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NASCER E CRESCER

revista do hospital de crianças maria pia


ano 2004, vol. XIII, n.º 2

Sífilis Congénita

Carla Zilhão1, Rui Almeida1, Clara Vieira1, Guilhermina Reis2, Margarida Guedes3

RESUMO Na década de 90 assistiu-se a um podem ser divididos essencialmente em


A Sífilis é uma doença infecciosa ressurgimento desta doença, muito dois grandes grupos: os testes não tre-
descrita pela primeira vez há cerca de provavelmente relacionado com factores ponémicos (VDRL - venereal disease
500 anos. Contudo, está longe de poder de ordem social, como a toxicode- research laboratory; RPR - rapid plasma
ser considerada uma patologia do pas- pendência e a prostituição a ela associa- reagin) e os testes treponémicos (FTA-
sado, permanecendo uma causa impor- das (3,4), com uma repercussão importante abs - Fluorescent treponemal antibody
tante de doença venérea, com possíveis no aparecimento de novos casos em absorption; TPHA - T pallidum hemagglu-
implicações na morbilidade e mortalidade recém-nascidos (RN). tination assay).
neonatal. A infecção precoce na grávida não Os testes não treponémicos são
Ao contrário de outras doenças de tratada transmite-se em 60-100% dos bons testes de rastreio, com uma sensi-
transmissão sexual que afectam o recém- casos ao feto, resultando em 40% de bilidade elevada. Correlacionam-se com
-nascido, a Sífilis congénita pode ser mortes fetais ou perinatais (5,6). a actividade da doença, tornando-se não
prevenida e/ou tratada in utero, desde A prevenção da Sífilis congénita reactivos após terapêutica; em alguns
que devidamente rastreada, sendo mes- assenta na vigilância serológica da casos podem persistir títulos baixos
mo considerada por alguns como uma gravidez, que deverá ser efectuada em 3 destes anticorpos, de 1-2 diluições no
falha da vigilância pré-natal. ocasiões: na 1ª consulta, entre as 12 e caso da VDRL, por períodos longos (por
Por outro lado, apesar de décadas as 22 semanas e entre as 28 e as 32 vezes para sempre).
de experiência com a Sífilis congénita, semanas (segundo protocolo da Direcção Dada a possibilidade de resultados
ainda surgem problemas na definição de Geral de Saúde (7)). Em caso de falha da falsos positivos, um VDRL positivo na
caso índice, avaliação diagnóstica, trata- vigilância serológica ou situações de mãe deve ser sempre confirmado com
mento e seguimento, pelo que os autores elevado risco (p.ex., toxicodependência um teste treponémico. O fenómeno de
se propõem a delinear um guia de e prostituição maternas) torna-se funda- pró-zona (reacção fracamente positiva
abordagem e tratamento da mesma. mental o conhecimento da serologia da ou negativa perante um título de anticorpo
Palavras-chave: Recém-nascido; mãe na altura do parto; a alta do recém- não treponémico muito elevado) é o
Sífilis congénita; diagnóstico; tratamento. nascido deverá ser condicionada por exemplo de um resultado falso negativo
esse resultado. que poderá ser corrigido através da
Nascer e Crescer 2004; 13 (2): 127-132 diluição do soro - Quadro I.
Os testes treponémicos têm pouca
DIAGNÓSTICO correlação com a actividade da doença,
INTRODUÇÃO O diagnóstico de certeza só é possí- na sua maioria mantendo-se reactivos
A Sífilis é uma doença infecciosa vel quando o Treponema pallidum é para toda a vida, mesmo após terapêutica
causada por uma espiroqueta - o Tre- identificado directamente em tecidos ou (em 15-25% dos doentes tratados num
ponema pallidum. Se tratada precoce- exsudados de lesões por exame micros- estadio precoce ocorre reversão seroló-
mente é facilmente curável. No entanto, cópico em campo escuro ou através de gica 2-3 anos depois).
poderá ter consequências graves (no- testes que utilizam anticorpos anti- Os novos testes (FTA-ABS 19s IgM,
meadamente alterações do SNC, cardio- treponémicos fluorescentes específicos. PCR) estão ainda em fase de inves-
vasculares, ósseas, oftalmológicas e Este tipo de testes nem sempre está tigação, só estando disponíveis em
auditivas), caso não se interrompa atem- disponível, dada a necessidade de uma alguns laboratórios de referência (4,6,8-11).
padamente o curso natural da doença observação rápida dos produtos que O doseamento do título em IgM anti-T
(1,2)
. contêm o agente, que é pouco resistente pallidum pelo método ELISA no RN
fora do hospedeiro. Actualmente não é poderá também ser utilizado para o
possível cultivar in vitro o T pallidum. diagnóstico; contudo, dada a sua baixa
1
Interno Complementar de Pediatria
2
O diagnóstico de presunção baseia- sensibilidade, se for negativo não permite
Assistente Hospitalar
3
Assistente Hospitalar Graduado se em vários testes serológicos, que excluir uma Sífilis congénita.

artigos de revisão 127


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Quadro I • transaminases, bilirrubina total e


Exemplo de falsos positivos e de falsos negativos nos testes não treponémicos directa;
• ecografia abdominal;
Falsos positivos Falsos negativos
• função renal e urina tipo II;
• Doenças autoimunes (lúpus) • Sífilis primária precoce • Rx do tórax (se existem sintomas/
• Neoplasias (linfomas) • Sífilis latente tardia sinais de doença pulmonar);
• Toxicodependentes (drogas IV) • Sífilis congénita tardia • ecografia transfontanelar;
• Infecções víricas (mononucleose infecciosa, • Fenómeno de pró-zona • exame oftalmológico;
hepatite, varicela, sarampo) e outras (tuber- • potenciais auditivos evocados;
culose, malária, endocardite) • marcadores víricos para o VIH,
• Imunizações hepatite B e C;
• Gravidez (controverso) • Rx dos ossos longos (a menos
que o diagnóstico já tenha sido estabe-
lecido de outra forma) (17).
O exame anatomo-patológico da • história completa e documentada
placenta e cordão umbilical permite do tratamento materno (se tiver existido)
identificar alterações sugestivas de e da sua evolução, bem como de outros TRATAMENTO
infecção (placenta desproporcional- dados referentes à gravidez (sinais A decisão de tratar assenta em 4
mente grande, vilite proliferativa focal, ecográficos de Sífilis fetal - hepatome- pressupostos:
arterite endo e perivascular, imaturidade galia, ascite, hidrópsia fetal não imune; • diagnóstico de Sífilis na mãe;
difusa ou focal das vilosidades placen- ACIU; prematuridade) (12,13). • adequação do tratamento materno;
tares e “funisitis” - processo necrotizante A continuação da avaliação deverá • evidência clínica, laboratorial e
do cordão8 umbilical (4,12,13). ser efectuada se (5): radiológica de Sífilis no RN;
• existir um exame físico anormal • comparação dos títulos de VDRL
consistente com Sífilis congénita; materno e do RN na altura do parto.
AVALIAÇÃO • o título de VDRL da criança for 4 Assim, definem-se quatro grupos
Nenhum RN deverá ter alta hospi- vezes superior ao da mãe; com abordagens terapêuticas diferen-
talar sem que haja conhecimento de • os testes de microscopia em cam- ciadas (Quadro V) (5,6).
pelo menos um resultado de VDRL po escuro ou com anticorpos anti-tre- Se a terapêutica for interrompida
durante a gestação e, de preferência, ponémicos específicos forem positivos por um período superior a um dia todo o
repetido na altura do parto (1,5,14). e/ou o exame histológico da placenta/ esquema deve ser reiniciado.
Todos os RN filhos de mães com cordão umbilical ou outros dados da Deve ser sempre instituído um
serologias reactivas para a Sífilis devem gravidez forem sugestivos; tratamento com PNC durante 10 dias,
ter a seguinte avaliação: • se a história de tratamento materno mesmo se foi usada inicialmente ampi-
• exame físico completo, com es- contemplar uma ou mais das seguintes cilina (p.ex. por suspeita de sépsis).
pecial atenção para evidência de Sífilis condições: A reacção de Jarish-Herxheimer
congénita (Quadro II) (2,4,15,16); • Sífilis não tratada, tratada inade- consiste num agravamento clínico asso-
• VDRL e IgM-Elisa no soro1 (não é quadamente (Quadro III) ou tratamento ciado a febre, que ocorre habitualmente
necessário fazer um teste treponémico); não documentado; nas primeiras 24 h após o início do
• se possível: exame histológico da • Sífilis durante a gravidez tratada tratamento. É uma situação auto-limitada
placenta e/ou cordão umbilical usando com um regime sem penicilina (PNC), e que não significa alergia ao tratamento,
uma coloração com anticorpos fluores- p.ex. eritromicina; pelo que deverá ser continuado.
centes anti-treponémicos específicos e • Sífilis tratada menos de um mês Um RN com Sífilis congénita é
exame de lesões suspeitas ou fluidos antes do parto; altamente contagioso, pelo menos até
corporais (ex. rinorreia) com microscopia • mãe com Sífilis precoce em que o 24 horas após o início da terapêutica,
em campo escuro ou com coloração título de VDRL não diminuiu pelo menos pelo que, durante esse período, o manu-
com anticorpos fluorescentes anti-tre- 4 vezes (falha de tratamento) ou aumen- seamento do RN (incluindo aspiração
ponémicos específicos; tou 4 ou mais vezes (reinfecção). nasofaríngea, intubação naso-gástrica,
limpeza de lesões cutâneas e mucosas
A continuação da avaliação com- e colheita de produtos) deverá ser
preende (Quadro IV) (16): realizado com luvas.
1
Não deve ser utilizado sangue do cordão por • exame do líquor (LCR) para VDRL,
possibilidade de contaminação com sangue materno;
se a serologia materna é desconhecida efectua-se células e proteínas;
em primeiro lugar a serologia da mãe na altura do • hemoleucograma (com contagem
parto.
diferencial de leucócitos) e plaquetas;

128 artigos de revisão


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Quadro II
Achados clínicos na Sífilis Congénita
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DE
Precoce Tardia (>2 anos)
CRIANÇAS COM MAIS DE UM MÊS
• Hepatoesplenomegalia (com ou sem • Bossas frontais
icterícia) DE IDADE
• Maxilares pequenos
• Hepatite Crianças com testes serológicos
• Nariz em sela
• Pancreatite reactivos para a Sífilis detectados após o
• Macrognatia
• Miocardite • Palato com arco elevado período neonatal obrigam a uma revisão
• Má-absorção GI • Dentes de Hutchinson* dos registos maternos (serologias), com
• Anemia (hemolítica não imune) (incisivos superiores em forma de mola) o intuito de distinguir uma Sífilis congénita
• Trombocitopenia • Molares em framboesa de uma Sífilis adquirida.
• Linfadenopatia generalizada • Fissuras periorais (rágadas) Se existir a possibilidade de se tratar
• Alterações ósseas • Derrames articulares bilaterais nos de uma Sífilis congénita, deve-se proce-
- periostite diafisária (ossos longos) membros inferiores (joelhos), articulação
- osteocondrite (distrofia metafisá- der a uma avaliação completa (incluindo
de Clutton
ria) que condiciona a pseudo-para- exame do LCR, exame oftalmológico,
• Sinal de Higouménakis (espessamento
lisia de Parrot ecografia transfontanelar, potenciais
da porção esterno-clavicular da clavícula)
- sinal de Wimberger (destruição • Tíbias em sabre auditivos evocados, etc.).
da região medio-proximal das • Escápulas aladas Qualquer criança com a possibili-
tíbias) • Queratite intersticial* dade de apresentar uma Sífilis congénita
• Lesões muco-cutâneas • Alterações neurológicas (diagnosticada após o primeiro mês de
- placas mucosas - atraso mental vida) ou com envolvimento neurológico
- máculas pigmentadas (condiloma - surdez do VIII par craneano* deve ser tratada com PNC G cristalina
lata) - hidrocefalia
- exantema maculo-papular ou aquosa, 50 000 U/kg/dose, IV, cada 4-6
- tabes juvenil
vesicobolhoso, que evolui para horas, durante 10 dias (5,6). Poderá
descamação ainda ser administrado uma dose única
- qualquer exantema inexplicável de PNC G benzatínica 50 000 U/kg, IM,
que atinja as palmas das mãos ou no fim do tratamento referido anterior-
as plantas dos pés mente.
- dermatite das fraldas intratável
• Rinite persistente
• Nefrite/Síndrome nefrótico
OUTROS ESQUEMAS TERAPÊU-
• Pneumonite (“pneumonia alba”)
• Alterações neurológicas TICOS
- invasão assintomática do SNC As crianças que manifestem alergia
- leptomeningite à PNC devem ser dessensibilizadas e
- meningovasculite crónica tratadas com PNC. Se se optar por um
- hidrocefalia antibiótico que não a PNC deve ser feita
- paralisia dos nervos craneanos uma monitorização rigorosa das
- enfarte cerebral serologias e de alterações do LCR, uma
- convulsões vez que não há dados concretos acerca
- hipopituitarismo
da eficácia de outros fármacos (p. ex.
• Anomalias oftalmológicas
- coriorretinite ceftriaxone).
- cataratas
- glaucoma/uveíte
• Má evolução estatoponderal SEGUIMENTO
• Febre Todos os RN seroreactivos (ou RN
Notas: A sublinhado os achados mais frequentes. (*)Tríade de Hutchinson. A queratite intersticial, com mãe seroreactiva na altura do parto)
a surdez e a articulação de Clutton podem representar um fenómeno de hipersensibilidade. devem ser examinados ao 1º mês de
vida; aos 2-3 meses devem ser reexa-
minados e testados serologicamente2,
devendo esta avaliação manter-se com
este intervalo de tempo (i.e. cada 2-3
meses) até que os testes se tornem não
reactivos ou que o título desça 4 vezes3.
2
A VDRL deve ser executada preferencialmente no mesmo laboratório dos exames anteriores. Os títulos de VDRL devem diminuir
3
Adescida do título 4 vezes é equivalente a uma redução de duas diluições (p. ex. de 1:16 para 1:4 diluições).
pelos 3 meses e devem ser não reactivos

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Quadro III aos 6 meses, se o RN não foi infectado


Tratamento adequado da grávida (e do parceiro sexual) ou se, tendo sido infectado, foi adequada-
⇒ Sífilis 1ª ou 2ª, Sífilis latente precoce (<1 ano) mente tratado. Esta resposta serológica
pode ser mais lenta em crianças tratadas
• PNC G benzatínica 2 400 000U, IM, dose única (alguns autores advogam uma 2ª após o período neonatal.
dose de PNC G benzatínica na mesma dose, uma semana depois) Se estes títulos permanecerem
estáveis ou estiverem a aumentar após
⇒ Sífilis latente tardia, de duração desconhecida (ou Sífilis 3ª) os 6-12 meses de idade, a criança deverá
ser reavaliada (incluindo exame do LCR)
• PNC G benzatínica 2 400 000U, IM, 1 vez por semana, 3 doses e tratada novamente com PNC G cris-
talina, IV, 10 dias.
⇒ Neurosífilis Se na avaliação inicial existiam
alterações do LCR, a punção lombar
* PNC G cristalina 18 000 000 - 24 000 000U/dia (3 000 000 a 4 000 000U, 4-4h, IV) (PL) deve ser repetida aos 6 meses
10-14 dias juntamente com o exame oftalmológico,
ecografia transfontanelar e potenciais
Nota: não há alternativas documentadas ao tratamento com PNC durante a gravidez; se existir
história de alergia, a grávida deve ser dessensibilizada e tratada com PNC, segundo protocolos auditivos evocados. Se o exame do LCR
publicados na literatura4. aos 6 meses for normal não se toma
qualquer atitude; se for anormal, repete-
se o tratamento (50 000U/kg/dose, IV,
Quadro IV cada 4-6 horas, 10 dias) e a PL passados
Alguns resultados/indicações dos exames complementares outros 6 meses.
Um teste treponémico reactivo após
Exame do LCR • VDRL: se for negativo não exclui neurosífilis; se for positivo pode dever-se os 18 meses de idade é indicativo de
a um título de VDRL no sangue muito elevado Sífilis congénita. Se nessa altura o teste
• Citoquímico (normal)*: de VDRL for reactivo deve fazer-se uma
Leucócitos (/mm3) proteínas (mg/dl) reavaliação completa e tratar; se for
Período neonatal < 25 leuc. <150 negativo não é necessária qualquer
intervenção médica.
>28 dias < 5 leuc. < 40 O seguimento de crianças tratadas
Hemograma • anemia hemolítica não imune após o período neonatal deve ser idêntico
• trombocitopenia ao indicado para a Sífilis congénita nos
• monocitose (pode ocorrer) RN.
Transaminases/ • hepatite Os testes serológicos não-treponé-
Bilirrubina (T, D) • hiperbilirrubinémia (directa ou indirecta) micos podem ser negativos em RN
Urina tipo II • hematúria, proteinúria (pode ser nefrótica) infectados no fim da gravidez pelo que
Ecografia • deve fazer-se perante qualquer suspeita de infecção congénita devem ser repetidos (p.ex. entre os 3-6
transfontanelar • microvasculopatia mineralizante (± inespecífica, podendo existir noutras meses).
infecções víricas e bacterianas) Em relação às crianças VIH+ (ou
• hidrocefalia (se existe meningite) com mães VIH+) não existem dados
Exame • aparência de fundo ocular “salt and pepper”; bilateral; a visão não é afectada suficientes que suportem a hipótese
oftalmológico e esta forma da doença não é progressiva; desaparece espontaneamente e destes pacientes necessitarem de
parece não recorrer avaliação, terapêutica e seguimento
• pode ocorrer degeneração pigmentar 2ª da retina (estreitamento e esclerose diferentes dos outros.
dos vasos da coróide e retina;
• atrofia do nervo óptico); é sempre bilateral; a visão pode estar afectada
Potenciais • se suspeita/evidência de neurosífilis CONGENITAL SYPHILIS
auditivos
evocados ABSTRACT
Rx ossos longos • controverso: só se o diagnóstico não tiver sido estabelecido de outra forma; Syphilis is an infectious disease that
• não diferenciam entre infecção activa, passada (infecção que foi was first described 500 years ago.
adequadamente tratada há menos de 6 meses) ou outras doenças. However it is far from being considered a
Notas: (*) alguns autores consideram preferível usar como valores normais os valores inferiores ghost from the past, accounting for the
(i.e. 5 leucócitos/mm3 e proteínas de 40 mg/dL) para todas as idades. most prevalent venereal diseases that
may affect the fetus or the newborn.

130 artigos de revisão


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Quadro V Jenson HB, eds. Nelson Textbook of


Abordagem Terapêutica Pediatrics. Philadelphia: WB Saunders
GRUPO I Company, 2003: 978-82.
R.N. com doença provada ou altamente Tratamento: 3 - Sison CG, Ostrea EM, Reyes MP,
provável • PNC cristalina aquosa, IV, durante 10 dias, Salari V. The ressurgence of congenital
a) exame físico anormal compatível com 50 000 U/kg/dose, 12-12 horas nos primeiros syphilis: a cocaine-related problem. The
Sífilis congénita; 7 dias e de 8-8 horas a partir do 8º dia5;
Journal of Pediatrics 1997; 130(2): 289-
b) título de VDRL da criança ≥ 4 vezes o título • em caso de recurso, e só se não existirem
da mãe; alterações do LCR, poderá ser utilizado um 292.
c) exame microscópico em campo escuro ou esquema alternativo: PNC procaínica 50 000 4 - Sánchez PJ, Wendel GD. Syphilis in
através de testes que utilizam anticorpos U/kg/dia, IM, 10 dias. pregnancy. Clin Perinatol 1997; 24(1):
antitreponémicos fluorescentes específicos
71-87.
positivo.
5 - Centers for Disease Control and
GRUPO II Prevention. 2002 guidelines for treatment
R.N. assintomático, com título de VDRL Tratamento: of sexually transmited diseases. Morb
≥4 vezes o título da mãe e: • PNC G cristalina aquosa (ou PNC G Mortal Wkly Rep 2002; 51(RR-6).
a) mãe não tratada, tratamento inadequado procaínica), 10 dias; ou
ou não documentado; • PNC G benzatínica 50 000 U/kg, dose 6 - Goh BT, van Voorst Vader PC.
b) Sífilis durante a gravidez tratada com um única, IM, se a avaliação do R.N. é European guideline for the management
regime sem PNC; completamente normal e o seguimento está of syphilis. Int J STD AIDS 2001;12:
c) Sífilis tratada menos de um mês antes do assegurado. 14-26.
parto;
d) mãe com Sífilis precoce e o título de VDRL 7 - Orientações Técnicas nº 2 - Vigilância
não dominuiu pelo menos 4 vezes (ou pré-natal e revisão do puerpério. Divisão
aumentou 4 vezes). de Documentação. Direcção-Geral dos
GRUPO III
Cuidados de Saúde Primários. Lisboa,
1991.
R.N. assintomático, com título de VDRL Tratamento:
<4 vezes o título da mãe e: • PNC benzatínica 50 000 U/kg, dose única, 8 - Stoll BJ, Lee FK, Larsen S, Hale E,
a) mãe tratada durante a gravidez, tratamento IM; ou Schwartz D, Rice RJ, et al. Clinical and
apropriado ao estadio da infecção e adminis- • nenhum tratamento (apenas vigilância serologic evaluation of neonates for
trado > 1 mês antes do parto; clínica e serológica). congenital syphilis: a continuing diagnos-
b) títulos de VDRL maternos diminuíram 4
vezes após tratamento de sífilis precoce ou tic dilemma. J Infect Dis 1993; 167:
mantiveram-se estáveis e baixos na sífilis 1093-9.
tardia; e 9 - Larsen SA, Steiner BM, Rudolph AH.
c) mãe sem evidência de recidiva ou Laboratory diagnosis and interpretation
reinfecção.
of tests for syphilis. Clin Microb Rev
GRUPO IV 1995; 8(1):1-21.
R.N. assintomático, com título de VDRL Tratamento: 10 - Litwin CM, Hill HR. Serologic and
<4 vezes o título da mãe e: • nenhum tratamento (apenas vigilância DNA-based testing for congenital and
a) tratamento materno adequado antes da clínica e serológica); ou perinatal infections. Pediatr Infect Dis J
gravidez; e • PNC G benzatínica 50 000 U/kg, dose
b) títulos de VDRL maternos baixos e estáveis única, IM. 1997; 16(12):1166-75.
durante a gravidez e parto (VDRL ≤1:2). 11 - Pablo JS. Laboratory tests for syphilis.
Ped Infect Dis J 1998; (17)1: 70-71.
The prevention and in utero treat- Key-words: Newborn; Congenital 12 - Narducci F, Switala I, Rajabally R,
ment of congenital Syphilis is possible as Syphilis; diagnosis; treatment. Decocq J, Delahousse G. Syphilis
long as the screening is correctly made maternelle et congenitale. J Gynecol
to all pregnant women, what is considered Nascer e Crescer 2004; 13 (2): 127-132 Obstet Biol Reprod Paris 1998; 27(2):
an advantage when compared to other 150-60.
sexually transmitted diseases that affect 13 - Hollier M. Lisa, Harstad W. Timothy,
the newborn. BIBLIOGRAFIA Sanchez J. Pablo, Twickler M. Diane,
Despite decades of experience with Wendel D. George. Fetal Syphilis: clinical
congenital syphilis, problems still arise in 1 - Peter G, ed. Red Book: Report of the and laboratory characteristics. Obstet
case definition, diagnostic evaluation, Committee on Infectious Diseases. Elk Gynecol 2001; 97:947-53.
treatment and follow-up; that is the reason Grove village: American Academy of 14 - Neto MT; Lacerda A; Azevedo S.
why the authors propose this guideline of Pediatrics, 2000. Diagnóstico e terapêutica de algumas
evaluation and treatment of congenital 2 - Azimi P. Syphilis (Treponema palli- situações infecciosas na gravidez e
syphilis. dum). In: Behrman RE, Kliegman RM, periparto. In: Consensos em Neona-
tologia. Coimbra: Secção de Neonato-

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logia da Sociedade Portuguesa de 16 - Ikeda MK, Jenson HB. Evaluation Correspondência:


Pediatria. Secção de Neonatologia, 1995: and treatment of congenital syphilis. J Carla Zilhão
45-86. Pediatr 1990; 117(6): 843-52. Rua Jornal de Notícias, 806 - 3º esq.
15 - Sung L, MacDonald NE. Syphilis: A 17 - Moyer VA, Schneider V, Yetman R, 4100 Porto
pediatric perspective. Pediatr Rev 1998; Garcia Prats J, Parks D, Cooper T. Contri- Telefone 939205162
(19)1: 17-22. bution of long bone radiographs to the E-Mail - carlazilhao@netcabo.pt
management of congenital syphilis in the
newborn infant. Arch Pediatr Adolesc
Med 1998; 152(4): 353-7.

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