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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE PUERICULTURA E PEDIATRIA MARTAGÃO GESTEIRA


SERVIÇO DE DIP PEDIÁTRICA

Toxoplasmose Congênita (TC)


1- Introdução
A TC resulta da infecção aguda, usualmente assintomática, da gestante, que se
infecta com T. gondii pela ingestão de oocistos encontrados em água, verduras, frutas; ou
cistos em carne crua ou mal cozida. A infecção fetal ocorre pela passagem
transplacentária dos taquizoítos. Gestantes imunodeficientes cronicamente infectadas
podem transmitir o T. gondii para seus fetos.
Há maior risco de infecção congênita aparente, se a infecção materna ocorreu no
1º e 2º trimestres da gestação, porém, a infecção fetal é mais freqüente se ocorrer no 3º
trimestre. O uso de drogas anti-toxoplasma na gestante pode diminuir as lesões no feto.

2- Quadro Clínico
A maioria das crianças é assintomática ao nascer. Hidrocefalia, coriorretinite e
calcificações intracranianas compõe a tríade clássica da TC. Podem ocorrer
adenomegalia, hepatoesplenomegalia, anemia, trombocitopenia, eosinofilia, pneumonia,
microftalmia, amaurose, microcefalia, retardo mental e anormalidades no LCR.

3. Diagnóstico laboratorial
3.1. Na gestante: Na infecção aguda há soroconversão ou aumento de 4 títulos na IgG
anti-toxoplasma em soros pareados ou na presença de IgM e IgG positivas, com baixa
avidez de IgG (infecção ocorrida a menos de 3 meses da realização do exame). Os testes
mais utilizados são a imunofluorescência indireta, ELISA e ELISA avidez de IgG.

Perfis sorológicos da toxoplasmose:


IgM e IgG negativos: ausência de infecção *
IgM positiva e IgG negativa: infecção aguda*
IgM e IgG positivas: infecção recente ou subaguda **
IgM negativa e IgG positiva: infecção crônica***
* risco de infecção congênita
** se avidez de IgG é alta no 1º trimestre, exclui infecção adquirida recentemente. A baixa avidez em
qualquer momento da gestação deixa dúvidas quanto ao risco de infecção congênita
*** perfil mais freqüente

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3.2. Diagnóstico pré-natal de toxoplasmose congênita:
- PCR no líquido amniótico a partir da 18ª semana de gestação. Tem valor preditivo
positivo (VPP) de 100% e valor preditivo negativo (VPN) de 99,7 %.
- Ultrassonografia (USG) para detectar anormalidades fetais e/ou placentárias.

3.3. Recém-nascido ou lactente


- Hemograma com plaquetas: anemia, plaquetopenia, eosinofilia, neutropenia.
- Ultrassonografia transfontanela (USGTF) e tomografia computadorizada do
crânio (TCC): calcificações intracranianas, dilatação ventricular, atrofia cortical.
- Exame do LCR: pleocitose e/ou aumento de proteínas e/ou detecção do parasita.
- Exame oftalmológico: coriorretinite, cicatrizes na retina, uveíte, vitriíte, catarata,
microftalmia, nistagmo, estrabismo etc.
- Exame audiológico: perda auditiva.
- Sorologia: os métodos sorológicos mais utilizados são ELISA e ELISA captura de
IgM, que têm alta sensibilidade para diagnóstico de TC. São critérios diagnósticos: IgM
(ou IgA, ou IgE) específica positiva após o 5º dia de vida, IgG específica
persistentemente positiva após o 12º mês de vida, e alterações sugestivas de infecção
congênita associadas à presença de IgM e/ou IgG específica em títulos ascendentes.
ü Valores de IgG no RN são freqüentemente superiores aos valores maternos e
progressivamente decrescem, com queda pela metade a cada 30 dias. Assim,
observam-se valores mínimos por volta do 4º mês. SE APÓS ESTE PERÍODO,
AINDA PERMANECEM NÍVEIS AUMENTADOS DE IgG, CUIDADO, POIS PODE
SER INDICATIVO DE INFECÇÃO CONGÊNITA.
ü A síntese de IgG pela criança pode ser inibida por IgG materna ou tratamento
específico iniciado precocemente, e a demonstração da produção pode se dar
tardiamente. Crianças nascidas de mães que adquiriram a infecção muito perto do
parto, podem apresentar títulos baixos de IgG, especialmente durante as 1as
semanas de vida; e nestes casos, o diagnóstico poderá não ser suspeitado. IgM
positivo é diagnóstico de infecção congênita (exceto nos primeiros 5 dias – escape
placentário). A IgM negativa não exclui o diagnóstico de infecção congênita.
ü Considerar criança não infectada, se apresentar duas sorologias negativas com
intervalo de, pelo menos, quatro semanas.

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4.1. Tratamento na gestante
Sulfadiazina – 1 a 1 ½ grama, VO, a cada 8 horas (3 a 4g/dia);
Pirimetamina – 25 mg, VO, 1 vez ao dia (25mg/dia);
Ácido folínico - 15 mg em dias alternados, VO, 1 vez ao dia.

Em situações específicas quando o risco de infecção fetal é baixo (como


soroconversão da gestante no 1º trimestre, PCR no líquido amniótico negativo), pode ser
utilizado o esquema com Espiramicina - 1 grama, via oral, a cada 8 horas (3g/dia).

Controle: hemograma e plaquetas a cada 15 dias enquanto durar o esquema com


sulfadiazina e espiramicina.

4.2. Tratamento na criança


Iniciar precocemente e estender até um ano de idade (mesmo nos casos de infecção
subclínica). O tempo ideal para terapia nas crianças não é conhecido. A terapia não tem
mostrado efetividade em erradicar a forma cística, especialmente no SNC e olhos.
Doses / Esquemas de tratamento:
- Sulfadiazina - 100mg/kg/dia em duas doses diárias, VO (1 comp=500mg);
- Pirimetamina – 1mg/kg/dia em dose única diária (por 6 meses), e posteriormente esta
dose 3 vezes por semana (às segundas, quartas e sextas-feiras), VO. A pirimetamina
é utilizada diariamente nas formas graves (1comp=25mg);
- Ácido folínico –5 a 10mg uma vez ao dia, três vezes por semana (1comp=15mg);
- Prednisona - 1 a 2 mg/kg/dia, VO, a cada 12 horas, se coriorretinite em atividade, ou
proteína no LCR acima de 1g/dl.
Controle: hemograma e plaquetas a cada 15 dias (durante o uso de sulfadiazina e
pirimetamina).

Indicações de punção de LCR:


1. Crianças com sintomas de infecção congênita;
2. Filhos de mães com infecção aguda ou recente durante a gestação, independente do
tratamento materno;
3. Reativação de toxoplasmose durante a gestação em mulher imunocomprometida;
4. Presença de IgM (mesmo quando assintomáticos);
5. 4º mês de vida com títulos de IgG ainda altos, sem queda (mesmo quando
assintomáticos).

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Abordagem diagnóstica e terapêutica na suspeita de toxoplasmose congênita

RN e lactente com suspeita


de toxoplasmose congênita
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Sinais e sintomas de toxoplasmose congênita
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SIM NÃO

- Iniciar Tratamento
- Coleta de LCR Mães com diagnóstico -Mães com infecção aguda
-Avaliar corticoterapia após não estabelecido ou recente na gestação
resultados do LCR e FO durante a gestação -Mães infectadas pelo HIV

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- Avaliação neurológica
- Avaliação da acuidade auditiva
- Fundo de olho a cada 3 meses
- Avaliação clínica mensal - Infecção congênita pelo Infecção
- Encaminhamento à fisioterapia T. gondii confirmada, congênita pelo T.
e fonoaudiologia se necessário manter tratamento gondii excluída
- Avaliar corticoterapia
após LCR ou FO 5

Alta do
Após o 1º ano de vida: ambulatório
- Avaliação clínica, neurológica e de DIP
da acuidade auditiva anual
- Fundo de olho a cada 6 meses
- Acompanhamento fisioterápico
e fonoaudiológico, se necessário

1 Avaliação clínica cuidadosa (inclui PC) / hemograma, plaquetas, TGO / Fundoscopia / IgM e IgG para T. gondii da mãe e bebê /
Rx de crânio, USTF, TCC, se manifestações clínicas presentes ou se exames anteriores alterados

2 Encaminhamento do bebê para avaliação devido a mãe ter apresentado IgM positivo para T. gondii durante a gestação

3 Realizar coleta de LCR / Iniciar tratamento e seguir passo 4

4 Avaliação clínica mensal (observar curva de PC e DNPM) / Fundo de olho a cada 3 meses / IgM e IgG para T.gondii aos 3, 4, 6,
9 e 12 meses de vida (observar quedas de títulos de IgG). Se títulos ainda altos de IgG por volta do 4º mês (ou queda lenta),
realizar coleta de LCR e TCC e iniciar TT (mães com infecção não definida) ou manter tratamento (mães com infecção aguda
ou recente). Manter medicamentos até a exclusão TC.

5 Ausência de sinais e sintomas (SS) de infecção congênita pelo T. gondii durante o acompanhamento clínico e laboratorial / IgM
e IgG negativas (se a criança recebeu TT específico anti-toxoplasma, confirmar com um 2º exame, 3 meses mais tarde, sem TT
durante este intervalo)

PC= perímetro cefálico DNPM= desenvolvimento neuropsicomotor TT= tratamento


SS= coriorretinite, anormalidade do SNC, esplenomegalia, hepatomegalia, icterícia associada a outro SS de TC

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