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Voto do Julgador
Seminário IV
Ocorre que, na realidade, essa saída da mercadoria se configura como fato indicativo do
fato gerador, mas com ele não se confunde. A confusão ocorre porque o Código Tributário
Nacional emprega a expressão “fato gerador” com três sentidos diversos: “hipótese de incidência
da regra de tributação”, “fato gerador da obrigação tributária” e “fato presuntivo do fato gerador
da obrigação tributária”.
Este último exprime uma presunção baseada em máximas da experiência e não pode ser
confundido com o verdadeiro fato gerador da obrigação tributária, já que ele apenas indica que a
sua ocorrência normalmente está vinculada à ocorrência do fato gerador da obrigação tributária.
Veja-se que a Constituição não só estabelece que a carga tributária deve ser
suportada pelos consumidores finais das mercadorias adquiridas, como também prevê que
o imposto só poderá incidir quando efetivamente ocorrerem as operações a eles
destinadas, com a transferência de titularidade. Se isso não ocorrer, a empresa será
responsável por uma carga tributária superior àquele incidente na operação a que deu
causa, fazendo não apenas com que o imposto seja cumulativo, mas que ele também seja
suportado economicamente pela empresa em vez do consumidor.
Assim, fica evidente que o “fato gerador” referenciado no art. 12, I, da Lei
Complementar nº 87/1966 é, na verdade, o fato indicativo do fato gerador. Isso é, ele
é apenas um fato cuja ocorrência está normalmente vinculada à ocorrência do fato
gerador. Vale dizer, tendo que escolher um fato representativo da consumação dos
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Art. 12. Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto no momento:
I - da saída de mercadoria de estabelecimento de contribuinte
referidos negócios jurídicos, o legislador escolheu a “saída do estabelecimento” para
representar o fato que normalmente está vinculado à mencionada consumação (a venda).
Por fim, importante evidenciar que tomar o “fato presuntivo de fato gerador”
como se fosse o verdadeiro “fato gerador” viola a capacidade contributiva na sua
dimensão objetiva, que funciona como parâmetro para a instituição de qualquer imposto,
para que eles só sejam cobrados sobre situações indicativas de capacidade econômica.
Isso porque a mera circulação física, sem objeto negocial e sem a transferência da
titularidade não denota qualquer capacidade contributiva.