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LESÕES MEDULARES:

IMPLICAÇÕES NA ATIVIDADE
FÍSICA E ESPORTES

Equipe Pedagógica
OBJETIVOS

As aulas do Momento III visam:

reconhecer os benefícios da prática esportiva para


pessoas com deficiência física;

 compreender as características específicas das


principais deficiências físicas e como elas influenciam
a prática da atividade física.
INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o objetivo principal de profissionais da educação


física e áreas afins tem sido integrar e incluir pessoas que fogem aos
padrões de “normalidade” impostos pela sociedade. Desta forma, as
práticas de atividades físicas, sejam elas alternativas, de reabilitação,
recreação, lazer ou esportiva têm sofrido modificações conceituais,
teóricas e práticas, com o intuito de receber estas pessoas da melhor
forma possível.
Pensando nisso, este momento visa
apresentar aos profissionais envolvidos,
Muitos professores relatam formas de oportunizar reais condições de
a existência de diversos inclusão e de prática de atividade física a
obstáculos à inclusão, tais pessoas com deficiência física.
como a falta de recursos e de
mudanças nas estruturas das
escolas, para suprirem
necessidades do processo
inclusivo . Somando-se a isso,
temos a falta de material
didático e de capacitação do
professor.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Historicamente a educação física esteve Para Winnick (2004), a


Durante muito tempo as ligada ao conceito de homem perfeito. As maior parte das pessoas
pessoas com deficiência mudanças de paradigmas levaram a um com deficiência pode se
física foram privadas de pensamento baseado em atividades beneficiar com as
atividades físicas , pois possíveis para todos. atividades de educação
acreditava-se que seus física e esportes. O tipo e
problemas se agravariam. o grau da deficiência
física, educabilidade
motora, nível de interesse
e metas educacionais
DEFICIÊNCIA gerais determinam as
A redução das condições FÍSICA
secundárias aparece modificações e
como um dos fatores adaptações necessárias.
motivadores para a
prática de atividades
físicas.

Diversos autores, como O meio em que as pessoas


Shepard (2003) e Strapasson vivem e se relacionam tem PENSE
(2005) concordam que a um papel importante para o NISSO!
prática de atividade física se desenvolvimento. E estas
apresenta como um relações estão
importante meio para intrinsecamente ligadas à
reabilitação e promoção da atividade motriz ou sensório
saúde. motora.
CONSIDERAÇÕES PARA A PRÁTICA DA ATIVIDADE FÍSICA

A Educação Física tem como seus Para isso devemos encontrar


objetivos principais planejar e soluções pedagógicas para que a
oportunizar a vivência de atividades participação não seja facilitada ou
de forma lúdica, permitindo que as cômoda, mas que busque avançar
pessoas com deficiência física em pequenos passos para tarefas
participem dessas atividades e com mais dificuldades, evitando
divirtam-se ao seu modo, para que assim um possível temor do
sintam prazer em estar participando. fracasso.

Tendo em vista a variedade e a complexidade das


deficiências físicas existentes, iremos, aqui, fazer
algumas considerações práticas que podem auxiliar o
trabalho do professor ou profissional envolvido, seja
ele na escola, sob uma perspectiva inclusiva, ou fora
dela, sob princípios esportivos e competitivos.
CONSIDERAÇÕES PARA A PRÁTICA DA ATIVIDADE FÍSICA

LESÕES MEDULARES
O tratamento de pessoas com lesão medular geralmente
envolve três fases (é importante perceber que deve haver
considerável SOBREPOSIÇÃO entre os tratamentos
administrados em cada fase):

HOSPITALIZAÇÃO: quando são abordados aspectos médicos


agudos da lesão, iniciando-se a terapia.

REABILITAÇÃO: quando a pessoa pode ser transferida do


hospital para centros de reabilitação, onde se buscam a
adaptação à lesão e o domínio de habilidades básicas da vida
(ex: ir ao banheiro, usar a cadeira de rodas)

IMPORTANTE!!! Muitas vezes o prof. de Educação Física


pode auxiliar neste trabalho de reaprender as habilidades
básicas.

RETORNO AO AMBIENTE DOMÉSTICO (TRANSIÇÃO): quando,


sem haver qualquer problema secundário, a pessoa recebe alta e
passa por um trabalho que reúne pais e funcionários da escola, a
fim de garantir que eles tenham as habilidades necessárias e
entendam o problema e as necessidades dessa pessoa.
Ao se deparar com um indivíduo com lesão medular, o profissional de educação
física deve analisar os seguintes aspectos:
Ver classificações
QUE MÚSCULOS AINDA PODEM SER USADOS? médica e funcional

QUAL É A QUANTIDADE DE FORÇA RESIDUAL NESSES MÚSCULOS, EM TERMOS DE


MOVIMENTOS E DE HABILIDADES MOTORAS?

Quando uma pessoa com lesão medular procura a prática de atividade física ou está incluída
na escola e com isso, participando de aulas de Educação Física, ela poderá desenvolver
habilidades e usufruir de benefícios, como a melhora do condicionamento físico, da estética,
do bem-estar psíquico, do controle ponderal, da sociabilização, entre outros.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS OBJETIVOS AMPLOS

Melhora da flexibilidade (buscando Proporcionar maior independência;


a redução da espasticidade dos músculos Reduzir tempo de fisioterapia;
não mais inervados) ;
Contribuir para a aquisição de hábitos de
Incremento da força (em especial nos
membros superiores e nos músculos do vida saudáveis;
tronco); Controlar a porcentagem de gordura;
Desenvolvimento da resistência
cardiorrespiratória (alguns tem Ganho de confiança, autoestima.
dificuldades com a resistência respiratória
devido a altura da lesão).
LESÕES
Em relação à prática de atividade física, deve-se observar a existência MEDULARES
ou não de espasticidade. Caso a pessoa com deficiência medular a
apresente, é necessário alongar a musculatura acometida com
regularidade, principalmente antes e depois de uma atividade
vigorosa. Isso porque o “espasmo” pode ter força suficiente para
derrubar o indivíduo da cadeira de rodas.
Deve-se ter cuidado
As contraturas podem ocorrer com frequência nas com infecções
articulações dos membros inferiores se estes não respiratórias e problemas Outros problemas
secundários que
forem movimentados passivamente e com regularidade, com a termorregulação, merecem atenção
pois podem ter sido
ao longo de toda amplitude de movimento. são as infecções do
afetadas com a lesão.
trato urinário e o
A obesidade pode se instalar devido ao fato de grandes funcionamento
grupos musculares perderem a função e com isso intestinal.
deixarem de queimar calorias . Por isso é preciso As úlceras de pressão
acompanhamento da dieta e exercícios. ou de decúbito são
problemas secundários
Aceitação e motivação precisam ser trabalhadas muito comuns. Por isso é
de maneira intensa; as atividades recreativas e necessário inspecionar a
pele regularmente, utilizar
esportivas podem ser grandes aliadas.
acolchoamento e aliviar a
pressão .

O professor de Educação Física deve ficar atento a questões de


imagem corporal , fortalecimento do tronco, amplitude de movimento e
alongamento.
Os exercícios de
Durante, É muito importante
deslocamentos são A flexibilidade pode
principalmente, as que o aluno com
muito comuns nas ser trabalhada
primeiras aulas de lesão medular
aulas de Educação partindo-se de
Educação Física, o aprenda a se
Física. Desta forma, exercícios passivos
professor deve transferir de forma
o professor deve (o professor executa
priorizar o reforço autônoma da
auxiliar seu aluno o exercício para o
positivo, evitando cadeira de rodas,
cadeirante a aluno), passando
corrigir assim como voltar
movimentar-se para pelos ativo-
demasiadamente para ela. Trabalhos
frente, para trás, em assistidos (o aluno
erros de execução. posturais, através do
ziguezague, em executa e o
Isso poderia ganho de força são
terrenos professor auxilia),
desmotivar o aluno necessários,
acidentados, com chegando nos ativos
que, provavelmente, evitando lesões e
obstáculos, com (o aluno executa de
não teve muitas aumento das
inclinações, curvas e forma
oportunidades de curvaturas de
superfícies independente).
vivências motoras. coluna.
diferentes.
LESÕES MEDULARES (ESPINHA BÍFIDA)
Grande parte dos casos de espinha
Mesmo que as
bífida ocorre na região lombar,
habilidades
poupando a função motora dos O uso de órteses ajuda a funcionais de marcha
membros superiores e limitando a minimizar as deformidades e não sejam
deficiência, principalmente, aos propiciar apoio funcional. desenvolvidas, é
membros inferiores.
muito importante que
a criança faça
Observa-se quase sempre a perda do controle dos intestinos e bexiga,
atividades de
e muitas vezes o quadro de mielomeningocele vem acompanhado de
sustentação de peso
hidrocefalia, de maneira que as crianças possuem o shunt (tubo
para estimular o
plástico equipado com uma válvula de pressão), que é inserido no
crescimento ósseo.
ventrículo para drenar o excesso de líquor. Dessa forma é necessário
tomar cuidados com rolamentos do lado em que o shunt foi
implantado.
ESTÍMULOS:
SEMELHANÇAS X DIFERENÇAS
Aconselha-se a dar a
Existem várias semelhanças e diferenças importantes entre os maior quantidade
tratamentos de espinha bífida e os dos outros tipos de lesões possível de estímulos
medulares. normais adequados, para
evitar atrasos no
Perda dos músculos e da sensibilidade = SEMELHANTES crescimento e
desenvolvimento, para
manter a amplitude total
Época do surgimento, circunstâncias emocionais = DIFERENTES
de movimento e para
estimular a circulação
nos membros inferiores.
LESÕES MEDULARES
(ESPINHA BÍFIDA)

Como a espinha bífida surge precocemente, existe uma grande influência no


crescimento e desenvolvimento da criança. Isso ocorre devido à falta de
inervação e do uso dos membros afetados.

Para evitar deformidades ósseas, contraturas nos membros inferiores e


reduzir a necessidade do uso de órteses (suportes), é preciso estimular a
mobilidade das crianças e ficar atento à superproteção, o que gera privação
sensorial.

Durante a prática da atividade física, as crianças com espinha bífida podem


cair com frequência. Dessa forma, é interessante redobrar a atenção.

Deve-se buscar as mesmas metas de educação física que crianças sem


deficiência buscam, mesmo que os objetivos variem. Algumas modificações
podem ser necessárias para que elas se adaptem à maneira como se
locomovem (muletas ou cadeira de rodas) e deve-se enfatizar o
desenvolvimento da parte superior do corpo.
CONSIDERAÇÕES PARA A PRÁTICA DA ATIVIDADE FÍSICA
A pólio caracteriza-se por
Seja qual for a colocação
quadros de sequelas Após a fase aguda da doença,
para a educação física,
diferenciados, de maneira que a deve-se enfatizar o
testes são feitos para verificar
pessoa pode apresentar um ou desenvolvimento ótimo quais músculos foram afetados e
mais membros “flácidos”, dos músculos que o aluno qual é o grau de afecção. Em
perdendo movimento, mas não ainda tem. seguida, no período de
sensibilidade. Deve ser dada prioridade reabilitação, o professor de
a habilidades e atividades Educação Física pode trabalhar
esportivas para a vida
Dependendo do grau de para desenvolver as capacidades
toda, que possam ser
paralisia, a criança pode transferidas e praticadas
funcionais dos músculos que
precisar de instrução para andar para fins de recreação e permanecem ativos.
de muletas ou com suportes aptidão física após os
longos para braços, e/ou para anos escolares. É difícil citar implicações
usar a cadeira de rodas. específicas para as atividades de
Quando os membros inferiores crianças com pólio, por causa da
são gravemente afetados, não é grande variação que pode haver
raro que ocorram deformidades em sua gama de capacidades.
ósseas à medida em que a
criança se desenvolve. Essas O que os professores de
deformidades podem envolver Educação Física devem fazer é
quadris, joelhos, tornozelos ou avançar com precisão,
pés, e frequentemente considerando as capacidades e
requerem cirurgia corretiva. limitações impostas pelo problema
de cada aluno.
POLIOMIELITE
ÓRTESES
Devido às limitações
neuromusculares impostas
pelas deficiências físicas,
muitas pessoas com estes
tipos de deficiências
precisam utilizar órteses
para aumentar suas
capacidades funcionais.

AFO – órtese para tornozelo/pé;


O QUE SÃO ÓRTESES? KAFO – órtese para
São diversos tipos de talas e suportes cuja finalidade é dar joelho/tornozelo/pé;
apoio, melhorar o posicionamento, corrigir ou evitar HKAFO – órtese para
deformidades e diminuir ou aliviar a dor. quadril/joelho/tornozelo/pé

Muitas órteses mais modernas, feitas de


plástico, podem ser usadas dentro de sapatos
normais ou por baixo da roupa. Sob
circunstâncias normais, as órteses devem ser
usadas em todas as atividades físicas,
excetuando-se a natação.
Fig. 1 – KAFO Fig. 2 AFO plástica
ÓRTESES
A figura ao lado mostra diversos
dispositivos auxiliares, frequentemente
usados por crianças com espinha bífida.
O objetivo destas órteses é permitir que
a criança visualize o ambiente e interaja
com ele a partir das posturas verticais
normais, relacionadas ao
desenvolvimento, que ela não consegue
assumir e manter por si mesma.

Os professores de Educação Física


devem estar cientes de que a pessoa
que usa apenas uma bengala ou muleta,
utiliza o dispositivo em seu lado mais
forte; com isso, o braço melhor fica
ocupado. O dispositivo PARAPÓDIO, ou plataforma,
Esse fato deve ser levado em permite às pessoas atingir uma posição ereta
consideração, fazendo-se as a partir da qual podem trabalhar e visualizar o
modificações necessárias nas atividades mundo. O Parapódio pode ser usado com
em que se deseja usar o melhor braço. eficiência na Educação Física, a fim de
ensinar diversas habilidades, como jogar
tênis de mesa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As deficiências medulares aqui apresentadas (lesão medular, poliomielite e


espinha bífida), possuem muitas questões comuns quando consideramos a
prática de atividades físicas.

Diante de pessoas com estes tipos de deficiência, o professor de Educação


Física deve, primeiramente, fazer uma avaliação das características de cada
aluno. Esta primeira avaliação dará uma noção dos músculos que ainda estão
inervados e os que foram perdidos, da força muscular existente e do prognóstico
para um maior desenvolvimento, da amplitude de movimento em diversas
articulações e da presença ou ausência de sensibilidade nos membros.

Nos campos da aptidão física e habilidades motoras, a grande maioria dos


estudos, como o de Winnick e Short (1995), demonstram que as pessoas com
deficiências medulares colocam-se com valores de escore abaixo da média.

Desta forma o programa de Educação Física deve visar a flexibilidade de todas


as articulações, procurando, principalmente, evitar contraturas nas articulações
cujos músculos não são inervados.

O trabalho de força deve se concentrar em recuperar e/ou maximizar a força dos


músculos não afetados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para as pessoas com deficiências medulares, a resistência cardiorrespiratória é


uma das áreas mais difíceis da aptidão física. Com frequência o trabalho nesta
área é complicado pela perda dos grandes grupos musculares das pernas.

O controle do peso também deve ser trabalhado, já que existe uma tendência de
redução do gasto calórico.

A segurança na realização de atividades físicas deve ser observada,


principalmente em alunos que sofreram lesão acima de T6, pois estes estão
sujeitos a problemas como hipotensão (devido a paralisação dos músculos dos
membros inferiores, dificultando o retorno venoso), dificuldades na
termorregulação e limites na frequência cardíaca máxima .
Complicações podem ser evitadas utilizando-se períodos adequados de
aquecimento e volta à calma, para que o corpo possa se adaptar gradualmente à
carga de trabalho.

Exercícios que contribuam para a consciência e o alinhamento corporal devem


ser enfatizados, já que, com frequência, estas pessoas apresentam mecânica
corporal inadequada em decorrência de desequilíbrios musculares e contraturas.
REFERÊNCIAS

Os materiais confeccionados para esta aula foram baseados nas seguintes


bibliografias:

“Atividade Física Adaptada: Qualidade de vida para pessoas com


necessidades especiais” Marcia Greguoul Gorgatti e Roberto Fernandes da
Costa (2ª Edição – 2008)

“Educação Física e Esportes Adaptados” Joseph P. Winnick (3ª Edição - 2004)

“Atividade Física, Deficiência e Inclusão Escolar” de Eliana Lúcia Ferreira


(Org.), v.3, (1ª Edição – 2010)

“Atividade Física Adaptada e Saúde: da teoria à prática”, de Luzimar Teixeira


(Org.) 2008.

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