EFEITO DO ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO E DA CONCENTRAÇÃO DE

RECURSO EM Astronium fraxinifolium SCHOTT (ANACARDIACEA) SOBRE O

ATAQUE DE UM INSETO GALHADOR (DIPTERA: CECIDOMYIIDAE).
Jhonathan de Oliveira Silva1, Magnel de Lima Oliveira1, Fabiene Maria de Jesus1, Aline de
Figueiredo Murta1, Marcílio Fagundes1, Geraldo Wilson Fernandes2. (1Universidade Estadual
de Montes Claros, Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, Caixa Postal 126, Montes
Claros, MG, Av. Ruy Braga, Jardim Panorama, CEP39400-090, Montes Claros, MG.
2
Universidade Federal de Minas Gerais, e-mail: jhonathanos@yahoo.com).

Termos para indexação: Cerrado, herbivoria, entomologia, abundancia de galhas, interação

herbívoro-planta

Introdução
Os fatores que controlam a abundância da comunidade de insetos herbívoros têm
ocupado o centro das teorias sobre interação herbívoro-planta desde o início de seu
desenvolvimento (Price, 1992). Um padrão, frequentemente encontrado, descreve maiores
taxas de ataque em populações maiores e mais densas da planta hospedeira. Root (1973)
sugeriu que fatores como a densidade e tamanho da população das plantas hospedeiras seriam
importantes na estruturação das comunidades de insetos herbívoros. Estes estudos
culminaram na formulação da hipótese da concentração de recursos, que prediz que as
densidades de ataque crescem de acordo com o aumento da agregação e homogeneidade da
população de plantas hospedeiras. Esta hipótese foi originalmente proposta para o nível de
comunidade (Root, 1973) tendo se mostrada válida para diversos grupos de insetos (Begon et
al., 1996). Porém, para insetos galhadores, esta relação permanece controversa.
Outro fator que pode influenciar a abundância dos insetos herbívoros é o estágio de
desenvolvimento da planta. A hipótese da arquitetura da planta prediz que plantas maiores
hospedam um maior número de espécies de insetos galhadores, por serem estruturalmente
mais complexas, apresentando uma maior variação química e anatômica em suas folhas
(Lawton, 1983; Fleck e Fonseca, 2007). O incremento em altura da planta pode favorecer
mudanças microclimáticas, aumentando a disponibilidade de sítios de nidificação, oviposição
e abrigo para herbívoros (Espírito-Santo et al., 2007).
 Astronium fraxinifolium (Schott), conhecida como gonçalo-alves é uma planta nativa
do cerrado, onde forma grupamentos descontínuos (Aguiar et al., 2001). Ela apresenta porte
arbóreo, podendo atingir até 20m de altura. As folhas de A. fraxinifolium são compostas,
sendo que os folíolos geralmente são atacados por um herbívoro galhador (Diptera:
Cecidomyiidae). Este galhador induz a formação de galhas na superfície adaxial dos folíolos,
próximo às nervuras. As galhas são fusiformes, com 0,3 a 0,6cm de comprimento e
apresentam uma única câmara onde se desenvolve apenas uma larva do galhador (Fagundes,
2005). Desta forma, este estudo testou o efeito do estágio de desenvolvimento da planta e da
concentração de recursos no ataque do galhador (Diptera: Cecidomyiidae), visando elucidar
processos ecológicos que determinam a interação entre o herbívoro e sua planta hospedeira.

Material e Métodos
O estudo foi conduzido na área de Preservação Ambiental do Rio Pandeiros (APA -
Pandeiros), localizada no município de Januária (S15o 29’15” W44o 21’40”), norte de Minas
Gerais. A APA apresenta uma área de 380.000 ha, formando um mosaico de fisionomias
vegetais, em que se destacam o Cerrado, a Caatinga Arbórea, a Floresta Seca Calcárea, as
Matas Ciliares e as áreas de Planícies Alagáveis (IGA, 2006), sendo o Cerrado sensu stricto a
fisionomia mais dominante e com grande representatividade de A. fraxinifolium. Foram
escolhidos 50 indivíduos de A. fraxinifolium de diferentes classes de altura, dos quais todos
tiveram dez ramos retirados para a quantificação do ataque do galhador. Os ramos foram
ensacados e levados ao laboratório, onde o número de folíolos e de galhas por planta foram
registrados. Todos os indivíduos tiveram a sua altura estimada e a distância do indivíduo mais
próximo aferida.
A abundância média de galhas por folíolo em cada planta em função da altura e
distância do vizinho foi estimada através de análises de regressão, utilizando modelos
lineares generalizados (GLM). A abundância de galhas por folíolo foi utilizada como
variável resposta, enquanto a altura e distância do vizinho foram utilizadas como variáveis
explicativas para a construção do modelo completo. O modelo foi ajustado com a
distribuição de erro normal e função de ligação (log), sendo retirado os termos não
significativos, até a obtenção do modelo mínimo adequado. Este, por sua vez, foi submetido
a análises de resíduos (Crawley, 2002) para avaliar a adequação do modelo de distribuição de
erros. As análises foram realizadas através do software R.2.6.2 (R Development Core Team,
2008).

Resultados e Discussão
Não foi verificado efeito da distância do hospedeiro vizinho sobre a abundância de
galhas por folíolo (Tabela 1; Figura.1a). Dessa forma, ao contrário do que prediz a hipótese
da concentração de recursos (Root, 1973), fatores relacionados a complexidade estrutural da
vegetação, foram pouco importantes na determinação das taxas de ataque do galhador
(Diptera: Cecidomyiidae). Estes resultados sugerem que a variação na abundância de galhas
parece está mais relacionada às dinâmicas de colonização e complexidade estrutural do que
com a agregação da população da planta hospedeira. De fato, a hipótese da concentração de
recursos foi corroborada pelo trabalho de Cuevas-Reyes et al. (2004) em floretas tropicais no
México. Entretanto, Gonçalves-Alvim e Fernandes (2001) analisaram separadamente os
estratos da vegetação de cerrado e encontraram uma relação positiva entre a riqueza de
galhadores e as densidades de ervas e arbustos, mas não de árvores.
Por outro lado, a altura da planta afetou significativamente a abundância média de
galhas provocadas pelo galhador (Diptera: Cecidomyiidae) por folíolo (Tabela 1; Figura.1b).
Esse resultado pode ser explicado pelo fato destes herbívoros ovipositarem diretamente nos
folíolos, sendo influenciados de forma mais direta por fatores arquitetônicos, como sítios
meristemáticos e nível de ramificação (Espírito-Santo et al., 2007). Araújo et al. (2003)
também demonstraram que a abundância de insetos galhadores está positivamente relacionada
com a complexidade arquitetônica da planta hospedeira Baccharis pseudomyriocephala
(Asteraceae). Segundo, Faria & Fernandes (2001) o ataque do galhador Neopelma
baccharidis (Hemiptera: Psyllidae) pode estar associado à quantidade de recursos (número de
folhas = número de sítios de oviposição) e não ao vigor da planta.
Neste contexto o tamanho da planta hospedeira seria a variável mais importante, uma
vez que plantas maiores seriam capazes de sustentar maiores populações de insetos
galhadores. Se assumirmos que as plantas de uma mesma população estão sujeitas às
condições ambientais semelhantes, podemos admitir que o tamanho da planta está diretamente
relacionado à qualidade de recursos disponíveis para a colonização (meristemas). Os
resultados sugerem que é a distribuição e dinâmica destes recursos, no momento da
colonização pelo herbívoro, que determina as taxas de ataque no momento da amostragem.

Tabela 1. Modelos Lineares Generalizados para testar a abundância média de galhas por
folíolo associados à planta hospedeira A. fraxinilofium (n=50).

Variável Resposta Variável Explicativa d.f. Deviance Residual Residual P

d.f. deviance (>Chi)
Abundância de Modelo Nulo 48 203.675
Galha por Folíolo Distância 1 1.790 47 201.884 0.468
Altura da Planta (m) 1 41.296 46 160.588 0.0004*
Distância: Altura (m) 1 7.371 45 153.217 0.141

*Variável explicativa obtida do modelo mínimo adequado (p<0.05), sendo todos os modelos
ajustados a distribuição de erro normal.

a) b)

Figura.1. Abundância média de galhas por folíolo (a) em função da altura da planta (m) e (b)
em função da distância do vizinho mais próximo (m) em A. fraxinifolium (n=50).

Conclusões
 Assim, dada a especificidade dos insetos galhadores, a composição da flora é um
componente importante que pode influenciar estes resultados, pois a densidade de plantas não
exercerá efeito sobre a abundância de galhadores se não tiverem presentes espécies
hospedeiras na comunidade. No entanto, o efeito da concentração de recursos, densidade de
plantas, sobre a abundância de insetos galhadores não foi corroborado neste estudo. Por outro
lado, o parâmetro arquitetônico, a altura da planta, apresenta forte efeito na distribuição deste
galhador em sua planta hospedeira, existindo a necessidade de se testar em trabalhos futuros,
se outros parâmetros arquitetônicos seguem o mesmo padrão encontrado.

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