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1.1.

Pedagogia Inaciana

A Pedagogia Inaciana se inspira na experiência espiritual de Santo Inácio de


Loyola, fundador da Companhia de Jesus, jesuítas.
Santo Inácio de Loyola nasceu em uma família abastada e se tornou um
grande cavalheiro, porém, em uma batalha na cidade de Pamplona, ele foi
ferido e necessitou de cuidados médicos. Com isso, durante seu repouso, sua
cunhada entregou a ele livros sobre a vida de Cristo e dos Santos.
Neste momento, Inácio, inspirado pelos livros, decidiu mudar drasticamente
sua vida e iniciou sua peregrinação, porém, ele entendia que para se converter
e servir aos demais, precisaria fazer um exercício de mudança interna em seu
ser. Então, ao se isolar em uma gruta, Santo Inácio realizou um processo de
autoconhecimento em busca de uma outra vida, tendo Jesus Cristo como
exemplo a seguir.
Em seu livro Exercícios Espirituais, publicado em 1548, Santo Inácio se coloca
como aprendiz e Jesus Cristo como seu professor. Neste contexto, Inácio
entende que o caminho que Jesus Cristo traçou, principalmente, servindo aos
demais, deve ser seu caminho a seguir. Em uma de suas passagens, Inácio
diz: “não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear
internamente as coisas (EE 2).”
Desta maneira, a Pedagogia Inaciana, inspirada nas experiências de Santo
Inácio de Loyola, é considerada o caminho pelo qual os professores guiam
seus alunos ao crescimento e desenvolvimento, não meramente utilizada como
uma metodologia de conteúdos, mas uma concepção de desenvolvimento de
perspectivas de mundo e de ser e servir, trazendo princípios de como formar
pessoas dentro daquilo que se entende como ideal para seguir os passos de
Jesus Cristo, ou seja, é uma proposta de formação de pessoas do bem, que
servem aos demais.
Essa concepção fica clara na descrição do objetivo da educação da
Companhia de Jesus explicitado pelo Pe. Geral Peter Hans Kolvenbach:
“A promoção do desenvolvimento intelectual de cada aluno, para desenvolver
os talentos recebidos de Deus, continua sendo com razão um objetivo de
destaque da educação da Companhia. Todavia, a sua finalidade jamais foi
simplesmente acumular quantidades de informação ou preparo para uma
profissão, embora sejam estas importantes em si e úteis para a formação de
líderes cristãos. O objetivo supremo da educação jesuíta é, antes, o
desenvolvimento global da pessoa, que conduz à ação, ação inspirada pelo
Espírito e a presença de Jesus Cristo, filho de Deus e ‘Homem para os outros’”.
(Pedagogia Inaciana, p.23)
Este objetivo faz com que o desenvolvimento do aluno se torne integral, ou
seja, trabalhando as dimensões cognitiva, espiritual, social e emocional, por
meio da reflexão de mundo e ação do que se entende como ideal para se
homens e mulheres do bem e para os demais.

1.1.1. Características da Pedagogia Inaciana

Se inspirando nos passos de Santo Inácio de Loyola, a Pedagogia Inaciana se


direciona à relação entre o professor e aluno, colocando o discípulo, como
menciona Santo Inácio de Loyola, como o protagonista de seu
desenvolvimento.
Nesta ótica, a Companhia de Jesus estabelece uma educação humanista onde
os professores expõem os temas acadêmicos numa perspectiva humana,
pondo ênfase em descobrir e analisar as estruturas, relações, fatos, questões,
intuições, conclusões, problemas, soluções e implicações que, em cada
disciplina concreta, iluminam o sentido do ser pessoa.
A Pedagogia Inaciana é profundamente humana. O seu objetivo supremo é
ensinar e aprender a amar, para nos integrar plenamente e construir o amor
fraterno, a justiça e a paz neste mundo.
Segundo Garcia (2021), a educação humanista se ocupa dos espaços morais
das pessoas, fomentando o protagonismo e o uso do diálogo em todos os
processos de comunicação, dando base às relações e políticas mais
adequadas e responsáveis no ponto de vista humano. Além disso, Garcia
(2021), menciona que a educação humanista tem sido atualizada na última
década, exigindo novos métodos de desenvolvimento, não somente de
conteúdos, mas de reflexões sobre as atitudes e valores dos alunos mediantes
aos desafios contemporâneos.

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Em relação aos desafios contemporâneos, a Pedagogia Inaciana traz à luz o
desenvolvimento de pessoas:
 Competentes no desenvolvimento cognitivo e acadêmico, conhecendo
as novas tecnologias e conceitos que dão base às suas decisões,
reflexões e ações.
 Compassivas por serem capazes de agir solidariamente, exercendo a
empatia e servindo aos outros com compaixão.
 Conscientes de si, por meio do autoconhecimento, e, também, das
mazelas e desequilíbrios da sociedade.
 Comprometidas, tendo Santo Inácio de Loyola como inspiração, com
sua cidadania e seu papel na sociedade, bem como, na transformação
social e política onde estão inseridos.
 Criativas em suas ações, promovendo uma cidadania global inovadora a
qual busca incessantemente solucionar problemas contemporâneos e o
bem dos outros e da casa comum, o planeta Terra.
Portanto, na relação entre professor e aluno há um desafio de formação para
que esse contato não seja meramente de desenvolvimento de conteúdos, mas
que sejam exploradas as possibilidades do desenvolvimento integral do aluno.
O professor com seu conhecimento e experiência, não somente acadêmico,
mas de vida, deve trabalhar elementos para que o aluno possa criar meios de
empoderamento, tornando o protagonista de seu desenvolvimento,
possibilitando um olhar de mundo mais compassivo e, então, a partir de suas
reflexões, agir de maneira comprometida e consciente de suas
responsabilidades.
Como Santo Inácio de Loyola propôs, o professor deve ser o mestre, quem fará
os direcionamentos para o amadurecimento do seu discípulo, o aluno. Para
isso, a Pedagogia Inaciana discute e reflete sobre o Paradigma Inaciano que é
a dinâmica entre a experiência, reflexão e a ação, considerando os diferentes
contextos e avaliando constantemente suas ações com o intuito da busco do
Magis.
1.1.2. Paradigma Pedagógico Inaciano

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O Paradigma Pedagógico Inaciano sugere diversos caminhos para que o
professor possa acompanhar seus alunos durante seu processo de
desenvolvimento. Esse paradigma pode fornecer uma resposta aos problemas
atuais da Educação, porque introduziu a reflexão como essencial no processo
educativo, desestruturando uma pedagogia de repasse de conhecimentos.
Os caminhos apresentados pelo Paradigma Pedagógico Inaciano, não vão de
encontro apenas ao conhecimento, mas sim ao amadurecimento e a
aprendizagem conduzida pela reflexão e as experiências, de acordo com a
concepção de sentir e saborear internamente as coisas que Santo Inácio
apresentou.
A dinâmica do Paradigma Pedagógico Inaciano é um modo de proceder para
que o professor consiga incentivar seus alunos a se desenvolverem como
pessoas conscientes, comprometidas, compassivas, competente e criativo, por
meio do contexto, da experiência, da reflexão, da ação e da avaliação.

Figura1. Paradigma Pedagógico Inaciano

Nota: Essa figura mostra o Paragima Pedagógico Inaciano.


Colégio dos Jesuítas (2024). Proposta Pedagógica.
Iniciando pelo Contexto, o paradigma aprofunda o conhecimento do professor
na realidade do aluno. O que ele pensa? O que ele sente? Quais são suas
experiências e vivências?
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Na Pedagogia Inaciana é essencial o professor conhecer as diversidades das
gerações, suas provocações e fazer um processo empático com o aluno para
entender o mundo em que eles estão inseridos. É fundamental que tanto
professor e aluno estejam livres de preconceitos e julgamentos ao analisarem
os contextos.
Dentro dos contextos, é importante ressaltar:
 Contexto real da vida do aluno que abrange sua família, seus amigos,
companheiros e situações sociais. Seus gostos, músicas, ambientes que
frequenta, quais suas experiências e outras questões que podem
sensibilizar, positiva ou negativamente o aluno.
 Contexto socioeconômico, político e cultural que podem influenciar em
seu desenvolvimento do servir aos demais. Outra questão que pode ser
analisei neste contexto, são as possibilidades negativas que podem o
levar ao êxito educacional.
 Contexto educacional e ambiente escolar que, com suas regras, normas,
valores e crenças, impactam o aluno.
 Contexto escolar prévio que o aluno traz consigo no início da
aprendizagem, como seus pontos de vista, seus valores e crenças, sua
religião, ou seja, questões que podem ser conflitadas na escola.
Já a Experiência para a Pedagogia Inaciana é a junção do conhecimento às
questões afetivas. Santo Inácio traz a experiência educativa como a
valorização das experiências de vida, o saborear, bem como a imaginação, os
sentimentos, os afetos e o entendimento. Portanto, o professor ao utilizar a
experiência para descrever qualquer atividade em que, junto com uma
aproximação cognitiva da realidade em questão, faz com que o aluno perceba
uma reação de caráter afetivo.
Esse conceito fica mais simples de entender, por exemplo, quando um
professor pede para que os alunos expliquem o motivo do mar ser azul. Neste
momento, ele faz com que os alunos possam revisitar suas experiências de
quando tiveram contato com o mar e, ao mesmo tempo que pensam na
resposta, conhecimento, revivem suas experiências trazendo à tona
sentimentos e afetos relacionados com o tema. Essas experiências podem

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desencadear diferentes sentimentos, dependendo, de como foi o “saborear”
para o aluno.
A Reflexão permite compreender, assimilar a verdade, assumir
posicionamentos pessoais, diagnosticar as causas, buscar as relações e
conexões do conhecimento assimilado assim como as implicações humanas de
tudo que se estuda. Portanto, a reflexão está totalmente vinculada às
experiências, transformando assim, as experiências em aprendizado
significativo, pois, a partir do momento que a reflexão promove os
questionamentos e investigações, o professor pode conduzir o aluno a buscar
ou formular suas respostas.
Nesta etapa do Paradigma Pedagógico Inaciano é fundamental que o professor
direcione, mas que não coloque suas reflexões pessoais como verdade
absoluta, porque, assim, limitará a reflexão dos alunos e, possivelmente, a
experiência poderá perder seu significado. O processo de reflexão, promove o
discernimento, a investigação e, dependendo do caso, o autoconhecimento
quando o aluno tenta descobrir seus sentimentos a partir de uma experiência.
No livro Pedagogia Inaciana (1993), fica claro que uma reflexão partilhada pode
reforçar, desafiar, estimular a reconsideração e, finalmente, dar maior
segurança de que a ação que se vai empreender — individual ou coletiva — vai
ficar mais integrada e ser mais coerente com o que significa ser uma “pessoa
para os outros”.
Para Santo Inácio de Loyola nos Exercícios Espirituais, o amor demonstra-se
com fatos, não com palavras. Por isso, no início da Companhia de Jesus,
Santo Inácio e seus companheiros desenvolviam, principalmente, as atitudes
dos alunos, de seus valores e ideais, tendo em vista que tomariam as decisões
a partir dessas experiências. A Ação, portanto, se refere ao ato de praticar,
interna e externamente, de fato o que foi experimentado e refletido.
Pedagogia Inaciana (1993) cita que:
“A ação interna à luz da compreensão intelectual da experiência e dos
sentimentos nela implicados — positivos ou negativos — é que a vontade se
sente mobilizada. Os conteúdos percebidos e analisados conduzem a opções
concretas. Estas podem ocorrer quando alguém resolve que tal verdade vai ser
o seu ponto de referência pessoal, a atitude ou predisposição que influirá numa

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série de decisões. E pode adquirir a forma de um esclarecimento gradual das
próprias prioridades. Neste momento, um aluno pode resolver-se a assumir tal
verdade como própria, mantendo-se ainda aberto no sentido de perceber para
onde esta verdade o leva.”
Já as ações externas são motivadas pelas experiências, reflexões e
motivações. Podendo ser exemplificadas como um aluno que participa das
aulas de educação física e, após refletir sobre suas experiências, inicia a
prática esportiva fora do espaço escolar e incentiva outras pessoas a
praticarem.
A Avaliação é a tomada de consciência dos resultados obtidos pelo aluno no
domínio dos conteúdos, assim como a verificação do seu desenvolvimento nas
suas novas atitudes, nos modos de proceder e de estabelecer prioridades.
Para a Pedagogia Inaciana, a avaliação não é classificatória, ela deve ser
individualizada e realizada periodicamente.
Todo o processo do Paradigma Pedagógico Inaciano deve ser visto como
contínuo, buscando sempre o aperfeiçoamento, como exposto anteriormente,
buscando o Magis. Essa prática faz com que o aluno entenda a complexidade
do amadurecimento e reflita sobre as experiências, podendo, repensar e, de
alguma forma, aprimorar suas atitudes.
Além disso, o uso do Paradigma Pedagógico Inaciano pode se tornar um modo
de aprendizagem aos alunos que, não somente no ambiente escolar, utilizam
para tomada de decisões e pensar em propostas de melhoria frente às
adversidades que possam surgir durante seus caminhos.
Pensando operacionalização do Paradigma Pedagógico Inaciano, a Rede
Jesuíta de Educação criou o Projeto Educativo Comum, que visa direcionar as
ações das escolas.

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