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Letícia Guedes Moura

Resenha crítica do documentário


“Nunca me sonharam”

Resenha realizada como exigência parcial para


o 3° Período do Curso de Psicologia da
Faculdade Santa Teresa.
Prof.ª Maria de Nazaré Souza

Manaus/AM
Março de 2024
Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo

O documentário “Nunca me sonharam” é uma obra brasileira que mostra a


realidade das escolas públicas e da educação no Brasil. Foi lançado em 2017
com aproximadamente 1 hora e 20 minutos de duração, dirigido pelo cineasta
Cacau Rhoden e escrito pelo próprio Cacau Rhoden, com coautoria de Tete
Cartaxo e André Finotti, conta com produção de Maria Farinha Filmes e pode
ser assistido pela plataforma de vídeos gratuita Youtube, sendo assim de
distribuição livre.

A obra conta com relatos de diversos jovens, educadores e especialistas


ingressados no universo do ensino público brasileiro e faz uma análise a
respeito do papel da educação em relação a juventude no panorama atual
brasileiro. Sua narrativa do se divide em sete partes: Tempestade e trovão; A
chave; Nunca me sonharam; Grades; Utopia; Orquestra; e por fim, Tâmaras.

O autor utiliza de uma trilha sonora marcante e relatos verdadeiros para


provocar o expectador a pensar sobre e ouvir a juventude brasileira, olhando-a
assim pelo contexto maior da educação. No documentário é possível mergulhar
na psique adolescente, onde os jovens relatam se sentirem julgados e
atormentados por sofrimento e indecisão. Também se constata que há diversas
juventudes, uma vez que jovens diferentes não tem as mesmas oportunidades
em uma realidade longe daquela meritocrática, assim levantando-se a questão
de qual jovem pode sonhar.

A educação é claramente posta como uma chave para destrancar os sonhos


da juventude, com alguns dos entrevistados afirmando que ela seria um meio
de dar poder por meio do conhecimento. O filme também evidencia vários
problemas que as escolas e alunos enfrentam, como evasão, perda de alunos
para o tráfico, gravidez na adolescência e falta de apoio dos pais, que como o
nome da obra afirma, nunca sonharam seus filhos com carreiras e sonhos além
dos que tiveram. Porém, fica claro que o problema vai além: a sociedade não
sonha estes jovens além de sua condição social de origem.

Por isso o filme se volta então para atuação dos professores, tendo um olhar
empático para com os alunos e afirmando que a educação transformadora,
juntamente com uma arquitetura não repressiva nas escolas, um modo de
ensino dinâmico e uma grade moderna, são meios de evitar que a educação no
Brasil não chegue ao limite.

A questão, diz um entrevistado, não se resolve na “canetada” política, mas sim


no diálogo. O gestor da escola deveria ser como um maestro regendo uma
sinfonia em harmonia, pois a escola tem suas metas combinadas com a
sociedade e vice-versa. Assim, o fortalecimento de boas experiências
escolares seria o novo normal, e uma escola que não é regida por burocracia é,
portanto, utópica, mas não impossível. Por fim, a obra termina com vários dos
jovens entrevistados reafirmando os sonhos que pretendem atingir, e uma
mensagem de um professor sobre “regar as tâmaras” – ou seja, regar um
jardim cujo frutos veremos apenas num futuro distante.

“Nunca me sonharam” teve dois anos de produção, passou por oito estados,
quinze cidades e mais de 100 pessoas foram ouvidas e entrevistadas. É
evidente que houve um enorme zelo da parte dos criadores, que montaram
uma grande obra de sensibilidade e discernimento palpáveis em frente diversos
assuntos delicados.

A educação é seu maior enfoque, mas a educação inerentemente engloba


pessoas das mais diversas origens, raças, sexualidades e questões de gênero.
Em certo momento, uma aluna afirma que a escola não pode ser um local
repressor e discriminatório. Isso é reforçado com muita propriedade também
quando se menciona os professores, sobre os quais o filme afirma devem ter
postura compreensiva e metodologia empática para com os alunos, fazendo
assim a educação andar de mãos dadas com respeito e cultura.

Em resumo, é preciso investir de todos os modos na educação da juventude, e


este objetivo só é atingido por meio de uma educação harmoniosa. É comum
afirmar que os jovens são o futuro do Brasil, mas o Brasil não pode ficar
sentado esperando que esse futuro se concretize sem que haja qualquer
investimento ou preocupação de sua parte. Precisamos, como sociedade, regar
as tâmaras dia após dia e garantir que esses jovens, que nunca foram
sonhados, passem a sonhar.

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