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No livro “A Psicologia no Brasil” de Antunes (2014) somos guiados para uma

introdução diferente da psicologia, ao invés de irmos aos primórdios da filosofia e


entendermos como isso se desenvolveu até chegarmos no que conhecemos hoje, a autora
propõe que comecemos a estudar a psicologia no próprio Brasil. Em determinada parte do
livro, somos introduzidos a origem da psicologia científica no Brasil, quando chegamos ao
século XIX onde nos apresenta ao alienismo, uma área da psiquiatria, que tinha como
objetivo estudar a “razão”, e assim como no livro do Machado de Assis “O Alienista”
observamos equívocos que esses profissionais da época cometeram ao internar pessoas
que para eles eram consideradas “loucas”. Enquanto na ficção do Machado de Assis, o
psiquiatra Simão Bacamarte utiliza inicialmente uma teoria baseada na “razão”. Qualquer
pessoa que tomasse uma atitude que ele considerava irracional, na visão de Bacamarte,
era uma pessoa instável mentalmente, ele ficou tão obcecado em perceber essas atitudes
irracionais, que tudo começou parecer uma atitude plausível de internação.
Agora fora da ficção segundo Antunes, durante aquela época:

“A teoria da degenerescência propunha ações que extrapolavam os muros


asilares, propondo a higienização e a disciplinarização da sociedade.
Considerava ainda a existência de uma hierarquia racial, estando no ápice a
raça ariana e na base a raça negra; muitos teóricos acreditavam ser os negros
mais propensos à degeneração por sua inferioridade biológica.” (2014, p. 31)

Ou seja, os critérios de internação muitas vezes eram tomados com base em sua
cor de pele, pelas pessoas pretas serem consideradas inferiores, tinham a ideia de que
consequentemente seriam mais propensas a possuírem transtornos.
Nas duas situações percebemos como as teorias eram embasadas em preconceitos
dos próprios psiquiatras. Bacamarte definiu o que para ele era irracional sem trazer
levantamentos científicos, enquanto na história usaram da alienação para corroborar com
uma descriminação racial. Infelizmente essa situação não termina apenas na internação
mas também nos tratos que os julgados loucos são submetidos, alguns exemplos são:
alternância de banhos frios e quentes, malarioterapia, trauma terapia, laborterapia e
terapias medicamentosas.
É visível que o livro “O Alienista” é uma sátira que critica exatamente essa época da
psiquiatria, visto que o livro foi publicado em 1882, época essa que antecede os eventos
citados por Antunes em seu livro. É possível ver em Bacamarte uma postura de
superioridade aos moradores de Itaguaí, além do título dele dar uma credibilidade às
decisões duvidosas que ele toma, inclusive ao fim do livro, quando todos da cidade o vêem
como uma pessoa “perfeita”, isso se deve ao fato das pessoas aceitarem as falas de um
médico sem sequer questionar, permitindo que ele interne e faça o que quiser com as
pessoas para “curá-las”.

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