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DIREITO LABORAL E DIREITO PROCESSUAL LABORAL

Licenciatura em Solicitadoria | Diurno | 2022/2023

CASO PRÁTICO N.º 19

Isabel é trabalhadora da sociedade Z. Aufere €1200,00 mensais. No contrato de trabalho


celebrado entre as partes no dia 01/04/2010, pode ler-se: “A trabalhadora prestará a sua atividade no
estabelecimento que a sociedade Z detém na cidade de Leiria”; “O local de trabalho poderá ser alterado
para outros estabelecimentos de que a sociedade Z seja, ou venha a ser, proprietária, na zona Norte e
Centro de Portugal”.
Tendo em conta os factos descritos, responda, fundamentando, às seguintes questões:
1 – A sociedade Z vai abrir um novo estabelecimento na Marinha Grande. Era da
conveniência da empresa que Isabel, durante o primeiro trimestre de 2023, passasse a
trabalhar na Marinha Grande, como “responsável de setor” (categoria profissional do mesmo
grupo profissional em que está inserida, mas que, por representar categoria superior, implica
o pagamento de mais €200,00/mês). Pode fazê-lo? Como? Que direitos advêm para a
trabalhadora?

R.: Estamos perante a modalidade dos direitos, deveres e garantias das partes, mais concretamente
o poder de direção do empregador quando à mobilidade funcional e geográfica.
Considera-se mobilidade funcional, aquela pelo qual o trabalhador é encarregue temporariamente
de funções não compreendidas na atividade contratada, desde que não modifique a posição do
trabalhador.

Relativamente à mobilidade geográfica, concretamente, a transferência do local de trabalho, esta é


temporária e será justificada pelo art. 194.º N.º 1, al. b) C.T. porque objetivamente existe um
interesse de gestão da empresa que ela vá exercer as sua funções temporariamente e não parece
haver prejuízo sério.
Depois é necessário fazer a comunicação com 8 dias de antecedência (art. 196.º N.º 1) e desta
mobilidade advém o custeamento das despesas por parte do empregador (art. 194.º N.º 4).
Não foi utilizada a cláusula do art. 194.º N.º 2 porque esta caduca passado 2 anos sem ser utilizada.

Para que se verifique a polivalência funcional é preciso atender a requisitos previstos no art. 118.º
do C.T. As funções são coligadas e por isso é admissível, para além disso terá direito a receber a
maior remuneração, por força do art. 267.º Nº 1 do C.T.

2 – Imagine agora que a sociedade Z vai fechar o seu estabelecimento em Leiria e reinstalá-lo na
cidade de Braga, pelo que Helena é notificada, hoje, por escrito, que a partir de 01/01/2023, passará a
prestar serviço no novo estabelecimento, em Braga. Helena, casada com três filhos, tem toda a sua vida
organizada em Leiria, cidade onde, além do mais, residem os seus pais (que colaboram na logística
familiar), trabalha o seu marido, e onde tem um outro emprego, que lhe ajuda a fazer face às despesas
familiares. Perante isso, o que pode Helena fazer?

Docentes: Ana Lambelho e Luísa Andias


DIREITO LABORAL E DIREITO PROCESSUAL LABORAL
Licenciatura em Solicitadoria | Diurno | 2022/2023

R.: Neste caso o fundamento é o do art. 194.º N.º 1, al. a) porque a empresa mudou as
instalações para Braga, sendo uma transferência definitiva.
Em primeiro lugar a comunicação por força do art. 196.º deveria ter sido com antecedência de
30 dias. Em segundo lugar dadas as circunstâncias da Helena esta transferência representa
um prejuízo sério para o trabalhador.
Face a isto pode a Helena resolver o contrato tendo direito a compensação, por justa causa,
por força do art. 366.º do C.T.
CASO PRÁTICO N.º 20
Barnabé e Carlos, trabalhadores da empresa Y, discutiam frequentemente. Em 5 de setembro,
quase andaram à pancada porque Carlos se recusava a usar a máscara de proteção ao pé de Barnabé.
Ontem, começaram a discutir logo de manhã porque Barnabé chegou atrasado. Mais tarde, voltaram a
discutir porque Carlos insinuou que a namorada de Barnabé o andava a trair com outro Colega da
empresa. Esta discussão foi mais acesa e envolveram-se mesmo à pancada.
O chefe de serviço, ao presenciar a situação e temendo o pior, mandou os dois para casa nesse
dia e comunicou ao patrão o sucedido.
a) Podiam os dois trabalhadores ter sido mandados para casa daquela forma?
R.: Está em causa o poder disciplinar em que o empregador pode sancionar os atos praticados
pelos trabalhadores, estando presente no art. 98.º e nos arts. 328.º e ss. Foram aplicadas
infrações disciplinares contrárias ao art. 128.º do C.T.
O Empregador só pode suspender o trabalhador iniciando o procedimento disciplinar, por força
do art. 329.º N.º 5 C.T., não tendo sido essas as circunstâncias não poderiam os trabalhadores
terem sido suspensos desta forma, até porque não houve informação das infrações disciplinares.
b) O empregador pode, num único procedimento disciplinar, sancionar disciplinarmente Carlos
pelos factos ocorridos em setembro e pelos ocorridos ontem?
R.: O prazo de prescrição para o processo disciplinar é de 1 ano decorridos os factos, e o prazo
para dar início é de 60 dias após o conhecimento do facto, sabendo que (na data do presente
caso prático) o dia de ontem foi 5/11/2022 e o conhecimento dos factos em setembro foram no
dia 5 de setembro, então dando o processo inicio no dia 6/11/2022 já não pode sancionar pelos
factos ocorridos em setembro, mas pode pelo ocorridos ontem, nos termos do art. 329.º N.º 2.
Não se pode aplicar mais do que 1 sanção a cada infração disciplinar (art. 330.º N.º 1).
c) O que tem o empregador de fazer para sancionar disciplinarmente os trabalhadores?
R.: Tem de acusar os trabalhadores das infrações cometidas, porque o art. 329.º N.º 6 pode
exercer o contraditório e só o pode fazer se souber do que é acusado. Não é obrigatório ser por
escrito, a entidade empregadora é obrigada a respeitar o princípio da proporção, aplicando a
sanção no prazo de 3 meses e procedendo ao registo.

Docentes: Ana Lambelho e Luísa Andias

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