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FACULDADE CESUSC

Direito Civil VI – Direito das Famílias


Profª: Larissa Tenfen
Turma: DID 71
Aluno: Felipe Augusto da Silva Stahnke – 2111065

N2 – A VIDA NÃO É JUSTA – CONTO: CASAMENTO NÃO É EMPREGO

Esse conto trata do divórcio de Patrícia e Fernando, que teve por peculiaridade ter tudo
sido resolvido consensualmente com relação ao patrimônio e pensão para a filha única mas, na
hora da assinatura, mesmo sob protesto do advogado do casal, Patrícia se recusava a assinar o
acordo.
Estamos diante aqui de uma situação de um divórcio consensual judicial. O divórcio
apenas foi incorporado ao ordenamento jurídico em 1977, podendo ser considerado
rela vamente recente dado seu impacto na estrutura das famílias, nas convenções sociais e visão
religiosa acerca do casamento. Atualmente, o divórcio se encontra previsto no Art. 1.571, caput
e IV, CC, que diz que a sociedade conjugal termina pelo divórcio.
O conto não deixa claro qual o cônjuge que pediu a separação mas isso pouco importaria;
o Art. 1.572, CC deixa claro que qualquer um dos cônjuges pode pedir a “separação judicial”.
Trata-se de um direito de caráter personalíssimo, conforme o Art. 1582, CC.
Cabe aqui um parêntese pois a par r da EC 66/2010, houve uma discussão se a separação
judicial teria sido tacitamente revogada com a possibilidade do divórcio direto, sem a
necessidade de adequar-se ao sistema dual, onde primeiro o casal deveria se separar e, após
dois anos, divorciarem. Segundo Madaleno (2022, p. 114), em 2017 o STJ reconheceu a
subsistência do ins tuto, sendo certo que os casais poderão optar pela separação judicial ou
extrajudicial, caso seja consensual, dado que no processo li gioso o demandado sempre poderá
requerê-lo.
A indignação de Patrícia se relacionava ao patrimônio pois acreditava que merecia mais.
Referenciava-se na separação de uma amiga que teve suas despesas pagas pelo marido por
tempo indeterminado.
O que talvez faltasse à Patrícia saber, é que são necessárias certas condições para que seja
uma obrigação do ex-cônjuge. O Art 1.704, CC e §ú. nos trazem que se um dos cônjuges
separados vier a necessitar de alimentos, o outro será obrigado a prestação a pensão alimen cia
fixada pelo juiz.
Isso cabe apenas quando o cônjuge não puder ser declarado culpado de descumprir os
deveres do casamento previstos no Art. 1.566, I a V como a fidelidade conjugal ou, ainda nesse
caso, se o cônjuge culpado não ver parentes que possam lhe prestar assistência.
De acordo com Madaleno (2022, p. 388), em tempos não muito distantes, os alimentos
eram invariavelmente devidos à mulher em um tempo na qual seu papel na sociedade era
majoritariamente a realização de a vidades domés cas e não costumando exercer trabalho
remunerado. Atualmente, em que pese ainda uma incômoda persistência da desigualdade de
gênero, a situação mudou.
O conto passa a trazer reflexões sobre a vida a dois, como cada casal possui a sua maneira
de se relacionar, de como o co diano afeta a vida conjugal. Traz ainda a influência do grupo ao
qual o casal está inserido e como isso acaba também impactando a vida a dois. Isso fica claro a
par r do momento em que Patrícia começa a ques onar seu próprio casamento a par r do
divórcio de sua amiga Silvinha.
Esse abalo não é por delírio ou uma hipersensibilidade de Patrícia, pelo contrário. Zambão
(2021, site) traz que uma pesquisa realizada nas Universidades de Harvard, Brown e San Diego,
nos EUA, aponta que amigos recém divorciados aumentam em 75% a chance de separação de
um casamento em crise. Esse número sobe para impressionantes 147% se o casal já ver vários
amigos divorciados.
A autora, juíza, viu naquela situação um modelo de casamento que foi edificado sobre
pilares de interesse social, das aparências, longe do afeto e da solidariedade. Para ela, o
casamento deve passar longe de ser um negócio lucra vo; Em suas palavras:
“Casar, do ponto de vista econômico, é o pior inves mento que alguém pode fazer. Só perde para a
separação. O que entra em casa tem que ser dividido por dois. Não tem matemá ca que transforme isso
num bom negócio”.

O conto nos convida a refle r sobre a superação desse modelo de casamento e família
baseado em outros valores que ignoram a evidente importância do afeto no âmbito familiar e
isso inclui as famílias baseadas no casamento.
Essa importância tem se manifestado inclusive no judiciário como, por exemplo, no
acórdão do TJSC 2011.066866-2, de onde podemos extrair de sua ementa “ENALTECIMENTO
CONSTITUCIONAL DO AFETO COMO ELEMENTO CARACTERIZADOR DA RELAÇÃO FAMILIAR
(ARTIGO 226).”
Essa reflexão trazida pela autora nos leva ao conceito da família eudemonista que, como
nos traz Madaleno (2022, p. 65), o termo é usado para iden ficar o núcleo familiar que busca a
felicidade individual e vive um processo de emancipação de seus membros. Para ele, o Direito
das Famílias “não mais se restringe aos valores destacados de ser e ter, [...] desde o advento da
Carta Polí ca de 1988 prevalece a busca e o direito pela conquista da felicidade a par r da
afe vidade.” (ibidem)
Para encerrar, destaca-se o que diz Pereira apud Madaleno (ibidem)
“os valores eudemonistas [...] acrescentam importante prognós co no sen do de que casamos para sermos
felizes e também nos separamos à procura da felicidade [...] mas que depende de quem tem coragem para romper
uma relação infeliz [...] da mentalidade social que aos poucos vai se livrando dos fantasmas e dogmas do passado
[...]”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MADALENO, Rolf. DIREITO DE FAMÍLIA. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.
MADALENO, Rolf. MANUAL DE DIREITO DE FAMÍLIA. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.
ZAMBÃO, Sissy. O divórcio de amigos pode mo var a separação de outros casais? 2021.
Disponível em: h ps://www.semprefamilia.com.br/casamento-e-compromisso/o-divorcio-de-
amigos-pode-mo var-a-separacao-de-outros-
casais/#:~:text=Amigos%20rec%C3%A9m%20divorciados%20podem%20aumentar,amigos%20
divorciados%2C%20indica%20a%20pesquisa.. Acesso em: 27 maio 2023.

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