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RESUMO

Marcella de Lourdes de Oliveira Ribeiro.

DE LUCCA, Newton. Da Ética Geral à Ética Empresarial. São Paulo: Quartier


Latin, 2009. -

6 – A Ética na Filosofia Moderna e Pós Moderna

O autor, agora, pretende explorar a filosofia ética como estabelecida nos


tempos da modernidade e da pós-modernidade (p. 122-123). No entanto, já
aponta de início que estes tais conceitos são demasiadamente ambivalentes, e
uma prévia investigação sobre o seu verdadeiro significado se faz necessária.
Em primeiro lugar, destaca a distinção de Baumann entre a modernidade sólida
e a modernidade líquida (p.123). Ao citar Bosi, esclarece que o período pós-
moderno é aquele em que se dá “o desenvolvimento extremo do capitalismo
globalizado (p.124). Destaca também que o período pós-moderno já se trata de
um período de crítica aos valores da modernidade (p.124). Ainda explora o fato
da modernidade se colocar, no campo do desenvolvimento histórico, como a
período em que emerge a preponderância da racionalidade, ao destacar que o
racionalismo e o desencantamento – de acordo com obra citada de Max Weber
– são as marcas definidoras das rupturas modernas (p.124-125). A
modernidade, portanto, se define como uma imagem “racionalista do mundo
que integra o homem na natureza” e que rejeita, in limine, qualquer separação
de natureza metafísica entre corpo e alma, um movimento que quer afastar
todas as forças transcendentes da autonomia da razão humana (p.126-127).
Ainda destaca como marcas inerente da modernidade: o individualismo –
isto é, tornar o indivíduo como célula fundamental do Estado (p. 127); a práxis
política voltada para os fins de engenharia social (p.128; a separação entre os
campos da moral, do direito e da religião (p.129). O plano da modernidade de
“tudo resolver com a aplicação incondicional da razão” é o fulcro da ideologia
moderna, como destacado pelo autor ao citar as obras de Bauman e Alain
Tourraine. Esta é a crítica, aliás, que é realizada pelo movimento pós-moderno,
que emerge do suposto fracasso parcial deste plano (p. 130).
Por isso, em referência à obra de Marilena Chauí, o autor destaca que
enquanto a modernidade é a celebração das conquistas da razão, da
emancipação da liberdade humana, o pós-modernismo se coloca como o
proclamador da falência deste projeto.

6.2 - Maquiavel

O primeiro autor moderno de quer tratar é Nicolau Maquiavel, que de


acordo com o autor, seguindo lição de Comparato, foi o primeiro a romper com
a estrutura dos sistemas éticos tradicionais, e por conseguinte os fundamentos
sociais políticos neles fundados (p. 134). É com Maquiavel, esclarece o autor,
que a ideia de que a vida pública fosse regida por uma ética especial, não
conectada necessariamente aos mesmos direitos dos indivíduos, surgiu –
prezando acima de tudo a governabilidade e a estabilidade interna dos
regimentos (p.135). Com Maquiavel, a teoria política e ética está voltada a
ensinar como bem agir para conquistar e manter o poder, antes de ensinar ao
homem aquilo que deve fazer para ser moral – na opinião do autor isto se dá,
principalmente, por Maquiavel já não crer que haja bondade ou dignidade
intrínseca a cada ser humano (p. 135). Para Maquiavel, a guerra é o estado
natural de todo governo, tanto em matérias internas quanto externas, e a
estabilidade e governabilidade muitas vezes podem exigir que o governante se
volte à ideia de caridade, bondade, humanidade e religião (p.136). A meta
desejada, na ética maquiavélica, não é o florescimento integral das
capacidades de cada ser humano, em seu íntimo, mas antes a conservação e
a conquista do poder por um tipo de homem mais virtuoso e astuto, modelo
ideal do Príncipe (p. 138).
6.3 – Bodin

Sobre Jean Bodin, o primeiro dos aspectos de sua obra destacados pelo
autor é o fato dela ser uma feroz crítica a Maquiavel. (p. 139). Bodin crê, ao
contrário de Maquiavel, que o poder deve ter alguma legitimidade, e não deve
ser conservado à revelia da violência e tirania do príncipe (p. 139). Bodin é o
autor, na modernidade, que tornou central para a teoria do Estado o conceito
de Soberania – “o poder absoluto e perpétuo de república” (p. 139), fundado,
por sua vez, numa ideia de legitimidade.

6.4 – Hobbes

Em primeiro lugar, o autor destaca toda a importância de Thomas


Hobbes para o pensamento político moderno e contemporâneo (p.140-141).
Em seguida, destaca a criação de seu método epistemológico: o empirismo
racionalista, que prevê a sistematização de conceitos a partir de uma análise
social profunda, sem recorrer a abstrações de natureza transcendente ou
metafísica (p. 142). Hobbes, segundo o autor, não está interessado na justiça
da Lei, mas na sua utilização como instrumento da formação da soberania e do
corpo político (p. 142). Salienta a opinião de Ostrensky de que Hobbes é o que
transforma “a teoria moral e política numa disciplina cientica e metódica”
(p.143).

6.5 – Spinoza

Spinoza, para o autor, é aquele que busca, na modernidade, responder


à indagação sobre a possibilidade adequação de nossas estruturas racionais
com a estrutura da realidade (p. 144). Destaca que, para o pensador, havia
apenas uma substância que compunha e mantinha a estrutura da realidade
“imanente e caracterizada por atributos infinitos”, que identificava como o
próprio Deus (p. 144). Por isso, para Spinoza, toda a realidade da natureza
poderia ser univocamente identificada com a Divindade (p. 144) – eis o núcleo
do pensamento de Spinoza, o seu panteísmo que coloca “Deus, os homens e
todos os seres em um mesmo plano de existência […] Em outras palavras,
tudo é Deus” (p. 145). Spinoza, desta forma, caracteriza tudo o que existe no
mundo como uma das formas da manifestação desta divindade, sendo até o
Bem e o Mal apenas formas que encontramos de comparar estas
manifestações – o Bem sendo aquelas que nos aproximam do modo de pensar
como Deus pensa o universo, e o Mal como aquilo que disto nos afasta (p. 146)

6.6 – Montesquieu

Para Montesquieu, destaca o autor, a preocupação central da teoria


política era encontrar maneiras do Poder de se auto limitar (p. 148). Isto se dá
porque Montesquieu é um pensador que crê que a ideia de liberdade é a noção
central do conceito de normatividade e moralidade (p. 148). O conceito de
liberdade para Montesquieu, no entanto, é mais denso do que simplesmente a
ideia de arbítrio próprio – para o autor, a liberdade é querer fazer o que se deve
fazer – “A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem” (p. 149).
Ainda destaca o autor a preocupação de Montesquieu em dizer que as leis de
um povo devem ter estreitas conexões, em sua constituição, com os seus
costumes, hábitos tradições, etc. (p. 149). O autor também quer estampar as
ideias de Montesquieu sobre as relações comerciais e sobre o conceito de
solidariedade humana (p. 150). Sobre a primeira, destaca que Montesquieu
pretende que as relações comerciais sejam fundamentas, em primeiro lugar,
num espírito de justiça exata, o que separa o comércio do mero roubo (p. 150).
Sobre a solidariedade em Montesquieu, o autor nos ensina que é conceito
essencial em seu pensamento, uma vez que considera a centralidade da
pessoa humana como fundamento de toda lei e toda ação política (p. 151).
6.7 - Rosseau

Para Rousseau, é fundamental entender que “todos os homens nascem


livres e bons” (p. 152) e de que as instituições o corrompem o levam para a
corrupção de outros homens. Rosseaus considera a liberdade e a igualdade
como os bens humanos mais fundamentais a se aspirar, que a lei e o Estado
devem refletir isto da melhor maneira possível em sua legislação (p. 152).
Assim, o Estado deve ser fundado a partir da vontade geral geral de um povo,
que o constrói a partir de um contrato social (p. 153). Desta forma, cada
indivíduo, quando decide viver em comunidade entrega a sua autonomia e
poder próprio para os desígnios da vontade geral, cada um recebendo o seu
quinhão desta autoridade invisível (p. 153). Rosseau pretende, de acordo com
o autor e a lição de Comparato, uma verdadeira reconstrução da ordem social,
colocando em primeiro lugar os direitos mais primitivos e fundamentais do
homem – e exerceu sua influência para a reforma de todo o Estado Moderno
(p. 153). Destaca o autor que o contrato social é o que dá a validade e a
legitimidade da propriedade privada – que deve sempre estar a disposição do
bem comum (p. 154). Rosseau é o autor que imprime no Ocidente toda a ideia
moderna de igualdade formal entre os homens, de acordo com o autor (p. 155).

6.8 – Kant

O autor destaca, em primeiro lugar, que é o dever que fundamenta todas


as atitudes morais, para Imanuel Kant, preponderantemente enquanto forma
estrutural das Leis da Razão Prática (p. 155). Esta Lei, que deve determinar os
atos para que sejam moralmente praticáveis, para ser válida, deve poder ser
transformada em princípio universal para toda a ação intencional, isto é, uma
lei que determine o dever moral deve ser sempre e independentemente válida,
em seus pressupostos (p. 156). O que Kant pretende, de acordo com o autor é
fundamentar uma ordem jurídica universal, capaz de ser operada através desta
lei da Razão, o que traria a emancipação de fato da humanidade – devemos
ser seres guiados pelas normas da Razão que descobrimos em nosso interior
mais íntimo (p. 156-158).
6.9 – Comte

O positivismo Comteano, de acordo com autor, prega que “a realidade


humana só poderia ser adequadamente compreendida se regida fosse pelos
rigores da razão matemática” (p. 159-160). Isto significa dizer que, para Comte,
a humanidade deveria abandonar os paradigmas teológicos e metafísicos e se
focar, agora, nas conquistas que a sua razão, com sua exatidão e rigorosidade,
poderiam conferir ao ser humano. (p. 161). Ao fim desta seção, o autor destaca
que estas promessas do racionalismo, até Comte, desconsideraram os limites
inescapáveis da Razão Humana, e parte para os pensadores que trabalharam
justamente esta crítica ao positivismo e ao racionalismo (p. 161).

6. 10 – Husserl

O grande legado filosófico de Husserl, de acordo com o autor, seguindo


lição de Miguel Reale, é a criação do método fenomenológico (p. 162). Destaca
que este método uma disciplina “de captação da essência dos dados que se
nos oferecem na consciência” (p. 163). A fenomenologia, destaca o autor, no
campo da ética, traz à baila a importância da intuição de nossa capacidade
avaliativa e estimativa. (p. 163). Ainda dá destaca ao conceito de lebenswelt (o
mundo da vida), que é o mundo da intercomunicabilidade de todas as
consciências, em sua dimensão estética, natural, intuitiva, moral e emocional –
contra a acepção puramente naturalista do racionalismo tipicamente moderno
(p. 164).

6. 11 – Max Weber

O primeiro mérito de Weber, de acordo com o autor, é o de considerar o


conflito dos valores em sua multiplicidade, e a adesão à uma ética de
responsabilidade contra uma ética de pura convicção (p. 165). O autor nos
relembra que Weber deu importância profícua à ética empresarial, ao ser o
primeiro a teorizar as origens da ética de comércio no capitalismo,
identificando-a com o espírito da austeridade do calvisnismo, essencial para a
justificação ética das modernas divisão do trabalho (p. 166). “

6.12 Gandhi

Gandhi tinha como fundamento de suas concepções éticas o conceito de


de verdade (satya) e o de não-violência (ahimsa), como destaca o autor (p.
167). Para Gandhi, a lição suprema e objetivo último de uma teoria da ética era
criar um modo de controlar a ira e “convertê-la em energia” (p. 167). A não-
violência é o modo de vida mais humano, de acordo com o autor, e aproxima
esta visão à noção evangélica do “amor aos inimigos” (p. 168).

6.13 – Moore

Para o autor, Moore representa uma verdadeira ruptura no pensamento


tradicional da ética, ao começar a se voltar para os problemas analíticos do
modo como usamos nossa linguagem no campo da mora. (p. 168-169). Para o
autor Moore se preocupa menos em tentar responder “o que é o bem” , mas
sim investigar como nós utilizamos este conceito e analisar todas as
ambivalências linguísticas relacionadas a este conceito (p. 169). Para Moore,
de acordo com o autor, os problemas da ética se relacionam menos com os
nossos problemas de conduta, mas como o modo pelo qual conceituamos a
palavra ‘bom’ (p. 171).

6.14 – Scheler

O autor destaca, em primeiro lugar, a proximidade do pensamento de


Scheler com o de Husserl, e sua condição de aluno e discípulo deste, e
proponente a alargador dos métodos da investigação fenomenológica (p. 171).
A preocupação principal de Scherler foi a chamada filosofia dos valores,
preocupado em determinar como podemos estabelecer os caracteres valiosos
da experiência, enquanto formativos de nossa condição de agir, bem como
também os fatores formativos de tudo aquilo que consideramos enquanto
normas, no campo moral e jurídico (p. 172). Scheler, para o autor, é um crítico
de Kant, ao determinar que os valores não podem ser acessados pela via dos
sentidos ou da razão pura prática (como pensava o filósofo da deontologia),
mas por uma terceira via de acesso que chamou de percepção emocional, que
condiciona as outras duas formas de acesso ao conhecimento kantiano (p.
172). O dever não seria o fundamento último da ética, de acordo com Scheler,
mas o produto de nossa percepção da existência de valores, destaca o autor
(p. 174-175). Ainda destaca a independência da ética quanto a religião, para
Scheler (p. 176)

6.15 – Kelsen

Kelsen quer encerrar o direito numa rede impermeável de saberes auto-


referidos, de acordo com o autor, de maneira excessivamente rigorosa e
formalista, e que afasta o direito dos ditames da ética (p. 177). O dever, para
Kelsen, não é mais do que uma maneira de conhecermos o “material jurídico
empiricamente dado” (p. 177). Não se deve confundir, destaca o autor, o
positivismo científico com o positivismo legal, muito mais em face das
catastróficas consequências da aplicação desta experiência nos estados
autoritários contemporâneos (p. 177-180). No entanto, o autor ainda destaca a
opinião de Bobbio, de que a visão de Kelsen pode nos conferir uma
conceituação fria do direito, apartada de paixões ideologicas, como um série de
dados e conhecimento chaves para uma “compreensão realista do direito” (p.
180).

6.16 – Heidegger

A ética de Heidegger, de acordo com o autor, pode ser classificada como


uma ética do cuidado (p. 180). Para Heidegger, esclarece-nos Newton de
Lucca, toda a ética deve pender de uma noção de cuidado para com o outro (p.
181-182).
6.17 – Bobbio

Quanto a Bobbio, o autor inicia suas preleções com um verdadeiro elogia


a sua conduta enquanto pensador e filósofo (p. 182-184). Em seguida,
pretende fornecer quais são suas contribuições para a filosofia do direito
(p.184). Para o autor, a primeira coisa a se notar no pensamento de Bobbio é o
destaque que este dá para a ambivalência inerente dos conceitos de direito e
direito do homem, noções que o pensador italiano considera fundamentais (.
184). O Direito, para Bobbio, deveria justamente estar mais preocupado com as
noções de direitos morais, e aí reside a intensa conexão entre ética e direito (p.
184-185). Entre estes direitos fundamentais, estão precipuamente a paz e a
democracia (p. 185). Da paz dependem as soluções dos problemas mais
prementes de uma comunidade política, e isto indica, para o autor, a sua
adesão completa aos preceitos de Gandhi de não-violência (p. 185). Para
Bobbio, a defesa da democracia não é meramente instrumental, mas é a
defesa de um valor inegociável – pela sua característica intrínseca de
intolerância contra o extremismo polítco (p. 186). Bobbio defende os direitos
humanos como totalmente dependentes de certas circunstâncias históricas e,
em primeiro lugar, dos esforços realizados para conquistá-los, e destaca esta
defesa e conquista dos direitos de primeira (direitos humanos) e segunda
(direitos sociais) geração (p. 187).

6.18 – Austin

Austin é um dos mais importantes propagadores de um modernizado


juspositivismo – a independência do conceito de lei e dos seus supostos
méritos. Para Austin, a lei só pode ser definida como lei quando produzida
através de procedimentos legítimos de legiferação, não importando a pretensa
justiça desta determinação legal para que ela seja considerada enquanto lei. (p.
188-189). A lei, desta forma, é puro fato social, e deve ser entendida como tal,
não como a manifestação de certos valores valores abstratos que têm de
refletir, mas uma ordem de comando e conseguinte sanção que surge de
processos legítimos da autoridade de um governo (p. 189-191).

6. 19 John Rawls

Em primeiro lugar, de Lucca, quer destacar a noção de justiça como


equidade do pensamento de John Rawls, e as duras críticas que seu trabalho
recebeu, quando publicado (p. 191). Para Rawls, o objetivo de sua teoria é um
conceito de justiça universal, e as críticas influenciaram a recepção de seu
pensamento, transformando-o num esforço de criação de uma justiça
democrática (p. 191). A justiça, para Rawls, é o princípio que ordenaria todo o
conjunto da sociedade politicamente organizada, e a “virtude da cidadania e da
ordem jurídica” (p. 192). Destaca o autor que apesar de Rawls crer que há
certas pessoas com uma capacidade de justiça do que outras, para ele é
fundamental que se estabeleça, em primeiro o plano a mais “absoluta
igualdade da condição humana” (p. 197). Ralws considera, é claro, todas as
diferenças humanas que provém de sua estrutura biológica e cultural, não
igualando a diferença à desigualdade (p. 197). O autor rejeita todas as críticas
realizadas a Rawls, sobre a sua constatação das diferenças intrínsecas ao ser
humano e uma aproximação de ideias nazistas (p. 197). Para Rawls, para
podermos determinar uma condição de Justiça enquanto equidade, estabelecer
um critério para o estabelecimento desta justiça, e isto não pode ser dado pela
experiência, mas por um tipo de critério aprioristicamente fundado, um véu de
ignorância (p. 198). Os juízos morais, portanto, não podem ser realizados a
partir de qualquer ética pública, a fim de que não sofram as distorções de
nossa condição empírica – o objetivo da filosofia moral é encontrar um ponto
no qual podemos determinar um princípio moral objetivo que possa abranger o
respeito incondicional às pessoas e a distribuição equitativa dos bens materiais
(p.198-201).
6.20 – Kohlberg
O pensamento de Kohlberg, um dos grandes nomes do pragmatismo
norte-americano, é o fundador dos campos da ética do discurso. A ética do
discurso quer dar as condições procedimentais da formação de uma normativa
moral pública, antes de determinar qual os conteúdos éticos de todas as
nossas ações – uma ética de assentimento “de todos os concernidos, se eles
pudessem participar de um Discurso prático” (p. 201-203). Para a ética do
discurso, não se podem fixar de uma só vez todos os conteúdos da
normatividade, devendo ser sempre ser mantida e assegurada a participação
de todos, e considerar todas as circunstâncias, na criação de um Discurso
Prático (p. 203 -205). A seguir o autor passa a uma longa descrição dos seis
estágios morais preconizados por Kohlberg: a moralidade heterônoma, a
moralidade do individualismo e da intenção instrumental e troca, a moralidade
das expectativas interpessoais mútuas e relações de conformidade
interpessoal, a moralidade do sistema social e consciência, a moralidade do
contrato social da utilidade e dos direitos individuais, a moralidade de Princípios
Éticos Universais (p. 205-208).

6. 21 – Hans Jonas

Hans Jonas, para o autor, rompeu com paradigmas de ética tradicional,


ao notar que todas elas tinham caráter fundamentalmente antropocêntrico (p.
208). Destaca, em primeiro lugar, que Jonas não quer simplesmente suceder à
Kant na criação de imperativos morais categóricos (p. 209), mas no entanto, se
aproxima do pensador de Konigsberg, ao formular certas fórmulas para o agir
humano como interpretado por ele – imperativos voltados à existência de vida
humana na terra, e não simplesmente para o guiamento dos deveres de um
indivíduo (p. 209-210). O ato moral não deve ser aquele de um ato coerente
com as exigências da própria razão, mas coerente com a possibilidade da
existência de atividade humana no futuro (p. 209-210). O imperativo de Hans
Jonas, deste modo, não é formal, mas depende das consequências dos atos
que tomamos, que devem ser sempre coerentes com as consequências
alcançadas (p. 211).
6.22 – Lipovetsky

Em primeiro lugar, o autor imprime a crítica de Bauman à obra de


Lipovetsky, e de toda a concepção revolucionária pós-moderna (p. 212-213).
Em segundo lugar, destaca que Lipovetsky afirma que estamos numa fase de
desenvolvimento histórico que supera as demandas moralistas, uma era que
pretende exaltar a realização dos desejos, da felicidade e do bem estar
individual contra a ideia de abnegação destas potências em face de um agir
ético, que é característica de todo o empreendimento moral do iluminismo e da
modernidade (p. 213). O autor quer destacar, de maneira mais essencial, as
contribuições de Lipovetsky aos conceitos e investigações da ética empresarial
(p. 214-215), como a ética dos negócios, que rejeita os padrões antigos de
moralidade, e se volta para a eficiência dos negócios de maneira mais precípua
através de quatro fatores: a ética da sobrevivência, a emergência de políticas
que privilegiam a especulação financeira, o referencial ético como mera
estratégia mercadológica das empresas e, por último, a criação de uma
verdadeira cultural empresarial ( p. 215-218). Como destaca o autor, a
transformação de ética em business pode ser utilizada para que a ideia de
solidariedade emerja num meio onde o egoísmo por razão de si próprio já
prevaleceu (p. 220)

6. 22 – Baumann

O autor quer destacar, primeiramente, a distinção entre o turista e o


vagabundo, realizada por Baumann, como a “principal divisão da sociedade
pós-moderna” (p. 221). Aos turistas é permitida a livre movimentação, pois
consideram o mundo como um arraial infinito de possibilidades, os
vagabundos, por sua vez, se movimentam e nunca estão no mesmo lugar
justamente porque consideram o mundo inóspito (p. 221).
Por fim, o autor quer que a ética empresarial não seja apenas a espécie
de um marketing da conduta ética, como apregoado por Lipovetsky, mas um
esforço real para moralizar as relações de natureza comercial (p. 222). O autor
quer mostrar, como Bauman, que há uma necessidade de um conteúdo moral
para a existência humana em comunidade, sem desconsiderar as críticas de
uma análise mais filosófica da ética presencial (p. 222-223). O autor não quer
fazer uma separação tão vital, quanto à pós-moderna, entre a vida comercial e
a vida familiar – considerando a ambivalência das duas abordagens da ética –
enquanto um ethos para a vida das empresas e enquanto forma moral de agir
no mundo (p.223).

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