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PROCESSOS DE

TRABALHO DO
ASSISTENTE SOCIAL
NA EDUCAÇÃO
A democratização da
educação superior
Thaís Fernandes Ferreira

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir o papel da educação superior no País.


>> Identificar as estratégias e ferramentas capazes de democratizar o acesso
à educação superior.
>> Relacionar os avanços da sociedade brasileira e a expansão da educação
superior.

Introdução
A educação superior no Brasil passou por diversas transformações ao longo do
tempo. Durante um período considerável, o acesso a esse nível de ensino era
bastante restrito. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/1988)
e da Lei de Diretrizes e Bases (LDB — Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996), esse
cenário foi alterado. Esses importantes dispositivos, mesmo com seus limites,
representaram um considerável avanço no que tange à expansão da educação
superior no país, que passou a ser reconhecida como um direito social.
A temática da expansão do ensino superior gera diversos debates e po-
sicionamentos no âmbito das mais diversas nações. Isso não é diferente no
Brasil. A democratização dessa modalidade de ensino, somada ao processo
de interiorização, fizeram com que novas estratégias fossem empreendidas,
de modo a atingir um maior contingente de pessoas em um curto espaço de
tempo. Desse modo, os impactos gerados nas esferas econômica, política,
social e cultural do país são evidenciados.
2 A democratização da educação superior

Neste capítulo, você vai compreender o papel da educação superior no país.


Você também vai estudar as estratégias e ferramentas capazes de democratizar
o acesso ao ensino superior e vai verificar os avanços da sociedade brasileira e
a sua relação com a educação superior.

O papel da educação superior no Brasil


Para compreender o papel da educação superior no Brasil, faz-se necessário
situar o seu surgimento e o seu desenvolvimento a partir das mudanças na
sociedade causadas pelos diferentes contextos políticos, sociais e culturais.
Essa importante área da educação tem um papel fundamental na produção e
reprodução do capitalismo, bem como congrega diversas disputas societárias
quanto ao seu direcionamento e aos seus objetivos.
A educação à luz do capitalismo adquire características baseadas em
um conjunto de práticas sociais, que contribuem para o avanço desse modo
de produção. Para além dessa concepção, é preciso compreender a educa-
ção partindo da ideia de que “[...] a conjugação de todas as experiências de
vida promovidas pela educação deve ser genuína e servir aos interesses
de promoção do homem, com a missão de transformação social, ampla e
emancipadora” (MÉZAROS, 2005, p. 76).
A educação compreendida como política decorre de particularidades histo-
ricamente determinadas e dos enfrentamentos entre os interesses antagôni-
cos das distintas classes sociais. A partir desse contexto de enfrentamentos,
o Estado passa a imprimir respostas institucionalizadas a essa demanda
por meio das diversas políticas sociais — entre elas, a política de educação.
Como afirma Marques (2014, p. 756):

A educação é parte da sociedade; qualquer que ela seja, tenha sido ou venha a ser.
Para entendê-la é imprescindível mergulhar em sua história e nas especificidades
que a tornaram o que é no presente. Mas para entender o seu sentido mais profundo,
é preciso buscar este todo maior de que faz parte, a sociedade que a perpassa.

Ou seja, para entender o desenvolvimento da política de educação,


é fundamental compreender essa área não apenas a partir das legislações
e transformações institucionais, de forma linear, mas também a partir das
diversas contradições e respostas do capital e de seus reflexos no cotidiano
e nas relações sociais.
A democratização da educação superior 3

As protoformas do processo de escolarização brasileiro remontam ao


ano de 1549, no contexto do modelo agroexportador dependente. Esse mo-
delo perdurou até 1759, tendo sido desenvolvido nos moldes da educação
europeia. É importante salientar que o período escravagista brasileiro gerou
um impacto direto nos níveis de escolaridade e desenvolvimento do país,
o qual apresentava níveis de analfabetismo altíssimos nas décadas seguintes
à Proclamação da Independência. No momento político de instauração da
República, o projeto educacional apontava para duas direções: uma voltada
para a elite e outra para a classe trabalhadora.
A partir desse momento, outras iniciativas foram surgindo no campo
da educação. Apesar disso, os níveis de analfabetismo continuaram muito
elevados. Como descreve Martins (2002, p. 1):

Até a Proclamação da República em 1889, o ensino superior desenvolveu-se muito


lentamente, seguia o modelo de formação dos profissionais liberais em faculdades
isoladas, e visava assegurar um diploma profissional com direito a ocupar postos
privilegiados em um mercado de trabalho restrito além de garantir prestígio social.

De 1945 a 1968, a educação superior congregou a luta do movimento es-


tudantil e dos professores na defesa do ensino público e do modelo de uni-
versidade em oposição às iniciativas de cunho isolado e na responsabilização
estatal sobre essa área. O que se assistiu foi a discussão sobre a reforma de
todo o modelo de ensino até então predominante, em especial em relação
à universidade. Com o fechamento democrático do país, com a instauração
da Ditadura Militar (1964–1985), o movimento que estava se forjando sofreu
perseguição e censura. Dessa forma, o ensino superior privado brasileiro se
expandiu sobretudo a partir de 1970.
Avançando no processo histórico, faz-se necessário pontuar que a década
de 1980 representou um importante avanço no que tange à abertura democrá-
tica do país. Após anos de Ditadura Militar, a pressão popular galgou muitas
conquistas no campo dos direitos sociais, dentre elas a CF/1988, conhecida
como a Constituição Cidadã. Esta representou o resultado da luta popular por
ampliação dos processos de participação nas mais variadas políticas sociais.
Na referida Constituição, em seu art. 208, ficou estabelecida a política de
educação como direito subjetivo. Ou seja, o Estado tem o dever de proporcionar
à população um sistema educacional; caso esse direito não seja efetivado,
a sociedade terá a possibilidade de realizar a cobrança da autoridade com-
petente responsável (BRASIL, 1988). Dessa forma, a educação passou a ser
reconhecida como um direito social, fato considerado um marco importante
para a população brasileira.
4 A democratização da educação superior

Em 1996, a LDB, compreendida como lei complementar estabelecida nacio-


nalmente, englobou um conjunto de dispositivos, dentre os quais é importante
destacar (BRASIL, 1996):

„„ a gratuidade no ensino público em todos os níveis;


„„ a gestão democrática da escola pública;
„„ a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão na educação
universitária;
„„ a autonomia das universidades.

Ela foi precedida por edições de leis, decretos e portarias que a nortearam.
A LDB, em seu art. 43, estabelece as finalidades do ensino superior (BRASIL,
1996, documento on-line):

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do


pensamento reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção
em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade
brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desen-
volvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse
modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e
possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão
sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento
de cada geração;
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os
nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer
com esta uma relação de reciprocidade;
VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão
das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica
e tecnológica geradas na instituição.
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da educação básica,
mediante a formação e a capacitação de profissionais, a realização de pesquisas
pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem os
dois níveis escolares.
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Mesmo com esses importantes avanços, logo após a promulgação da


CF/1988, com o advento do neoliberalismo no Brasil, as mais variadas áreas
sofreram ataques desse estágio do modo de produção capitalista. E não foi
diferente com a política de educação. Cabe ressaltar que o direito social à
educação de qualidade é um aspecto essencial e prioritário da construção
da sociedade e da consolidação da identidade nacional e instrumento de
inclusão socioeconômica. Assegurá-lo é dever indeclinável do Estado (DIAS
SOBRINHO, 2010, p. 1224).
É importante salientar que os países com níveis elevados de desenvolvi-
mento investiram de forma mais contundente na política de educação. A busca
pela universalização da educação básica e a erradicação do analfabetismo se
mostraram eficazes no que diz respeito ao progresso enquanto sociedade.
À educação superior coube não apenas a tarefa de prover os meios para que
fossem logrados esses intentos, mas também a de colocar esses países na
vanguarda do desenvolvimento científico-tecnológico.

As possibilidades da democratização
na educação superior
A dimensão continental brasileira e a sua histórica desigualdade regional
representam um importante desafio ao Estado no que diz respeito à efeti-
vação dos princípios estabelecidos na CF/1988. Nesse sentido, destaca-se o
que preconiza o art. 3° da CF/1988: “[...] construir uma sociedade livre, justa e
solidária; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais” (BRASIL, 1988, documento on-line). A partir do exposto,
é importante considerar que tais desigualdades entre as regiões corroboram
com a perpetuação das injustiças sociais e da diferença de oportunidades
entre os indivíduos.
Portanto, em se tratando da política de educação, para além das restrições
relacionadas ao acesso, devemos considerar a sua oferta em face à distribui-
ção territorial. Um contraponto importante a se fazer é em relação ao ensino
básico, pois sua distribuição ocorre a partir das competências federativas,
o que difere do ensino superior. A oferta deste se concentra de forma mais
acentuada nas capitais e nos grandes centros urbanos.
O crescente processo de reconhecimento e valorização da educação su-
perior, somado ao processo de urbanização e modernização da sociedade
brasileira, fortaleceram a ampliação e a disseminação desse nível de ensino,
com destaque para o setor privado. As políticas públicas historicamente
6 A democratização da educação superior

situadas de forma mais recente proporcionaram um importante aumento


no que diz respeito ao número de ingressos no ensino superior brasileiro.
Destacam-se os programas voltados à ampliação das vagas em universidades
públicas, a oferta de bolsas de estudos em instituições privadas, as políticas
de financiamento estudantil nas instituições de ensino privadas, bem como
a ampliação da modalidade de ensino a distância (EAD).
A LDB estruturou políticas educacionais com o objetivo de garantir a
expansão da educação via aumento da oferta de cursos de nível superior,
objetivando promover o acesso e, com isso, a inclusão social de muitos estu-
dantes no país. A partir desse pressuposto, é possível destacar a criação da
Universidade Aberta do Brasil (UAB) e de demais programas governamentais
que comungam com o objetivo de universalizar e interiorizar essa modalidade
de ensino para a população brasileira. Em 2005, foi criado pelo Ministério da
Educação o sistema de UAB, o qual foi regulamentado por meio do Decreto
nº 5.800, de 8 de junho de 2006. Trata-se de uma parceria entre os três níveis
de governo (federal, estadual e municipal) com as instituições públicas de
ensino superior e demais interessados.
O Decreto nº 5.800/2006 dispõe que a UAB está voltada para “[...] o de-
senvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de
expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior
no País” (BRASIL, 2006, documento on-line). A UAB se coloca, portanto, como
uma alternativa para atingir um maior número de estudantes por todo o Brasil
por meio dessa modalidade e tem como objetivos (BRASIL, 2006, documento
on-line):

I - oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de formação inicial e conti-


nuada de professores da educação básica;
II - oferecer cursos superiores para capacitação de dirigentes, gestores e traba-
lhadores em educação básica dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
III - oferecer cursos superiores nas diferentes áreas do conhecimento;
IV - ampliar o acesso à educação superior pública;
V - reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes
regiões do País;
VI - estabelecer amplo sistema nacional de educação superior a distância; e
VII - fomentar o desenvolvimento institucional para a modalidade de educação a
distância, bem como a pesquisa em metodologias inovadoras de ensino superior
apoiadas em tecnologias de informação e comunicação.
A democratização da educação superior 7

Além da UAB, podemos destacar a promulgação da Lei nº 11.096, de 13 de


janeiro de 2005, que dispõe sobre a criação do Programa Universidade para
Todos. Em seu art. 1°, essa Lei institui sob a gestão do Ministério da Educação
(MEC) o referido programa, que tem como objetivo a concessão de bolsas
de estudo integrais e de bolsas de estudos parciais de 50% ou de 25% para
estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em
instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos (BRASIL,
2006). A bolsa é destinada ao estudante que tenha realizado o ensino médio
em instituições públicas (ou que tenha sido bolsista em instituições privadas),
ao estudante com deficiência e ao professor da rede pública de ensino (para
os cursos de licenciatura, normal superior e pedagogia).
Já a Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, dispõe sobre o fundo de finan-
ciamento ao estudante do ensino superior e dá outras providências. Em seu
art. 1°, afirma que tem como objetivo conceder financiamento a estudantes
em cursos superiores não gratuitos, com avaliação positiva nos processos
conduzidos pelo MEC e ofertados por instituições de educação superior não
gratuitas aderentes ao programa. Outra informação bastante importante
contida na Lei é que até 100% dos encargos educacionais cobrados dos es-
tudantes pelas instituições de ensino superior poderão ser financiados,
desde que essas instituições estejam cadastradas pelo MEC. Os estudantes
com renda familiar per capita de até três salários mínimos terão taxa real
de juros zero, o que facilita o acesso dos estudantes em situação econômica
mais vulnerável ao ensino superior (BRASIL, 2001).
Outra estratégia para a expansão do ensino superior no país é a educa-
ção a distância, entendida como “[...] o processo de ensino-aprendizagem,
mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados fisica-
mente, porém, há interação, troca de conhecimentos e relato de experiências”
(NICOLAIO; MIGUEL, 2010, p. 69). Essa modalidade possibilitou que milhões
de pessoas tivessem acesso pela primeira vez a esse nível de ensino. Veja
na Figura 1 os dados do Censo da Educação Superior de 2019, elaborado pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
(BRASIL, 2019).
8 A democratização da educação superior

Figura 1. Número de ingressos em cursos de graduação, por modalidade de ensino, entre


2009 e 2019.
Fonte: Brasil (2019, documento on-line).

O gráfico demonstra que o número de ingressantes por meio da modali-


dade EAD teve um importante aumento entre 2018 e 2019. Essa modalidade
apresentou uma variação positiva de 15,9%. Já na modalidade presencial
houve uma queda de −1,5% entre 2009 e 2019. O número de ingressos variou
positivamente 17,8% nos cursos de graduação presencial, e nos cursos a
distância aumentou 378%.
No ano de 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado pelo
governo federal, com o objetivo de avaliar o desempenho dos estudantes no
término da educação básica. Durante mais de uma década o Enem foi utilizado
unicamente para avaliar as habilidades dos estudantes concluintes do ensino
médio, sem o objetivo de selecionar para o ensino superior. Após diversas
medidas governamentais no ano de 2009, o exame passou a ser utilizado
não apenas como um processo de avaliação do ensino médio, mas como
uma forma de acesso ao ensino superior. Desse modo, o Sistema de Seleção
Unificada (Sisu) passou a operar em larga escala no processo de ampliação
das possibilidades de acesso a esse nível de ensino.
A Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2011, instituiu a política de cotas no
Brasil. Essa Lei, em seu art. 1º, dispõe que:

[...] as instituições federais de educação superior vinculadas ao Ministério da


Educação reservarão, em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de
graduação, por curso e turno, no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas vagas
para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas
públicas (BRASIL, 2011, documento on-line).
A democratização da educação superior 9

Dessa forma, a política de cotas pode ser considerada como um impor-


tante instrumento para a democratização do ensino superior no país, como
afirmam Souza e Brandalise (2017, p. 552):

A política de cotas se caracteriza como uma possibilidade de superação das desi-


gualdades. O sistema social tenta limitar essa superação, reproduzindo desigual-
dades de outras formas, no entanto, esta política, mesmo fazendo parte de um
sistema que sofre violência simbólica, contribui para a promoção de modificações
na estrutura da pirâmide social e educacional, pois uma vez que proporciona a
elevação dos níveis sociais, esse movimento abre possibilidade para que aquelas
pessoas que vivem em condições socioeconômicas menos favoráveis também
sejam elevadas socialmente.

A importância da educação para o desenvolvimento humano a partir da


concepção de direito humano inalienável está sacramentada no mundo todo
como um função do Estado. No Brasil, a sua compreensão deve ultrapassar
as limitações políticas e governamentais, para que todos tenham acesso
com qualidade a esse direito. Para tanto, como dito anteriormente, é pre-
ciso localizar a educação enquanto um direito social. A partir do prisma da
qualidade, é possível pensar estratégias para a ampliação do acesso e da
permanência dos estudantes de nível superior em cursos qualificados. Esse
debate deve ir além da simples relação com a criação de mais vagas, devendo-
-se compreender a educação superior como uma força importantíssima para
o desenvolvimento humano e social.

A Lei nº 12.711/2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades


federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio
e dá outras providências, representou um importante avanço no que tange à
democratização do ensino superior no país. Esse dispositivo busca diminuir a
desigualdade de oportunidades de acesso, entre as distintas classes sociais,
ao direito social que é a educação superior. Para saber mais sobre esse tema,
leia o artigo “Políticas públicas de ações afirmativas para ingresso na educação
superior se justificam no Brasil?”, de Haas e Linhares (2012).
10 A democratização da educação superior

A expansão da educação superior e


os rebatimentos na sociedade brasileira
A educação tem um importante papel no que diz respeito ao desenvolvimento
de uma sociedade. No Brasil, nas últimas décadas, ocorreu um expressivo
aumento no desenvolvimento de estratégias para que a educação superior
se expandisse. Dessa forma, os dados demonstram um importante aumento
no número de pessoas que tiveram acesso a esse nível de ensino.
O Censo da Educação Superior de 2019, elaborado pelo Inep, traz importan-
tes dados estatísticos no que diz respeito à expansão da educação superior
no Brasil, dentre outros dados. Um dado muito relevante é em relação à rede
de educação superior brasileira. O gráfico da Figura 2 mostra o número de
instituições de educação superior no Brasil em 2019, por organização acadê-
mica e categoria administrativa.

Figura 2. Dados referentes à rede de educação superior do Brasil em 2019.


Fonte: Brasil (2019, documento on-line).
A democratização da educação superior 11

O número expressivo de 88,4% das instituições de ensino superior no


Brasil são privadas. Já as instituições públicas representam 11,6% do total,
subdividas entre municipais, estaduais e federais.
Já em relação ao perfil do vínculo discente de graduação, por modalidade
de ensino (presencial e a distância), observa-se o cenário apresentado no
Quadro 1.

Quadro 1. Perfil do vínculo discente de graduação, por modalidade de ensino


(presencial e a distância)

Modalidade de ensino
Atributos do vínculo
discente de graduação
Presencial A distância

Gênero Feminino Feminino

Categoria administrativa Privada Privada

Grau acadêmico Bacharelado Licenciatura

Turno Noturno na.

Idade (matrícula) 21 22

Idade (ingresso) 19 20

Idade (concluinte) 23 30

Nota: para construção do perfil do vínculo discente, é considerada a moda de cada


atributo selecionado separadamente.

Fonte: Adaptado de Brasil (2019).

Verifica-se que, por predominância, o estudante de ensino superior brasi-


leiro vinculado ao curso de graduação a distância cursa licenciatura, enquanto,
na modalidade presencial, esse estudante cursa bacharelado. O número
de matrículas em relação ao sexo feminino é predominante em ambas as
modalidades. Em relação ao período, o turno noturno é o que possui mais
estudantes matriculados nos cursos de graduação presencial.
Em se tratando de número de vagas de cursos de graduação, por tipo de
vaga e categoria administrativa, observa-se o cenário apresentado na Figura 3.
12 A democratização da educação superior

Figura 3. Número de vagas de cursos de graduação, por tipo de vaga e categoria adminis-
trativa, em 2019.
Fonte: Brasil (2019, documento on-line).

Em 2019, foram ofertadas ao todo mais de 16,4 milhões de vagas em cursos


de graduação, sendo 71,6% de vagas novas e 27,7% de vagas remanescentes.
A rede privada ofertou 94,9% do total de vagas, e a rede pública, 5,1%. Em se
tratando somente das vagas remanescentes, a rede privada ofertou 95,3%
desse total.
Outro dado que chama a atenção é em relação ao número de ingressos em
cursos de graduação, por modalidade de ensino, conforme mostra a Figura 4.

Figura 4. Número de ingressos em cursos de graduação, por modalidade de ensino, entre


2009 e 2019.
Fonte: Brasil (2019, documento on-line).
A democratização da educação superior 13

Para concluir, na Figura 5, temos o número de matrículas realizadas no


ensino superior de 2009 a 2019.

Figura 5. Número de matrículas no ensino superior de 2009 a 2019.


Fonte: Brasil (2019, documento on-line).

Observa-se que o número de matrículas na educação superior atingiu


a marca de 8,6 milhões em 2019. Entre os anos de 2009 e 2019, ocorreu um
aumento de 43,7%. Já em relação ao crescimento anual, a média é de 3,6%.
Em comparação com o ano de 2018, a variação positiva é de 1,8%.
Dessa forma, é preciso considerar que os expressivos números demons-
trados acima têm interferência direta na sociedade brasileira, como afirma
Goldemberg (1993, p. 71):

A responsabilidade do Poder Público para com a educação envolve recursos or-


çamentários vultosos. Em um país como o Brasil, onde a maioria da população
situa-se nos limites da pobreza, o direcionamento de recursos do Estado para a
área da educação, como a da saúde e as dos demais serviços públicos em geral,
não só é fator essencial para promover os desenvolvimentos econômico e social,
como constitui importante instrumento para minorar a excessiva desigualdade
na distribuição da renda.

A relação entre educação superior e desenvolvimento humano, social e


tecnológico é intrínseca. Dessa forma, a expansão/democratização desse nível
de ensino promove o desenvolvimento do país, diminuindo as desigualdades
entre os sujeitos e, consequentemente, entre as classes sociais. Para que
esse objetivo se materialize na prática, é preciso articular ensino, pesquisa e
14 A democratização da educação superior

extensão, de forma a garantir a sua indissociabilidade na formação profissional


dos estudantes brasileiros.
O conceito de indissociabilidade remete a algo que não existe sem a
presença do outro — ou seja, o todo deixa de ser todo quando se dissocia.
Alteram-se, portanto, os fundamentos do ensino, da pesquisa e da extensão.
Por isso, trata-se de um princípio paradigmático e epistemologicamente
complexo (TAUCHEN, 2009).
Mesmo com um maior número de brasileiros tendo acesso à educação
superior, ainda existem diversos desafios, como afirma Franco (2008, p. 62):

Certamente os desafios que temos a enfrentar não são poucos, todavia já exis-
tem sinais que demonstram que avanços também foram conquistados, e que um
melhor padrão de qualidade é algo a ser alcançado com políticas educacionais
eficazes e contínuas, o que demonstra que também a educação superior, não está
definitivamente dentro de uma escola de vidro.

Para além de gerar conhecimento, o ensino superior tem como horizonte


a formação de profissionais socialmente críticos e tecnicamente capacitados
a atuar como agentes de transformação. Os ganhos para o Brasil refletem no
desenvolvimento da sociedade como um todo.

Referências
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da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
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DE%202001.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20o%20Fundo%20de,Superior%20e%20
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A democratização da educação superior 15

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Disponível em: http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/3624. Acesso em: 6 jan. 2021.
16 A democratização da educação superior

Leitura recomendada
HAAS, C. M.; LINHARES, M. Políticas públicas de ações afirmativas para ingresso na
educação superior se justificam no Brasil? Rev. Bras. Estud. Pedagog., Brasília, v. 93,
n. 235, p. 836-863, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S2176-66812012000400015&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 6 jan. 2021.

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