Curso – Saúde Coletiva

Ayres, J.R.C.M. O cuidado, os modos de ser (do)

humano
e as práticas de saúde.
(Humanização das práticas em saúde – parte 2)

Aula 02

Prof. Ms. Mathias Glens

 2

Diálogo
Agora a tarefa que se impõe é a tentar construir de um modo
tecnicamente mais organizado quais são as condições de possibilidade
da humanização em saúde.

E a primeira dessas condições de possibilidade é o privilegiamento da

dimensão dialógica do encontro.

Em outras palavras, trata-se não só de falar mas de genuinamente

ouvir o outro.
 3

Acolhimento

Outra condição de possibilidade é o acolhimento, definido como

deixar surgir o paciente positivamente no espaço assistencial e guiar
as intervenções propostas a partir de suas demandas efetivas.

O acolhimento pode acontecer em todas as oportunidades que

existem de se escutar o outro.

E para a qualidade da escuta faz toda diferença a definição de saúde

com a qual se trabalha.
 4

Escuta
Se saúde for apenas normalidade morfofuncional, a escuta será
dirigida à obtenção de subsídios objetivos para monitorá-la.

Os aspectos existenciais serão deixados de lado. São considerados

ruídos à conversa que “realmente interessa”.

Apesar de restritiva, a parte técnica do trabalho é cômoda e segura,

tanto para o profissional de saúde quanto para o usuário.

Desse modo, incluir os aspectos existenciais na escuta terapêutica

implica uma responsabilização.
 5

Responsabilidade e Identidade
Enquanto profissionais de saúde, quanto nos responsabilizamos pelos
projetos de felicidade de nossos usuários?

E diferentemente do campo da técnica, na escuta existencial não há

padrão, receita ou procedimento seguro a ser seguido.

E é por isso que se perguntar o quanto se é responsável pelo outro

implica em se perguntar quem se é, indagar-se sobre nossa
identidade.
 6

Responsabilidade e Identidade
Assim, a reconstrução constante das identidades, inclusive das
identidades profissionais, é outro elemento fundamental no processo
de humanização da saúde.

Engana-se, portanto, quem pensa que as identidades são rígidas. Elas

até podem se enrijecer.

Mas um ambiente de cuidado só será humanizado se as identidades

se deixarem transformar constantemente a partir do contato com a
alteridade.
 7
Discurso
Para tanto, é fundamental também abrir espaço para uma
discursividade mais livre e menos focada em anamnese.

Na anamnese, a fala do paciente apenas complementa as lacunas que

o profissional necessita para saber qual procedimento tomar.

Frente ao imperativo da reprodutibilidade técnica, a humanização da

saúde abre espaço para soluções mais heterodoxas ou singulares.

É uma espécie de retorno à valorização do “cada caso é um caso”.

A doença tem padrões biológicos mas o adoecimento é singular.

 8

Trabalho e cuidado em rede

A humanização também envolve ações fora dos serviços de saúde,
embora em articulação com ele.

Por exemplo: ações na escola para o desenvolvimentos de hábitos

saudáveis nas crianças, promoção de atividades físicas, atividades de
lazer e socialização com temas relacionados à saúde, ações de
desenvolvimento comunitário e participação política, integração com
ações de direitos humanos, etc.

Para isso acontecer, o investimento na contratação de equipes

multiprofissionais é fundamental.