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a formação da personalidade.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 3
DESENVOLVIMENTO
HUMANO E
APRENDIZAGEM
E sua relação com as correntes teóricas.
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SUMÁRIO
tual, afetiva, social e de inteligência humana, esta envolve aspectos de maturação orgânica e
humano. “ São formas de organização da atividade mental que vão se aperfeiçoando e se so-
lidificando até o momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracteri-
zarão um estado de equilíbrio superior...” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1998, p.80). Entre os
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SUMÁRIO
De acordo com Pisani et al. (1990), o desenvolvimento humano é um processo indivi- Como a psicologia se ocupa do estudo do comportamento humano, tem-se que “todo o
dual, exclusivo a cada ser e, que possui ritmo pessoal diferenciado de outros, mesmo assim comportamento humano é aprendido” (PISANI et al., 1990, p. 117) e com isso a psicologia e a
se estabelece uma média, que é representada por estágios, fases, períodos e por isso deve-se pedagogia se unem nas questões relativas à aprendizagem e ao desenvolvimento.
Devido ao ser humano ser menos instintivo que os animais, precisa aprender quase tudo
O processo de desenvolvimento humano leva toda a vida e está relacionado ao conceito e com isso se desenvolve. A aprendizagem é, portanto, um processo natural e por vezes não
evolutivo, conforme o ser humano evolui, também melhora sua capacidade de aprendizagem, percebido por nós. “Começamos a aprender antes mesmo de nascer e continuamos a fazê-lo
assim como esta, pode influenciar no desenvolvimento, portanto esse é um conceito comple- até a morte.” (PISANI et al., 1990, p.117).
“ Desenvolvimento é um processo que inicia na concepção e só termina com a morte. O tes que se identifica o que foi aprendido, isso nem sempre de imediato ou de forma simples,
termo desenvolvimento quer dizer evolução, progresso, movimento, mudança, crescimen- mas acredita-se que aprender modifica comportamentos, ou traz aquisição e ou supressão de
to.” (PISANI et al., 1990, p. 153). comportamentos. Algumas aprendizagens são mais subjetivas, definir esse conceito, no en-
tanto, é uma missão quase impossível, “a verdade é que a ciência não foi capaz de responder a
A continuidade do desenvolvimento se dá de forma uma pergunta bastante simples: O que acontece no cérebro de uma pessoa quando ela aprende
não linear e particular, quando nos referimos a seres alguma coisa? ” (PISANI et al., 1990, p. 119).
O desenvolvimento humano tem relação direta com a aprendizagem, tanto que os prin- sua linha de pesquisa, que os levam a diferentes visões sobre como se aprende, mas não acer-
cipais teóricos da psicologia se tornaram também teóricos da educação, pois esbarraram nes- ca de conceituar a aprendizagem em si, uma vez que este conceito está relacionado a questão
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SUMÁRIO
Em uma breve análise das teorias do desenvolvimento humano destacamos algumas com a prática educativa no capítulo seguinte ,quando falaremos sobre Skinner e a educação.
histórico-cultural. Os conceitos e práticas da psicologia behaviorista podem ser um tanto estranhos, por
sua nomenclatura e pela forma fria como são apresentados. Skinner é conhecido como um
CORRENTE BEHAVIORISTA behaviorista radical, ele causou e ainda causa muita polêmica pelo seu jeito prático, direto e
estudo do comportamento humano, do ato reflexo, e acaba por se expandir para a educa- Skinner foi um cientista e teórico impressionante, e sua teoria é base para muitas das
ção. Uma vez que a aprendizagem é entendida como mudança comportamental, com base em técnicas práticas e funcionais da vida humana, como a teoria cognitivo comportamental, os
comportamentos adquiridos ou extintos. Então os caminhos da psicologia e da educação se processos de coaching, a programação neurolinguística (PNL) e os treinamentos de alto im-
cruzam, por estarem ambos, ancorados no quesito comportamental. pacto, que além de utilizarem diversificados recursos, tem como base o behaviorismo. Todos
Watson e Pavlov entre outros, foram os primeiros cientistas a realizar experimentos como necessários nesse sentido para melhoria humana.
nesta área, utilizando-se de animais que entendiam como próximos aos seres humanos para
compreender o comportamento social, grupal, psicológico. Mas Skinner, o mais conheci- Na educação tudo depende de como se vê e se utiliza tais conhecimentos e técnicas de-
do dos behavioristas, fez experimentos também com humanos e principalmente com bebês senvolvidas pelo comportamentalismo. Ou seja, algumas pessoas do cenário educativo, acu-
humanos, os quais eram condicionados, caso entendesse como necessário, realizava experi- sam o behaviorismo por agregar culturalmente, uma sala de aula onde o aluno é passivo, onde
mentos para a extinção desses comportamentos.(Devido a isso, hoje as pesquisas com seres o professor é que detém o conhecimento que deverá ser repassado ao aluno por meio de re-
humanos, precisam ser autorizadas por comitês de ética em pesquisa, visando o bem-estar e petição, decoreba, autoritarismo, etc. Isso tudo não deixa de ser uma verdade quando todo
direitos dos seres humanos). esse aparato científico foi utilizado com esse foco, como é o caso do Brasil. No entanto, se essa
mesma teoria serve para as práticas atuais, bem aceitas em processos dinâmicos, onde o alu-
A psicologia behaviorista está baseada em estímulo e resposta, reforço e punição, ge- no deverá ser ativo, como no caso do Coaching, PNL e outros, por que esse modelo não pode
rando condicionamento operante; esses conceitos serão melhor entendidos em sua relação ser repassado à sala de aula tradicional?
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SUMÁRIO
Talvez por falta de preparo docente, por uma visão míope da possibilidade de utilização Vamos observar a tabela a seguir que resume as principais correntes teóricas da educa-
dos recursos que o próprio behaviorismo pode proporcionar se utilizado de maneira adequa- ção para depois podermos entender melhor as mesmas:
da. Para não ficarmos apenas nessa visão negativa, segue uma fala com visão mais positiva
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SUMÁRIO
- Representada principalmente por Piaget. Passa a ver o ser humano do ponto de vista de suas características e potencialidades.
- Baseia-se na genética como estruturante
do desenvolvimento.
- Acredita na maturação orgânica que Os principais teóricos que deram origem ao humanismo foram Maslow e Rogers, que
favorece a aprendizagem e estabelece
acreditam na capacidade humana de evolução por si só, com o auxílio de alguém que possa lhe
estágio.
- A aprendizagem ocorre pela interação despertar seu potencial para a autorregulação ou autossuperação. Para eles, o papel do psicó-
CORRENTE PSICOGENÉTICA
social conforme os estágios do logo ou do educador, é de extremo respeito, acolhida, empatia e apoio ao cliente ou aluno que
desenvolvimento.
- O professor planeja suas aulas de acordo
está buscando sua orientação. A terapia está centrada no cliente, que deixa de ser paciente. A
com as possibilidades psicogenéticas do educação está centrada no aluno, que também pode ser considerado um cliente.
aluno.
- O aluno aprende conforme o estágio em
que se encontra e em interação com o meio. Em termos de educação, Rogers se destaca e para ele o professor é um facilitador da
- Representada principalmente por Vygatsky.
aprendizagem e como a educação está centrada no aluno, é sobre ele e para ele, que o profes-
- Baseia-se na interação social, cultural e
história da humanidade. sor vai pensar suas estratégias de ensino. Para isso o aluno é um sujeito ativo e responsável,
- Acredita que o ser humano aprende por
por buscar seus conhecimentos e aprendizagem, que apenas serão guiados pelo facilitador.
estar inserido no contexto social e histórico.
- A aprendizagem é consequência da
CORRENTE HISTÓRICO - CULTURAL aquisição da linguagem e pensamento que “Para mim, facilitar a aprendizagem é o objetivo essencial da educação, a melhor ma-
ocorrem em paralelo.
neira de contribuir para o desenvolvimento do indivíduo que aprende e de aprender
- O professor é um mediador do processo de
aprendizagem do aluno. ao mesmo tempo a viver como indivíduos. Eu vejo o processo que permite facilitar a
- O aluno deve interagir e desempenhar
aprendizagem como uma função capaz de levar a respostas construtivas, provisórias e
um papel ativo no seu processo de
aprendizagem. evolutivas para certas interrogações muitíssimo importantes que assaltam os homens
A corrente humanista surge não por oposição ao behaviorismo ou a psicanálise, mas Esta corrente é extremamente respeitosa e sutil, valoriza a autenticidade e o autoco-
como uma teoria diferente, que aborda no lugar do comportamento humano, o humano em si. nhecimento, para a partir dele realizar autocrítica e buscar melhoria. Na educação a autoava-
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SUMÁRIO
liação é muito utilizada como meta para a melhoria. isso o professor, nesse caso o facilitador, precisa se identificar com esta linha teórica e tam-
bém sua turma precisa ser mais autônoma, ou então, necessita ser desenvolvida para ter esse
Embora pareça sutil, por não impor nada, não forçar a mudança comportamental como tipo de atitude frente ao seu processo de aprendizagem.
faz o behaviorismo, a teoria é apenas diferente, mas traz resultados, por ser profunda, afetiva
e causar menor resistência por parte de alunos e professores, assim também o é na psicote- CORRENTE PSICOGENÉTICA
rapia.
O próprio Rogers comenta que: mento humano de que a aprendizagem não ocorre apenas no aspecto relacional, ou compor-
tamental, mas também com as questões de maturação física e orgânica. Claro que eles não
“Nós sabemos que colocar em prática este tipo de aprendizagem não depende das qua- excluem a interação social e cultural nos processos de ensino e aprendizagem em uma abor-
lidades pedagógicas do formador, nem de seu saber num domínio particular e muito dagem construtivista.
menos do cumprimento do programa de estudos que ele fixou. Ela não depende nem de
sua maneira de utilizar recursos audiovisuais, nem do recurso à instrução programada, O teórico mais conhecido dessa corrente é Piaget, até mesmo pela importância que ocupa
nem da qualidade de seus cursos e muito menos do número de livros utilizados, ainda no cenário da educação como um todo, com ele representam a corrente psicogenética Wallon
que estes diversos elementos possam, numa ocasião ou outra, serem muito úteis. Não: e Vygotsky, teóricos também de renome em termos de educação e aprendizagem.
tivas na relação pessoal que se instaura entre aquele que “facilita” a aprendizagem” Para Piaget inteligência humana é o foco, já em Wallon a afetividade se destaca em sua
(ROGERS, 1983. p.105-106). teoria e, para Vygotsky o destaque está na linguagem e também no pensamento.
Para a corrente humanista ser considerada e aceita no campo educativo e psicológico, “ [...] Piaget enfocou seu olhar sempre na questão da inteligência como o “motor” do
esta foi testada, e analisada, por educadores, pesquisadores e psicólogos. Ao estabelecer essa desenvolvimento humano. Questões como a linguagem, afetividade, desenvolvimento
relação de funcionalidade, a corrente humanista foi aceita e difundida por dar resultado e por do juízo moral e a aplicação da sua teoria à educação foram discutidos por ele, porém
ser uma corrente que visa alteração de comportamento de forma harmônica. Claro que para não foram seus temas centrais de preocupação” (BARDUCHI, 2004, p.16).
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SUMÁRIO
Não esquecendo que, contudo, a base do pensamento Vygotskyano está mesmo no pen- físico ou motor. Aqui também se inseri a questão da diversidade educativa e dos casos de de-
“(...) o professor trabalhando com o aluno, explicou, deu informações, questionou, CORRENTE HISTÓRICO-CULTURAL
corrigiu o aluno e o fez explicar.” O professor pode estar certo de que se o aluno conse-
guir expressar com suas próprias palavras o assunto tratado, naquele momento o que A corrente da psicologia a que conhecemos como corrente histórico-cultural, tem como
se construiu foi uma aprendizagem. ” (VYGOTSKY, 1991, p.92) base a teoria de Vygotsky, essa é entendida como tal devido à influência que Marx exerce ao
pensamento de Vygotsky, tanto que para este a aprendizagem ocorre também no vínculo com
Para Wallon as relações são permeadas por afeto, ou pela falta dele, assim como o pro- a cultura, que deriva do contexto histórico.
cesso de desenvolvimento humano está permeado por expressões afetivas, e por isso a apren-
dizagem também se encontra imersa na esfera afetiva. Dependendo da expressão de afeto e “Embora haja uma diferença muito marcante no ponto de partida que definiu o em-
do que a pessoa está sentindo, a aprendizagem se dá de maneira mais tranquila ou com difi- preendimento intelectual de Piaget e Vygotsky - o primeiro tentando desvendar as es-
“Wallon detalha minuciosamente as origens orgânicas da emotividade, menos para ficidades do seu contexto cultural - há diversos aspectos a respeito dos quais o pen-
justificar uma visão biologicista e mais para destacar sua maneira de compreender samento desses dois autores é bastante semelhante. (...) Tanto Piaget como Vygotsky
a natureza humana. Para ele, o ser humano é organicamente social. Isso porque está são interacionistas, postulando a importância da relação entre indivíduo e ambiente
nessa força da emotividade humana e em seu caráter contagioso e epidêmico as condi- na construção dos processos psicológicos; nas duas abordagens, portanto, o indivíduo
ções para que seja mediada pela cultura, interpretada pelo adulto e promotora, a partir é ativo em seu próprio processo de desenvolvimento: nem está sujeito apenas a me-
de então, do desenvolvimento cognitivo da criança” (Gratiot-Alfandéry 2010, p.37). canismos de maturação, nem submetido passivamente a imposições do ambiente.”
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SUMÁRIO
A corrente histórico-cultural se baseia no plano psicológico humano no sentido do de- Conforme Leontiev a comunicação é o essencial para vincular desenvolvimento e apren-
senvolvimento intelectual, do entendimento da evolução humana, e dos aspectos e mecanis- dizagem, pois é por meio desta que a relação com o social e a cultura ocorrem.
Considera não somente o ser, mas a evolução da espécie humana e como está interage mum, quer sob a forma de comunicação verbal ou mesmo apenas mental, é a condi-
com a realidade, principalmente ao que se refere com o desenvolvimento cognitivo e, nesta ção necessária e específica do desenvolvimento do homem na sociedade” (LEONTIEV,
perspectiva vê o homem em sua totalidade, levando em conta mente, corpo, interação social, 1978, p. 272).
Para Vygotsky aluno, professor, sujeito e objeto, todos se caracterizam por uma cons-
Em tempos de pós-modernidade a corrente histórico-cultural não deixa de ser atual,
trução histórica, cultural e social, e sem compreender essa construção do ser não é possível
pois valoriza a história, considera sua presença e compreende como o homem se constituiu
estabelecer a real situação que existe no desenvolvimento humano e também para a possi-
nesse processo que é contínuo em reação ao tempo e as ações sociais, deixando marcas que
bilidade de ensino e aprendizagem. “ A medida que os processos superiores tomam forma,
são percebidas culturalmente e ainda nas mudanças de identidade do humano.
a estrutura total do comportamento se modifica” (LURIA, 2010, p. 27), esse é um processo
mediado pelo professor, uma vez que o desenvolvimento humano é uma constante, que vai do
A prática da docência exige um posicionamento teórico, por parte dos professores, afi-
início ao fim da vida.
nal a aprendizagem é uma atividade estruturante do ser humano e está vinculada ao seu de-
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SUMÁRIO
senvolvimento como ser. A responsabilidade que está imbuída nesse fazer está também re- TEORIA NA PRÁTICA
lacionada com a vida, a formação da sociedade e também da história que afeta os homens e
O tópico teoria na prática pretende aproximar o que é visto na teoria do que ocorre de
mulheres enquanto seres culturais, mas que ao mesmo tempo é constituída por eles na pas-
fato na prática diária da educação. Logo, ao falarmos sobre aprendizagem e desenvolvimento
sagem de seu tempo e com o desenrolar de suas histórias.
e também sobre as correntes teóricas que dão suporte a tais teorias você poderá se beneficiar
Neste capítulo vimos alguns conceitos sobre o que é o Desenvolvimento Humano e os • Observe algumas crianças com quem você tenha algum contato, e investigue em seus
Processos de Aprendizagem, assim como nos situamos brevemente sobre as Correntes da comportamentos indícios de desenvolvimentos vinculados a aprendizagem, seja ela es-
Psicologia e Aprendizagem denominadas como Behaviorista representada principalmente colar ou não. Tente identificar algumas das questões que comentamos aqui e tire destas
por Skinner, com seus experimentos sobre o comportamento humano, empregando técnicas experiências sua própria aprendizagem.
histórico, nessa perspectiva a história serve como base para a construção do futuro.
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CONCEPÇÕES
TEÓRICAS DA
APRENDIZAGEM
e seus principais teóricos.
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SUMÁRIO
Neste capítulo vamos desenvolver o entendimento sobre os teóricos da psicologia e senvolvimento relacionadas à aprendizagem, no entanto, cinco teorias diferentes entre si. É
aprendizagem e suas concepções teóricas acerca do desenvolvimento humano e da aprendi- possível encontrar alguma similaridade, mas as teorias são bem características de cada autor,
zagem, entender seus principais pontos de entendimento do processo de aprendizagem, suas como aprenderemos agora.
fases, etapas, interações aceitas como essenciais para a aprendizagem, com intuito de por
meio de suas contribuições, entender como se posicionar em sala de aula, ou no planejamento BURRHUS FREDERIC SKINNER
de aulas, já com base em uma teoria ou mais de uma.
Os teóricos a serem estudados no capítulo apresentam suas concepções em relação a ner, o homem que inclusive inventou uma máquina de aprender, entre tantas outras contri-
educação. Cada teoria com suas distintas características, curiosidades, inovações, surpresas, buições para a psicologia em si.
mas e qual é a mais adequada? Será que uma poderia satisfazer nossas expectativas acerca da
educação? Talvez dependa do contexto educativo a que estamos nos referindo? Ou será que A máquina de aprender apresentava feedback imediato à criança ao realizar suas tarefas
conseguimos utilizar uma associada a outra e ter mais possibilidades na prática de sala de de aula, sobre seu acerto ou erro. E esta resposta era composta pela própria criança de acordo
aula? com as escolhas que realizava. A máquina para ele servia de reforçador do comportamento do
aluno e, em sua visão deveria ser utilizada em sala de aula, em auxílio ao professor.
Vamos então nos inspirar na frase de Freire, que não será visto nesse material, mas que
sempre vem agregar quando o assunto é educação. Pensando nas inúmeras possibilidades que Sobre as máquinas de aprender Skinner (1972) comenta que elas são programadas com
estas diversas formas de fazer a educação podem trazer de contribuição para a prática educa- perguntas de múltipla escolha sobre um determinado assunto, o aluno terá que colocar o bo-
tiva. tão na casa que corresponde a resposta correta, caso sua resposta esteja errada, o aluno não
consegue avançar para a pergunta seguinte. Também comenta que poderia ser adicionada
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, uma luz que acenderia para as respostas corretas, um reforçador.
Skinner, Rogers, Piaget, Wallon e Vygotsky, todos autores de teorias psicológicas do de- questão de que estas máquinas seriam oferecidas às crianças de forma individual e a partir
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SUMÁRIO
disso, cada uma faria seus estudos no seu ritmo. O que facilita o ponto principal para ele que é Skinner se dedicou com rigor a definir cientificamente o condicionamento operante dos
o fato de cada aluno estudar sozinho e desenvolver aprendizagem de acordo com seu próprio animais e também dos homens, os quais classificava como produtos do meio (SMITH, 2010,
tempo e recursos internos (SKINNER, 1972). Embora também pareça tão mecânico esse con- p, 29).
Na teoria comportamental da educação como o nome já informa, o que está em estudo é a forte influência que o behaviorismo em geral e os estudos de Skinner, em particular,
o comportamento humano, todo e qualquer comportamento que pode ser modificado. Skin- exerceram sobre a pedagogia do nosso País, pois não levavam em conta os aspectos
ner assinala que é preciso oferecer condições favoráveis para as consequências do comporta- simbólicos da natureza humana e da cultura. Adotada por décadas, com quase exclu-
Um fato interessante é que o que costumamos nomear hoje como falta de limite, Skinner de comportamentos, recorrendo-se para isso a repetições acompanhadas de reforços
sugeria o nome de conduta de contrariedade. Ele percebia comportamentos como ninguém positivos e negativos (SMITH, 2010, p, 24).
e realizou tantas pesquisas comportamentais com animais e bebês que acreditava que todo
comportamento podia ser alterado, por isso atentou às condutas de contrariedade nas crian- Essa visão fortaleceu as práticas formais de ensino arraigadas até hoje no cotidiano
ças e por meio de estímulos e reforços sabia como mudar tais comportamentos, assim como das salas de aula. Além disso, a forma radical como Skinner aplicou os princípios de
outros tantos. condicionamento operante na instrução programada e nas máquinas de ensinar con-
tribuiu para que as concepções da aprendizagem significativa não tenham espaços nos
Skinner desenvolveu técnicas e aconselhamentos para todas as esferas da educação, procedimentos didático-pedagógicos até os dias atuais (SMITH, 2010, p, 34). Autoria
para a gestão, o professor, o aluno, o método, etc. Um de seus pensamentos: “Se o professor própria com base em Smith (2010, p, 34)
ou professora já dispõe de uma ampla gama de estratégias e táticas de ensino, estará sem-
pre buscando elementos complementares para agregar ao seu repertório intelectual e prático. Para compreender melhor o conceito de comportamento operante fundamental no pen-
Skinner parece proporcionar tais contribuições tão criativamente quanto qualquer professor samento de Skinner temos “o comportamento operante, conceito chave no behaviorismo,
(SMITH, 2010, p, 23). podemos dizer que este se trata de um comportamento voluntário, onde as consequências
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SUMÁRIO
definem sua probabilidade de ocorrência” (SKINNER, 2003). Nesta perspectiva devemos mais que atentar para a mudança de comportamento pela
mudança, mas a qual comportamento de fato se está tentando mudar, melhorar e, isso em
Este comportamento tem por base o condicionamento operante, que é um processo no
função da aprendizagem. Para realizar tais mudanças, no entanto, é necessário atentar para
qual se objetiva condicionar uma resposta, geralmente possível por meio de estímulos que
algumas variáveis conforme o próprio Skinner define e que podemos compreender por meio
são oferecidos à pessoa, se for eficaz pode vir a aumentar a ocorrência do comportamento que
a seguir:
se quer reforçar ou extinguir tal comportamento se esse for o propósito.
Contingências de reforço, segundo Skinner
Essa manipulação de comportamentos é válida também para a educação, pois aplican- Três são as variáveis que compõem as chamadas contingências de reforço, sob as quais há
do reforços a determinadas ocorrências de resposta, esse estímulo poderá ser reforçador se a aprendizagem.
Existe na teoria skinneriana dois tipos de reforço, um considerado positivo e outro ne- 2 O próprio comportamento.
gativo. Para facilitar o entendimento desse conceito é preciso pensar que se é agregado algo a
3 As consequências do comportamento.
resposta da pessoa esse será um reforço positivo, por outro lado, se eu retiro algo da resposta
comportamental, então o reforço será negativo, destacando que ao contrário do que se pensa
Fonte: SKINNER (1972, p.4)
reforço não é sinônimo de recompensa.
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SUMÁRIO
Por mais que ele entenda o aluno em seu processo pessoal, singular e individual da ser desenvolvidas para que o aluno possa viver bem em sociedade. Cabe ao professor criar
aprendizagem, não exclui o professor do papel de ser um facilitador dessa aprendizagem, ali- simulações que preparem o aprendiz à vida real.
alunos. Não entende que o aprendiz se beneficie do contato e troca de experiências com os CARL ROGERS
outros colegas, mas que por ser auxiliado pelo professor, e em seu próprio tempo a criança, o
aluno se desenvolve. Observadas as condições de cada pessoa, suas limitações físicas, psíqui- Vamos compreender a teoria da aprendizagem concebida pelo psicólogo Carl Rogers,
cas, sociais, emocionais. sua teoria é humanista e valoriza uma aprendizagem centrada no aluno, assim como na teo-
ria psicológica entende a psicologia como centrada na pessoa. Sua proposta em educação visa
No cenário de sala de aula o professor deverá, dentro desta perspectiva comportamen- proporcionar uma aprendizagem significativa.
tal, planejar a utilização de suas técnicas de acordo com a necessidade de cada aluno, deverá
Rogers não utiliza na psicoterapia a expressão paciente e sim cliente, acredita na au-
utilizar reforçadores de comportamento, reforçar ou punir para chegar ao resultado esperado.
torregulação, no autodesenvolvimento onde o cliente precisa apenas de alguém que libere
seu potencial de melhoria. Claro que sua forma de pensar influenciou a forma de educar, pois
Em sua linha de pensamento o professor é quem sabe o que deve ser feito e também o
também vê o professor não como uma autoridade e sim como um facilitador dos processos de
conteúdo a ser repassado, memorizado, decorado pela repetição, que nesse pensamento é
ensino e aprendizagem do aluno.
bem-vinda e relacionada a fixação de conteúdos ao aprendizado efetivo. Logo, a utilização de
exercícios do mais simples para o mais complexo, o uso de recursos como a máquina de ensi-
A concepção do “ensino centrado no estudante” foi influenciada pelo pensamento e prá-
nar, o feedback imediato sobre o acerto e o erro são papéis fundamentais a um mestre.
tica de Rogers na psicoterapia. “Esta evolução o havia conduzido fortemente, a partir de uma
a ser feito, no qual as relações da professora com o aluno não podem ser duplicadas por um Para Rogers a aprendizagem vai ocorrer se o professor perceber e valorizar seu aluno,
aparelho mecânico. Os recursos instrumentais só virão melhorar estas relações insubstituí- “[...]afirma que o aluno tem motivações e entusiasmos que o professor deve liberar e favore-
veis” (p. 25). Referindo-se aqui à escolha de técnicas, as questões interpessoais que devem cer “ (ZIMRING, 2010, p. 12). O aluno é livre para aprender e se desenvolver, acrescenta que
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SUMÁRIO
“não podemos inculcar diretamente em outrem um saber ou uma conduta; o que podemos é Rogers entende o professor também como uma figura empática, afinal, se a aprendi-
facilitar sua aprendizagem” (ZIMRING, 2010, p. 13). zagem está centrada no aluno, o que se espera do professor é que consiga enxergar, perceber
seus alunos, e afirma que “ colocar-se no lugar do aluno, ver o mundo através dos seus olhos:
De acordo com o pensamento de Rogers, de respeito, valorização e até mesmo de hu-
tal atitude é mais que rara nos professores” (ZIMRING, 2010, p.18).
mildade por parte dos professores ele entende que o lugar a ser ocupado por um mestre é o de
“criar uma atmosfera favorável ao processo de ensino, o de tornar os objetivos tão explícitos
Ao se colocar no lugar do professor Rogers se mostra empático ao seu papel, dizendo
quanto possível e o de ser sempre um recurso para os alunos” (ZIMRING, 2010, p.13).
que por vezes o professor não consegue aceitar algum comportamento de seus alunos, ou de
alguns, ou de um em especial, mais do que ninguém, por ser psicólogo e também professor
Na teoria humanista da aprendizagem estabelecida por Rogers com extremo respeito ao
compreende que essas coisas acontecem e sugere a autenticidade como solução, porque fin-
aluno, a busca do saber é vista como um processo que pode ser facilitado pelo professor, que
gir que aceita ou que compreende o que para si como ser humano é difícil ou impossível seria
deverá ser autêntico para que a aprendizagem se desenvolva. Para isso:
ir contra toda a sua teoria. Afinal, pode o professor dizer ao aluno ou turma que não se sente
“O professor que for capaz de acolher e de aceitar os alunos com calor, de testemu- bem em relação a x ou y situações, ele não precisa mentir, mas precisa aceitar, mas respei-
nhar-lhes uma estima sem reserva, e de partilhar com compreensão e sinceridade os tar, a fim de estabelecer uma relação benéfica que trará como resultado a aprendizagem e o
sentimentos de temor, de expectativa e de desânimo que eles experimentam quando de respeito mútuo. “ Entre todas as atitudes indicadas, a autenticidade é a mais importante”
seu primeiro contato com os novos materiais, este professor contribuirá amplamen- (ZIMRING, 2010, p.19).
2010, p.15). Também cabe ao mestre “[...]valorizar aquele que aprende, os seus senti- Rogers define alguns princípios da aprendizagem sobre a forma como as pessoas apren-
mentos, as suas opiniões, sua pessoa. Trata-se de lhe demonstrar uma atenção afável dem, ao objetivo que o aluno tem em relação à aprendizagem, a percepção que o mesmo faz do
sem que seja possessiva. Trata-se de aceitar o outro como uma pessoa distinta, dotada meio e dos recursos, às ameaças que sofre psicologicamente, entre outros fatores conforme o
que esta outra pessoa é digna de confiança. Seja qual for o nome que se dê a esta atitu-
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SUMÁRIO
PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM Na teoria de Rogers os princípios que estão relacionados aos meios que facilitam a apren-
10
SEGUNDO ROGERS dizagem, representam sua metodologia pedagógica e para estes ele também define alguns
Aptidões naturais princípios, seguem:
01
O ser humano possui aptidões naturais para aprender.
Aprendizagem autêntica
A aprendizagem autêntica supõe que o assunto seja percebido pelo estudante como pertinente PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS CONFORME
02 em relação aos seus objetivos. Esta aprendizagem se efetiva mais rapidamente quando o
indivíduo busca uma finalidade precisa e quando ele julga os materiais didáticos que lhe são
apresentados como capazes de lhe permitir atingi-lo mais depressa. Os princípios definidos por Rogers relativos aos meios que facilitam a aprendizagem
Percepção de si
(Rogers, 1969, p. 164) retomam suas reflexões metodológicas sobre este ponto.
03 A aprendizagem que implica uma modificação da própria organização pessoal - da percepção de
si - representa uma ameaça e o aluno tende a resistir a ela.
Ameaças externas minimizadas
1. É essencial que o formador, ou o professor, crie desde o início uma atmosfera ou um cli-
04 Aprendizagem que constitui uma ameaça para alguém é mais facilmente adquirida e assimilada
quando as ameaças externas são minimizadas. ma nos quais se desenvolverá a experiência real pelo grupo ou classe.
Sentir-se pouco ameaçado
05 Quando o sujeito se sente pouco ameaçado, a experiência pode ser percebida de maneira
diferente e o processo de aprendizagem pode se efetivar. 2. O formador deverá contribuir para a definição e para a clarificação dos objetivos pessoais
Aprendizagem através da ação de cada membro da classe e também para os objetivos gerais comuns ao grupo. Rogers
06
A verdadeira aprendizagem ocorre em grande parte através da ação. deixa claro, a propósito do formador, que: “se ele não tem medo de aceitar objetivos an-
Aluno participa do processo tagônicos e conflituosos, se é capaz de permitir a cada indivíduo expressar livremente o
07
A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa do processo.
que deseja fazer, então ele contribui para criar um clima propício à aprendizagem”.
Aluno participa do processo
08
A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa do processo.
Autocrítica e autoavaliação 3. O formador deverá utilizar como principal motivação para uma verdadeira aprendiza-
09 Independência, criatividade e autonomia são facilitadas quando a autocrítica e autoavaliação são gem, o desejo de cada estudante de atingir objetivos que realmente lhe interessam.
privilegiadas em relação à avaliação feita por terceiros.
Conhecer como o mundo funciona
No mundo moderno, a aprendizagem mais importante do ponto de vista social é aquela que 4. Ele deverá esforçar-se para organizar um conjunto tão vasto quanto possível de recur-
10
consiste em conhecer bem como ele funciona e que permite ao sujeito estar constantemente
sos didáticos para que os alunos os possam utilizar com facilidade.
disposto a experimentar e a assimilar o processo de mudança.
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SUMÁRIO
5. Ele deverá considerar-se como um recurso colocado à disposição do grupo. Mas você deve estar se perguntando sobre os aspectos desenvolvimentistas e fases da
aprendizagem, não é mesmo? Bastante diferenciada das demais teorias da aprendizagem, Ro-
6. Diante das reações dos membros da classe, ele deverá levar em conta tanto aquelas que gers não se preocupa com aspectos do desenvolvimento humano diretamente, mas na relação
são de ordem intelectual quanto as reações afetivas, esforçando-se por dar, aproxima- existente entre professor e aluno, entende que nesse formato humanista e acolhedor é que se
tivamente, a estes dois tipos de reações a importância de que elas se revestem para cada dá a aprendizagem e consequentemente o desenvolvimento humano, que se encontra sub-
indivíduo e para o grupo. jetivo em sua teoria, mas que é contemplado na psicoterapia centrada no cliente, onde mais
uma vez o sujeito tem o foco de sua superação, com o aconselhamento de um psicólogo.
nele progressivamente e expressar suas opiniões do ponto de vista puramente indivi- Em termos da teoria humanista da aprendizagem de Rogers, o autor contribui com um
dual. pensamento mais uma vez diferenciado em termos dos processos e práticas avaliativas, onde
“ os professores têm como alvo, progressivamente, métodos que permitam aos estudantes
8. Ele deverá tomar a iniciativa de compartilhar seus sentimentos e ideias com o grupo, participar do processo de avaliação: definindo, por exemplo, claramente, os critérios de ava-
mas sem atribuir-lhes o mínimo valor de autoridade; simplesmente a título de teste- liação antes que os conteúdos dos exames sejam conhecidos e antes que os estudantes te-
munho pessoal, estando os alunos livres de aceitar ou recusar. nham sua prova” (ZIMRING, 2010, p.24). Com base nesse conceito e teoria “ outro meio ao
qual igualmente se recorreu para atribuição de notas foi a avaliação pelos pares” (ZIMRING,
9. Na sala de aula, o formador prestará atenção constantemente para detectar reações afe- 2010, p.25).
tivas profundas ou violentas. Rogers esclarece que estas manifestações devem ser aco-
lhidas com compreensão e devem suscitar uma reação claramente expressa de confian- Por ser tão humana e diferenciada a teoria de Rogers encontrou resistência devido a cul-
ça e de respeito. tura rígida existente na educação até então, mas quando aplicados “ os princípios de Rogers,
que acabam de ser enunciados frequentemente têm dado resultados positivos” (ZIMRING,
10. Para facilitar o processo de aprendizagem, o formador deverá esforçar-se para tomar 2010, p.25).
Para tal comprovação alguns pesquisadores testaram sua aplicação prática, entre eles,
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 21
SUMÁRIO
Aspy e Roebuck, que realizaram uma grande pesquisa com professores e alunos. O resultado envolvimento com o real sentido da aprendizagem, obtendo então uma relação de afetividade
demonstrou os resultados que em destaque na figura 6 a seguir: que desenvolve o cognitivo, trazendo mudanças de comportamentos e atitudes, desenvol-
vendo a personalidade do aluno, que conforme Rogers (1971), passa a significar a experiência
JEAN PIAGET
Vamos estudar a concepção de aprendizagem para Piaget, uma vez que este grande pes-
quisador tem apenas uma pequena parcela de sua obra acerca da educação e, ainda assim, sua
contribuição nessa área é extremamente utilizada, aceita e funcional. Sua teoria tem base na
genética, sendo uma teoria psicogenética, que também valoriza aspectos sociais e culturais
Sabe-se que Piaget não tinha interesse pela área da educação ou aprendizagem, até que
começou a trabalhar no Instituto Jean-Jacques Rousseau, o instituto permitiu que ele se des-
isso foi sendo influenciado pela temática da educação, por sua problemática e pelo desenvol-
Uma frase conhecida do autor é acerca do porquê se voltou para a pedagogia e ele res-
Destacamos que a concepção teórica de Rogers com um modelo de educação humanista,
ponde: “a pedagogia não me interessava então, porque não tinha filhos” (PIAGET, 1976, p.12).
é também conhecida como aprendizagem significativa, que é entendida como um processo
iniciado pelo próprio aluno, que envolve descoberta, compreensão, onde existe curiosidade e
Com o tempo Piaget foi se envolvendo com a pesquisa nesta área e também percebendo
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 22
SUMÁRIO
o papel que a educação representa na vida humana, vivendo em um momento histórico mar- a construção e reconstrução do conhecimento deve ser atrativa e a ela o aluno deve se sentir
cado por conflitos bélicos percebe que tudo pode ser melhor por meio de uma educação de convidado a fazer parte, assim construindo seu aprendizado. Ele também faz uma crítica a
qualidade. E outra frase de impacto do autor é: “[...]somente a educação pode salvar nossas falta de incentivo à pesquisa com a seguinte citação:
Seu pensamento em termos de educação é sério, com interesse para o desenvolvimento matemáticos, mas não educa o espírito experimental. É necessário insistir na dificul-
da criança, não apenas de sua inteligência e cognição, mas para uma sociedade melhor. dade muito maior de se formar o espírito experimental do que o espírito matemático
nas escolas primárias e secundárias. [...]. É muito mais fácil raciocinar do que experi-
Ao pesquisar a educação, as escolas, métodos percebe como a prática educativa deveria
mentar (PIAGET, 1949, p.39 apud MUNARI, 2010. p.18)”.
ser diferente. Com isso temos: “a coerção é o pior dos métodos pedagógicos” (Piaget, 1949d,
p.28). Para o autor outro conceito importante é que “no terreno da educação, o exemplo deve Podemos perceber que a partir do enunciado supracitado, que se a capacidade de leitura
desempenhar um papel mais importante do que a coerção” (Piaget, 1948, p. 22). não é desenvolvida nas escolas, não adianta desejar um aluno interessado e ativo, podendo
questionar até o porquê da exigência de leituras, uma vez que o aluno não se interessa por
Ao aluno evidencia a necessidade de sua atividade, “uma verdade aprendida não é mais
elas. Piaget questiona os livros na escola se eles não são retirados, utilizados com liberdade e
que uma meia verdade, enquanto a verdade inteira deve ser reconquistada, reconstruída ou
nesse sentido entende que os únicos livros necessários seriam os dos professores.
redescoberta pelo próprio aluno” (Piaget, 1950, p.35).
O teórico defende os métodos ativos de aprendizagem e diz que cada vez que o adulto
De acordo com Piaget (1950, p.35) “toda psicologia contemporânea nos ensina que a in-
aborda problemas novos, o desenvolvimento de suas reações assemelha-se à evolução das
teligência procede da ação.” Enfatizando que pesquisar é uma necessidade estratégica.
reações no processo do desenvolvimento mental. (Piaget, 1965a, p.43 apud Munari, 2010, p.
18-19).
Piaget recomenda uma escola com alunos ativos, sem coerção por parte dos professores,
Somando a concepção de uma aprendizagem ativa está a ideia das relações sociais, co-
1. PIAGET, Jean. 1934c. Rapport du directeur: cinquième réunion du Conseil. Genève, Bureau international d’éducation,
locar crianças e adolescentes em atividade e desenvolver sua responsabilidade. Não utilizar
p.31. In. MUNARI, Alberto. JEAN PIAGET. MEC | Fundação Joaquim Nabuco/Editora Massangana, 2010 Coleção Educado-
res, p. 17. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4676.pdf coerção e agir com respeito. “ [...] a lei psicológica mais elementar: nenhum ser humano gosta
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 23
SUMÁRIO
que lhe deem lições, e dos mestres menos ainda” (Piaget, 1954a, p. 28). Contudo, Piaget compreende a criança ou o ser humano como alguém que aprende de
forma construtiva, via construção e reconstrução, que vai modificando conhecimentos, isso
A teoria piagetiana auxilia o desenvolvimento e a aprendizagem, mas também profes-
acontece com a assimilação e acomodação estruturais, assim como com a maturação genéti-
sores e gestores a saber como agir.
ca. Para explicar melhor essa ideação, Piaget define quatro estágios ou períodos do desenvol-
estratégia, uma ação, um gesto. Deste postulado básico nasce, então, uma nova norma
FASES DO DESENVOLVIMENTO, SEGUNDO PIAGET
pedagógica: se para aprender bem é necessário compreender bem, para compreender
bem é preciso reconstruir, por si mesmo, não tanto o conceito ou objeto de que se tra-
Período Sensório-Motor (0 a 2 anos) - Neste período a criança conquista, através da
te, mas o percurso que levou do gesto inicial a esse conceito ou a esse objeto” (MUNA-
percepção e dos movimentos, todo o universo que a cerca. No recém-nascido, a vida mental
RI, 2010, p. 23).
reduz-se ao exercício dos aparelhos reflexos, de fundo hereditário, como a sucção. Esses re-
Especialmente no que se refere ao desenvolvimento de gestores, também devido aos flexos melhoram com o treino. No final do período, a criança é capaz de usar um instrumento
obstáculos da área de atuação, e pela necessidade de prever estratégias, para dar conta da de- como meio para atingir um objeto. Neste período, fica evidente que o desenvolvimento físico
manda das tarefas profissionais. acelerado é o suporte para o aparecimento de novas habilidades. Ao longo deste período, irá
sugestões concretas que sua obra pode ainda oferecer aos educadores (MUNARI, 2010,
Período Pré-Operatório (1ª infância - 2 a 7 anos) - Neste período o que de mais impor-
p. 25-26).
tante acontece é o aparecimento da linguagem, que irá acarretar modificações nos aspectos in-
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 24
SUMÁRIO
telectual, afetivo e social da criança. A interação e a comunicação entre os indivíduos são, sem (comprimento e quantidade) surge no início o período; por volta dos 9 anos, surge a noção
dúvida as consequências mais evidentes da linguagem. Como decorrência do aparecimento da de conservação de peso; e, ao final do período, a noção de conservação do volume. No aspec-
linguagem, o desenvolvimento do pensamento se acelera. No final do período, passa a pro- to afetivo, ocorre o aparecimento da vontade como qualidade superior e que atua quando há
curar a razão causal e finalista de tudo (é a fase dos famosos “porquês”). É um pensamento conflitos de tenências ou intenções (ente o dever e o prazer, por exemplo). A criança adquire
mais adaptado do outro e ao real. No aspecto afetivo surgem os sentimentos interindividuais, uma autonomia crescente em relação ao adulto, passando a organizar seus próprios valores
sendo que um dos mais relevante é o respeito que a criança nutre pelos indivíduos que julga morais. As crianças escolhem seus amigos, indistintamente, entre meninos e meninas, sendo
superiores a ela. Com o domínio ampliado do mundo, seu interesse pelas diferentes ativida- que, no final do período, a grupalização com o sexo oposto diminui. Este fortalecimento do
des e objetos se multiplicam, diferenciam e regularizam, isto é, tornam-se estáveis, sendo grupo traz a seguinte implicação: a criança, que no início do período ainda considerava bas-
que, a partir desses interesses surge uma escala de valores próprios da criança. A criança pas- tante as opiniões e ideias dos adultos, no final passa a “enfrentá-los. ” A cooperação é uma
sa a avaliar suas próprias ações a partir dessa escala. É importante ainda considerar que, neste capacidade que vai se desenvolvendo ao longo deste período e será um facilitador do trabalho
período, a maturação neurofisiológica completa-se, permitindo o desenvolvimento de novas em grupo, que se torna cada vez mais absorvente à criança. Portanto, novas regras podem
habilidades, como a coordenação motora fina. surgir, a partir da necessidade e de um contrato entre as crianças.
Período das Operações Concretas (a infância propriamente dita 7 a 11 ou 12 anos) - de- Período das Operações Formais (a adolescência - 11 ou 12 anos em diante) - Neste pe-
senvolvimento mental, caracterizado no período anterior pelo egocentrismo intelectual e so- ríodo, ocorre a passagem do pensamento concentro para o pensamento formal, abstrato, isto
cial, é superado neste período pelo início da construção lógica, isto é, a capacidade da criança é, o adolescente realiza as operações no plano das ideias, sem necessitar de manipulação ou
de estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de vista diferentes. No plano referências concretas, como no período anterior. É capaz de lidar com conceitos como liber-
afetivo, isto significa que ela será capaz de cooperar com os outros, de trabalhar em grupo e, dade, justiça, etc. O adolescente domina, progressivamente, a capacidade de abstrair e gene-
ao mesmo tempo, de ter autonomia pessoal. O que possibilitará isto, no plano intelectual, é o ralizar, cria teorias sobre o mundo, principalmente sobre aspectos que gostaria de reformu-
surgimento de uma nova capacidade mental da criança: as operações, isto é, ela consegue re- lar. Isso é possível graças à capacidade de reflexão espontânea e cada vez mais descolada do
alizar uma ação física ou mental dirigida para um fim (objetivo) e revertê-la para ao seu iní- real. É capaz de tirar conclusões de puras hipóteses. O livre exercício da reflexão permite ao
cio. Outra característica deste período é que a criança consegue exercer suas habilidades e ca- adolescente, inicialmente, “submeter” o mundo real aos sistemas e teorias que o seu pensa-
pacidades a partir de objetos reais, concretos. A noção de conservação da substância do objeto mento é capaz de criar. Do ponto de vista de suas relações sociais, também ocorre o processo
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 25
SUMÁRIO
de caracterizar-se, inicialmente, por uma fase de interiorização, em que, aparentemente, é sendo bastante significativa nos processos de planejamento educativo, com base nos perí-
antissocial. No aspecto afetivo, o adolescente vive conflitos. Deseja libertar-se do adulto, mas odos do desenvolvimento humano, que privilegia aspectos psicológicos, mas que são facil-
ainda depende dele. Deseja ser aceito pelos amigos e pelos adultos. Começa a estabelecer sua mente relacionados ao que se pode ou não esperar das crianças de acordo com cada um desses
moral individual, que é referenciada à moral do grupo. Os interesses do adolescente são di- períodos.
versos e mutáveis, sendo que a estabilidade chega com a proximidade da idade adulta.
HENRI WALLON
Segundo a teoria de Piaget, os estágios do desenvolvimento passam por aquisições cons-
tantes em uma ordem sucessiva, e são vinculados a maturação e às experiências de vida da Vamos compreender a concepção de Wallon sobre a educação, como decorrente do estu-
criança, sendo que o tempo cronológico de desenvolvimento é variável de um ser humano do das condições de desenvolvimento e conduta da criança, e de como acontece a sua evolução
para outro. Por isso, o próprio Piaget determinou testes que são utilizados nas escolas, onde em uma abordagem psicogenética.
A medida que a criança avança nos estágios de desenvolvimento, também sua inteligên- tica ao processo de educação da criança. Mas também trabalhou com orientação profissional
“ A inteligência não aparece, de modo algum, num dado momento do desenvolvimen- Sua teoria se destaca pelo valor que dá a motricidade, que para o autor simboliza a questão
to mental, como um mecanismo completamente montado e radicalmente diferente psicomotora, em outras palavras, a psicogênese, onde problemas funcionais de movimento
dos que o precederam. Apresenta, pelo contrário, uma continuidade admirável com os da criança representam um problema psicológico em termos de desenvolvimento humano. De
processos adquiridos ou mesmo inatos respeitantes à associação habitual e ao refle- acordo com Wallon, a atividade motora do ser humano assegura “ [...] a função de expressão
xo, processos sobre os quais ela se baseia, ao mesmo tempo que os utiliza ” (PIAGET, da afetividade (por meio dos gestos, expressões faciais e agitação corporal). Essa atividade
1986, p.23). expressiva, possibilitada pela atividade motora, regula, modula e produz estados emocionais
” (GRATIOT-ALFANDÉRY, 2010, p.37). Ele percebe o ser humano como geneticamente social,
Toda a contribuição de Piaget para a educação é valorizada e utilizada até os dias atuais, sendo essas esferas inseparáveis.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 26
SUMÁRIO
Para ele o desenvolvimento humano não segue uma linearidade, “ Wallon demonstra Aspectos da transição psicogenética:
que, muito diferentemente disso, o desenvolvimento humano é marcado por avanços, recuos
-ALFANDÉRY, 2010, p.37). Para ele as emoções são importantes para o desenvolvimento e a
Com base na teoria que propôs, o autor visa um formato de educação completo, inte-
gral, intelectual, com uma dinâmica afetiva e social, isso em todos os níveis da educa-
Wallon também responsabiliza a escola pela formação de valores como a ética e a moral
Wallon propõe quatro aspectos que seriam responsáveis pela passagem do orgânico ao
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 27
SUMÁRIO
Wallon, assim como todo teórico do desenvolvimento e aprendizagem, determina al- 4° Estágio - CATEGORIAL (6 a 11 anos) - Mais uma vez predominando a inteligência e
guns estágios do desenvolvimento humano, no entanto, os estágios propostos se relacionam a exterioridade, no estágio categorial, que se estende até por volta dos onze anos de idade, a
entre si e com isso favorecem a aprendizagem. Vamos analisar cada um deles: criança passa a pensar conceitualmente, avançando para o pensamento abstrato e raciocínio
ções motoras e de posturas sociais. Os estágios estão inter-relacionados e devido a crises de ordem interna relacionadas a
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 28
SUMÁRIO
movimentos reflexos (impulsos) de desconforto, ocasionados pela maturação nervosa; essa Vamos perceber que uma vez que a criança vai dominando as palavras e conseguindo se
de ordem externa devido a desarmonia da interação da criança com o mundo, é inevitável a expressar adequadamente, também irão reduzir as atividades motoras desordenadas. Aqui
ocorrência de crises. cabe um comentário, acerca do quanto em crianças com síndromes ou problemas de desen-
ca está acabado, para seguir acontecendo exige atualizações frequentes, e por vezes existem Segundo a teoria psicogenética walloriana, o desenvolvimento humano acontece, devi-
conflitos que influenciam a conduta comportamental, mas que essas são benéficas, pois fa- do a integração do organismo e o meio e pela integração cognitiva, afetiva e motora.
vorecem o desenvolvimento.
Em síntese ao que se refere aos aspectos afetivos, motores e cognitivos é possível afir-
A constatação supracitada é distinta de outras teorias e caracteriza a contribuição de mar que sempre haverá crise. Afinal, um desses aspectos acaba sendo reduzido para que outro
Wallon para o desenvolvimento e a aprendizagem, marcando o desenvolvimento humano possa prevalecer, isso ocorre em colaboração para o desenvolvimento como um todo. Nesse
como um processo singular, no qual “conflitos e contradições são características constitu- sentido Wallon (1995) afirma que “entre a emoção e a atividade intectual existe a mesma evo-
tivas da dinâmica do desenvolvimento da criança, e não problemas a serem combatidos por lução, o mesmo antagonismo” (p. 143). Ou seja, um colabora com o outro e todos coexistem.
Wallon inova em sua teoria devido a “[...]demonstrar que aspectos como a afetividade e gar do professor, como alguém que compreende a capacidade do aluno inserido nos processos
atividade motora, via de regra desprezadas na análise desse tema, têm importância decisiva de ensino e aprendizagem, pois tal teoria possibilita a reflexão que gera condições favoráveis
no complexo interjogo funcional responsável pelo desenvolvimento da criança” (GRATIOT- para o aluno, que irá absorver novas formas de agir, novos comportamentos, ideias, habili-
-ALFANDÉRY, 2010, p.34). dades, competências e valores. Requer também compreensão das limitações pelas quais cada
aluno passa com um enfoque nas fases do desenvolvimento propostas pelo autor.
Para Wallon “na medida em que a função simbólica se desenvolve, a representação pos-
sibilita internalizar o ato motor” (GRATIOT-ALFANDÉRY, 2010, p.38). Compreendemos então, que na prática de sala de aula pode existir um planejamento que
seja facilitador para os aspectos afetivos, que irá proporcionar espaço de expressão e acolhida
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 29
SUMÁRIO
as diferenças, permeada por limites e que valorize as etapas a que os alunos estão inseridos, xas, a serem desenvolvidas internamente por uma operação externa vinculada a linguagem,
com isso facilitando a aprendizagem, por meio de um desenvolvimento mais tranquilo do que envolve interação social e ações múltiplas. “ Linguagem não é apenas uma expressão do
ponto de vista psicomotor. pensamento e conhecimento adquirido pela criança. Existe uma inter-relação fundamental
Vamos conhecer a concepção de Vygotsky, que é reconhecido como um teórico de várias A linguagem tem o papel de comunicar, de expressar e de buscar compreensão, com-
escolas, ele é interacionista, construtivista, inserido na psicogenética e também funda a cor- patibilizando comunicação e pensamento. É por meio da linguagem que se transmite o que
rente histórico-cultural. se passa no pensamento e por ela se interage com o outro, desenvolvendo vínculos sociais de
interação.
termos de aprendizagem e educação, pois seu pensamento decorre do entendimento de que o Ao estudar o vínculo existente entre pensamento e linguagem, Vygotsky (2005) afirma
homem adquire conhecimento por meio da linguagem que é vinculada ao pensamento, e essa que, pensamento e linguagem não são processos análogos e encontra-se vínculo entre eles,
aquisição se dá com a interação social, cultural e histórica. em especial quando o pensamento se transforma em verbal e a fala em racional. Segundo
Na psicologia o entendimento de que o desenvolvimento humano e a aprendizagem es- pensamento. Para isso também valoriza o papel da cultura e das ações do homem na socieda-
tão relacionados é pertinente para diversos teóricos, mas Vygotsky desenvolve sua pesquisa de. Conforme Vygotsky (2005, p. 75): “ todas as funções superiores originam-se das relações
Para Vygotsky (2005), é por meio da linguagem que se transmite o conhecimento, que se Sua abordagem sociointeracionista constata que a aprendizagem decorre da interação
dá por anunciação de conteúdo em um contexto social e historicamente determinado. social, nessas relações coletivas ocorre a internalização, por meio de trocas com o meio. Para
o autor é nessa internalização que se dá o processo de aprendizagem, com essa aquisição tam-
A internalização para o autor é um processo que envolve funções psicológicas comple- bém ocorre o desenvolvimento.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 30
SUMÁRIO
Na relação entre pensamento e linguagem está o processo inter psicológico que ocorre volvimento já completados” (p. 57). Representa tudo aquilo que a criança realiza por si mes-
no nível social onde existem as trocas e a interação, depois são internalizadas caracterizando ma sem a ajuda de outras pessoas.
um outro processo que é o intrapsicológico. Dessa forma ocorre a apropriação de conheci-
Nível de desenvolvimento potencial - Caracteriza tudo o que a criança realiza com base
mento e processos de atenção, memória e de formação de conceitos.
no outro, na interação e convívio social. “O nível de desenvolvimento real caracteriza o de-
(ZDP), e com o auxílio da zona de desenvolvimento proximal estes conseguem passar para
Zona de desenvolvimento proximal - é: “ A distância entre o nível de desenvolvimento
um nível intrapsicológico, ou seja, são internalizados e tornam-se conhecimento na zona de
real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento real.
desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação
Com a internalização de conhecimentos passam a existir as necessidades de memória, de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes” (VYGOTSKY, 1991 , p. 58).
de armazenamento desses conhecimentos, de entendimento de conceitos e outros, ou seja, Fonte: VYGOTSKY, Lev Semíonovich. A formação social da mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
volvimento humano. Compondo uma identificação desta teoria com a sala de aula tem-se que no nível de
desenvolvimento real o aluno conta com seus conhecimentos adquiridos até o momento. Ao
Os níveis de desenvolvimento para Vygotsky (1991), são o real, o potencial e a partir de-
interagir com os colegas digamos que, em um trabalho em grupo, fórum no ambiente virtu-
les surge a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), vamos observar a relação existente a
al de aprendizagem, podem ser muitos outros os recursos ou objetos de aprendizagem que
seguir:
proporcionam interação. Ele passa ao nível de desenvolvimento potencial, pois se posiciona
Nivel de desenvolvimento real - Corresponde ao “ [...] nível de desenvolvimento das conceitos e então se institui a zona de desenvolvimento proximal. A partir desse momento
funções mentais da criança que se estabeleceram como resultado de certos ciclos de desen- passa a outro nível de conhecimento real, assim que se apropria desse conhecimento que foi
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 31
SUMÁRIO
construído por todos os envolvidos nesse momento, o que também ocorre com cada uma das O ser humano ao construir sua aprendizagem dispõe de recursos internos e externos,
pessoas envolvidas nesse processo. utiliza signos e instrumentos como um meio de alcançar o conhecimento novo, o que tam-
bém lhe causa mudanças psicológicas. Para Vygotsky (1991, p. 40) “ a função do instrumento
Vygotsky (1991) diz que aquilo que a criança faz com auxílio de algum adulto ou de ou- é servir como um condutor da influência humana sobre o objeto da atividade; ele é orientado
tras crianças hoje, amanhã conseguirá fazer sozinha. Para ele “o processo de desenvolvimen- externamente; deve necessariamente levar a mudanças nos objetos. ” Ele afirma que:
to progride de forma mais lenta e atrás do processo de aprendizado” (p. 61). No entanto, para
que a criança receba esse auxílio e que possa interagir com as pessoas em seu meio, ela precisa “O uso de meios artificiais - a transição para a atividade mediada - muda, fundamen-
desenvolver a linguagem (p. 61). talmente, todas as operações psicológicas, assim como o uso de instrumentos amplia
O adulto que está ao auxílio da criança também pode ser entendido como um professor, podem operar” (p. 40).
pois o mesmo desempenha esse papel sem dúvida. Destaca-se que na educação de adultos os
pares serão sempre adultos, assim como os professores. Na associação existente entre instrumento e signo, podemos compreender a função psi-
meios artificiais e da atividade mediada para a lógica da modalidade EAD, assim como a uti-
Para Vygotsky (1991) as crianças poderiam aprender a ler ainda na pré-escola, fato esse
lização de recursos de sala de aula presencial, o uso de um Datashow, um jogo, um lego, até
que se observa na prática com algumas crianças que vão à escola já alfabetizadas.
mesmo laboratórios podem ser considerados instrumentos externos, que estão a serviço da
aprendizagem, esses nada mais são que recursos externos que favorecem a aprendizagem.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 32
SUMÁRIO
Segundo Ivic (2010, p.19-20), a cultura também é importante nos processos mentais e cial que está a serviço da memória e da inteligência natural do ser humano.
eles comunicação e significado, ambos com considerável relevância para os processos de en-
Articula-se que os artefatos tecnológicos como instrumentos externos e qualquer tipo
sino e de aprendizagem. Para Vygotsky (2005, p.9):
de interação ou socialização perdem seu sentido se desvinculados do pensamento e da lin-
pensamento” (p.9).
A teoria vygotskyana já entendia que “ao lado da memória ou da inteligência individual
e natural, existem uma memória e uma inteligência exteriores e artificiais” (IVIC, 2010, p. 21).
Por intermédio da linguagem, atribuída de significados e exercendo sua função de co-
O espontâneo uso de um computador pode se constituir em uma inteligência exterior e artifi-
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 33
SUMÁRIO
municação é que o ser humano interage com o outro seja ele um adulto, ou os colegas mais • A concepção de aprendizagem se baseia no respeito a individualidade do aluno.
o ponto essencial da concepção vygotskyana de interação social que desempenha um papel • Compreende a aprendizagem do mesmo ponto de vista de suas pesquisas psicológicas
Em Vygotsky a conexão existente ente pensamento e linguagem se altera durante o de- • Entende que a aprendizagem acontece com base em estímulo e resposta.
senvolvimento, tanto de forma quantitativa quanto qualitativa. “As curvas desse desenvol-
vimento convergem e divergem constantemente, cruzam-se, nivelam-se em determinados • Valoriza a repressão de comportamentos para facilitar a aprendizagem.
períodos e seguem paralelamente, chegam a confluir em algumas de suas partes para, depois,
tornar a bifurcar-se” (IVIC, 2010, p. 42). • Incentiva que na prática de sala de aula, seja utilizada a repetição mecânica, pois desen-
guagem vygotskyana, onde a interação, social e cultural, proporcionam aprendizagem cons- • Vê na punição uma alternativa para extinção de comportamentos não desejados, mas
Compreende-se que a linguagem é estruturante para o ser humano, inclusive a nível Na teoria desenvolvida por Rogers:
intrapsicológico e também que só se conhece a partir da linguagem, pois é por meio dela que
isso se torna possível. Sua teoria aponta a aprendizagem como possibilidade de desenvolvi- • Propõe uma teoria humanista centrada no aluno, ou no cliente da aprendizagem.
VAMOS RELEMBRAR?
• Percebe o professor como um facilitador dos processos de ensino e aprendizagem.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 34
SUMÁRIO
• Entende o papel do mestre como autêntico. • Seus conceitos prevalecem atuais e são base para a educação.
• Tal pensamento permite processo e prática avaliativa em pares, autoavaliação e defini- Na teoria desenvolvida por Wallon:
• Concebe meio social como um lugar de construção da atividade física, mental e afetiva.
• Entende que o aluno manifesta seus desejos e suas vontades pela emoção.
• Teoria baseada na aprendizagem com o aluno ativo. Na teoria desenvolvida por Vygotsky:
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 35
SUMÁRIO
• Entende que a interação social, cultural e histórica produz conhecimento e aprendiza- Após, destaque os principais pontos com os quais se identifica.
gem.
Reflita sobre qual sua tendência em termos de prática em sala de aula. Caso não tenha a
• O conhecimento só é possível por meio da linguagem. prática da docência, imagine como seria enquanto professor: quais as suas tendências teóri-
Se isso for difícil de efetuar, você pode também realizar uma lista das coisas que não fa-
• Aceita a ideia de uma inteligência exterior ao ser e artificial. ria jamais em sala de aula e daquilo que acredita ser inadequado, afinal, isso ajuda a saber de
FILMES DIVERSOS
• Nível de desenvolvimento real e potencial são intermediados pela Zona de Desenvolvi-
• Sociedade dos poetas mortos
mento Proximal (ZDP).
• O sorriso de Monalisa
• Nível interpsicológico – conhecimento externo socializado a nível de conhecimento po-
tencial, na ZDP- Conhecimentos intrapsicológicos e internalização que leva ao nível de • Deus não está morto
conhecimento real.
• O Sustituto
TEORIA NA PRÁTICA
• Ao mestre com carinho 1 e 2
Nesse momento sugerimos que você assista a algum filme sobre educação que seja de • A onda
sua preferência ou a algum dos que são indicados a seguir para que possa buscar a relação
• Vem dançar
existente entre a teoria e a prática em educação.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 36
A PRÁTICA
PEDAGÓGICA E O
DESENVOLVIMENTO
HUMANO
Como processos social, cultural e histórico.
37
SUMÁRIO
Neste capítulo refletiremos sobre a prática pedagógica e como esta contribui para o de- para que exista interação, troca, curiosidade e aprendizado, esta interação é que gera desen-
senvolvimento dos alunos. Buscaremos compreender o vínculo que existe em termos de tal volvimento.
prática e a interação social que influencia na formação cultural e que faz parte de um contexto
histórico, pelo qual é influenciada e também influenciadora. Questionando qual o papel do Ao se perguntar sobre o papel do professor, como é que se dá aula? Será que se dá aula
professor em sala de aula e de que forma contribui nos processos culturais, sociais e históri- mesmo? Como? Se em sala de aula o papel ativo é o do professor que ensina, repassa conteúdo
cos. e comprova o resultado? Neste mesmo papel somente ele fala, porque pensa que deve fazer
isso assim, ou porque os alunos mesmo esperam deste que assim o faça. Afinal de contas foi
Ciente das correntes teóricas da psicologia e da educação, assim como seus principais sempre assim, ou será que já mudou?
teóricos, é possível buscar identificações interessantes que objetivem uma educação diferen-
ciada e baseada em mais de uma teoria, de forma que uma acabe somando a outra, por meio de “Aprender a usar os elementos da cultura exige a relação social. O ser humano, em
uma escolha enriquecida de possibilidades para a aprendizagem ativa, efetiva, significativa e face da cultura histórica e socialmente acumulada, não inventa um uso para o que en-
que contribua para a formação, desenvolvimento e evolução humana. contra, mas aprende a usar cada objeto de acordo com o uso que a sociedade faz dele.
E para isso precisa do outro – alguém que conheça o uso dos objetos. À medida que
A prática de sala de aula que pretende desenvolver seres humanos é permeada por inte- aprende a utilizar os objetos – materiais ou não materiais – da cultura, vai acumulan-
ração social, convívio com a cultura e com base na história, deverá se apoiar em conhecimen- do experiências em comunicação com as outras pessoas, exercitando sua percepção,
tos psicológicos e pedagógicos que deem suporte ao fazer cotidiano e segurança ao docente. constituindo uma memória, se apropriando das linguagens, internalizando formas de
pensar, criando as condições para imaginar, controlar sua própria conduta e, com tudo
DE ONDE VIEMOS E PARA ONDE VAMOS? isso, vai criando sua inteligência e personalidade” (Mello; Lugle 2014. 264).
Muito tempo se passou de uma prática pedagógica dura, nada afetiva e que visava o Estamos vivendo em salas de aula participativas, por vezes com utilização de artefatos
cumprimento de currículo acima de tudo. Você pensa assim? Como docente precisamos aten- tecnológicos, de tecnologias digitais, outras vezes, salas de aula interativas, mesmo que a
der a demanda dos conteúdos e cumprir currículo? Sim, isso é importante, mas acima de tudo distância. Será que isso tem mesmo ocorrido dessa forma? Esperamos que sim e em muitos
está o vínculo professor e aluno, assim como incentivar o vínculo entre os alunos é essencial casos sim, mas na maioria das escolas ou instituições de ensino superior a cultura escolar é
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 38
SUMÁRIO
forte em termos daquilo que historicamente faz parte do imaginário tanto do professor, por- COMO FAZER DIFERENTE?
que foi assim que ele também aprendeu, como do aluno que também estranha um professor
com metodologia diferenciada, afinal, parece que este não dá aula. Vamos pensar um pouco Na prática docente quanto mais criatividade melhor. Fazer diferente pode ser estranho
no formato de sala de aula a que estamos acostumados, será que a figura a seguir lembra algo em um primeiro momento, mas depois se torna incrivelmente interessante tanto para os alu-
Veja o formato da sala de aula, que poderia representar O Mestre é que escolhe as técnicas e o recorte cultural a ser destaque nas aulas, o que
o ensino básico, superior ou a pós-graduação em uma influencia na qualidade do ensino, da aprendizagem e principalmente no ser humano que está
escola tecnológica e com todas as condições para o se formando, se desenvolvendo, na mudança cultural e nova história da humanidade a ser
ensino e a aprendizagem. Qual concepção teórica o constituída ao longo do tempo. “Se na escola a presença dos elementos culturalmente pro-
professor está utilizando? A qual corrente se identifica? E duzidos pelo homem for restrita, haverá o empobrecimento do desenvolvimento do aluno”
O modelo tradicional de ensinar e aprender está cristalizado na cultura da educação, e Podemos perceber que “Afetado positivamente pela atividade que realiza, o sujeito está
ainda hoje, muitas discussões ocorrem sobre por que não mudamos isso? Todos nós, pro- em condição psíquica favorável para a aprendizagem e, consequentemente, para o desenvol-
fessores, alunos, gestores da educação, e todos os envolvidos, nos questionamos em algum vimento das funções psíquicas superiores envolvidas na atividade” (MELLO; LUGLE 2014. p.
momento a esse respeito. Como toda mudança histórica leva um tempo para acontecer, en- 268).
porciona essa metamorfose. Por demonstração de casos de sucesso e também acerca de tudo o Uma aprendizagem nesse contexto desenvolve o aluno e é também conhecida como uma
que não deu certo até hoje, nos proporcionando uma visão diferenciada do futuro, se tomadas abordagem desenvolvente. “Um ensino desenvolvente muda o aluno qualitativamente, pro-
as devidas decisões e se cada um fizer sua parte. voca, instiga, leva o aluno a ver o fenômeno para além de sua aparência, desenvolve o pensa-
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 39
SUMÁRIO
As autoras defendem a ideia dessa aprendizagem desenvolvente em um cenário, di- dade de demonstrar ao aluno que se confia nele, e que ele pode sim fazer a diferença. Se vive-
nâmico, estimulante e criativo com o intuito de que “formar alunos pensantes, capazes de mos em uma sociedade conturbada e talvez numa realidade social não muito promissora, que
estudar e aprender, desenvolvendo-se como sujeitos que aprendem a partir de suas experiên- isso pode ser melhorado com a própria trajetória de acordo com o desenvolvimento pessoal,
cias acumuladas em um processo vivo de aprendizagem” (MELLO; LUGLE 2014. p. 265). O que as escolhas e devido a uma personalidade estruturada de forma adequada, um ser humano
se torna possível em uma abordagem histórico-cultural por meio da interação, onde o aluno integral. “Cada criança ou aluno é uma personalidade diferente e com vivências diferentes;
em aula é o sujeito que ganhará em consciência, inteligência e formará sua personalidade, em conhecer as peculiaridades do sujeito amplia as possibilidades de ações planejadas pelo pro-
Tal processo de aprendizagem e humanização, conforme vimos em Vygotsky, é fruto de A sociedade em geral espera que o professor perceba seus alunos, proponha atividades
um aluno ativo e de processos de ensino e aprendizagem ativos. Essa aprendizagem envolve relacionadas a individualidade destes, sendo um professor desenvolvente. Cada nova turma,
representação que leva ao significado das coisas simbólicas, o que constitui o ser humano e uma nova prática, conhecer os alunos e a partir destes desenvolver novos caminhos a serem
faz com que o mesmo assuma um posicionamento diante da vida e dos outros seres sociais. “ trilhados.
É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à nossa ex-
periência e àquilo que somos” (SILVA; HALL; WOODWARD, 2003). Proporcionar aos professores a compreensão do papel humanizador da educação signi-
“A representação compreendida como um processo cultural estabelece identidades o desenvolvimento humano na escola (MELLO; LUGLE 2014. p. 272).
individuais e coletivas e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia fornecem pos-
síveis respostas às questões: Quem eu sou? O que eu poderia ser? Quem eu quero ser? VAMOS RELEMBRAR?
Os discursos e os sistemas de representação constroem os lugares a partir dos quais
os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar” (SILVA, HALL E Neste capítulo vimos questões norteadoras do papel da pedagogia no cotidiano de sala
WOODWARD, 2003, p. 17). de aula, refletimos sobre como ser professor e, sobre como o aluno deve ser. Entendimento
do que é ser um professor desenvolvente. Qual a contribuição dos contextos social, cultural e
Enfatizando que para além das responsabilidades do professor também existe a necessi- histórico para o desenvolvimento humano?
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 40
SUMÁRIO
TEORIA NA PRÁTICA
Nosso desafio nesse momento é que você possa visitar uma escola, ou entrar em contato
com uma escola de educação básica ou mesmo uma universidade, e descobrir quais aspectos
• Com estes dados, e analisando os aspectos social e cultural, reflita sobre a cultura em
geral do contexto social onde estão inseridos em nosso país, região e cidade.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 41
A CONSTRUÇÃO DO
SUJEITO PARA OS
ESTUDOS CULTURAIS
Relação sujeito, identidade e cultura.
42
SUMÁRIO
Neste capítulo vamos entender como tudo que foi visto anteriormente, influenciando DESENVOLVIMENTO HUMANO E IDENTIDADE CULTURAL
na formação identitária dos sujeitos por meio da construção deste para os estudos culturais.
Como se dá a mudança de identidade no cenário de variações sociais que vivemos e como elas O desenvolvimento humano e a aprendizagem estão relacionados a constituição da
estão permeadas pela cultura e pela educação, desta forma fazem parte da história humana identidade do aluno e também do professor, à medida que o contexto histórico-cultural se
e a constituem, sendo cidadãos preparados, críticos autônomos, ou o contrário, o que reflete relaciona com o convívio e interação humanos, vai construindo não somente aprendizagem,
naturalmente na sociedade. mas também a cultura que influencia na formação histórica de cada sociedade, a identidade
o desenvolvimento humano, também influencia na formação da identidade desses, que por “A questão da identidade está sendo discutida na teoria social. Em essência, o argu-
sua vez acabam interferindo na cultura da sociedade como um todo, e ao mesmo tempo sendo mento é o seguinte: as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mun-
afetados por esta. do social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o in-
divíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada “crise
Se as pessoas e suas identidades estão em constante mudança, quem é o aluno e quem é de identidade” é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está
o professor nessa sociedade? Como é constituída a identidade das pessoas com a aprendiza- deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os
gem? Como a educação interage com os sujeitos? Por que tanta mudança de identidade? Qual quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo
o papel da política e da religião na mudança social que modifica a identidade humana? Essas social” (HALL, 2006, p. 07).
são perguntas que o ser social se faz ao se posicionar criticamente ou passivamente aos avan-
ços da sociedade na história sendo constituída. Ao passo que o mundo se transforma em um movimento infindável e cada vez mais di-
nâmico, fundado em interação humana com as tecnologias, com a globalização que aproxi-
Buscando responder a esses questionamentos, o capítulo a seguir se baseia no pensa- mou civilizações, mas também trouxe sequelas, devido a uma ligação instantânea de culturas,
mento de Stuart Hall, que dá sequência ao pensamento da corrente histórico-cultural. que assim como coexistem e se respeitam, outras conflitam entre si. O homem como um ser
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SUMÁRIO
“A homogeneização cultural, segundo Hall, é o grito angustiado daqueles/as que estão lelo, tendo que ser flexíveis para assim viver suas diversas identidades na sociedade” (HALL,
convencidos/as de que a globalização ameaça solapar as identidades e a “unidade” das 2006, p. 16).
culturas nacionais. Diante desse pensamento o autor conclui que a globalização veio
Já que estamos falando de mudança, outra alteração importante em termos de socie-
para aproximar distâncias e situar o sujeito moderno no mundo contemporâneo. Logo,
dade é que a mesma não é regida cegamente pelos dogmas religiosos, muito embora existam
o sujeito moderno se depara com o novo e com a tecnologia, e não está preparado para
conflitos em nome da fé. Esta é uma nova forma de relação com os dogmas da igreja e hoje,
mudanças repentinas tendo que se atualizar sempre e tornar-se conhecedor das fer-
algumas escolas falam sobre a diversidade de religiões em suas aulas de Ensino Religioso.
ramentas criadas pela sociedade hoje globalizada” (HALL, 2006, p. 77).
Dentro de uma única sala de aula, temos pessoas dos mais diversos tipos de credo, com isso
se entende que todos possuem direitos de ser respeitados naquilo que acreditam e também na
Com isto, para Stuart Hall (2006, p. 14), a “ [...] questão da identidade está relacionada
responsabilidade por respeitar os demais.
ao caráter da mudança na modernidade tardia; em particular, ao processo de mudança co-
nhecido como “globalização” e seu impacto sobre a identidade cultural.” Afinal a mudança
Podemos compreender como se dá a transição entre o sujeito moderno para o contem-
de identidade do homem, que ele chama de sujeito moderno, ocorre por conta da “mudança
porâneo, por meio da seguinte citação: “A modernidade libertou o homem das tradições que
constante, rápida e permanente” (HALL, 2006, p. 14).
eram divinamente estabelecidas. O homem passou a ser soberano. O sujeito moderno surgiu
ultrapassado e: Conforme Hall (2006) “no mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se
constituem em uma das principais fontes de identidade cultural” (p.47), pois é nela que es-
“As pessoas não identificam mais seus interesses sociais exclusivamente em termos tamos inseridos desde criança, logo, estamos institucionalizados as características de cada
de classe; a classe não pode servir como um dispositivo discursivo ou uma categoria instituição social de pertencimentos humanos.
social, mas também de opção sexual, e formas novas de relacionamentos afetivos e familia-
O autor supracitado diz ainda que: “Logo sujeito e identidade seguem juntos em para-
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SUMÁRIO
res no contexto da escola e da sociedade, pois o que ocorre na sociedade, está na sala de aula rão a mais alterações identitárias humanas.
e esta educa para a aceitação, mudança, criticidade ou não sobrevive aos tempos de mudança
Um ambiente de aprendizagem hoje, pode contar com alunos e professores bastante di-
constante em que estamos inseridos. Destacando mais uma vez que o mediador e facilitador
versificados, poderemos ter pessoas de diversas cidades em um mesmo local de aprendizado,
destes processos é o professor.
conforme a figura ao lado:
Em uma sociedade dinâmica, globalizada, não tão ligada à religião e classes sociais, que
Outra demanda pertinente aos ambientes de ensino, são adultos maduros e até mesmo
está se vendo obrigada a mudar de identidade em função da diversidade de culturas e de mu-
idosos, visto que a população está com uma expectativa de vida aumentada, assim como as
danças que ocorrem a todo momento em um processo de uso de tecnologias, e ao mesmo tem-
inovações em termos biomédicos e tecnológicos voltados para a manutenção da vida que es-
po em busca de mais colaboração e menos individualidade, ocorre um fenômeno que parece
tão dando resultado. Com isso, pessoas de maior idade do que decorridos alguns anos estão
fundir as diferentes culturas em uma única. A esse fenômeno tem-se chamado de sociedade
frequentando as salas de aula, mesmo em cursos superiores, sendo que, “ as mudanças ocor-
híbrida e sobre ela Hall (2006) comenta que, o ‘hibridismo’ e o sincretismo são a fusão entre
ridas em relação ao olhar sobre essa fase da vida sugerem a revisão de estereótipos, que vem
diferentes tradições culturais (...) produzindo novas formas de cultura, mais apropriadas à
sendo substituídos por outros, principalmente com a emergência e propagação do conceito de
modernidade tardia que às velhas e contestadas identidades do passado” (HALL, 2006, p. 91).
terceira idade” (CORREA, 2009, p.30).
ciências e limitações humanas. Está também associado a sala de aula, que em partes é pre-
sencial e em partes online, e que não consiste na modalidade de educação a distância, que já é
outra forma de educar. Muitas são as formas de hibridismo que vem sendo constituídas, por Respeito à
Diversidade
opção sexual
esse novo humano, definido por uma identidade baseada na agilidade das mudanças evoluti- religiosa
vas.
Destacamos que o professor em sala de aula responde a muitas dessas demandas da mu- Envelhecimento
Inclusão
racial
da sociedade
dança do hibridismo e ainda colabora para outros entendimentos e transformações que leva-
Características sócio histórico-culturais
Fonte: Autoria própria.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 45
SUMÁRIO
O cenário social é de estudantes de todas as idades, inclusos na mesma sala de aula, im- Por isso mesmo é que o ser humano deve protestar por seu direito de decidir quem quer
patriados, pessoas com deficiência, transexuais, enfim, pessoas. Inseridos em um ambiente ser enquanto processo identitário, mas para isso as escolas devem desenvolver alunos críti-
de convívio natural onde o respeito é fundamental e cada pessoa faz de sua vida aquilo que cos, inteligentes, pensantes e que busquem a melhoria da sociedade, o que acarretará em uma
considera ideal, não precisando passar por nenhuma forma de preconceito ou rejeição. história mais bonita para se contar em termos de humanidade. E você, o que está fazendo
tural e social a que esta se encontra inserida, sofre inúmeras alterações conforme suas expe-
VAMOS RELEMBRAR?
riências e vivências, um dos locais que auxiliam nessa mudança é a escola, ou a universida-
de, cada qual em sua fase de vida e dentro de suas possibilidades acaba por influenciar o ser
Globalização, tecnologias, diversidade, mudanças constantes, inclusão social, liberta-
humano. Infelizmente, nem sempre é natural para todos, e torná-la em uma realidade mais
ção dos dogmas religiosos, tudo o que representa essa metamorfose pela qual nossa socieda-
natural recai aos professores já no contexto em questão com os alunos a sua frente.
de vem passando, acaba de uma forma ou outra recaindo sobre a Responsabilidade da Edu-
cação, uma vez que esta pode auxiliar o ser humano a se desenvolver, a criar a história nova
Educar, ensinar, ser facilitador ou mediador da aprendizagem, tenha qual nome você
que todos queremos ver. Para que isto torne-se realidade, professores determinados e alunos
queira dar a sua prática docente sempre envolve ser estruturante ao desenvolvimento do ser
ativos são fundamentais para um mundo melhor, mas é dessa forma também que vamos nos
humano que é o aluno e também por si mesmo, pois ao ensinar, também se aprende e ao se
constituindo como sujeito e desenvolvendo uma identidade humana com base na cultura e na
aprender também podemos vir a ensinar. Vale a pena pensar sobre isso, não é mesmo?
história.
Como acrescenta Stuart Hall:
TEORIA NA PRÁTICA
“A complexidade da vida moderna exige que assumamos diferentes identidades, mas
essas diferentes identidades podem estar em conflito. Podemos viver, em nossas vi-
Permeados por cultura, como construímos nossa identidade nesse mundo? Lembrando
das pessoais, tensões entre nossas diferentes identidades quando aquilo que é exigido
que a construção do sujeito para os estudos culturais passa pela formação da identidade, da
por uma identidade interfere com as exigências de uma outra” (SILVA, HALL e WOO-
interação social e da constituição histórica... Pensando nisso!
DWARD 2003, p. 31-32).
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 46
SUMÁRIO
Você pode fazer uma viagem no tempo e lembrar-se do seu primeiro dia de aula, e de-
pois lembrar da sua formatura no Ensino Médio. Pode com isso perceber algumas mudanças
em sua identidade, no que acreditava nesses dois momentos. Talvez seja bom relembrar!
Para não exagerar nessa viagem pelo tempo, vamos nos deter no tempo de graduação,
ção. Lembre-se do que pensava, acreditava e fazia, e de como está nesse momento.
Você pode também relembrar de como eram as turmas pelas quais passou, e de como
são hoje, observar a inclusão e a diversidade e entender como isso era antes. Também pode se
posicionar em relação as suas crenças acerca desse assunto que tem relação com os estudos
culturais.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 47
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