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Sinopse ‘GATTACA’

O filme "Gattaca" aborda diversas questões éticas relacionadas com a


engenharia genética e manipulação genética. Durante o decorrer do filme
acompanhamos o protagonista Vincent Freeman, que finge ser Jerome
Eugene, isto porque Vincent é um bebé feito por ‘amor’, sem interferência da
manipulação genética. Neste mundo fictício, a fonte de aprovação social
provém dos genes, sendo estes determinantes para o seu currículo. Apesar
de ser fictício, está cada vez mais perto da nossa realidade, podendo ser um
filme que alerte para os riscos provenientes da engenharia e manipulação
genética.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar as frases de abertura desta obra
cinematográfica. A primeira, ‘Atenta na obra de Deus: Quem pode endireitar o
que Ele fez torto?’, é, assertivamente, uma declaração contra a engenharia
genética, porém facilmente refutável, uma vez que utiliza a religião como
argumento. Por outro lado, a segunda, ‘Eu não só acho que deveríamos
interferir com a Mãe Natureza, eu penso que Ela o quer.’, representa uma
frase claramente a favor da engenharia genética, e de como devemos
manipular aquilo que temos ao nosso alcance, uma vez que se temos a
chance e as capacidades para tal, porque não utilizar a nossa capacidade
máxima para melhorar a qualidade de vida. A forma como estas duas frases
iniciais se contradizem deixam as janelas abertas para a crítica e discussão
abrangida no filme: as questões éticas e morais acartadas com a engenharia
genética. Para além destas frases iniciais, podemos constatar a temática
crítica do filme através da apresentação dos créditos na abertura do filme,
visto que os realizadores destacam, em todas as linhas, 3 letras, que
pretendem representar o segmento de 3 nucleótidos presentes no DNA,
representados pelas letras A, C e T, que, quando sintetizados, formam uma
proteína.
Agora, centrando-se no desenvolver do filme, ao mostrar que apenas
pessoas com genomas superiores podem trabalhar em empregos de
prestígio, este filme pretende criticar e alterar para as divisões sociais,
marcadas pela hierarquia que não permite elevar aqueles que assim
desejam. Isto porque, uma família menos abastada não terá possibilidade de
conceber um filho manipulado geneticamente, diminuindo as chances deste
ter um genoma requintado, impossibilitando este de ter um emprego
renomeado, e, assim, nunca permitindo a evolução dos escalões da
sociedade. É deste modo, que o filme levanta questões sobre a equidade no
acesso destas tecnologias. Na mesma linha de pensamento, é críticada a
discriminação com base nas características genéticas, dividindo a sociedade
em ‘validos’ e ‘não-validos’, destacando as preocupações sobre a criação de
hierarquias baseadas nos genes.
Para além da discriminação baseada nas características genéticas, é notável
a crítica à escolha das características de um índiviudo à priori, uma vez que
esta escolha leva à perda da diversidade genética, levando os espectadores
a questionar se isto será éticamente aceitável, uma vez que estariamos a
caminhar para uma sociedade homogênea, artificial e obcecada pela
perfeição genética, não preservando a individualidade de cada um.
É também importante destacar os riscos, problemas e erros contemplados na
engenharia genética, uma vez que a segurança nem sempre é tida como
prioridade. O filme sugere que mesmo pequenos erros genéticos podem ter
consequências graves, destacando a importância de regulamentações
rigorosas e avaliação de riscos.
Por outro lado, é crucial não ignorar a importância da engenharia genética
para a melhoria da qualidade de vida do ser humano, uma vez que esta tem o
potencial para curar doenças genéticas, e prevenir o desenvolvimento de
outros problemas de saúde, uma vez que se escolhe, à partida, as
características mais saudáveis para o bebé.
Através da visualização deste filme, podemos ainda refletir sobre outras
questões éticas e morais que podem ser colocadas devido à evolução da
engenharia genética nos últimos anos, como a experiência em outros seres
vivos em benefício do ser humano, e a criação de armas biológicas. O
primeiro ponto é facilmente criticável, uma vez que que não é ético a
realização de experiências em outro seres vivos para benefício do ser
humano, e, felizmente, é possível observar uma conscientização da
sociedade sobre este tema, como por exemplo, na preferência por produtos
que façam parte do movimento ‘Animal Cruelty Free’. A segunda questão
pode ser, também, prontamente refutada, uma vez que a cultivação de um ser
humano geneticamente modificado com um único propósito de servir de arma
biológica vai contra a moralidade e ética em todos os sentidos.
Num aspecto mais moral, o filme tenta demonstrar ao espectador que nem
sempre a genética é o fator principal para a determinação do potencial de
alguém, acartando consigo uma mensagem positiva, relativamente à força de
vontade ser superior às chances matematicamente estudadas e avaliadas.
Esta moralidade é destacada na cena em que o irmão de Vincent, que é um
bebé beneficiado de genética manipulada, perde a corrida de natação para
Vincent. Apesar das chances estarem todas viradas para aquele que
geneticamente é superior, a força de vontade e a ambição permitiram o
Vincent chegar mais longe. Ainda ressaltando a força de vontade como o
meio decisivo para o sucesso de um ser humano, podemos ver que, apesar
de não ser geneticamente apreciável, Vincent consegue realizar um trabalho
excepcional na pesquisa e execução da missão de ida a Titã, provando que
apenas pelo ‘querer’ qualquer um pode chegar onde quiser. Apesar de ser
geneticamente imperfeito, e considerado inválido, Vincent é visto como um
ídolo (pelo filho do médico que faz as verificações), e como um ser perfeito
(para os seus colegas de trabalho). Esta admiração pelo protagonista não
provém do facto de acharem que a sua genética é perfeita, tal como ele finge
ser, mas sim pelas suas capacidades e conquistas, uma vez que, de acordo
como seu supervisor, conseguiu realizar um trabalho com mais de bilhão de
palavras e sem quaisquer erros.
Para além disso, é também possível notar uma crítica às expectativas e
normas da sociedade que acabam por colocar pressão social nas pessoas. É
notável esta mensagem através da personagem de Jerome. A pressão social
perante Jerome fez que este quisesse terminar com a sua vida, uma vez que
este era considerado perfeito geneticamente, porém terminou em segundo
lugar. Ao massacrar-se com a ideia de que era um erro, tentou terminar com
a sua vida ao atirar-se para a frente de um carro, provocando um acidente
que o tornou paraplégico, e, no final do filme, acaba mesmo por se suicidar.
Por outro lado, o filme demonstra que a vontade do destino será sempre
superior a qualquer modificação genética, desenhada para a perfeição.
Mensagem abordada através da personagem Jerome Eugene, que, apesar
de ser perfeito geneticamente, acaba por sofrer um acidente de aviação que o
impossibilita de andar.
Na mesma linha de raciocínio, este filme remete-nos à reflexão de que a
perfeição não trás felicidade. Moral esta que também é abordada por Jerome
Eugene, uma vez que este se sente triste, e mal consigo, mesmo sendo
considerado pelos especialistas como perfeito geneticamente, acabando por
dar um ponto final à sua vida.
É importante também destacar a pequena esperança e abertura que a
sociedade dá àqueles que não são perfeitos geneticamente, mas que a sua
imperfeição lhes abre as portas para outras áreas e vocações. Supostamente,
apenas o perfeito geneticamente é reconhecido como alguém apto, de
prestígio e admirável. Porém, o pianista, que é imperfeito geneticamente uma
vez que tem 12 dedos, é extremamente admirado após tocar uma peça no
piano, sendo o único capaz de a tocar sozinho, uma vez que esta precisa
mesmo de 12 dedos para ser performada. Como tal, o filme prende
demonstrar que ainda existe uma pequena janela de esperança para que as
pessoas possam ser admiradas para além da sua genética.
Por fim, este filme pretende também transmitir a mensagem de um amor
verdadeiro, sem base na posição social determinada pela genética.
Mensagem que é transmitida através da relação de Vincent e Irene, que,
apesar de ambos não serem perfeitos geneticamente, aceitam-se
mutuamente. Esta aceitação é notável na cena em que Irene dá um fio de
cabelo para Vincent (até à data com nome de Jerome) analisar, para saber
das suas imperfeições, porém Vincent finge deixar voar com o vento,
demonstrando a sua desvalorização pela genética de Irene.
Concluindo, "Gattaca" oferece uma visão desafiadora sobre as implicações
éticas da engenharia genética, como a justiça social, a equidade no acesso e
a responsabilidade moral da manipulação genética. Incentivando, assim, o
espectador a refletir sobre as consequências sociais, éticas e morais das
tecnologias emergentes, destacando a importância de uma abordagem ética
e ponderada ao explorar as capacidades da engenharia genética.

Trabalho realizado por:


Maria Salvador | 12ºB2 | Nº10
Disciplina: Biologia

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