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DEF0429 - DIREITO TRIBUTÁRIO I

TURMA 194 – TURMA 12

CASO 2 – CONCEITO DE TRIBUTO


Alice Conceição do Nascimento
12510908
A Associação Bonitense de Turismo ajuizou Ação Declaratória
de Inconstitucionalidade contra o Município de Bonito/MS, contestando o Decreto nº 6.789/23,
que estabeleceu uma cobrança fixa de R$ 50,00 para todos os não-residentes que chegarem à
cidade por avião. A Associação alega que essa cobrança, por ter sido instituída via decreto,
viola o princípio da legalidade tributária, além de ferir o princípio da isonomia tributária.

É o breve relatório. Decido.

Para entender o mérito da questão, é crucial definir,


primeiramente, o conceito de tributo. Segundo o art. 3ª do Código Tributário Nacional, tributo
é “toda prestação pecuniária compulsória, instituída em lei, cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada e que não constitui sanção por ato ilícito”. Como se sabe, se
uma cobrança se configura como tributo, ela se submete a princípios específicos inerentes à
sua natureza tributária. Por isso, é importante analisar se a cobrança feita pelo Município
preenche os elementos descritos no referido artigo.

Pois bem. Indiscutivelmente, é uma prestação pecuniária em


dinheiro, já que não se exige o pagamento em trabalho ou em espécie, por exemplo. Ademais,
evidente que a cobrança não é sanção por ato ilícito, mas uma cobrança de natureza preventiva
e compensatória que considera os efeitos da queima do querosene de aviação para a atmosfera.
Resta comprovado, portanto, a natureza tributária da cobrança.

Trata-se, em especial, de uma Taxa de Preservação Ambiental


(TPA), modalidade que tem ganhado crescente adesão de municípios brasileiros, como por
exemplo Fernando de Noronha/PE (art. 88 da Lei Municipal 11.305/1995) e Bombinhas/SC
(Lei Complementar 185/2013). A jurisprudência pátria repetidamente se manifestou afirmando
a natureza tributária das chamadas Taxas de Preservação Ambiental (TPA), como evidenciado
no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 0067959-37.2013.8.26.0000,
perante o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo:

“No concernente ao conceito de taxa, sua instituição, de acordo com o


art. 145, II, da Constituição Federal de 1988, decorre “do exercício do
poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviço
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua
disposição”. (...) A taxa, cobrada em razão da entrada de veículos
estranhos ao balneário, tem como fato gerador “o exercício regular do
poder de polícia municipal em matéria de proteção, preservação e
conservação do meio ambiente no território do Município da Estância
Balneária de Ilhabela.” (...) De meridiana clareza, então, que se trata
de tributo (...). O reflexo ecológico não desnatura a raiz fundadora da
instituição da taxa: poder de polícia do Município”1.

Como mencionado, a Constituição Federal, em conjunto com o


CTN, estabelece os parâmetros e princípios que regem a tributação no país. Dentre esses
princípios, destaca-se a legalidade, segundo o qual nenhum tributo pode ser exigido ou
aumentado sem que haja previsão legal específica para tanto (art. 150, I, CF).

Assim, a cobrança fixada pelo Município de Bonito, mediante


decreto, viola o princípio da legalidade tributária inscrito na Constituição Federal, pois foi
instituída sem respaldo em lei específica.

Ademais, outro ponto que aponta para a inconstitucionalidade da


cobrança se refere ao princípio da isonomia tributária. O art. 150, II, da Constituição Federal
estabelece como vedação aos entes federativos: “instituir tratamento desigual entre contribuintes
que se encontrem em situação equivalente (...)”. A ordem constitucional que veda o tratamento
desigual entre contribuintes é repetida na Lei Orgânica Municipal de Bonito/MS, ao abordar
sobre os princípios da proteção e preservação ambiental em seu art. 173. Evidentemente, a lei
municipal e a Constituição Federal foram violadas quando o Decreto nº 6.789/23 distinguiu
injustificadamente contribuintes viajantes apenas pelo fato de alguns serem bonitenses e outros
forasteiros.

Ante o exposto, acolho os pedidos do requerente e voto pela


procedência da ação, declarando a inconstitucionalidade da cobrança instituída pelo
Decreto nº 6.789/23 do Município de Bonito/MS. Tal medida é necessária para preservar a
ordem constitucional, garantir o respeito aos princípios fundamentais do direito tributário e
assegurar a igualdade de tratamento entre os contribuintes.

1TJSP; Direta de Inconstitucionalidade 0067959-37.2013.8.26.0000; Relator (a): José Renato Nalini;


Órgão Julgador: Órgão Especial; Tribunal de Justiça de São Paulo - N/A; Data do Julgamento:
11/09/2013; Data de Registro: 04/10/2013

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