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1.

Identifica a região portuguesa em que se passa a ação e indica os topónimos


que te permitiram tal identificação.

1. A ação do conto passa-se no Alentejo, como pode ver-se por todos os


topónimos, mas em especial pela referência a Ourique e Beja.
2. Delimita os três momentos principais da ação e indica sucintamente o seu
conteúdo.

2. A primeira parte do conto vai desde o início até “derrotado por mais um
dia”. Aqui se apresenta o espaço em que se desenrola a ação, as personagens
principais e a situação inicial da ação – a vida de marasmo e solidão dos
habitantes daquele espaço.
A segunda parte segue-se à primeira e termina em “ observa magoadamente a
preciosa caixa”. Este momento introduz uma peripécia – a instalação temporária
de uma telefonia na venda da aldeia – que altera a situação inicial do modo de
vida das pessoas.
Na terceira parte, de “Assim está” até ao final, introduz-se uma nova peripécia
um pouco inesperada – a mudança de posição da mulher de Batola quanto à
permanência da telefonia – o que vai tornar permanente o que anteriormente era
provisório: um modo de vida completamente diferente do da situação inicial.
3. Na primeira parte, a vida de Batola é uma “sonolência pegada” (l. 48). Ilustra
esta afirmação com referências ao texto.

3. A vida de Batola é de quase total inatividade: de manhã,


não tem horas para se levantar, chega tarde à venda e,
quando chega, já a mulher há muito que anda a trabalhar, na
venda e no governo da casa. Vem ensonado, arrastando os
pés, boceja, senta-se e começa logo a beber, o que lhe causa
ainda mais sonolência. Se chega algum freguês, só o atende
depois de se certificar que a mulher não o fará. De tarde,
dorme a sesta e retoma a sua vida de indolência e tédio,
“sentado pelos caixotes” dentro ou fora da venda e
remoendo a solidão daquela paisagem deserta. A ideia de
sonolência é acentuada por recursos de linguagem tais como
as perífrases verbais “vem dormindo” (l. 2), “vem saindo”, (l.
6) ”vem tropeçando” (l. 9), que apresentam um aspeto
durativo de lentidão da ação.
4. Caracteriza e interpreta a relação entre Batola e a mulher no primeiro
momento.

4. A relação de Batola com a mulher é uma relação


de “raiva” e de “revolta passiva” (l. 34) que por vezes
acaba em violência física quando ele está bêbedo.
Tal revolta tem como objeto a mulher, que é ativa,
trabalhadora, responsável e ele vê como autoritária,
pois é ela que manda e decide tudo. Mas talvez tal
revolta seja também contra as condições da vida que
tem ou talvez contra si mesmo, pela sua
incapacidade de se impor, de superar o tédio
daquela vida de solidão e pela falta de comunicação.
De facto, a relação do casal é feita de silêncios, de
total incomunicabilidade, que leva cada um deles a
fechar-se no seu mundo.
5. Neste conto, o espaço físico condiciona o espaço social. Documenta esta
afirmação com base na vivência das personagens na primeira parte.

5. O espaço físico é um espaço rural muito extenso, de vales, cabeços e


“plainos sem fim”(l. 80), onde só existe a “solidão dos campos”(l.78).
O povoamento é muito reduzido e disperso: a pequena aldeia é
constituída por “umas quinze casinhas desgarradas” (l. 75).
O espaço físico condiciona o espaço social das vivências humanas, não
só pelo cansaço motivado pela dureza do trabalho e pelas grandes
distâncias a percorrer, mas sobretudo por dificultar o relacionamento
interpessoal, a comunicação e a convivialidade a que todo o ser humano
aspira.
A ausência de tais condições na vida social da aldeia é visível não só na
vida de tédio e solidão de Batola, mas também na dos ceifeiros, que, à
tarde, regressam isolados às suas “casas tresmalhadas”, cansados e sem
ânimo para passarem na venda para conversar e conviver.
O outro exemplo resultante da desertificação do espaço é o do velho
Rata, que ocupava a vida a pedir por terras distantes e maiores e que,
quando se vê impedido de o fazer, se recusa a viver isolado naquele
espaço deserto e se mata.
6. O vendedor que chega no carro revela-se uma pessoa atenta e comercialmente
experiente. Ilustra esta afirmação com referências ao texto.
6. Enquanto o ajudante trata do carro, o vendedor observa a aldeia e,
ao comentar “Que sítio!”, vê-se que ele fica impressionado com o
isolamento daquele lugar e que compreende imediatamente a vida de
solidão dos seus habitantes. Depois, volta a observar e certifica-se de que,
apesar de tudo, há eletricidade na venda, o que lhe traz logo ao espírito a
possibilidade de lá instalar uma das telefonias que traz para vender. Com
esse objetivo, inicia uma conversa animada e franca com Batola, para lhe
cativar a simpatia.
Ainda sem o outro compreender, o vendedor instala a telefonia e faz
uma demonstração, que surte imediatamente o efeito pretendido. Quanto
vê Batola convencido, dá-lhe as letras das prestações para assinar e,
perante a firme recusa da mulher, o vendedor faz a generosa e arriscada
proposta de deixar o aparelho gratuitamente à experiência durante um
mês, certo de que tal experiência convencerá definitivamente os
compradores e de que vale a pena correr o risco de uma possível mas,
segundo a sua experiência comercial, improvável devolução. A sequência
da narrativa vem mostrar que o vendedor estava certo e desempenhou o
seu papel com tato e competência.
7. A sua chegada traz uma profunda alteração à vida da aldeia. Documenta essa
alteração no comportamento do Batola e da mulher, bem como na vida dos
habitantes da aldeia.
7. A chegada do vendedor e a instalação da telefonia na venda transformam por
completo a vida na aldeia.
Em Batola, a grande mudança dá-se ainda quando está a ser negociada a venda do
aparelho. Embora hesitante e receoso, assina as letras das prestações sem consultar a
mulher, chamando a si a responsabilidade do negócio. Quando a mulher intervém para
se opor, ele enfrenta-a, o que nunca antes fizera, e impõe a sua vontade. E quando o
clima social se altera, Batola empenha-se no trabalho e até passa a levantar-se mais
cedo.
Também a própria mulher apresenta uma mudança, pois, no final, quando acaba por
reconhecer a importância da telefonia e por concordar com a compra, fá-lo em diálogo
com o marido, o que revela uma vontade nova de entendimento e de comunicação que
até aí nunca mostrara.
Outra grande mudança verifica-se nos habitantes da aldeia que, desde o momento
da demonstração da telefonia, acorrem à venda para observarem a novidade. A partir
daí, os homens aparecem à tarde e voltam depois da ceia. Já têm assuntos para
conversar, pois gostam sobretudo de ouvir e discutir as notícias da guerra que lhes
chegam de todo o mundo. Mas também ouvem música e até se organiza uma festa em
que toda a aldeia participa. Cria-se, pois, um ambiente de animação e de convívio
totalmente inexistente no tempo anterior.
8. Mostra como esta transformação se reflete na perceção do tempo e na vivência
do espaço.

8. Promovendo um novo clima de animação, de convívio e de interesse pela


vida, a chegada da telefonia altera também a perceção do tempo, sobretudo para
Batola. À sua vida vazia em que o tempo custava muito a passar (“No estio, então,
o sol faz os dias do tamanho de meses”, “o entardecer demora anos”, “a noite (…)
cansada, tomba tão vagarosamente”), sucedem-se dias ocupados, em que a
expectativa da chegada dos ceifeiros e da animação das conversas aligeira o
trabalho e ajuda a passar o dia. Daí que o mês em que a telefonia esteve instalada
provisoriamente tenha passado tão depressa: “E os dias custaram tão pouco a
passar que o fim do mês caiu de surpresa em cima da aldeia”.
Também a vivência dos espaços se altera. As distâncias parece que se
encurtam – “E sentem que não estão já tão distantes as suas pobres casas” – e os
ceifeiros deslocam-se frequentemente à venda. Sobrepondo-se ao espaço
individual do isolamento e do cansaço que é a casa de cada um, valoriza-se agora
o espaço comunitário do convívio e da partilha em que se transformou a venda.
Mas as distâncias que separam Alcaria do resto do mundo também se anulam:
com a telefonia, ouve-se em tempo real a voz de Londres, da Alemanha ou da
América, transmitindo música ou as notícias do momento.
9. Em muitos dos seus contos, Manuel da Fonseca estabelece um confronto entre
o passado e o presente. Indica, justificando, qual dos dois tempos sai valorizado
em “Sempre é uma Companhia”.

9. Em muitos contos de Manuel da Fonseca, o passado


surge como o tempo feliz em que tudo era vivido de forma
harmoniosa e plena, sendo o presente o tempo da
degradação e da decadência humana ou social.
Pelo contrário, em “Sempre é uma Companhia”, mostra-se
a importância da tecnologia do presente que tem uma função
de humanização da vida coletiva e da melhoria das condições
de vida socialmente desumanas do tempo passado, em que o
homem estava desesperadamente dependente das condições
do meio natural em que vivia.

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