
Passei as folhas do relatório para descobrir que o nome
dela se repetia nas páginas seguintes quase com a mesma
frequência.
Puta merda.
Ela deveria ter quase tantos casos pagos quanto
voluntários. E o índice de sucesso dela era tão louvável quanto.
Talvez minha brincadeira estivesse certa, no fim das
contas.
Talvez ela não fosse tão má.
Bati na sua porta e entrei sem ser convidado porque era o
único jeito.
- Estou ocupada. - não levantou os olhos - Diga depressa.
- Ouvi que o caso dos Mack foi resolvido em uma única
audiência. - puxei uma das cadeiras a sua frente.
- E veio pedir dicas sobre como ganhar depressa? O que
está fazendo? Não disse que podia sentar.
- Você podia ter prolongado a conciliação até conseguir
fazer tudo do seu jeito. Eu vi o acordo: não é o que você queria.
- Holt, tem algum propósito nessa sua conversa fiada? -
cruzou os braços sobre a mesa.
- Você seguiu meu conselho. - apontei o indicador - Acabou
com tudo rápido para preservar as crianças.
- Você me cansa. - revirou os olhos majestosamente - Não
foi para preservar as crianças, foi só para resolver tudo logo.
- Sim, porque você detesta fazer as pessoas sofrerem por
muito tempo. - ridicularizei.
- Era o que o cliente queria. - sua impaciência começou a
se fazer notar.
Precisei rir:
- E desde quando você liga pra isso?
- Não te devo explicações sobre os meus casos. - baixou os
olhos de volta. Mas os músculos contraídos em seu pescoço me
disseram que eu tinha atingido um nervo.
- Quer sair comigo hoje? - ri.
- Não.
- Já tem um encontro?
Ergueu sua atenção para mim e parecia capaz de cuspir
fogo.
- Me explique em que universo isso é da sua conta.
- É dia dos namorados, Dom. - dei de ombros, sem me abalar
- Imaginei que pudesse ter planos. Mas nós estamos indo para um
bar essa noite. Ainda não sei qual, mas posso te avisar e você
vem com a gente. Vai ser divertido.
- Não.
- "Não", não quer vir?
- "Não", não vai ser divertido.
- E…?
- E "não", não quero ir.
- Não vai te matar socializar um pouco com os colegas de
trabalho.
- Por que quer que eu vá?
- Porque acho que vai ficar sozinha hoje a noite e acabei
de descobrir que você não é um robô. Vamos! Só uma noite.
- Sai, Holt. - sibilou.
- Só precisa ficar por algumas horas. - encorajei.
- Meu Deus, qual o seu problema? - arregalou os olhos,
impaciente - Eu não posso ser tão gostosa assim.
- Perdão?
- Eu sou horrível. - usou a palavra como se fosse um
elogio - E normalmente isso basta para as pessoas me deixarem em
paz. Mas você não! Você. Continua. Voltando. - cerrou os dentes -
Não é possível que eu seja tão gostosa assim!
- Não é. - menti, para cortar sua arrogância. Mas engoli
em seco quase no mesmo instante e tenho certeza que ela notou.
- Então, o quê? Se não fica por perto porque tem algum
delírio insano de que, um dia, vai conseguir me comer, o que
quer? Por que não me deixa em paz? Por que insiste?
Eu expirei.
Puta que pariu, ela era linda.
Era aquela porra daquele par de olhos escuros. Havia um
brilho ali que podia ser facilmente confundido com o gelo que ela
derrubava em cima de todos. Mas, para mim, sempre parecia ser
outra coisa.
Talvez alguma dor que ela nunca conseguiu resolver.
Talvez inteligência demais para o seu próprio bem.
Talvez algo que eu nunca sequer tivesse imaginado, mas que
adoraria descobrir.
Mas ela era igualmente horrível. Isso era um fato.
E, acima de tudo, mesmo admitindo que ela era gostosa como
o inferno, eu não tinha qualquer esperança ilusória de me
envolver - de forma física ou afetiva - com ela.
No entanto, eu não conseguia pensar em uma só resposta
para sua pergunta.
Por que eu insistia?
Por que eu era incapaz de aceitar que ela era ruim e ir
embora?
Por que eu continuava voltando?
Acenei devagar e encarei aquele par de olhos escuros.
- Não faço ideia.
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O que acontece quando você traz uma mulher pra casa, mas
não consegue parar de pensar em outra?
Beth era linda e perfeitamente adorável.
A sensação, no entanto, é que estava faltando alguma
coisa.
Faltando alguma coisa em Beth.
Faltando alguma coisa em todas as mulheres.
Alguma coisa que só ela tinha? Era esse meu problema? Eu
estava interessado em Thoen?
Não, por favor.
Claro que não.
Beijei a boca diante de mim, guiando-a para o meu quarto
acima das escadas. Tocando o corpo diante de mim, guiando-a para
minha virilha. Respirando a mulher diante de mim, guiando-a para
minha imaginação.
- Deixe-me tirar isso, primeiro. - sussurrou em minha
boca.
- Claro.
Eu não entendia mulheres que se escondiam para se despir.
As que preferiam tirar as roupas na segurança de uma porta
fechada enquanto a companhia escolhida esperava do outro lado.
Tem tanto erotismo no despir que parecia um desperdício.
Apesar de qualquer de minhas opiniões, Beth fez sua
escolha e a mim coube apenas respeita-la, lidando com a ereção
dentro das minhas calças enquanto esperava que ela voltasse para
se juntar a mim.
Foi quando um movimento nas grandes janelas da casa ao
lado chamou minha atenção.
Dominique deveria ter chegado antes de mim, mas deve ter
demorado mais para levar a ação ao quarto. Ou isso, ou já tinha
começado e terminado uma ação na sala, antes que eu chegasse.
De qualquer modo, valia-me de muito pouco tentar adivinhar
a frequência com que Thoen escolhia ser fodida.
Ela estava no quarto agora e isso era tudo que eu sabia.
O homem as suas costas passava a mão em lugares que a
maior parte de nós apenas encontrou em pensamento.
A gravata tinha desaparecido e seu toque estava em todos
os lugares, descobrindo a textura de cada centímetro daquele
corpo escultural.
Escultural.
Dominique abanou os dedos para mim em um "adeus"
provocante, com a boca do homem enfiada na curva do seu pescoço.
Devolvi o cumprimento quando senti braços me envolvendo,
atraindo-me de volta.
Beth usava nada além de calcinha e sutiã escuros. Queria
um beijo e eu lhe daria… assim que fechasse as cortinas.
Do outro lado, Thoen dobrou o lábio inferior como se me
parabenizasse pela escolha. Ou pelo fato de eu ter conseguido, no
mínimo, trazer alguém para casa. Com ela, era sempre difícil
saber.
Mas ela também estava inclinada para fechar suas próprias
cortinas. Debruçada sobre o que parecia ser um móvel comprido
apoiado contra a janela, buscando os panos escuros capazes de nos
separar. O corpo curvo, no entanto, deixava sua bunda em perfeita
evidência para o homem que ela tinha atrás de si e, bom Deus, ele
parecia satisfeito com a posição em que se encontrava.
Seus dedos agarraram suas coxas subindo o vestido quando
Thoen fechou as cortinas.
Porque, é claro, ela não era o tipo de mulher que pedia
licença para despir.
Não… ele ia agarrá-la e comê-la antes mesmo de tirar todas
as suas roupas, porque a maldita era gostosa no nível "cuidado,
colega, se não você esporra nas calças".
Apesar de que… eu apostava que, com Dominique, o tesão não
ia diminuir mesmo que ela se enfiasse em um banheiro e passasse
duas horas lá dentro.
Beth enfiou a mão por dentro da minha calça e eu percebi
que aquilo não ia funcionar de um jeito muito cavalheiro.
Agarrei-a pela cintura e virei-a de costas, debruçando-a, também,
contra o meu gaveteiro alto. Tomei sua bunda nas palmas,
esfregando-me ali.
Era isso que ele estava fazendo agora.
O sortudo.
Ia passar os polegares nas coxas dela assim…
Toquei a parte alta das pernas de Beth, onde elas
terminavam dando espaço às nádegas.
Fechei os olhos, imaginando a textura que aquele vestido
carmim deveria ter nas minhas mãos.
Eu já tinha me masturbado pensando em Dominique muitas
vezes.
Mas aquela foi a primeira vez que transei pensando nela.
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