G.C.S. – Um mês e 10 dias de vida, nascido em 17/10/2019, masculino, branco, natural
e residente em Era Nova -MG , procurou PSI do HMGV em 27/11/2019 . A mãe levou a criança ao PSI por encontrar-se com dor intensa aos movimentos dos membros e “inchaço”. A mãe é casada, tem boas condições de moradia e higiene, primeiro filho e sem nenhum outro dado epidemiológico ou fator de risco identificado. Não fez pré-natal, mas apresentava VDRL e sorologia para HIV negativos feitos em 24/07/2019. Relata que não apresentou nenhuma anormalidade durante a gestação e que na maternidade não foi solicitado nenhum exame de sangue. A criança nasceu de parto normal, a termo, com peso de 3400g medindo 50 cm. Recebeu alta 48 horas após o parto, sem complicações e em aleitamento materno exclusivo. O quadro começou com dor e edema nos membros superior e inferior à esquerda (punho e joelho) com choro imediato e intenso ao mínimo toque e com piora progressiva Após 20 dias surgiram lesões pápulo-vesiculosas no tórax , abdome e membros quando já não mobilizava o membro superior e inferior esquerdos (Pseudoparalisia de Parrot) mas com edema e dor também contra lateralmente Ao exame a criança não sustentava a cabeça, não apresentava rigidez de nuca, reflexo de Moro estava abolido, com a preensão palmar débil a esquerda, reflexo de sucção presente. Estava hipocorado ++/++++, hidratado, acianótico, anictérico, pupilas fotorreagentes, fontanela anterior normotensa, febril (39,3ºC), taquicárdico, sem gânglios palpáveis. Exame físico dos sistemas cardiovascular e respiratório normais. Abdome flácido, com peristalse, indolor, apresentava hepatoesplenomegalia. Otoscopia, oftalmoscopia e ecocardiograma normais, cavidade oral com monilíase Os exames mostraram anemia (Ht:17%), hemoglobina 6,6% , leucocitose sem desvio (10.000), Coombs direto negativo, fosfatase alcalina elevada, TORCH positivo para herpes, VDRL positivo na criança (1:512) e na mãe (1:64), sorologias para HIV e hemoculturas negativas. O VDRL estava positivo no líquor e os raios-x mostravam metafisite e periostite nos, punhos e joelhos bilateralmente, mais pronunciada à esquerda.
QUESTÕES REFERENTES AO CASO CLÍNICO ACIMA DESCRITO
1-Retire do caso o conjunto de sinais e sintomas sugestivos de sífilis congênita e cite pelo menos dois diagnósticos diferencial para cada um deles. 2- Do quadro acima o que mais chamou atenção para o diagnóstico de sífilis congênita? 3- Explique e justifique cada um dos exames que foram realizados. 4- Em relação ao líquor que outros resultados seriam positivos para suspeita de neurossífilis . 5-Quais são os métodos diagnósticos para sífilis (exames diretos e imunológicos) Explique cada um desses métodos. 6- Em relação ao bebe que outro(S)exame(s) poderiam ter sido realizados para comprovar sífilis congênita? Teriam sido necessários?Justifique sua resposta . 7- TRATAMENTO - Qual o tratamento para este bebe?Justifique. 8- Explique a transmissão vertical da sífilis congênita . 9-Qual o estágio provável da mãe?Justifique. 10- Em relação à mãe, desde o início da gestação ,pre-natal,parto,puerpério e alta, por que não foi detectado o risco da transmissão vertical para sífilis congênita? O que é preconizado pelo protocolo do Ministério da Saúde 11- Explique e justifique o seguimento ambulatorial deste bebe.
RESPOSTAS
Vamos abordar cada uma das questões:
1. Sinais e sintomas sugestivos de sífilis congênita:
- Lesões pápulo-vesiculosas no tórax, abdome e membros (pseudoparalisia de Parrot): diagnósticos diferenciais incluem dermatite seborreica e dermatite atópica. - Hepatoesplenomegalia: diagnósticos diferenciais incluem outras causas de hepatomegalia e esplenomegalia, como infecções virais congênitas, doenças metabólicas, e hemoglobinopatias.
2. O que mais chama atenção para o diagnóstico de sífilis congênita:
- A presença de lesões pápulo-vesiculosas e hepatosplenomegalia associadas a um quadro clínico compatível com sífilis congênita.
3. Explicação e justificação dos exames realizados:
- VDRL: triagem para sífilis. - Hemograma completo: avaliação da anemia e leucocitose. - Coombs direto: exclusão de anemia hemolítica. - Fosfatase alcalina: marcador de hepatite e lesão hepática. - TORCH positivo para herpes: triagem para outras infecções congênitas. - Hemoculturas: exclusão de infecções bacterianas sistêmicas. - Raios-X: evidência de alterações ósseas características de sífilis congênita.
4. Outros resultados positivos para suspeita de neurossífilis no líquor:
- Proteína e células nucleares elevadas, além da presença de treponemas.
5. Métodos diagnósticos para sífilis:
- Exames diretos: observação microscópica direta de Treponema pallidum em lesões suspeitas. - Exames imunológicos: VDRL e FTA-ABS são os principais, detectando anticorpos contra o Treponema pallidum.
6. Outros exames para comprovar sífilis congênita:
- PCR para detecção direta do Treponema pallidum no sangue ou líquor. Não seriam necessários no caso descrito, pois os exames de triagem já foram conclusivos.
7. Tratamento para o bebê:
- Penicilina G benzatina é o tratamento de escolha para sífilis congênita de acordo com a gravidade da doença e a idade do paciente. Justificativa: é eficaz na erradicação do Treponema pallidum e prevenção de complicações.
8. Transmissão vertical da sífilis congênita:
- Transmissão do Treponema pallidum da mãe para o feto durante a gestação ou parto.
9. Estágio provável da mãe:
- A mãe provavelmente está no estágio secundário ou terciário da sífilis, considerando os sintomas clínicos e o resultado positivo do VDRL.
10. Risco de transmissão vertical não detectado:
- O não acompanhamento pré-natal, falta de exames de triagem durante a gestação e falta de consciência sobre os riscos da sífilis congênita contribuíram para a não detecção do problema. O protocolo do Ministério da Saúde preconiza a realização do VDRL no primeiro e terceiro trimestres da gestação.
11. Seguimento ambulatorial do bebê:
- O bebê deve ser acompanhado regularmente por um pediatra especializado em doenças infecciosas, com monitoramento do tratamento e avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor, além de exames de controle para avaliar a resposta ao tratamento.