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Seção I

O PASSADO
Apocalipse 1.1-20
O primeiro capítulo de Apocalipse forma uma introdução do
livro. Ele é composto por um breve parágrafo em que é
apresentado o título e propósito da sua composição (v. 1-3),
seguido por uma saudação (v. 4-8) e a visão de Cristo (v. 9-
20).

A. O Sobrescrito, 1.1-3
1. A Fonte da Revelação (1.1)
As três primeiras palavras do livro de Apocalipse são:
Apocalypsis lesou Christou. Este é obviamente o título do
livro. E por isso que não encontramos nenhum artigo
definido. Assim, traduzimos o título: Revelação de Jesus
Cristo.
Na língua portuguesa, esse livro é predominantemente
denominado de “Apocalipse”. Isso ocorre porque a palavra
grega para revelação é apocalypsis. Vem do verbo
apocalypto, “descobrir” ou “revelar”. Na Septuaginta e no
Novo Testamento, ele é usado no sentido especial de uma
revelação divina. Um bom exemplo do Antigo Testamento
grego é Amós 3.7: “Certamente o Senhor Jeová não fará coisa
alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os
profetas”. No Novo Testamento, Paulo usa o substantivo 13
vezes. Por exemplo, ele fala da “revelação do mistério” (Rm
16.25). Ele recebeu seu evangelho “pela revelação de Jesus
Cristo” (G11.12). O termo também é usado para a Segunda
Vinda em
1 Coríntios 1.7 (“manifestação”; “vinda” na KJV) e 2
Tessalonicenses 1.7, bem como em 1 Pedro 1.7,13; 4.13.
Vincent escreve: “A Revelação aqui é o revelar dos mistérios
divinos”.1
Mas, qual é o significado do complemento de Jesus Cristo?
Alguns estudiosos entendem que esse é um genitivo objetivo;
isto é, Jesus Cristo está sendo revelado. Um certo apoio para
esse ponto de vista é encontrado no fato de que temos uma
visão de Cristo nesse primeiro capítulo. Mas isso não
descreve apropriadamente os conteúdos do livro como um
todo.
Em segundo lugar, ele pode ser tratado como um genitivo de
posse; isto é, a revelação pertence a Jesus Cristo. Isso é
apoiado pela frase a qual Deus lhe deu. Mas isso era para o
propósito da sua transmissão a João
Um terceiro ponto de vista é que esse é um genitivo subjetivo;
isto é, Jesus Cristo dá a revelação. Isso parece fazer mais
sentido. Lenski diz: “O genitivo é subjetivo: Jesus Cristo fez
essa Revelação”.2
Phillips realça o ponto ao traduzir assim a sentença: “Essa é a
Revelação de Jesus Cristo”. No entanto, é melhor deixar de
fora o verbo da expressão, como ocorre no grego, e
transformá-la no título do livro.
A fonte da revelação foi Deus — a qual Deus lhe deu. Swete
comenta: “O Pai é o supremo Revelador [...] o filho é o agente
por meio de quem a revelação passa aos homens”.3
Isso está em conformidade com o ensinamento do Evangelho
de João (3.35; 5.20- 26; 7.16; 8.28 etc.).

1
Word Studies in the New Testament (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co,
1946
[reed.], vol. II, p. 407. Cf. T. F. Torrance, The Apocalypse Today (Grand Rapids: Wm.
B. Eerdmans Publishing Co., 1959), p. 11 — “Apocalipse ou Revelação é o desvendar
da história tomada e conquistada pelo Cordeiro de Deus”.
2
The Revelation of St. John's Revelation (Columbus, Ohio: Wartburg Press, 1943), p.
26.
3
Op. cit., p. 2.
O propósito de Deus ao dar essa revelação a Jesus era que ele
pudesse mostrar aos seus servos as coisas que brevemente
devem acontecer. A palavra para servos é doulois, que
significa “escravos”. Mas Simcox emite uma nota de
advertência para aqueles que interpretam esse termo no
sentido moderno ocidental. Ele diz: “No Oriente (Lc 15.17) os
servos que foram comprados por um preço estavam acima dos
assalariados”4
Em Atos e nas epístolas, o termo é freqüentemente aplicado
aos cristãos.
A palavra devem (dei) é extremamente significativa. Charles
escreve: “O dei denota não a consumação rápida das coisas,
mas o cumprimento absolutamente certo do propósito
divino”.5
Um outro termo importante é brevemente (en tachei). Charles
comenta: “Que esse cumprimento ocorreria ‘logo’ [...] sempre
foi a expectativa de toda profecia viva e apocalíptica”.6
A. T. Robertson observa: “E um termo relativo a ser julgado à
luz de 2 Pedro 3.8, de acordo com o relógio de Deus, não o
nosso”.7
A mesma frase ocorre em Lucas 18.8. Simcox diz: “Essas
últimas passagens sugerem que o objetivo dessas palavras é
assegurar-nos da prontidão prática de Deus para cumprir suas
promessas, em vez de definir qualquer limite de tempo para o
seu cumprimento real”.8
No calendário de Deus, esses eventos são marcados de
maneira definida, mas não nos cabe interpretar esse
4
W. H. Simcox, The Revelation, rev. G. A. Simcox (“Cambridge Greek Testament”;
Cambridge:
University Press, 1893), p. 40.
5
A Critical and Exegetical Commentary on the Revelation of St. John (“International
Critical
Commentary”; Edimburgo: T. & T. Clark, 1920), vol. I, p. 6.
6
Ibid.
7
Word Pictures in the New Testament (Nova York: Harper & Brothers, 1933), vol. VI,
p. 283.
8
Op. cit., p. 40.
calendário (cf. At 1.7). No entanto, tudo será cumprido
brevemente — “logo”, ou “em breve”. Moffatt comenta:
“Esse é o ponto crítico do livro [...] Anota-chave de
Apocalipse é a certeza alegre de que da parte de Deus não há
relutância ou atraso; seu povo não precisa esperar
ansiosamente agora”.9
Newell faz a seguinte sugestão útil: “‘Brevemente’ não só
significa iminência, mas também rapidez na execução, depois
da ação iniciada”.10
A sentença seguinte também é importante: pelo seu anjo as
enviou e as notificou a João, seu servo. O verbo notificou é
semaino. Ele vem de sema (semeion), “um sinal”. Assim, esse
verbo significa “dar um sinal, representar, indicar”,11
ou “fazer conhecido, relatar, comunicar”.12
Lange diz o seguinte: “Esemanen é uma modificação de deixai
[mostrou], indicativo dos sinais empregados, a representação
simbólica”.13
Bengel observa: “a LXX usa semainein para expressar um
grande sinal de uma grande coisa: Ezequiel

“The Revelation of St. John the Divine”, Expositor’s Greek Testament (Grand Rapids:
9

Wm. B.
Eerdmans Publishing Co., s. d.), vol. V, p. 335.
10
The Book of Revelation (Chicago: Grace Publications, 1935), p. 5.
11
G. Abbott-Smith, A Manual Greek Lexicon of the New Testament (2s ed.; Edimburgo:
T. & T.
Clark, 1923), p. 405.
12
W. F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament
(Chicago: University
of Chicago Press, 1957), p. 755.
13
“Revelation”, Commentary on the Holy Scriptures, ed. J. P. Lange (Grand Rapids:
Zondervan
Publishing House, s. d.), p. 89.

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