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INTRODUÇÃO

O capital social é um conceito comum a todas as empresas, sendo essencial na abertura


de um negócio para os novos empresários conhecer tudo sobre esse montante é uma
necessidade, pois determina a capacidade operacional e de investimentos de uma empresa no
momento em que é criada.
Ainda assim existem dúvidas sobre o assunto. O capital social é algo que deve ser
estudado antes mesmo de você abrir a sua empresa.
Este montante ajuda nos primeiros passos do negócio, protegendo sua operação em um
período normalmente turbulento e no qual a maioria das empresas ainda não consegue gerar
lucros. É como financeiro do seu negócio, responsável por dar a partida na empresa.
Ele serve como base financeira para que o empreendedor consiga, de facto, abrir seu
negócio e dar início ás operações. Sem esse valor aplicado por acionistas, sócios ou até mesmo
tirado do própio bolso do fundador, é muito difícil viabilizar uma ideia, pois, no início, é
esperado que a empresa não consiga gerar lucros. Por isso, sem esse investimento, a empresa já
começaria com um saldo enorme de dívidas. Ou seja, ele é uma garantia de que a empresa vai
conseguir actuar no início das actividades, até conseguir render um retorno financeiro positivo
para poder caminhar.

PROBLEMATIZAÇÃO
O capital social é um valor investido que será colocado a desposição da empresa, por
cada um dos sócios, seja bens financeiros ou bens materiais. Além disso, o capital social deve ser
registrado no contrato social da empresa. Daí que nos parece a seguinte questão: Como formar o
capital social de uma determinada empresa?

HIPÓTESES
Definir a quantia de cada sócio por porcentagem registrado em contrato social;
Deixar explícito no contrato como cada um dos sócios irá integralizar o capital, ou seja,
realizar efectivamente de forma física o seu porcentual acordado, prazos e parcelas.

OBJECTIVO GERAL
Compreender a diferença que existe entre o capital e o patrimônio social de uma
determinada empresa.

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS
Demonstrar as principais funções do capital social.
Identificar os elementos que compõem o patrimônio social de uma determinada empresa.

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CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE CAPITAL E
PATRIMÔNIO SOCIAL
1.1 Definições de Termos e Conceitos
Segundo LAMY FILHO: O capital social é a cifra, fixada no estatuto social, do montante
das contribuições prometidas pelos sócios para formação da companhia que a lei submete à
regime cogente, cujo fim é proteger os credores sociais. Os fundadores (na constituição da
companhia) e os órgãos sociais (durante a vida da sociedade) estipulam no estatuto o valor do
capital social, que somente pode ser modificado com observância das normas legais.
Ainda segundo a acepção clássica do capital social, temos o ensinamento de
CARVALHO DE MENDONÇA: O capital social é o fundo originário e essencial da sociedade,
fixado pela vontade dos sócios; é o montante constituído para base das operações. Os sócios
podem, modificando ou alterando a cláusula contratual que o determina, aumentá-lo ou diminuí-
lo livremente, desde que ao ofendam direitos de terceiros; podem reforça-lo com a instituição de
um fundo de reserva, formado mediante certa percentagem deduzida dos lucros líquidos em cada
exercício. Tal definição parece tratar com precisão a dimensão formalista do capital social,
fixado pelos sócios na constituição da sociedade e representante das contribuições por eles
aportadas.
Do ponto de vista jurídico, o patrimônio pode ser definido como o conjunto de relações
jurídicas, dotadas de valor econômico, nas quais a pessoa figura como parte. Essa universalidade
de direitos e obrigações forma o patrimônio da sociedade, que por sua vez responde
integralmente pelas dívidas sociais presentes e futuras, consoante a regra de responsabilidade
patrimonial. Tal regra encontra-se presente no art. 39114 da Lei 10.406, de 2002 (Código Civil
ou CC).
Do ponto de vista da contabilidade, o patrimônio social consiste numa realidade tangível,
composta pela diferença entre bens, direitos e obrigações da sociedade. É um elemento variável,
cujo valor se altera permanentemente em resultado das operações lucrativas, dos prejuízos e das
distribuições de lucros das sociedades.

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1.2 Capital Social
O capital social é a base e o suporte do nascimento das sociedades comerciais, é com ele
que a empresa dá os seus primeiros passos. Com o seu crescimento e como desenvolver da sua
actividade vai gerando lucros que, ou são distribuídos pelos sócios/acionistas ou permanecem na
empresa como garante da sua actividade.
O capital inicial é determinado com as entradas dos sócios e corresponde ao património
inicial, variando este consoante obtenha lucros ou prejuízos no decurso da sua actividade.
Havendo lucros, o património aumenta, diminuindo quando obtenha prejuízos. Mas, o capital
mantém-se inalterável. Refira-se que nem todo o excedente patrimonial apurado em relação ao
investimento inicial dos sócios pode ser considerado lucro, mas apenas aqueles excedentes que
resultem da actividade da sociedade.
O capital social presenta a partição dos sócios na aformação do património da empresa.
Este abrange não só as parcelas engtregues pelos acionistas como também os valores obtidos
pela sociedade.
Como as entradas iniciais dos sócios se refletem numa categoria especificamente
societária que é o capital social ( que corresponde ao valor da soma dos valores nominais
atribuídos às participações sociais que os sócios recebem em “troca” dessas entradas), o lucro vai
ser apurado por comparação entre o património que a sociedade tem num dado momento, liquido
de dívidas e encargos, e o capital social – o lucro é o excedente que se verifica entre o valor
( contabilístico) do património (liquido) da sociedade e a cifra de referência que é o capital
social.

1.3 Função do Capital Social


Sem que igualmente exista unanimidade entre os autores sobre esta matéria, várias são as
funções que habitualmente se atribuem ao capital social, as quais, segundo PAULO DE TARSO
DOMINGUES, podem ser divididas em dois grandes grupos que são: num plano interno, ou seja
dentro da sociedade, e num plano externo, ou seja, fora da sociedade.
Neste âmbito, da nossa parte destacamos, no plano interno, as funções de organização e de
financiamento e, no plano externo, as funções de avaliação económica e de garantia.

No plano interno, o capital social constitui um meio de financiamento da sociedade,


servirá no imediato para as aquisições de bens e serviços indispensáveis ao início da actividade
da empresa, conforme diz GORÊ, o capital social é a fonte de direitos e de poder dentro de uma
sociedade. Citando COUTINHO DE ABREU no livro Estudo de Direito das Sociedades pág
197, “Com o capital social visa-se também regular a reunião de meios que permitam o
estabelecimento e desenvolvimento das actividades económicas que pela via societária se
pretendem exercer, os bens postos em comum pelos sócios dirigidos à cobertura do capital social

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não se destinam a ficarem intactos nos cofres mas antes a serem utilizados na instalação e
exploração da actividade societária, constituindo pois um meio de financiamento da sociedade.
Deste modo, e na medida em que visa congregar e regular a obtenção de meios que
permitam o desenvolvimento da actividade societária - proporcionado a formação de uma
estrutura de produção – o capital desempenha uma função que se pode designar por função de
financiamento da sociedade.”. Princípio da intangibilidade do capital social.
O capital social é intangível , os sócios não podem tocar no capital social, não pode
também haver devolução aos sócios dos valores com que realizaram o capital social, este, não
poderá ser beliscado ou diminuído, por virtude da atribuição de bens aos sócios. O princípio da
intangibilidade do capital social significa que o valor do património líquido da sociedade não
pode descer abaixo da cifra do capital nominal, para titular operações que beneficiem os sócios.
Este procedimento visa assegurar a conservação do capital real e da garantia que ele representa
para terceiros. O conceito do principio da intangibilidade do capital é diferente do principio da
efectividade, sendo que, neste principio, pretende-se que os bens que compõem o capital social,
numa acepção do capital social real sejam idóneos para as garantias dos créditos de terceiros.

1.3.1 A FUNÇÃO DE ORGANIZAÇÃO


Relativamente à função de organização, é reconhecido que o capital social é tido como
uma das formas de regular os direitos e os deveres dos sócios22, nomeadamente o direito aos
lucros e o direito de voto. Isto porque grande parte destes direitos e deveres são delineados em
conformidade com a participação dos sócios no capital social.
Desta forma, este constitui um elemento que possibilita a determinação da posição
jurídica . PITA, António Manuel, Curso Elementar de Direito Comercial, Colecção Direito,
Áreas Editora, 3.ª ed., 2011, p. 186.
Conforme refere ANTÓNIO PEREIRA DE ALMEIDA, “quer o direito aos lucros, quer o
direito de voto, quer o direito a subscrição preferencial de aumentos de capital social, são
atribuídos em função da percentagem de participação do capital social”24 . Assim,
demonstrativo desta função é o facto de os sócios participarem nos lucros e nas perdas da
sociedade em concordância com os valores nominais das suas participações no capital, ou o facto
de, nas sociedades por quotas, se contar um voto por cada cêntimo do valor nominal da quota, e
nas sociedades anónimas cada acção corresponder, em princípio, a um voto . Também é possível
encontrar uma afluência desta função no direito à informação no âmbito das sociedades
anónimas, já que é preciso que um acionista detenha ações correspondentes a pelo menos 1% do
capital social para que possa consultar, na sede da sociedade, elementos inerentes à prática
societária, como o são, por exemplo, os relatórios de gestão e as atas das assembleias gerais .
Podemos, assim, verificar que, em vários aspetos, o rumo da sociedade depende das
deliberações que são tomadas pelos sócios, e que os votos resultantes dessas deliberações estão
intrinsecamente ligados à participação de cada sócio no capital social. Numa sociedade anónima,
por exemplo, o voto de um acionista que detenha um elevado número de ações pode ser
determinante para a aprovação ou rejeição de uma dada medida. PAULO DE TARSO

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DOMINGUES refere que, com este instituto se procura ainda alcançar uma igualdade de
tratamento dos sócios, ou, pelo menos, uma aproximação de igualdade, bem como evitar que um
sócio assista à “diluição” da sua participação social contra a sua vontade .
Há que sublinhar que, apesar de os direitos e os deveres dos sócios serem fixados e
delimitados atendendo à sua participação no capital social, essa harmonia pode ser
contratualmente alterada, nomeadamente através da atribuição de direitos especiais a alguns
sócios, nos termos do artigo 24.º do CSC.

1.3.2 A FUNÇÃO DE FINANCIAMENTO


No momento da constituição da sociedade, os sócios, para além de terem que determinar
o valor que constituirá a cifra do capital social, têm que realizar - ou, pelo menos,
comprometerem-se a realizar num determinado prazo - as suas entradas que, nas sociedades de
capitais, corresponderão a entradas em dinheiro ou entradas em espécie avaliáveis em dinheiro.
Estas entradas destinam-se a constituir o património, correspondendo à massa concreta de bens
que irá cobrir a cifra supra referida, transformando o seu valor em algo palpável e não
meramente abstrato.
De facto, toda e qualquer sociedade tem um dado objecto social, que corresponderá à
actividade económica que esta vai exercer, e é com este conjunto de bens que, em princípio, se
iniciará o desenvolvimento da atividade societária. Por exemplo, com o valor de parte das
entradas em dinheiro poderão adquirir-se secretárias, cadeiras, computadores, entre outros. Bens
que, hoje em dia, são tidos quase como essenciais para a prossecução de qualquer actividade
económica e que sempre constarão no activo da sociedade.
Assim, sempre se diga que o dinheiro com que cada sócio (que contribui com entradas
em dinheiro) dota o capital social não se destina a ficar estagnado, mas sim a financiar a
instalação da sociedade em conformidade com a atividade económica a que corresponde o seu
objeto social. É neste sentido que se aponta a função de financiamento do capital social, uma vez
que assim se possibilita a reunião desses meios capital social (se a sociedade tiver dois sócios),
valor este que, como é evidente, não chega para financiar qualquer tipo de atividade económica.

No plano externo o capital social é uma figura instrumental. É função de garantia,


sendo um instrumento jurídico destinado à defesa e tutela dos interesses dos credores. Para
proteção desses terceiros, o legislador adopta uma série de medidas que visam assegurar a
entrada, conservação e existência efectivas de património líquido da sociedade de bens cujo valor
seja pelo menos igual à cifra do capital social. PAULO DE TARSO DOMINGUES . Como diz
FERRER CORREIA, o capital social acaba por funcionar com um barómetro da situação
económica da sociedade Para proteção dos direitos dos credores, os credores poderão exigir
garantias prestadas pelos sócios, como fianças, hipotecas, seguros de crédito.
Há aqui uma erosão da responsabilidade limitada, imputando aos sócios a
responsabilidade pessoal pelas dívidas da sociedade. Também, como é dito no artigo 78º nº 1 do
C.S.C, “ Paulo de Tarso Domingues – Variações pag 564 os gerentes ou administradores
respondem para com os credores da sociedade quando, pela inobservância culposa das

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disposições legais ou contratuais destinadas à proteção destes, o património se torne insuficiente
para a satisfação dos respetivos créditos” Há assim uma responsabilidade extracontratual baseada
na violação de normas de proteção dos credores sociais.
As normas destinadas à proteção dos credores sociais são as que garantam a conservação
do capital social. (artigos 31º, 34º, 220º, 236º, 317º nº 4, 346º, 513º e 514º. Do C.S.C.). Contudo,
para a responsabilidade civil dos gerentes para com os credores sociais, não basta a violação das
normas, é necessário que haja uma diminuição do património social que o torne insuficiente para
a satisfação dos credores (nexo de causalidade). Tem de haver também um dano que cause
situações graves no património social e por ultimo a culpa a que se refere o artigo 78º nº.1. Esta
eventual culpa não é a presunção prevista no artigo 487º do código civil, cabendo aos credores a
prova da evidente, não chega para financiar qualquer tipo de atividade económica.

1.3.3 FUNÇÃO DE AVALIAÇÃO ECONÓMICA DA SOCIEDADE


Nas relações externas, o capital social permite aos terceiros avaliarem a situação
económica da sociedade, na medida em que podem averiguar a capacidade da sociedade de gerar
lucros através da comparação do capital social com o seu património líquido. Nestes termos, se
após um exercício económico o valor do património líquido for superior ao valor do capital
social, pode afirmar-se que a sociedade gerou riqueza. Ora, todas as sociedades têm como fim
mediato a produção de lucro, a par do fim imediato, que constitui a prossecução da atividade que
consubstancia o seu objeto social.
Nestes termos, uma sociedade que, num determinado exercício económico, tenha gerado
lucros, poderá considerar-se uma sociedade financeiramente saudável. Contrariamente, se da
dedução do capital social ao património líquido não resultar um valor positivo, isto significa que
a sociedade sofreu perdas, podendo este factor revelar-se pouco atrativo para potenciais
interessados em estabelecer relações comerciais com aquela sociedade. Pelo exposto, pode
entender-se que o confronto entre aqueles dois valores pode revelar-se determinante para
averiguação do estado de saúde da empresa.

1.3.4 A FUNÇÃO DE GARANTIA


Também esta, que durante muitos anos foi apontada como a principal função
desempenhada pelo capital social, encontra-se, no estádio atual deste instituto, em profundo
estado de crise. A função de garantia tem vindo a ser essencialmente apontada pelo facto de o
capital social, por ser intangível e, nesses termos, não poder ser “tocado”, representar para os
terceiros credores da sociedade uma garantia de pagamento dos seus créditos.
Esta função nem sempre foi atribuída ao capital social, só o sendo a partir da segunda
metade do século XX, altura em que o capital social passou a ser uma. DOMINGUES, Paulo de
Tarso, cit., 1998, p. 184. . DOMINGUES, Paulo de Tarso, ob. cit., 1998, p. 140. preocupação
comum a todos os ordenamentos jurídicos e em que surgiu a ideia de que a função de garantia
representava uma contrapartida à limitação da responsabilidade dos sócios.

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Com efeito, até essa altura ao capital social apenas era apontada a função de financiamento da
sociedade a que nos referimos supra. Com o surgimento da limitação da responsabilidade dos
sócios em alguns tipos de sociedades (sociedades de capitais), dada a impossibilidade de os
credores “atacarem” o património pessoal dos sócios, surgiu a necessidade de se construir uma
garantia para os credores sociais.
Tanto mais que, segundo PAULO DE TARSO DOMINGUES, o conceito e o regime
jurídico do capital social é encarado de forma díspar nas sociedades de capitais (onde a garantia
das obrigações sociais se alcança através da garantia que, para os credores, constituem os bens da
sociedade) e nas sociedades de pessoas (onde a primeira garantia é o património da sociedade,
sendo a responsabilidade dos sócios subsidiária). A par do descrito, surgiu a ideia do capital
social mínimo como “limiar de seriedade”, de forma a compensar esta limitação das
responsabilidades dos sócios. Estamos aqui perante um limiar que, nas sociedades de
responsabilidade limitada, os sócios teriam que observar para poderem constituir uma sociedade
e prosseguirem a atividade económica pretendida.
Por outro lado, este “limiar de seriedade” pretendia assegurar aos terceiros que aspiravam
lidar com a sociedade um mínimo de credibilidade por parte da mesma.
No entanto, sempre se refira que a figura do capital social não é essencial para resolver o
problema da limitação da responsabilidade dos sócios; tanto mais que existem ordenamentos
jurídicos (veja-se alguns Estados dos Estados Unidos da América) nos quais esta figura não
existe, sem que isso implique uma desproteção dos credores sociais. Por outro lado, destaca-se a
impossibilidade de a lei estabelecer um valor mínimo de capital social, de forma geral e abstrata,
que se adeque de forma idêntica a todas as sociedades com os seus vários objetos sociais, já que
existem sociedades que, com o mesmo capital social, prosseguem atividades totalmente
diferentes dos mesmos. Todo o exposto demonstra que o capital social não deve ser visto apenas
como uma garantia dos credores, até porque atualmente não consegue concretizar essa função de
modo pleno.

1.4 OS PRINCÍPIOS DO CAPITAL SOCIAL


Apurada a noção de capital social e´entendida a sua importância no âmbito do estudo das
sociedades comerciais, torna-se premente a análise dos princípios que lhe são inerentes e que têm
que ser atendidos em todos os momentos da vida de uma sociedade.
Apesar da falta de unanimidade da doutrina nesta matéria, porquanto por uns são
apontados determinados princípios que, por outros, não são entendidos como realmente
enformadores do regime jurídico do capital social, existem princípios tendencialmente
consensuais, como seja, a título de exemplo, o princípio da intangibilidade do capital social e o
princípio da exata formação. São estes, entre outros, que iremos estudar, atendendo à sua
essencialidade para uma perceção verdadeiramente multi-dimensional .

1.4.1 O PRINCÍPIO DA EXATA FORMAÇÃO

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Conforme já referimos, o capital social constitui uma das menções obrigatórias que
devem constar do contrato de sociedade do artigo 9.º do CSC), 2009, p. 35. Sendo que, no
momento da constituição da sociedade, tem que ser indicado o montante que constituirá a cifra
correspondente ao capital social . Nos termos deste princípio, no momento da constituição da
sociedade o valor do capital social deve corresponder à soma das entradas dos sócios, ou seja, ao
valor do património social.
Assim, os sócios devem realizar ou, pelo menos, comprometerem-se a realizar, entradas
de valor patrimonial equivalente à cifra do capital social, de forma a que exista esta
correspondência e esteja assegurado que efetivamente entram no património da sociedade bens
cujo valor corresponda ao valor do capital social.
Várias são as normas societárias que consagram este princípio. PAULO DE TARSO
DOMINGUES refere que a primeira emanação resulta da exigência de contribuição com bens
para a sociedade, através de entradas em dinheiro ou em espécie, para que alguém possa obter
uma participação social (e, portanto, a qualidade de sócio), desenvolvendo esta consideração
com o exemplo do n.º 1 do artigo 219.º do CSC, que dispõe que cada sócio tem uma quota e que
essa quota corresponde à sua entrada.
Por outro lado, várias são as medidas adotadas pela lei que visam garantir uma efetiva
realização das entradas; isto é, apesar de, com a introdução do DL n.º 33/2011, de 7 de Março no
nosso ordenamento jurídico, se ter passado a prever, quanto às sociedades por quotas, a
possibilidade de realização das entradas em dinheiro até ao final do primeiro exercício social da
sociedade14 - a par da já existente hipótese de diferimento das entradas - a verdade é que a
sociedade não pode exonerar os sócios desta obrigação, conforme se pode verificar pela análise
do n.º 1 do artigo 27.º do CSC, que determina a nulidade de deliberações que tenham este
conteúdo.
No entanto, o contrário pode suceder o valor da entrada do sócio pode ser superior ao
valor nominal da sua participação social. No que tange às entradas em espécie, nos termos do
disposto no artigo 28.º do CSC, estas têm que ser avaliadas por um ROC que não tenha interesse
na sociedade, de forma a ficar assegurado que o valor atribuído àquele bem corresponde ao valor
efetivo da entrada.
Tanto mais que, se posteriormente se verificar que o valor do bem entregue pelo sócio é inferior
ao valor da sua participação, o sócio terá que repor a diferença existente . E não se esgotam aqui
as manifestações deste princípio no Código das Sociedades Comerciais, sendo certo que, perante
a afluência aqui apontada, estamos perante um princípio incontornável no âmbito da disciplina
jurídica do capital social.

1.4.2 O PRINCÍPIO DA FIXIDEZ


Conforme referimos supra, correspondendo o capital social a uma cifra, este não varia
conforme as flutuações do activo da sociedade, antes mantendo-se estável e inalterado, salvo nos
casos que enunciaremos infra.

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Esta ideia foi aludida aquando a delimitação das diferenças existentes entre o capital social e o
património social, onde referimos que este último, sim, está constantemente sujeito a alterações
face ao desenvolvimento da vida societária do artigo 25.º do CSC.
Ora, para que o capital social possa ser alvo de variações, é necessária uma alteração dos
estatutos da sociedade que, por sua vez, tem que ser deliberada em Assembleia Geral, conforme
se poderá verificar pela leitura do n.º 1 do artigo 85.º do CSC, o qual refere que “a alteração do
contrato de sociedade, quer por modificação ou suspensão de alguma das cláusulas, quer por
introdução de nova cláusula, só pode ser deliberada pelos sócios, salvo quando a lei permita
atribuir cumulativamente essa competência a algum outro órgão”.
Mais, dispõe o n.º 2 do mesmo artigo que esta deliberação será tomada em conformidade
com o disposto para cada tipo de sociedade. No caso das sociedades por quotas, esta
obrigatoriedade da alteração do contrato social ter que se efetuar através de deliberação dos
sócios é repetida na alínea h) do n.º 1 do artigo 246.º do CSC, e os termos em que a deliberação
se efetiva são definidos no artigo 265.º, que estabelece uma maioria de três quartos dos votos
correspondentes ao capital social. Também no âmbito das sociedades anónimas é possível
encontrar um normativo idêntico, porquanto o n.º 3 do artigo 386.º impõe uma aprovação por
dois terços dos votos emitidos em deliberações sobre algum dos assuntos referidos no n.º 2 do
artigo 383.º, onde se inclui a alteração do contrato de sociedade.
Por fim, relativamente às sociedades em nome coletivo, dispõe o n.º 1 do artigo 194.º do
CSC que as alterações feitas aos contratos destas sociedades só podem ser feitas por
unanimidade, a não ser que o contrato autorize a deliberação por maioria, que não pode ser
inferior a três quartos dos votos de todos os sócios.
A exigência deste formalismo prende-se com a necessidade de proteção dos interesses
dos sócios e de terceiros. Proteção dos sócios, porque a modificação do quantum da cifra do
capital social implica também a modificação de alguns dos seus direitos que, como veremos
infra, são definidos em função do capital social e da sua participação naquele.
Proteção de terceiros, na medida em que estes não são alheios aos casos de redução do
capital social, que podem originar uma grave lesão dos seus interesses, sendo, por isso,
justificável a possibilidade de os credores sociais poderem requerer ao tribunal, no prazo de um
mês após a publicação do registo da redução do capital social, que a distribuição de reservas
disponíveis ou dos lucros de exercício seja proibida ou limitada Atendendo ao descrito, percebe-
se que a génese deste princípio e das exigências que dele derivam não corresponde à proibição
absoluta de modificação do capital social, mas antes a que este não sofra flutuações
indiscriminadas a par do activo da sociedade.

1.4.3 O PRINCÍPIO DA INTANGIBILIDADE


Contrariamente a outros, este princípio não suscita na doutrina quaisquer dúvidas quanto
à sua essencialidade no âmbito da disciplina jurídica do capital social. Atendendo ao que
explicámos relativamente ao capital social, a essência deste princípio reside no facto de o
conjunto dos bens destinados a cobrir o valor do capital social não poder ser disposto pela

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sociedade em favor dos sócios se isso implicar que o valor do património líquido da sociedade
passe a ser insuficiente para cobrir a cifra do capital social. Podem encontrar-se manifestações
deste princípio em várias disposições do Código das Sociedades Comerciais, nomeadamente nos
seus artigos 32.º e 33º.
O conteúdo normativo do primeiro destes princípios impede a distribuição aos sócios de
bens da sociedade quando a sua situação líquida for inferior à soma do capital social e das
reservas que, por lei ou disposição contratual, não possam ser distribuídas, daí que PAULO
OLAVO CUNHA considere que o n.º 1 do artigo 32.º constitui o “expoente desta regra” .
Sublinhe-se, no entanto, que esta norma não visa impedir a distribuição de lucros aos sócios, mas
sim proibir que lhes sejam distribuídos bens no caso de não terem sido gerados lucros. Ou seja,
havendo lucro - noutras palavras, havendo uma diferença positiva entre o património líquido e o
capital social acrescido das reservas legais ou estatutárias -, esse valor não ficará retido na
sociedade, podendo ser distribuído aos sócios.
Mas são as normas onde é possível encontrar uma afluência deste princípio. Veja-se, a
título de exemplo, o facto de não poderem ser amortizadas quotas ou ações, Artigo 96.º do CSC.
CORREIA, Ferrer, ob. cit., p. 224.. CUNHA, Paulo Olavo, «Aspectos Críticos da Aplicação
Prática do Regime das Acções Sem Valor As funções do capital social Sem que igualmente
exista unanimidade entre os autores sobre esta matéria, várias são as funções que habitualmente
se atribuem ao capital social, as quais, segundo PAULO DE TARSO DOMINGUES , podem
desdobrar-se em dois planos: num plano interno, ou seja dentro da sociedade, e num plano
externo, ou seja, fora da sociedade. Neste âmbito, da nossa parte destacamos, no plano interno,
as funções de organização e de financiamento e, no plano externo, as funções de avaliação
económica e de garantia.

1.5 ENTRADAS PARA O AUMENTO CAPITAL SOCIAL


O conceito de entradas dos sócios para a sociedade está definido no artigo 20º nº1 do
Código das Sociedades Comerciais, sendo as mesmas em dinheiro ou em bens susceptíveis de
penhora ou, nos casos das sociedades em comandita e sociedades em nome colectivo, com
indústria.
As entradas em indústria, não são permitidas nas sociedades por quotas (artigo 202º nº
1 ) nem nas sociedades anónimas artigo 277º nº. 1 do C.S.C. 4.2.2 Quanto ao aumento de capital
por incorporação de reservas, o artigo 91º do CSC define os critérios exigidos, sendo que, este
procedimento não altera o património da sociedade, não há quaisquer entradas ou realizações
pelos sócios, mas, tão somente a transferência das reservas para o Capital Social - conta 51 do
balanço.
É uma transação gratuita e meramente de natureza contabilística, uma vez que os valores
já faziam parte do património social e não trazem novos meios de ação para a sociedade. Dispõe
também o nº 3 do artigo 91º do CSC que para a sociedade aumentar o capital social por
incorporação de reservas, é necessário que estejam já vencidas todas as prestações do capital,
inicial ou aumentado isto para evitar que haja quotas ainda não inteiramente pagas.

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1.6 FONTES NORMATIVAS DO REGIME DA PERDA GRAVE
A perda grave do capital social está prevista, essencialmente, no art. 35. 0 do CSC20 .
Esta norma visa efectuar a transposição para o ordenamento jurídico português do previsto no
art. 17. 0 da Segunda Directiva da União Europeia sobre sociedades, que no seu n." 1, estabelece
o seguinte: «No caso de perda grave do capital subscrito, deve ser convocada uma assembleia
geral no prazo fixado pelas legislações dos Estados- -membros, para examinar se a sociedade
deve ser dissolvida ou se deve ser adoptada qualquer outra medida.» Acrescenta da mesma
norma que, «Para os efeitos do previsto no n." 1, a legislação de um Estado- -membro não pode
fixar em mais de metade do capital subscrito o montante da perda considerada grave.» A razão
de ser desta norma é, assim, a de proteger as expectativas de terceiros que confiaram na
existência de um património social próximo do valor do capital social, evitando que de perda em
perda se chegue o valor do capital social de cada sociedade é um dado público, como é exigido
pela Segunda Directiva sobre sociedades no seu art. 3.°
A perda de metade do capital social e a reforma de 2005: um repto ao legislador", p. 55 e
ss. Paulo Alves de Sousa de Vasconcelos 15 à perda total sem que nenhum aviso seja dado aos
sócios. Desta forma, o que a norma em análise impõe verdadeiramente é que, perdida parte
substancial do capital social, se faça soar um sinal de alarme dirigido em primeira mão aos
sócios", Assim, perante a perda de metade do capital social, os sócios devem analisar a situação e
adoptar medidas tendentes a remediá-la, dissolvendo a sociedade ou adoptando medidas de
saneamento.
A ideia seria a de obrigar todas as sociedades anónimas" a manter uma certa proporção de
cobertura do capital social: o capital próprio (ou situação líquida) não deve ser inferior a metade
do capital social. Todavia, esta norma não vai ao ponto de impor a obrigatoriedade de
manutenção de um rácio de cobertura do capital social.
Poderá, então, dizer-se que o regime da perda grave reforça a ideia de que o capital social
é uma garantia, embora indirecta, na medida em que visa assegurar a existência de um
património social com um valor que não se afaste significativamente do valor do capital social, o
qual funciona assim como um valor de referência. Em Portugal, como já se disse, o regime da
perda grave do capital social, está vertido no artigo 35. 0 do Código das Sociedades ComerciaiS.
Sucede que, tendo o CSC entrado em vigor em 1986, o certo é que este artigo 35.0 apenas
começou a fazer parte do direito vigente em Setembro de 200123 , após um período de 15 anos
durante os quais permaneceu "suspenso". Isto é, existia como norma do CSC mas não era
aplicável, pois não estava em vigor no ordenamento jurídico português". 21 Parece, pois,
corresponder mais ao modelo informativo, de inspiração germânica, que contrasta com o regime
francês, de modelo reactivo. 22 A Segunda Directiva sobre sociedades tem por objecto apenas as
sociedades anónimas (art. 1.°). Porém, em Portugal o regime da perda grave está regulado na
parte geral do esc, pelo que é aplicável a todos os tipos de sociedades comerciais.

1.7 PERDA/REDUÇÃO DE CAPITAL SOCIAL


O artigo 35º nº 2 do Código das Sociedades comerciais define as consequências da
sociedade sofrer uma perda grave do capital social, sempre que o capital próprio da sociedade for

11
igual ou inferior a metade do capital social. Ocorrendo esta situação, deverão os gerentes ou
administradores convocar de imediato uma assembleia geral no sentido de informar os sócios da
situação de desequilíbrio patrimonial da sociedade, sob pena de incorrerem na responsabilidade a
que se refere o artigo 72º nº 1 do CSC.
No aviso da convocatória para a assembleia, deverá constar a possibilidade de os sócios
deliberarem sobre dissolução da sociedade; redução do capital para montante não inferior ao
capital próprio da sociedade; aumento do capital social por entradas em dinheiro - artigo 35º nº. 3
do CSC.
Pelo incumprimento do disposto nos nºs 1 e 2 do artigo 35º, os gerentes ou
administradores da sociedade, serão punidos com prisão até 3 meses e multa até 90 dias, nos
termos do artigo 523º do CSC.
Quanto à eventual dissolução da sociedade, a mesma deve ser deliberada pelos sócios,
sendo necessário que a deliberação seja tomada por unanimidade nas sociedades em nome
coletivo - artigo 194º do CSC por três quatros nas sociedades por quotas - artigo 270º do CSC e
dois terços nas sociedades anónimas artigos 386 nº 3 e artigo 383º nº 2 do CSC. Quanto à
eventual redução do capital social, o artigo 95º do CSC, refere que: A redução do capital não
pode ser deliberada se a situação líquida da sociedade não ficar a exceder o novo capital em, pelo
menos, 20%. É permitido deliberar a redução do capital a um montante inferior ao mínimo
estabelecido nesta lei para o respetivo tipo de sociedade. se tal redução ficar expressamente
condicionada à efectivação de aumento do capital para montante igual ou superior àquele
mínimo, a realizar nos 60 dias seguintes àquela deliberação.
O disposto nesta lei sobre capital mínimo não obsta a que a deliberação de redução seja
válida se, simultaneamente, for deliberada a transformação da sociedade para um tipo que possa
legalmente ter um capital do montante reduzido. A redução do capital não exonera os sócios das
suas obrigações de deliberação do capital social.

1.8 CRISE DO CAPITAL SOCIAL


A função principal do capital social - a função rainha, como se disse - é a de garantia
perante os credores sociais, função essencial, atenta a irresponsabilidade dos sócios por dívidas
socais que vigora nas sociedades de responsabilidade limitada. Todavia, o capital social
desempenha esta função de forma muito limitada. Já sabemos que ele constitui apenas uma
garantia indirecta, ou seja, que por si mesmo nada garante. Todavia, pretende assegurar a
existência do chamado «capital social real», isto é, de uma massa de bens que cubra o valor da
cifra constante do pacto.
Mesmo neste âmbito, a sua eficácia é muito limitada pois a cobertura do capital social
não assegura a existência de liquidez para solver os compromissos assumidos perante terceiros. É
que pode não se colocar nenhum problema de cobertura do capital social mas o património não
possuir a liquidez que assegure o pagamento das dívidas aos credores.
Bem vistas as coisas, o que o capital social garante, como cifra de retenção, é que o
património não desaparece por força de distribuição aos sócios. Na verdade, ele impede o retomo

12
aos sócios do valor das entradas por estes efectuadas, caso o capital social não esteja coberto. O
que significa que mesmo uma sociedade com um capital social muito elevado pode ter um
património líquido nulo, pois aquele não garante a 61 Esta obrigatoriedade de levar estes saldos a
reservas decorre também do art. 33.°, n." 2, a), da Quarta Directiva (Directiva n." 78/660/CEE,
do Conselho, de 25 de Julho de 1978, JOCE n." L-222, de 14/08/1978). 30 A perda grave do
capital social existência do capital próprio de valor semelhante.
E perante uma perda grave do capital social, como vimos, apenas existe a obrigação de a
administração convocar os sócios para os informar da situação com que a sociedade se defronta e
de se lhe dar publicidade nos actos externos. Mesmo enquanto cifra de retenção não pode deixar
de se constatar a forma limitada como desempenha esta sua função.
Desde logo, pelo facto de se tratar de um valor nominal, o qual não está sujeito a
qualquer alteração decorrente da desvalorização monetária, o que significa em termos reais, que
com o passar dos anos, o capital social baixa, reduzindo os níveis de retenção. Imagine-se, por
exemplo, que António, Bento e Carla, deliberam constituir uma nova sociedade, cujo capital
social de € 15000,00 vai ser subscrito em dinheiro pela "ABC, Lda.". Neste caso, o capital social
consolidado será de € 45 000,00 (€ 30 000,00 + € 15 000,00), sendo certo que o património
líquido consolidado não será mais que € 30 000,00. Estas são algumas das insuficiências pelas
quais tem sido posto em causa, nos últimos anos .

1.9 RELAÇÃO ENTRE LIMITAÇÃO DE RESPONSABILIDADE E


CAPITAL SOCIAL
A limitação de responsabilidade é a característica essencial às companhias e demais
sociedades de responsabilidade limitada, e teve papel fundamental no desenvolvimento da
actividade comercial. Ela estabelece que somente o patrimônio da sociedade responderá pelas
suas obrigações para com terceiros.
A limitação da responsabilidade nasce, portanto, como uma forma de segregar o
patrimônio dos sócios e da sociedade, de modo que os credores desta última não poderão invocar
o patrimônio dos sócios para saldar as obrigações sociais. O patrimônio da sociedade, composto
por todos os seus bens e direitos, responde integralmente pelo risco do negócio. Tal limitação,
conforme amplamente explicitada pela doutrina societária, foi de extrema importância para o
desenvolvimento da atividade comercial. Não fosse a regra de limitação da responsabilidade, os
investidores tenderiam a limitar os seus investimentos em empreendimentos menores e pouco
arriscados, tendo em vista que uma participação pequena em uma sociedade poderia resultar no
comprometimento de seus bens pessoais, não vinculados ao negócio.
No âmbito das sociedades anônima que, via de regra, perseguem investimentos de grande
porte, a falta de tal limitação seria ainda mais problemática em razão dos elevado risco atrelado
aos seus negócios.
É com fundamento na ideia de proteção aos credores que parte da doutrina societária
defende a manutenção das regras de capital social conforme originalmente concebidas: Se os
sócios tivessem liberdade ilimitada de promover a transferência de bens da sociedade para seus

13
patrimônios, inclusive em prejuízo dos credores sociais, o regime de responsabilidade
patrimonial deixaria de ser eficaz nas sociedades. Daí as disposições sobre responsabilidade
solidária dos sócios de alguns tipos de sociedade, e sobre o capital social – como mecanismo de
garantia dos credores – nos tipos de sociedade em que a responsabilidade de todos os sócios é
limitada.
Esses dois conceitos estiveram, portanto, intimamente ligados desde o momento da
criação do instituto do capital social. Porém, essa ligação não se mostra tão determinante nos
tempos atuais.
No momento de sua criação, a limitação de responsabilidade inovou ao criar uma
exceção à regra de responsabilização patrimonial dos sócios, sendo portanto um uma vantagem
dada aos sócios da empresas que demandaria uma compensação aos credores.

1.10 LIMITES DE DISTRIBUIÇÃO DE BENS DA SOCIEDADE


Limites de distribuição de bens da sociedade aos sócios (art.º s 31º, 32º e 33º) Prevenindo
a conservação do capital social, o legislador veio obrigar a que a distribuição de bens aos sócios
dependa de deliberação destes (art.º 31º nº 1 do CSC). Nessa hipótese reforça as garantias dos
credores, impondo ao órgão de gestão deveres especiais de prevenção para assegurar a
legalidade da decisão e acautelar os interesses da sociedade (nº 2 a 5).
Como os sócios só poderão, em princípio, obter bens ou valores da sociedade através da
distribuição de lucros, os credores, além da proteção prevista no citado art.º 31º do CSC, têm a
acrescida proteção legal imposta pelo art.º 32º do CSC que limita a possibilidade dos sócios
retirarem, de forma lícita, fundos da sociedade enquanto os seus ativos não ultrapassarem o valor
da soma do capital social e das reservas legais impostas por lei.
Este artigo constitui o fundamento legal do princípio essencial de que o capital social
constitui a garantia dos credores, limitando legalmente a sua distribuição aos sócios, na medida
em que só legitima a distribuição de bens da sociedade quando existam bens de valor superior à
soma do capital social e das reservas legais.
Além dos limites impostos pelo art.º 32º, o artº33º do CSC vem reforçar ainda mais as
garantias dos credores ao impedir a distribuição aos sócios, “os lucros do exercício que sejam
necessários para cobrir prejuízos transitados ou para formar ou reconstruir reservas impostas pela
lei ou pelo contrato de sociedade”.
Este artigo 33º do CSC revela-se da maior importância para assegurar a manutenção de
garantias na sociedade, pois obriga à realização de lucros e à constituição de reservas para que os
sócios possam receber bens da sociedade. Os nºs 2 a 4 deste artigo vêm impedir a distribuição de
reservas ocultas e obrigam à divulgação, em separado, dos resultados de cada exercício dos
montantes das reservas que forem distribuídas.

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Corresponde à materialização do princípio da intangibilidade do capital social,
impedindo a sociedade de distribuir lucros ou dividendos que possam reduzir o seu património a
montantes inferiores ao da soma do capital social e das reservas legais.

1.11 DISTINÇÃO ENTRE CAPITAL E PATRIMÔNIO SOCIAL


A segunda conceituação importante diz respeito a distinção entre patrimônio e capital. O
patrimônio social, conforme o próprio nome já infere, representa as relações de crédito e débito
da sociedade, que compõe o balanço da sociedade, e cuja diferença irá resultar no patrimônio
líquido, e, no montante líquido que ultrapassa as obrigações devidas a terceiros.
O capital social, por sua vez, é uma cifra rígida que é fixada no ato constitutivo da
sociedade e determina o valor inicial aportado pelos sócios no negócio. Se, a princípio, no
momento de constituição da sociedade, esses valores coincidem, a tendência é que, com a
evolução das atividades comerciais desenvolvidas pela empresa, o seu patrimônio se distancie
daquele valor inicialmente aportado.
No decorrer das actividades da empresa, o patrimônio social será superior ao capital
social, no caso de aferimento de lucros; ou inferior, caso a sociedade apresente perdas no
decorrer de seu exercício social ,utilizando-se da primeira hipótese, à medida que a sociedade
auferir lucros e maximizar os valores de seus activos, o patrimônio social será aumentado, de
modo que a cifra nominal fixada no estatuto da empresa restará cada vez mais desatualizada em
relação ao patrimônio mutável da empresa. Sobre essa diferenciação temos a visão de
ASCARELLI: Temos, pois, de um lado, o conjunto dos bens da sociedade, isto é, o seu
patrimônio; o valor real desses bens muda necessariamente com as oscilações do mercado e com
o andamento dos negócios; a sua avaliação, juntamente com a indicação do passivo, é fixada nos
balanços sociais; de outro lado, o capital social, resultante não só dos balanços, mas do estatuto
social, e que não pode ser modificado a não ser observadas as normas a respeito.
Desse modo, o capital social está contido no patrimônio da sociedade, representando uma
cifra rígida que não corresponde à variação patrimonial da empresa.
Em conjunto com a regra da limitação da responsabilidade acima exposta, a regra da
responsabilidade patrimonial torna claro que somente os bens das sociedades irão responder
pelas dívidas com seus respectivos credores. Por fim, cabe notar, como bem observado por
DOMINGUES, que, ao contrário do patrimônio social, cuja existência se confunde com a própria
noção de sociedade, o capital social trata de uma convenção, criada para tutelar os interesses dos
sócios.
Definição jurídica do capital social ao contrário do que pode parecer, a noção de capital
social está sujeita a uma pluralidade de interpretações pelos doutrinadores.
Em sua concepção clássica, o capital social, representa a contribuição dos sócios para a
sociedade, no momento de sua constituição. Nas palavras de LAMY FILHO: O capital social é a
cifra, fixada no estatuto social, do montante das contribuições prometidas pelos sócios para
formação da companhia que a lei submete à regime cogente, cujo fim é proteger os credores
sociais.

15
Os fundadores (na constituição da companhia) e os órgãos sociais (durante a vida da
sociedade) estipulam no estatuto o valor do capital social, que somente pode ser modificado com
observância das normas legais. Ainda segundo a acepção clássica do capital social, temos o
ensinamento de CARVALHO DE MENDONÇA: O capital social é o fundo originário e
essencial da sociedade, fixado pela vontade dos sócios; é o montante constituído para base das
operações. Os sócios podem, modificando ou alterando a cláusula contratual que o determina,
aumentá-lo ou diminuí-lo livremente, desde que ao ofendam direitos de terceiros; podem reforça-
lo com a instituição de um fundo de reserva, formado mediante certa percentagem deduzida dos
lucros líquidos em cada exercícioTal definição parece tratar com precisão a dimensão formalista
do capital social, fixado pelos sócios na constituição da sociedade e representante das
contribuições por eles aportadas. Essa visão é ampliada por autores como DOMINGUES, que
definem uma segunda faceta do capital social: DOMINGUES, Paulo de Tarso.
Há, portanto, no capital social, duas facetas complementares. A primeira referente ao
capital social nominal ou formal, designada no momento de constituição da sociedade – como o
valor fixado no ato constitutivo da sociedade – e a segunda como o valor real do capital, atrelada
aos bens que o capital representa e mutável em sua essência.
No momento de constituição do capital, o patrimônio líquido corresponde
exclusivamente ao valor constante na conta de capital social (excetuados os casos onde haja
emissão de ações com prêmio ou ágio, nos quais parte do valor contribuído será destinado à
conta de ágio.
A alocação contábil do capital social se dá portanto do lado direito do balanço, tendo em
vista que representa as obrigações da sociedade para com os sócios. A medida que a sociedade se
desenvolve, outros valores podem surgir na conta do patrimônio líquido, à título de lucros,
reservas, ou prejuízos.
A conta de capital social, porém, permanecerá fixa no balanço da empresa e sem a
possibilidade de distribuição para os sócios
Em complemento às acepções anteriores, parte da doutrina interpreta o capital como
elemento não estático, sujeito a variações no decorrer da vida social – o chamado de capital real
ou variável.
Na lição de VIVANTE, “ao contrário patrimônio ou capital efectivo, essencialmente
mutável, está o capital nominal da sociedade, fixado permanentemente por uma cifra contratual,
que exerce uma função contábil e jurídica, uma existência de direito e não de fato”. Isso porque o
capital social – independente de ser fixado no estatuto social pelos sócios (cifra formal) ou
corresponder a uma conta no balanço da sociedade (cifra contábil) – está sujeito a variações de
acordo com o modo com o qual os sócios ou administradores se utilizam dos bens da sociedade.
A única limitação legal para utilização desses bens diz respeito ao objecto social, já que
os sócios não podem se utilizar dos bens sociais para o desenvolvimento de atividades alheias ao
objeto social. Portanto, no exercício da atividade empresarial, os sócios sujeitam os bens sociais

16
ao risco do negócio, podendo tal patrimônio variar negativamente em função da acumulação de
prejuízos no exercício social.

1.12 PATRIMÔNIO SOCIAL


O patrimônio social inclui os meios econômicos e financeiros para que uma empresa
possa desenvolver a sua actividade. o seu valor é obtido pela soma do valor dos bens, direitos e
das obrigações para com terceiros.
É assim denominado pelo facto de se referir ao patrimônio dos sócios ou da empresa.
pois, como sabemos, uma empresa comercial é composta po um ou mais sócios.
O Patrimônio é formado por diversos componentes, como bens, direitos e obrigações.
BENS: tudo aquilo que é preciso para a satisfação das necessidades de uma
família/empresa e que podem ser avaliados em moeda, em dinheiro corrente. (marcas e patentes,
fundos de comércio, direitos autorais). Ou seja, são considerados bens de uma empresa tudo aquilo
que se pode ser avaliado financeiramente – com possibilidade de venda, troca e compra – e que é
utilizado para que a empresa conquiste seus objetivos.

Existem algumas classificações de bens que fazem parte do patrimônio empresarial,


como os bens tangíveis, intangíveis, móveis e imóveis.
Bens tangíveis: são os bens materiais, como veículos, estoques, terrenos, dinheiro,
imóveis etc.;
Bens intangíveis: são os bens imateriais que, embora não possam ser tocados, podem ser
convertidos economicamente, como patentes, tecnologia, franquias e a própria marca;
Bens imóveis: são patrimônios fixos, como construções e terrenos;
Bens móveis: podem ser deslocados de estrutura, como equipamentos, máquinas,
mobílias, dinheiro, entre outros.
DIREITOS: são todos os valores que uma família/empresa tenha a receber de terceiros,
seja por venda de algo, seja por serviços prestados. Esses valores também fazem parte do
Patrimônio. Ou seja, direitos dentro dos elementos do patrimônio empresarial, são os activos que,
apesar de não serem parte de nenhuma categoria de bens, podem render dinheiro para a empresa.

Seria o caso de vendas a prazo aos clientes. Mesmo a empresa não recebendo o pagamento
imediatamente, ela possui uma negociação com direito de cobrança e gratificação. Por isso, esses
direitos também são considerados parte do patrimônio empresarial.

OBRIGAÇÕES: São todos os valores que uma família/empresa tenha que pagar a
terceiros, ou seja, tudo que se deve a alguém, fazendo parte do Patrimônio.
Obrigações: salários de colaboradores, aluguéis, impostos, fornecedores, duplicatas e
contas a pagar.

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Desta forma, podemos afirmar que todos os componentes patrimoniais classificados no
PASSIVO e o Patrimônio Líquido representam as fontes de recursos de uma empresa. Formas de
Obtenção de Recursos: - Capital Próprio: Quando esses valores são obtidos através dos sócios
(donos) da empresa.

1.13 ORIGEM DE RECURSOS


FONTES DE FINANCIAMENTOS são todos os recursos obtidos por uma empresa para
a formação de seu Patrimônio, e são chamadas de Origens de Recursos. Estes Recursos têm sua
origem no PASSIVO.
O PASSIVO em conjunto com o Patrimônio Líquido demonstram a origem do capital
que foi aplicado em bens e direitos do ACTIVO. Desta forma, podemos afirmar que todos os
componentes patrimoniais classificados no PASSIVO e o Patrimônio Líquido representam as
fontes de recursos de uma empresa.
Formas de Obtenção de Recursos: - Capital Próprio: Quando esses valores são obtidos
através dos sócios (donos) da empresa; - Capital de Terceiros: Quando esses valores são obtidos
de terceiros (pessoas alheias à sociedade). CAPITAL é o nome dado pela contabilidade à riqueza
utilizada pela empresa para a sua constituição e funcionamento. Deste modo, a empresa dispõe
de duas fontesde capitais para sua constituição e funcionamento:

1.13.1 CAPITAL PRÓPRIO


São os valores aplicados pelos sócios, oriundos de seus recursos ou riquezas particulares
e os lucros e reservas da própria empresa, decorrentes de suas atividades. Serão registrados no
PATRIMÔNIO LÍQUIDO.
A parte do Capital Próprio, tirada dos recursos ou riqueza particular dos sócios para a
constituição da empresa é chamada de CAPITAL NOMINAL. A partir deste conceito,
concluimos que o Patrimônio Líquido de uma empresa é composto pela soma dos recursos
iniciais colocados pelos sócios (Capital Nominal) e os recursos acumulados pela empresa
decorrente de suas operações normais, que compõe o lucro e as reservas acumuladas (RIQUEZA
DA EMPRESA), ou seja, o Patrimônio Líquido de uma empresa representa o seu Capital
Próprio. CAPITAL DE TERCEIROS: São recursos obtidos através de compras ou aquisições a
prazo e de empréstimos bancários ou de outras instituições de créditos, e serão registrados no Passivo,
compondo as obrigações a pagar.

1.13.2 PATRIMÔNIO LÍQUIDO


Patrimônio líquido é um indicador ontábel que representa a diferença entre o activo e o
passivo da organização. ou seja, o pl demonstra a subtação entre os bens e direitos que uma
empresa possui em relação ás suas obrigações.
De modo geral, o patrimônio líquidocorresponde á riqueza de uma organização, aquilo que
pertence realmente aos seus acionistas

1.14 EQUAÇÃO PATRIMONIAL

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Equaçao fundamental do patrimônio, a saber: PATRIMÔNIO LÍQUIDO = ACTIVO -
PASSIVO Se considerarmos que as empresas, em sua maioria, possuem um conjunto de bens e
direitos (ACTIVO) maior do que suas obrigações (PASSIVO), podemos afirmar que a equação
patrimonial ficará melhor representada da seguinte forma: ACTIVO = PASSIVO +
PATRIMÔNIO LÍQUIDO a esta representação gráfica, a contabilidade chama de BALANÇO
PATRIMONIAL. Podemos dizer assim que: BALANÇO PATRIMONIAL é a representação
quantitativa e qualitativa do Patrimônio, em um dado momento.

1.15 A TUTELA DOS CREDORES PELOS SÓCIOS -


RESPONSABILIDADE EXTERNA E RESPONSABILIDADE INTERNA
Nas sociedades por quotas os sócios são solidariamente responsáveis pela realização do
capital social indicado no pacto social (art.º 197º, nº1 do CSC). A realização do capital social
mínimo das sociedades por quotas visa garantir a constituição de um património Quando a perda
consumir metade do capital social deverão ser tomadas as medidas previstas no art.º 35º do CSC
para proteção dos credores. Fundamentalmente associada ao princípio da intangibilidade do
capital aqui descrito. mínimo que possibilite a separação entre a personalidade jurídica da pessoa
coletiva sociedade e a das personalidades jurídicas individuais dos seus sócios.
A realização do capital social subscrito permite, assim, à sociedade apresentar-se no
comércio jurídico sem existir uma relação do seu património social com o património dos seus
sócios. O facto de, nas sociedades por quotas, nenhum dos sócios responder pessoalmente pelas
obrigações da sociedade faz com que o património da sociedade seja a única garantia das
obrigações sociais.
Nas situações em que o capital social realizado seja insuficiente para assegurar o
financiamento da atividade social, o que acontece na prática é que cabe aos sócios contribuírem
com prestações adicionais e distintas das relativas à realização da sua quotaparte no capital.
Outras vezes os sócios assumem responsabilidades diretas perante terceiros de forma a
assegurarem a continuação da atividade da sociedade. Neste caso verifica-se uma “mistura de
patrimónios” entre património societário e património dos seus sócios.
A responsabilização dos sócios pode verificar-se enquanto “responsabilidade interna”, ou
seja, a responsabilidade do sócio enquanto gerente, de facto ou de direito, da sociedade. Nesta
situação o sócio deverá contribuir com o seu património pessoal para a reposição do património
perdido da sociedade, não visando diretamente a tutela e a satisfação dos interesses dos credores
sociais, embora tal se verifique, pois, no caso de a sociedade exercer o seu direito a exigir do
sócio o ressarcimento dos danos que este lhe terá causado com a sua atuação danosa, o
património societário sai beneficiado e, por essa via, reforça as garantias dos credores externos.

19
Nas situações de “responsabilidade externa” o sócio responde diretamente perante os
credores sociais e não perante a sociedade, estando o seu património destinado diretamente aos
credores sociais.

1.16 O PATRIMÓNIO DOS SÓCIOS COMO GARANTIA DOS


CREDORES
O regime de entradas para o capital varia conforme o tipo de sociedade e em
concordância com o grau de “pessoalidade” e de “capitalismo” de cada uma delas.
As consequências para os sócios em cada regime variam também em função do tipo de
sociedade. Assim temos: Nas sociedades em nome coletivo o regime típico é o seguinte: a
responsabilidade pessoal ilimitada dos sócios é subsidiária em relação à sociedade e solidária Na
“responsabilidade externa”, a doutrina distingue a “responsabilidade civil” da “responsabilidade
patrimonial”, havendo responsabilidade civil quando estiverem preenchidos os seus pressupostos
legais. Na responsabilidade patrimonial os bens respondem pelo cumprimento de obrigações
alheias, independentemente da atuação do garante ter ou não causado dano (Cordeiro, 1997:275).
relativamente aos outros sócios.
O capital social subscrito e realizado desempenha funções de suporte à atividade social,
mas, como nem sempre é suficiente para garantir a mesma, o património pessoal dos sócios
complementará as insuficiências de capital.
Nos casos em que o contributo dos sócios se consubstancie nas suas competências e
serviços prestados, a lei permite a constituição de sociedades com apenas sócios de indústria
(art.º 9º alínea f). No entanto, como no início são sempre necessários fundos, nomeadamente para
o pagamento das despesas de constituição, qualquer sócio poderá pagá-las, ficando assim com
um crédito sobre a sociedade.
Nas sociedades em nome coletivo, os sócios respondem com todo o seu património pelo
passivo social, pelo que é dispensada a fixação de um capital mínimo, uma vez que a garantia
dos credores acaba sempre por ter como limite o património dos sócios.
O art.º 178º nº1 do CSC impõe que o valor económico dos sócios de indústria não seja
somado no capital social, daí a não estipulação de limites à responsabilidade dos sócios através
da existência de limite mínimo de capital social. Os credores podem contar mais com as
garantias proporcionadas pelo património dos sócios do com o capital por eles subscrito.
Por isso, a lei permite no art.º 179º do CSC a estas sociedades que, no caso de entradas
em espécie, a disposição do art.º 28º de elaboração de um relatório por um Revisor Oficial de
Contas, obrigatório para os outros tipos de sociedades, seja substituída pela assunção expressa
dos sócios da responsabilidade solidária, mas não subsidiária, pelo respetivo valor. Também o
tempo das entradas depende das necessidades de fundos, de acordo com o juízo dos sócios.
Nas sociedades por quotas, como a responsabilidade se encontra limitada ao capital
social, a sua forma de constituição tem de ser mais rigorosa e controlada, donde que neste tipo de
sociedades não sejam admitidas participações de indústria.

20
O diferimento da realização do capital social obriga às entradas em datas certas ou em
datas Pedro Pais de Vasconcelos afirma o seguinte: “Nas sociedades por quotas, a
responsabilidade dos sócios está limitada ao capital investido, e em princípio, estes não
respondem pelas dívidas da sociedade, podendo contudo tal situação ser prevista contratualmente
em relação a alguns deles, de forma solidária ou subsidiária, até um determinado montante.
Na situação em que o capital social não esteja totalmente realizado, os sócios respondem
pelo capital por si subscrito e pelo subscrito pelos outros sócios, no regime típico da
responsabilidade perante terceiros” (Vasconcelos, 2006:44) dependentes de factos certos, mas
pode ir até 5 anos, conforme dispõe o artigo 203.º nº 1 do CSC.
Actualmente, e após as diversas alterações dos art.º s 201º a 203º do CSC, com os
Decretos-Lei n.º 280/87, de 08/07, n.º 237/2001, de 30/08, n.º 76-A/2006, de 29/03 e n.º 33/2011,
de 07/03, o capital social passou a ser livremente definido pelos sócios.
Mantém-se, no entanto, a obrigação de declararem no ato constitutivo, sob sua
responsabilidade, que já procederam à entrega do valor das suas entradas ou, quando haja o seu
diferimento, que se comprometem a entregar, até ao final do primeiro exercício económico, as
respetivas entradas nos cofres da sociedade.
Nas sociedades anónimas, que apresentam uma menor possibilidade de identificação dos
sócios e maior afastamento destes em relação à sociedade, o legislador reforçou ainda mais o
rigor e o controlo da forma de constituição e de realização do capital social.

1.17 A RESPONSABILIDADE PESSOAL E PATRIMONIAL DO SÓCIO


POR DÍVIDAS DA SOCIEDADE
Em regra os sócios não respondem pelas obrigações assumidas pelas
sociedadescomerciais em que participam, pois estas têm personalidade, capacidade e património
próprio, autónomo e individualizado do dos seus sócios, como já sabemos.
Apenas quando os bens sociais não forem suficientes para solver os passivos da
sociedade, é que os patrimónios dos sócios poderão ser atingidos – apenas nas situações de
responsabilidade solidária ou subsidiária ou se assim dispuser o CSC ou o regime social de
alguns tipos de sociedades comerciais para as situações de responsabilidade ilimitada dos sócios.
Além da possibilidade de perder o capital investido na sociedade, o sócio pode estar obrigado a
pagar aos credores sociais as dívidas da sociedade. Era este o regime originário na societas
romana.
A limitação da responsabilidade (externa) dos sócios perante os responsabilidade
solidária decorre do regime das obrigações solidárias ativas, passivas ou mistas (art.º 512º e 513º
do CC). Existe responsabilidade solidária (art.º 497º CC) quando várias pessoas respondem pelos
danos causados a terceiros. Nesta situação, o devedor solidário que cumprir a obrigação tem o
direito de regresso sobre os restantes obrigados, na medida das respetivas culpas que se
presumem iguais.

21
Os pressupostos da solidariedade são: direito à prestação integral, efeito extintivo
recíproco ou comum, identidade da prestação, identidade da causa e comunhão de fim.
A responsabilidade subsidiária pode ser meramente subsidiária ou simultaneamente
subsidiária e solidária, respondendo, neste caso, os vários responsáveis subsidiários
solidariamente entre si pelas dívidas. Subsidiariedade implica que o credor apenas possa exigir o
cumprimento ao fiador após a excussão do património do devedor afiançado, tal como o dispõe o
art.º 638º do CC e, quando houver garantias reais sobre o património do devedor, o fiador pode
recusar-se a cumprir a dívida antes da excussão dos bens sobre os quais recai a garantia real, nos
termos do disposto no art.º 639º do CC.
Responsabilidade subsidiária é, pois, a que vem "reforçar a responsabilidade principal,
desde que não seja esta suficiente para atender os imperativos da obrigação assumida" como
seria o caso da responsabilidade solidária dos sócios: se a sociedade não possuir haveres
suficientes para cumprir as suas obrigações e vierem os sócios, subsidiariamente, a cumpri-las
com os seus bens particulares. (Varela, 1986: 757; Freitas e Mendes, 2008:162-163; Costa, 2009:
560-571; Lima e Varela, 2010:415- 421, 458-459, 462).
Perante os credores sociais, uma vez que a responsabilidade manter-se-á apenas enquanto
o mesmo mantiver interesse na sociedade. Na vida real as sociedades raramente obtêm dos seus
sócios valores suficientes para satisfazerem os credores sociais, fazendo uso do crédito de
terceiros para a manutenção da sua atividade social.
Quando a sociedade recorre ao financiamento bancário, nomeadamente nas sociedades
por quotas, é pedida a prestação de avales e garantias pessoais aos sócios, sendo que a sua recusa
é normalmente interpretada como falta de confiança do sócio no sucesso e na viabilidade da
atividade da sociedade.
Esta assunção de responsabilidades obriga o sócio a manter-se associado ao risco do
negócio de forma a assegurar o respetivo êxito e o pagamento aos credores.

1.18 A RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO SÓCIO PELA


NOMEAÇÃO DE MEMBROS DO ÓRGÃO DE GESTÃO
Do contrato social resultam relações jurídicas entre os sócios e a sociedade e não entre
aqueles e os órgãos sociais, na medida em que os órgãos de gestão não são “mandatários” dos
sócios (Correia, 1987: 305) exercendo a suas funções com autonomia em relação aos titulares do
capital social. Contudo, nas situações previstas no art.º 83º do CSC prevê-se a extensão da
responsabilidade aos sócios que tenham a capacidade de designarem, fazerem eleger ou destituir
gerentes ou administradores, quando em face da conduta ilícita destes, resultem prejuízos para os
interesses patrimoniais da sociedade.
Esta previsão legal constitui uma outra forma de garantia, quer para os sócios quer para
os credores sociais, pois uma vez preenchidos determinados requisitos esses sócios responderão,
independentemente da culpa, pelos fatos lesivos praticados pelos elementos do órgão de gestão
que possam eleger.

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Decorre das disposições do art.º 83º do CSC uma responsabilidade objetiva para os
sócios pela conduta dos membros dos órgãos sociais que tenham responsabilidade em eleger ou
designar. A culpa na conduta ilícita por facto praticado por terceiro, designa-se de culpa in
eligendo e estende-se no direito societário, de forma solidária a alguns sócios quer em relação à
sua escolha quer em relação à conduta que o (s) membro (s) do órgão de gestão tenha (m) sido
pressionado (s) a tomar por esses sócios.
Se houver a violação de direitos sociais que os administradores tenham o dever de
cumprir para com os sócios estamos perante uma responsabilidade contratual, e perante uma
responsabilidade delitual nos casos em que não haja uma relação prévia entre os membros do
órgão de gestão e o sócio. Para efeitos da culpa in eligendo devem ter-se presentes as normas
penais dos art.º509º e ss do CSC, cuja violação pelos membros do órgão de gestão em relação
aos interesses dos sócios, fundamentará a responsabilidade por danos, com base no princípio
geral da responsabilidade por factos ilícitos previsto no art.º 483 nº do CC.

1.19 A PRESTAÇÃO DE CONTAS COMO MEIO DE INFORMAÇÃO


SOBRE O PATRIMÓNIO DA SOCIEDADE
O CSC contém diversas normas sobre prestação de contas: art.º 65º (dever de relatar a
gestão e apresentar contas); art.º 66º (relatório de gestão); art.º 70º-A 8 depósitos para as
sociedades em nome coletivo e em comandita); art.º 420º (relatório e parecer do fiscal único ou
do conselho fiscal); art.º 447 (publicidade de participações dos membros dos órgãos de
administração e fiscalização); art.º 448º (publicidade de participações de acionistas); art.º 508º-A
e 508º-E (contas consolidadas).
A prestação de contas é a avaliação, documentação e divulgação da situação patrimonial
bem como das respetivas alterações num determinado período, com o objetivo de informação aos
sócios e aos terceiros interessados na vida da sociedade comercial.
O direito à informação tem merecido especial atenção por parte do legislador,
nomeadamente na proteção dos sócios minoritários e na regulamentação do mercado de valores
mobiliários46 . Essa preocupação foi expressa nos preâmbulos ao CSC e ao CVM.
O sócio deve estar informado para poder exercer, de forma consciente, os seus direitos
face à sociedade, nomeadamente votar, impugnar deliberações sociais, acompanhar a vida da
sociedade e a sua gestão. Os sócios têm direito a obter informações sobre a gestão da sociedade,
a consultar, na sede social, a escrituração e os seus livros e documentos, tendo esta consulta uma
única restrição: esta deve ser efetuada pessoalmente pelo sócio.
Assiste ainda ao sócio o direito de inspecionar os bens sociais. Nas sociedades por quotas (artigo
214º, nº1) este direito é idêntico ao atribuído aos sócios das sociedades em nome coletivo. No
entanto, o contrato de sociedade pode regulamentá-lo (artigo 214º, nº2) estabelecendo limites,
desde que não impeça o seu exercício efetivo nem limite injustificadamente o seu âmbito.
O direito à informação compreende o direito geral à informação, o direito à informação
preparatória das assembleias-gerais e o direito à informação nas mesmas. O direito geral à

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informação está previsto no artigo 21.º, n.º1, alínea c), que estabelece como um dos direitos dos
sócios “obter informações sobre a vida da sociedade, nos termos da lei e do contrato”.
Assim, o conteúdo deste direito é delimitado consoante o tipo societário adotado ou o contrato.
Nas sociedades em nome coletivo, devido à responsabilidade ilimitada dos sócios, o direito à
informação é também pleno e ilimitado (artigo 181º).
Como forma de garantir especial proteção aos credores da sociedade, o CSC prevê no
art.º 69º um regime especial de invalidade das deliberações de aprovação dos documentos de
prestação de contas, penalizando, com a anulabilidade, as situações de violação dos preceitos
legais relativos à elaboração dos documentos de prestação de contas e as irregularidades
existentes nas contas e com a nulidade, a violação da lei no que se refere à constituição, reforço
ou utilização da reserva legal ou à violação dos preceitos, cuja finalidade seja a de proteção dos
credores ou do interesse público.

1.20 A OBRIGAÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS E A APRECIAÇÃO


DA SITUAÇÃO PATRIMONIAL
O CSC no seu art.º 65º impõe aos órgãos de gestão a elaboração das contas relativas a
cada exercício anual e a divulgação dos documentos anuais de prestação de contas pelos diversos
utentes interessados (sócios ou acionistas, clientes, fornecedores, investidores, instituições
financeiras, etc.), de forma a possibilitar que os vários interessados na vida da sociedade,
conheçam não só a sua posição e situação financeira divulgada através do Balanço, mas também
a evolução dos negócios e os riscos e incertezas que esta confronta. Os documentos de prestação
de contas são elaborados a partir dos sistemas de informação que integram, entre outros, a
contabilidade.
Tais documentos resultam da combinação do disposto nos art.º 66º do CSC com o que
dispõe o Sistema de Normalização Contabilística (SNC) e o Código Comercial e são os
seguintes:
 O Relatório de Gestão;
 O Balanço;
 A demonstração dos resultados por naturezas;
 A demonstração dos fluxos de caixa;
 A demonstração de alterações no capital próprio;
 O Anexo às contas;
 A Certificação Legal de Contas (quando obrigatória);
 O relatório e parecer do órgão de fiscalização (quando obrigatório);
 Os anexos previstos em legislação específica.

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CONCLUSÃO
Concluimos que o capital social é a cláusula obrigatória nos contratos sociais, nos termos
do artigo artigo 997, IV, do Código Civil dividindo - se em quotas, iguais, aos sócios, como
prescreve o artigo 1.055 do mesmo Código.
Vimos como tem sido questionado o papel do capital e património social na proteção dos
credores e como a alteração da lei no sentido da liberdade da sua fraçáo pelos sócios nas
sociedades por quotas, sem essa liberdade ter sido acompanhada da previsáo de um dever geral
de dotação dos meios necessários á prossecução dos fins sociais, mostar que, cada vez mais, o
legislador parece previlegiar a negociação individualizada de garantias aplicáveis a cada caso
concreto, tendo em conta as especificidades das transações . os credores deverão, assim, fazer
esforço adicional na obtenção de informação sobre a informação das sociedades com as quais
contactam.
O papel central das reservas na cobertura de prejuízos mostra que podem ser a
sustentação das sociedades durante os períodos ciclicos de crise. por fim, os suprimentos
apresentam uma certa dualidade, enquanto prestações que podem servir para suprir carências
periodicas das sociedades, podem na prática, fazer das reservas se elas inexistirem.
O capital social refere - se aos fundos gerados a partir da emissao de accoes em uma
empresa. O capital social representa um valor contábel que é gerado como resultado de lucros
acumulados e diminui á medida que os dividendos sao emitidos aos acionistas. Em contrasre, o
património é a diferença entre o activo e o passivo.
Qualquer que seja o regime que venha a ser adoptado, não pode deixar de ter em devida
conta a necessidade de assegurar a confiança dos credores, limitando a distribuição de bens aos
sócios e assegurando mínimos de solvabilidade, independentemente dos critérios que possam ser
estabelecidos'".
Em síntese final, importa reter duas ideias essenciais:
Que a plena compreensão do regime da perda grave impõe o diálogo entre o Direito
Comercial e a Contabilidade;

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Que, bem vistas as coisas, não é grave ter uma "perda grave" (do capital social).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU.J.M.Coutinho, Direito Comercial, Vol.II, Almedina, Coimbra, 3º edição,
2009
DOMINGUES,, Paaulo de Tarso, 2010, P.256, ALMEIDA, ANTÓNIO PEREIRA,
Sociedades Comerciais, Coimbra Editora, 6º edição 2011.
COUTINHO DE ABREU, livro de Direito das Sociedades, página 197.
PITA, ANTÓNIO MANUEL, Direito Comercial, 1º edição, 1992, p.p.125 e 129.
PITA, António Manuel, Curso Elementar de Direito Comercial, Colecção Direito, Áreas
Editora, 3.ª ed., 2011, p. 186. 21
Artigo. 39114 da Lei 10.406, de 2002 (Código Civil ou CC).
Artigo. 277º nº. 1 do C.S.C. 4.2.2
Artigo. 35º nº 2 do Código das Sociedades comerciais
Artigo 9.º do CSC), 2009, p. 35

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