LIMBO PREVIDENCIÁRIO TRABALHISTA: UM RELATO DE CASO
E CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA
Letícia C. Teixeira , Karine C. F. R. Vieira , Simone V. B. Ferreira, Valéria M. de S. Framil, Daniele Muñoz, Daniel Romero Muñoz (1) Médica Pós graduanda em Medicina Legal e Perícias Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. (2) Professora Colaboradora do Curso de Especialização em Medicina Legal e Perícias Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. (3) Coordenador do Curso de Especialização em Medicina Legal e Perícias Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. INTRODUÇÃO: O limbo previdenciário trabalhista (LPT) é a situação em que o empregado tem seu benefício cessado ou negado pelo INSS e, no mesmo período, é considerado inapto pela medicina do trabalho, não recebendo proventos de nenhuma das partes. METODOLOGIA: Descrição do Relato de Caso. A Revisão Bibliográfica foi realizada com as ferramentas PubMed e Scielo (Scientific Eletronic Library on-line), bem como livros jurídicos e Monografias. RELATO DE CASO: MRZS, sexo feminino, 54 anos, educadora, afastada de janeiro/2020 a maio/2022 por agudização de hérnias discais associada a lombociatalgia bilateral e limitação funcional, com proposta de abordagem cirúrgica nos primeiros meses do afastamento. Quadro associado a diversas outras patologias, dentre elas, depressão e fibromialgia. Adentrou-se a pandemia pela COVID-19, sua cirurgia eletiva foi suspensa e seu tratamento eletivo, todo via SUS, tornou-se ainda mais moroso e sem melhora significativa do quadro. Concedido Benefício por Incapacidade Temporária nos meses iniciais e permaneceu a maior parte do afastamento pleiteando auxílio previdenciário, com perícias distantes e não constatando incapacidade laboral. Em paralelo, fora considerada inapta pela Medicina do Trabalho em detrimento da sua função, que exigia força e mobilidade importantes de coluna e de membros inferiores. Retornou ao trabalho em maio de 2022 após aptidão pela medicina do trabalho, ainda apresentando limitações, que foram adaptadas à sua função. DISCUSSÃO: Aqueles trabalhadores que estão temporariamente incapazes para trabalhar têm garantido, pela Constituição Federal e pela Lei nº 8.213/91, o Benefício por Incapacidade Temporária. No conceito de incapacidade, seja temporária ou definitiva, seu portador passa a não desempenhar a função em que se encontrava devido alterações de saúde. É importante ressaltar, que para obter a concessão do benefício, segundo o artigo 59 da Lei 8.213/91, o trabalhador deve ter cumprido o período de carência, ser segurado e estar incapacitado para a execução de seu trabalho habitual por mais de 15 dias. Trata-se de uma relação inegavelmente importante entre empresa e Previdência Social, por serem mantenedoras de fontes pecuniárias indispensáveis para que o empregado possa se manter. No entanto, essa relação nem sempre se estabelece de maneira eficiente, sendo comum encontrar divergências entre as conclusões do médico do trabalho e do médico perito sobre a incapacidade do examinado. Mesmo após constatação de capacidade laboral pelo INSS, nos afastamentos superiores a 30 dias, a Norma Regulamentadora 7 (NR7) obriga a avaliação de retorno ao trabalho pelo médico da empresa. Tal medida predispõe possíveis discordâncias, acarretando ações judiciais contra previdência ou empregador e sobrecarregando ainda mais o sistema judiciário do país. O ideal seria que o parecer do Médico do Trabalho vinculasse ao do Médico Perito porque, embora o primeiro detenha autonomia e conhecimento para exercer livremente suas atividades e elaborar suas convicções, o ato deste último é dotado de presunção de veracidade, por se tratar de ato administrativo. Vale citar a Lei 11.907/09 que corrobora com o entendimento do INSS frente ao Médico do Trabalho quando atribui exclusivamente aos cargos de Perito Médico a emissão de parecer quanto à incapacidade laborativa. Nos casos em que há divergência dos pareceres do Médico Perito e do Médico do Trabalho seria, indiretamente, a Lei 11.907/09 indo de encontro à norma trabalhista (NR-7) e gerando o limbo trabalhista previdenciário. Hierárquica e juridicamente, as Leis prevalecem sobre as portarias. Importante ressaltar como o LPT afeta diretamente o empregado e o empregador, além do impacto indireto na sociedade e na economia. Para o trabalhador fica claro sua situação de vulnerabilidade. Além do enfrentamento à doença, ele não recebe o salário e nem o benefício previdenciário para prover o seu sustento e de sua família, gerando perda de poder econômico e alteração da sua inserção social. Quanto ao meio social, não podemos esquecer que é o poder aquisitivo que movimenta a economia e o comércio local. Ademais, essa situação leva muitos trabalhadores a ingressarem com ações contra a previdência ou seu empregador, aumentando o volume de processos no sistema Judiciário. Em relação ao empregador, o mesmo enfrentará a ausência de seu funcionário na empresa e corre o risco de sofrer demandas judiciais. CONCLUSÕES: O LPT é uma situação passível de ocorrer e que deve ser combatida para a diminuição de sua incidência, ou até mesmo seu fim. As consequências do LPT são piores para o trabalhador devido a sua vulnerabilidade, mas também afetam o empregador, a previdência e o seu meio social e familiar, incluindo o sistema judiciário nos casos de difícil resolução. Ainda não existe uma legislação específica direcionada ao LPT e seus desdobramentos, mas, pelas Leis vigentes, podemos inferir que a decisão do médico perito deve prevalecer, obrigando o empregador a aceitar o retorno desse funcionário; sempre respeitando as limitações identificadas pelo médico do trabalho e realizando as adaptações necessárias. Entre as formas de evitar esse Limbo estariam: (1) a busca por avaliações mais padronizadas e orientadas; (2) a vinculação da avaliação do Médico do Trabalho à do perito do INSS; (3) o empenho do empregador em reinserir o empregado no mercado de trabalho; e, principalmente, (4) médicos peritos e médicos do trabalho atentarem para a existência do LPT e buscarem evitá-lo.
INVESTIGAÇÃO DO ESTUPRO COLETIVO: CONCEITUAÇÃO E RELATO
DE CASO Thaís Helena Holanda Viana (1) Davi Arnaud (2) Fernanda Freire Collyer Correia (2) Vitória Bezerra de Alencar (2) Velko Veras Pereira de Matos Filho (2) Vivian Romero Santiago (2) Samyra Maria Vieira Brasil Rocha (3) (1) Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Curso de Medicina, Centro de Ciências da Saúde (CCS), Fortaleza – CE, Brasil. (autor principal) (2) Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Curso de Medicina, Centro de Ciências da Saúde (CCS), Fortaleza – CE, Brasil. (autor secundário) (3) Farmacêutica perita do Núcleo de Pesquisa em DNA Forense da Coordenadorias de Análises Laboratoriais Forenses, Perícia Forense do Estado do Ceará (PEFOCE), Fortaleza – CE, Brasil (orientador) Email: thaishelenaholanda@gmail.com Introdução: A violência sexual, no âmbito da Medicina Legal, é exempificada pelo estupro, principalmente, cuja epidemiologia é devastadora para vítimas do sexo feminino e da etnia negra. A punição desse crime, normalmente, é embasada pela a análise dos materiais contendo DNA, encontrados nos exames de corpo de delito. O objetivo desse estudo é relatar um caso de estupro coletivo, explicando a importância e a complexidade dos exames de perfil genético. Material e método: O presente estudo enquadra-se na modalidade de relato de caso, advindo de uma demanda para esclarecer a natureza dos suspeitos de um crime de estupro coletivo. Foi realizada também uma revisão narrativa da literatura sobre estupro coletivo em três bases de dados de livre acesso. Resultados: GSL, mulher, possível vítima de estupro coletivo, ocorrido no interior do Ceará, foi submetida a exame pericial, em que foram obtidas amostras de material biológico, dela e de CAA, o principal suspeito, que posteriormente foram analisadas pela Perícia Forense do Estado do Ceará. Discussão: No processo de análise das amostras, podem estar presentes outros tipos celulares, além dos espermatozoides, a exemplo de células epiteliais. De tais amostras, pode-se extrair o DNA das células não espermatozoides. Essa estratégia oferece grande contribuição em situações em que pequena quantidade de material masculino é encontrada junto ao material celular da vítima. Conclusão: Houve compatibilidade da possibilidade de CAA ser o principal suspeito, porém, não o único. Assim, o resultado final corroborou com a hipótese principal de estupro coletivo