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Copyright © 2023 Monique Fernandes

Capa: Giovana Designer


Revisão: Raniely Batista
Betagem Critica: Carla Freitas
Diagramação: Monique Fernandes

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova


Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de
qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios
(tangível ou intangível) sem o consentimento escrito da
autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cófalo Penal.2018.
Sumário
Copyright © 2023 Monique Fernandes
Sumário
Sinopse
Aviso Importante:
Dedicatória
Epígrafe
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítuo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Epílogo
Agradecimento
Redes Sociais
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Instagram:
Tictok:
Grupo do WHATSAPP
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Obras da autora
Sinopse
Inesperadamente Grávida Do Magnata Viúvo

Arrogante, Prepotente, impaciente e autoritário… Esses são apenas alguns dos adjetivos
pelos quais o Magnata Imobiliário Ethan Lewis Crack ficou conhecido ao longo dos anos. Com o
ego inflado e uma personalidade dominadora, nunca precisou se preocupar com mais alguém
além de si mesmo. Mas por trás de seus acordos bilionários e ternos importados, existe uma
história que o tornou inacessível e impenetrável e que poucos conhecem. Mas a vida está prestes
a brincar com os meticulosos planos desse magnata.

Quando o herdeiro do império Lewis decide ser doador de esperma para um casal de
amigas, visando apenas perpetuar o nome da família, ele jamais poderia imaginar a reviravolta
que a sua vida daria ao se vê pai de uma criança cuja mãe desconhece.

Rory Jackson Davis é uma jovem bailarina que aceitou alugar o seu útero por nove meses
para custear o tratamento da mãe doente. Batalhadora, viu os seus planos e sonhos serem
interrompidos por um erro cruel da clínica de fertilização, deixando-a grávida de um bebê
biologicamente seu com um completo desconhecido e um monte de dívidas nas costas.

Em meio a tantos desencontros e infortúnios, Ethan e Rory estão prestes a descobrir que o
destino costuma ser bem traiçoeiro quando quer e tem o seus próprios meios de mostrar que às
vezes o inesperado pode ser o início de algo extraordinário.
Aviso Importante:

Antes de iniciar a leitura, gostaria de informar que este livro contém linguagem imprópria
para menores de 18 anos e conteúdo gráfico explícito, abordando temas relacionados ao BDSM.

Se esses tipos de conteúdos não são do seu interesse, sinta-se à vontade para pular as
partes que preferir. Elas não comprometem a compreensão da história.

Aproveite a leitura e permita-se ser transportado para o mundo intrigante de Ethan

.
Dedicatória

Dedico este livro a você, minha leitora, que mesmo que não se chame Rory, tenha se
sentido representada por ela em cada página deste livro. A você que tem um sonho e luta por ele,
eu digo: só você pode fazer com que ele se torne realidade. Não deixe que nada e nem ninguém o
impeça de alcançar os seus objetivos. Você é incrível e pode chegar no lugar que deseja.
Epígrafe

— Rory, o que você fez? — A voz de Cely irrompe pela sala, atravessando com
brutalidade e chegando onde me encontro deitada e completamente impotente.

Os seus olhos avermelhados e tempestivos me rasgam, em uma mistura de raiva e


sofrimento que não consigo entender. Seus lábios tremem e ela tenta dizer mais alguma coisa,
sendo acolhida pelo seu marido. Ele balança a cabeça em sinal de desaprovação e ambos me
encaram como se eu tivesse feito algo errado.

— Essa criança não pode ser nossa! — Ela vocifera, o desespero ecoando em suas
palavras.

As acusações pesam no ar, como se tivessem o poder de me sufocar.


Capítulo 01
O aroma inconfundível do café colombiano se espalha pelo ar, me deixando com água na
boca para saborear o líquido preto fumegante. Com destreza, Joe, meu assistente de confiança,
coloca uma xícara fumegante à minha frente.

O Agradeço com um leve menear de cabeça, enquanto os meus olhos alternam entre o
negro profundo da bebida e a planta digital da propriedade que tínhamos recentemente sondado e
que tem me deixado de fato interessado e empolgado com a sua possível compra.

— O que temos para hoje, Joe? Inquiro, erguendo o meu olhar para ele, ansiando pelos
detalhes sobre a programação do meu dia no que diz respeito ao trabalho, pois fora dele eu tenho
o total controle.

— Temos uma reunião com os representantes da GreenLeaf Properties, senhor. — Me


informa ele, mantendo o seu tom habitualmente calmo e sereno. — Eles estão considerando
vender a torre sul.

— A torre sul? — Indago, mais para mim mesmo do que para ele, absorvendo a
magnitude daquela propriedade icônica.

Seus ares majestosos e a vista para o rio a tornam uma joia cobiçada e eu sei muito bem
que não sou o único interessado nessa propriedade em particular.

— E qual é o horário dessa reunião? — Questiono, arqueando uma sobrancelha em


curiosidade.

— Daqui a vinte minutos, senhor. — Ele esclarece.

— Perfeito! Isso me dá tempo suficiente para apreciar o meu café e revisitar os detalhes
deste possível negócio. — Comento, mergulhando o meu olhar na tela novamente, me deixando
envolver pelo entusiasmo.

Após dar o último gole na minha bebida, sentindo o amargor sutil do grão colombiano,
respiro fundo, buscando o equilíbrio necessário para o desafio que está por vir. Um ajuste na
minha gravata e uma rápida conferida no espelho são os últimos preparativos antes de enfrentar a
reunião iminente.

Ao cruzar a porta da sala de reuniões, é como se eu entrasse em um campo de batalha,


onde palavras e números seriam as armas. Os representantes da Greenleaf Properties já estão
posicionados e em uma rápida avaliação, reconheço em suas expressões uma mistura de
expectativa e determinação.

Após as saudações iniciais, começamos as discussões. Cada ponto apresentado, cada


cláusula colocada em pauta é meticulosamente analisada e debatida por nós. O tempo parece se
esticar, cada segundo carregado de importância.

Em determinado momento daquele jogo de vontades e poder, percebo a necessidade de


uma pausa estratégica. Me ergo da cadeira e solicito permissão para me dirigir até a janela por
um breve tempo. Ao contemplar a paisagem urbana, as lembranças da planta da propriedade,
vista momentos antes da reunião, ressurgem em minha mente como se fossem um lembrete
vívido do que está em jogo nesta negociação. E como um homem habituado aos jogos
estratégicos, a ideia da derrota simplesmente não faz parte do meu vocabulário.

Retorno à mesa, com uma nova perspectiva em mente e nós retomamos as negociações.
Horas se passam até que finalmente chegamos a um consenso. Apesar dos desafios, conseguimos
traçar um caminho em comum, vislumbrando um futuro promissor para a torre sul e para todos
os envolvidos.

Ao encerrar a reunião, trocamos apertos de mão firmes e eles saem da sala acompanhados
pelo meu assistente. Eu sei que essa é apenas a primeira etapa de uma jornada maior, mas estou
confiante de que estamos no caminho certo.

As negociações ocuparam boa parte do meu dia e ao concluí-las, decido que o meu
expediente havia chegado ao fim. Me dirijo à garagem subterrânea da empresa, subo na minha
moto e deslizo pelas ruas da cidade, até que chego ao meu destino, sempre sendo seguido de
perto pelos meus seguranças.

Desço da moto e observo como a noite está tranquila e silenciosa, cada passo que eu dou
em direção ao elevador ressoando como se fosse um eco do meu próprio mundo interior. Deslizo
a mão no bolso da minha calça, sentindo o contorno frio do meu celular. Com um movimento
suave, o retiro e rapidamente disco o número desejado.

— Quero que você se ajoelhe no chão, com as mãos esticadas à frente do corpo e olhe
para o chão. Você entendeu? — Ordeno, firme. — Aguardo você na posição.

O silêncio momentâneo do outro lado da linha foi a resposta que eu esperava. Assim que
o elevador chega ao andar da garagem, entro e as portas se fecham atrás de mim. Enquanto o
elevador sobe, a minha mente rodopia sem parar, os meus desejos fazendo com que o meu corpo
trabalhe mais rápido para dar conta da miríade de emoções que aquecem as minhas veias neste
momento.
As portas do elevador se abrem no andar onde se localiza um dos meus muitos
apartamentos, revelando o corredor iluminado apenas pela luz fraca que é acionada pela minha
presença e eu avanço com um único propósito em mente.

Ao chegar em frente à porta, digito a senha e ela se abre. Dou um passo para dentro, ao
mesmo tempo em que respiro fundo.

As velas espalham uma luz tênue pelo quarto, o aroma do incenso de sândalo envolvendo
o ambiente. E quando olho para o chão, lá estava ela, ajoelhada no centro do cômodo, vestida
com um vestido de renda preta que revelava mais do que escondia. Seus olhos estão baixos e as
mãos delicadamente estendidas à frente do corpo como eu havia ordenado.

Sinto o meu pomo de adão subir e descer, o silêncio aqui sendo quase palpável e sendo
quebrado apenas pelos meus passos que ecoam no chão de madeira enquanto eu circulo ao redor
dela, a observando com um olhar penetrante. A tensão entre nós é intensa, a dinâmica de poder
claramente definida.

— Você sabe por que está aqui? — Minha voz sai baixa, mas autoritária, e ela engole em
seco antes de responder.

— Sim, Senhor, estou aqui para servi-lo e obedecê-lo. — Sua voz baixa e delicada me
excita, um sorriso sutil curvando os meus lábios.

— Boa garota! — Murmuro, satisfeito com a sua resposta.

Puxando uma gaveta da cômoda próxima, retiro uma mordaça e um par de algemas,
observando a sua reação cuidadosamente. Ela mantém a sua postura, os olhos fixos nos meus,
uma mistura de curiosidade e excitação claramente visível neles.

— Você confia em mim? — Pergunto, segurando os objetos em sua frente.

— Sim, Senhor! — Ela respira fundo, mas a sua resposta soa firme.

Com movimentos rápidos e suaves, coloco a mordaça em sua boca, me certificando de


que ela esteja confortável e segura. Seus olhos se encontram com os meus por um momento,
transmitindo confiança. Com cuidado, prendo as algemas em volta dos seus pulsos, garantindo
que estivessem ajustadas de forma firme, mas não apertadas demais ao ponto de machucá-la. Ela
testa o aperto levemente, experimentando a sensação, e depois olha para mim, buscando
aprovação.

— Você está segura comigo. — Murmuro, assegurando-a. — Sempre estará.

Finalizo os ajustes e a ajudo a se levantar, passando a mão pela lateral do seu corpo e
sentindo as suas curvas enquanto a ergo e elevo um dos seus braços, o prendendo-o na corrente
ligada ao teto. Faço o mesmo com o outro braço e quando a tenho com ambos os braços presos,
circulo em volta dela, sentindo a minha pulsação se alterando ao vê-la assim, submissa e
vulnerável para mim.

Ah, como isso me excita!


Capítulo 02
A luz suave da tarde penetra pela janela do estúdio, refletindo o brilho dourado do chão
de madeira e sendo amplificado pelo reflexo dos espelhos espalhados pela sala. As risadinhas e
os passos miúdos das meninas ecoam pela sala, preenchendo o ambiente com alegria e diversão.

— Vamos lá, minhas pequenas estrelas! — Chamo a atenção delas e logo vejo os seus
olhos brilhantes de empolgação se voltando para mim.

Abro um sorriso, me sentindo satisfeita e feliz por estar conseguindo dar conta do meu
trabalho. Há mais ou menos seis meses atrás, com a ajuda de uma amiga da faculdade, consegui
esse estágio remunerado como professora de balé. Confesso que tive medo e achei que não
conseguiria conciliar tantos compromissos, tive receio de não conseguir ensinar balé clássico
para as meninas. Mas agora percebo que era somente o meu medo querendo me paralisar.

Como a minha amada mãe sempre fez questão de me lembrar, eu pratico balé clássico
desde criança e agora estou aprendendo novas técnicas de dança na faculdade, com certeza isso
iria me ajudar muito com as aulas para as crianças. Eu também poderia pedir ajuda de alguém
mais experiente na companhia de dança, me encorajando que tudo daria certo e se encaixaria em
seu devido lugar. E, no fim das contas, tudo realmente se encaixou.

— Hoje vamos dançar como borboletas! — Estendo os meus braços, imitando as asas de
uma borboleta e as crianças rapidamente seguem o meu exemplo, as suas expressões sérias se
transformando em sorrisos de pura diversão.

Ao som de uma música suave, começamos a rodopiar e dançar pela sala. Suas perninhas
se movem desajeitadamente, mas com uma paixão e entusiasmo que tocam o meu coração. Uma
delas, com uma tiara de flores rosas, tropeça e cai no chão, mas se levanta rapidamente, com os
olhinhos brilhando de determinação.

— Está tudo bem, meu docinho! A borboleta caiu, mas agora que ela se levantou você
poderá voar novamente! — Vou até ela, me abaixando para ficar na sua altura e a acalmar.

A menina me lança um sorriso agradecido, em seguida volta a rodopiar.

O tempo sempre passa rápido quando estou com elas e, sem que eu possa notar, mais uma
aula se passa e eu me vejo na porta do estúdio me despedindo das pequenas que esperam
ansiosas pelo meu beijo na testa. Assim que elas se vão, aproveito o tempo que ainda tenho e,
como havia pedido para a dona do espaço e ela tinha me permitido, treino para a apresentação do
regional em que me inscrevi. Meu quarto é muito pequeno e não tenho espaço suficiente para
ensaiar como gostaria.

Vou até o aparelho de som e coloco a minha música. Enquanto os primeiros sons
instrumentais soam na sala, me sento no chão e coloco as minhas sapatilhas. Me levanto e me
apoio na barra de balé. Fecho os olhos por um momento, permitindo que as notas musicais
preencham a minha alma. Cada melodia é como uma lembrança, um sentimento, uma história.
Respiro fundo, deixando o perfume suave do estúdio se misturar com a música, criando uma
atmosfera de pura paixão e emoção.

Começo a me mover lentamente, deixando que o meu corpo responda à música de


maneira natural. Cada passo, cada salto, cada movimento sendo uma expressão de tudo o que eu
estou sentindo.

O balé sempre foi a minha forma de escape, o meu refúgio. E neste momento, mais do
que nunca, eu preciso dessa conexão, desse momento de paz.

Enquanto danço, as memórias da minha jornada até aqui se juntam e inundam a minha
mente. Os ensaios tardios, as lágrimas, os sorrisos, as vitórias e as derrotas. Tudo parecendo
convergir para este momento único, onde a dança é a linguagem que eu escolhi para expressar o
meu amor, a minha gratidão e a minha esperança pelo futuro.

A cada passo que dou, sinto como se estivesse dançando não apenas para mim mesma,
mas também para a vida que eu almejo ardentemente ter em meu futuro. E enquanto a música
chega ao fim, eu me entrego por inteira na esperança de dias melhores, chances melhores. Tenho
certeza de que, se depender de mim, sempre darei o meu melhor e nunca desistirei dos meus
sonhos, por mais difícil e distante que eles pareçam estar.

Assim que finalizo o ensaio, troco de roupa e coloco o meu casaco de frio, saindo do
estúdio em seguida. Faço uma pequena caminhada até a estação de trem, comprando a minha
passagem e me sentando em um dos assentos vazios no vagão. Escorrego os meus dedos para
dentro da minha bolsa, me perdendo momentaneamente em sua bagunça até que encontro o meu
celular, trazendo-o junto com alguns objetos, como pulseira, absorvente e a chave de casa.

Guardo-os de volta na bolsa, sem sequer ter coragem de olhar para o lado para ver quem
tinha visto aquilo. Logo em seguida, desbloqueio a tela e entro no grupo da faculdade. Acabo me
distraindo com as mensagens, até que o trem para na estação mais próxima da minha casa e eu
desço. Caminho por algumas poucas quadras até chegar na rua de casa, cumprimentando alguns
moradores que encontro ao longo do percurso.

No mesmo instante em que passo pela porta de casa, o cheiro gostoso da comida da
minha mãe me alcança. Caminho até a cozinha e lá a encontro mexendo nas panelas. A abraço
apertado por trás, envolvendo os meus braços ao redor da sua cintura, sentindo o seu cheiro
misturado ao perfume da comida.

— Cheguei, mãezinha. — Murmuro, apoiando o meu queixo em seu ombro e fechando


os meus olhos.

— Oi, filha, como foi o seu dia?

Reflito por um tempo antes de respondê-la.

— Cansativo, mas maravilhoso. E o seu, mamãe?

— O mesmo, filha. Parece que os meus patrões irão tentar mais uma vez ter um bebê.—
Ela comenta, dividindo comigo a sua novidade.

— Hum, tomara que desta vez dê certo para eles, mamãe. Eles vem tentando há anos ter
um filho, mas Cely já sofreu tantos abortos... Eu nem consigo imaginar o quanto isso deve ser
frustrante e o tamanho do seu sofrimento.

— Também torço muito por eles, filha.

— Mãe, quer ajuda? — Indago.

— Não é preciso, filha. Pode ir tomar um banho que daqui a pouco eu termino. Você
pode me ajudar a colocar a mesa. Tá bem?

— Sim, claro, mãe. — Concordo, deixando um beijo em sua bochecha e seguindo para o
meu quarto.

Logo que atravesso a porta, deixo a minha bolsa em cima da cama e escolho uma roupa
sem demora, me apresso para um banho rápido. Assim que saio do banheiro e me visto, vou
direto para a cozinha e coloco a mesa. O jantar é tranquilo e nós colocamos a conversa em dia.

Assim que a minha mãe se levanta para deixar a mesa, percebo que ela está com dor e me
apresso em ajudá-la, olhando com atenção para onde ela leva a mão e geme de dor. Mas, mesmo
sendo claro que não está bem, dona Megan tenta me acalmar, dizendo que é apenas uma
dorzinha boba e que logo vai passar. Isso não chega a ser suficiente para que eu me acalme, mas
não tenho outra alternativa a não ser aceitar as suas desculpas.

Peço para que ela vá descansar um pouco, garantindo que eu cuido de tudo por aqui.
Quando ela iria discordar de mim, argumento que ela fez tudo e o mínimo que eu posso fazer em
agradecimento é lavar as vasilhas. Mamãe me olha por um tempo antes de ir e vendo em meu
olhar que não estou disposta a voltar atrás no que disse, ela se vai com um pouco de dificuldade
para o quarto, me deixando sozinha na cozinha.
Dou conta da louça suja em pouco tempo, passando em seu quarto para ter certeza de que
ela está bem e a encontro dormindo serenamente. Fico um tempo a observando dormir e depois
decido fazer o mesmo, pois amanhã acordo cedo para a faculdade e todos os meus compromissos
do dia.
Capítulo 03

Com os olhos atentos à minha frente, anoto todos os pontos que acho ser importante
guardar para poder ler depois, para que assim fique mais fácil para mim memorizar o conteúdo.
O professor Johnson está posicionado em frente à lousa eletrônica, explicando sobre a história da
dança.

Essa é uma das disciplinas que eu mais gosto no curso, pois é interessante compreender
como a dança se desenvolveu ao longo dos séculos e como os nossos povos expressavam as suas
histórias através delas, desde os tempos mais antigos.

Enquanto o professor discorre com destreza sobre o tema, me sinto absorvida pelas
imagens e histórias que se desenrolam diante de mim. É fascinante ver como a dança evoluiu de
acordo com as mudanças sociais, políticas e culturais de cada época. De danças cerimoniais em
tribos africanas a balés clássicos na Europa, cada forma de dança tendo a sua própria linguagem
única, mas todas compartilhando um objetivo em comum. Comunicar emoções e contar histórias.

Conforme a aula avança eu fico cada vez mais absorvida e quando percebo, já tínhamos
chegado ao final e o professor Johnson nos passou uma leitura adicional para a próxima semana,
encerrando com uma citação inspiradora de uma famosa bailarina do século passado.

Agito a minha mão no bolso de fora da minha bolsa e puxo o meu aparelho de dentro,
ligando-o. Sempre o mantenho desligado durante a aula para não me distrair. Enquanto ele liga, o
coloco em cima da mesa e guardo as minhas coisas na mochila, conferindo as minhas mensagens
em seguida, pois qualquer minuto que perco pode afetar terrivelmente o tempo que tenho para
comer alguma coisa e ir para o trabalho.

— Rory, vamos comer alguma coisa antes de irmos para o trabalho? Ainda temos algum
tempo. — Lility me chama com um sorriso maroto e eu sei muito bem quais são as suas
intenções com isso, ela está de flerte com o rapaz da Starbucks e qualquer coisa para ela é uma
ótima desculpa para a gente passar lá para poder vê-lo.

— Hum, acho muito bom, só preciso guardar isso e podemos ir. — Comento , mostrando
o meu celular para ela.

Antes que eu possa devolvê-lo ao bolso externo da minha bolsa, ele começa a tocar e eu
franzo o cenho, não reconhecendo o número. Um calafrio percorre a minha espinha enquanto
deslizo o dedo e atendo a chamada, sentindo o meu coração se agitando com medo de que algo
tenha acontecido. Na última vez em que isso aconteceu, perdi o meu pai. Ele foi encontrado
caído no chão, estava tão bêbado que se desequilibrou e bateu a cabeça no meio fio e teve
traumatismo craniano, vindo a óbito após passar um mês em coma.

— Alô? — Sussurro, sentindo a minha voz trêmula, enquanto a minha garganta se fecha
e se encontra totalmente seca.

Olho para os olhos escuros de Lility que estão me observando com atenção.

— Boa tarde! É da família de Megan Jackson Davis? — A voz feminina indaga do outro
lado da linha, o seu tom soando calmo.

— Sim, sou a filha dela. O que houve? — A sensação de apreensão se intensifica dentro
de mim, as minhas pernas se encontrando sem força e sou obrigada a me sentar.

Minhas mãos suam frio, e eu posso sentir o meu coração acelerado, cada batida ressoando
em meus ouvidos.
— Aqui é do Evergreen Memorial Hospital , a sua mãe deu entrada conosco hoje e
tentamos entrar em contato antes, mas não conseguimos.

— Meu Deus! — É só o que eu consigo falar enquanto um nó se forma na minha


garganta, me impedindo de emitir qualquer outro som, o rosto da minha mãe surgindo na minha
mente.

Me lembrei que ela estava estranha ontem à noite, mas como sempre disfarçou o que
estava sentindo, não querendo me preocupar.

— O que aconteceu com ela. — Indago, o meu coração parecendo ter corrido uma
maratona em poucos segundos de tanto que as batidas estão velozes. — Como ela está agora?

Minha voz falha ao pensar que as coisas podem ser bem piores e eles não queiram me
falar por telefone. Com isso, as lágrimas começam a se formar, deixando a minha visão turva.

— No momento ela está estável, mas é importante que um familiar venha ao hospital o
mais rápido possível para entendermos melhor a situação e definirmos um plano de tratamento
adequado.

— Estou a caminho! — Afirmo. — Obrigada por me avisar.

— Por nada. Estaremos aguardando a sua chegada.

Desligo o telefone lentamente, tentando assimilar a notícia de que a minha mãe está no
hospital. Olho ao redor da sala, me sentindo completamente perdida e sem conseguir fazer nada
mesmo sabendo o que tinha que ser feito, até que a voz da minha amiga me traz de volta.

— O que aconteceu com a tia Megan, Rory? — Olho para ela, tentando entender a minha
mente que mais parece uma bagunça neste momento.

— Ela deu entrada no hospital, mas eles não quiseram me dar muita informação pelo
telefone, então estou indo para lá agora. — Falo com a mão no peito.

— Claro, vai lá, amiga. — Ela me ajuda a terminar de guardar as minhas coisas, pois eu
estou tão nervosa que as minhas mãos não param de tremer.

Assim que terminamos de juntar as minhas coisas, saio o mais rápido que consigo,
ouvindo Lility dizer que iria avisar o motivo de eu não poder ir ao trabalho hoje.

Quando me vejo do lado de fora da faculdade, começo a procurar por um táxi, até que,
enfim, encontro um. Passo o endereço para onde eu preciso ir e o motorista dá partida no carro.
Sigo a viagem toda apreensiva, orando para que não seja nada grave. Tamborilo as pontas dos
dedos em meu jeans grosso e surrado até que o táxi finalmente para em frente ao hospital.
Respiro fundo após pagar a corrida e me dirijo em passos rápidos até a recepção, me
identificando e tendo a minha entrada liberada. O caminho entre a recepção e o quarto onde a
minha mãe se encontra posso dizer que foi o trajeto mais longo que já fiz em toda a minha vida
até o momento e só relaxo quando empurro a porta de madeira com cuidado e, de imediato, a
avisto.

Minha mãe está deitada na cama, com os olhos fechados. Arrasto os meus passos lentos,
que parecem pesar uma tonelada, até chegar ao lado dela. Seu rosto está sereno, mas pálido. Os
monitores ao lado da cama exibem os seus sinais vitais e eu prendo a respiração, observando
cada número, esperando que eles me digam que tudo ficará bem.

— Mãezinha, que bom te ver… Eu estava com medo e assustada. — Sussurro, segurando
a sua mão com cuidado.

— Oi, meu amor, foi só um susto, não se preocupe. Depois de uma certa idade irei
brincar de pregar muitas peças em você. — Ela abre os olhos e me lança um sorriso fraco.

— Estou aqui, mamãe. Vou cuidar de você.

A sua mão aperta a minha levemente, um sinal de que ela sabe que eu estou ao seu lado
para tudo. As lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu não faço esforço algum para contê-las. É
um misto de alívio por ela estar estável e medo do desconhecido que está por vir.

Os minutos parecem horas e eu me sento ao lado dela, observando cada respiração, cada
pequeno movimento, cada sinal de que ela estava lutando. Eu só queria que ela soubesse que não
estava sozinha, que eu estaria ali por ela, assim como ela sempre esteve por mim.

Enquanto espero um médico aparecer para me explicar o que a minha mãe tem, prometo
a mim mesma que farei tudo ao meu alcance para garantir que ela receba o melhor tratamento,
para que possa se recuperar e voltar para casa. E, acima de tudo, prometo a mim mesma que
aproveitarei cada momento com ela, valorizando cada riso, cada conversa, cada abraço.
Após ter a minha entrada liberada, abro a porta do consultório médico com um nó
apertado na garganta. O cheiro característico do ambiente clínico mais uma vez invade as minhas
narinas, aumentando o meu nervosismo, eu estou apreensiva para saber o real estado da minha
mãe e assim que fui informada por uma enfermeira que o médico que está cuidando do caso dela
estava disponível eu não hesitei nem por um segundo em ir procurá-lo.

— Boa tarde, doutor! Eu sou Rory, a filha da paciente Megan Jackson Davis. — Falo,
parando em frente a mesa dele.

— Como vai, Srta. Jackson? — ele me cumprimenta, indicando uma cadeira.

Meu coração acelerado ecoa em meus ouvidos enquanto me sento.

— Não posso dizer que estou totalmente bem pelo fato de estar muito preocupada com o
estado de saúde da minha mãe. Doutor, por favor, me diga o que está acontecendo com ela? —
A minha voz sai entrecortada e ele suspira, mantendo uma expressão séria.

— Compreendo a sua apreensão, minha jovem, e irei direto ao assunto. Após os exames,
constatamos que a sua mãe está enfrentando uma condição nos rins chamada insuficiência renal.
Isso significa que os rins não estão filtrando as toxinas do corpo como deveriam. Estou aqui para
explicar as opções de tratamento disponíveis e oferecer todo o apoio necessário a vocês durante o
tratamento.

Pisco algumas vezes, tentando absorver rapidamente o que ele explica e se for o que eu
estou pensando, isso significa... Não, não pode ser…

— E o que é que isso significa, doutor? — Me vejo obrigada a perguntar, só para


confirmar se é mesmo o que eu desconfio, entretanto, torço para que eu esteja completamente
enganada e não tenha o compreendido direito.

— Que ela precisará passar por sessões de diálise para manter a função renal. — Meu
estômago se contrai e eu seguro as lágrimas, prendendo o meu lábio inferior com os dentes com
tanta força que o sinto doer.
— Diálise? — Repito a sua última palavra ao mesmo instante em que levo os meus dedos
trêmulos sobre os lábios, completamente apavorada com o que acabo de ouvir.

— O que isso significa exatamente? E como chegamos a isso tão rapidamente, doutor? —
A negação é a minha primeira reação, pois eu não quero acreditar que isso está acontecendo com
a minha mãezinha.

O médico explica pacientemente, detalhando os exames realizados e o estado de saúde


atual da minha mãe. Ele aborda o tratamento necessário, esclarecendo como as sessões de diálise
irão ajudar a aliviar a carga nos rins dela.

— Quanto à questão financeira, solicito que você entre em contato com a administração
para verificar as formas de pagamento ou se o plano de vocês cobre o tratamento. — Ele
recomenda com delicadeza e eu entendo que a nossa conversa sobre o assunto chegou ao fim.

Agradeço e me levanto da cadeira, caminhando até a porta e saindo do consultório do


médico. Ando pelo corredor branco e iluminado do hospital, ouvindo o som de vozes passando
por mim. Estou tão absorvida pelas palavras do médico que, na verdade, não consigo prestar
atenção em nada ao meu redor.

Vou até a parte administrativa do hospital e vejo o que podemos fazer. Na maioria dos
casos, as pessoas podem fazer a diálise e voltar para casa e acredito que com a minha mãe
também será assim. Pelo menos é o que eu realmente espero.
Capítulo 04

— Só vocês mesmo para me convencer a fazer uma coisa dessas. — Um sorriso surge em
meus lábios, pois ainda não consigo acreditar que estou em uma clínica especializada em
inseminação, após ter feito a coleta do meu material para me tornar pai do filho de duas das
minhas melhores amigas.

Logo eu, que já tinha desistido da ideia de ser pai há anos atrás...

Balanço a cabeça, optando por frear as lembranças que vem com esse pensamento e me
concentrar somente no momento atual e na perspectiva de ter um herdeiro para perpetuar o nome
da minha família. Saber que tudo pelo que os meus pais construíram com anos de trabalho árduo,
e eu venho contribuindo da mesma forma, não acabará comigo, me deixa extremamente feliz.

Pai com quase quarenta anos… Quem diria, hein?

— Vamos ser uma família linda e atípica, meu amigo. — Brenda afirma, colocando a
mão sobre a minha que está descansando em minha perna e me fazendo olhar para ela.

Logo em seguida, Maya, sua esposa, repete o seu gesto, confirmando o que foi dito
instantes antes. O barulho da porta do consultório sendo aberta interrompe o nosso momento e
logo escutamos os passos da doutora que nos acompanhará nesse processo cada vez mais perto
de onde nós estamos sentados.

— Senhor Lewis, senhoras Smith, boa tarde! — Ela se senta atrás de sua mesa com a
mesma expressão que eu costumo fazer ao ter pleno domínio de uma negociação, sabendo que
poderia falar por horas a fio sem me perder por um segundo. Eu gosto de pessoas confiantes em
suas funções, isso me deixa tranquilo quando não estou no controle. — Como estamos
conversando desde o início sobre o processo de inseminação, agora, após a coleta do esperma,
irei explicar o próximo passo. — Sua voz é calma e transmite tranquilidade e confiança tanto
para mim quanto para as minhas amigas. — Vamos fazer a preparação do sêmen para a
inseminação artificial. Realizaremos uma avaliação cuidadosa da qualidade do esperma,
garantindo as melhores condições para fertilização.

— E como será esse processo, doutora? — Indago

— Utilizaremos uma técnica avançada chamada inseminação intrauterina (IIU). Isso


implica na introdução direta do esperma preparado no útero da mulher no momento mais
propício ao ciclo menstrual. Todo o procedimento será realizado em nosso ambiente clínico,
proporcionando as condições ideais para o sucesso da fertilização.

A Dra. Olivier continua explicando os detalhes técnicos do processo, desde o


rastreamento do ciclo menstrual de Brenda até o monitoramento da ovulação. Ela aborda os
aspectos científicos e práticos da fertilização, garantindo que todos compreendam as etapas
envolvidas.

— Durante as próximas semanas, estaremos monitorando de perto o desenvolvimento do


processo, ajustando estratégias conforme necessário. Este é um momento crucial e a nossa
equipe está dedicada a maximizar as chances de concepção bem-sucedida.

Deixamos o consultório empolgados e as minhas amigas andam ao meu lado de mãos


dadas, conversando animadas e compartilhando os planos que tinham em mente para arrumar a
casa para a chegada do bebê. Sinto meu celular vibrando no bolso da minha calça e afundo a
minha mão no bolso, puxando-o e me afastando um pouco delas para que possa ter mais
privacidade ao atender a ligação.

— Alô?
— Ethan, você não vai acreditar na oportunidade que surgiu. — A voz do outro lado da
linha soa eufórica, despertando ainda mais a minha atenção.

— Então me faça acreditar, Joe, estou ficando curioso para saber o que te deixou tão
empolgado. — Comento, curioso.

— Uma propriedade no coração da cidade, o tipo de projeto que eleva a nossa reputação
a um novo patamar. Os investidores estão ansiosos para fechar o negócio e têm você como a
peça-chave. — A notícia reverbera em mim como uma melodia.

— Joe, você acaba de tornar o meu dia ainda mais interessante. Marque a reunião, estarei
lá em breve. — Solicito, desligando o telefone depois que me despeço dele.

Volto para perto de Brenda e Maya, compartilhando a notícia ao mesmo tempo em que
me desculpo por não poder acompanhá-las no almoço que planejamos logo que saíssemos da
clínica, mas prometendo que haverá outras oportunidades para comemorarmos quando o nosso
bebê estiver no forninho. Elas compreendem e me dão todo o apoio que preciso no momento.
Logo me despeço delas e caminho até onde deixei estacionado o meu carro. Entro no veículo e
cheio de expectativa, deslizo pelas ruas da cidade em direção ao endereço que me foi passado por
mensagem pelo Joe após a nossa ligação.
O desespero me consome profundamente quando percebo que não temos condições de
arcar com os custos do tratamento da minha mãe. Passo a mão pelos meus cabelos,
completamente perdida. Eu realmente achei que, com o dinheiro que recebo, mais o pouco que
consegui guardar dos últimos meses de trabalho, conseguiria pagar ou ao menos dar início ao
tratamento, mas a conta simplesmente não fecha, para o meu completo desespero.

Eu não sei o que fazer. A minha mãe precisa desse tratamento.

Bato na porta do quarto onde ela se encontra e a empurro com um desânimo tão grande
que parece que a simples madeira pesa uma tonelada. Quando ergo a minha cabeça em sua
direção, vejo a sua patroa ao lado do seu marido segurando a mão da minha mãe. E é neste
momento que uma ideia urgente borbulha em minha mente, pedirei um empréstimo para eles
para o tratamento da minha mãe, não como uma caridade, mas será como algo que com certeza
eu irei pagar com todo suor do meu rosto.

Enquanto a ideia que inicialmente parece absurda ganha cada vez mais palco em minha
mente e faz mais sentido, eu caminho até onde a minha mãe se encontra deitada. Paro em frente a
ela, me curvo e beijo a sua testa, questionando sobre o seu estado, em um ritual diário que
disfarça o meu próprio receio.

Ela suspira, cansada, e diz com um sorriso abatido que está bem.” Mas é claro que eu sei
que não está. Logo em seguida, prometo que tudo ficará bem, mesmo quando as minhas próprias
incertezas se agigantam a cada instante. No entanto, me agarro ao que ouvi uma vez: que nós
temos que ser os primeiros a jogar o que queremos para o universo, para que eles nos tragam de
volta.

Fico em silêncio por um tempo, ouvindo a conversa entre eles, até que o casal se despede
da minha mãe e de mim, dizendo que têm um compromisso e precisam ir. Nesse momento, junto
toda a minha coragem e falo que vou levá-los até a porta, arrumando uma desculpa para pedir o
empréstimo para o tratamento da minha mãe.

Sinto-me sem graça e envergonhada ao mesmo tempo, enquanto ando até a porta,
passando a minha mão aberta nas laterais do meu jeans para limpar o suor que escorre pelos
meus dedos, nervosa pelo que pretendo fazer. Fecho a porta atrás de mim, olhando para eles com
um sorriso trêmulo e sentindo o meu estômago revirar de nervoso.

— Será que eu poderia falar um instante com vocês? — Pergunto sem jeito, chamando a
atenção dos dois para mim.

— Claro, Rory. — Ela me olha com atenção.

Com um misto de medo e coragem, aproximo-me deles e explico a nossa situação


delicada. Falo que o tratamento médico é caro e que não temos condições de pagar por todos os
custos. Peço um empréstimo, prometendo trabalhar duro para devolver cada centavo com o suor
do meu rosto. Cely me olha com compaixão nos olhos e segura a minha mão.

— Nós adoraríamos poder ajudar você neste momento tão difícil, Rory. A sua mãe é uma
pessoa maravilhosa e está há muitos anos conosco, temos um carinho enorme por ela. Mas,
infelizmente, no momento está um pouco complicado para nós podermos ajudar. Não sei se ela
chegou a comentar com você, mas estamos tentando ter um bebê novamente. — Ela fala, com
um sorriso dividindo o olhar entre mim e o seu esposo.

— Sim, a minha mãe me contou sobre isso.

— Esse processo é muito caro e, pela minha idade, eu e o Andrey estamos cogitando
contratar uma barriga de aluguel, então os gastos serão ainda maiores. Nós adoraríamos te
ajudar, mas infelizmente não conseguimos. Você entende, não é?

— Claro que sim, dona Cely. — Falo, triste e preocupada.

Eu realmente os entendo, sei da luta que ambos travam há anos para ter um bebê. Mas
lamento profundamente por mim e principalmente pela minha mãe, que agora eu não sei o que
será dela.

— Mas pensando bem... — Ela murmura, afastando-se um pouco de mim e me


analisando atentamente. — Teria sim uma maneira de ajudar a sua mãe, mas para isso vocês
também teriam que me ajudar. Você é jovem e com certeza saudável. Se você aceitar ser a minha
barriga de aluguel, eu poderia pagar o tratamento da sua mãe.

Suas palavras causam um baque em mim, pois eu não estava esperando por isso. Minhas
pernas amolecem diante do inesperado. Eu só tenho vinte anos, como vou carregar um bebê? Até
o momento, nunca cogitei a hipótese de ter um filho meu, quem dirá de outra pessoa.

— Eu... Eu não sei o que dizer. Isso é muito inesperado. — Gaguejo, tentando processar a
proposta surpreendente. — Não posso tomar uma decisão assim tão importante de imediato.
Preciso de tempo para pensar, para conversar com a minha mãe sobre isso.

Ela olha compreensivamente para mim, parecendo aguardar a minha resposta.

— Eu entendo que seja uma decisão difícil. É uma oferta séria, mas não quero pressioná-
la. Leve o tempo que precisar. — Ela fala, oferecendo um sorriso tranquilizador.

— Eu preciso pensar com calma, mas agradeço a compreensão. — Me despeço deles e


volto para o quarto, sento-me em frente à cama da minha mãe e fico por um longo tempo em
silêncio, pensando em tudo o que conversamos.

— Filha, o que está acontecendo? Desde que saiu para levar a Cely e o Andrey até a porta
e voltou, está quieta e com a expressão preocupada. Aconteceu alguma coisa que eu não sei? —
A voz da minha mãe me tira dos meus pensamentos e olho para ela, elevando um pouco o tronco
e se recostando nos travesseiros.

Passo a mão pelo meu rosto, esfregando levemente e o sentindo pinicar, enquanto desvio
o meu olhar para a minha mãe e vejo a preocupação em seus olhos. Tento abrir um sorriso
tranquilizador, mas falho miseravelmente quando os meus lábios tremem e suspiro fundo.

— Mãe... — Faço uma pausa, pensando se haveria uma melhor maneira de contar tudo o
que vem acontecendo.

A verdade é que provavelmente em breve nós teremos que ir para casa sem dar
continuidade ao seu tratamento, pois todo o dinheiro que eu tinha guardado já usei aqui.

A sala parece encolher e o ar em meus pulmões fica comprimido com a possibilidade de


ter que dizer que não temos dinheiro para ela ficar bem, me sinto uma derrotada. Olho ao meu
redor, perdida, me sentindo desamparada enquanto a minha mãe aguarda as minhas palavras.

— Eu pedi ajuda aos seus patrões, mãe. — Comento, engolindo em seco. — Eles
concordaram em ajudar, mas sob uma condição... — Hesito por um instante, a minha voz
embargada pelo nó que se formou em minha garganta. — Eles propuseram que eu seja a barriga
de aluguel para eles, em troca do dinheiro para o seu tratamento.
O silêncio que se segue entre nós é pesado, denso, minhas palavras pesam no ar como um
fardo. Os olhos da minha mãe, inicialmente fixos nos meus, revelam perplexidade e, em seguida,
compreensão. Lágrimas começam a surgir em seus olhos.

— Minha querida, não... — A voz dela é um sussurro entrecortado pela emoção.

Minha mãe estende as mãos, buscando as minhas, e unimos os nossos dedos em um gesto
que transcende as palavras.

— Mãe, eu... eu não queria te sobrecarregar assim, acho que isso não vai fazer bem para
o estado em que se encontra. — Luto contra as lágrimas que ameaçam rolar pelas minhas
bochechas.

Eu não vou chorar, preciso ser forte por nós duas.

— Você deveria ser a minha prioridade e não o contrário, filha. Eu que deveria estar
cuidando de você, não fazendo com que você busque maneiras desesperadas de conseguir
dinheiro para cuidar de mim. Me orgulho em saber que você está cogitando ir tão longe pelo
amor que tem por mim, mas... — Há um momento de silêncio e o soluço baixo que escapa dos
lábios da minha mãe é o único som que se segue neste momento.

Aperto os seus dedos, tentando a confortar. Para mim está tudo bem, eu poderia gestar
uma criança se isso garantisse que ela fosse ter o tratamento que precisa, só não iria suportar
ficar de pé assistindo ela definhar sem fazer nada.

— Filha, ver o quanto você está disposta a sacrificar por mim, isso me comove mais do
que palavras podem expressar. Mas, Rory, eu não posso permitir que você tome uma decisão tão
grande por minha causa. — A voz dela, embora suave, carrega uma determinação firme.

— Mãe, eu só quero que você fique bem. Eu faço qualquer coisa por você. — Confesso,
com a voz embargada pelo choro que seguro.

Minha mãe me puxa para um abraço acolhedor, como se quisesse me proteger de todo o
sofrimento que o mundo pudesse oferecer.

— E você já fez mais do que eu poderia pedir, filha. A sua preocupação é o melhor
presente que eu poderia receber, Rory. Mas não quero que sacrifique os seus sonhos por mim,
minha querida. Vamos enfrentar isso juntas, como sempre fizemos, vamos encontrar um outro
meio.

— E se não houver outro meio, mãe? E-eu... Não quero te perder. — O choro que estou
segurando firme até o momento me escapa junto com um soluço forte e cruel que balança o meu
corpo.
Vejo que não consegui ser forte o bastante, pois só o pensamento de que poderia vir a
perder a única pessoa que me resta neste mundo dói demais. A minha mãezinha, eu não
sobreviveria a isso.

.
Capítulo 05
Ao dobrar a esquina e entrar na rua de casa, solto uma respiração cansada, sentindo as
tensões do dia se acumulando em pontos sensíveis do meu corpo. Tudo o que eu mais desejo
neste momento é um banho quente, algo leve para comer e a paz do meu lar. No entanto, ao me
aproximar mais de casa, meu coração acelera diante da visão perturbadora que se desenrola à
minha frente.

Dois homens imponentes bloqueiam o meu acesso, prostrados como sentinelas


intransponíveis em frente ao meu portão. A sensação angustiante que se apodera de mim faz com
que cada passo que eu dou em direção a minha casa se torne mais pesado, enquanto a incerteza
envolve o meu ser.

O que esses homens estão fazendo ali, e por que escolheram justamente o meu portão
como ponto de parada?

Meu coração martela de forma descompassada em meu peito, tamanha é a angústia que
sinto, estou sozinha na rua mal iluminada e não há ninguém que eu possa chamar caso eles
tentem alguma coisa contra mim.

— Olá, boa noite, senhores. Poderiam me dar licença para eu entrar em casa, por favor?
— Forço um sorriso que mais parece uma careta, tentando esconder a apreensão que cresce
dentro de mim.

— Parece que chegou a hora de acertar as contas do seu falecido pai, gatinha. — Um dos
homens fala, com um sorriso sádico se infiltrando em seus lábios finos.

Meu estômago se revira ao ouvir as suas palavras e o meu olhar instintivamente vai em
direção ao portão, onde noto um papel pregado. O pego, e a cruel verdade se mostra crua e dura
diante dos meus olhos.

— Propriedade adquirida por dívida não paga... — Leio pela segunda vez, com a voz
trêmula, piscando algumas vezes diante das letras que parecem se embaralhar, a minha cabeça
confusa demais para processar.

Como assim eu estou perdendo a minha casa?!


— Exato. Agora, ou você paga, ou vai ter que arrumar outro lugar para morar. —
Intimida o outro homem, o seu olhar maldoso evidenciando o seu prazer em estar me
amedrontando.

— Não posso perder a minha casa! Minha mãe está no hospital e eu... — Sinto vontade
de gritar em puro desespero, mas me contenho, pois no fim das contas eles parecem pouco se
importar com o que eu tenho a dizer.

Eles não são nada meu e não entendem pelo que eu estou passando.

— Problema seu, mocinha. A dívida precisa ser quitada, não vou aceitar mais as migalhas
que a sua mãe me dá todo mês. — Sua voz soa ríspida, enquanto ele dá um passo à frente.

Se parado ele já era terrivelmente assustador para mim, imagine propositalmente tentando
me acuar. Em resposta ao seu gesto intimidador, dou alguns passos para trás, me desequilibrando
quando piso em algo e vou direto para o chão, sentindo a minha bunda arder com o impacto.

Ele se abaixa para ficar com os seus olhos na mesma altura dos meus.

— Onde vou conseguir esse dinheiro? — Murmuro baixinho, o desespero querendo se


apoderar do meu corpo

Eu consegui ajuda financeira de algumas tias distantes. Não foi muito, mas com o que
elas me emprestaram eu consegui pagar alguns exames laboratoriais necessários para darmos
início ao tratamento. Mesmo que a minha mãe tenha que ir ao hospital toda semana para fazer as
sessões, já ajuda muito o fato dela não precisar ficar internada.

— Do que está falando, mocinha? — Ele inquire, invadindo o meu espaço pessoal.

— Nada! Nada! — Respondo rápido, tentando me recompor. — Eu só… Só preciso de


mais tempo.

— O tempo está acabando, gatinha . Ou você paga, ou... — Ele deixa as palavras no ar,
se levantando e me olhando de cima.

Fico perdida por um tempo, sentada no meio da calçada enquanto aqueles brutamontes de
ternos pretos se afastam de mim.

Por que a minha mãe escondeu tudo isso de mim?

Pelas palavras deles, era claro que ela vinha lutando do jeito que conseguia há três anos,
desde a morte do meu pai para pagar as dívidas deles. Como ele mesmo depois de morto tinha
conseguido nos deixar em uma situação ainda pior do que quando estava vivo? Parece que as
coisas ruins não param de acontecer e tenho até medo de reclamar e correr o risco de que elas
possam piorar ainda mais.

Me levanto do chão e ando até a minha casa, que agora sei que não é mais minha. No
meio da madrugada, descobri que sim, tudo que está ruim sempre pode piorar quando o meu
celular toca. Recebo a notícia de que o estado da minha mãe se agravou e saio em um desespero
tão grande de casa que mal penso em trocar a minha roupa.

Quando chego ao hospital, corro pelos corredores estreitos e extremamente brancos,


como se a minha vida dependesse inteiramente disso. Eu estou à beira da loucura, parece que o
mundo resolveu me mastigar e depois me cuspir aos pedaços. Não tem uma parte do meu corpo
em que não sinto dor. Agora, mais do que nunca, a vida me mostra a sua face mais implacável e
a sensação de impotência e desespero me envolve como uma sombra sufocante.

O que mais poderia dar errado, meu Deus?


Capítulo 06
— Vou até a recepção para anunciar a nossa chegada, Rory. — Cely avisa, um sorriso
iluminando os seus lábios, enquanto vejo o brilho em seus olhos.

— Claro, enquanto isso, vou me sentar ali. — Aponto com o dedo em direção às cadeiras
vazias, onde vejo duas mulheres muito bonitas, parecendo bastante íntimas.

Ela concorda com a cabeça e eu me encaminho para as poltronas que indiquei segundos
antes, sentindo os meus passos pesados. Hoje é o dia mais incomum de toda a minha vida, penso,
sentindo o aroma de limpeza da clínica enquanto me ajeito na cadeira, aguardando Cely nervosa
como nunca estive na vida. Balanço as pernas involuntariamente, um gesto de nervosismo
impossível de conter no momento.

— Nervosa? — Olho na direção da voz que me chama a atenção, deparando-me com dois
pares de olhos verdes.

— Bastante! — Confirmo sorrindo, tentando camuflar o quão apavorada me encontro.

Com isso, sou levada a um emaranhado de lembranças, de tudo que passei nos últimos
dois meses. A minha vida anda parecendo mais com um trem desgovernado, no qual me sinto
impotente na tentativa de deter os acontecimentos desenfreados. Por mais que eu tente reverter a
situação, parece estar além do meu controle. É em momentos como este que nós tomamos
decisões drásticas, capazes de mudar as nossas vidas para sempre.

E eu tomei a minha guiada por um completo desespero, aceitando ser a barriga de aluguel
para o bebê dos patrões da minha mãe. Foi uma decisão extremamente difícil, mas a única
possibilidade que encontrei para salvar a vida dela. E para mim, isso justifica qualquer sacrifício
que eu faça. Estou disposta a percorrer esse caminho tortuoso se for o único meio de não perder a
minha mãe.

— Nós também estamos muito nervosas, a nossa inseminação está marcada para daqui a
pouco. — A loira suspira e a morena de cabelo liso aperta os seus dedos em um gesto de apoio,
sussurrando que tudo iria dar certo.

Isso me faz pensar em como queria ter a minha mãezinha comigo agora, mas sei o quanto
seria difícil. Ela teve uma reviravolta em seu caso e, há algumas semanas, com o novo
tratamento, ela vem apresentando melhoras significativas.

— E você, o que faz aqui? Me parece ser tão novinha. — Indaga a morena, me olhando
com curiosidade.

— Amor, você está sendo curiosa demais, vai deixar a moça sem jeito. — Sorrio com a
bronca que ela recebe e levanto a mão à frente do meu corpo, balançando em uma negação para
que ela perceba que não vejo problema em falar sobre isso.

— Ah, tudo bem, desde que entrei aqui, essa é a primeira vez que me sinto calma, de
verdade. Vou ser barriga de aluguel, estou marcada para agora e posso ser chamada a qualquer
momento. — Conto, vendo Cely andando até onde me encontro.

— Entendo, deve ter sido uma escolha difícil para você. — Comenta a loira.

— Você nem imagina o quanto. — Admito, engolindo em seco, com a voz embargada.

Ainda estou com medo, mesmo estando certa do que estou fazendo.

— Vai ficar tudo bem, moça. — A morena tenta me confortar e a sua companheira
concorda com um gesto de cabeça.

— É o que eu mais desejo. — Confesso, olhando para elas e encontrando um olhar que,
por um instante, me acalma.

— Está tudo certo, agora é só aguardar nos chamar. — Cely me avisa, ajeitando-se no
banco ao meu lado.

— Que ótimo. — Confirmo com um aceno de cabeça e Cely segura a minha mão como
apoio.

Após alguns minutos, as garotas com quem eu estava conversando são chamadas. Ambas
se levantam e, antes de entrarem na sala para a fertilização, me desejam boa sorte. Retribuo os
votos e aguardo, com o meu coração disparando algumas vezes, ser chamada.

Ao ouvir o meu nome completo, percebo que o momento em que a minha vida mudaria
pelos próximos nove meses e meu corpo para sempre havia chegado. Levanto-me, sentindo falta
de ar junto com um aperto no peito, mesmo que, em minha mente, esteja certa do que farei, meu
corpo emite sinais contrários.

— É a nossa vez, Rory. — Cely me avisa, apreensiva.

Neste momento, olho para ela e noto o quanto a mulher parece nervosa, a sua pele negra
ficando pálida e a sua boca acinzentada. Sinto a necessidade de falar para ela que tudo dará certo,
mas o celular dela toca neste exato momento, impedindo-me de dizer qualquer coisa. Cely
resmunga algo baixo e, mesmo contrariada, pega o aparelho e olha a tela, um pequeno vinco se
formando entre as suas sobrancelhas finas.

— Não posso ignorar essa ligação; é do trabalho. Pode ir entrando que farei o possível
para não me demorar e poder te acompanhar.

— Está bem, Cely. — Passo pela porta e sigo a atendente por um corredor até entrar na
sala do consultório. A mudança de temperatura faz com que os pelos do meu corpo se ericem.

Quando vejo a médica sorrir para mim com simpatia ao mesmo tempo em que me
cumprimenta, percebo que não é a mesma doutora que me acompanhou no processo que
antecedeu a implantação do embrião.

A Dra. Roberts me explica que a médica responsável pelo procedimento teve que ir a
uma conferência de última hora e que por este motivo seria ela quem realizaria o procedimento.
Mesmo um pouco apreensiva, a médica me passa todas as informações necessárias para
seguirmos adiante. Aguardo a presença de Cely, olhando para a porta na esperança de que ela
entre para me acompanhar, mas ao perceber que isso não irá acontecer, comunico à médica que
podemos prosseguir.

Ela me entrega gentilmente o roupão e indica o local para que eu possa me trocar. Entro
na pequena sala mencionada, com alguns cabides, retiro minhas roupas e as coloco neles. Visto o
roupão, prendo os meus cabelos em um coque alto e retorno à sala onde a médica me aguarda.
Ela me conduz até a maca, onde me deito e o papel sob mim faz alguns barulhos.

— Como está se sentindo hoje? — Ela me indaga, sentando-se em frente às minhas


pernas, já na posição certa.

— Nervosa, mas pronta para isso. — Respondo, apertando os meus dedos dos pés e
sentindo o meu rosto pinicar.

— Entendo. Vamos fazer o seguinte: para te deixar mais calma, vou te passando cada
etapa do processo. O que me diz?

— Bom, muito obrigada pela atenção. — Concordo, com a respiração forte e o meu
estômago revirando de uma maneira que deixa a minha boca amarga.

Tenho que me acalmar... Digo para mim mesma.”

— Vamos começar com um exame rápido antes de prosseguirmos. Relaxa, você está em
boas mãos. — Ela começa a preparar os instrumentos enquanto eu tento controlar a minha
ansiedade.
— Vamos começar com uma ecografia para garantir que tudo esteja no lugar certo. — As
imagens na tela mostram detalhes internos do meu corpo, enquanto a médica explica cada etapa.
Aos poucos, minha apreensão diminui e eu relaxo o corpo.

— Isso é normal, Dra. Roberts? — Inquiro.

— Sim, absolutamente normal. Agora, vou preparar a solução para o procedimento. Você
pode sentir um leve desconforto, mas farei o possível para tornar isso o mais suave possível. —
Enquanto ela trabalha, nossa conversa continua servindo como uma distração útil para o que está
acontecendo.

— Está tudo pronto. Vou começar o procedimento agora. Apenas relaxe. — Enquanto ela
conduz o procedimento, sinto uma sensação peculiar, mas sem dor. A Dra. Roberts continua a
me guiar com palavras tranquilizadoras, assegurando-me de que tudo está indo conforme o
planejado.

— E pronto. Agora, é só esperar. — Abro os meus olhos, que nem tinha notado que
estavam fechados. — Estou otimista de que teremos boas notícias em breve.

Eu espero, pois não desejo passar por isso novamente, penso, mas não externo.

— Nossa, foi rápido. Eu nem percebi. Estava tão nervosa que acabou bloqueando
qualquer outra sensação. — Falo sorrindo.

— É rápido e simples. Daqui a dez dias, é só fazer um beta HCG ou, se preferir, um
exame de farmácia, e comemorar. Temos grandes chances de que desta vez vai dar certo. Você é
jovem, saudável e acredito que vai gerar um bebê lindo.

— Não, a Cely e o seu esposo é quem terão um bebê lindo. — Me despeço da médica e
agradeço toda atenção e paciência que ela teve comigo.

Logo que saio da sala, encontro Cely, que, assim que me vê, se levanta rapidamente e
caminha quase correndo em minha direção. Me surpreendo com o seu abraço apertado e ela me
agradece por ter aceitado gestar o seu sonho. Engulo em seco e não sei o que dizer, pelo fato de
que, se não fosse pela situação em que me encontro, jamais aceitaria.
Capítulo 07
O som suave da música clássica preenche o estúdio, enquanto me entrego de corpo e
alma à dança, utilizando todo o espaço que tenho em passos leves coreografados por mim. Este é
o último ensaio que faço antes da apresentação regional, que acontecerá neste final de semana.
Foram meses de ensaios e mudanças constantes em meu corpo.
Deslizo os meus pés pelo chão com a graça e a delicadeza que a melodia me inspira. Em
seguida, faço um arabesque, que agora, com a barriga de seis meses, tornou-se um desafio de
equilíbrio para o meu corpo pesado. Ao final da música, sorrio enquanto caminho rapidamente,
com a respiração entrecortada, indo até a pequena câmera filmadora que coloquei em um ponto
estratégico do estúdio. Fiz isso para conferir a gravação depois e acertar alguns erros, visando
atingir o melhor resultado possível. Afinal, o bom bailarino está sempre à procura da perfeição
nos palcos.
Caminho até a parede de tijolos pintados e, enfim, escorrego as minhas costas por ela até
me sentar no chão, com a câmera em mãos, me rendendo à urgente necessidade de descanso que
sinto.

A música ainda ressoa em minha alma, cada nota reverberando enquanto o meu corpo
permanece vibrante por causa da dança. Observo a performance uma, duas, três vezes, fazendo
anotações mentais sobre o que preciso aprimorar. Na quarta vez que assisto ao vídeo, meus
pensamentos fogem de mim.

Grávida! O grito de Cely invade os meus ouvidos ao ler o resultado do exame de sangue
que confirma que o procedimento deu certo. Nos dias que antecederam o resultado, Cely estava
em uma viagem de trabalho, o que a impediu de estar tão presente quanto desejava. Ela estava
com medo de que eu não tivesse me cuidado direito, mas eu fiz de tudo para que o bebê ficasse
seguro dentro de mim, pois eu não queria ter que passar por todo o processo novamente.

Ela e o marido choram, ao mesmo tempo em que se abraçam, celebrando a felicidade que
sentem com a confirmação de que finalmente serão pais. Estou feliz por poder ajudá-los com a
realização desse sonho, pois a minha mãe trabalha para eles há anos e sempre falou dos patrões
com carinho e respeito , por isso sei que são boas pessoas.

No entanto, ainda é confuso para mim administrar toda a enxurrada de sentimentos que
me atinge, parte deles sendo causados pelos hormônios da gravidez em alta no meu corpo. Sei
que há uma vida crescendo em meu ventre, que depende totalmente de mim. No entanto, quanto
mais rápido eu compreender que essa criança não é minha, será melhor para todos. Preciso evitar
criar afeto, mas também sei que devo transmitir amor, pois o bebê sente tudo o que a mãe sente.
O problema é que eu não sou a sua mãe e essa confusão está acabando com o meu emocional.

No momento, a melhor coisa a se fazer é viver um dia de cada vez. Contudo, os meses
foram passando rápido e a cada exame, cada ultrassom e novidade sobre o bebê, que Cely e
Andrey optaram por não saber o sexo até o nascimento, eu compartilhava com ela e tentava os
deixar viver o momento da melhor maneira que eu podia.

Mas quando eu senti o primeiro movimento, não fui capaz de me manter distante dos
meus sentimentos e desligar as minhas emoções, pois a ligação foi forte e intensa demais entre
nós. Experimentei algo tão grandioso que tive medo do vínculo que estava desenvolvendo com
esse pequeno ser. A partir desse momento, eu passei a conversar com ele constantemente e ele
parece reconhecer a minha voz a cada vez que acaricio a minha barriga e converso com ele,
tornando ainda mais difícil me manter distante dele.

É como se o bebê quisesse me assegurar de que tudo estava bem e muito divertido aqui
dentro. Eu fazia piruetas do lado de fora, enquanto ele fazia as suas dentro de mim.

No entanto, não posso negar o medo que a cada dia se torna maior quando penso no
momento em que não poderei mais tê-lo seguro dentro de mim. O receio pelo vazio que irei
sentir me faz sofrer por antecipação, mas me apego à esperança de que, aos poucos, tudo voltará
ao seu lugar.

O alarme do meu celular me desperta das minhas lembranças, me avisando que tenho que
tomar a vitamina antes de me encontrar com a minha mãe no hospital. Ela está fazendo
hemodiálise hoje e de lá mesmo nós vamos juntas para casa. Me levanto com um pouco de
dificuldade e vou até onde deixei a minha bolsa, pegando a cartela e colocando o comprimido na
boca, o engolindo com dificuldade, sentindo passar dolorido pelo canal da minha garganta, pois
esses comprimidos de vitaminas são enormes.

Me organizo o mais rápido que consigo, fecho todo o estúdio e saio. Peço um carro por
aplicativo e em menos de vinte minutos estou entrando no hospital. Fico algum tempo esperando
na recepção e logo vejo a minha mãe vindo em minha direção com um sorriso. Já sei que ela vai
reclamar por eu ter vindo para cá, pois ela anda mais cuidadosa do que o normal comigo.

— Oi, mãezinha, como a senhora se sente? — Indago, dando os últimos passos em sua
direção.

— Eu estou ótima, filha, e já falei que você não precisa vir mais para cá para me levar
para casa depois do procedimento. — Ela reclama com um sorriso pequeno se formando no
canto dos seus lábios.

Passo o meu braço ao redor do seu ombro e respondo.

— Preciso sim, mãe. Sei que a senhora está em plenas condições de ir para casa sozinha,
mas eu gosto de vir para garantir que vai estar em casa com segurança, caso contrário não me
acalmaria até que a visse passar pela porta.

— Certo, minha menina. — Ela sorri abertamente, aquecendo o meu coração.

Viro o pescoço e deposito um beijo em seu rosto, lembrando-me quando ela acordou do
coma depois de quase dez dias e eu mal conseguia respirar sem sentir dor, com medo de que se
eu saísse de perto dela para trabalhar ou estudar ela pudesse não estar mais lá para mim quando
eu voltasse. Chorei por noites, pedindo a Deus para que ele ouvisse as minhas preces, chegando
ao ponto de barganhar com ele para que a minha mãe acordasse e quando enfim ela abriu os
olhos vagarosamente, eu consegui acalmar todo o meu interior.

No decorrer dos dias, percebi que ela estava melhorando e contei para ela que tinha
aceitado a proposta dos seus patrões. Mamãe se desesperou e suplicou que eu voltasse atrás na
minha decisão, porém eu já tinha dado a minha palavra e mesmo tendo vinte anos eu sei o valor
delas.

Tive que ouvir a minha mãe falar várias vezes que não queria que eu atrasasse o meu
futuro ou oprimisse os meus sonhos por causa dela, entretanto, eu tinha plena certeza de que o
meu futuro poderia esperar e que os meus sonhos sempre estarão aqui ao meu alcance quando eu
voltar a lutar por eles.
Dona Megan me ensinou a ser forte e nunca desistir diante dos desafios que a vida nos
apresenta. Porém, de uma coisa eu tenho plena convicção: não saberia lidar com a falta que ela
me faria. Quando ela percebeu que não iria conseguir mudar a minha decisão, mamãe me
abraçou e nós choramos juntas por algum tempo, até que tudo se silenciou e ela me garantiu que
estaria ao meu lado e me daria todo o apoio que eu precisasse.
Em frente ao espelho, faço os retoques finais da maquiagem, adicionando um pouco mais
de brilho nos lugares certos. Logo em seguida, passo a mão pela lateral do meu corpo, ajustando
a minha roupa, meticulosamente feita sob medida e que abraça o meu corpo de forma a me
proporcionar conforto. No entanto, mesmo com toda a preparação, o nervosismo em mim é tão
palpável que consigo sentir as pontas dos meus dedos latejarem.

Respiro fundo, buscando acalmar os batimentos acelerados do meu coração. Entretanto, a


tensão paira no ar quando, junto a um grupo de colegas que compartilham da mesma expectativa,
recebemos o aviso do ponteador para nos dirigirmos às nossas posições no palco. Caminhamos
em passos apressados pelo corredor estreito, parando algumas vezes para ceder espaço aos
bailarinos que já tinham se apresentado.

Vozes e vibrações positivas preenchem o espaço, fazendo os meus nervos pulsarem,


enquanto o caminho parece encurtar diante da iminência da apresentação. Bato a ponta dos meus
dedos na lateral dos meus quadris e solto o ar devagar, tentando me acalmar, enquanto dou os
últimos passos e me posiciono do lado direito do palco, de onde posso observar sem ser vista,
contemplando a graciosa dança do casal que antecede a minha.

Eles deslizam pelo cenário, pintando o lago do cisne com movimentos que parecem
transcender a realidade. A beleza da coreografia ecoa pelos bastidores, intensificando ainda mais
a ansiedade que pulsa em meu peito. Cada segundo parece chegar perto de uma eternidade
enquanto aguardo o meu momento.
Quando a música deles chega ao fim, as primeiras notas do piano são como um chamado
que atendo, guiando os meus passos, que ressoam levemente pelo palco, criando uma harmonia
perfeita com a melodia. Meu coração dispara com força, fazendo com que eu sinta o seu
bombear pela minha garganta e o bebê sinta a minha emoção, chutando forte em resposta.

Levo a mão à minha barriga e converso com o pequeno em um quase sussurro,


percebendo que ele também está agitado com o meu nervosismo.

“É a nossa vez, amorzinho. ” Comento, olhando a minha barriga.

Em seguida, ajeito o meu tule e faço a posição inicial, começando o solo de ballet
clássico. Meu olhar está fixo em cada elevação das minhas mãos, enquanto os meus passos
seguem uma coreografia sincronizada. A música suave envolve o ambiente e eu inicio a dança
com graciosidade. Meus braços se movem como penas, desenhando arcos no ar, a minha postura
ereta e elegante, refletindo a confiança que sinto.

Dou um passo, dois, e no terceiro, me entrego totalmente à arte, me esquecendo de todo o


nervosismo sentido anteriormente. O meu mundo fica cinza e eu me rendo a cada toque e passo
que me levam a mais outros, vivendo o momento em que sou apenas eu, o piano e a minha
paixão pela dança que vem desde a minha infância, quando ganhei de presente uma caixinha de
música com uma bailarina na ONG em que fazia parte e me encantei.

Falei para a minha mãe que eu queria dançar assim um dia e ela me sorriu, dizendo que
eu poderia ser e fazer o que eu quisesse, que não existiam limites para os meus sonhos e desde
então eu nunca mais parei.

Meus pés, calçados com sapatilhas de ponta, tocam o chão com leveza, criando uma
sinfonia de passos que complementam a música. O bebê, que se agita em minha barriga, parece
dançar junto comigo, como se entendesse a magia do momento. Toco levemente a minha barriga
e em seguida estendo o braço com leveza, olhando na direção. À medida que a dança se
aproxima do clímax, o palco se ilumina ainda mais, destacando cada movimento meu.

Quando a última nota do piano ressoa, encerro a performance em uma pose final. Olho
em direção à plateia, notando o mar de pessoas que me assistem. O público fica em silêncio por
um instante, antes de explodir em aplausos. Sinto lágrimas escorrendo pelos meus olhos e
molhando a pele da minha bochecha, enquanto os meus lábios se transformam em uma linha
fina. Estou grata por ter conseguido chegar até aqui. Nem sempre se trata de vitória, mas sim de
conquistas. Faço uma reverência em gratidão, enquanto saio do palco ainda na ponta das
sapatilhas.
Capítulo 08

Sentada na cadeira de rodas, observo enquanto ela avança pelos corredores iluminados do
hospital. Deslizo a mão pela minha barriga pela última vez, com um sentimento de desespero e
dor terrível tomando conta de mim. É difícil aceitar que, em instantes, serei separada do meu
pequeno pedaço de amor que se formou dentro de mim. Saber que agora estarei pensando apenas
em mim mesma ao me alimentar ou fazer qualquer atividade cotidiana está me machucando
profundamente, mas estou usando uma máscara tranquila para garantir a todos que estou bem. A
cadeira vai se desacelerando até parar em frente à porta do centro cirúrgico.
— Vou deixar vocês um pouco para trocar algumas palavras antes de entrarmos. —
Balanço a cabeça, assentindo ao que foi dito, enquanto busco a minha mãe com o olhar.

Em seguida, faço o mesmo com a minha amiga, que veio a meu pedido para fazer
companhia a minha mãe na espera do centro cirúrgico. Em circunstâncias especiais, liberaram a
entrada de dois acompanhantes, no caso, os pais do bebê. Eu adoraria ter a minha mãe comigo
neste momento para ser o meu porto seguro quando eu não souber o que fazer lá dentro, mas é
impossível uma terceira pessoa além dos dois.

— Mãe. — A chamo e ela se aproxima imediatamente, segurando a minha mão entre as


suas.

— Filha. — Ela se curva mais em minha direção, os seus lábios quentes encontrando a
minha testa e eu fecho os olhos, sentindo a textura de seus lábios em minha pele. — Que nosso
Senhor te abençoe e proteja neste momento, que possa acalmar o seu coração. Quando tudo
acabar, meu amor, estarei aqui na porta esperando por você. E irei cuidar de você e garantir que
tudo fique bem. — Engulo em seco e a minha vista fica embaçada.

Abro os lábios e solto a respiração antes de conseguir responder. Por mais que tente
disfarçar com sorrisos, minha mãe sempre reconheceu em meu olhar como eu realmente me
sinto, mesmo que, como agora, eu tente disfarçar.

— Está bem, mãe. E você, Lility, cuida dela para mim? Promete que não vai deixar ela se
preocupar muito caso eu demore um pouco mais lá dentro. — Peço para minha amiga.

— Pode deixar comigo, amiga. Estou aqui para isso. Não irei sair do lado da tia nem para
ir ao banheiro. Mas agora vai lá colocar esse bebezão no mundo.

— Sim. — Confirmo com um sorriso e chamo as enfermeiras para que possamos entrar.

Estou com trinta e nove semanas e cinco dias de gestação. Confesso que, se dependesse
apenas de mim, permitiria que o bebê viesse ao mundo no seu próprio tempo, sem necessidade
de uma cesariana. Só de pensar em quantas camadas de gordura serão cortadas de mim lá dentro,
fico tonta e o bebê pode se assustar ao ser arrancado tão repentinamente de dentro de mim. No
entanto, Cely e o marido fizeram um mapa astral para o bebê e afirmaram que hoje é um dia
extremamente propício para o seu nascimento, prometendo que o pequeno terá muita sorte.

O casal optou por uma cesárea, minando completamente qualquer chance que eu tinha de
expressar os meus desejos. Eles sempre, de maneira delicada, me faziam lembrar que, mesmo o
corpo sendo meu, a decisão era deles, pois, de certo modo, eu me comprometi por nove meses.

Me despeço da minha pequena família, enquanto a enfermeira gira a cadeira e trocamos o


último olhar, cheio de carinho. Ao entrar na sala, o cheiro familiar de antisséptico preenche o ar,
aumentando o arrepio que sinto na espinha. A enfermeira me ajuda a me sentar na cama e a ficar
na posição certa para o anestesista.
Com mãos habilidosas e conversando para me acalmar, ele penetra suavemente a agulha
nas minhas costas. Sinto um formigamento se espalhando pela minha coluna, anestesiando cada
parte do meu corpo. A sensação é estranha. Logo sou deitada e a dormência começa a se espalhar
pelas minhas pernas.

Tento manter a calma, observando a movimentação ao meu redor e vejo que Cely e
Andrey estão em frente a mim, com as roupas apropriadas. Um pano azul é estendido em minha
frente, impedindo-me de ver quem está por trás dele. Foco o meu olhar no teto, observando a
iluminação interna. A música escolhida por Cely começa a soar pela sala e eu relaxo, sentindo
apenas uma leve pressão e movimentos na minha barriga.

Minutos depois, o som tão esperado preenche o ambiente, juntando-se à música. Ele é
forte e tão lindo que faz o meu coração dar um salto. É como se todo o ar dos meus pulmões
fosse sugado. Meus olhos se enchem de lágrimas, enquanto a enfermeira me avisa que a bebê
nasceu.

— É uma menina? — Deduzo, com um sorriso nos lábios e a moça confirma com a
cabeça.

Tento inutilmente levantar a minha cabeça para ver se consigo ver alguma coisa, mas é
impossível. Uma onda de emoção misturada com uma pontada de tristeza me atravessa e eu
constato que não posso vê-la, tocá-la ou sequer segurar o seu corpinho quente junto ao meu. É
aqui que se encerra o laço que criamos durante a gravidez. Eu tento compreender enquanto o
desespero me toma e levo a mão a cabeça, me sentindo mal. A realidade é avassaladora e apesar
de ter saído de mim, ela não é minha e isso me pesa como um fardo doloroso.

— Rory, o que você fez? — A voz de Cely irrompe pela sala, atravessando com
brutalidade e chegando onde me encontro deitada e completamente impotente.

Os seus olhos avermelhados e tempestivos me rasgam, em uma mistura de raiva e


sofrimento que não consigo entender. Seus lábios tremem e ela tenta dizer mais alguma coisa,
sendo acolhida pelo seu marido. Ele balança a cabeça em sinal de desaprovação e ambos me
encaram como se eu tivesse feito algo errado.

— Essa criança não pode ser nossa! — Ela vocifera, o desespero ecoando em suas
palavras.

As acusações pesam no ar, como se tivessem o poder de me sufocar. Ainda meio tonta
pela anestesia, sacudo a cabeça tentando processar o que foi dito e volto a olhar novamente na
direção dos pais do bebê que eu carreguei por nove meses e que, por mais que esteja sentindo a
dor até o último fio de cabelo do meu corpo por ter que entregá-lo, quero saber de que merda eles
estão falando.

— Você nos enganou, sua desgraçada! — Andrey ruge em minha direção, os seus olhos
soltando faíscas furiosas.
Balanço a cabeça, perdida.

— Como ela não é de vocês? — Arregalo os olhos e a minha voz sai fraca. Minha cabeça
se torna pesada demais e os meus olhos se fecham sem conseguir dizer mais uma palavra a
respeito.
Abro os meus olhos lentamente, sentindo o peso deles como se fosse uma tonelada. A
primeira visão que tenho é da minha mãe diante de mim, o rosto cheio de preocupação.

— Oi, meu amor, já estava ficando desesperada com o tempo que você estava dormindo.
— Ela fala, enquanto a minha mente retorna aos últimos instantes antes da escuridão me
envolver.

Ergo o meu corpo, tentando me levantar com pressa, no entanto a dor que sinto é
insuportável, me impedindo de continuar.

— Filha, não. Você não pode se levantar assim após uma cesárea. — A voz da minha
mãe me parece distante enquanto o quarto gira e a minha cabeça parece estranha.

— Mãe, a Cely... — Paro de falar, sentindo a minha garganta seca. Umedeço os meus
lábios. Estou com sede, muita sede, mas a urgência por respostas é maior. — Lembro que ela
disse coisas que não compreendi.

Observo as feições da minha mãe mudarem, os seus olhos se transformando em poças de


lágrimas, aumentando ainda mais a minha tensão e confusão.

— Eles estão alegando que a bebê não pode ser deles. — Sinto o meu corpo tenso, me
recostando nos travesseiros atrás de mim.

As mãos macias da minha mãe buscam as minhas, geladas.


— Isso não faz o menor sentido, mãe. — Sussurro, apertando os meus lábios e
balançando a cabeça em uma negativa confusa.

— Eu entendo, meu amor, e eu também não sei o que está acontecendo. — Ela arfa,
nervosa, soltando a minha mão e percorrendo o quarto em passadas rápidas de um canto para o
outro, passando a mão pelos cabelos em tranças afro bem presas.

— Brigaram comigo e mandaram colocar o bebê para a adoção. — O ar some do meu


pulmão e eu me sinto sufocada somente em cogitar essa ideia absurda deles.

— Não, mãe, onde ela está, eu posso... — Faço uma pausa, o meu coração batendo forte e
a minha cabeça voltando a girar novamente. — Eu posso vê-la?

— Sim, claro. Eu não consegui, mas acredito que você possa porque, durante o tempo em
que dormia, tentei me informar sobre o que iria acontecer com a criança. E descobri que eles não
a colocariam para adoção até que você, que teve o bebê, liberasse. — Suspiro aliviada.

— Mãe, eu quero conhecer a bebê, por favor. — Imploro desesperada e a minha mãe
volta a me olhar.

Seus dedos quentes acariciam o meu rosto e o seu olhar marrom intenso se fixa nos
meus.

— Eu daria a minha vida para você não estar passando por isso, meu amor. — Sinto a dor
em cada palavra proferida por ela e fecho os olhos com força, lágrimas manchando as minhas
bochechas e um soluço escapando pela minha garganta.

Não entendo o que está acontecendo, a dor das acusações massacrando o meu coração e
eu me desmancho em lágrimas, sendo consolada pela minha mãe.

Ficamos assim por um longo período até que os meus soluços cessam e ela se levanta,
dizendo que irá trazer a bebê para mim. Meu coração dispara ansioso, a minha respiração se
acelera em meu peito e os segundos se transformam em minutos. Quando a porta se abre
novamente, vejo um berço de acrílico com rodinhas sendo empurrado por uma enfermeira em
minha direção. Meu coração volta a bater forte e quase posso jurar que todos aqui conseguem
ouvi-lo.

A enfermeira para com o berço ao lado da minha cama e eu divido o meu olhar entre ela
e o pequeno embrulho. Abro levemente os lábios para dar conta de todo o ar que preciso para
não me sentir sufocada pelas emoções.

— Eu posso? — Ergo os braços, estendendo-os em direção a bebê, perguntando com


medo.
— Mas é claro. — Ela se curva, pega o embrulho com cuidado e, com sutileza, passa a
bebê para os meus braços. Ao olhar para a pequena pela primeira vez, suspiro, tentando controlar
o mar revolto de emoções que me atingem como uma onda intensa.

— Oi, meu amorzinho! — Minha voz fraca quase não sai e eu sorrio ao mesmo tempo
em que as minhas lágrimas caem nos paninhos que a envolvem.

Ela é tão linda! Branca como a neve. Como isso é possível? Cely e Andrey são pretos
como eu. Mas nada disso importa além dela em meus braços neste momento.

— Ela está sozinha desde ontem? — Indago.

— Sim, os pais foram embora e levaram a bolsa de roupas, dizendo que a bebê não tinha
que ter nada deles, já que foram enganados.

— Ela não recebeu nenhum amor desde que saiu de mim?! — Deixo escapar um lamento.

Ouvir que a bebê estava apenas envolta em panos faz o meu coração ficar apertado, mas
nada me fere mais do que o fato de saber que ela não se sentiu amada até agora. A amei desde o
primeiro instante em que a senti se mexer dentro de mim, mesmo sabendo que não era meu bebê.
Meus lábios tremem e eu olho para a pequena que abre os olhos, extremamente azuis ao ouvir a
minha voz abafada na dor que me atravessa.

— Você ainda não recebeu amor das pessoas que deveria, mas eu sempre te amei e
sempre irei te amar, minha bonequinha. Não importa de quem você seja, você é minha a partir
deste exato momento e a mamãe te ama. — Aperto o seu corpinho com cuidado contra o meu,
sentindo o seu cheiro, não me importando com mais nada além da decisão que acabo de tomar.
Capítulo 09
Enquanto ela suga o meu peito com vontade, eu acaricio a sua cabecinha com cuidado,
completamente encantada. Embora todos aqui, principalmente a minha mãe, me assegurem que
ela nasceu grande e bem gordinha, eu a vejo frágil e delicada, como se pudesse se machucar a
qualquer instante.

— Está pronta para ir para casa, filha? — Respiro fundo, pensando brevemente em sua
pergunta, Pois me sinto tensa e preocupada com o que vai ser de agora em diante.

Quando entrei aqui, eu era responsável apenas por mim mesma, mas agora, neste
momento, saio daqui sendo responsável por uma vida e confesso que estou com medo de fazer
algo errado ou de não dar conta de tanta responsabilidade. Mas toda vez que a olho, ganho forças
para continuar.

No exato momento em que me preparo para responder a minha mãe, ouço batidas na
porta e a minha atenção é desviada dela para o som que vem da porta, que se abre lentamente.
Vejo a minha amiga querida e um pouco doidinha colocar metade do corpo para dentro, com um
sorriso enorme e contagiante nos lábios e é impossível não sorrir de volta.

— Posso entrar? — Lility indaga com bom humor e a minha mãe e eu respondemos em
uma única voz, gerando um som um pouco mais alto do que o esperado.

Minha amiga adentra o quarto, com seus passos alegres e carregando uma montanha de
sacolas, despertando a minha curiosidade. Ela não é o tipo de pessoa que tem o costume de
comprar em exagero. O que será que deu nela hoje?

— Que bom que ainda peguei vocês aqui. — Comenta, parando ao pé da cama.

— Foi por pouco, viu? Estou só dando de mamar para essa gulosinha antes de irmos para
casa. Não aguento mais ficar aqui. E já percebi que quando ela está com fome fica muito, muito
irritada e, em contrapartida, eu fico desesperada e sem saber o que fazer para acalmá-la. —
Confesso baixo e com um sorriso sem graça.

— É assim mesmo, filha! De início, eu ficava do mesmo jeito com você. — Minha mãe
relembra, me dando um olhar cúmplice.
Em pensar que agora nós duas trocaremos experiências.

— Mas aos poucos você vai acabar se acostumando, você vai ver.

— Ah, eu espero mesmo, mãe. — Murmuro.

— Fique tranquila, filha, você vai ser uma mãe maravilhosa. — Sorrio com seu incentivo.

— Se eu conseguir ser metade da mãe que a senhora é para mim já fico grata. — O peito
da minha mãe se enche de ar ao me ouvir; em seguida, ela responde que serei. Agradeço e me
viro para Lility. — E você, por que está com esse monte de bolsas? Por acaso, assaltou uma loja
antes de vir para cá? — Indago, não conseguindo conter a minha curiosidade.

Minha amiga gargalha achando graça do que digo e encolhe a nossa distância, se
aproximando mais de mim. Ela ergue o pescoço e olha para a minha pequena que ainda mama
sem se importar com nada além do peito.

— Miga, todos lá na faculdade já ficaram sabendo sobre o que aconteceu com você. —
Ela faz uma pausa, fazendo com que eu a fite com mais atenção.

— Sim, e daí? — Balanço a cabeça. — O que isso tem a ver com esse monte de sacolas
em suas mãos?

— Tem a ver que todos resolveram ajudar de alguma forma.

— Nossa, então você quer dizer que... — Suspiro emocionada e surpresa quando
compreendo.

— Sim, é isso mesmo o que você está pensando, amiga.

— Caramba, eu não esperava por isso. — Levo a mão livre a boca em puro espanto.

Lility coloca as sacolas em cima da cama e começa a me mostrar tudo o que os nossos
colegas deram para a minha bebê, que embora eu tenha alguns nomes em mente, ainda não defini
o seu até o momento. Mas isso tem que ser decidido logo, pois não dá para ficar a chamando de
bebê toda hora, e fora que antes de sairmos do hospital temos que fazer o seu registro de
nascimento.

Minha mãe saiu ontem para comprar algumas coisas que eram mais necessárias no
momento para a minha filha e algumas mãezinhas do hospital também se sensibilizaram com a
nossa história e nos presentearam com algumas roupinhas. Eu não tenho costume de ficar
aceitando presentes de pessoas desconhecidas, mas também não posso me dar ao luxo de ser
orgulhosa neste momento, pois a minha filha não tem nada. Eu jamais cogitei que a vida pudesse
dar uma virada como essa e nela eu me tornasse mãe da noite para o dia.
— Olha essa aqui, Rory, eu mesmo quem a comprei, lavei com sabão neutro e coloquei
de volta na caixa. É o meu presente para ela. Dizem que dar sorte o bebê sair do hospital de
vermelho. — Lility fala animada, retirando a tampa da caixa e com cuidado pegando a peça entre
os dedos e me mostrando um lindo macacão de linho em um tom vermelho que vem
acompanhado de uma tiara da mesma cor e é a coisa mais linda que eu já vi.

— Muito obrigada, Lility, você é incrível, amiga! — Agradeço encantada e faço uma
pequena pausa. — Eu te amo!

Desvio o olhar dela para a minha bebê linda, analisando cada detalhe delicado do seu
rosto. E mesmo que pareça loucura da minha cabeça, eu tenho a impressão de que a sua
boquinha é igual a minha. Eu sinto na minha alma desde a primeira vez que a vi que ela é minha
filha biológica e assim será, independente do que qualquer teste de DNA possa dizer.

Pensando nisso, sinto um estalo na mente e tenho certeza de que este nome é perfeito
para ela. Logo que tenho a minha decisão tomada, volto a olhar para a minha amiga e falo com
um sorriso surgindo em meus lábios.

— A Fay vai te amar tanto quanto eu.

— Fay… — Ela repete em voz baixa, Como se quisesse memorizar. — Ah, meu Deus…
Tá ouvindo isso, tia? Nós agora temos um nome para a nossa princesa… E que nome lindo,
Rory! — Ela fala, me abraçando com carinho.

— Ah, meu Deus, filha… Então esse vai ser o nome da minha netinha. — Minha mãe se
aproxima de nós e completa o nosso abraço. — Rory, sei como esse começo está sendo difícil
para vocês duas, mas espero que vocês tenham uma vida feliz e tranquila.

— Eu também espero com todo o meu coração, amiga. Mas agora está na hora da gente
ir.

— Claro, você tem razão. — Ela concorda e guarda as roupinhas nas sacolas, deixando
apenas o macacão em cima da cama.

Desmamo a Fay, que adormeceu em meu peito e como a minha mãe e as enfermeiras me
ensinaram, a coloco em pé entre os meus seios, com a cabeça encostada em meu peito e
apoiando a mão em suas costas, dando leves batidinhas até que escuto o seu arroto.

Enquanto isso, minha mãe e Lility organizam as coisas e antes de irmos, eu visto a minha
filha com o macacão vermelho que a minha amiga deu e ela fica a coisa mais linda.

Tiramos uma foto com as enfermeiras que nos ajudaram no tempo em que ficamos aqui
para guardarmos de lembrança e, antes de sairmos do hospital, a enfermeira recolhe o nosso
sangue para o teste de DNA. Se há alguma coisa errada, quero ser a primeira a saber, mesmo que
eu sinta que ela é minha.

Assim que o sangue é tirado, pegamos um táxi e paramos em frente a nossa casa. Quando
desço do carro com a ajuda da minha mãe e amiga, percebo olhares de curiosidade dos vizinhos
sobre nós, mas ignoro toda atenção indesejada que estamos recebendo e entro em casa.

Assim que passo pela porta, o cheiro familiar me acalma. Como senti falta da minha
casinha... Ando devagar pelo cômodo, pois os pontos doem a qualquer movimento brusco que eu
faço. O motorista do táxi é gentil e ajuda a minha mãe e amiga a colocarem as coisas dentro de
casa. Enquanto eu ando com a minha filha no colo, sussurro baixinho em seu ouvido que essa é a
sua casa e prometo que, mesmo sendo simples, ela será muito feliz e amada aqui dentro.

Quando chego na porta do meu quarto e empurro, me surpreendo ao ver um carrinho e


um bercinho ao lado da minha cama e os meus olhos se enchem de lágrimas. Olho para trás e
encontro a minha mãe e a minha amiga rindo.

— Filha, é simples, mas é de coração.

— Oh, mãezinha! — Meus lábios tremem e as minhas lágrimas pingam do meu queixo,
mais uma vez, eu não esperava por isso e para mim estava tudo bem, desde que nós estejamos
juntas.
Capítulo 10

Sentada no banco, aguardo o resultado do teste de DNA e penso em como a minha vida
virou de cabeça para baixo nos últimos tempos. Sinto a minha pulsação acelerar e não é pela
perspectiva de me tornar mãe, pois já me sinto assim desde o instante em que segurei a Fay pela
primeira vez em meus braços. Com o passar das semanas, nossos laços só têm aumentado, assim
como a certeza de que ela é minha filha.
No primeiro banho que demos nela em casa, minha mãe apontou para a mesma marca de
nascença na costela direita que eu compartilho com ela, uma marca que herdamos da minha avó.
É um sinal familiar, uma espécie de legado que todos os filhos da nossa família carregam
consigo. Ao perceber que Fay também tem a mesma marca no mesmo local e com o mesmo
formato, tudo se encaixou.

Isso apenas confirmou o que eu já sentia em meu coração, reforçando o vínculo que une
as gerações da nossa família. Mas com este teste, quero tentar conversar com Cely e Andrey, que
têm feito dos meus dias um verdadeiro inferno. Venho sendo acusada de coisas horríveis em
minha porta e até mesmo os vizinhos agora me olham torto e alguns mais corajosos me xingam.

Mas estou determinada a lutar para que a verdade prevaleça e assim a minha família
possa viver em paz. Para mim, esse resultado é uma prova inegável de que fui tão vítima quanto
eles de um erro médico e acredito que, com isso, conseguirei convencê-los a parar de me culpar e
a confrontar a clínica onde deveria ter sido implantado um embrião no meu útero, e pelo que
consta, fizeram outro procedimento.

— Rory Jackson Davis — escuto o meu nome sendo chamado e me levanto com um
pouco de dificuldade, mas agora consigo andar muito melhor do que duas semanas atrás.

Pego o envelope branco lacrado e a minha respiração se apressa no peito. Agradeço ao


atendente e decido que vou abrir junto com a minha mãe, que ficou com a Fay na sala de espera
após a primeira consulta com o pediatra. Caminho pelo corredor, até que avisto a minha mãe
com a minha filha no colo.

Ela sorri para mim, compreendendo o quanto eu devo estar uma pilha de nervos. Suspiro,
me sentando ao seu lado e olhando para o envelope em minhas mãos.

— O resultado, mãe. — Falo, com a voz curta, ao mesmo tempo em que lhe mostro o
envelope.

— Rory, meu amor, estamos juntas nessa. Seja lá qual for o resultado, enfrentaremos isso
juntas como uma família. — Ela segura a minha mão e sorri, transmitindo confiança.

Respiro fundo e rasgo o lacre do envelope, retirando com cuidado o papel que pode
mudar completamente o rumo das nossas vidas.Meus olhos percorrem as linhas e por um
instante, tudo ao meu redor parece desaparecer. Então, uma mistura de emoções percorre o meu
corpo e eu sinto um alívio que me faz soltar a respiração que nem sabia que estava segurando.

— Mãe, o teste confirma. Fay é minha filha biológica. — Meus olhos se enchem de
lágrimas, mas são lágrimas de alívio, de justiça. — Finalmente temos a prova que precisamos
para limpar o meu nome.

Minha mãe me abraça de lado por causa de Fay, que está dormindo em seu colo, e eu
permito que as lágrimas rolem livremente pelo meu rosto. Apesar de toda a turbulência, há um
peso que se ergue dos meus ombros, pois é certo que eu não estive com nenhum homem para
existir alguma possibilidade de Fay ser minha filha biológica. Eu estava com a minha mãe doente
no hospital, me dividindo entre cuidar dela, a faculdade e o trabalho. Quando eu teria cabeça para
namorar?

— Mãe, vamos sair daqui agora e ir direto para a casa dos seus ex-patrões. Quero mostrar
esse teste e, se for preciso, implorar para que eles entrem em contato com a clínica para ver o que
aconteceu. Eu quero entender como... — Faço uma pausa, pois necessito respirar e passo a mão
em volta do meu pescoço, me sentindo sufocada. Olho para a minha mãe, os meus olhos
transbordando em lágrimas novamente. — Eu preciso entender o que fizeram comigo. —
suspiro, passando a mão pelo meu rosto.

— Vamos enfrentar isso juntas, Rory. Vamos fazer justiça e garantir que a nossa pequena
família viva em paz. — Minha mãe sussurra palavras de apoio e eu sinto a força renovada pulsar
em meu peito.

Saímos do consultório e pegamos um táxi. Quase vinte minutos depois, estamos em


frente à porta de Andrey e Cely, pedindo para que eles nos atendam. Minhas mãos estão frias e
trêmulas, pois Cely já tentou usar da violência contra mim, quando eu ainda estava no hospital.
Ela foi lá me confrontar pelo fato de ter pago a conta para um filho que não estava em seus
braços. Só não aconteceu o pior porque ela foi retirada por uma enfermeira que proibiu a sua
entrada.

— O que você quer, Rory? Já não causou problemas suficientes? — Andrey diz, com um
tom de desprezo, cruzando os braços em frente ao peito.

Respiro fundo, segurando a mão da minha mãe com firmeza. Fay está tranquila em meus
braços, alheia ao que acontece.

— Andrey, pelos anos em que trabalhei para você e todo o respeito que adquiriu por mim
neste tempo, peço que escute a minha filha. — Minha mãe pede, fazendo com que ele ceda um
pouco.

— Fala, garota, mas aqui mesmo. Não quero que a minha mulher te veja e se aborreça
novamente. — ele fala, ríspido.

—Eu juro que não fiz nada para enganar vocês, Andrey. Fui barriga de aluguel para pagar
o tratamento da minha mãe e agora estou sendo acusada injustamente. Sei que, como juiz, você
tem meios de resolver isso melhor do que eu. Eu não tenho como fazer nada com a clínica, pois
foram vocês dois quem pagaram todo o procedimento. — Estendo o envelope com o exame de
DNA em sua direção e ele o pega com desconfiança. — Eu só quero resolver isso e fazer com
que a clínica seja responsabilizada pelo erro que cometeram.

— Sério, menina? Vai me dizer que esse bebê no seu braço não é fruto de uma noite de
descuido seu? — Ele desdenha, após ler o resultado de DNA. — Você nos enganou, pegou o
nosso dinheiro, gastou o nosso tempo, para no fim... — Andrey faz uma pausa e solta a
respiração de uma maneira que demonstra toda a frustração que sente e caminha para mais perto
de mim.

Paro de respirar, pois ele é um homem grande e forte, e agora para mim, é extremamente
intimidador.

— Eu jamais faria isso, Andrey! Eu estava com a minha mãe doente no hospital e a
minha rotina era cuidar dela, trabalhar e estudar. Eu não tinha cabeça para nada além disso. — os
cantos dos seus lábios se elevam em um sorriso de deboche. Como se tivesse pensando: Eu
nunca me engano! Mas eu posso gritar que sim, ele estava completamente enganado ao meu
respeito.

Andrey pode ser o melhor juiz do mundo, mas quanto a mim, ele está completamente
errado.”

— Eu preciso entender o que aconteceu e saber quem é o pai da minha filha. Eu entendo
que vocês se sentem enganados por mim, é a lógica mais provável. Mas enquanto vocês se
fortalecem em seus julgamentos, estão deixando os verdadeiros culpados impunes. Vocês não
têm o filho de vocês, o qual tanto sonharam, em seus braços, enquanto eu tenho uma filha que,
embora ame, não planejei nos meus. — Eu imploro, buscando um mínimo de entendimento, com
os meus olhos inundados de lágrimas.

— Andrey, pelo amor de Deus, escuta a minha filha. Eu colocaria a minha vida no que
ela diz, pois minha filha nunca foi uma menina de má índole. — Ele fica parado por um tempo,
parecendo pensar no que a minha mãe diz.

— Entra! Espero não me arrepender disso, menina.

Andrey abre a porta e eu entro na sala, sendo seguida pela minha mãe. Minhas pernas
estão fracas, mas mantenho a postura o máximo que consigo. A sala é ampla, com móveis de
luxo e uma grande mesa de mogno no centro. Andrey se senta à mesa e indica com a mão para
que eu faça o mesmo.

— Vamos direto ao ponto, Rory. O que você quer de nós? — sua voz está cheia de
desconfiança e eu respiro fundo, reunindo toda a coragem que tenho.

— Eu quero que vocês entendam que eu não fiz isso de propósito. Eu não desejei essa
situação. Eu passei por um momento difícil com a minha mãe doente e decidi ter o filho de vocês
para poder arcar com o tratamento dela. Nunca passou pela minha cabeça que algo assim poderia
acontecer. — Andrey solta um riso amargo e eleva a sobrancelha, me olhando com desprezo.

— Você espera que eu acredite nisso, garota? Que eu acredite que tudo foi um acaso?
Você seria capaz de qualquer coisa para conseguir dinheiro, Rory. Eu não duvido que tenha
planejado tudo isso desde o início.
Minha mãe segura a minha mão e eu sinto o seu apoio mais uma vez. Ela sempre esteve
ao meu lado e agora não seria diferente.

— Andrey, eu entendo que você esteja desconfiado, mas eu não tenho motivo para mentir
e arruinar a vida de vocês. Você acha mesmo que eu arriscaria fazer uma maldade dessa quando
foram vocês quem pagaram o tratamento da minha mãe e o procedimento de fertilização? Eu
jamais envergonharia a minha mãe ou arriscaria a sua vida. Sei que você não acredita em mim,
mas peço que ao menos considere as minhas palavras, não por mim, mas pela minha mãe que,
durante anos trabalhou para você e nunca lhe deu motivos para duvidar da sua honestidade. Juro
por tudo o que é mais sagrado, pela vida da minha filha que você não vai se arrepender de estar
me ouvindo.

Andrey fica em silêncio por um momento, absorvendo as minhas palavras. Seus olhos se
movem em direção a minha filha, que está dormindo calmamente em meus braços.

— E se for verdade? Se realmente houve um erro por parte da clínica? O que você espera
conseguir com isso? — Ele indaga, me analisando.

Eu respiro fundo novamente, tentando encontrar as palavras certas.

— Eu quero justiça, Andrey. Eu quero que a clínica seja responsabilizada pelo erro que
cometeram. Eu quero que vocês tenham a chance de ter o filho que tanto desejaram. Eu só quero
que essa história termine e que nós possamos seguir em frente. — Há um breve momento de
silêncio na sala e então Andrey parece se render.

— Tudo bem, Rory. Vamos investigar o que aconteceu. Vamos descobrir a verdade e
tomar as medidas necessárias. Mas saiba que não será fácil. E se no fim eu descobrir que você
esteve mentindo para mim, você pagará por todo gasto que eu tiver. Está me ouvindo, garota? —
Ele me encara e eu não desvio o meu olhar do seu por nenhum segundo.

Assinto com a cabeça, compreendendo as suas palavras. Sei que não será fácil, mas estou
determinada a lutar até o fim. Pela minha filha,pela minha família e por mim mesma.

Saio da sala com a minha mãe ao meu lado e vejo Andrey fechar a porta atrás de nós. Eu
ainda sinto um misto de medo e alívio, mas também uma nova determinação. Vamos enfrentar
essa batalha juntos e mesmo sabendo que ela está apenas começando, estou confiante de que, no
final, a verdade prevalecerá.
Capítulo 11

Um ano e meio depois…


As risadas infantis ecoam pelo ar, enquanto me abaixo para ficar na altura do pequeno
Aaron. Seus olhos brilham de pura alegria e os seus cachinhos escuros balançam enquanto ele
corre, com os bracinhos gordinhos estendidos em minha direção. O tempo que dedico para
brincar com esse pequeno sempre me traz um sorriso, tornando-se uma pausa revigorante que
tiro uma vez por semana para recuperar as minhas energias.

Depois de tudo o que nós enfrentamos com a perda do nosso bebê, eu estava certo de que
não teríamos mais a chance de ter uma criança para nos tirar do excesso de trabalho e das rotinas
absurdamente estressantes que vivemos. Mas após uma viagem, Maya e Brenda voltaram certas
de que entrariam na fila de adoção. Maya não queria passar pela dor de perder um filho
novamente e eu já estava conformado de que não nasci para ser pai, afinal, os fatos não mentem.

No fim das contas, foi melhor assim, pois, o que um homem como eu teria para oferecer
para uma criança? Alguém que vive somente para o trabalho. Ser apenas o Dindo que reserva um
dia da semana para estar presente para mim está perfeito e é mais do que eu mereço ter.

— Vem cá, garotão! — Chamo-o, estendendo os braços para ele.

O pequeno corre em minha direção, tropeçando um pouco, mas logo se recompõe com
uma risada contagiante, fazendo o meu peito vibrar de alegria e com isso, sorrio de volta.

Pego-o no colo e o ergo um pouco acima da minha cabeça, ouvindo mais uma de suas
gargalhadas gostosas, que fazem os meus olhos afinarem em resposta. O Coloco no chão
novamente e ele corre pelo gramado verde e brilhante para pegar uma bola colorida no chão.

— Ooh, bola.., Dindo. — Aaron ergue os dois bracinhos, me mostrando a sua bola
colorida.

— Olha isso, carinha, que legal! — Arregalo os meus olhos, fingindo surpresa, enquanto
ele vem até mim, mas, ao avistar a mãe, ele para de andar, parecendo confuso com qual direção
seguir. — Hum, acho que agora perdi o meu protagonismo. — Comento com um sorriso
divertido se formando em meus lábios e decido me levantar.

— Quem diria que um dia nós veríamos um magnata totalmente rendido por alguém que
nem um metro de altura tem direito, hein? — Maya se aproxima mais de Aaron e ele ergue o
bracinho gorducho, mostrando a bola.

— Mamãe, bola. — Ela concorda, enlaçando as pernas dele em sua cintura e caminhando
até onde me encontro.

— Sim, meu amor, a bola do bebê da mamãe. — Assim que ela fica ao meu lado, Aaron
faz força, balançando as pernas para descer novamente, já que esse pequeno, desde que começou
a andar, fica poucos minutos em nossos colos, preferindo desbravar o quintal.

Ela choca o ombro em meu braço, em uma leve batida e eu desço o olhar vagarosamente,
encontrando o seu olhar e percebendo que a nossa conversa vai mudar de ritmo. Fico em
silêncio, esperando ela tocar no assunto.

— Como pretende comemorar o seu aniversário, Ethan? — Tombo a cabeça levemente


para o lado, refletindo sobre a sua pergunta, enquanto mexo os pés em movimentos repetidos,
sentindo a grama por baixo deles.

— O mesmo de sempre, Maia. Pretendo sair daqui e ir direto para a casa dos meus pais e
jantar com eles. — Respondo.

— Certo, e depois? — Ela insiste.

— Contemplar o silêncio do meu lar e descansar para amanhã, tenho uma negociação
importante.

— Sinto saudades dos bons tempos. — A olho com cuidado, estudando os seus traços,
certo de que ninguém mais do que eu sente falta dessa época a que ela se refere.

Passo a mão pela nuca e solto o ar vagarosamente.

— Eles nunca mais voltarão, Maya, nada mais será o mesmo. — Confirmo, ressentindo
cada palavra que profiro. Em uma desculpa para escapar desse tema, olho para o relógio, faço
uma expressão de surpresa e digo: — Eu realmente preciso ir, antes que me atrase para o jantar
com os meus pais.

— Claro, eu te acompanho até a porta. Aaron, vem aqui com a mamãe, Filho! — Ela
chama. — Vamos levar o Dindo até a porta.

Ele repete “Dindo”, fazendo o meu coração dar um salto, quase que para fora do peito, ao
ouvi-lo me chamar assim.

E eu que achava que nada superaria o som da frase “acordo fechado”.


— Oi, carinha! — Respondo com um sorriso bobo que nem se quisesse seria capaz de
controlar.

Ele joga o corpo na minha direção e eu o pego, acariciando o seu rosto enquanto ele deita
a cabeça em meu peito. Ele percebe quando estou indo embora e é um dos momentos mais
difíceis para mim ter que deixá-lo chorando, pedindo para ficar. Assim que atravessamos o
gramado e entramos direto na sala, encontrando Brenda.

— E aí, Ethan! Se eu soubesse que você estava aqui, teria ido lá para fora te fazer
companhia. — Brenda caminha até onde estamos, beijando os lábios de Maya e tocando em meu
ombro logo em seguida.

Ela beija a cabeça do bebê, que não se encontra mais em meu peito por ter ouvido a sua
voz, e fala “mamãe Blenda”.

— A culpa é minha, amor. Você estava tão ocupada revisando esses documentos que
esqueci de comentar. — Maya confessa, um sorriso brincando em seus lábios.

— Mas, como disse a Maya, já estou de saída. — Comento, entregando Aaron nos braços
de Brenda, que o acolhe com carinho.

O pequeno, percebendo que eu estou partindo, resiste, chorando e pedindo para que eu
fique. Mas realmente preciso ir, meus pais moram longe e liberei o meu motorista assim que saí
da empresa. Cada passo que dou para me afastar dele é uma agonia, até que entro no carro, o
colocando em movimento e parando novamente em frente à casa dos meus pais. Desço e
caminho até a porta.

Aperto a campainha e sorrio quando a porta é aberta pelo meu velho pai, que me recebe
com um sorriso iluminado.

— Mais uma primavera, filhão. — Ele abre os braços e eu me encaixo neles, entrando no
cômodo.

O cheiro e a temperatura da casa me acolhem, acompanhados pela melodia do piano que


dança pelo ar, preenchendo os meus ouvidos. Assim que nos separamos, ele continua abraçado a
mim de lado, enquanto juntos caminhamos até onde a minha mãe toca divinamente o piano.
Posso dizer que o pouco que sei aprendi com ela.

Nos sentamos no sofá e ficamos em silêncio, até que a minha mãe finaliza a música. Eu e
meu pai, como se fosse uma pequena plateia, a aplaudimos. Ela, com um sorriso, faz uma
pequena reverência, em brincadeira.

— Meu bebê. — Minha mãe me chama e solto um pequeno resmungo. Aos quarenta e
dois anos, ainda sou o bebê dela, uma insistência que nunca muda.
De pé, minha mãe me abraça, desejando felicidades. Logo somos avisados de que o jantar
está pronto.

— Vamos, Ethan, eu pedi para fazer o seu prato favorito. — Ela me segura pelo braço e
nos dirigimos à mesa, onde cada detalhe estava perfeitamente arranjado.

— Como estão os negócios, filho? — Indaga meu pai, enquanto me sirvo.

Ergo o olhar da vasilha em busca dos seus e no instante em que encontro, dou um
pequeno sorriso de lado. Ele pode até não estar mais na ativa, mas a sagacidade nos olhos dele
nunca se aposentou.

— Os negócios vão bem, pai. Estamos navegando por desafios e explorando novas
oportunidades.

— Esse é o meu garoto! — Meu pai se recosta na cadeira, com um sorriso satisfeito nos
lábios.

— E você, Ethan, tem se alimentado direito, meu filho? — Minha mãe me analisa com
afinco.

— Mãe, estou me cuidando direitinho, pode ficar tranquila.

— Você me parece tão magrinho, além do mais, você trabalha demais e vive naquela
casa imensa, sozinho, sem ninguém para cuidar de você.

— É impressão sua, mãe, estou saudável, não há motivo para se preocupar. Quanto a
estar sozinho, eu gosto. — Ela me encara com os olhos do mesmo tom que os meus, mas depois
se dá por satisfeita ou simplesmente desiste de falar sobre o fato de eu continuar sozinho.

Faz cinco anos que eu perdi a mulher que eu amava mais do que tudo nessa vida e para
todos ao meu redor, o normal é que eu siga em frente. Mas eu não me sinto pronto para esse
passo. Meu corpo está pronto, mas o meu coração ainda não quer pertencer a alguém novamente.
Suspiro com esse pensamento, enquanto dou uma garfada e outra na comida. As conversas fluem
naturalmente e as risadas preenchem o ambiente.

Ao final da refeição, minha mãe se levanta, com um ar misterioso e eu já tenho uma leve
noção do que se trata. Ela se retira do cômodo e logo volta novamente, com um pequeno bolo
iluminado e cantarolando um “Parabéns” animado, que se une à voz do meu pai, espalhando-se
por todo o ambiente. Após apagar as velas, agradeço sinceramente.

— Mãe, pai, realmente não precisavam fazer isso. — Comento. — Mas agradeço mesmo
assim.
Eu não vejo graça em meus aniversários. A verdade é que não vejo graça em nada há
muito tempo. Me levanto da cama todos os dias e visto uma roupa para malhar, como para me
manter saudável e vou trabalhar. Mas é como se eu só vivesse no mesmo ritmo, sem sentir de
verdade as coisas. A única coisa que me traz mais para a vida é o Aaron.

— Que isso, meu filho, jamais vamos deixar de comemorar o seu aniversário. Você é o
nosso precioso presente.

— Celebrar o seu aniversário é uma alegria para nós, Ethan. — Meu pai aperta o meu
ombro e eu sorrio em resposta, me sentindo grato por tê-los.
Capítulo 12

Fico mais um pouco com os meus pais, até que decido que é hora de voltar para casa,
caso contrário, terei que dormir aqui. E se eu dormir aqui, para ir para empresa amanhã, terei que
acordar mais cedo do que o habitual e quebrarei parte da minha rotina. Odeio começar o dia
fazendo coisas que fogem do previsto.

Me despeço deles e entro no meu carro, colocando-o em movimento pelas ruas vazias, até
que chego em casa e contemplo a paz e o silêncio do meu lar. Me sento em minha cadeira e me
perco em pensamentos por algum tempo, até que o meu aparelho começa a tocar e me traz de
volta à realidade. Escorrego os meus dedos pelo bolso e assim que atendo, a voz de Maya do
outro lado da linha me deixa em alerta.
— Maya, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa com o... — Sou interrompido antes
mesmo de terminar a frase.

— Não se preocupe, está tudo bem com o Aron, Ethan. Eu conferi pelas câmeras antes de
ligar para você e ele está apenas dormindo tranquilamente.

— Ah, que ótimo, mas então qual é o motivo da sua ligação? — Pergunto, curioso.

Há um pequeno momento de silêncio do outro lado da linha, me fazendo notar que


certamente não me agradarei sobre o que irei ouvir.

— Ethan, precisamos que você venha ao clube. Houve um pequeno problema e a sua
opinião é crucial para resolvermos isso. — A voz de Maya soa séria, alimentando a minha
curiosidade.

— Problema? Que tipo de problema, Maya? E por que precisam da minha opinião? —
Minha sobrancelha se ergue em questionamento, enquanto a preocupação se mistura com a
confusão.

— Calma, não é nada sério, mas é urgente. Pode ser resolvido rapidamente se você vier.

— Está bem, estou indo para o clube. Só preciso tomar um banho rápido e em quarenta
minutos, no máximo, estarei aí.

Desligo o aparelho rapidamente, subo as escadas, tomo um banho e, como havia


combinado, mais ou menos quarenta minutos depois de ter atravessado a cidade em minha moto,
estou entrando no clube pela parte privativa, após me anunciar. E assim que entro em uma sala
escura, indicada por uma das funcionárias, as luzes se acendem rapidamente e ouço um coro de
“surpresa” vendo Brenda, Maya e um grupo de amigos da época da faculdade que não vejo há
muito tempo.

Sem saber, fui arrastado para uma festa de aniversário surpresa. Balanço a cabeça, sem
conseguir acreditar como não consegui ver os sinais.

— Não fique bravo comigo, Ethan, mas não poderíamos deixar passar os seus quarenta e
dois anos sem comemorar. — Maya fala, abraçando-me.

Brenda vem logo em seguida, com as mãos para cima, em sinal de rendição.

— Sabe que isso tudo foi ideia da Maya, não é? Eu não tenho nada a ver com isso, meu
amigo.

— Sei bem. — Franzo o cenho, me aproximando dela e observando os cantos dos seus
lábios tremendo para não rir da situação em que a sua esposa me colocou. — Está se defendendo
como se não estivesse ciente de toda essa armação desde o início. — Solto uma gargalhada, me
divertindo com a sua fala comprometida.

— Sabe como é, né? A Maya, quando coloca uma coisa na cabeça, ninguém mais
consegue tirar.

— Oh, se sei! Neste ponto ela é bem parecida com a... — Ela me olha, esperando que eu
complete a frase, mas desisto e o olhar de compreensão que me lança deixa claro que entendeu
bem o que não consegui externar.

Ainda é extremamente difícil falar, lembrar sem sentir a dor.

— Sei o que quer dizer, meu amigo. — Ela confirma, batendo em meu ombro. Brenda
sempre tem esses tipos de toques. — Mas já que está aqui, se divirta, reveja e converse com os
amigos. Deu o maior trabalho para conseguir reunir quase todo o nosso pessoal.

— Tem razão, é o que farei. Mas é certo que não irei ficar muito, tenho uma reunião
importante amanhã e não posso me dar ao luxo de dormir tarde demais. — Concordo, olhando
em volta.

A sala do clube onde foi reservada é bem espaçosa, com um pole dance num canto,
algumas poltronas e camas espalhadas pelo local. Recebo o cumprimento de alguns amigos e o
garçom passa com a bebida, aceito, tomo um, dois, três copos e me sinto mais relaxado. Com
isso, não noto o tempo passar até que ouço a voz de Maya.

— Ah, enfim, eles chegaram! — Comenta com um sorriso , despertando a minha atenção
da conversa do grupo.

Me viro na mesma direção que ela, a tempo de ver a porta se abrir, revelando a entrada de
uma mulher em um vestido justo. Maya não espera que ela chegue até nós e vai ao seu encontro,
que para em uma certa distância de onde me encontro. Elas conversam por um tempo, depois a
mulher se vai e minha amiga volta a caminhar com o olhar cravado em mim.

— Ethan, o meu presente para você chegou. — Maya avisa, com um sorriso misterioso.

Nossos amigos me incentivam, como se tivesse em uma partida de um jogo e eu fosse o


próximo.

— Presente para mim, esta festa surpresa já não era o suficiente?— Indago, erguendo
levemente a sobrancelha.

Ela sorri, em seguida, morde os lábios.

— Não para mim.


— Ok, então onde está? — Olho ao redor, à procura.

— Está na sala ao lado, pode ir. — Ela aponta para a porta.

— Certo. — Me despeço dela, pois é certo de que irei embora.

Caminho até a porta, após me despedir igualmente de nossos amigos, prometendo que
nos veríamos com mais frequência. Mas no fundo, é uma mentira que sempre contamos um para
o outro, e sempre fingimos que isso se tornaria verdade. No caminho até a porta, deixo o meu
drink em uma bandeja de uma garota loira que passa por mim com lingerie branca e me pisca.

Assim que abro a porta e entro, às luzes se acendem com a minha presença e logo avisto
a caixa volumosa, vermelha, adornada com um laço dourado. Me aproximo dela em passos
lentos, com a mão no bolso da minha calça, observando cada detalhe. Retiro as mãos dos bolsos
e toco na embalagem, sentindo a textura suave da fita entre os meus dedos.

O que será que essa doida está aprontando comigo?!

Com um sorriso surgindo em meus lábios, desfaço o laço lentamente. No instante em que
termino, as quatro abas se separam de uma única vez. Me afasto um pouco, pela surpresa que
tenho ao ver uma mulher deslumbrante, vestida com uma roupa de submissa em couro preto que
realça cada curva fascinante de seu corpo perfeito e com uma coleira brilhante destacando o seu
pescoço e uma mordaça em sua boca. Seus cabelos negros caem delicadamente até a cintura,
com cachos sutis nas pontas.

Porra, o que é isso?

Sinto a minha garganta secar e engulo em seco, sem conseguir desviar o olho da garota.
Sinto a minha temperatura corporal aumentar, junto com a pulsação, no mesmo instante em que
varro cada centímetro de pele pouco coberto com meus olhos. Balanço a cabeça, tonto. A garota
parece que foi feita para tirar qualquer um do sério em poucos segundos.

Observo cada detalhe da sua beleza, desde o tom de caramelo queimado da sua pele até
os olhos profundos que me prende e que por um instante me parecem assustados. Entretanto,
quando as primeiras batidas do som se espalham pela sala, ela se recompõe. O corpo começa a se
mover, me deixando louco. Tudo parece parar de coexistir, enquanto toda a minha atenção está
nela, que parece uma ninfeta levada da porra, que veio para me tirar o juízo.
Capítulo 13

— Lility, você tem certeza de que é apenas dança neste clube, não é? — Pergunto,
sentindo uma pontada de preocupação que quase me faz querer virar as costas e voltar para casa.
— Não serei obrigada a fazer nada além disso, não é?

Começo a me arrepender de ter aceitado preencher a vaga de dançarina durante três dias
na semana aqui, mas a verdade é que não posso me dar ao luxo de recusar trabalho.

— Miga, pode ficar tranquila que só vamos dançar no pole dance com uma roupa para lá
de sexy e você só vai colocar esse corpão de mamãe gostosa para jogo e fazer alguns CEOs
carecas babarem, mais nada além disso. — Ela responde, tentando me tranquilizar.
— Você e suas ideias malucas, Lility… — Balanço a cabeça, incrédula. — “Corpão de
mamãe gostosa”, sério isso?

Repito as suas últimas palavras, achando graça, mas no fundo ainda estou cismada em
dançar em um clube privado. Já li um pouco sobre lugares como esses e já ouvi falar bastante
sobre este em particular. É um clube diferente dos comuns e confesso que eu tenho os meus
receios.

Às vezes, acho que a minha amiga tem razão quando diz que eu me preocupo demais
com as coisas. Sinto que é melhor deixar isso de lado e focar apenas no que vim fazer aqui,
afinal de contas, preciso pensar na grana que entrará no fim da noite e que vai me ajudar demais
com as contas de casa. Só me resta torcer para que ela esteja certa e não aconteça nada ao qual eu
venha a me arrepender.

— Vamos, Rory. — Lility chama a minha atenção. — Se eu te conheço bem,você já está


pensando em desistir.

Dou um sorriso sem graça, entregando os meus pensamentos quanto a isso.

— Bingo! Você está certa, amiga, essa ideia realmente está dançando em minha mente.
Mas pode ficar tranquila que, embora eu queira, não irei dar para trás agora. Você sabe o quanto
eu preciso desse dinheiro. — Ela balança a cabeça.

— Eu sei sim, amiga. Ela confirma. — Agora vamos entrar antes que percamos o metrô.

— Claro, vamos lá. — Em seguida, damos uma pequena corrida em meio a risadas e
entramos na fila para pegar o metrô, que pela hora da noite, se encontra pequena.

Assim que passo o meu cartão, sorrio satisfeita ao encontrar um banco vago; assim
poderei descansar as minhas pernas e ligar para casa para saber se está tudo bem por lá.

Logo que me sento, me ajeito rapidamente e escorrego os meus dedos para o fundo da
minha bolsa, que tem um pouco de tudo, pois saio de casa cedo e só volto tarde da noite, à
procura do meu aparelho. Assim que o encontro, ligo para a minha mãe, que atende no terceiro
toque.

— Boa noite, mãezinha! — a cumprimento. — Como estão as coisas por aí?

— Oi, minha filha. Está tudo tranquilo por aqui, meu amor. — Ela responde. — A Fay
já tomou a mamadeira e já está dormindo como um anjo.

— Ah, que bom, mãe! Espero que ela não tenha te cansado muito. — Sorrio satisfeita ao
mesmo tempo em que sinto um aperto no peito por não estar lá para colocá-la para dormir e
sentir o seu cabelinho fino fazendo cócegas em meu nariz enquanto eu aspiro o perfume que vem
dele.

— Que isso, filha… Desde quando uma bebezinha de um ano e meio vai me cansar? Me
sinto em minha melhor forma. Pode ficar tranquila e ir trabalhar sossegada. Aliás, você comeu
o lanche que eu coloquei na sua bolsa?

— Comi sim, mãe. — Confirmo. — E as saladas também! Ambos estavam uma delícia
como tudo o que a senhora faz.

— Que bom, filha. Faço com carinho, você quase não para em casa, então precisa se
alimentar bem para aguentar tantas horas de trabalho.

— Obrigada, mãe! A senhora também trabalha muito cuidando da Fay.

— Nem se compara a você, filha. — Enrugo o nariz em discordância, pois cuidar de uma
bebê que não para quieta e quer desbravar o mundo demanda muita energia.

No entanto, não tenho tempo de expressar a minha opinião, pois vejo quando a minha
amiga se levanta do assento e eu faço o mesmo, ajeitando a bolsa em meu ombro e a seguindo
sem pestanejar, prendendo meu celular no ombro para me segurar nas barras para não correr o
risco de cair. Me despeço da minha mãe, desejando a ela bons sonhos e saio do metrô.

Caminhamos pelas ruas de Manhattan, conversando e observando as luzes vibrantes da


cidade ao nosso redor. O som dos carros passando e das pessoas conversando preenche o ar e
sinto a energia pulsante no meu peito.

Quando finalmente ficamos de frente à fachada majestosa e imponente do Clube, sinto o


meu nervosismo começando como um pequeno choque no fim da minha coluna, mas continuo a
mover os meus pés no mesmo ritmo. Passamos pela fila que se formou ao lado da entrada, com
pessoas de todos os tipos e estilos, e nos aproximamos da porta.

Paramos em frente a dois seguranças carrancudos, verdadeiros armários duplex de ternos


e Lility me apresenta a eles. Apesar de exibirem uma postura ameaçadora, ambos nos tratam com
educação e parecem ser gente boa.

Assim que conseguimos entrar, Lility pressiona o seu cotovelo puro osso na minha
costela, me fazendo gemer com esse gesto. Olho para ela com uma expressão fechada, só para
vê-la com cara de tarada e ouvi-la me contar que já pegou os dois ao mesmo tempo e que foi uma
delícia. A chamo de safada e ela responde: “Sou mesmo, e com gosto”,, mordendo os lábios em
resposta.

— Rory, se prepare para um mundo completamente novo e instigante. Agora você é uma
garota Liberty. — Ouço a minha amiga enquanto dou os últimos passos, adentrando no
ambiente.
Meus olhos percorrem todo o espaço, observando as luzes coloridas dançarem pelas
paredes escuras, refletindo-se em espelhos estrategicamente posicionados, criando uma
atmosfera de mistério e sedução. Bartenders ajustam as bebidas no balcão, enquanto mulheres
com roupas provocantes passam por mim e cumprimentam a minha amiga animadamente antes
de me olharem com curiosidade.

— Aqui é enorme, amiga. — Murmuro, embasbacada com a opulência do lugar.

— Você não viu nada, Rory. São três pavimentos. Esse primeiro é a boate, mas não é
uma boate comum, porque nós nos apresentamos no Pole Dance à partir da meia-noite, enquanto
lá embaixo na pista os clientes comuns dançam e se divertem. — Ela aponta para o camarote. —
Já os clientes vips têm visão privilegiada de tudo que acontece e às vezes alguns deles pagam por
uma dança exclusiva em seus colos.

Arregalo os meus olhos na hora e indago:

— Eu sou obrigada a aceitar isso? — Engulo em seco, preocupada.

— Não, amiga. Aqui ninguém é obrigado a fazer nada que não queira. Mas se você
aceitar, será uma boa grana extra que terá e ninguém irá te julgar por isso. — Ela me dá uma
piscadela.

— Você já fez isso? — Inquiro, curiosa.

— Sim, já fiz e te garanto que foi bem tranquilo. Tem algumas salas particulares
destinadas a essas danças exclusivas e com segurança atrás dos espelhos para intervir antes que
as coisas fujam do controle. — Ela explica.

— Entendo... — Murmuro, ficando levemente aliviada com essa informação.

— O segundo andar é para troca de casais ou para alguns casais que se conhecerem aqui
na pista e queiram ter novas experiências. — Ela continua a explicar o que tem em cada andar.
— E o último é o mais interessante de todos, pois é voltado para quem gosta do BDSM. Amiga
do céu, você precisa ver os quartos...

— Nossa, amiga, acho que se você me contasse, não teria imaginação para idealizar tudo
isso. — Comento, admirada.

— Estou certa de que não. Mas agora vamos, que eu quero te apresentar para a gerente.

Respiro fundo, lembrando que tudo isso se tornará realidade agora. Subimos as escadas e
a luz tênue e avermelhada do corredor cria um ambiente excitante. A aura de mistério e sedução
paira em cada canto desse lugar. No mesmo instante em que a minha amiga empurra a porta, a
apreensão percorre as minhas veias, me fazendo sentir um leve desconforto.
A mulher, que presumo ser a gerente, caminha de um lado para o outro, falando
rapidamente ao telefone. Ela parece nervosa e agitada. Ficamos ali paradas, esperando que ela
termine a ligação sem nos notar. Quando finalmente termina, ela desliga o telefone com força,
soltando um xingamento involuntário.

— Puta merda! — Ela exclama, sem perceber a nossa presença aqui.

Eu e Lility trocamos olhares e nos comunicamos através deles, em uma conversa


silenciosa que só amigas de longa data conseguem fazer. Lility se afasta de mim em passos
cautelosos e se aproxima da gerente.

— Está tudo bem, Carolyn? — Minha amiga indaga, com o semblante preocupado e
cautela na voz.

Neste momento a gerente se vira em nossa direção, parecendo surpresa ao se dar conta
da nossa presença.

— Não, Lility. — Ela responde, com nervosismo palpável em sua voz. — A garota que
iria dançar para o aniversariante cancelou de última hora e estou sem opção devido ao fato de
que Maya quer alguém novo.

Lility franze a testa, compreendendo.

— E agora, o que você pretende fazer? — Ela pergunta, curiosa.

— Não faço a menor ideia, Lility. — A mulher solta uma gargalhada nervosa e passa a
mão pelos fios ruivos. — Mas, e você, o que está fazendo aqui?

Minha amiga dá um sorriso sem graça antes de responder.

— Estou aqui para apresentar aquela minha amiga que te falei, se lembra? A que eu disse
que seria perfeita para preencher a vaga de três dias na semana? — A ruiva bate na testa,
confirmando com a cabeça.

— Ah! É claro que me lembro. — Murmura. — Foi um pequeno lapso.

É neste instante que ela se dá conta da minha presença no ambiente.

— Uau… Me desculpe, estou tão preocupada que não te notei aqui. — Enquanto me
pede desculpas, o seu olhar avaliativo percorre o meu corpo de cima a baixo. — Você é perfeita!
— Ela declara, após ficar em silêncio por um momento.

Não querendo ser grossa , murmuro um “obrigada” e desvio os olhos, me sentindo


desconfortável com a intensidade do seu olhar sobre mim.
— Ela é uma dançarina maravilhosa, Carolyn. — Lility comenta. —Você precisa vê-la
dançando!

— Você consegue entrar dentro de uma caixa grande e sair dela mantendo o ritmo da
música. — Ergo o meu queixo a tempo de ver a gerente olhar para Lility e depois para mim e me
questionar.

Fico surpresa com a pergunta tão inusitada.

— Eu não tenho certeza, nunca tentei, mas acho que consigo sim. — Respondo hesitante.

Um brilho travesso surge em seus olhos.

— Bem, acho que vamos pagar mais por isso, então. Quero que você dance em uma sala
privada, como um presente de aniversário. Você vai sair de dentro de uma caixa vestida com…
— Ela faz uma pausa, indo até uma mesa de madeira e abrindo uma caixa, retirando algumas
coisas de lá e caminhando até onde me encontro. — Isso.

A mulher me entrega um monte de panos com alguns acessórios estranhos, mas o que me
chama a atenção mesmo é a coleira com brilhos de strass escrito “Ethan” nela. Resisto à vontade
de percorrer os meus dedos em cada pedrinha brilhante.

— Você vai ganhar três vezes mais do que no pole dance essa noite. Então, o que me
diz?! — Ela ergue as sobrancelhas de uma maneira questionadora.

A proposta me assusta, mas também desperta uma estranha curiosidade e preciso admitir
para mim mesma que o dinheiro extra é tentador, especialmente considerando a minha situação
financeira atual. Levanto o olhar, fixando os meus olhos nos dela em um tom de mel e não penso
muito, pois se eu for pensar talvez desistiria.

— Está certo, eu aceito! — Respondo, vendo o seu sorriso satisfeito surgir e se desfazer
tão rápido quanto apareceu.

— Espera! — A ruiva me olha sem jeito. — Eu te bombardeei de coisas e nem me


apresentei. Me desculpe! — Ela estende a mão em minha direção. — Sou Carolyn, gerente aqui
do clube.

— Sem problemas, Carolyn. — Aperto a sua mão estendida. — Eu sou Rory, amiga da
Lility.

Ela assente com a cabeça e nós temos uma breve conversa sobre mim e sobre o que tenho
que fazer esta noite. Logo em seguida, Carolyn me mostra onde fica o banheiro e eu vou me
trocar. Abro a caixa e vejo um body de couro dentro, aberto na frente e com várias tiras.
Tiro a minha blusa e visto o body, percebendo que a peça se ajusta perfeitamente ao meu
corpo. Coloco os dedos na lateral dos meus quadris e escorrego a minha calça jeans larga por
eles junto com a minha calcinha para baixo, a substituindo por uma calcinha minúscula do
mesmo material do body. Em seguida, coloco a meia-calça sete oitavos e a ligo na cinta liga.
Calço um sapato de salto vermelho aveludado e puxo da caixa a coleira com a guia, desta vez
não resistindo ao impulso de correr os meus dedos por ela, sentindo cada aderência das pedras
brilhantes que gravam o nome “ETHAN”.

Me pergunto quem é você, Ethan, com tantos desejos peculiares...

Porém, logo desisto de tentar imaginar e opto por terminar de me arrumar. Levo os meus
dedos no alto da cabeça e puxo o elástico do coque frouxo dos meus cabelos, os deixando cair
em cascata sobre as minhas costas. Passo o batom vermelho e coloco o objeto na boca que me
limita a falar.

Ao me olhar no espelho, mal me reconheço. Agora sou uma submissa, como Carolyn
havia dito. Caminho para fora do vestiário, ouvindo o som dos meus saltos contra o piso ao
mesmo tempo em que sinto as batidas furiosas do meu coração em meu peito.
Dentro da caixa de presente, minha respiração se altera ao ouvir o barulho da porta se
abrindo. A luz se acende no ambiente, iluminando a escuridão em que me encontrava até pouco
tempo atrás. Enquanto as partes da caixa se desfazem, me ergo lentamente e olho para cima,
encontrando um par de olhos azuis que me fitam com tanta intensidade que me faz estremecer,
causando uma sensação de ser devorada a qualquer momento.

Desvio os olhos, me lembrando da recomendação que Carolyn me fez sobre não olhá-lo
diretamente nos olhos, a menos que ele me peça.

O som da música atravessa a sala e invade os meus ouvidos, me indicando que é hora de
improvisar. Sinto um leve nervosismo percorrer o meu corpo, pois não estou preparada para uma
dança exclusiva. Mas aqui estou eu e darei o melhor de mim nessa apresentação privativa.

Começo a mexer os meus quadris no ritmo pulsante da batida de “Thank you everyone
for” e a cada passo que dou em sua direção, é retrocedido por um dele, até que ele se senta na
cadeira, mantendo as suas pernas levemente abertas. Ethan apoia o cotovelo nos joelhos e passa a
mão pelo seu maxilar e queixo de simetria perfeita, em seguida, toca os lábios rosados com a
ponta dos dedos, os seus olhos se afunilando ao me olhar.

Esse homem é lindo e muito intrigante…

Meu peito sobe e desce rapidamente, pois eu não estava preparada para um espécime
masculino como este. Me lembro claramente da minha amiga falando sobre CEOs carecas
babando por mim, mas como explicar esse homem que parece um lobo alfa à espreita?

Retomo o controle da situação, parando apenas alguns centímetros à sua frente. Levo a
mão à nuca, bagunçando levemente os meus cabelos de forma sexy. Em seguida, toco os meus
ombros e desço suavemente os meus braços, deslizando os meus dedos pelo meu corpo,
acompanhando com o olhar. Agacho-me, ainda me movendo ao ritmo frenético que vibra em
meu corpo, com as mãos cruzadas sobre os joelhos. Abro lentamente as pernas, balançando a
cabeça e contornando os lábios com a língua antes de mordê-los. Ajoelho-me, fazendo uma
dancinha enquanto me aproximo do chão, girando suavemente e parando de lado, escorregando o
meu corpo lentamente até estar parcialmente apoiado no chão.
Danço como uma gata manhosa, os meus cabelos acompanhando cada movimento do
meu engatinhar. Bato a mão direita no chão, seguida pela esquerda, inclinando-me para trás e
movendo o quadril. Abro as pernas, giro o tornozelo levemente e às uno lentamente, ficando de
joelhos e rastejando em direção ao imponente homem que me olha de uma maneira que nunca fui
olhada antes.

Toco os seus pés e pernas suavemente enquanto me ergo lentamente, virando de costas
para ele. Meus quadris dançam com uma energia eletrizante, hipnotizando-o a cada movimento,
enquanto as minhas mãos estão apoiadas em seus joelhos.

Sinto o peso de sua mão segurando a minha cintura, forçando-me a sentar em seu colo.
Sorrio, inclinando o meu pescoço para trás. Quando a sua mão se espalma em minha barriga lisa
e puxa-me mais para si, sinto o seu calor se misturar ao meu, o seu perfume se misturando à sua
respiração forte em meu pescoço, acelerando o meu coração.

Abro a boca para respirar mais facilmente, pois o domínio que esse homem exerce sobre
mim parece roubar todo o ar dos meus pulmões. Enquanto ainda me movo lentamente, quase
sentada em seu colo, escorrego o meu corpo até o chão.

Antes que a música chegue ao fim, passo a mão em meus cabelos bagunçados, jogando-
os completamente para trás. Uno meus pulsos em sua direção, baixando a cabeça e me curvando
em completa submissão a ele.

Quando o som finalmente termina, somos apenas nós dois e o silêncio. Ethan se levanta
da cadeira e caminha em minha direção, circulando-me com seus passos firmes ecoando pelo
piso de porcelanato escuro. Ele para em minha frente e se inclina, quase tocando o seu rosto ao
meu.

Posso sentir o calor emanando de sua pele pela curta distância que nos separa, mas os
meus olhos permanecem baixos, apesar de todo o meu ser implorar para olhá-lo.

— Olhe para mim! — Sua voz grave e forte soa não como um pedido, mas sim como
uma ordem, seguida de sua ação.

Seus dedos tocam o meu queixo, erguendo-o em sua direção. Seus olhos azuis claros,
com as pupilas dilatadas, encontram os meus e pela primeira vez consigo ver claramente um
mundo de desejos sem limites refletido em seus olhos.
Capítulo 14

Encaixo o capacete de proteção, o ajustando firmemente a minha cabeça e coloco os


demais itens de segurança necessários para me manter seguro enquanto vistorio a obra. Me
esforço para empurrar as lembranças que tentam me distrair a qualquer custo , me desviando
totalmente do meu propósito. Não quero e nem vou admitir que uma garota está grudada em
meus pensamentos, como se fosse a porra de uma música em alta nas paradas de sucesso.

Balanço a cabeça, me sentindo contrariado por não ter domínios sobre os meus próprios
pensamentos e no instante seguinte me movo pelo local, orgulhoso de mim mesmo pela obra do
novo shopping center que estou erguendo. Comprar um terreno antigo que ainda estava em
disputa familiar foi apenas o primeiro desafio que encontrei pela frente, pois logo me deparei
com a necessidade de negociar com os moradores do antigo prédio ao lado do terreno.

Com empatia e firmeza, conduzi cada conversa, cada acordo, sabendo que cada obstáculo
superado me aproximava ainda mais do meu objetivo final. E agora, diante das paredes que
começam a se erguer em volta de mim, sinto uma mistura de orgulho e satisfação indescritível.
Ainda mais por ter noção de que este shopping não é apenas um empreendimento, é a prova da
minha competência.

— Como as coisas andam por aqui, Mike? — Indago a um dos engenheiros responsáveis
pelo projeto, me virando em sua direção.

— No geral, as coisas estão progredindo bem, Ethan. — Ele responde. — Tivemos


alguns problemas com o atraso na entrega de alguns materiais, mas já estamos trabalhando para
minimizar os impactos dentro do nosso prazo. A principal questão tem sido lidar com as
especificações técnicas para a instalação dos sistemas de ventilação, mas a equipe técnica já está
resolvendo isso.

— Isso é ótimo, Mike! É bom saber que estamos lidando com esses desafios de forma
proativa. — — Bato a mão amigavelmente em seu ombro, satisfeito com o andamento do
projeto. — Se houver algo específico em que eu possa ajudar para agilizar o processo ou facilitar
a obtenção de recursos adicionais, por favor, me avise. Como estão os trabalhadores? — Indago.
— Eles têm o que precisam para realizar os seus trabalhos com segurança?

— Sim, Ethan, todos estão usando os equipamentos de segurança necessários e estão


cumprindo todas as medidas de segurança exigidas. — Assegura Mike. — Estamos
constantemente verificando e atualizando os nossos protocolos para garantir a segurança de todos
no canteiro de obras. Além disso, as equipes de suporte estão fornecendo suporte contínuo aos
trabalhadores, garantindo que eles tenham os recursos necessários para realizar as suas funções
com eficiência.

— Excelente, Mike! Fico feliz em saber disso. Nossa prioridade é sempre a segurança e
o bem-estar de todos os envolvidos no projeto. Se surgirem mais problemas, estou disponível
para ajudar a resolver qualquer situação que possa surgir.

Ele assente com a cabeça e eu continuo a percorrer o canteiro de obras, absorvendo cada
detalhe e visualizando mentalmente como o shopping ficará quando estiver concluído. Dedico
parte da manhã às atividades na obra do shopping, até que o meu estômago começa a dar sinais
de fome. Ao verificar o relógio, percebo que já ultrapassei o meu horário habitual de almoço.

Me despeço dos funcionários mais próximos e deixo o ambiente, me dirigindo ao


restaurante mais próximo. Logo em seguida, passo o restante do dia imerso na burocracia do
escritório. Um empresário não vive apenas de contratos, pois quanto maiores são os seus
negócios, maior é a burocracia.

No caminho de casa, flashes da garota dançando surgem em minha mente, deixando-me


inquieto no banco de trás do meu carro. De repente, folhear o gráfico dos meus rendimentos
nunca foi tão desinteressante. Tudo o que eu mais quero e desejo neste momento é vê-la
novamente. E para ser de tudo sincero, essa garota não saiu da minha cabeça desde que afundei
os meus dedos na carne macia de sua cintura e senti o seu perfume misturado ao seu próprio
cheiro.

Já se passaram seis dias desde que aquela pequena diabinha dançou para mim e tenho
resistido bravamente à vontade de voltar ao clube e pedir outra dança exclusiva para ela. Mas
tirá-la da minha mente já é outra história. No instante seguinte em que o meu motorista para em
frente a minha casa, eu o dispenso sem hesitar, com medo de ceder à vontade de ir parar naquele
bendito clube atrás de uma garota que provavelmente tem metade da minha idade.

Entro em casa e subo as escadas em passadas rápidas, indo direto para o meu quarto.
Afrouxo o nó da minha gravata assim que empurro a porta, sendo momentaneamente abraçado
pela escuridão, mas logo a luz se acende. Puxo a minha gravata do colarinho da minha camisa
social e a jogo na cama, caminhando em direção ao banheiro.

Tiro o casaco, calças, sapatos e meia e assim que entro no banheiro, me encontro nu.
Entro no box, ligo o chuveiro e sinto a água quente cair sobre mim, aliviando a tensão dos meus
músculos. O vapor envolve o meu corpo e relaxa a minha mente.

— Olhe para mim! — Peço com a voz rouca e carregada de desejo.

Ela não me olhou em nenhum momento da dança e isso foi a porra mais sexy que já tinha
me acontecido em tempos. Caminho ao redor da garota, sentindo a minha pulsação aumentar a
cada passo que dou. Sou obrigado a colocar as mãos nos bolsos para segurar a vontade que
sinto de me sentar naquela cadeira e puxar a porra da guia da sua coleira, com o meu nome
brilhando preso ao pescoço dela e colocá-la entre as minhas pernas.

Mas ao parar em sua frente, não resisto à vontade de me abaixar à sua altura e mais
uma vez aspirar o cheiro de frescor que vem dela, ao mesmo tempo em que não resisto à vontade
de tocá-la. Retiro a mão do bolso e a levo direto para o seu queixo pequeno, erguendo-o até que
os nossos olhos se encontram.

Porra, como eu poderia imaginar que estaria perdido para sempre depois disso.

Balanço a cabeça, tentando jogar os pensamentos que me vem para fora enquanto afundo
a cabeça debaixo do chuveiro para ver se ajuda, Mas o meu pau e a minha cabeça parecem ter
vontades próprias e contradizem as minhas desde que aquele pequeno pedaço de inferno entrou
na minha vida como uma submissa sexy.

Sem muito sucesso, saio do banho e me visto apenas com uma calça de moletom, tendo a
certeza de que Preciso beber alguma coisa.” Saio do quarto e desço as escadas, me servindo uma
dose da bebida mais forte que tenho e tomando em um grande gole, sentindo o líquido queimar
enquanto desce pela minha garganta, me obrigando a apertar os olhos e por fim, chego a difícil
conclusão de que, pela primeira vez em muito tempo, não estou no controle das minhas vontades
e preciso vê-la novamente, ao menos pela última vez.

Subo as escadas correndo e logo entro em meu quarto, me vestindo com urgência. Sei
que estou mentindo para mim mesmo, pois o desejo que aquela ninfeta despertou em mim é
muito forte para ser contido. Tentei pará-lo marcando com a minha submissa mais de três vezes
só essa semana, entretanto, nem cheguei perto de satisfazer as minhas vontades.

Saio de casa, indo direto para a garagem onde fica a minha coleção de carros importados,
optando pela minha moto. Coloco o capacete no guidão e vou a empurrando até o portão, sendo
surpreendido pelo meu funcionário do turno da noite. Ele abre o portão e eu passo por ele,
sentindo o motor da minha BMW S1000RR vibrar sob o meu corpo.

Enquanto deslizo pelas ruas, a escuridão da noite me envolve, sendo dissipada apenas
pelos faróis da minha moto, cortando o ar com a sua velocidade máxima e sentindo o barulho do
vento assobiando em meus ouvidos. Acelero mais um pouco, aproveitando que a esta hora da
noite o fluxo de carros se torna cada vez menor. Paro em frente ao estacionamento da Liberty e
entrego as chaves ao manobrista , junto a um pedido para que ele cuide bem do meu bebê.

Entro no clube com tanta pressa que não tenho tempo de me preparar mentalmente para a
troca de ambientes. Luzes coloridas me causam um leve desconforto e sinto o som alto me
roubar a paz que tanto prezo no fim do dia, mas ignoro tudo isso enquanto avanço em passos
rápidos em direção a área vip.

Sentado em uma poltrona confortável e tendo a melhor visão do clube luxuoso onde as
minhas melhores amigas ergueram a sua casa noturna, mais uma vez me recrimino internamente
por estar aqui somente pela garota que tem dominado os meus pensamentos mais do que eu
gostaria de admitir. O garçom passa por mim e eu decido que irei ficar apenas com a água, pois
estou de moto e não serei irresponsável ao ponto de beber e dirigir.

Assim que sou servido, as luzes do palco diminuem e o som agitado da pista de dança é
substituído por algo mais sensual. No momento em que deixo o meu copo na mesa ao lado e
corro o olhar em direção ao Pole Dance, sinto como se tivesse levado um soco no estômago e
não conseguisse respirar pelos próximos dez segundos inteiros.

Uau! Essa diabinha sexy do caralho vai acabar de vez com a paz que tanto prezo em
minha vida.

Não pisco pelos próximos minutos em que ela circula o ferro com um short minúsculo
que não deixa espaço para a minha imaginação que, por sinal, anda correndo solta desde que a vi
pela primeira vez. Deslizo os meus olhos pelas suas meias arrastão grudada em suas pernas
grossas e torneadas, me imaginando enfiando os dedos entre elas e as rasgando enquanto as suas
pernas estão em volta da minha cintura e com esse pensamento o meu pau pulsa dentro da calça
e um som de desgosto por tal reação escapa da minha garganta.
Que porra está acontecendo comigo?

Tenho quarenta e dois anos, não sou nenhum moleque para ficar de pau duro vendo uma
mulher dançando.” Me levanto no momento em que a vejo enrolar as pernas no ferro e em um
movimento rápido ficar de cabeça para baixo. Caminho sentindo as batidas fortes do meu
coração contra o meu peito e encosto no ferro, olhando para baixo e vendo a multidão de homens
babando nela como os bons filhos da puta que são.

Porra! A vontade que tenho é de cegar esses bandos de arrombados do caralho, nem
querendo imaginar o que se passa em suas cabeças fodidas. Tenho que resolver essa merda ainda
hoje, pois não suporto a ideia de que outros homens possam tê-la, que possam olhar para ela da
mesma maneira que eu.

Decido que ela será exclusivamente minha, que dançará apenas para mim. E assim, com
uma determinação implacável, me preparo para pagar pela dança mais exclusiva da minha vida,
uma dança que será somente para mim e para mais ninguém.
Capítulo 15

Saio do banheiro ainda esfregando a toalha em meu couro cabeludo, pois não terei tempo
de secar os meus cabelos. A ligação da Carolyn me pareceu urgente e não deixou espaço para
enrolação. Quando olho para frente, abro um enorme sorriso com a visão que tenho.

— Oh! O bebê da mamãe acordou! — Assim que falo, vejo a cabecinha de fios louros em
um tom médio se virando em minha direção e quase que imediatamente recebo um sorriso com
dentinhos pequenos, me fazendo esquecer tudo o que eu precisava fazer antes.

Ando em direção à minha bebê, que está em pé no berço, me chamando de “mamã”. Sem
dúvidas, esse é o som mais lindo que eu já ouvi em toda a minha vida. Fay ergue os bracinhos
em minha direção, como se já soubesse o que vai acontecer e eu a pego no colo, alisando a sua
cabecinha ao mesmo tempo em que pergunto:

— Está com fome, meu amor? Acordou agora, não foi? — Ela me olha com os seus
olhinhos azuis cristalinos e, como se isso fosse a resposta que eu precisava, caminho com ela em
direção à cozinha.

Quando chego na sala, a coloco em seu cercadinho e vou para a cozinha preparar a sua
mamadeira, me esquecendo completamente de que o meu cabelo precisa ser penteado logo
depois de lavar, senão os fios se embolam todos, me dando mais trabalho do que o normal. Mas
entre mim e a minha filha, sempre será ela.

Caminho até o armário e pego tudo o que preciso para fazer a mamadeira da minha bebê,
fazendo uma para agora e outra para colocar na bolsa para levar. Assim que termino tudo, lavo as
vasilhas e vou para sala, encontrando-a entretida com os brinquedos. Chamo a sua atenção e
balanço a mamadeira, fazendo-a andar até a cerquinha.

Me abaixo e a pego no colo, entregando a mamadeira e caminhando de volta para o


quarto. A coloco deitada entre os travesseiros enquanto ela toma a mamadeira e começo a
preparar a sua bolsa, me arrumando em seguida. Depois de uma luta para desembaraçar os meus
cabelos, desisto e opto por fazer uma trança, que em todos os casos, não é uma má ideia, pois a
Fay adora puxar os meus cabelos e gargalha com a minha cara de desespero.

Pronta, me deito na cama a tempo de ouvir o barulho dos últimos vestígios de leite sendo
sugados pela minha filha. Em seguida, dou um banho rápido nela, visto-a e saio de casa. Vejo
os olhares tortos das minhas vizinhas, mas ignoro todos, assim como todas as fofocas que elas
produzem sobre mim.

Acredito que um dia eu deixarei de ser o assunto preferido da roda de fofocas delas e
tudo isso irá passar, mas se isso não acontecer, de todo modo, não me importo com o que elas
dizem ou pensam sobre mim, pois tenho coisas mais importantes para me preocupar.

Desço toda a rua e ando um bom trecho, até que decido pegar um ônibus ao invés de ir
andando até a estação. Fay parece que engordou alguns quilinhos desde a última consulta, pois
preciso trocá-la de braço de tempos em tempos por causa do peso. Assim que vejo o ônibus,
ergo a mão e faço sinal para ele parar. Um jovem se levanta imediatamente ao me vê com a
minha filha no colo, cedendo o seu lugar e me ajudando com a minha bolsa. Agradeço com um
sorriso enquanto me sento ao lado de uma senhora, que olha entre mim e a minha filha com
curiosidade.

— Nossa, que coisa mais linda. — Ela inicia a conversa e eu, como já tenho certa
experiência, já estou desconfiada.

— Muito obrigada! — Agradeço, com um quase sorriso.


— Você está tomando conta dela? — Indaga.

— Não, minha senhora, não estou tomando conta dela e nem sou a babá, pois ela é a
minha filha. — A senhora arregala os olhos, surpresa.

Não me abalo com a sua expressão, pois infelizmente isso acontece com muita frequência
quando saio com a Fay. A mulher dá uma risadinha baixa e, aparentemente sem graça, abaixa os
ombros.

— Ela deve ser a cara do pai, não é? — Sua constatação também não é uma surpresa para
mim, mas diferente da primeira pergunta, que já me encontro preparada, essa sempre tenho uma
bola na garganta em não saber nada sobre a pessoa que, de certo modo, é responsável pelo
motivo que eu acordo todos os dias e luto como nunca.

Engulo o nó em minha garganta e forço um sorriso.

— Sim, provavelmente ela deve ser. — Comento, dando por fim ao assunto e tocando a
mão da minha bebê, que está atenta a tudo e tenta pegar.

— Como assim? Você não sabe quem é o pai da sua filha? — Ela pergunta, com a voz
carregada de incredulidade.

Olho para o lado, torcendo para que não esteja muito longe de onde tenho que descer,
pois a vontade que sinto neste momento é de descer agora mesmo e ir andando o restante que
falta com a minha bebê no meu colo do que ser obrigada a ficar respondendo questionamentos de
pessoas que nunca vi na vida.

— Não, eu não sei. — Respondo secamente.

— Senhor do céu, este mundo está perdido mesmo. — Ela resmunga, com uma expressão
de julgamento e fazendo força para se levantar.

A mulher procura um banco distante de mim e eu suspiro fundo, cheirando a cabecinha


da minha filha e buscando a calma e a sanidade que eu preciso para não pirar nestas situações.
Depois, pergunto se alguém deseja se sentar no lugar dela e quando vejo que não, sorrio feliz que
sobrou espaço para colocar a mochila e me sentar mais à vontade

.
Capítulo 16

Pouco tempo depois, desço do ônibus e caminho até o Clube Liberty, parando em frente a
grandiosa construção e ajeitando a minha pequena melhor no colo, sentindo a minha coluna dar
os primeiros sinais de dor. No entanto, mesmo que ela não entenda, sorrio ao apontar o dedo para
faixa e contar para ela que aqui é um dos lugares onde a mamãe trabalha. Em seguida, ando até a
entrada do clube e bato na porta, que é aberta por um dos seguranças do local. Ele me conta que
Maya, uma das donas do clube, já me aguarda no escritório.

Pisco algumas vezes, tentando entender o que foi que eu perdi, pois quem me ligou foi a
Carolyn e agora irei conversar com uma das donas daqui. Desde que comecei a dançar neste
lugar, tudo o que sei é que as donas são duas mulheres e que elas são um casal. Entretanto, até o
momento ainda não as conheci pessoalmente, até agora.

— Está tudo bem, Alex? — Pergunto apreensiva, pois preciso demais desse emprego e
não quero perdê-lo.

Não me lembro de ter feito nada de errado, a não ser recusar a dança no colo dos clientes
na área exclusiva, mas isso eu deixei claro que não faria desde o meu primeiro dia. Chego a
conclusão de que provavelmente não deve ser isso.

— Não faço ideia sobre o que a Maya quer com você, Rory. — Alex responde, olhando
para a Fay e erguendo a mão para tocá-la. — Mas e essa coisa mais linda aí no seu colo, quem
é?

— Essa é a Fay, minha filha. Eu não tinha com quem a deixar quando a Carolyn me
ligou, então eu a trouxe. — Me justifico, preocupada, pois quando Carolyn me ligou estava
sozinha com a minha filha.

Hoje é dia de consulta para a minha mãe, e depois ela iria se encontrar com algumas
amigas para tomar chá, já que estou de folga da cafeteria e ela não precisa fazer tudo correndo
para voltar para casa e ficar com a Fay para que eu possa ir trabalhar.

— Não tem problema, Rory. Neste horário só estão o pessoal da limpeza, alguns poucos
seguranças e alguns DJ passando o som. Agora vamos lá ver o que a patroa quer com você, mas
antes, posso pegar a sua filha no colo? — Ele pede. — Sou louco por criança e sinto saudade de
quando os meus sobrinhos eram desse tamanho.

Ele estende os braços e Fay se joga para ele, gargalhando com as caretas e barulhos que
Alex faz com a boca. Confesso que nunca o imaginei assim, todo brincalhão com uma criança no
colo. Para falar a verdade, as imagens mentais que eu tinha eram dele junto com o irmão e a
minha amiga safada.

Subimos as escadas e ele me leva até a sala da nossa chefe, Alex me entrega a minha
filha e bate na porta, a abrindo assim que é permitido. No momento em que os meus olhos estão
sobre a mulher loira de olhos verdes, seu rosto não me é de todo estranho.

— Acho que nós nos conhecemos de algum lugar? — Ela Comenta, com o cenho
franzido.

— Eu também tive essa mesma impressão assim que vi a senhora. —Murmuro, vendo-a
se levantar da cadeira e se aproximar de mim. — Mas, de qualquer forma, sou Rory.

— Ai, por favor, sem essa “senhora”. Me chame apenas de Maya. — Pede, desviando o
olhar de mim para minha filha. — E que bebê mais linda é essa?! — Ela se aproxima e me
surpreende ao pegar a mochila que carrego em apenas um ombro e me ajudar a me sentar. —
Ela é sua?

— Sim, ela é minha filha. — Balanço a cabeça, enfatizando.

— Você me parece ser tão novinha, Rory. — Comenta, acariciando a bochecha de Fay.

— Nem tanto, Maya. Tenho vinte e quatro anos. — Murmuro.

— Sei. — Ela nos analisa por um tempo e eu desvio a minha atenção quando Fay balança
as perninhas para descer.

Se eu deixá-la descer agora, com o tanto de coisa que há nesta sala para ela mexer, tenho
certeza de que aí sim haverá a possibilidade de eu perder o meu emprego de vez.

Abro o zíper lateral da bolsa, pegando um brinquedinho e entregando para ela.

— Bom, me desculpe por ter feito você vir até aqui com a sua bebê, deve ter sido um
pouco difícil chegar aqui com ela sozinha. Eu sou mãe de um menino e quando saio sozinha com
ele fico toda enrolada. — Quando ela fala sobre o filho, seus olhos brilham de orgulho.

— Não vou dizer que foi tranquilo, mas o importante é que deu tudo certo e agora estou
aqui.

— Verdade, então serei breve. — Ela raspa a garganta e afina os olhos em minha direção.
— Rory, tenho uma proposta para você que acho que é algo irrecusável.

— Proposta?— Repito o que ela diz.

De todos os cenários que tinha se passado pela minha mente, nenhum deles era referente
a uma proposta. Tem seis meses que eu consegui terminar a minha faculdade e o mais perto que
conseguir chegar da minha formação foi ensinando as meninas duas vezes na semana e dançando
aqui três.

— Sim. Um cliente especial quer exclusividade sua. — Ela é direta e eu pisco algumas
vezes, tentando absorver as suas palavras.

— Como assim um cliente quer exclusividade? — Indago surpresa, sendo vencida pela
curiosidade. — E como seria essa exclusividade?

— Você irá dançar somente para ele em um lugar escolhido por ele. — Ela explica,
abrindo uma gaveta,. — E ele está disposto a pagar essa quantia.

Maya pega um envelope preto e o coloca em cima da mesa, deslizando lentamente em


minha direção. A mão da Fay o alcança antes de mim, fazendo o meu coração acelerar. Minha
filha amassa a extremidade do envelope e eu recupero as batidas do meu coração quando o tiro
das suas mãozinhas antes que ela possa rasgá-lo.

— Filha, não pode rasgar as coisas da mamãe. — Falo em um tom que ela já reconhece
como repreensão e com isso ela solta um pequeno som, prestes a chorar.

Balanço-a desajeitadamente em meu colo, enquanto abro o envelope e vejo o valor que o
cliente misterioso está disposto a me pagar para dançar exclusivamente para ele. Sinto o sangue
fugir do meu rosto ao ver a quantia e perco a voz por alguns segundos.

Caramba! Por um dinheiro desse eu acho que seria capaz de dançar vestida de odalisca
e com uma cobra em meu ombro.

— Isso é mesmo verdade, Maya? — Pergunto desconfiada, pois quem em sã consciência


pagaria uma fortuna dessa só para ter uma mulher dançando somente para si. — Isso é muito
dinheiro!

Ela assente com um sorriso gentil e neste instante a minha mente trabalha rápido, me
lembrando da parte em que ela menciona sobre ele escolher o lugar e com isso tombo a cabeça
para o lado. Eu não vou para a cama com ninguém por dinheiro nenhum neste mundo! Fiquei
tão besta com tudo que não observei com atenção as suas palavras.

— Eu agradeço realmente pela proposta, mas serei obrigada a recuzá-la. — Suspiro,


empurrando o papel com o valor amassado em direção a ela novamente, que me olha parecendo
surpresa.

— Rory, ele está disposto a pagar qualquer valor caso ache que esse não seja o suficiente.
— Sorrio, querendo chorar ao mesmo tempo em que me sinto ofendida.

Será que é assim que funciona aqui? A gente dança e depois vira prostituta exclusiva de
homens ricos e poderosos que acham que podem tudo com o seu dinheiro?

— A questão não é sobre o dinheiro e sim sobre dançar para ele em um lugar que não
conheço, Maya. Eu estaria vulnerável com alguém que não conheço. — Explico. — Aqui pelo
menos tem seguranças e câmeras nos quartos onde acontecem as danças particulares.

— Claro, eu te entendo, mas se a questão por não está disposta a aceitar for somente essa,
acho que posso resolver em alguns instantes. — Diz ela, se levantando e pegando o celular sobre
a mesa.

Maya caminha até a janela com as mãos no bolso da calça branca de alfaiataria com
algumas pregas em seu quadril. Essa mulher não é somente linda, também se veste muito bem.

— Oi, Ethan! Como você está? — Ela fala com o cara do outro lado da linha com
bastante intimidade, como se fossem amigos de longa data.

Mas o que me chama a atenção mesmo é o nome dele: ETHAN, o cara da dança
particular. Ainda me lembro do peso de seus olhos sobre mim e os dedos firmes na minha cintura
e a voz rouca exigindo que eu o olhasse nos olhos.

Me distraio com as lembranças e Fay desce do meu colo, logo correndo alegre pela sala.
Quando eu tento pegá-la, contendo o meu desespero ao vê-la pegar uma peça cara que se partiria
em mil pedaços e ainda poderia a machucar se caísse no chão. Seguro as suas mãozinhas
enquanto falo um não em um tom mais alto de repreensão, a pegando no colo de imediato e me
culpando internamente pela distração.

Ai, que merda! Se a Fay quebra isso eu teria que dançar para esse cara até em seu
banheiro se ele assim quisesse.

Me sento novamente enquanto a ouço falar para ele que os barulhos de bebê não são do
filho dela. Beijo a cabeça da minha filha e puxo a sua mamadeira da bolsa. A conversa entre os
dois dura mais alguns minutos até que ela desliga o celular e se volta para mim com um sorriso
que não sei se para mim significa algo positivo.

— Ele aceita que você dance para ele aqui no clube, mas desde que seja somente para ele
e mais ninguém. Ethan vai mandar um contrato de exclusividade para você assinar, caso aceite
os termos dele.

— Um contrato? — Esse cara deve ser o tipo de homem que não confia em ninguém a
não ser nele mesmo.

— Sim. E ele disse que dobra o valor que está no papel caso aceite assinar. — Acho que
comprei um bilhete premiado e ganhei e não estou sabendo.

— Desde que seja aqui e eu não me veja obrigada a fazer nada além de dançar , eu aceito
a proposta e também desejo que os meus termos esteja presente no contrato que iremos assinar.
— Concordo. — Mas temos que ver o horário e o dia certinho, pois dou aula de balé infantil e
trabalho em uma cafeteria.

— Com a quantia que o Ethan está disposto a pagar para você, caso queira, acredito que
você poderá deixar um dos empregos ou todos e se dedicar mais a sua filha. — Ela comenta, me
olhando com mais atenção.

Desvio os meus olhos dos seus e paro na Fay, que dorme em meu colo com a mãozinha
em meu peito.

— Eu amo dar aula de balé, mas quero voltar a dançar também. — Expresso com um
sorriso o meu maior sonho, que foi deixado de lado desde que peguei a Fay pela primeira vez em
meu colo.

Não que eu me arrependa um dia sequer dessa decisão, mas os sonhos, por mais distante
que estejam da gente, eles nunca morrem e saber que tenho a possibilidade de poder voltar a
dançar na área que amo e participar de competições, podendo até mesmo ser chamada para uma
companhia de dança. Sorrio, me sentindo esperançosa com essa possibilidade que se estende à
minha frente.
Capítuo 17

— Amiga, você está arrasando! Isso é inédito por aqui, sabia? — Comenta Lility, me
ajudando a me arrumar. — Pesquisei sobre esse magnata e ele é chamado de Leão de terno no
mundo dos negócios, destaque em revistas como Forbes, Business Insider e Fortune. Ele
realmente sabe como deixar a sua marca no mundo.

— Ai, amiga, agora você conseguiu me deixar ainda mais nervosa do que já estou. —
Murmuro. — O que um cara desse pode querer comigo?

Observo o meu reflexo no espelho. Estou linda, com uma maquiagem impecável e os
cachos bem volumosos, pois desta vez acertei em cheio na finalização, mas ainda estou nervosa.
Sinto a minha pulsação aumentar só de imaginar que logo estarei dançando para o magnata
bilionário.

Lembro exatamente como me senti quando ele me olhou pela primeira vez. Não tenho lá
um currículo enorme e com diversas experiências, mas não me lembro de já ter sido olhada
daquela maneira por alguém até hoje.

— Rory, se olha direito no espelho, garota. — Ouço novamente a voz da Lily me tirando
dos meus pensamentos. — Você é linda, gostosa, inteligente e gente boa pra caramba. Se eu
gostasse de mulher, já teria te assumido.

Solto uma gargalhada com o que ela diz e ela ri junto.

— Você é uma ótima amiga, Lility, sabe como animar e colocar alguém para cima como
ninguém. Eu já disse que te amo hoje? — Pergunto, olhando para o seu reflexo no espelho.

— Não, e nem precisa, pois é claro que eu sei o quanto você me ama e não sabe viver
sem mim. — A doidinha comenta, empinando o queixo para cima com um ar convencido,
tirando o meu foco de todo o nervosismo que sinto.

— Se você não existisse, teria que ser inventada, sabia? — Comento, balançando a
cabeça com o tamanho da sua modéstia.

— Você acha que não sei disso? — Ela me dá uma piscadela seguida de um sorriso lindo.

— Convencida como você é, lógico que sei. Mas amiga, mudando de assunto, é melhor
eu me apressar, pois já está quase na hora da minha apresentação. — Falo, a abraçando. —
Obrigada por ter vindo mais cedo por mim.

— De nada, amiga! Eu sempre estarei aqui para você, Rory. — Ela faz uma pausa e me
olha com profundidade. — Lembra do contrato, ok?

— An?! — Espero que ela continue.

— Ele não pode te tocar sem a sua permissão. Confie em si mesma e mostre a sua arte
com confiança. E se algo não parecer certo, você tem o direito de interromper a apresentação. —
Assegura-me. — Estou aqui para te apoiar, sempre. Vou pedir para o Alex cuidar bem de você e,
se o bonitão cheio de dinheiro ultrapassar os limites, ele pega pelo colarinho e joga para fora
daqui.

— Tá bem, amiga, me sinto segura sabendo que atrás dos espelhos terá alguém em quem
eu possa confiar cem por cento. — Agradeço mais uma vez pelo abraço, me sentindo mais
confiante após as suas palavras.
Contudo, confesso que me preocupa ter que dançar exclusivamente para um homem e
tenho receio de que ele possa decidir querer mais do que apenas uma dança. O que me assegura
que, caso ele recorra à força para obter o que deseja de mim, mesmo com todo o dinheiro e poder
que possa ter para encobrir tudo, eu serei a única a sofrer com as consequências.

Quem acreditaria em uma garota negra, mãe solteira, com três empregos e que dança para
homens em um clube, mesmo que seja sofisticado e respeitado? Sei que algumas garotas aqui
não se limitam apenas à dança e aos presentes, apesar de eu e muitas outras sermos a exceção à
regra, devido a algumas outras, sempre pagamos o preço.

Por isso, é reconfortante saber que, independente de qualquer coisa, terei a minha amiga
ao meu lado sempre. Por mais que o contrato esteja assinado e as regras definidas, eu não
confio. Acho que pessoas como ele são capazes de tudo para ter o que querem.

Deixo a minha amiga e saio do camarim, andando pelo corredor e sentindo o meu
coração acelerar a cada passo. Deslizo as minhas mãos pelas laterais do meu quadril, sentindo o
início da franja da roupa. Estou vestida de Cowgirl sexy e é algo diferente de tudo o que já usei
na vida, mas acho que isso vai se tornar recorrente de agora em diante, trabalhando aqui como
dançarina.

Eu nunca imaginei que um dia usaria o amor que tenho pela dança para dançar para
homens. A vida da gente dá cada volta e nos leva para lugares aos quais nunca imaginamos.
Meus passos diminuem e paro em frente à porta do quarto, respirando fundo e fechando
levemente os meus olhos, tomando controle de todas as minhas emoções.

Solto o ar vagarosamente e, juntando toda a coragem que preciso, abro a porta e entro no
quarto, recostando-me nela e a fechando atrás de mim com o peso do meu corpo, enquanto os
meus olhos correm rapidamente pelo quarto com luz fraca. Observo uma cama redonda no
centro, uma poltrona e elementos que remetem ao BDSM distribuídos pelo cômodo, parando os
meus olhos em Ethan, que se encontra de costas para mim, com uma mão afundada no bolso da
calça social e a outra segurando um copo com um líquido amarelo e algumas pedras de gelo.

Ele usa um terno que parece ter sido feito sob medida para o seu corpo grande e
musculoso. Não tem como não notar esse homem. Lembro da primeira vez em que o vi, fiquei
imediatamente hipnotizada pela sua presença imponente. Seus olhos azuis penetrantes pareciam
enxergar através de mim e o seu sorriso misterioso despertou um frio na minha espinha.

Ethan se vira lentamente e eu me sinto como se o ar aquecesse ao meu redor. Não


consigo desviar os meus olhos dele enquanto ele anda em minha direção e para na minha frente,
me analisando lentamente como se desnudasse cada parte do meu corpo e quando chega ao fim
da avaliação, o canto de seus lábios se ergue em um quase sorriso.

— Bela! Exatamente como eu me lembrava. — Murmura. — Interessante a sua escolha


de roupas, mas as próximas eu escolherei. — Balanço a cabeça, pois o efeito de sua voz me
deixa sem fala.
Eu me sinto atraída demais por ele e pela maneira com que ele me olha, isso não é uma
surpresa. Meu peito sobe e desce e resolvo fazer o que vim fazer aqui, dançar para esse homem
intrigante.

Aviso que irei começar a dança e Ethan se afasta apenas um passo, levando o copo em
direção à boca e dando um gole no líquido amarelo. Após isso, me viro e faço um sinal,
indicando para que deem play na música que eu tinha escolhido. Me dirijo ao palco, sentindo o
olhar de Ethan sobre mim e quando começo a me mover, ele parece hipnotizado.

A cada passo, minha confiança aumenta e a energia entre nós se torna ainda mais intensa.
Me movo no ritmo da música country, me deixando levar pela melodia e pela sua presença
magnética. Ele está sentado na poltrona, com apenas um passo de distância entre nós,
observando cada movimento meu com interesse evidente.

Não posso negar o quanto me sinto atraída pela sua presença imponente, mas também
estou determinada a mostrar que eu valho a pena cada dólar do seu dinheiro investido. Quero
enlouquecer esse homem a cada dança, não apenas pelo dinheiro, mas também pelo que sinto
quando ele me olha. Seus olhos não deixam um só movimento meu escapar e isso só aumenta a
minha determinação em impressioná-lo.

A música continua e eu me entrego completamente à dança, me deixando ser levada por


cada batida. Quando a música chega ao fim, faço um último passo, olhando diretamente em seus
olhos que esteve a todo tempo em mim. Ele sorri de forma sutil e sinto o meu coração acelerar
em resposta.
Capítulo 18
Duas semanas depois...

Entro na clínica e me dirijo a recepção, fornecendo o meu nome à recepcionista e me


sentindo apreensivo enquanto aguardo a sua confirmação junto ao sistema. Troco o peso da
perna, uma tensão estranha se instalando em meu corpo enquanto espero pacientemente pela sua
liberação.

Não faço a menor ideia do motivo pelo qual fui chamado aqui. Lembro-me perfeitamente
da última vez que estive neste lugar, quase dois anos atrás, para a coleta de material para a
inseminação de Maya e desde então, não pisei mais aqui.

O que será que eles querem comigo?

Após confirmar os meus dados, a recepcionista pede que eu a acompanhe. Passamos pela
sala de espera do andar térreo e entramos no elevador. Sou conduzido ao décimo oitavo andar e,
ao abrirem as portas do elevador, sou levado direto para outra sala de espera.

Isso só me faz lembrar dos vários compromissos que tenho para resolver e estou aqui
parado, sem fazer nada. Ela se despede, pedindo para que eu fique à vontade e garantindo que
logo serei chamado, se afastando pelo corredor por onde viemos. Ao conferir o ambiente, avisto
Maya e Brenda sentadas nas poltronas e franzo o cenho, surpreso.

A sensação de que existe algo muito errado dentro de mim só aumenta. Encurto a nossa
distância, caminhando até elas e me sento ao seu lado, as cumprimentando.

— Vocês também foram chamadas? — Pergunto, tentando parecer calmo.

Elas assentem com a cabeça, parecendo tão surpresa quanto eu ao nos encontrarmos
aqui.

— Sim, Ethan, também fomos chamadas e estamos achando tudo isso muito estranho. —
Maya comenta, com a voz trêmula.
Brenda, percebendo a sua apreensão, segura a mão da esposa e tenta tranquilizá-la. Por
mais intrigado que eu esteja para saber o motivo de ter sido chamado aqui, minha mente viaja
sem a minha permissão e sou transportado para a imagem da garota dançando para mim, com um
par de pernas longas e perfeitas e uma bunda que não sai da minha cabeça nos últimos dias. Ela
tem se tornado a minha distração perfeita, sempre emergindo em minha mente nos momentos
mais inoportunos do dia e me deixando tentado a ter ideias absurdas.

— Bom dia, Sr. Lewis e Sras. — Sou tirado dos meus devaneios pela voz masculina,
girando o meu pescoço em sua direção e vendo um senhor bem trajado de terno ao meu lado.

O homem nos cumprimenta e se apresenta como representante da clínica, conduzindo-nos


para à sua sala. Ao entrarmos no cômodo, deparamo-nos com a médica responsável pelo
procedimento em Maya, sentada junto a outro profissional com jaleco branco que não reconheço.

— Antes de tudo, quero agradecer pela presença de todos e pedir desculpas por estar
tomando o tempo de vocês, prometo que tentarei ser o mais breve possível. — O representante
começa, se sentando diante de alguns papéis e batendo o dedo repetidamente sobre as folhas
antes de voltar a falar. — Sinto muito em informá-lo, mas houve um erro durante o procedimento
de fertilização realizado pela clínica.

Cruzo os braços e seguro o cotovelo, em seguida, deslizo os meus dedos pela barba por
fazer, sentindo os fios pinicarem as pontas dos meus dedos com o gesto.

Erro? De que merda esse cara está falando?

Faz dois anos desde que o procedimento foi feito, se tivesse ocorrido algum erro, essa
porra de reunião não deveria ter acontecido há mais de um ano atrás. Mexo o meu corpo,
sentindo um desconforto fora do comum com o que acabo de ouvir.

As meninas me disseram que essa droga de clínica é uma das mais conceituadas do país e
agora eles me veem com essa porra de brincadeira de mal gosto. Eles não sabem que cada
minuto do meu dia vale milhões e que eu não tenho tempo a perder com esse tipo de palhaçada?
E para piorar, ele faz uma pausa, me irritando de imediato com o seu silêncio. Respiro fundo,
tentando conter os meus ânimos, no entanto, assim que solto o ar, vejo que não adiantou em
nada.

— O que você quer dizer com isso? — Brado irritado, franzindo as sobrancelhas e
sentindo um vinco se formando entre elas. — Seja claro e direto!

Os olhos do homem se arregalam em minha direção e vejo o seu pomo de Adão subir e
descer.

— Então, como eu estava dizendo… Durante o procedimento de fertilização, houve uma


confusão que resultou no uso incorreto do material genético. O esperma do Senhor Lewis foi
utilizado em uma paciente equivocada, enquanto a Sra. Maya recebeu um embrião implantado
em seu útero em vez de uma inseminação. — Ele explica. — Reconhecemos que este erro é
inaceitável e estamos comprometidos em corrigi-lo da melhor maneira possível.

Balanço a cabeça e gargalho alto, sem conseguir acreditar em suas palavras.

— Que porra é essa? — Rosno alterado, fechando a mão em punho e batendo contra a
mesa de madeira que treme com o peso do meu soco. — Você só pode estar de brincadeira
comigo, não é? Pois não posso realmente acreditar que isso tenha acontecido e estamos tendo
conhecimento somente agora. — Me ergo da cadeira onde estou sentado e olho para as meninas
ao meu lado. — Vamos embora daqui, Maya e Brenda! Eles só podem estar loucos para tomar o
nosso tempo com algo tão sem cabimento.

Maya está com o rosto vermelho, prestes a chorar e Brenda, que é sempre a mais firme
das duas,parece muito abalada. Chamo-as mais uma vez enquanto caminho em direção à porta,
sentindo cada músculo do meu corpo rígido. Repito em minha mente que isso tudo não passa de
uma loucura, Caso contrário, não serei capaz de responder pelos meus atos e posso vir a cometer
uma loucura.

— Não, Sr. Lewis, infelizmente, o que falo é realmente a mais pura verdade. —
Retrocedo os meus passos e paro diante do homem, sentindo o músculo da minha mandíbula se
contrair ao mesmo tempo em que a raiva e o desgosto se refletem em meus olhos.

Passo a mão em meu rosto, sentindo um turbilhão de emoções percorrendo o meu corpo.
Choque, incredulidade, raiva... Como isso pôde acontecer?

Minha mente se debate em busca de respostas, mas não consigo encontrar nenhuma que
faça sentido. Olho para Maya e Brenda, vendo-as trocarem olhares preocupados enquanto tentam
processar a terrível verdade que acaba de cair sobre nós. Seus rostos refletem a mesma mistura
de choque e confusão que sinto, junto com a dor e um soluço escapa dos lábios de Maya.

— Nossas políticas e procedimentos estão sendo reavaliados e reforçados para garantir


que algo assim não volte a acontecer novamente. Além disso, estamos dispostos a oferecer todo
o apoio e orientação que vocês possam precisar conforme enfrentam essa situação difícil. — Rio
de sarcasmo com o que ele diz.

Como eu vou lidar com isso? Como nós vamos lidar com isso?

A sala ao meu redor parece desfocada e distante, me fazendo sentir como se eu estivesse
preso em um pesadelo do qual não consigo acordar. Franzo o cenho, olhando para o
representante legal dessa porra de lugar com raiva.

— E por acaso essa postura de vocês vai mudar alguma coisa em nossas vidas? Vai
converter o erro que cometeram ou toda a dor que passamos com a perda do bebê que achávamos
que era nosso? — Cuspo as palavras, sentindo o meu coração acelerar ao ouvir tais desculpas de
merda.
Por acaso eles têm uma máquina do tempo para corrigir o erro que cometeram conosco?
Certamente não, então nada do que façam ou falem vai me satisfazer. Preocupado, olho para
Maya e ela parece estar segurando o choro.

Um filho… Caramba, uma criança de um ano e meio foi concebido a partir do meu
esperma, mas com alguém que desconheço completamente. Quão louco é isso?

A ideia de ter um pedaço meu por aí, sem saber quem é a mãe e sem ter a chance de me
encontrar com ele ou ela é avassaladora.”

— Qual é o nome da mulher que teve o meu filho? — Pergunto, com a paciência
pendendo por um fio.

— Sinto muito, Sr. Lewis, mas as leis de privacidade nos impedem de divulgar qualquer
informação sobre a mãe biológica. Só podemos informar que os advogados dela entraram em
contato conosco quando deram início ao processo. — Ele responde, tentando manter uma postura
profissional.

— Essa é a grande resposta que você tem para mim? Depois de todo o caos que vocês
causaram em nossas vidas, a única coisa que posso ter é um “Sinto muito”? Pera aí! — Digo,
com um misto de sarcasmo e desespero. — Isso que acabou de falar, que a mãe do meu filho ou
filha entrou em contato com vocês assim que entrou com um processo contra a clínica. Faz
quanto tempo que esse processo está correndo. — Pergunto, sentindo uma urgência pela
resposta. Em contrapartida ele me parece mais tenso do que antes com o meu questionamento.

— Um mês após ela ter dado à luz. — Fecho os meus olhos com força, sentindo o efeito
das palavras dele como se fosse um choque.

— Quem é a mãe do meu filho? — Volto a perguntar em um tom mais alto do que o
anterior.

— Não podemos revelar essa informação, Sr. Lewis… — Ele sussurra tão baixo que
quase não consigo ouvir de onde estou.

— Vão continuar se recusando a cooperar? — Mais silêncio, balanço a cabeça fora de


mim. — Terei o prazer de comprar essa clínica somente para colocar esse lugar no chão. E irei
garantir que todos saibam o quão incompetentes vocês são! — Grito, me exasperando.

Brenda segura o meu braço, tentando me acalmar, mas a fúria que me consome é
inabalável. O representante dessa merda de clínica que fodeu com as nossas vidas se encolhe em
sua cadeira, ciente de que a minha explosão de raiva tem fundamento.

Porra, eu tenho um filho e não faço ideia de como ele ou ela é.


Passo a mão pelos meus cabelos, os bagunçando enquanto ando de um lado para o outro
inconformado. Afrouxo a gravata, me sentindo sufocado e sem lugar.”

— Senhor, entenda que estamos fazendo o possível dentro dos limites impostos pela lei.
— Ele tenta justificar o injustificável.

— Vocês acham que as leis podem me impedir de ter o que eu quero? — Ralho. — Por
acaso você tem noção de com quem está falando? De quem sou eu? — Pergunto, me
aproximando mais dele e o olhando fixamente.

Porra! Eu sou pai e não fazia ideia disso…

Ele me olha com receio e eu me afasto, pois se eu ficar mais um minuto neste maldito
lugar, serei capaz de comprar essa porra de clínica e demoli-la com todos os responsáveis por
esse “erro” dentro.

— Vamos embora, meninas! — Chamo, com o olhar fixo no representantizinho de


merda, desafiando-o a me dizer que não posso fazer nada.

— Ethan, eu passei pelo pior momento da minha vida e perdi um bebê que nem meu era.
— Maya sussurra, com a voz entrecortada por causa dos seus soluços, a dor visível em seus
olhos.

Brenda, mesmo abalada, segura a sua mão e a puxa em minha direção.

— Eu sei, minha amiga. Compreendo a sua dor e te garanto que farei com que eles
sofram as consequências pelo que estamos passando neste momento. — Me aproximo dela e
seguro o seu rosto. — A mesma energia que gasto em meus acordos, te prometo que irei gastar
para fechar essa merda de clínica! — Olho para a médica responsável pelo erro. — E quanto a
você, cuidarei pessoalmente para que você não exerça a sua profissão, nem aqui e nem no
inferno.

A médica pisca algumas vezes e vejo o medo dominar o seu rosto ao ouvir as minhas
palavras duras. Logo em seguida, ando em direção a saída com passos pesados, tendo Maya e
Brenda em meu encalço. A raiva que queima dentro de mim é como uma força motriz e eu
prometo a mim mesmo que farei de tudo para descobrir a identidade da mulher que é mãe da
minha filha ou filho. Ninguém vai atravessar o meu caminho, nem mesmo essa maldita clínica.
Capítulo 19

Sinto o calor do sol que atravessa as grandes janelas da sala de conferências, com uma
bela vista da cidade no horizonte. Enquanto me sento na cabeceira da mesa, determinado, uma
equipe de especialistas em suas respectivas áreas está reunida, conforme solicitei ao meu
assistente assim que tomei conhecimento sobre o erro cometido pela clínica e da recusa deles em
fornecer informações sobre a mãe do meu filho ou filha.

Mal consegui dormir durante à noite, pensando sobre a possibilidade de ter um pedaço
meu no mundo sem que eu tivesse nenhum conhecimento. Se a outra parte não tivesse procurado
a justiça, muito provavelmente eu passaria a vida inteira sem saber que eu tinha um filho. Com
esse pensamento em mente, não abro mão de cumprir a ameaça que fiz a eles, irei comprar
aquele maldito lugar e garantir que as pessoas responsáveis por esse erro não exerçam mais a
suas profissões. Eles lidam com vidas e não podem se dar ao luxo de serem profissionais
negligentes.

— Senhoras e senhores. — Começo a falar com a voz firme, ecoando pela sala e
capturando a atenção de todos para mim. — Quero saber qual o nosso melhor plano de ação, já
que a clínica negou o meu acesso às informações sobre a mulher que foi inseminada
erroneamente com o meu material genético? — Inquiro, recostando-me na cadeira.

— Sr. Lewis. — Samantha, a nossa advogada da vara da família, se levanta, chamando a


minha atenção para ela.

A mulher ajusta os óculos de grau enquanto examina uma pilha de documentos à sua
frente.

— Sim... — Respondo, girando a minha cadeira em sua direção, completamente focado


em suas palavras.

— Temos o direito de acessar essas informações, já que neste caso em específico se trata
de um erro médico e essa recusa por parte da clínica é uma violação flagrante. — Explica ela. —
Vamos entrar com uma ação contra a clínica imediatamente.

— Ótimo, faça isso! — Me volto para os demais presentes. — Irei financiar todos os
recursos necessários, mas exijo comprometimento de cada um com esta causa.

— Nós vamos investigar todas as pistas disponíveis, senhor. — Os detetives particulares


assentem, prontos para iniciar o trabalho.Encontraremos essa mulher, onde quer que ela esteja.
Garanto-lhe isso.

A reunião segue até o fim e todos saem empenhados em apresentar resultados


satisfatórios. Quando a sala se encontra vazia, passo a mão pelo meu rosto cansado, imaginando
como deve ser o rosto do meu filho ou filha. Quantos momentos importantes de sua vida eu já
perdi até descobrir sobre a sua existência… Isso literalmente está me matando. Eles podem ter
negado o meu acesso às informações pelas vias legais, mas tenho dinheiro, recursos e habilidades
à minha disposição e usarei cada um a meu favor até ter o meu filho em meus braços e recuperar
todo o tempo perdido.

Pela primeira vez em muitos anos, fico parado por horas a fio, sentado na sala de
conferências e deixando o tempo passar ao meu redor, sem ânimo para mover um músculo
sequer do meu corpo. Quando finalmente me levanto de onde estou sentado, a luz que
atravessava a janela se dissipou, tornando-se em uma completa escuridão. Sigo com passos
lentos, carregados de decepção e frustração por aquilo que não previ e está fora do meu controle,
ignorando tudo ao meu redor.
Logo que as portas do elevador se abrem , já me encontro direto na garagem subterrânea.
Caminho rapidamente, entrando no meu carro e enfrentando um trânsito caótico, sem me
importar com ele.

Paro em frente ao clube e entro pela área privada, tendo acesso rápido ao quarto. Peço
uma taça de vinho e fico perdido em meus pensamentos, bebericando a bebida uma vez ou outra
até que um barulho vindo da porta me faz voltar ao momento presente. Vejo Rory entrando no
cômodo, os meus olhos percorrendo o seu corpo e recaindo sobre os seus pulsos por um instante
enquanto ela se aproxima sem olhar para mim. Ambos estão amarrados com cordas, me fazendo
engolir em seco com o pensamento borbulhando em ideias.

Gostaria eu mesmo de ter feito esse nó em seus pulsos delicados…

Embora ela tenha deixado bem claro desde o início que não tem muito conhecimento
sobre o BDSM, antes da assinatura do nosso contrato de exclusividade, Rory também deixou
claro que estava disposta a me surpreender e é o que vem acontecendo desde então. Essa garota,
que agora sei que é mãe, vem me deixando cada vez mais intrigado em conhecê-la melhor, pois
quando o assunto é a sua vida pessoal, ela é extremamente reservada.

— Ethan…— Ouço a sua voz me chamando em um tom preocupado, só agora me dando


conta de que me distraí e não a vi dançar para mim. — Eu fiz alguma coisa errada?

Balanço a cabeça, em uma negação a sua pergunta, deixando claro que o meu estado não
se deve a nada que ela tenha feito.

— Não, claro que não, Rory! Você está perfeita como sempre. Me desculpe, eu quem
realmente estou distraído essa noite. — Admito o óbvio.

Ela se levanta do chão e aponta o dedo com os pulsos ainda amarrados para a cama e eu
entendo o seu convite. Me levanto da poltrona confortável, pegando a minha taça, quase cheia, e
caminhando em sua direção.

— Quer conversar sobre o assunto? — Ela pergunta, os seus olhos castanhos mostrando
uma preocupação sincera.

Vejo o canto da sua boca se repuxar enquanto ela aguarda a minha resposta.

— Faz muito tempo que eu não divido os meus problemas com alguém e nem sei se
consigo fazer isso. — Confesso pela primeira vez, não me orgulhando disso.

Perdi essa habilidade quando a mulher que eu amava foi abruptamente tirada de mim.

— Bom, se você quiser tentar, eu estou aqui e posso te ouvir. — Oferece, se acomodando
ao meu lado. — Deve ser muito solitário guardar tudo somente para si.
Eu a olho com intensidade, me lembrando do susto que levei ao saber por Maya que ela
tem uma filha. Lembro-me da sensação estranha que senti ao saber que provavelmente algum
babaca deve tê-la abandonado grávida, pois se ela tivesse um homem que assumisse ela e a
criança, a garota não precisaria trabalhar tanto para prover.

Confesso que tentei saber mais sobre ela, no entanto, obviamente não cheguei muito
longe, pois Rory é bastante reservada quando se trata de sua vida pessoal. Basta eu começar com
algumas perguntas e ela ergue um muro de distância entre nós dois. Com isso, entendi que, por
mais que eu queira conhecê-la além desse limite imposto, ela não irá ceder.

No início, eu tinha certeza de que tudo o que ela desperta em mim era puramente desejo e
que tudo iria passar no momento em que eu me afundasse dentro dela, mas depois de algumas
semanas percebo que não é apenas isso e a resposta que ainda não consigo encontrar neste
momento me assusta tanto quanto todo o caos que a minha vida se tornou de um dia para o outro.

— Você ainda está com os pulsos amarrados. — Sorrio desanimado, passando o dedo
sobre a corda e sentindo a sua aspereza.

— A intenção era de que você atirasse ao final da dança. — Ela ergue uma sobrancelha
bem feita.

— Posso fazer isso agora mesmo, se quiser. — Em resposta, ela ergue o pulso em minha
direção e eu coloco a taça em cima da mesa ao lado da cama.

Desfaço os nós com facilidade, pois a pessoa que os fez é amadora.

— Pronto. — Comento pouco tempo depois.

— Obrigada! — Agradece, passando os dedos onde estavam as cordas momentos antes.

— Como se chama a sua filha? — Rory se vira em um quase salto, aparentemente


surpresa com a minha pergunta.

— Ela se chama Fay. Responde, depois de considerar se deveria ultrapassar esse limite
comigo.

— Fay. — Repito, fazendo com que me olhe com mais atenção. — É diferente, mas
lindo! Tem algum significado especial para você?

— Sim, tem sim. Significa fé e fada magia. — Ela abre um lindo sorriso ao explicar. —
Quando a Fay nasceu, tudo estava meio confuso e complicado em minha vida, mas quando eu
olhei para ela, soube que tudo iria se encaixar desde que a gente ficasse juntas.

Observo os seus traços perfeitos , enquanto ela parece se perder em suas lembranças.
— Quantos anos tem a Fay? — Indago, querendo aproveitar ao máximo essa abertura que
ela está me dando para saber mais sobre a vida dela.

— Um ano e meio. — Responde, com os olhos brilhando de amor. — A sapequinha é tão


esperta que parece ter mais. Você precisa ver como ela é linda, Ethan… Um toquinho de gente
correndo pela casa e querendo mexer em tudo.

Abro um sorriso, contagiado pela descrição tão apaixonada que Rory faz da própria filha.
Pelos meus cálculos, o meu filho tem mais ou menos a mesma idade que a filha dela e
provavelmente está fazendo o mesmo em algum lugar desse país.

Será que ele ou ela é tão amado como a Fay é pela Rory?

Essa incerteza me consome desde que soube que tenho um filho perdido por aí.

— Isso me parece ser incrível, Rory! — Ela confirma com um gesto de cabeça.

— Sim, é realmente incrível, Ethan. Eu não sei como explicar, mas parece que a vida
ganha um novo significado quando você tem um filho.

Concordo com a cabeça, pensando em como os meus pensamentos mudaram tão rápido
quando soube da existência do meu bebê. Até ontem eu não precisava me preocupar com mais
ninguém além de mim mesmo, mas agora eu sou pai e me preocupo em como está o meu filho
que ainda não tive a oportunidade de conhecer?

— Verdade! — Comento.

— É como se de repente você descobrisse um propósito maior, algo que vai além de si
mesmo. — Ela complementa e eu assinto.

É como se ela estivesse ouvindo os meus pensamentos. Sinto o canto dos meus lábios se
elevarem em um quase sorriso com este pensamento.

— Parece que você tem um laço muito forte com a sua filha. — Observo, admirando a
ternura em sua expressão ao falar da menina.

— Sim, Ethan, ela é a minha razão de viver. — Rory confirma, o amor evidente em cada
palavra. — Mas e você, tem filho? — Ela pergunta, o seu tom de voz apreensivo como se
temesse estar atravessando um limite.

Não posso julgá-la ou criticá-la por isso, principalmente quando eu fui o primeiro a
ultrapassar este limite e enveredar com este assunto.

— Sim, Rory, eu tenho um filho. — Murmuro, mais para mim do que para ela.
— E como ele é? — Sinto um aperto no peito ao ouvir essa pergunta e não sei bem como
respondê-la.

Embora tenha me tornado pai no momento em que soube da sua existência, eu não sei
nada sobre o meu filho ou filha e nem faço ideia de como é a sua fisionomia, se ele ou ela se
parece comigo ou com a mãe.

— Eu... Hum, na verdade, ainda não o conheço. — Admito, encolhendo os ombros


enquanto sinto um gosto amargo na boca.

— Como assim você não conhece o seu próprio filho? — Ela indaga, o seu tom soando
em um misto de confusão e incredulidade.

— Este é um assunto extremamente delicado e confuso, Rory. Por mais que queira,
acredito que não iria conseguir te explicar isso agora. — Respondo, tentando disfarçar a dor que
sinto ao pensar no filho que nunca conheci. — Só quero que saiba que não sou um mau caráter
que o abandonou.

Estranhamente, não sei o porquê de me preocupar tanto com o que ela possa vir a pensar
sobre mim. Nunca me importei com a opinião de ninguém e isso sempre me ajudou a conseguir
o que quis. No entanto, com Rory Jackson Davis tudo parece ser diferente. Eu sou diferente... A
última vez que me importei com a opinião de alguém a esse ponto foi... É melhor nem pensar
nisso. É completamente fora de cogitação. Esta garota tem vinte e quatro anos, idade para ser
minha irmã mais nova, caso eu tivesse uma.

Mas ela não é a sua irmãzinha, idiota.

Meu subconsciente me trai com ideias e desejos que vão além do que eu mesmo poderia
imaginar. Há muito tempo aceitei que essa batalha já estava perdida, mas em minhas ações, eu
ainda tenho o controle.

— Bem, espero que um dia você possa conhecê-lo. Tenho certeza de que ele será tão
especial quanto a Fay é para mim. — Ela tenta me confortar e eu agradeço com um aceno de
cabeça, engolindo em seco.

— Eu também espero, Rory. — Murmuro.

— Ethan?! — O tom da sua voz soa cauteloso, chamando mais a minha atenção para ela.

— Oi?

— Você ainda vai querer que eu dance para você? — Indaga.

— Me desculpe, Rory! — Peço. — Eu não deveria ter vindo para cá. Achei que te ver
dançar fosse me distrair, mas não adiantou muito.

— Sem problemas, Ethan. Então eu posso ir para casa?

— Claro, eu posso te levar?

— Desculpa, mas acho que é melhor a gente não misturar as coisas. — Essa garota me
confunde, agora há pouco ela me deixou compartilhar as minhas angústias com ela e agora não
quer confundir as coisas. Sinceramente, às vezes não consigo entendê-la.

— Não, Rory. Te levar para casa não irá mudar nada entre nós. Te garanto isso! —
Asseguro-lhe. — Só faria com que me sentisse melhor, depois de ter te feito vir até aqui, sendo
que nem consegui prestar atenção em você dançando. Me desculpe, achei que te ver dançar iria
me fazer sentir melhor, mas a minha mente não está aqui. — Explico-me, querendo sentir a
maciez da sua pele sob os meus dedos, mas me contendo. — Te dou a minha palavra de que vai
funcionar mais como um pedido de desculpa por ter feito você vir até aqui para nada.

— Ethan, não precisa se preocupar com isso. Você está me pagando muito bem. Então
você poderia ter me chamado aqui mesmo que fosse somente para dizer que hoje não conseguiria
me ver dançar. Eu entenderia e voltaria para casa.

— Nunca faria algo do tipo, Rory. Odeio que me façam perder tempo com bobagens e
prefiro não fazer com que outras pessoas percam o seu tempo comigo. — A encaro. — Por este
motivo, quero que aceite a minha carona. Fará com que eu me sinta melhor. E também tenho o
fato de que ainda preciso distrair a minha mente. Então, o que me diz?

Ela franze a testa, pensativa.

— Está bem, levando em conta tudo o que me disse, eu aceito. — Concorda, parecendo
ainda hesitante, e prestes a desistir a qualquer momento dessa decisão. Para que não haja espaço
para que isso aconteça, me levanto. — Preciso me trocar, você pode me esperar um pouco?

— É claro, podemos nos encontrar lá fora. Aproveito e vou tirando o carro do


estacionamento. — Ela balança a cabeça e a deixo sair primeiro.

Logo depois, sigo para pegar o meu carro, com uma breve sensação de vitória. Mas tenho
que me lembrar da promessa que acabo de fazer a ela, de que isso não significaria nada para
mim.
Capítulo 20

O carro para em frente ao portão de casa e, tão rápido quanto posso, destravo o cinto de
segurança, enquanto olho com cautela pelo canto do olho e percebo que ele faz o mesmo. Logo
que solto o meu cinto, Ethan abre a porta do seu lado e dá a volta no carro.

Senhor, o que esse homem vai fazer?

Acho que foi um erro ter aceitado a sua carona. A nossa relação não pode passar de
profissional, mas, se pensar bem, o que um homem como ele vai querer com alguém como eu?
Não tem o menor sentido. Estou vendo coisas onde não existe.
A única coisa real que poderia acontecer é alguma vizinha fofoqueira ver um carro desses
parado em frente a minha casa e começar a falar que comecei a fazer programa. Isso seria
péssimo, mais um motivo para arrependimento, que é completamente esquecido quando ouço o
barulho da porta ao lado sendo aberta.

Ethan estende a mão em minha direção e, no momento em que a seguro, os meus olhos
encontram os seus e eu sinto um pequeno choque, junto com um arrepio que começa na minha
espinha e tem fim nos pelinhos da minha nuca. Ethan é o tipo de homem que quando te olha, te
deixa completamente sem ação.

Existe uma intensidade em seus olhos que me faz querer continuar a olhar para ele, como
se fosse um feitiço. Mas, assim que me dou conta do perigo que corro, recupero a minha
sanidade e desfaço o nosso contato.

— Ethan, muito obrigada pela carona. — Agradeço quando paramos em frente a porta de
casa, sentindo-me nervosa por estarmos tão perto um do outro, principalmente porque o meu
corpo reage a qualquer mínimo sinal do seu.

Ele, como o homem experiente que é, parece notar o efeito que exerce sobre mim e o seu
sorriso de canto mostra o quanto parece se divertir com o meu desconcerto. Ouço um risinho
adorável ecoando pela casa, seguido por pequenos gritinhos e Ethan me olha com uma
sobrancelha levemente erguida.

— Está acontecendo alguma coisa? — Ele me indaga, parecendo curioso.

— Sim, — Faço uma pausa e solto um sorriso antes de voltar a falar. — Parece que tem
um toquinho de gente que passou do horário de dormir e ainda está aprontando pela casa. Ah, eu
sabia que aquele soninho fora de hora iria acarretar nisso. — Balanço a cabeça. — Então acho
que o melhor que tenho a fazer é entrar, a Fay está com a corda toda e a minha mãe
provavelmente deve estar cansada, mas, mais uma vez, obrigada pela carona.

— Claro! Não precisa agradecer, era o mínimo que eu poderia fazer. — Há um silêncio
entre nós dois e ele permanece com as mãos no bolso da sua calça social.

O seu olhar vai em direção a porta, seguido de um sorriso ao ouvir o gritinho de Fay,
fazendo com que eu esqueça tudo o que tinha dito anteriormente para ele e deixo que a minha
cabeça seja guiada somente pelo meu coração.

— Quer entrar e conhecer a minha filha? — Convido, as palavras simplesmente


escapando da minha boca.

Eu posso me arrepender disso? Sim, é claro. Mas deixo isso para depois, pois o brilho
que vejo em seus olhos faz com que eu perca qualquer pensamento contrário e abra a porta,
seguido do seu sim. Entro em casa e a minha mãe sorri, dizendo:
— Olha, Fay, quem chegou! — Minha mãe solta a neta, deixando-a livre para correr em
minha direção.

Fay começa a bater palminhas, animada ao me ver, como sempre faz quando estamos
juntas e o meu coração se enche de alegria ao vê-la assim, tão linda e bem cuidada. Lembro das
decisões difíceis que tivemos que tomar juntas depois que a minha mãe terminou o tratamento.
Decidimos que eu iria trabalhar e ela ficaria em casa cuidando da nossa menina.

Foi uma escolha que levou muito esforço da minha parte, mas não me arrependo nem por
um segundo. Não queria que a minha mãe corresse o risco de ficar doente novamente e ela não
queria que a Fay fosse cuidada por qualquer um. No fim, percebi que também queria o mesmo,
mas não teria coragem de pedir para a minha mãe deixar a sua vida para cuidar da minha filha.

Fay corre em minha direção, abraçando as minhas pernas com força. Me curvo, a
pegando nos braços e sentindo um calafrio quando noto a presença esmagadora do homem atrás
de mim. Respiro fundo e me viro para ele, tentando disfarçar o efeito que a sua presença
imponente me causa.

Converso rapidamente com a minha garotinha e dou um beijo carinhoso em suas


bochechas rechonchudas, enquanto ajeito os seus cabelinhos finos que caem em seus olhos.
Preciso manter a calma, a fim de proteger a paz que construímos para nós três.

— Ethan, essa é a Fay, minha filha! — Os apresento e ele se aproxima mais, tocando
levemente o seu narizinho arrebitado, a fazendo fazer um biquinho fofo e segurar a sua mão.

Ethan a olha com os olhos brilhando, parecendo encantado pela minha filha e eu estou
completamente encantada por ele. É duro, mas tenho que admitir, mesmo que seja somente para
mim, pois não tenho coragem de dizer isso em voz alta para mais ninguém.

— Oi, bonequinha. — Ethan fala em seu tom grave, que causa uma tensão no meu
estômago e a minha filha sorri para ele facilmente. — Ela é tão linda, Rory! — Elogia, me
deixando derretida.

Olho para ele com medo de encontrar o seu olhar, mas Ethan se curva até a altura da
minha filha e brinca todo babão, nem parecendo com o cara todo poderoso que eu o enxergo.
Conversamos sobre a minha bebê e ele parece curioso em saber coisas sobre ela, acho que isso se
deve ao fato dele ter um filho que não o conhece ainda.

Estou me sentindo estranha quanto a isso, mas decido acreditar que ele não é o babaca
que abandonou a mãe da criança. Minha mãe arranha a garganta e eu direciono a minha atenção
para ela, a encontrando com o olhar conhecido. Seus olhos me analisam com a calma que será
seguida mais tarde de várias perguntas.

— Mãe, esse aqui é o Ethan, ele me deu uma carona para casa. — Ethan quebra a atenção
que dedica à minha pequena e caminha em direção à minha mãe, que o analisa com olhos de
águia.

Ele segura a sua mão, se apresentando e a elogiando, fazendo com que a figura
desconfiada da minha mãe se quebre por um momento e em mais três minutos de conversa, ela
só consegue ser sorriso para ele. E olhe que ele não parece estar fazendo esforço nenhum.

Minha bebê dorme em meus braços e mamãe o chama para tomar um café, sem deixar
espaço para uma recusa. Falo que vou deitar a Fay no berço e os deixo sozinhos. Quando troco
de roupa e volto para a sala, Ethan já está ajudando a minha mãe a colocar a mesa e percebo que
o café tinha virado um jantar no qual ele tinha sido convidado.

Quando olho para a minha mãe, ela sorri sem graça, já se justificando que não tinha
jantado ainda, mas estava com tudo pronto. Durante o jantar, minha mãe e Ethan conversam
como se já se conhecessem há algum tempo e pude perceber o quão engraçado e espirituoso ele
é. Quando ele sorri, o meu peito sobe e desce rápido com esse pensamento que não consigo
conter.

Quando terminamos o jantar, minha mãe se levanta dizendo que está cansada, nos
deixando a sós. Vou para a cozinha e começo a lavar a louça, me surpreendendo ao vê-lo
guardando-a.

Confesso que eu não imaginava ver um homem como Ethan fazendo esse tipo de coisa,
na minha cabeça, ele teria um empregado para fazer cada coisa que ele quisesse e não se
esforçasse nem para colocar o próprio chinelo no pé. Sim, eu pensei isso dele. Em minha defesa,
uma vez vi um vídeo em que um bilionário tinha uma empregada só para isso. Ele entrava pela
porta e ela o seguia com o chinelo até que o encaixasse em seus pés.

Não consigo entender o que um homem que é dono de quase Nova York inteira faz ao
meu lado, enxugando a louça e agindo como se fosse um simples mortal. Coisa que ele
definitivamente não é! Como Lility tinha me dito, Ethan é considerado um leão de terno no
mundo dos negócios e eu sou uma simples mãe solteira que luta todos os dias por dias melhores.

Nossas visões de mundo são totalmente distintas, enquanto eu não sou dona nem mesmo
da minha casa, ele é dono de quase todos os imóveis de Nova York e sabe-se lá mais o quê. Se as
pessoas que me cobram pela dívida do meu pai o reconhecerem, a minha vida pode se tornar um
pouco mais difícil do que já é

.
Capítulo 21
Semanas depois...

Animado, nervoso e agitado, essas são as palavras que me definem perfeitamente neste
momento. Ando de um lado para o outro na minha sala, os pensamentos correndo desenfreados
pela minha mente enquanto tento juntar as peças desse quebra-cabeça complicado.

Tudo começou quando um dos meus detetives contratados conseguiu comprar


informações de um funcionário da clínica, informações estas que o levaram diretamente à mulher
que foi inseminada com o meu material genético. Batidas na porta desviam a minha atenção e me
viro a tempo de ver Nina, minha secretária, entrar e avisar que Thompson e mais um casal
chegaram, perguntando se eu poderia liberar a entrada deles.

Sem condições de falar, apenas assinto com um gesto de cabeça, engolindo em seco
enquanto sinto o meu pomo de Adão subir e descer rapidamente devido à ansiedade. Ela fecha a
porta e se vai. No mesmo instante, arrumo a minha postura e ando até a minha mesa, me
sentando com uma expressão séria e determinada.

Posso até estar nervoso para caramba, mas jamais deixarei que isso transpareça em meus
atos ou expressões, nunca permitiria que vissem o quanto me encontro vulnerável. Não sei com
que tipo de pessoas estou lidando, se são um casal íntegro ou se são um bando de chantagistas.
Espero que seja o primeiro caso, pois se for o segundo, isso de fato tornaria a minha convivência
com o meu filho difícil, sem que enfrente uma longa batalha judicial.

— Sr. Lewis. — Avisa Nina, abrindo a porta e cedendo espaço para o casal que entra,
com olhares desconfiados.

Balanço levemente em minha cadeira, deslizando a ponta dos dedos em meu queixo e
observando-os até que estão em minha frente. Me levanto, erguendo a minha mão em direção ao
casal. Conheço um pouco sobre eles pelas fichas que me foram passadas, sei em que mundo eles
operam, mas não conheço os seus caráter.

— Senhor Lewis, esse é o senhor e a senhora Scott. — Thompson os apresenta.


— É um prazer conhecê-los pessoalmente. — Digo educadamente, quando eles aceitam
o meu cumprimento de mão.

Em seguida, faço sinal para que se sentem. Agradeço a presença do detetive, mas peço
para que nos deixe a sós, pois não desejo a sua presença durante a conversa que teremos a seguir.
Ele parece hesitante, mas acata o meu pedido, saindo.

— Primeiramente, quero agradecer a presença de vocês aqui em meu escritório.

— É um enorme prazer para nós podermos conhecê-lo pessoalmente, Sr. Lewis. — A


mulher olha rapidamente para o esposo, que confirma o que ela diz. — Confesso que estou
empolgada, pois te acompanho há alguns anos e sempre admirei a sua trajetória no mundo
imobiliário com suas compras de arranha-céus a casarões antigos para transformá-los em lojas.

Sorrio e tento ser o mais simpático que posso, embora esteja louco para irmos direto ao
assunto que os trouxe aqui. No entanto, decido conter o meu impulso prático e trocar algumas
palavras, afinal de contas, devo todo respeito e gratidão a essa mulher por ter carregado o meu
filho ou filha por nove meses.

— Senhor e senhora Scot, gostaria de conversar sobre algo que descobri recentemente. —
Dou início ao assunto que realmente me interessa. — É uma questão bastante delicada, mas sinto
que é importante compartilhar com vocês. — Eles assentem, prestando atenção ao que tenho a
dizer. — Há quase um mês, fui chamado pela clínica onde coletei o meu material para a
inseminação de uma amiga e descobri que não tinha sido inseminada com o meu material e sim
feito uma implantação de embrião em seu útero.

A Sra. Scott leva a mão ao peito, que sobe e desce em uma respiração rápida e vejo os
seus olhos nadando em lágrimas enquanto o seu esposo busca confortá-la, levando a mão em sua
perna e a acariciando.

— Então, na confusão feita pela clínica, foi a sua amiga quem teve o meu bebê? — Ela
pergunta, com a voz embargada.

Assinto com a cabeça, confirmando, ao mesmo tempo em que compreendo o quanto


deve está sendo difícil para os dois ouvir isso.

— Eu sinto muito, mas a Maya perdeu o bebê com dezesseis semanas de gestação. —
Revelo, com pesar.

— Ai, meu Deus, meu filho... — A voz sofrida dela irrompe o silêncio que se formou na
sala após a minha revelação.

O seu marido aperta o arco do nariz e me sinto mal por arrancar a esperança que eles
tinham em conhecer o filho deles. Dou um tempo para que eles possam se recuperar até que
voltamos a falar sobre o assunto.

— Me desculpem, mas eu preciso continuar, vocês não imaginam como me encontro


desde que soube que tenho um filho. — Falo, não conseguindo mais conter a minha ansiedade.

— Claro, nós entendemos, Sr. Lewis. — Murmura o homem. — É que para nós, ouvir
isso é como se fosse a perda de mais um filho.

— Sinto demais por estarem passando por isso novamente, mas como eu disse antes, após
uma minuciosa investigação, descobri que eu sou o pai do bebê que a senhora teve há um ano e
meio. — As palavras saem da minha boca com dificuldade, mas não posso parar agora.

Preciso explicar tudo antes que a situação se torne ainda mais complicada. Logo em
seguida, há um enorme silêncio entre nós, sendo quebrado apenas pelo barulho de nossas
respirações, que parecem altas em comparação a todo o resto.

— Sinto pelo que tenho que dizer, mas a verdade é que a mãe biológica do bebê é alguém
próxima a nós. — Esclarece a mulher, rompendo o silêncio. — Eu tentei, mas eu tive quatro
abortos espontâneos e tenho que confessar que não sou mais uma garota, tenho mais de 40 anos.
Achei que seria mais fácil e mais seguro e que teríamos mais chances de que a gravidez fosse
adiante se eu contratasse uma barriga de aluguel.

Ela suspira, parecendo frustrada por ter tomado essa decisão.

— E foi assim que a filha da nossa antiga empregada, por razões financeiras, concordou
em servir como barriga de aluguel para custear o tratamento médico da mãe doente, já que o seu
pai morreu e as deixou com dívidas. — Complementa o senhor Scott.

Saber que a mãe do meu filho só aceitou gerá-lo por questão financeira me pega
desprevenido. Passo a mão pelo meu rosto, sentindo a minha pele pinicar, me incomodando ao
extremo. Enquanto a angústia sobe em meu peito, me tomando o ar e fazendo com que me sinta
sufocado.

É como se o chão estivesse sendo arrancado dos meus pés. Meu coração dispara e uma
onda de pânico me envolve quando a realidade da situação se manifesta diante de mim.

— Onde está o meu filho e essa mulher?! — A minha voz falha ao formular a pergunta.

Luto para manter a compostura, mas a sensação de desamparo me consome. Pequenas


gotas de suor brotam em meu rosto e levo as minhas mãos trêmulas até elas, limpando-as. Nunca
me senti assim antes, portanto é algo que, por mais que queira com o inferno, não consigo
controlar.

Minha mente corre descontrolada, imaginando onde e como está o meu filho ou filha,
cada pensamento que me vem sendo uma agonia, cada respiração sendo um esforço para não
sucumbir ao abismo de incerteza e medo que se abre diante de mim. Estou à beira do colapso.

— Quando o bebê nasceu, me senti enganada e com isso fiquei com raiva da garota. —
Ela se justifica, levando as mãos à boca. — Não estava aberta a ouvi-la e a acusei injustamente e
mandei colocar a criança para adoção. Em momento nenhum passou pela minha cabeça que tinha
sido um engano e que ela tinha sido tão vítima quanto nós.

— O que? — A revelação me atinge como um soco no estômago.

Ainda é pior do que eu pensava…

Imaginar o meu filho em um orfanato, crescendo sem uma gota de amor e todo o conforto
que eu poderia dá-lo sem sequer fazer o mínimo de esforço. Me inclino para frente, a angústia
me sufocando enquanto ainda tento processar a informação.

Não é possível que isso seja verdade… Um casal que queria tanto ter um filho rejeita um
bebê como se não fosse nada.”

— Onde está o meu filho agora, Sr. Scott? — Pergunto, sem paciência, não querendo
mais ouvir essa história.

Apenas quero ir direto ao assunto e saber o que aconteceu com o meu bebê. Ele entende o
meu olhar e o tom de urgência na minha voz.

— A mãe ficou com ela. — Responde ele e eu examino as suas palavras.

— Ela? É uma menina? — Indago, tomando ciência de que sou pai de uma menina.

Respiro fundo para segurar a minha emoção, enquanto vejo o homem assentir com um
sorriso polido.

— Antes de continuarmos essa conversa, quero que fique tranquilo, sua filha está sendo
bem cuidada e é muito amada pela mãe e pela avó. — O Sr. Scott tenta me tranquilizar. —
Olhando para você agora, vejo o quanto ela se parece com você.

Conversamos por mais um longo tempo, esclarecendo todos os pontos da história e


mesmo que não seja um problema meu, no fim da conversa, me comprometo a financiar todos os
custos para que eles possam realizar o sonho de serem pais. Logo em seguida, ligo para as
minhas amigas e pergunto se desejam conhecer os pais do bebê que ela carregou por dezesseis
semanas.

O casal sai da minha sala e vão direto ao encontro de Maya e Brenda e eu chamo Joe,
solicitando que ele cancele todos os meus compromissos do dia, pois não tenho cabeça e nem
intenção de ficar aqui lidando com qualquer situação que não seja a minha filha. Saber que a
minha garotinha está sendo bem cuidada não é o suficiente, eu preciso confirmar com os meus
próprios olhos.

Pouco tempo depois, sigo em direção ao endereço que o casal me forneceu e o curioso é
que fica no mesmo bairro onde Rory mora com a mãe e a filha. Meu primeiro impulso é tentar
lembrar o número da casa de Rory, mas é em vão, não consigo recordar.

Viro à direita e entro na rua indicada, sendo acompanhado pela voz do GPS anunciando
que cheguei ao meu destino. Fico em frente à casa de Rory e tenho certeza de que ele deve ter
cometido um erro.

Pego o papel do bolso da calça e, ao olhar, vejo o número 38. Em seguida, direciono o
meu olhar para a casa de Rory e solto um sorriso, completamente incrédulo com a situação.

A lembrança das palavras do casal Scott ecoa em minha mente... Eles mencionaram a
existência de um contrato de confidencialidade, que os impedia de revelar o nome da mãe do
bebê, bem como ela estava proibida de divulgar o nome deles também. No entanto, isso não os
impedia de me fornecer o endereço.

Mas isso simplesmente não faz sentido. Minha respiração se acelera, as minhas pernas
enfraquecem e sou forçado a me curvar, apoiando as minhas mãos nos joelhos.

Isso não pode estar acontecendo comigo. A garota que está dançando para mim não
pode ser a mãe da minha filha.

Decido ligar para o Sr. Scott, pedindo desculpas pelo incômodo, pois sei que ele está
impedido de falar o nome da garota pelo contrato que havia sido mencionado. Porém, acredito
que ele possa ter me passado o endereço errado.

Peço para confirmar com o papel em mãos, atento a cada linha escrita. Para minha
surpresa, ele confirma que é exatamente onde estou e, mesmo relutante, também confirma o
nome completo da moça que alugou seu útero quando eu menciono.

Minha boca fica seca. Isso simplesmente não pode ser verdade. No entanto, não há como
negá-lo.

Que diabos eu devo fazer depois desta descoberta?


Capítulo 22

Ethan
Fico perdido em meus pensamentos por um bom tempo, encarando a casa de Rory, até
que uma voz conhecida me traz de volta ao momento presente.

— Ethan, você está bem? — Abaixo o olhar e vejo a mãe de Rory me observando com
uma expressão preocupada.

Balanço a cabeça, demorando tempo demais para pensar no que responder e atordoado
com tudo o que acabei de descobrir.

— Sim, e-eu estou. — É tudo o que consigo dizer enquanto a encaro, com a minha mente
em outro lugar.

— Você não me parece nem de longe bem, percebi isso ao te ver parado aqui fora
olhando para o nada. — Ela comenta, analisando o meu rosto.

Fujo do seu olhar, me sentindo intimidado e isso chega a ser hilário, pois ela é uma
senhora baixinha e eu um homem de quase dois metros de altura.

— Hum, é que acho que digitei o endereço errado no meu GPS e acabei parando aqui.

— Ah, entendi. Achei que tivesse vindo por causa da mensagem da Rory.

— Mensagem? Que mensagem? — Franzo o cenho. — Não estou sabendo de nada.

Procuro o meu celular aflito, batendo as mãos nos bolsos da calça e percebendo que o
deixei dentro do carro.

— O que ela disse na mensagem? — Indago, sentindo uma veia solta em minha testa.

— Que não ia poder ir dançar na boate hoje, pois a Fay acordou com febre e diarreia. —
Explica. — Ela está no pronto socorro desde cedo com a minha neta. Mas ela esqueceu o celular
e eu estou indo levá-lo para ela e ficar com a Fay para que a minha filha possa comer alguma
coisa.

— Se quiser, eu posso levar o celular para ela e ficar com a Fay para que a Rory possa se
alimentar. — Ofereço, ansioso para ver a minha filha. — Não tenho nenhum compromisso
marcado para hoje.

— Não, imagina… Não quero te dar trabalho. — Ela balança a cabeça, negando
freneticamente e Preciso arrumar uma maneira de convencê-la.

— Garanto que não será trabalho nenhum para mim. — Insisto. — É só me passar o
endereço do hospital onde a Rory está e eu irei para lá.
— Tem certeza disso? — Ela afina os olhos e eu concordo. — Não vou te atrapalhar
mesmo, meu filho?

Dona Megan me olha com mais intensidade.

— De forma nenhuma! — Asseguro-lhe. — Como disse, não tenho mais nada para fazer
agora e já estava indo para casa. — Minto.

— Está bem, então. Entrega o celular para a Rory e esta bolsa também. — Ela me entrega
os itens. — Preparei algumas coisas que ela gosta de comer.

— Claro. — Megan me passa o endereço e eu volto para o meu carro.

Coloco o endereço no GPS e dou partida no carro. O hospital não fica muito longe e logo
estou estacionando em frente a unidade de saúde.

Já vi a Fay algumas vezes quando dei carona para a Rory, mas agora é diferente, pois sei
que ela não é apenas a bebezinha linda que me deixa encantado toda vez que a vejo, agora sei
que ela é a minha filha e que eu sou o seu pai.

Respiro fundo, tentando ao máximo dominar as minhas emoções, segurando o arco do


meu nariz para evitar que elas escapem. Assim que consigo me controlar, desço do carro e me
encaminho em direção a recepção, tendo vários olhares voltados para mim. Tenho consciência de
que sou um rosto conhecido pelo fato de já ter sido destaque em algumas revistas e ter
participado de algumas festas requisitadas.

Chego ao balcão e forneço o nome da Fay, perguntando sobre o seu estado de saúde e
onde ela está com a mãe. Inicialmente, elas demonstram dúvida em me darem certas
informações, mas uma outra recepcionista a chama. As duas mulheres conversam por um tempo
até que a recepcionista que me atendeu volta e me chama pelo meu sobrenome, se desculpando
por não ter me reconhecido e rapidamente não só tenho o meu acesso liberado, como alguém que
faz questão de me levar até onde a Rory se encontra com a minha filha.

A cada passo que dou, me deixa mais próximo do meu encontro com Fay e com isso, fico
mais nervoso. Atravessamos um corredor totalmente branco, passando por alguns médicos e
enfermeiros com uma paciente em uma cadeira de rodas que nos obriga a ir para o canto para dar
passagem.

Andamos mais um pouco e o rapaz para em frente a uma porta, dizendo que é só bater e
que a Rory está ali com a bebê. Ele se despede e vai embora, me deixando em frente à madeira
branca que é a única coisa que está entre mim e a minha filha.

Coço a minha nuca, sentindo os meus lábios se curvarem em um sorriso enquanto o meu
coração bate tão rápido e forte. Fecho a mão e bato na madeira, pouco tempo depois, a porta é
aberta e vejo claramente a surpresa nos olhos de Rory ao me ver.

— Ethan? — Murmura. — O que você faz aqui?

— Encontrei com a sua mãe e ela me contou sobre a bebê. — Opto por contar parte da
verdade, pois ela não precisa saber neste momento que eu faria qualquer coisa para estar aqui,
agora que sei que Fay é nossa filha. — Você esqueceu o seu celular e está aqui desde cedo sem
comer, então eu a convenci a me deixar vir.

— Ah, sim, por favor, entre! — Ela convida e antes de passar pela porta, lhe entrego a
bolsa que a sua mãe me deu.

Meus olhos buscam pela minha bebê no cômodo, sem conseguir conter o meu impulso.
Me vejo andando até onde ela se encontra, deitada em um bercinho de hospital e com um acesso
em seu bracinho. Sinto um turbilhão de coisas ao mesmo tempo, engolindo em seco e sentindo os
meus olhos se embaçando. Tento desfazer o nó em minha garganta , enquanto luto para manter a
minha compostura.

— O que ela tem? — Apoio a mão na barra do berço, sentindo que caso não faça isso,
posso correr o risco de cair em meus próprios joelhos.

A vontade que sinto é de abraçar a minha filha e dizer que sou o seu pai, mas sei que este
não é o momento para isso.

Rory parece mais calma ao me ver, mas o seu olhar ainda carrega uma mistura de
surpresa e curiosidade.

Ouço os seus passos se aproximando de mim e logo sinto a sua presença ao meu lado, os
seus dedos delicados tocando suavemente o bracinho da nossa bebê.

— Os médicos ainda estão fazendo alguns exames para descobrir. Mas ela chegou aqui
com febre, diarréia e os sintomas indicam uma possível infecção. — Explica, abrindo um sorriso
tranquilizador. — Não se preocupe, eles estão cuidando dela com todo o carinho.

— Entendo. — Murmuro.

Pela primeira vez em minha vida, sinto um aperto desconfortável no peito e uma vontade
de tomar o lugar da minha garotinha, para que ela não tivesse que passar por isso.

— Obrigada por estar aqui e me entregar essas coisas, Ethan. — Nossos olhos se
encontram e vejo um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.

— Não foi nada, Rory. Estava preocupado com essa pequena e confesso que arrumaria
qualquer desculpa para estar aqui, vendo-a de perto. — Dou um meio sorriso.
— Você está diferente hoje. — Ela me analisa em silêncio e eu sinto o meu estômago
gelar com a suas palavras. — Mas gosto disso— Conclui com um sorriso, me fazendo relaxar.
— Pode se sentar aqui ao lado dela.

Ela sugere, indicando uma cadeira próxima ao berço. Sem hesitar, me acomodo na
cadeira, mantendo os meus olhos fixos na pequena Fay. Sinto um misto de emoções dominando
o meu peito: amor, preocupação e gratidão por finalmente tê-la em minha vida.

— Ethan, vou aproveitar que você está aqui para comer o que você trouxe e ligar para a
minha mãe, que deve estar aflita. Você pode ficar com ela para mim? — Ela pede, afinando os
olhos em minha direção. — Prometo que não vou demorar!

— Rory, eu vim aqui para isso, então fique o tempo que for necessário. — Tranquilizo-a.
— Não dará trabalho nenhum ficar com essa coisinha mais linda e fofa.

Ela assente com a cabeça e sai da sala, levando a bolsa térmica que eu trouxe. Mas antes
de fechar a porta, agradece mais uma vez.

Se ela soubesse que o que eu estou fazendo não é nenhum favor, pois não é nada mais do
que a minha obrigação de pai cuidar da nossa filha. Até hoje a Rory teve que lidar com a
responsabilidade de ser mãe sozinha , mas de agora em diante, eu estarei aqui.

Me levanto da cadeira onde estou sentado e me aproximo do berço, admirando cada


detalhe do rostinho da minha filha. Vejo muito de mim em seus traços, mas também um pouco
da Rory. Nossa mistura é perfeita e a nossa filha é linda demais.

Estico o braço e toco os seus fios loiros com delicadeza, acariciando-os. Ela começa a se
mexer, querendo acordar, o que me deixa alerta e preocupado. Caso ela chore ao abrir os olhos e
não ver a mãe, literalmente não saberei o que fazer para acalmá-la. Sou o pai dela e farei tudo o
que estiver ao meu alcance para protegê-la e cuidar dela, mas tem coisas que estão longe do que
eu consigo fazer com uma bebê doente.
Algumas horas depois, saímos do hospital com Fay adormecida devido à medicação.
Com todo o cuidado que consigo, seguro-a em meus braços até que paramos em frente ao meu
carro, entregando-a para a Rory para que eu possa abrir a porta.

Sinto os olhares curiosos em minhas costas enquanto acomodo as duas e fecho a porta,
me sentando atrás do volante e dando partida. Olho para Rory e Fay, pensando que tenho que
começar a andar com outros carros, pois o Sian não é confortável para uma família. Porra, acabo
de perceber que agora tenho uma família, pois a Rory, com toda a certeza, virá no pacote de ser
pai da Fay.

O quão louco é isso?

Eu, por mais que tenha negado até o momento, quero essa garota para mim, não apenas
como a minha dançarina exclusiva, mas principalmente como a minha mulher. Suspiro, tomando
ciência de que estou fodido para um caralho com isso e dirijo pelas ruas movimentadas em
direção a casa de Rory.

Assim que descemos do carro e entramos em sua casa, somos recebidos por Megan, que
me olha com um sorrisinho no canto da boca ao me ver segurando as coisas de sua filha e neta,
como se estivesse sempre me avaliando de algum modo. Rory pode não notar centenas de coisas
que eu digo sem sequer falar, apenas ao olhá-la, mas Megan é uma mulher experiente e capta
tudo. Por conta disso, tenho que ficar esperto com as minhas ações, já que até ontem eu era o tipo
de homem para quem as pessoas seguravam as coisas. Agora, me tornei o que segura e ainda
com um sorriso idiota no rosto.

Rory avisa que vai deitar a bebê no berço e Megan pede que eu vá ajudá-la. Faço o que
ela me indica sem hesitar, mas com certa desconfiança de suas intenções. Atravesso o corredor e,
antes que Rory abra a porta do quarto onde fica com a Fay, eu a faço por ela e ela agradece.

Assim que entro em seu pequeno espaço, é como se a enxergasse pela primeira vez em
seu mundo. O cômodo é simples e pequeno, mas aconchegante. Ao lado da cama está o berço da
Fay, para onde ela caminha e deita a nossa filha com cuidado, acariciando as suas costas.
Uma barra de balé em um canto da parede me fala mais sobre as paixões de Rory, que sei
que é formada em dança e ama balé clássico , junto com alguns brinquedos que ajudam no
desenvolvimento da criança. Sei disso porque Maya e Brenda também se preocupam com esses
estímulos para o desenvolvimento do pequeno terrorista que amo. Sorrio e ando devagar,
parando ao seu lado e admirando o carinho e o amor que ela tem pela nossa filha.

Se eu estava preocupado com o fato de que a mãe da minha bebê não tinha planejado ter
um filho e que era apenas por dinheiro, esqueci-me disso completamente quando soube que a
mãe do meu bebê é Rory Jackson Davis.

Inicialmente, tudo o que eu queria era ficar com ela e me livrar o mais rápido possível da
fixação que a minha mente criou por ela e que estava prestes a me deixar louco, mas agora eu sei
que a quero muito além disso.

— Você é perfeita, sabia? — As palavras fluem em minha mente e saem dos meus lábios
sem que eu consiga contê-las, mas ganho a sua atenção para mim.

Rompo ainda mais a distância entre nós, que já é quase mínima, enquanto observo os
seus lábios carnudos que agora parecem mais perfeitos do que em qualquer outro momento. Ela
contorna-os com a língua, tirando a minha atenção de qualquer outra coisa e eu solto o ar
vagarosamente.

— Eu quero te beijar, garota. — Murmuro, a minha voz saindo rouca.

— Então me beija, Ethan. — Ela levanta o queixo e eu seguro as laterais dos seus
quadris, a puxando para mim com toda a vontade e urgência que sinto.

Me Curvo em sua direção e Rory passa os braços pelo meu pescoço. Roço os nossos
narizes quando eles se tocam, aspirando o seu cheiro que está impregnado em cada canto desse
quarto e tomando os seus lábios nos meus, juntando o seu corpo ainda mais ao meu.

Aprofundo o nosso beijo e ela abre a boca, cedendo espaço para a minha língua encontrar
a sua. Sinto uma descarga elétrica arrepiando todos os pêlos do meu corpo quando as nossas
línguas se encontram pela primeira vez e, como um viciado procurando mais da substância que o
viciou, eu a devoro, como se estivesse adormecido até este momento e só agora tivesse sido
despertado.

Paramos de nos beijar quando ouvimos um barulho vindo da porta, nos separando em um
salto. A sua mãe entra no quarto e nos analisa com um olhar desconfiado, como se suspeitasse
sobre o que estávamos fazendo segundos atrás.

Dou uma desculpa e vou embora, deixando claro que estou à disposição para qualquer
coisa que ela possa precisar. Não quero vê-la correndo atrás de um carro com uma bebê em plena
madrugada.
Assim que estou fora da casa de Rory, pego o meu celular e ligo para um dos meus
detetives, solicitando que ele investigue toda a situação dela. Lembro-me perfeitamente da Sra.
Scott mencionar sobre a Rory só ter aceitado ser barriga de aluguel para custear o tratamento da
mãe e pagar dívidas deixadas pelo pai e quero saber mais a fundo onde é que estou me
envolvendo, já que odeio ter pontas soltas ou coisas que fogem do meu controle.

Acelero o meu Sian pelas ruas de Nova York, sentindo que esse é o começo de algo novo
em minha vida. Enquanto o vento sopra pela janela e o céu se mistura em um alaranjado típico
do fim de tarde, percebo como tudo se estende em uma dança perfeita, fazendo deste um dia
inesquecível para mim de várias formas.
Capítulo 23

— Ethan, acabo de receber o relatório que você solicitou aos investigadores. — Joe entra
em minha sala, após dar duas batidas na porta.

— Humm, eles foram rápidos! — Exclamo, pegando a pasta que ele me estende e dando
uma olhada.

— Sim, eles entregaram agora a pouco, mas o senhor estava em uma videoconferência
importante com investidores internacionais e eu não quis interromper. — Joe se justifica. — Eles
disseram que estão à disposição para esclarecer qualquer dúvida que o senhor venha a ter.
— Ótimo! — Assinmto com a cabeça. — Você fez bem, Joe.

Começo a ler as primeiras linhas da investigação sobre a vida de Rory. À princípio, nada
me surpreende, até que chego na parte onde fala sobre o pai dela. Um alcoólatra viciado em
jogos e agressivo. Sua mãe chegou a entrar com uma medida de proteção contra ele, mas parece
que ele sempre voltava, até que em uma noite foi atropelado e internado, vindo a óbito
posteriormente. O homem deixou uma enorme dívida com agiota, usando a casa como
pagamento.

Sinto uma agonia me tomar por dentro à medida que a leitura continua, absorvendo cada
detalhe da investigação. No final, a raiva ferve em cada centímetro dos meus nervos ao descobrir
que a mãe da minha filha foi deixada em uma situação desesperadora pelo próprio pai.

É frustrante saber que ela está carregando o fardo de uma dívida que não é dela, tudo por
causa das ações irresponsáveis do seu progenitor. Neste momento, decido que irei fazer tudo o
que estiver ao meu alcance para ajudá-la., pois não posso simplesmente ficar parado enquanto ela
luta para sobreviver em meio a esses problemas.

Vou comprar a casa e livrá-la de todas essas dívidas. É o mínimo que posso fazer, não
apenas pela mãe da minha filha, mas também pela nossa filha, cujo futuro está atrelado ao da
mãe.

Fecho a pasta, determinado a colocar o meu plano em prática e me levanto da minha


mesa com determinação. Não há tempo a perder, preciso agir e chegar a um acordo com esse
agiota que provavelmente causou um inferno na vida da Rory, levando-a a alugar o seu útero
para arcar com o tratamento da mãe e tentar pagar as dívidas deixadas pelo pai.

Eu estava errado ao julgá-la culpada apenas pelo aluguel do seu útero, achando que a
minha filha estaria em um lar sem amor. Acho que, vindo de onde eu venho, é fácil olhar para os
outros com um olhar acusatório, isso apenas mostra o quanto eu ainda tenho, no auge dos meus
quarenta e dois anos, muito a aprender e o quanto essa garota de vinte e quatro anos tem a me
ensinar.

— Joe, irei procurar esses agiotas e comprar a casa onde a Rory mora com a mãe e a
minha filha. — Falo, com determinação no olhar. — Não há tempo a perder. É hora de agir e
fazer o que for necessário para protegê-las.

— O senhor pretende fazer negócios com agiotas? — Meu assistente indaga, parecendo
preocupado. — Sabe como eles são capazes de cometer todo tipo de crime.

Meus lábios se tornam uma linha fina e eu ergo as sobrancelhas, formando vincos acima
delas.

— Eu fecho acordos com criminosos piores do que esses todos os dias, Joe, mesmo que
estejam de terno, não deixam de ser criminosos. — Comento, procurando o endereço do agiota.
— A única coisa que sei é que quero aquela casa em meu nome até o fim do dia. Não quero que
a Rory tenha que lidar com esse tipo de gente mais do que já lidou. — Encontro o papel com o
endereço, dobrando-o e guardando-o no bolso enquanto concluo o que estava dizendo ao meu
assistente. — Até ontem, ela e a sua mãe estavam sozinhas, mas agora não mais.

Envio uma mensagem para o meu motorista e outra para o meu chefe de segurança,
solicitando que preparem os carros e o quadro de seguranças. De certo que irei entrar sozinho na
toca do lobo, mas caso seja preciso, terei o meu pessoal para me resgatar.

Algum tempo depois, estou entrando no estabelecimento do agiota e imediatamente sou


cercado por homens de terno escuro, olhares duros e postura intimidadora. O ambiente está
carregado com a tensão de negócios obscuros e acordos duvidosos, mas não me intimido. Sou
Ethan Lewis Crack e não há nada que eu não possa fazer.

— Boa tarde! — Saúdo, a minha voz ecoando por todo o ambiente. — Estou aqui para
discutir um assunto de extrema importância com o chefe de vocês.

O líder dos seguranças, um brutamontes com olhos que parecem capazes de perfurar a
alma, me encara com desconfiança, mas eu não recuo e o encaro de volta, desafiadoramente.

— Por acaso você tem um nome? Ou devo me referir a você apenas como o guarda-
costas chefe? — Provoco, em um tom carregado de sarcasmo.

Ele grunhe em resposta, claramente não impressionado com a minha atitude. Sem
paciência para esperar por uma resposta, avanço em direção ao escritório do agiota. Os
seguranças hesitam, mas não me impedem de seguir, andando atrás de mim. Eles sabem quem eu
sou e sabem que não devem me subestimar.

Bato na porta e entro sem esperar por uma resposta. O agiota, sentado atrás de uma mesa
opulenta, me olha com uma expressão que mistura desdém e curiosidade.

— Chefe, ele não... — O segurança passa por mim e se aproxima do seu patrão, tentando
se justificar.

O homem levanta o olhar em minha direção e faz um gesto com a mão, dispensando o
segurança no mesmo instante, ficando apenas nós dois na sala. Ele me encara por um tempo, me
analisando em um profundo silêncio e eu não hesito, o encarando de volta sem recuar.

— Ethan Lewis Crack, a que devo a honra da sua visita em minha humilde sala? — No
canto de seus lábios há um pequeno sorriso, enquanto me pergunta, mas a sua voz está carregada
de desconfiança.

— Tenho interesse em fazer negócio com você, meu caro. — Respondo, com um sorriso
de superioridade nos lábios.
— Negócios comigo? —Questiona surpreso, apoiando os seu cotovelo na mesa carregada
de relíquias antigas. — Que tipo de negócios?

— Você tem algo de meu profundo interesse. — O agiota me estuda por um momento,
como se estivesse avaliando se posso ser levado a sério.

— Em que posso te ajudar, Sr. Lewis? — Inquire. — Faço negócios com todo tipo de
pessoas, mas dependendo do grau de dificuldade varia o valor que posso cobrar.

— Não subestime as minhas capacidades, meu amigo. Sei que você pegou a casa de
Megan Jackson Davis por causa de dívidas de seu falecido marido e estou disposto a quitar toda
a dívida dele com juros e ainda dá o valor que cobrar pela casa. — O agiota franze o cenho,
parecendo ponderar a minha proposta.

Depois de alguns segundos de silêncio tenso, ele finalmente fala.

— Você tem coragem, Lewis. Mas não é apenas uma questão de dinheiro. Aquela casa
vale muito mais para mim do que simplesmente uma transação financeira. É um símbolo de
poder, de controle. — Ele explica. — Se eu a vender para você, estarei perdendo parte do meu
domínio sobre este território, pois ela serve como um lembrete a todos que me deve que eu cobro
todas as minhas dívidas, não importa se o devedor esteja com vida ou não, os seus parentes terão
que arcar com os custos.

— Entendo a sua relutância, Senhor Mackenzie. — Eu sorrio de forma condescendente.


— Mas me deixe ser claro, estou disposto a pagar a dívida pendente e ainda oferecer duas vezes
o valor de mercado da casa. Ao fazer isso, estou não apenas assumindo a responsabilidade da
dívida, mas também estou proporcionando uma oportunidade para você lucrar muito além do que
jamais imaginaria. — Ele arruma a sua postura, prestando mais atenção em minhas palavras. —
E cá entre nós, ambos sabemos muito bem que a Sra. Jackson não teria condições financeiras de
ter uma conversa como essa com você. Não se engane, esta é uma oferta generosa, porém, é a
minha única oferta. Então peço que analise com calma e sabedoria. — O agiota pondera por um
momento, olhando-me diretamente nos olhos.

— Muito bem, Sr. Lewis. Vou aceitar a sua oferta. Mas saiba que estarei de olho em
você. Se tentar me enganar, vai se arrepender.

— Entendido, Sr. Mackenzie! Pode considerar o acordo fechado. — Confirmo, com um


sorriso confiante. — Irei garantir que o dinheiro seja transferido para você o mais rápido
possível.

Ele me mostra a cadeira à minha frente e eu me sento, iniciando os ajustes do nosso


acordo e fazendo a transferência da quantia desejada por ele, obtendo todos os documentos da
casa que, embora fosse dele, não se encontram em seu nome.

Com um aperto de mãos firme, finalizamos o acordo e saio da sala, sentindo-me satisfeito
com o resultado. Agora, com a casa de Rory sob o meu controle, posso garantir que ela e a minha
filha tenham um lar seguro e livre de dívidas.

Entro em meu carro e o meu motorista dá partida. Enquanto o veículo desliza pelas ruas,
vejo um urso enorme na vitrine de uma loja e peço ao meu motorista para parar. Ele estranha a
minha atitude, mas logo atende o meu pedido. Desço e compro o urso, seguindo para a cafeteria
onde sei que Rory trabalha no período da manhã.
Capítulo 24
— Ai, Rory, o que é aquilo entrando? — Suzan me cutuca, chamando a minha atenção.
— Em dois anos trabalhando aqui, nunca vi um homem tão gostoso desse jeito.

Ergo o meu rosto e corro com o olhar em direção à entrada, é quando o vejo deslizando
entre as mesas, com o seu terno três peças cinza impecável envolvendo o seu corpo grande e
másculo de maneira perfeita. Suspiro profundamente, sentindo o meu rosto esquentar.

Meu coração parece ter errado uma batida de propósito só para depois descontar cinco a
mais em uma única vez, me deixando nervosa e desejosa ao mesmo tempo.

O que esse homem está fazendo aqui, meu senhor?

Não consigo tirar os olhos de cima dele, vendo-o tirar o paletó e ficando com a blusa
branca que marca os seus braços fortes, quase me fazendo salivar. Sou arrancada do meu deleite
visual pela voz desesperada de Suzan, me fazendo olhar para ela.

— Nossa, de onde você conhece esse gostoso? — Abro um sorriso constrangido,


percebendo que falei algo em voz alta.

Por que eu não poderia ser uma dessas pessoas normais que pensa sem falar? Essa boca
grande só me coloca em apuros.

— Eu o conheço do clube Liberty. — Respondo. — Ele é o cliente para quem danço.

— O queeee? — Susan se descontrola, arregalando os olhos.

— Pelo amor de Deus, Suzan, não grita! Quer que a cafeteria toda fique sabendo? —
Falo, ao mesmo tempo em que desesperadamente coloco a minha mão sobre os seus lábios,
tentando calá-la, e olho para frente para ver se alguém percebeu o escândalo dessa maluca.

— Rory, pelo amor de Deus, amiga… Quando você me disse que um cliente especial fez
um contrato exclusivo para que você só dançasse para ele, pensei que fosse um velho feio e
barrigudo. Mas esse homem ali, Jesus toma conta, ele é o tipo de homem que as mulheres fazem
fila na porta para dar para ele e eu só quero saber onde é que posso pegar a minha senha. —
Gargalho alto, e é a minha vez de tapar a boca.

— Você não presta, Suzan! — Murmuro. — Só fico me perguntando se tenho um ímã


para atrair tantas amigas loucas. Você e a Lily já podem dar as mãos.

— Não mesmo, Rory. — Ela faz um biquinho, contrariada. — Nem tente me comparar
com ela, eu sou mais normal.

— Quem te enganou com isso? — Provoco. — De nós três, eu sou a mais sã! — Suzan
revira os olhos. — Mas me deixa ir lá atender o cliente. Você sabe como a Mandy prioriza a
qualidade do nosso atendimento.

— Claro que sei, amiga. Vai lá, antes que eu vá no seu lugar.

Seguro os cardápios e ando em direção à mesa de Ethan, com o meu coração parecendo
que quer competir em alguma maratona de tanto que bate rápido. Há mais ou menos três dias,
nos beijamos e foi a coisa mais incrível que me aconteceu em muito tempo. Confesso que, depois
que me tornei mãe, não tive mais tempo para me preocupar com encontros a dois. Só estou
focada em dar o melhor para a minha bebê e manter a minha mãe saudável.

— Bom dia, senhor, em que posso te ajudar? — Sorrio enquanto pergunto, tentando
manter a formalidade esperada no meu local de trabalho.

— Bom dia, Rory, não precisamos ser tão formais assim. — Ele me lança um olhar que
instantaneamente faz as minhas pernas amolecerem.

— Precisamos, sim. Este é o meu local de trabalho e devo tratar todos os clientes
igualmente. — Retruco, mantendo a minha postura profissional, mesmo que ele pareça
desafiador.

— Bom saber. Estava louco para te ver de novo. — Sua voz soa rouca e baixa, enviando
arrepios pela minha espinha.

— Como descobriu que eu trabalho aqui? — Curiosa, não posso deixar de perguntar.

— Tenho os meus meios de conseguir o que quero e neste momento, eu quero você,
Rory! — Engulo em seco com a sua franqueza, tentando não deixar transparecer o quanto
também o desejo.

Me curvo em sua direção, entregando-lhe o cardápio com um olhar mais intenso.

— Ah, é uma pena que eu esteja em horário de trabalho, mas podemos passar algum
tempo juntos enquanto estiver aqui. — Sugiro.
— Tempo juntos? Eu gosto disso, mas quero que seja só nós dois, sem mais ninguém. —
Seu sorriso sugestivo me deixa sem fôlego.

Jogar com alguém tão experiente como Ethan parece uma ideia muito arriscada.

— Então, o que deseja comer? — Pergunto, tentando manter a compostura, enquanto


involuntariamente mordo levemente os meus lábios.

A culpa é da Susan, com as suas ideias atrevidas que invadem a minha mente nos
momentos mais inoportunos. Ethan é o tipo de homem que faz as mulheres se derreterem aos
seus pés e eu não sou exceção.

— Vou encontrar você neste cardápio? — Ele provoca e eu acabo tossindo


descontroladamente, sentindo as minhas bochechas queimarem de vergonha.

Como podemos ter chegado a este nível tão rapidamente, após apenas um beijo?

— O que deu em você, Ethan? — Pergunto, assim que consigo recuperar o fôlego,
enquanto os meus olhos ainda lacrimejam.

— Rory, não sou mais um garoto e sei exatamente o que quero, como quero, e sou claro
em todos os sentidos. Não uso meias palavras. Se você sair comigo esta noite, nós teremos uma
noite muito agradável, só nós dois. Quero te conhecer além do clube e do trabalho. — Seu olhar
é intenso, mas também há algo gentil nele. — E também gostaria de saber como está a pequena?

— Espera aí, vamos por partes! Primeiro, você faz o pedido, depois eu respondo o
restante, pode ser? — Indago.

— Pode escolher qualquer coisa e trazer para mim, pois vim aqui apenas para te ver.
Agora me responda: aceita sair comigo esta noite? — Ele me olha com expectativa e eu não
posso deixar de me sentir nervosa.

Coço a nuca, pensando no que responder.

— Sim, eu aceito, Ethan! — Minha resposta sai um pouco hesitante, mas ele parece
satisfeito com isso, o que me acalma um pouco.

— Ah, eu já ia me esquecendo, a Fay está ótima! Como a minha mãe sempre diz,
crianças se recuperam rápido, nós adultos é que demoramos mais. — Sorrio ao compartilhar a
novidade com Ethan, sentindo um alívio por ver que ele se importa com a minha filha.

— Fico tranquilo em saber. Posso vê-la? — Pergunta. — Comprei um presentinho para


ela e gostaria de entregar pessoalmente.
Seu gesto me surpreende e o meu coração se aquece com a sua gentileza. Ethan passa a
mão pelos cabelos, aguardando a minha resposta.

— Claro que pode, e não precisava se preocupar em comprar nada, Ethan. — Cruzo os
braços, inclinando levemente a cabeça, tentando esconder o sorriso que surge involuntariamente.

— Não me deu trabalho algum, Rory. Vi algo e lembrei dela, então comprei. — Seu
sorriso é sincero e percebo que ele realmente se importa com a minha filha, isso por si só o torna
ainda mais interessante aos meus olhos.

— Tudo bem, muito obrigada. Agora tenho que ir trabalhar. Você falou sério quando
disse que eu poderia escolher por você? — Levo as mãos aos quadris e empino um pouco o
nariz, esperando a sua resposta com interesse.

— Claro que sim, nunca brinco. — Sua resposta é acompanhada por um olhar sugestivo,
enquanto ele inclina ligeiramente a cabeça para um lado.

Solto um “Pode deixar comigo” e saio quase correndo dali, tentando disfarçar e ignorar o
quanto ele me deixa nervosa, mas as borboletas em meu estômago não podem ser negadas.

Assim que entro na parte interna para entregar o pedido que escolhi por Ethan, sou
encarada pela minha amiga com um olhar penetrante, como se ela me dissesse através dele que
sabia de tudo, embora ainda não tenha contado nada.

— Suzan, capricha no pedido do cliente. — Peço em um tom firme, tentando disfarçar.

— Humm, e que cliente, hein? Agora eu sei quem está segurando a fila dele como
primeira opção. — Ela solta um sorrisinho malicioso.

— O que você quer dizer com isso, Su? — Questiono, tentando não demonstrar o
turbilhão de pensamentos que passam pela minha mente.

— Não se faça de boba, Rory. Esse homem te olha como se você fosse a sétima
maravilha do mundo. E vamos combinar que, se você é a sétima, ele é a oitava. Amiga, não dê
mole não. Não é todo dia que um homem desse aparece dando mole para gente, pega, mas não se
apega, para depois não se arrepender do que não fez.

— Você tem razão, Su. Eu posso pegar, mas a questão é como não me apegar, amiga? —
Suzan levanta a cabeça e intercala o olhar entre mim e Ethan na mesa.

— Então, isso significa que está mesmo acontecendo alguma coisa entre vocês dois? —
Indaga curiosa e eu assinto com a cabeça.

— Nos beijamos há três dias atrás, quando ele foi me levar em casa depois de ficar horas
no hospital comigo. — Conto. — Agora ele disse que veio aqui somente para me ver e me
chamou para sair com ele.

—— Se você quer e acha que vale a pena, Rory, vai com tudo. Qualquer coisa, estarei
aqui para te dar um ombro amigo. É melhor chorar do que se arrepender pelo resto da vida por
não ter dado uma chance para um homem desse. — Ela faz o pedido de Ethan e eu o sirvo. Ele
come e parece realmente satisfeito com a minha escolha. O interessante é que quando você
conhece um homem como ele, a gente logo faz suposições e em todas as minhas, ele se mostrou
ser bem diferente do que eu imaginei. Confesso que a cada dia eu gosto mais do que ele mostra
ser para mim.

Ethan demonstra se importar comigo e com a minha filha. Depois de sair da minha casa,
ele me enviou a primeira mensagem, me impedindo de ir dançar para ele enquanto a Fay se
recuperava. e esse só foi o início de várias outras mensagens que vieram depois.

Só tenho medo de estar me enganando, pois os nossos mundos são completamente


diferentes e ele parece que faz de tudo para ter o que quer. E se o mesmo esforço que ele faz para
ter, depois que tem, não se importa mais e volta a correr atrás de outra novidade? Eu quero muito
tentar, mas temo pelo meu coração.

Um tempo depois, saio do expediente na cafeteria, que é pela manhã. Prometi a Mandy
que iria ficar até que ela contratasse a menina para ocupar a minha vaga e a treinasse, mas
confesso que me sinto cansada dessa rotina e quero passar mais tempo com a minha filha.

Ajeito a minha bolsa em meu ombro e ando pela calçada, pronta para ir para casa
descansar um pouco, mas paro quando escuto o meu nome sendo chamado. Olho para todos os
lados, até que avisto um carro de luxo rente à calçada, seguindo os meus passos.

— Não acredito que você está aqui desde que foi embora da cafeteria. — Comento
surpresa, enquanto caminho em direção ao carro que agora está parado.

— Claro, eu não disse que te esperaria sair? — Balanço a cabeça, concordando com ele.

— Sim, mas como faltava bastante tempo, eu acabei achando que não teria paciência. —
Digo, vendo a porta do carro se abrir e Ethan emergindo dele, me obrigando a levantar a cabeça e
acompanhar gradativamente o seu movimento.

Ele me oferece carona e, como sei que ele deseja ver a Fay, aceito. Ethan dá um passo
para o lado, se afastando da porta para que eu possa entrar. No momento em que mergulho no
interior quente e aconchegante do carro, vejo o enorme urso de pelúcia marrom com uma gravata
azul acomodado no banco.

— Não vai me dizer que esse é o pequeno presente que você comprou para a Fay? —
Falo, sem acreditar.
— Sim, você acha que é meio exagerado? — Ele indaga, coçando a fonte e parecendo
sem jeito.

Aperto os meus lábios para conter a vontade que tenho de rir.

— Ethan, esse urso tem quase a minha altura e a Fay não vai conseguir nem mesmo
arrastá-lo. Mas acho que ela vai amar! — Respondo e ele abre um sorriso. — Eu amei, não pelo
urso, mas pelo carinho e a preocupação que está demonstrando ter pela minha filha. Tenho
certeza de que quando você conseguir resolver a situação com o seu filho, ele vai ficar muito
feliz de ter um pai como você.

Ele parece ficar tenso quando toco nesse assunto e logo me arrependo, tentando mudar de
assunto o mais rápido possível. Seguimos até a minha casa e assim que entramos, encontro uma
pequena confusão instalada.

Fay está arrastando a caixa onde guardo toda a minha coleção de ingressos e convites das
minhas idas a broadway e a minha mãe corre atrás da pequena, que está somente de fralda e uma
blusa. Fay chega a dar gritinhos entre uma gargalhada e outra, achando um máximo a
perseguição da vovó enquanto os meus convites se espalham pela casa. Corro em sua direção e a
pego no colo.

— Fay, é da mamãe, não pode. — Repreendo-a, enquanto a minha mãe pega os meus
convites.

Ajeito a minha filha no braço, direcionando a sua atenção para onde Ethan está com o
urso enorme nos braços.

— E ainda tem dúvidas de que ela não está bem! — Falo, apertando a barriguinha da
minha sem-vergonha favorita. — Ela já está aprontando todas!

Ethan olha para a minha filha com os olhos brilhantes, eu diria que ele até se encontra um
pouco emocionado, mas estaria sendo louca em considerar isso, pois ele não tem motivos. Ele se
aproxima de nós duas e Fay fica olhando e balançando os bracinhos em sua direção.
Capítulo 25
Foram pequenos detalhes que fizeram com que a minha vida desse um giro de ponta
cabeça e começasse a fazer sentido. Eu defino como o começo de tudo quando vi uma garota
saindo de uma caixa de presente. Por mais que eu estivesse há anos acomodado com a minha
solidão, eu sabia que a partir daquele momento tudo estava prestes a mudar de uma hora para
outra.

Entretanto, não imaginei que as mudanças seriam na proporção que sucederam. Entrelaço
os meus dedos aos de Rory, observando cada detalhe seu. A maneira como ela ri, como os seus
olhos brilham com admiração enquanto ela assiste ao espetáculo. Eu a observo como se ela fosse
o meu próprio show particular, pois não consigo ver nada mais interessante além dela.

Quando vi a minha princesinha bagunceira arrastando a caixa de sapato onde a mãe


guardava todos os convites de peças assistidas, não tive dúvida de onde seria perfeito para
começarmos a nossa noite. E se o brilho em seus olhos quer me dizer algo, é que acertei em
cheio ao trazê-la aqui.

Após o espetáculo, a levo para jantar em um bom restaurante, que foi aberto há pouco
tempo e do qual ouvi falar muito bem, queria que a nossa noite fosse perfeita. Sob a luz suave
das velas, conversamos sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Descobri que adoro ouvir o som da
gargalhada de Rory, que começa suavemente, quase como um murmúrio, e aos poucos vai
crescendo até atingir um timbre agudo, como se estivesse flutuando no ar antes de desaparecer.

Enquanto terminamos o nosso jantar, sob a luz suave das velas, o clima entre nós é tão
leve e envolvente que mal percebo o tempo passar. Após a sobremesa, peço a conta e pago. Ao
sair do restaurante, entrelaço os nossos dedos novamente e os mantenho assim até chegarmos
em meu carro.

Dirijo pelas ruas de Nova York, que pelo horário se encontram tranquilas, até que
estaciono em frente à sua casa.

— Ethan, muito obrigado pela noite, ela foi incrível! — Rory agradece, abrindo um
sorriso lindo. — Há tempos não tenho uma noite como essa.

Sinto uma puta felicidade ao saber que sou o responsável por ela se sentir assim e
retribuo ao seu sorriso.

— Não pense que estou dizendo o mesmo somente para te alegrar, mas eu sinto o mesmo.
A noite foi perfeita e eu esperei ansioso por esse momento, onde estamos prestes a nos beijar. —
Destravo o cinto de segurança e me viro em sua direção para a olhar melhor.

Sem conter o meu impulso, toco suavemente o seu rosto macio e aveludado e Rory fecha
levemente os olhos.

— Sabe, eu também estava ansiosa por isso. — E sem pensar duas vezes, me inclino para
beijá-la.

Basta apenas que os nossos lábios se encostem para que a tensão dentro do carro suba e
fique sem controle enquanto deslizo a minha língua para dentro da sua boca e passeio as minhas
mãos pela lateral do seu corpo. Em um dado momento, Rory se senta em meu colo com o seu
vestido justo todo embolado em sua cintura. Tudo o que eu mais queria era subi-lo mais, sem me
importar com a possibilidade de nós sermos pegos em flagrante e presos por atentado ao pudor.

— Acho que é melhor nós sairmos daqui e irmos para um lugar mais reservado se a gente
for seguir adiante com isso. — Falo, com a respiração entrecortada, separando os meus lábios
dos seus minimamente e mantendo os meus olhos ainda fechados, pois não quero perder a nossa
conexão.

Logo um pequeno silêncio se instala no carro, sendo quebrado pelas nossas respirações
entrecortadas.

— Eu quero, Ethan. — Rory sussurra, o desejo espelhado em suas pupilas.

Sorrio satisfeito, mantendo-a mais presa em meus braços e voltando a deslizar o meu
nariz pela curva do seu pescoço com suavidade, fazendo o caminho de volta até encontrar a sua
boca e me perdendo novamente em seus lábios macios. Chego à conclusão de que é melhor que
nós fôssemos para um lugar onde eu de fato possa fazer tudo o que tenho em mente com ela sem
correr o risco de estar nas primeiras páginas de jornais na manhã seguinte.

Com este pensamento, dou partida no carro e só paro quando atravessamos os portões da
minha casa. Eu poderia ter ido a um hotel, mas não quero. Assim que passamos pela porta, a
prenso contra a parede , louco para senti-la por inteiro.

Rory segura o meu pescoço impaciente, me puxando para baixo e fazendo com que as
nossas bocas se encontrem novamente e nos devoramos. Deslizo as mãos pela lateral do seu
corpo, segurando a sua perna e a levantando, colocando em volta do meu quadril. Em seguida,
faço o mesmo com a outra e aprofundo ainda mais o nosso beijo, sem deixar espaço nem mesmo
para os nossos pensamentos.
Minhas mãos apalpam a sua bunda gostosa, roçando o seu centro quente e protegido
apenas pela sua calcinha fina em minha braguilha dura. Me afasto da parede e ela solta um
gemido em protesto, aviso-a que o que tenho em mente para nós esta noite merece mais do que
uma parede fria e ganho o seu sorriso mais lindo.

Ando pela casa com a Rory firme em meus braços, subindo as escadas e passando pelo
corredor, empurrando a porta do meu quarto e entrando. As luzes do cômodo logo se acendem
com a nossa presença e eu passo o braço por cima de um móvel plano, derrubando tudo o que
está sobre ele e a colocando sentada.

Em seguida , me ajoelho e beijo os seus pés perfeitos, espalhando beijos pelas suas
pernas e arrastando o seu vestido junto. No momento em que ele se transforma em um
amontoado de panos em seu quadril, toco a sua calcinha e um gemido escapa da minha boca ao
perceber o quão pequena a peça é.

— Nossa, ela é minúscula! —Murmuro, com a minha voz rouca pelo tesão.

Deslizo-a pelas suas pernas, olhando em seus lindos olhos castanhos e depositando beijos
em seu baixo ventre. Rory agita os pés e o pano minúsculo cai no chão.

— Eu vou te chupar,Rory! — Aviso, me acomodando entre as suas pernas grossas e


torneadas. — Estou louco para sentir o seu gosto em minha língua.

Seguro os seus quadris com as mãos firmes e a puxo mais para a frente, a colocando
sentada na ponta do móvel para que eu tenha um melhor acesso a sua parte íntima. Com destreza,
passo a língua pela parte interna da sua coxa e seguro por baixo. Sinto o cheiro de sua bocetinha
gostosa e ansioso para prová-la, pincelo a ponta da língua pelas suas dobras peludas, sentindo o
seu gosto único em minhas papilas gustativas.

“Isso é bom para o caralho! ” Constato, fechando os olhos enquanto danço com a ponta
da minha língua pelo seu grelinho. — Posso me tornar um viciado em seu gosto, Rory.

Sinto a suas pernas tremerem, as suas unhas raspando em minha nuca e logo os meus
cabelos são puxados com força, causando uma pequena ardência em meu couro cabeludo. Não
me importo com o seu descontrole, eu quero mais é que ela se derreta na minha boca, quero ser
seu último pensamento antes de seu corpo suado e exausto cair na minha cama e o primeiro
quando ela abrir os olhos.

Empurro a língua em seu canal, abrindo mais a sua bocetinha e sentindo o seu gosto
salgado preenchendo o meu paladar enquanto deslizo por toda a extensão em lambidas e
chupadas longas.

— Ethan… — Ela choraminga, empurrando mais o quadril em minha boca e esfregando


mais a bocetinha gostosa em minha cara
Escorrego o dedo em seu interior quente e completamente encharcado enquanto ainda a
chupo lentamente, abrindo e fechando a sua fenda, onde fodo gostoso com dois dedos curvados
dentro dela e ouvindo os seus gemidos. Ela se contrai e sei que está perto de explodir na minha
língua, então acelero os movimentos dos meus dedos em sua gruta.

— Ahhh, Ethan... — Ela estremece e sei que está quase lá.

Ter ciência disso quase me faz gozar com o prazer que estou dando a ela. Afasto a minha
boca da sua boceta para observar as suas feições, mas não paro de mover os dedos dentro dela.

— Goza para mim, vai! — Comando. — Eu quero tomar até a última gota do seu prazer.

Sem esperar por uma resposta, volto a chupá-la sem dar pausa, ao mesmo tempo em que
a estoco com os meus dedos freneticamente sem dar tempo para que ela possa respirar. Rory
acompanha os meus movimentos de vai e vem, totalmente entregue às sensações e tudo o que eu
posso oferecer-lhe neste momento. O barulho da sua boceta molhada é viciante e não me canso
de ouvir a cada movimento dos meus dedos.

Seu corpo estremece e ela geme o meu nome em um quase choro, gozando gostoso como
eu mandei e eu a chupo sem perder nenhuma gota. Rory fica mole em cima do móvel de
madeira e eu me levanto, pegando-a em meu colo e a levando para cama. Deito-a com cuidado
sobre o colchão macio e me deito por cima dela, pairando o corpo por cima do seu e a admirando
em silêncio por um tempo.

— Você é linda demais, sabia? —Falo, a olhando deitada e com a respiração


entrecortada. — Meu pedacinho de inferno aqui na terra! Quero me afundar todinho em você e
roubar os seus gemidos com os meus beijos.

— Estou ansiosa para ver até onde você consegue me levar, Ethan. — Ela sussurra, com
um sorriso em seu lábio.

Caio para o lado, puxando-a para mim e a beijando enquanto tiro o seu vestido. Rory me
ajuda a me livrar das minhas roupas e pouco tempo depois estamos os dois nus na cama. Passo o
nariz pelo seu ombro e depois beijo o local, sentindo o bico do seu seio roçando a minha pele.

Não resisto à vontade e desço a cabeça para envolver o seu mamilo com a minha boca.
Passo a língua lentamente por ele e Rory tenta se afastar, mas a impeço, não permitindo que ela
fuja de mim. Volto a brincar com o seu seio com a língua e enfio o dedo entre as suas pernas,
tocando a sua boceta melada com o seu recente orgasmo.

— Rory, eu...— Ela me corta.

— Eu também quero, Ethan! Por favor, me faça sua.


O mais rápido que consigo, me levanto da cama, pego a camisinha em minha carteira e a
envolvo em meu pau duro enquanto o aliso para aliviar a dor que sinto. Volto para a cama e
ordeno:

— De quatro para mim, Rory! Quero olhar esse seu rabo gostoso se movendo enquanto te
fodo. — Ela sorri e fica de quatro, me levando à loucura.

Aliso a sua bunda redonda e estalo três tapas, mordendo os meus lábios e sentindo as
minhas sobrancelhas se unindo com a visão. Rory solta um grito de susto, perdendo o equilíbrio
e quase caindo para frente. Para que isso não aconteça, seguro-a pelo quadril e com a mão livre,
enrolo os seus cabelos longos em meu pulso e entro com tudo em sua bocetinha melada.

Saio rápido e repito o gesto mais três vezes, ouvindo os seus gemidos junto com o
barulho das nossas carnes se chocando. Seguro o seu quadril e estoco com força, sentindo o
balanço da cama a cada movimento. Encosto o seu corpo na cabeceira e a fodo com mais força,
segurando firmemente o seu seio direito e mordendo o seu pescoço até que Rory em um quase
sussurro me avisa que vai gozar novamente com o meu pau batendo bem no fundo da sua
bocetinha.

A sua cavidade quente e molhada me aperta e a sinto sugar o meu pau como se tivesse o
chupando. Uma corrente elétrica passa pela minha coluna e segue até a minha nuca, meus pelos
se arrepiando e me dando um tesão do caralho. Ela goza mais uma vez e eu acelero os meus
movimentos, sentindo o meu pau pulsar e gozo na camisinha.

Tombo para trás com a respiração falha e a puxo junto comigo. Rory se deita sobre o meu
peito com o corpo molhado de suor, o seu cabelo está uma bagunça louca e isso por si só faz com
que ela fique ainda mais bela do que já é. Sorrio, com o coração encontrando novamente o ritmo
certo de bater.

Ergo a mão e afasto o cabelo molhado de seu rosto, colocando-o atrás de sua orelha. Ela
sorri, me parecendo exausta, mas feliz. Toco os nossos lábios e a beijo, certo de que encontrei
mais uma vez o que achei que nunca mais encontraria novamente.
Capítulo 26
Ethan para o carro em frente à minha casa e tira as mãos do volante, se recostando melhor
no assento e os seus olhos se voltando para mim com um pequeno sorriso surgindo em seus
lábios rosados. Eu simplesmente suspiro, relembrando da noite e do início da manhã que
passamos juntos. Nunca, em toda a minha vida, me senti assim.

— Então, como a gente fica a partir de agora, Rory? — Ele me indaga, com o canto dos
seus olhos franzidos.

Confesso que não pensei sobre isso, pois não sei o que ele realmente quer comigo.

— Acho que seria mais interessante saber o que você quer comigo, Ethan. Pelo que
consta, você é um dos solteiros mais cobiçados de Nova York, senão de todo o país. O que um
homem como você pode querer com uma mãe solteira como eu? Além do que nós fizemos esta
noite, se era curiosidade, acho que já saciei, não? — Ele se vira abruptamente e coloca a mão
sobre a minha boca, me impedindo de continuar.

— Eu quero você, Rory! Já deixei isso bem claro desde o primeiro momento e, depois
dessa noite, não tenho mais dúvidas. — Ele alisa o meu rosto, olhando-me profundamente. —
Garota, você me venceu, e olha que dificilmente me deixo ser nocauteado. Você trabalha demais,
está sempre cuidando de tudo e de todos e eu só quero cuidar de você, te proteger de tudo, até
mesmo de mim mesmo, pois tenho medo de te machucar em algum momento. Fica comigo,
Rory. Me deixa cuidar de você? Se permita ser cuidada ao menos uma vez na vida.

Sinto uma pequena coceira em meu nariz ao perceber a sinceridade em cada palavra que
sai de sua boca.

— Ethan, eu estou me apaixonando por você. Tem condições de me corresponder caso o


que estou começando a sentir por você cresça? — Indago séria e ele sorri tão lindamente que eu
quase perco o ar em meus pulmões.

— Acho que estou em desvantagem aqui, pois me encontro apaixonado por você há
algum tempo já, Rory. Agora, o que sinto está bem além de uma paixão, e há muito tempo achei
que isso não poderia voltar a acontecer novamente. Eu sei que vocês, jovens, não costumam
fazer isso, mas eu sou das antigas. — Ele afina os olhos. — Namora comigo?

Fico boquiaberta, sem acreditar que ele está mesmo me pedindo em namoro. Não é que
eu esteja me subestimando, mas Ethan é um homem experiente, que conhece o mundo, enquanto
eu sou apenas uma garota, como ele mesmo me chamou várias vezes com essa voz sexy e só
conheço três estados, porque participei de alguns concursos de dança. Retorno ao momento
presente, percebendo que ele está esperando pela minha resposta.

— Você tem certeza disso, Ethan? — Indago, erguendo uma sobrancelha. — É a última
chance que eu te dou para desistir. — Ele balança a cabeça, assentindo. — Pois bem, então, eu
aceito ser a sua namorada, Ethan! Mas quero que saiba que a minha filha sempre será a minha
prioridade. Você nunca estará na frente dela. Certo?

O deixo ciente, em razão de já ter cansado de ver homens velhos competindo pela
atenção da mãe com o filho e eu não quero viver isso. A minha filha já não tem um pai, não vou
desampará-la por ninguém.

— Eu jamais iria querer isso, Rory! — O maxilar de Ethan se contrai. — Irei cuidar de
vocês duas como se fossem minhas.

Acho estranho a sua expressão, mas logo ele ri e me puxa para um abraço, me chamando
de namorada de um jeito que me faz arrepiar. Aviso que preciso ir, pois avisei a minha mãe que
não passaria a noite em casa, mas estou ansiosa para saber se a minha filha sentiu a minha falta
ou deu mais trabalho do que de costume.

Em geral, Fay costuma dormir a noite toda, mas para tudo tem a sua primeira vez e ela
pode ter sentido a minha falta, já que ela sempre inicia a noite no berço e amanhece o dia na
minha cama. Do lado de fora do carro, Ethan me puxa pela cintura quando digo que já vou e me
beija de um jeito que eu perco o equilíbrio das minhas pernas.

Após isso, ele me solta devagar e eu tenho que pensar rápido, antes que passe vergonha e
tombe para o lado. Ethan se despede e entra em seu carro, avisando que irá pedir para o seu
motorista me buscar mais tarde junto com a Fay para fazermos alguma coisa juntos. Sorrio, boba
demais por ele estar incluindo a minha filha na vida dele.

— Uau, o que é isso? — Dou um pulo de susto, sentindo o meu coração parar na minha
garganta, pelo fato de estar completamente distraída. — Não vai me dizer que você passou a
noite com o coroa bonitão? — Sorrio, recuperando o ritmo das minhas batidas.

— Ei, para de escândalo na rua, Lility. Vamos lá para dentro que eu te conto tudo.

— Meu Deus, amiga, você deu mesmo para ele a noite toda e está chegando em casa
agora? — Não respondo, apenas olho para os lados para ver se tem alguma vizinha à espreita e a
puxo pelo braço em direção a minha casa enquanto ela vai pulando feito um filhote de coelho
espoleta e com gargalhadas malucas.
Assim que entro em casa, sinto o cheiro de panquecas e bacon invadindo a casa. Por mais
que Ethan tenha me levado café na cama e depois me feito de seu próprio café, eu ainda estou
com fome. Acho que ele sugou as minhas energias, então terei que me alimentar bem para me
recuperar. Faço sinal de silêncio para a minha amiga e aviso.

— Mãeee, cheguei!

Deixo a Lility na sala e vou caminhando até a cozinha, encontrando a minha mãe
mexendo na frigideira. Mudo os meus passos até ela e a abraço por trás. Pergunto como estão as
coisas e ela me mantém informada de tudo, falando que a Fay resmungou um pouco de
madrugada, mas depois que ela a levou para o seu quarto, dormiu a noite toda. Eu sorrio e a
agradeço. Minha mãe me encara com um olhar avaliativo e sei que vamos mudar de assunto.

— Filha? — O seu tom é polido.

— Diz, mãe. — Incentivo-a.

— Você se apaixonou por esse rapaz? — Ela parece estar cuidadosa e isso é estranho.

Somos só nós duas, mesmo quando o papai era vivo; era como se já fôssemos só nós duas
e com isso temos toda abertura para conversarmos sobre todos os assuntos. Além de mãe e filha,
somos melhores amigas.

— Sim, mãe, estou completamente apaixonada por ele e quero muito que a senhora possa
conhecê-lo melhor. Ele é uma pessoa maravilhosa, gosta da Fay de um jeito que me faz sentir
segura. — Minha mãe não me responde, apenas uni as sobrancelhas, formando um pequeno
vinco entre elas como se pensasse em algo, mas não estivesse pronta para falar.

Ela me abraça e diz que está feliz por mim, depois me beija e fala que sempre estará aqui
para mim. Quando vou perguntar o que está acontecendo, pois ela me parece estranha, Lillity
aparece na porta, falando do cheiro gostoso da comida e eu me distraio completamente do que ia
dizer. Faço uma pausa para respirar fundo, absorvendo tudo o que aconteceu, enquanto a minha
mãe continua preparando o café da manhã e a minha amiga parece animada com a novidade.

A vida parece ter mudado tão rapidamente desde que Ethan entrou nela. É um turbilhão
de emoções, mas no fundo, sinto que estou exatamente onde deveria estar

.
Capítulo 27
— Só um instante! — Peço, ao mesmo tempo em que me afasto um pouco da mesa.

Pego o meu celular no bolso e verifico as notificações recebidas , observando


cuidadosamente as notícias que desejo que sejam divulgadas sobre mim e sobre os meus
negócios. É reconfortante saber que, mesmo a minha vida sendo constantemente exposta ao
escrutínio público, ainda consigo manter o controle sobre o que desejo que seja divulgado ou
não.

Não me surpreendo ao ver que teriam fotos minhas em um “encontro com uma jovem
misteriosa”, esse foi o título da matéria. No entanto, no mesmo instante em que leio, veto a sua
publicação, pois não acho que seja o momento apropriado para que fiquem sabendo sobre o
nosso recente relacionamento. Rory e eu ainda temos muitas coisas para conversar,
especialmente sobre o fato de eu ser o pai biológico da sua filha.

Quero que a Rory saiba disso pela minha boca e que tenha consciência de que sou tão
vítima quanto ela nessa situação. No entanto, parece que o momento oportuno nunca chega e
estou me sentindo ansioso por conta disso, temendo que ela pense que estou a enganando e que
só estou com ela por causa da nossa filha.

Eu a quis desde o primeiro momento em que coloquei os meus olhos sobre ela, muito
antes de saber que tínhamos uma filha juntos. E depois da noite que tivemos ontem, porra, eu a
quero ainda mais. Após dar as coordenadas, coloco o meu aparelho no bolso da calça e volto a
me sentar.

— O que foi? —Inquiro, sentindo o peso das perguntas que virão a seguir.

— Qual é o tipo de relação que você está tendo com a Rory, Ethan? — Brenda é direta e
certeira como sempre.

O mais interessante é que é algo que sempre admirei nela, mas hoje, nem tanto. Coço o
queixo pensativo, certo de que não importa o que eu diga, serei hostilizado por elas. Sim, Maya e
Brenda não pegam leve quando querem.

— Estamos juntos. — Sou direto e falo sem rodeios.


— O que? — Maya parece surpresa, enquanto Brenda continua com a sua linha de
questionamento.

— E quando você pretende contar para ela que é o pai da filha dela? — Suspiro fundo,
me sentindo frustrado com isso.

A vida me colocou em uma situação complicada e eu só consegui torná-la ainda pior.


Essa não era a minha intenção, mas eu fiz.

— Ainda não surgiu o momento certo para isso, Brenda. — Admito, sentindo o peso da
culpa crescer em meus ombros.

— Você sabe que o momento certo não existe, não é? Você quem o faz, Ethan. — Brenda
enfatiza e eu balanço a cabeça em concordância.

— Você já pensou em como ela vai se sentir enganada quando souber que você é o pai da
bebê dela e ela não sabia? Não quero acabar com a sua felicidade, meu amigo, você mais do que
ninguém sabe o quanto eu torço para você encontrar alguém especial desde que a Madson se foi,
mas você está cometendo um enorme erro em esconder a verdade dessa menina. — Maya
completa.

— É o que eu mais temo que aconteça, Maya. — Aperto os meus lábios.

— Ethan, precisamos ser honestos aqui. Se você realmente se importa com a Rory e com
o futuro da relação de vocês, precisa tomar uma decisão agora. Esconder a verdade só vai piorar
as coisas entre vocês. — Brenda comenta firme.

— Eu ainda não acredito que você tem uma filha, Ethan. E ela é a coisa mais linda deste
mundo! Como a Rory não percebe que a bebê é a sua cara? — Maya tenta suavizar a tensão.

Enquanto Brenda bate.

— Eu ainda não consigo acreditar que sou pai, Maya. Já tinha desistido dessa ideia, achei
que isso não era para mim e agora olho para a Fay e vejo o quanto estava enganado. — Sorrio,
vendo a imagem do rostinho da minha filha em minha mente.

— Ah, Ethan, estou pensando em incluir a Rory na lista de convidados para a festa de
aniversário do nosso bebê. Conhecemos poucas crianças e seria interessante ver a interação entre
os dois. Alguma objeção quanto a isso para você? — Brenda me indaga, deixando claro que esse
assunto não iria morrer tão cedo.

— Claro que não, Brenda! Vou amar ver os nossos filhos brincando juntos. — Faço uma
pausa, analisando as minhas próximas palavras. — E vocês têm razão em tudo. Prometo que vou
resolver esse assunto. Marquei com a Rory para ela ir lá para casa e hoje mesmo eu irei resolver
essa situação. Sinto que a cada dia que não conto, o circo está se fechando mais em volta de mim
e sei que preciso agir. Mas confesso que estou com medo de perdê-la.

Só de imaginar essa possibilidade, sinto um aperto se formando em meu peito. Em


seguida, conversamos mais um pouco e elas parecem felizes com a minha decisão de não
prolongar mais essa descoberta que se tornou um segredo. Pouco tempo depois, brinco um pouco
com o pequeno Aaron, que acordou animado e algumas horas mais tarde estou em frente à
piscina de casa com a mão no bolso da minha bermuda, vendo Rory atravessar a área com a
nossa filha no colo. Ela está usando roupas de piscina, pois eu enviei mensagem avisando quais
eram os meus planos para nós três.

— Oi! — Ela fala, assim que para em minha frente com um sorriso lindo nos lábios.

Me curvo e beijo os seus lábios, em seguida, beijo a cabecinha da minha filha que usa um
chapeuzinho na cor rosa de orelhinhas.

— Como está desde as últimas horas que nos vimos? — Pergunto e os seus olhos brilham
em resposta.

— Bem, muito bem! Só tenho que me acostumar com o fato de que estou namorando uns
dos homens mais desejados da cidade ou talvez do país. — Ela comenta, em um tom de
brincadeira e solta uma risada, me fazendo rir junto.

— Ah, então sou oficialmente o homem mais desejado, é? Acho que vou precisar
atualizar o meu currículo com esse título novo! — Me aproximo mais dela, segurando a sua
cintura. — Mas sério, é ótimo estar ao seu lado, seja como o mais desejado ou apenas como eu
mesmo.

— Eu também acho maravilhoso estar com você, Ethan. — Sussurra.

— Vamos nos sentar? — Sugiro, indicando a espreguiçadeira. — Temos o dia todo livre
só para nós três.

— Sim, é claro. A sua área de lazer é linda, Ethan! — Ela elogia, olhando ao redor e
admirando a área da piscina que eu quase não uso, mas que é sempre bem cuidada pelos meus
funcionários.

Eu sorrio para Rory, enquanto a observo sob a luz do sol e os seus olhos brilham de
felicidade. É incrível ter essas duas mulheres maravilhosas em minha vida.

Enquanto nos acomodamos à beira da piscina, vejo minha filha estender os bracinhos,
ansiosa para entrar na água.

— Acho que temos alguém ansiosa para entrar na piscina. — Comento, olhando para a
Fay.

— Ela ama água, Ethan. — Rory revela, olhando para a pequena pedindo para descer. —
Mas tenho medo de colocá-la na água, pois não tive tempo de comprar uma boia e ela é muito
pequena para saber nadar.

Pergunto se posso entrar com ela e Rory assente com a cabeça. Me levanto e logo tiro a
minha roupa, ficando só de sunga. Rory me entrega a Fay no colo e eu a coloco gentilmente na
beira da piscina, vendo a pequena dar pequenos chutinhos com os pezinhos gorduchos. Rory e eu
não resistimos ao encanto dela e rimos juntos.

Decido entrar primeiro, fazendo sinal para que Rory me acompanhe. A água está
refrescante e convidativa, especialmente em um dia ensolarado como esse. Nós dois nos
aproximamos, abraçando a nossa filha entre nós e beijando o seu rostinho. A sensação da água
envolvendo os nossos corpos é revigorante.

Nadamos, brincamos e aproveitamos cada momento do dia. Mais tarde, saímos da piscina
e nos sentamos nas espreguiçadeiras para descansar um pouco. Aproveitamos o sol quente
enquanto secamos os nossos corpos e conversamos sobre planos futuros. Enquanto observo a Fay
brincar na grama, percebo como sou grato e sortudo por ter elas em minha vida.
Capítulo 28
Enquanto caminho pelo corredor do clube noturno ao lado da minha amiga, ouço o eco
dos nossos saltos no chão de madeira. Ajusto as orelhas pontudas do meu traje de Mulher-Gato,
tentando disfarçar a inquietação que me consome desde que descobri.

— Rory, é sério que você ainda está assim por causa daquilo?— Lility me indaga,
claramente achando que eu estou fazendo tempestade por pouca coisa. — Você está exagerando,
para mim isso só mostra o quanto ele está preocupado e disposto a fazer tudo para cuidar de
você.

— Eu não vejo dessa forma, Lili. — Falo, me sentindo desconfortável.

— Então como vê?— Ela questiona, erguendo as sobrancelhas.

Respiro fundo e tento explicar o meu ponto de vista.

— Acho que ele foi intrometido e invasivo, pois eu não contei e nem pedi ajuda para ele
a respeito disso. É como se ele estivesse assumindo o controle de uma parte da minha vida sem a
minha permissão. Sei que ele queria fazer o bem, mas acabou me deixando ainda mais
desconfortável. Ethan precisa entender que eu não sou uma mulher frágil que precisa ser
protegida a todo custo.

— Amiga, eu te respeito, mas não compreendo. Você está namorando um magnata, o


cara é podre de rico. Acha mesmo que ele deveria deixar a namorada passando por uma situação
como essa sem fazer nada para ajudar? — Ela balança a cabeça. — Eu é que queria um
intrometido deste em minha vida. Além de pagar todas as minhas contas ainda me leva para
jantar no lugar mais caro da cidade.

— É exatamente aí que nós pensamos diferente, amiga. Eu quero conquistar as coisas por
mérito próprio.

— Compreendo perfeitamente, amiga, mas não compartilho da mesma opinião, pois


estou cansada de ser pobre a vida toda e é extremamente exaustivo conquistar as coisas com toda
a luta que enfrentamos diariamente. Se tiver essa sorte, não vou me fazer de rogada. Mas agora,
me diga, o que você pretende fazer?
— Agora estou em horário de trabalho. Vou entrar naquela sala e ser a Mulher-Gato mais
sexy que aquele homem já viu na vida dele. E, quando terminar a dança, vou brigar com ele.

— Não acredito que estou ouvindo isso. — Ela gargalha.

— Uma curiosidade. O que você está fazendo aqui ao invés de estar em uma dança
particular? — Indago. — Fiquei sabendo que o Alex te tirou de uma sala te carregando pelos
ombros.

— Para você ver como é ridículo isso. Quase o matei quando ele me colocou no chão. —
Bufa de raiva.

— Acho que as coisas entre vocês dois estão ficando sérias e só você ainda não percebeu,
Lility. — Comento.

— Amiga, não quero ver esse homem nem pintado de ouro. Ele me fez perder uma grana
com essa palhaçada. Se não pode me pagar por uma dança particular, não me atrapalhe. E a
minha bolsa Chanel, quem vai comprar agora com essa graça dele? — Resmunga.

— Ué, pede para ele comprar, já que ele foi o culpado por você perder a grana.

— E desde quando um segurança de clube de dança tem grana para isso, amiga?!— Ela
fala, com mau humor.

Levanto as mãos em rendição, com um sorriso sem graça nascendo em meus lábios.

— Ok, não está mais aqui quem falou! Agora vou indo nessa, preciso dançar e depois
brigar com um certo magnata .

Nos despedimos e em seguida entro no quarto, respirando fundo e fazendo sinal para
prepararem a música. Ethan está sentado na cama, com a gravata afrouxada e quando os seus
olhos recaem sobre mim, vejo o seu pomo de adão subindo e descendo. Ele murmura que estou
“gostosa para caralho” e escorrega o seu corpo grande pelo colchão. Tenho toda a sua atenção
voltada para mim.

Faço a pose da Mulher-Gato do filme e entro no papel, passando os próximos minutos


dançando e me esquivando de todas as maneiras possíveis e inimagináveis das mãos e braços
fortes tentando me puxar para perto dele, mas quanto mais eu fujo, mas ele me quer, como se
isso desse ainda mais combustível para o seu desejo .

— Uau, amor, você está linda! Me deixou com um tesão louco te ver usando essa roupa
apertada. — Ethan se aproxima, as suas mãos nos meus quadris e por um momento sinto a
tentação de ceder, mas algo dentro de mim se recusa.
Eu me afasto, deixando claro que algo não está bem e o seu olhar confuso demonstra que
ele não entende, não compreende a magnitude do que fez. Ethan comprou a minha casa como se
estivesse adquirindo um simples objeto, como se fosse um banquinho na rua que achou
interessante, mas que nunca terá utilidade. Para ele pode até ter sido apenas algo comum, uma
compra casual, mas para mim aquilo possui um significado que vai além de um simples imóvel.

Aquela casa foi perdida pelo meu pai em um jogo, mas era algo que eu desejava adquirir
de volta com o meu próprio esforço. O que mais me entristece é o fato dele não ter dito uma
palavra sobre isso até agora, mesmo quando sempre conversamos sobre tudo. Só descobri porque
fui pagar a parcela ao agiota e ele não aceitou o dinheiro, revelando que a casa foi comprada por
um magnata cujo nome era do meu agora namorado.

— O que está acontecendo, Rory? Por que você está fugindo de mim? — Ethan pergunta,
se aproximando mais e me estudando cuidadosamente.

— Você realmente não sabe, Ethan? — Diante dessas palavras, ele parece paralisar. —
Até quando você planejava me esconder algo assim, Ethan?

Ele se curva, colocando as mãos nos joelhos e pedindo para eu esperar,, quase me
arrependendo de abordá-lo de maneira tão direta.

— Rory, eu posso explicar. — Ele murmura, com dificuldade.

— Explicar o quê, Ethan? Isso é algo que você deveria ter feito antes de comprar a minha
casa sem falar comigo a respeito, não acha? — Vejo o seu peito subir e descer rapidamente e a
sua expressão de desespero se suaviza.

— Sua casa? Então é isso? — A sua voz soa surpresa.

— E você achava que era o quê, Ethan? — Inquiro, não escondendo a minha irritação
com essa situação. — Como você pôde fazer um negócio desses comigo? Me explique.

Ele fecha os olhos levemente e os seus lábios ficam em uma linha reta.

— Me desculpa, amor! Eu deveria ter falado com você a respeito, só não queria que você
ficasse nas mãos de agiotas e correndo risco de ser machucada ou despejada. — Justifica-se. —
Esse tipo de gente é capaz de fazer qualquer coisa, Rory.

— Eu entendo que você só queria me proteger, Ethan, mas comprar a minha casa sem a
minha permissão não foi a maneira correta de lidar com isso. Eu gostaria de ter sido incluída na
decisão, ou ao menos saber disso pela sua boca e não pelo agiota.

Ele se aproxima e segura delicadamente a minha mão, olhando em meus olhos.


— Eu sei que cometi um erro, Rory, e peço desculpas por não ter considerado ter te
contado antes. Fiquei tão preocupado quando soube da dívida e só quis resolver a situação e te
manter segura. — Eu suspiro, sentindo um misto de raiva, tristeza e amor por ele.

Esse homem me confunde.

— Eu ainda estou chateada e magoada com você, Ethan. — Falo para que ele saiba que
não me ganhará tão fácil assim, mas valorizo o fato dele reconhecer que não agiu da maneira
correta e admitir o seus erros.

— Eu entendo, amor. — Ele concorda com a cabeça, com os olhos cheios de


arrependimento.

— Me prometa que, daqui para frente, você não irá mais esconder nada de mim, Ethan.
Independentemente da gravidade, vai me deixar fazer parte? — Minha voz vacila, implorando
por confiança enquanto ele fica imóvel.

— Rory, para que possamos começar em uma nova página e eu possa fazer essa
promessa, preciso te revelar algo. — Ele faz uma pausa, engolindo em seco e ponderando as suas
palavras.

Eu franzo a testa, sentindo a ansiedade me sufocar.

— O que mais você está escondendo de mim, Ethan?! — Inquiro, os meus olhos
tremeluzindo e o medo se enraizando dentro de mim.

— Eu, eu, eu... — Sua voz falha, incapaz de completar a frase, enquanto eu o encaro
firmemente, exigindo uma resposta.

— Você o que, Ethan! — Exijo, a minha paciência se esgotando de uma vez. — Fala de
uma vez!

— Eu sou o pai da sua filha, Rory. — As palavras escapam como um suspiro.

Como assim ele é o pai da Fay?

— Você se sente o pai da Fay? — Pergunto, franzindo o cenho. — É isso o que você quer
dizer, não é?

— Não, Rory. O que estou querendo dizer é que eu sou o pai biológico dela. — Ele
enfatiza mais alto, me levando a sorrir e depois fico sério.

— O quê? — Balanço a cabeça freneticamente, não conseguindo acreditar no que estou


ouvindo. — Isso não faz o menor sentido...
— Rory. — Ethan me olha com os olhos tensos e neste momento percebo que ele não
está brincando.

Me afasto ainda mais do alcance do seu toque e estico o braço, impedindo-o de se


aproximar de mim.

— Desde quando você sabe disso, Ethan? — Sinto o mundo girar ao meu redor, minha
garganta está seca e mal consigo enxergá-lo direito, mas exijo uma resposta que explique por que
ele fez isso comigo. — Desde quando você sabe disso, Ethan? — Torno a perguntar diante do
seu silêncio, pois preciso saber há quanto tempo tenho sido enganada por ele. — Há quanto
tempo, Ethan? — Grito as palavras.

— Descobri no mesmo dia em que a Fay ficou doente, horas antes de ir encontrá-las no
hospital. — Ele revela, curvando os ombros e suspirando.

Levo a mão a boca e viro de costas para ele, me sentindo traída e usada por tempo
demais. As suas palavras ecoam em minha mente e uma sensação de traição e decepção me
consome. Luto para conter as lágrimas que ameaçam transbordar dos meus olhos, cada
respiração saindo como um esforço para que eu não desabe aqui mesmo.

— Eu... eu preciso ir, Ethan… — Minha voz sai em um sussurro e seguro o meu peito. —
Não consigo ficar no mesmo ambiente que você por mais tempo, estou me sentindo sufocada.

— Rory, pelo amor de Deus, me deixa explicar. — Reconheço a dor e o desespero em


sua voz, mas agora não consigo mais suportar ficar aqui, olhando para ele e ouvindo as suas
explicações.

Me viro e começo a caminhar em direção à porta, lutando para manter os meus passos
firmes, pois as minhas pernas estão sem forças. Arranco as orelhas de gato da minha cabeça e,
assim que encontro um segurança, peço para que ele impeça que o homem para quem acabei de
dançar venha atrás de mim. Ele me olha preocupado, mas acente com a cabeça e faz o que peço.

Após isso, ando completamente fora de mim, ouvindo a voz de Ethan me chamando
desesperadamente cada vez mais distante.
Capítulo 29
Escorrego os meus dedos pelos meus cabelos de maneira bruta, enquanto percebo a
chamada caindo mais uma vez na caixa postal.

Que droga! Isso está a ponto de me deixar louco…

Por que ela não atende as minhas ligações? Nós precisamos conversar. Isso não pode
ficar assim, a Rory precisa me ouvir, necessito explicar e esclarecer as coisas com ela. Me
levanto da cadeira, atordoado, passando a mão pelo meu rosto enquanto caminho para a janela e
olho para a cidade como se tudo lá embaixo fosse menor do que realmente é. Respiro fundo e
tento me distrair, mas está difícil.

— Ethan. — Joe entra em minha sala com o olhar assustado e um jornal em sua mão.

— Oi, Joe. — Respondo, me virando para ele. — Aconteceu alguma coisa?

— Você teve tempo para ler as notícias que saíram nos jornais hoje? — Ele me pergunta,
parecendo apreensivo e o canto dos meus lábios se ergue em um sorriso irônico.

— Não estou com cabeça para nada, Joe. — Digo. — Quem vai querer ler jornais quando
a vida parece mais uma bomba prestes a explodir e eu estou tentando recolher os cacos.

— Mas é importante, Ethan, pois todos estão comentando aqui no escritório. — Ele me
entrega o jornal e quando vejo o título da manchete, sinto a minha garganta secar. — Olhe o que
está circulando na mídia sobre você.

— Puta que pariu, Joe… Se a Rory já não quer me escutar, quem dirá agora com essa
merda sobre as nossas vidas na primeira página do jornal.

“ESCÂNDALO!

Magnata Imobiliário, Ethan Lewis Crack, é envolvido em Caso de Inseminação


Artificial. Fontes confiáveis informaram que o empresário de quarenta e dois anos teve o seu
material genético utilizado de forma incorreta em uma clínica de inseminação artificial,
resultando na gravidez de uma jovem mulher identificada como Rory Jackson Davis, que atuava
como barriga de aluguel. De acordo com informações exclusivas obtidas pela nossa equipe, o
processo de inseminação ocorreu sem o consentimento...”

De imediato, paro de ler, sem acreditar que a minha vida está exposta da pior maneira
possível em um jornal.

— Porra, Joe, como eles descobriram isso? — Pergunto, balançando o papel com a
matéria. — O caso corre em segredo de justiça e eles não possuem acesso a essas informações
confidenciais. — Começo a andar de um lado para o outro. — onde mais está falando sobre
isso?

— Não sei como a imprensa descobriu todas essas informações, Ethan, só sei que está
circulando em todos os lugares, tanto nos impressos, quanto online. — Ele responde, aflito.

— Cacete, preciso fazer algo para manter a minha filha e a minha mulher em segurança a
todo custo. — Assim que me preparo para sair, meu celular começa a tocar e, quando vejo, é a
minha mãe.

Fecho os olhos, passando a mão em meu rosto e dispensando Joe para atender a ligação.
Logo que ouço a sua voz do outro lado da linha, percebo que está confusa e assustada. Minha
mãe me pergunta se é verdade o que estão dizendo e eu confirmo, avisando que estou indo para a
casa dela para poder explicar direito o que aconteceu.

Me levanto, disposto a resolver toda a situação e, no final, encontrar uma maneira de


fazer com que a Rory me ouça. O jeito como ela saiu do quarto ontem ainda está vívido em
minha mente, o seu olhar, ou a falta dele, pois ela nem sequer conseguia me olhar nos olhos
depois de eu ter revelado que sou o pai da Fay. Eu sabia que estava levando tempo demais para
encontrar o momento certo para lhe contar a verdade e isso agora estava me tirando a mulher que
amo.

Sim, eu amo aquela garota, mesmo que não a tenha dito em voz alta. Eu a amo e não sei
se estou preparado para voltar para a solidão que era a minha vida antes de conhecê-la.

Pego o necessário e saio da minha sala, passando pelos meus funcionários, que me olham
com olhares curiosos e assustados. Alguns batem em meu ombro, dizendo que lamentam pelo
escândalo e eu agradeço, pegando o elevador e descendo direto para a garagem.

Saio com o meu carro, pronto para fazer a viagem até onde os meus pais moram,
afastados de tudo, no meio do nada. Foi assim que eles decidiram levar a vida após anos de
trabalho cansativo. Após algum tempo dirigindo, entro na garagem da casa onde os meus pais
vivem. Assim que saio do carro, minha mãe vem ao meu encontro com os braços abertos e,
quando ela me abraça, sinto todo o desespero que está dentro de mim se acalmar.

— Oh, meu amor... Como você está se sentindo? — A sua voz carinhosa, o seu cheiro
familiar e a sua mão deslizando em minhas costas me trazem paz, acalmando o turbilhão de
sentimentos agitados dentro de mim.

Pouco tempo depois, entramos em casa e encontro o meu pai me esperando na sala,
parecendo ansioso.

— Filho, como você está? — Ele me abraça com um olhar preocupado.

Me sento no sofá com os seus olhares sobre mim e começo a contar tudo, desde quando
aceitei ser o doador para as minhas amigas até descobrir que o meu material inseminou a Rory.
Conto que também estou apaixonado pela mãe da minha filha e que farei de tudo para que ela me
perdoe por ter sido covarde e não ter tido coragem de contar para ela sobre a minha ligação
consanguínea com a nossa filha assim que descobri.

Meus pais choram e comemoram ao mesmo tempo por terem uma neta e também me
parabenizam por ter me aberto novamente ao amor. Eles fazem planos de como será quando
conhecerem a neta e eu mostro fotos da Fay, deixando-os ainda mais encantados. Meu pai
comenta que ela tem os olhos da nossa família, enquanto minha mãe diz que ela é a coisa mais
linda e que vai ensiná-la a dançar.

Minha mãe, assim como a Rory, tem a mesma paixão pelo balé. Ela fez parte de uma
grande companhia e, embora não dance mais, o seu nome ainda é visto como referência no balé
clássico. Passo quase a manhã toda com os meus pais e, assim que saio de casa, vou direto para
casa de Rory, determinado a resolver a nossa situação.

No entanto, assim que saio do meu carro e fico parado em frente a sua residência, que
está completamente fechada, sinto a minha garganta ficar seca e o chão sumir debaixo dos meus
pés. Ela tem todo o direito de ficar com raiva de mim, de me xingar e brigar comigo, mas tirar a
minha filha de mim, isso nunca.

Passo a mão pelos meus cabelos e ando de um lado para o outro em frente ao seu portão,
me sentindo completamente perdido.
Após horas de viagem, o carro para em frente à casa da minha tia. Minha mãe é a
primeira a descer, sendo seguida pelo motorista, que abre a porta para mim. Olho para a minha
filha, que dorme tranquilamente em meu colo, sem ter noção da bagunça que a nossa vida se
tornou nas últimas horas.

— Obrigada, mãe. — Falo, colocando força em uma perna e saindo do carro.

Faz muitos anos que nós não vinhamos para cá, pois o meu pai impedia a minha mãe e eu
de mantermos contato com os nossos parentes. Minha mãe tem duas irmãs, a mais velha e a do
meio, que moram em Scranton, Pensilvânia.

Fiquei muito abalada ao descobrir que o homem que amo me enganou direitinho. E
quanto mais penso nisso, percebo que ele certamente se aproximou de mim já com esse
propósito. Eu fui uma idiota, achando que as coisas estavam começando a dar certo. Pelo
contrário, eu estava sendo usada e enganada da pior maneira possível. E o pior de tudo é que
tudo estava bem na minha frente o tempo todo. A Fay realmente parece uma cópia em miniatura
dele, só que feminina.

— Oh, meu Deus, Megan, quanto tempo. — Minha tia vem correndo ao nosso encontro,
atravessando o quintal dela e abrindo o pequeno portão.
Ela avança até a minha mãe, que está com as mãos sobre o peito, emocionada em rever a
irmã. Eu sorrio, tendo os meus olhos nadando em lágrimas, enquanto ajeito a minha filha em
meu colo. Logo que elas se abraçam, minha tia vem até mim, dividindo o olhar entre mim e a
minha filha e sorrindo antes de me abraçar.

— Independente da situação, estou feliz em ter vocês na minha casa, minha querida.
Fiquem o tempo que acharem necessário.

— Muito obrigada, tia! Eu também estou feliz em estar aqui. Já faz muito tempo, não é?

— Oh, com certeza faz. Eu nem me lembro mais da última vez que nos vimos, e olha que
nós nem moramos tão longe assim.

— Verdade! — Confirmo com um riso. — Mas, com a correria da vida, a gente sempre
promete, mas nunca cumpre.

— Sim, mas agora vamos entrar. Preparei um quarto para vocês. Vocês devem estar
cansadas.

— Um pouco, tia.

— Ah, me deixa segurar essa bebê. Que coisa mais linda, minha filha. — Ela pega a
minha bebê com cuidado e os seus olhos brilham.

O motorista nos ajuda com as malas e, pouco tempo depois, estamos dentro de casa, na
cidade onde a minha mãe nasceu e cresceu. Enquanto a minha tia nos acomoda em um quarto,
me pego questionando. Como pude ser tão ingênua? Como pude permitir que alguém entrasse
em minha vida e a virasse de cabeça para baixo tão facilmente?

Sinto-me ferida, magoada e ao mesmo tempo com raiva de mim mesma. Desde o início
do contrato, sempre soube que Ethan era o tipo de homem capaz de tudo para conseguir o que
queria. Ele demonstrou isso, mas me deixei levar pela atração, incapaz de admitir para mim
mesma que estava me metendo em uma barca furada.
Capítulo 30
Vejo a amiga de Rory se aproximando de onde estou e solto o ar que estava prendendo,
enquanto bato os pés no chão, ansioso para falar com ela e ver se consigo descobrir algo que
acalme o meu coração.

— Obrigado por concordar em falar comigo, Suzan! — Agradeço quando ela para em
minha frente. — Não sei se você se lembra de mim?

Deixo a pergunta no ar, pois só estive nesse lugar uma vez desde que a Rory parou de
trabalhar aqui e não sei se ela me viu.

— Lembro-me de você sim. — Ela confirma. — E me arrependo amargamente por ter


incentivado a minha amiga a se envolver com você.

Seu último comentário é carregado de raiva, o seu olhar me percorrendo com evidente
reprovação. No entanto, o meu desespero para encontrar a minha namorada e a minha filha é tão
grande que algumas caretas de desaprovação não me afetam.

Percebo que ela não está disposta a me ajudar, mas não estou disposto a desistir tão
facilmente. Preciso encontrar outra maneira de obter informações sobre o paradeiro da Rory para
acertar as coisas com ela.

— Eu entendo que errei com a Rory, mas precisamos nos sentar e tentar resolver tudo
como dois adultos, Suzan. Mas ela desapareceu... — Respiro fundo, tentando me acalmar e
continuo: — Elas desapareceram e eu estou desesperado há dias atrás de notícias e nada. Por
favor, te peço, qualquer informação que você possa me fornecer já será de grande ajuda.

Não tenho o costume de me mostrar tão vulnerável, não tenho costume de me expor ou
falar sobre os meus sentimentos, mas pouco me importo. Eu só preciso saber onde a Rory está.
Ela suspira, parecendo ponderar o que vai dizer por um momento e eu a olho como se toda a
minha vida dependesse disso.

— Entendo a sua preocupação, Sr. Lewis, mas a Rory não quer ser encontrada. Mas pode
ficar tranquilo, tenho certeza de que ela está cuidando bem da sua filha. Talvez seja melhor você
dar espaço para ela por enquanto e depois vocês conversam. — Fecho os olhos rapidamente,
tentando relaxar a tensão que sinto em meu corpo.

Meus músculos estão tensos e eu balanço a cabeça, completamente desanimado. Cada


palavra dita pela amiga de Rory sendo como um soco no estômago e me levanto da cadeira,
agradecendo-a em um tom quase inaudível e deixando o dinheiro embaixo do copo de suco
intocado por mim. Saio do estabelecimento completamente apático, vendo as pessoas passando
por mim apenas como sombras em minha visão periférica.

Caminho no modo automático até o meu carro e com o coração pesado, peço para o meu
motorista seguir. Ele me pergunta para onde e pela primeira vez em muito tempo não sei para
onde ir. Me sinto completamente sem rumo, sem direção. Parece que Rory se foi e desconfigurou
a minha bússola.

—Vamos para casa, Ethan. Acho que você precisa descansar um pouco, pois parece que
não tem dormido nos últimos dias. — Balanço a cabeça, deixando que ele decida por mim.

Em partes, ele está certo, pois realmente não tenho dormido e me sinto esgotado. O carro
começa a se mover pelas ruas e eu encosto a cabeça no banco, me deixando ser levado pelo
cansaço dos últimos dias. Só percebo que cheguei em casa quando George abre a porta do meu
lado e me chama.

Agradeço e sigo direto para dentro, me sentando em minha poltrona e deslizando a mão
pelo bolso, apanhando o celular em um gesto rápido e discando os números que apenas chamam
e chamam e depois vai direto para caixa postal. Bufo de raiva, sentindo o meu rosto esquentando
na mesma hora e a frustração tomando conta de mim.

— Puta que pariu! — Viro o meu celular e o bato contra a madeira bruta da mesa com
toda a força, logo em seguida, o lanço contra a parede.

A irritação me consome e respiro profundamente, cerrando a mão em punho, em uma


tentativa de recuperar o controle que há muito me deixou. Fico minutos a fio, que se tornam
horas, tentando me acalmar até que o som do telefone de casa rompe o silêncio que se formou no
ambiente.

Atendo a Chamada e a voz de Maya ressoa do outro lado da linha, pedindo que eu vá ao
clube o mais rápido possível. Sem pensar muito, pego o carro e me dirijo para lá, chegando em
questão de minutos e entrando.

Encontro Maya e Brenda me esperando em sua sala. Elas me abraçam e comentam sobre
o meu estado péssimo, mas logo percebo que não estão sozinhas. Maya me apresenta a Lility,
uma das melhores amigas de Rory, e eu me lembro da minha namorada já ter comentado sobre
ela.

Somos formalmente apresentados e Brenda diz que Lility está disposta a me ajudar, mas
antes quer conversar comigo.

— É um enorme prazer te conhecer pessoalmente, Lility! — Digo, sincero, estendo-lhe a


mão. — e agradeço por querer me ajudar.

— O prazer é todo meu, Ethan, mas antes de te dar o endereço onde você vai encontrar a
minha amiga, você precisa me prometer que não vai lá para magoá-la. — Lility me encara de
maneira séria, esperando a minha resposta.

Aceno com a cabeça em positivo.

— Eu prometo, Lility! Só quero ter a chance de conversar com ela e esclarecer as coisas.
Sei que errei e preciso que ela saiba que estou disposto a fazer o que for preciso para corrigir este
erro. — Minha voz carrega a sinceridade de minhas intenções.

— Certo, Ethan! Escolho confiar em você e quero que saiba que estou fazendo isso
porque sei como a Rory pode ser teimosa e resistente quando quer. Conheço a minha amiga e sei
dos sentimentos que ela nutre por você. — Ela balança a cabeça e suspira. — Tenho certeza que
aquela teimosa deve está sofrendo agora.

— A última coisa que eu quero é causar mais dor à Rory, Lility. Tudo o que mais quero é
resolver a nossa situação. — Ela parece estudar o meu rosto por um momento, como se tentasse
ler a verdade nas minhas palavras.

Por fim, a amiga da minha namorada assente com a cabeça, saca o seu celular e digita
algo rapidamente antes de me mostrar a tela.

— Ela está na casa das tias materna. — Lility me passa o endereço. — Mas não se
esqueça da sua promessa, Ethan. Rory pode ser resistente, mas é porque ela tem motivos para
ser. Minha amiga já passou por muita coisa nessa vida e se você a sacanear novamente, eu juro
que, independente de quem você seja, eu contrato alguém para te dar uma surra para aprender a
nunca mais brincar com as pessoas que amo.

Tenho vontade de rir da sua expressão séria e ameaçadora, mas me seguro, pois ela não
parece estar falando em um tom de brincadeira e também porque sou muito grato pela ajuda e
confiança que ela está me dando.

— Dou a minha palavra de que jamais farei a Rory chorar novamente, a não ser que seja
de alegria. — Garanto-lhe. — Acredito que todo relacionamento tem seus contratempos, mas
isso só mostra o quanto estamos dispostos a lutar por eles e eu estou.

Com uma nova determinação pulsando em minhas veias, me despeço de Maya, Brenda e
Lility, prometendo a mim mesmo que vou fazer tudo ao meu alcance para consertar as coisas.
Rory significa mais para mim do que ela imagina e eu não posso deixar o nosso relacionamento
se perder por causa dos erros que eu cometi. Ligo para o meu piloto e peço para ele se preparar
para voarmos, pois não tenho a menor intenção de perder três horas na estrada quando posso
chegar em meia hora.
— Mamã, olha… — Me viro na direção em que Fay chama e ela aponta o dedinho
indicador para fora, fazendo uma dancinha animada que me arranca um sorriso.

Minha garotinha está muito encantada com as galinhas e não para de imitá-las.

— Rory, já tomei o meu café, posso levar esse docinho para ver as có có có? — Fay ouve
a minha tia e vem correndo até ela, estendendo os bracinhos em sua direção, pedindo colo.

— Claro, tia. Vou terminar de me arrumar aqui e já encontro vocês lá. — Minha tia sai
com a Fay no colo e eu fico com a minha mãe, que me olha de um jeito que já conheço.

Termino a minha xícara de café e me levanto, juntando algumas vasilhas, mas a minha
mãe segura o meu braço de leve, me impedindo de seguir.

— Senta, Rory, precisamos conversar! — Ela olha para a porta, talvez para ter certeza de
que a neta realmente não está aqui.

— O que foi, mãe? — Sem ânimo, me sento, deixando as vasilhas à minha frente.

— Há quantos dias você tem ignorado as ligações do Ethan? Ele pode ter errado com
você e você tem todo o direito de estar magoada com isso, filha, mas o ignorar e não dar notícias
sobre a Fay não é certo. Eu só sugeri virmos para cá por causa de todos os repórteres em frente à
nossa casa, não foi para você fugir do pai da sua filha.

— Mãe, eu ainda estou muito magoada e não estou pronta para falar com ele. Não vou
afastá-lo da Fay, essa não é a minha intenção. Só preciso de mais tempo para digerir tudo e
talvez me livrar da dor que sinto toda vez que penso nele. — Falo com a voz embargada pelo
choro.

Não aguento mais chorar por isso. Nunca pensei que ser enganada por alguém que a
gente ama doesse tanto. Eu confiei em Ethan e ele me traiu, traiu a minha confiança. Seguro as
minhas lágrimas e a minha mãe segura a minha mão que está por cima da mesa.

— Filha, se você gosta tanto desse rapaz, escute o que ele tem a dizer. Ele não me parece
ser uma pessoa ruim.

— Eu vou escutar, mãe, só que agora não. Eu não me sinto pronta para isso.

— Certo, meu amor. Eu também confio em você, em tudo o que te ensinei. Conheço o
seu coração e sei o quanto você é boa. Torço para que você encontre a felicidade. Só quero que
saiba que estou aqui para você, não importa o que decida fazer. Se precisar de tempo, terá todo o
tempo do mundo. Mas também quero te lembrar que, às vezes, confrontar nossos medos e dores
pode ser o primeiro passo para encontrar paz interior. E isso pode incluir ouvir o que o Ethan tem
a dizer.

Concordo com a cabeça, agradecendo silenciosamente pelo seu apoio. Ela está certa, mas
ainda não consigo reunir forças para enfrentar essa conversa.

— Obrigada, mãe! Eu prometo que vou considerar o que você disse. Mas agora vou me
arrumar para a gente poder aproveitar o dia, a pilha da Fay está em cem por cento e ela já deve
está cansanndo a tia.

Minha mãe ri do que eu falo.

— Verdade, filha. Enquanto você se apronta, vou lá dar uma ajuda para a minha irmã e
curtir a minha netinha. — Ela se levanta da mesa e me abraça antes de sair.

Fico ali por algum tempo, ajeitando a cozinha e lavando as louças do café. Depois de
tudo organizado, subo as escadas para me arrumar. Quando estou quase finalizando, dou uma
última olhada no espelho para conferir o meu look: cabelo ok, vestido médio com um tênis
confortável e para finalizar, coloco os brincos e uma blusinha de frio, visto que o tempo já não
está tão quente como nos outros dias.

De repente, um som fora do comum chama a minha atenção. Abro a janela do quarto de
hóspede que estou dividindo com a minha filha e vejo... Um helicóptero? Mal consigo acreditar
no que os meus olhos estão vendo. Meu coração acelera e acompanho o helicóptero, vendo-o
pousar um pouco distante da casa da minha tia, mas ainda dentro da propriedade dela.

Alguns minutos depois, as hélices param de girar e Ethan sai dele. A surpresa é tão
grande que fico sem reação por alguns instantes, tentando processar o que está acontecendo.
Capítulo 31
O helicóptero corta o ar suavemente, conforme nos aproximamos da área. Sinto o
nervosismo e a ansiedade pulsando em cada célula do meu corpo, que se encontra tenso com o
iminente encontro com a Rory depois de dias sem vê-la. Parece loucura, mas me apaixonei pela
mãe da minha filha, concebida por um erro em uma clínica.

O piloto mantém a rota em direção ao campo de futebol localizado nas proximidades,


onde conseguimos autorização para o pouso, já que na área não há nenhum heliporto. No
entanto, quando sobrevoamos a casa da tia de Rory, uma ideia repentina surge em minha mente
ao ver uma grande área que é perfeita para o pouso.

— Espere um momento, Wilson — Peço ao piloto, a minha voz soando mais firme do
que esperava. — Mudança de planos.

— O quê? O que está acontecendo, Sr. Lewis? — Ele pergunta, claramente confuso.

Wilson me olha rapidamente com surpresa e em seguida volta a olhar para frente, mas
não hesita em atender ao meu pedido.

— Eu vi um lugar melhor para pousar. Tá vendo aquele terreno aberto ali? — Aponto na
direção do trecho de terra, sentindo uma sensação de urgência tomar conta de mim. — Pelo
que vi no mapa, faz parte da propriedade da tia de Rory, é para lá que estamos indo.

O piloto assente com a cabeça, compreendendo a mudança de planos e ajustando a


trajetória do helicóptero em direção à nova rota. Meu coração bate mais rápido enquanto nos
aproximamos do terreno. Quando finalmente pousamos, solto o meu cinto e abro a porta do
helicóptero, esperando as hélices pararem de girar e descendo com cuidado, os meus olhos fixos
na casa ao longe.

— Eu vou lá resolver a minha vida, Wilson, por favor me espere!

— Claro, Sr. Lewis. Não tenho mais nenhuma viagem programada para hoje, estou
totalmente à sua disposição. — Ele responde e eu assinto com a cabeça, elevando o canto dos
lábios em um meio sorriso de aprovação.
No momento seguinte, ando na direção da casa da tia de Rory, diminuindo a distância e
avistando a mãe de Rory junto com uma senhora que acredito ser a sua irmã. Assim que corto
toda a nossa distância e paro em sua frente, estendo a mão e a cumprimento.

— Bom dia, Senhora Megan. Me desculpe chegar desta forma, mas não tive outra opção.
— Ela me olha com os olhos assustados e logo eles disparam para outra direção, que acompanho
imediatamente e vejo a minha filha correndo atrás de uma galinha, os sons de suas risadas
quando consegue tocar a pena da ave preenchem o ar e aquecem imediatamente o meu coração.

Sorrio, tendo os meus olhos inundados de lágrimas, pois é a primeira vez que posso pegá-
la e dizer em voz alta sem ter medo de ser pego por alguém: “AQUI É O SEU PAI, MEU
AMOR.”

— Bom dia, Ethan, que surpresa te ver aqui dessa maneira. — Ela olha entre mim e o
helicóptero a alguns metros de distância.

— Novamente peço desculpa por chegar assim, mas estava tão desesperado com a falta
de notícia que não pensei duas vezes antes de voar para cá assim que descobri o paradeiro de
vocês. . — Me justifico. — Entendo que errei e tenho que me desculpar não somente com a sua
filha, mas também com a senhora por ter me recebido em sua casa. — Disparo a falar, querendo
me explicar e esperando que ela não dificulte o meu acesso a sua filha. — Na primeira vez em
que estive lá, juro que não tinha ideia de que a Fay era a minha filha, mas na segunda sim!
Admito a minha covardia em não ter conseguido revelar de imediato, mas a minha culpa termina
aí, pois, em momento algum, eu quis magoar ou ferir a sua filha. Eu amo a sua filha e quero
acertar as coisas com ela.

— Eu consigo lhe entender, meu filho. Imagino toda a angústia que sentiu neste tempo
em que guardava isso com você. — Dona Megan me tranquiliza, me olhando com os olhos
repletos de sabedoria. — Eu já vivi o suficiente para entender algumas coisas que a minha filha
ainda não é capaz de compreender e aceitar facilmente. Então, por conta disso, não há o que
perdoar. Entendo que você também foi vítima do erro daquela clínica e no fim agradeço a Deus
por ele ter apresentado vocês antes de saberem que de fato são pais da minha netinha, pois
tiveram tempo de se apaixonarem.

Sem conseguir conter o impulso que sinto e comovido com as suas palavras, reduzo a
nossa distância e a abraço, agradecendo pela sua compreensão comigo. Assim que nos
separamos, vejo uma senhora com os mesmos traços de Megan me olhando com curiosidade e a
minha filha em seu colo. Megan me apresenta a sua irmã, Georgia, que me recebe com o mesmo
carinho que ela, e Fay estica os braços em minha direção, pedindo colo.

A pego em meus braços, sentindo o meu coração disparando e levando o meu nariz em
sua cabeça, inspirando o perfume de seus cabelos. Eu estava sentindo tanta saudade disso.
Quando a levanto para admirá-la, colocando os seus pezinhos sujos de terra em minha barriga e
olhando o seu rosto, ouço uma voz familiar e muito nervosa.
— Você está louco, Ethan? — Rory inquire séria, franzindo o cenho e apontando para o
meu helicóptero. — Para que tudo isso, homem? Como você me achou ?

— Foi a única maneira que encontrei de vir atrás de você para acertarmos as coisas, já
que você anda me ignorando deliberadamente, Rory. — Passo a minha filha para a avó e
pergunto se ela pode cuidar dela para que eu e a sua mãe possamos nos entender.

Megan assente com a cabeça e se afasta de nós, levando consigo a irmã. Me aproximo de
Rory, que está irritada, mas continua linda, e como eu senti saudade dessa mulher.

— Não me sinto pronta para ter essa conversa agora, Ethan. Você vindo aqui só está
piorando as coisas, me obrigando a fazer algo que não quero.

— Você não me deixou outra opção, Rory. Não atende as minhas ligações e nem
responde as minhas mensagens, além de sumir com a minha filha.

— Ah, agora eu entendo... Está aqui por ela, não é? Eu não tenho intenção de te proibir
de conviver com ela, não se preocupe! Só preciso pensar um pouco e você por perto não iria
ajudar.

— Não é só por ela, Rory. Eu estou aqui porque te amo, porra, e porque estava
enlouquecendo sem notícias de vocês duas. — Explodo, tentando fazê-la me escutar. — Se eu
deixasse o tempo passasse demais, isso só faria com que você se afastasse ainda mais da ideia de
me ouvir, de me deixar contar a minha parte da história.

— E vindo até aqui, me forçando a te ouvir, acha que vai adiantar alguma coisa? — Ela
questiona, visivelmente contrariada. — Eu não quero ter essa conversa agora e não terei.

Rory vira as costas para mim e eu passo a mão no rosto, sentindo-o pinicar de nervoso.

— Mulher teimosa do caralho! — Avanço em sua direção e a pego, colocando-a em meu


ombro e me virando em direção ao meu avião.

— Até agora, eu não estava te obrigando a nada, mas se esse é o único jeito de você me
ouvir, eu irei te obrigar. — Ela grita, esperneando e me mandando a soltar entre alguns
xingamentos que nunca imaginei que ela fosse capaz de dizer.

Bato em sua bunda, fazendo-a se assustar com o meu gesto e parar de espernear.

— Você está pesada, amor! Se continuar assim, nós dois vamos para o chão. — Brinco.

— Você está me chamando de gorda, seu filho da...

— Oh! Essa boca suja. — A impeço de continuar, dando mais alguns tapas em sua bunda
gostosa. — Não envolva a minha mãe nestes seus xingamentos, ela não tem nada a ver com a
nossa situação.

Rory parece repensar, ficando quieta e eu só paro de andar quando chego em minha
aeronave. O piloto sai correndo do seu banco e abre a porta, me dando espaço para passar com a
minha namorada pendurada em meu ombro.

Coloco Rory sentada em um dos assentos e logo ela tenta sair, me xingando mais um
pouco. Eu entro e fecho a porta, não deixando nenhuma brecha para que ela fuja de mim e da
conversa que precisamos ter.

— Nós só vamos sair daqui quando resolvermos os nossos problemas, está me ouvindo?
— Resmungo, certo de que não mudarei de atitude.

Ela afunila seus olhos de uma maneira que seria fatal para qualquer ser mortal que já
habitou na terra, mas não para mim, porque eu sou Ethan Lewis Crack e não é uma mulher
irritada que me impedirá de fazer o que eu quero. Coloco o cinto de segurança nela, junto ao fone
de ouvido e faço o mesmo comigo, pedindo para o meu piloto levantar voo. Assim que ela
percebe o que está acontecendo, Rory grita que eu estou querendo a matar, que ela não vai
morrer e tenta sair do avião, mas eu seguro a sua mão e digo.

— Não, você não vai morrer até me perdoar por ter sido um cuzão com você

.
Capítulo 32
O helicóptero pousa em um heliponto próximo ao que parece ser uma propriedade
privativa da praia e Ethan logo tira os fones do ouvido, destravando o cinto e abrindo a porta do
seu lado. Me livro do fone e do cinto o mais rápido que consigo, ouvindo a porta do meu lado
sendo aberta e dando de cara com duas esferas azuis claras me olhando com intensidade.

Engulo em seco e seguro a mão que ele me estende, sabendo que mesmo que não esteja
pronta, chegou o momento de nós conversarmos e definirmos o nosso destino, se seguiremos
juntos como um casal ou somente como pais da Fay. Meu coração se aperta ao pensar que,
dependendo do que Ethan me diga, não conseguirei vê-lo como antes, porque para mim tem
coisas que são imperdoáveis em um relacionamento e uma delas é a quebra de confiança.

Passei parte da minha vida vendo a minha mãe perdoando coisas que achava imperdoável
e por fim o meu pai nos deixou em uma situação que, de certo modo, me colocou aqui neste
exato momento em que me encontro. Me lembro da promessa que fiz a mim mesma, de que, por
mais que a pessoa me amasse, jamais permitiria que ela me anulasse de um jeito que um dia eu
me esquecesse de quem de fato eu amo ser.

Caminhamos pelas areias da praia em um completo silêncio, sentindo o meu tênis se


afundar nelas. Ethan não solta a minha mão em momento nenhum e, somente por sentir o calor
do seu toque em mim, de alguma forma mexe comigo. Ele nos guia até a enorme casa à beira
mar e digita a senha no painel de segurança da porta, me dando passagem para entrar quando a
mesma se abre. Olho o cômodo com atenção, me perdendo na beleza da sala e me perguntando o
quão rico esse homem é?

— Rory? — Ethan me chama, tirando-me dos meus devaneios.

— Oi. — Respondo, me virando para olhá-lo.

— Vamos nos sentar ali. — Ele aponta com o dedo em direção ao sofá branco no meio da
sala enorme e nós caminhamos até lá.

Observo que a sua respiração está irregular, como se estivesse tão nervoso quanto eu.

— Rory, quero esclarecer toda a questão até que não fique nenhuma dúvida para você. —
Diz ele, me olhando nos olhos.

— Então pode começar, Ethan, não tenho mais para onde ir mesmo. — Não vou mostrar
que estou me rendendo fácil.

— Primeiramente, quero deixar bem claro que nunca foi a minha intenção te ferir ou te
magoar. De maneira alguma, quando entrei na sua vida, tinha ideia de que era pai, muito menos
imaginei que a minha filha fosse justamente a Fay. Foi somente após fecharmos o contrato que
descobri que tinha um filho e acabei desabafando com você, contando parte da história, porque
era um assunto delicado e complicado. Você lembra?! — O encaro, analisando cada linha do seu
rosto para ver se encontro algo que desminta toda a sinceridade que sinto em suas palavras, mas
em momento nenhum ele se trai ou parece estar mentindo.

Assinto com a cabeça, sem responder, deixando que ele continue a sua explicação.

— Descobri que o material que retirei para ajudar uma amiga foi usado em alguém que
eu nunca tinha visto, mas o pessoal da clínica não quis me fornecer o nome da mulher que gerou
o meu filho por engano e nem como localizá-la, então mobilizei uma equipe de advogados e
detetives para encontrá-la. Não me orgulho do método pouco convencional que usei para obter as
informações, mas estava determinado a fazer qualquer coisa para encontrar o meu filho, Rory.
Foi assim que conheci os Sr. e Sra. Scott, os ex-patrões da sua mãe, que me forneceram o
endereço da garota que tinha sido barriga de aluguel para eles, já que o contrato assinado os
proibia de mencionar o nome. — Minhas mãos começam a tremer e Ethan para de narrar a sua
versão da história. — Ei, você está bem.

Ele acaricia o meu braço e eu sinto o seu cuidado e preocupação em cada palavra.

— Estou bem, Ethan. Pode continuar! — Respondo, incentivando-o a continuar. — Só


está passando um filme na minha cabeça, você não imagina tudo pelo que passei.

— Eh! Eu sei mais ou menos o que você passou, mas não consigo imaginar o quanto
tenha sido difícil para você ser tão forte. — Ele aperta os lábios, parecendo tenso e pensativo. —
Foi somente quando cheguei em frente à sua casa que percebi que a mãe da minha filha era
justamente a garota que estava dançando para mim e a mulher por quem eu estava me
apaixonando. O momento para contar nunca pareceu o ideal e eu fui adiando, pois tinha medo de
você entender tudo errado e se magoar, e aqui estamos. Mesmo eu tentando evitar a todo custo, o
pior acabou acontecendo e sim, disso eu me sinto completamente culpado. Eu deveria ter
previsto e evitado, mas fui covarde e fiquei com medo de te perder e agora eu posso mesmo ter te
perdido.

Ele abaixa a cabeça, deixando transparecer o quanto está abatido e que não há mais nada
o que possa dizer para me convencer de suas intenções. O meu coração dispara e quase posso
crer que ele pode ouvi-lo de onde está. Guiada pelo meu instinto de querê-lo mais do que tudo,
ergo o meu braço e toco o seu queixo, erguendo-o até os meus e vendo os seus olhos apáticos.
— Eu também te amo, Ethan! Eu escutei as duas vezes que me disse, só não estava
pronta para responder. Eu também te quero junto com a Fay e a família que nós podemos formar
juntos. — Sorrio, certa de que a minha vida, de agora em diante, nunca mais será a mesma, ao
mesmo tempo em que vejo o brilho nos olhos do homem que eu amo se acendendo.

Ele me puxa para o seu colo e eu agarro o seu pescoço, os nossos lábios se encontrando
com ânsia.

— Como senti falta disso, amor! — Ele me encara, enquanto leva as mãos para a barra do
meu vestido.

Ethan começa a subi-lo lentamente pelo meu corpo e eu o ajudo, erguendo os braços e
sentindo-o passar por eles. Meu namorado joga o vestido no chão, me deixando somente de
calcinha e sutiã.

Percebo o quanto a sua respiração está errática e ele tenta controlá-la. Ethan me confere
com o olhar devasso e um sorriso sacana se estende em seus lábios no mesmo instante em que
me puxa mais para si, afundando a boca na curva do meu pescoço e o mordendo e chupando, me
fazendo ondular em sua calça e sentir o seu membro duro.

Fecho os olhos, a sensação do mínimo contato com ele sendo maravilhosa. Assim que ele
chega em minha orelha, rodeia a língua em toda a extensão e suga devagar para dentro de sua
boca, me fazendo gemer com o estímulo. Me encolho, entretanto, ele me mantém firme com suas
mãos deslizando em minha cintura.

Ethan esfrega a minha pelve em seu membro em um sobe e desce, gemendo rouco
quando intensifica o movimento. Olho para baixo e os seus lábios se encontram entreabertos,
enquanto ele me encara como se eu fosse única. É assim que esse homem me faz sentir toda vez
que estou em seus braços.

Com o olhar fino, Ethan acaricia a minha bochecha com o polegar até tocar os meus
lábios e eu abocanho o seu dedo, chupando-o e lambendo-o. Ele sobe o quadril e bate em minha
boceta, que pulsa por ele e a única barreira entre nós dois é a minha calcinha e a sua calça. Sem
aviso, ele pende a cabeça para frente e aproxima os seus lábios dos meus, em uma leve roçada, se
afastando logo em seguida, o que só aumenta o meu desejo por ele.

A sua respiração quente bate em meu rosto, arrepiando-me, e sem mais demora, as nossas
línguas se encontram com força e desejo. Ele move a cabeça para um lado enquanto segura firme
por baixo do meu cabelo. Nossas línguas dançam, enquanto sinto as suas mãos passearem pelo
meu corpo, parando somente quando chega na minha bunda e a aperta forte, do jeito que eu
gosto.

Rebolo em seu colo, roçando a minha boceta quente no seu pau duro, o sentindo se
apertar mais e mais dentro da calça. Me inclino um pouco para frente e passo a mão pelo volume
de sua calça, enquanto o olho, mordendo os lábios vagarosamente e fazendo o seu pau reagir de
imediato.

Ah, como eu quero esse homem e sentir o seu pau todinho em mim.

— Eu vou te chupar, Ethan. — Aviso, vendo os seus olhos brilharem em expectativa.

Me ajoelho no chão frio de porcelanato enquanto o olho, desafivelando o seu cinto e


abrindo o botão da calça, descendo a peça pelas suas pernas torneadas. Ele escorrega o corpo
mais para baixo e, sem paciência, libero o seu membro grosso e rosado de dentro da cueca, a
retirando também.

Ele é perfeito!

Abaixo a cabeça em direção ao seu membro, enquanto sinto os dedos de Ethan se


enrolarem em meus cabelos. Com uma mão, seguro firme o seu membro e deslizo a minha língua
pelo seu saco, arrancando gemidos roucos de sua garganta. Rodeio a cabeça do seu pau e chupo
com vontade, ouvindo um palavrão baixo enquanto os seus dedos se apertam mais em volta dos
meus cabelos.

Fico brincando com o seu pau duro na minha boca até que ele me afasta, dizendo que não
quer gozar na minha boca hoje e sim em minha bocetinha apertada, que está morrendo de
saudades de senti-la em volta do seu pau, ordenhando com vontade.

Rapidamente invertemos as nossas posições e ele tira o restante de suas roupas com a
minha ajuda. Me deito no sofá e Ethan leva as mãos atrás das minhas costas, desabotoando o
meu sutiã e fazendo com que os meus seios saltem para frente. Em seguida, contorna o dedo pelo
meu seio e rodeia o meu mamilo, que fica duro na hora ao seu toque.

Ethan puxa a minha calcinha para baixo e eu balanço o quadril até que ela pare no chão.
Antes de friccionar os dedos em meu clitóris inchado, ele abaixa a cabeça entre as minhas pernas
abertas e cheira a minha boceta, passando a língua lentamente e flexionando o meu clitóris, me
fazendo gemer e agarrar a almofada do sofá com as unhas.

Jogo a cabeça para trás e mordo os meus lábios, no mesmo instante em que fecho os
olhos e sinto o estômago vibrar em cada lambida lenta e quente enquanto ele apenas brinca com
o meu clitóris até que não consigo resistir e me derreto em sua boca. Ethan me suga com vontade
e eu abro mais as pernas, o deixando ver a minha boceta brilhando pelo gozo que ele acaba de
me proporcionar.

— Senta gostoso no meu colo , vai, Rory! Quero ver o meu pau batendo bem no fundo
dessa sua bocetinha gostosa. — Ele se senta no sofá e eu fico de costas para ele, com as pernas
abertas na altura do seu quadril.

Ele segura a minha cintura com as suas mãos pesadas e firmes e, em um movimento
rápido, bate o seu pau duro devagar no meu clitóris. Estremeço, sentindo todos os pelos do meu
corpo se arrepiarem. Logo em seguida, sou preenchida por completo pelo seu pau.

Ethan se move devagar e eu subo e desço, sentindo os músculos da minha perna


trabalhando freneticamente, até que mudamos de posição. Fico de joelhos, com o peito apoiado
no encosto do sofá branco de couro gelado e ele volta a se enterrar em mim. Cada estocada sua
me faz gemer mais alto e eu me aperto em volta de seu membro, o fazendo gemer também.

Sinto o meu corpo se desfazer em espasmos e mais espasmos, gozando em seu pau. Ele
não para de entrar e sair de mim, indo cada vez mais rápido e intenso, quase não me deixando
respirar. Ethan avisa que vai gozar na minha bucetinha apertada, me fazendo gozar mais uma vez
enquanto sinto o seu líquido quente me preenchendo. Caímos sem força no sofá, completamente
suados e saciados.

Ethan me puxa para cima do seu corpo e me beija, dizendo que me ama. Retribuo a sua
declaração, sentindo o seu líquido quente escorrendo pelas minhas pernas. Neste momento,
agradeço por fazer uso de anticoncepcional.
Capítulo 33
— Está com frio, amor? — Ethan me pergunta, passando os seus braços em volta do meu
corpo e me aquecendo antes mesmo que eu possa responder.

Sorrio com o seu gesto, me aconchegando ainda mais junto ao seu corpo.

— Um pouco, amor. Mas nós podemos fazer algo para esse friozinho ir embora
rapidinho... — Respondo, usando um tom sugestivo na voz.

— O que, por exemplo? — Ele me questiona, me olhando profundamente e abrindo um


sorriso safado, enquanto esfrega o seu corpo no meu.

É claro que o meu dá sinais ao mínimo estímulo do seu, mas sabendo o que a sua mente
safada cogita, me afasto rapidamente e corro com os meus pés afundando na areia branca. Os
primeiros raios do dia tocam a minha pele, enquanto vou até o mar, mergulhando os meus pés na
água que está tão gelada que faz todo o meu corpo se arrepiar.

Chuto a água em direção a Ethan, que para de correr no mesmo momento e estende a mão
à frente do corpo, em um gesto de proteção, mas eu continuo a jogar água com os meus pés nele,
que fecha os olhos e sorri, fazendo o mesmo comigo e ficamos nessa brincadeira por algum
tempo, até estarmos cansados e completamente molhados.

Seus braços fortes me puxam contra si, me pegando no colo e eu envolvo as minhas
pernas em volta da sua cintura, encontrando o caminho de seus lábios e me perdendo neles.
Pouco tempo depois, caminhamos para casa com a promessa de que não demoraríamos para
voltar aqui, pois ambos queremos apresentar o mar para a nossa filha.

Tiro o camisão molhado de Ethan e substituo pelo meu vestido. Após isso, desço as
escadas e ficamos no sofá, fazendo planos para o futuro. Quando o seu helicóptero aterrissa no
heliponto que descobri pertencer a sua propriedade, saímos da casa de praia de mãos dadas e
seguimos em sua direção.

Antes de entrar na aeronave, olho para trás e admiro o mar que faz parte do seu quintal,
ponderando o quão louco é saber que o meu namorado tem uma praia só para si. É assustador
perceber que o pai da minha filha pode ter tudo o que o dinheiro pode comprar e tenho medo de
que a Fay cresça achando que é melhor do que os outros por causa da situação financeira dele.

Eu vim de um mundo onde precisei aprender desde cedo o valor de cada coisa e nem
todas elas eu poderia ter. Lutei muito para conquistar tudo o que tenho hoje e agora saber que a
história da minha filha será completamente diferente ao mesmo tempo me alegra e me assusta.
Me alegra saber que ela não passará pelas mesmas dificuldades que eu, mas também me assusta
pensar que talvez eu não saiba mostrar para ela o caminho certo e evitar que se torne uma pessoa
corrompida pelo mundo que vive e todo o poder que tem. Pois, por mais que ouça dizer que não,
eu sei que dinheiro é poder.

Ethan me ajuda a subir no helicóptero e assim que nós entramos, ele me apresenta ao
piloto, já que na primeira vez que nos vimos não houve uma apresentação. O homem é gentil
comigo e nós trocamos algumas palavras, antes que ele se volte na direção de Ethan.

— Ah, eu já ia me esquecendo do que você pediu, Sr. Lewis. — Ele estende uma caixa
retangular na direção de Ethan. — O Joe me entregou isso antes de eu levantar voo para cá.

— Nossa, eu já estava ficando louco sem o meu celular. — Comenta, pegando a caixa e
agradecendo ao piloto. — Obrigado por trazê-lo, Wilson.

— O que aconteceu com o seu antigo aparelho, Ethan?— Pergunto, curiosa.

Ele aperta os lábios, parecendo sem graça, ao mesmo tempo em que os seus ombros se
encolhem.

— Eu estava me sentindo frustrado e estressado e acabei que descontei nele. — Revela.

— Nossa! — Exclamo, surpresa ao saber que ele quebrou um celular porque estava
estressado e frustrado.

Olho pela janela e aprecio a viagem de Hampton até onde a minha tia mora. E logo que
pousamos no mesmo terreno onde Ethan aterrissou quando veio atrás de mim, encontramos
minha mãe e a tia Georgia nos esperando com as bolsas de Fay, mas ela está correndo atrás da
galinha e os pintinhos.

—Filha, a mamãe chegou. — Chamo a sua atenção. — Eu estava morrendo de saudades


da minha gostosa e você não está nem aí para mim.

Ela me olha, levantando as mãozinhas para o alto e dizendo:

— Oh, có có có. — Minha tia pega um pintinho e entrega para a Fay, que junta a
boquinha e balança os bracinhos dando estremilique antes de colocar o dedinho na pena.
Logo em seguida, ela se sente mais confiante e segura, vindo correndo até onde me
encontro com o pintinho nas mãos.

— Mamã, piu piu piu. — Ela imita o animal.

— Oh, esse é o som que o pintinho faz, filha, e a galinha, qual é? — Pergunto, abrindo
um sorriso encantado para a minha bebê.

— Có có có, mamã. — Reproduz o som.

— Nossa, ela realmente está apaixonada pelas galinhas. — Comenta a tia Georgia,
achando graça da animação da minha filha.

— Aí, tia, eu estou vendo isso. ” Ethan se aproxima mais da filha, se abaixando na sua
altura e começando a conversar com a Fay.

Logo em seguida, ele se levanta com ela no colo.

— Filha, temos que ir, o papai precisa trabalhar. — Falo, apontando para o Ethan.

Fay levanta a cabeça e me olha com os seus olhinhos brilhantes e ao mesmo tempo
curioso, parecendo absorver o que eu acabo de dizer a ela com uma mistura de inocência e
fascinação.

— Papa? — Ela repete a palavra, parecendo testá-la em sua língua enquanto desvia o
olhar para o Ethan.

— Sim, meu amor, eu sou o seu papai. — Ele murmura, mal conseguindo conter a
emoção em sua voz.

Ethan abraça a nossa filha com carinho, acariciando o seu bracinho e depositando um
beijo em sua testa.

— Papa, Piu Piu Piu… — Ela empurra o peitoral de Ethan, fazendo com que ele se afaste
um pouco para não amassar o coitado do pintinho, que, além de estar nas mãos de Fay, também
estava quase sendo prensado pelo Ethan.

Mas ele consegue disfarçar as lágrimas que começam a se formar nos cantos de seus
olhos, enquanto ele olha para a nossa filha em seus braços com amor e fascinação.

— Acho que nós vamos ter que levar o pintinho, Rory. Ela está encantada pelo bichinho e
acredito que não vai querer largá-lo nem tão cedo. — Comenta. — Será que a sua tia vai se
importar?
— Humm, amor, tem certeza disso? — Indago, sabendo que isso é um caminho sem
volta. —A nossa filha gosta de todo tipo de animal, se você for querer adotar todos os bichinhos
que ela gosta, os próximos serão o au au e o miau.

— Shhh, então acho que serei obrigado a comprar uma fazenda para abrigar todos eles.
— Ethan comenta, parecendo pensativo, e eu franzo o cenho, mal conseguindo acreditar que ele
possa estar falando sério sobre comprar uma fazenda para a filha que não tem nem dois anos
direito.

Pouco tempo depois, estamos indo embora não só com os pintinhos, mas também com a
galinha dentro de uma caixa com furos.

— Ah, eu sinto tanto por vocês não poderem ficar mais. — Minha tia comenta, abraçando
Ethan.

— Eu também, dona Georgia! Mas acredito que não faltará oportunidade de agora em
diante. — Ele abraça a minha tia, que parece toda derretida com a sua gentileza.

Assim que ela se solta do seu abraço e vira para mim, minha tia faz um sinal com a mão e
diz:

— Escolheu bem, hein? Além de bonitão, também é cheiroso e educado. — Eu rio.

Tenho poucas lembranças da nossa convivência quando criança, mas lembro o quão era
especial para mim esses momentos.

— Mãe, vai mesmo ficar um pouco com a tia? — Pergunto.

— Vou sim, filha, vou fazer valer a passagem até aqui, quero visitar a minha outra irmã.
Agora que vocês se acertaram, sei que tem alguém para te ajudar com a minha netinha, então fico
mais tranquila.

— Tá bem, Então. Aproveite esses dias de descanso e mande um beijo para a tia Grace.
— Falo, a abraçando. — Eu vou morrer de saudades da senhora, mãe.

— Morre nada, meu amor. Agora você terá coisas mais interessantes para se ocupar...—
Ela pisca em direção ao Ethan e parece que ela e a minha tia estão afiadas hoje.

Nós nos despedimos e entramos no helicóptero, vendo ele subir enquanto tenho a
sensação de felicidade me dominando. Eu não poderia querer mais nada além disso.
Capítulo 34
Uma semana depois…

Subo as escadas de casa, indo direto para o meu quarto, onde provavelmente a Rory deve
estar terminando de se arrumar com a Fay para o almoço na casa dos meus pais, já que não a
encontrei aqui embaixo. Meus pais estão extremamente ansiosos para conhecer a neta e já me
ligaram para confirmar se eu irei mesmo, já que tive que sair para trabalhar em pleno domingo,
por ter sido uma semana mais agitada que o normal.

Esses dias tem sido uma loucura só e com o aniversário do pequeno Aaron, ainda não tive
tempo de levar a minha namorada e filha para conhecer os meus pais, que estão me cobrando
diariamente por essa visita. Além disso, Rory e eu ainda estamos nos acostumando com a ideia
de sermos nós três aqui em casa desde que voltamos da Pensilvânia.

Usei a desculpa de Rory vir aqui para casa para não ficar sozinho com a nossa filha na
casa onde mora com a mãe, mas a verdade é que não pretendo mais deixá-la ir. Não quero mais
viver sozinho nesta casa enorme depois de todo o barulho e bagunça que sei que pode ser com
elas na minha vida. Há uma semana que não escuto mais os meus passos sobre a madeira, pois
logo que chego, Fay vem ao meu encontro com gritinhos, enchendo o meu coração de alegria.

Tenho duas novas motivações para voltar para casa. O trabalho já não é mais a minha
prioridade, pois agora se tornou apenas um meio de sustentar a minha família.

Empurro a porta do meu quarto e encontro as duas dormindo na minha cama. Fico
parado, admirando-as por um tempo, até que Rory abre os olhos vagarosamente, percebendo a
minha presença no quarto.

— Oi, amor! Está aí há muito tempo? — Ela me pergunta, com um sorriso doce nos
lábios.

— Não, amor, acabei de chegar. Vocês estavam tão lindas dormindo que eu não quis
acordá-las.
— Ah, lindo é você, meu magnata! — Ela se levanta com delicadeza, para não acordar a
nossa filha, que dorme com um lindo vestido lilás.

Em seguida, Rory fica de pé em minha frente e eu confiro o quão linda ela está,
mordendo os lábios.

— Estou arrumada, só preciso colocar a sandália, mas... — Ela suspira.

— O que foi? — Indago, cortando a nossa distância e segurando a sua cintura.

Rory hesita por um momento, os seus olhos mostrando uma sombra de nervosismo.

— Estou um pouco nervosa, Ethan. Vou conhecer os seus pais hoje e... bem, tenho medo
de que eles não gostem de mim.

Sinto a tensão em seu corpo e a tranquilizo com um abraço reconfortante.

— Eles vão adorar você, Rory. Assim como eu adoro. Você é incrível e eles vão perceber
isso assim que te conhecerem, amor.

— Eu espero mesmo, Ethan. Mas obrigada por tentar me tranquilizar. — Ela agradece,
afinando os olhos em minha direção

esfrego os nossos narizes um no outro e logo tomo os seus lábios em um beijo gostoso.
Em seguida, espero ela calçar a sandália enquanto pego as bolsas para passarmos o restante do
dia na casa dos meus pais.

Rory desce as escadas com a nossa filha ainda dormindo no colo, enquanto eu sigo atrás
dela com as bolsas, admirado com a quantidade de coisas necessárias para apenas algumas horas
fora de casa.

Assim que saio pela porta, vejo a galinha Loló passar com os seus seis pintinhos atrás e
sorrio. Nunca imaginei que teria esse tipo de bicho de estimação, mas ver a minha filha feliz me
faz sentir que sou capaz de abrigar um elefante no meu quintal.

Caminho até a garagem e destravo as portas, guardando as bolsas de Fay ao lado do bebê-
conforto onde a Rory acaba de acomodá-la. Entramos no carro e seguimos para casa dos meus
pais. Assim que estaciono o carro em frente a casa e desço, encontro os meus pais em pé nos
esperando com sorrisos ansiosos em seus lábios.

Eles avançam em minha direção e a minha mãe me abraça, girando o pescoço de um


lado para o outro, como se procurasse pela nora e neta . Sorrio, abrindo a porta do carro e
estendendo a minha mão para Rory, que imerge de dentro. A apresento aos seus sogros e ela olha
para a minha mãe e depois para mim.
— Oh, meu Deus, nem posso acreditar que a senhora é… — Rory parece tão emocionada
que não consegue falar o nome da minha mãe. — Catharine Lewis…

— Sim, sou eu mesma, minha querida. Sou mãe desse homem lindo e agora sua sogra e
avó da Fay. — Minha mãe engole em seco, também emocionada.

— É muito bom te conhecer, Sra. Lewis! Estava muito ansiosa por isso. — Rory aceita o
cumprimento de mão de minha mãe, que logo vira um abraço caloroso. Desculpe-me a minha
reação, mas é que sou uma grande fã sua. Cresci assistindo as suas apresentações pela internet e
me inspiro muito em você quando danço.

— Nossa, não vai me dizer que você também dança? — Minha mãe pergunta empolgada,
esquecendo completamente de mim.

Olho para o meu pai, que ergue as sobrancelhas, e eu cruzo os braços, observando a
interação das duas.

— Não como a senhora, mas sim, danço desde criança. — Rory comenta, me parecendo
tímida ao confessar entre um sorriso.

Minha mãe chama o meu pai e apresenta a minha namorada para ele, que a cumprimenta
animado. Logo em seguida, Rory segura a mão da minha mãe e as duas caminham até o banco
de trás, onde a Fay se encontra dormindo na cadeirinha, completamente alheia a toda agitação
que se faz aqui fora. Ao abrir a porta, minha mãe leva as mãos aos lábios e depois segura o peito,
que sobe e desce rápido. Ela olha para mim e sorri.

— Nossa, ela é linda demais, filho! — Minha mãe comenta, com os olhos nadando em
lágrimas, encantada pela neta que dorme, fazendo uns biquinhos.

Confesso que também passo minutos a fio a vendo dormir, brincar, andar, falar. Mesmo
que ainda não consiga falar algumas coisas, para mim é tudo tão perfeito. Não me canso de olhar
para a minha família.

— Sim, ela é linda mesmo, mãe! — Comento, me aproximando e colocando uma mão no
ombro de Rory. — E pensar que tudo começou com um pequeno erro na clínica de inseminação.
Mas olha só para nós agora, uma família de verdade.

Minha mãe sorri, os seus olhos ainda brilhando de emoção.

— A vida tem as suas próprias maneiras de nos surpreender, não é mesmo, meu filho?
Mas o que importa é o amor e o vínculo que vocês compartilham.

— Como sempre, a senhora tem toda a razão, mãe. — Digo, me curvando para frente e
beijando a sua cabeça.
Em seguida, pego a minha filha na cadeirinha com cuidado e nós entramos. Logo sinto o
cheiro de comida caseira, como era de se esperar. Sentamos na sala e como a Fay continua a
dormir em meu colo, conversamos. Até que a minha filha começa a se mexer e lentamente abre
os olhinhos.

— Amor, acho que ela está acordando. — Comento, olhando para a minha namorada.

— Ótimo, amor. Já era hora, essa preguiçosa já dormiu demais. — Ela responde,
acariciando o pezinho da nossa filha.

— Olá, minha princesa. — Murmuro para a Fay, beijando suavemente o topo de sua
cabeça, enquanto ela olha ao redor, os seus olhinhos curiosos explorando o ambiente
desconhecido, mas que em breve estará impregnado em todas as suas memórias.

Ela se senta rápido e os meus pais se aproximam.

— Olá, vovô e vovó! — Exclamo sorrindo, levantando o braço da minha filha, enquanto
vejo os meus pais se aproximarem.

— Oh, ela parece uma bonequinha, meu filho. — Diz minha mãe, estendendo os braços
para pegar a Fay.

— Como você está, minha pequena? — Meu pai pergunta suavemente, com um brilho de
alegria nos olhos.

Fay olha para eles com curiosidade, os seus olhos brilhando com interesse, enquanto ela
se acomoda em seus braços.

— Vai ser tão incrível vê-la crescer a cada dia, construir memórias nossas para o futuro.
A vida está tão animada, meu bem, que não posso me conter. — Murmura minha mãe,
acariciando gentilmente a cabeça da neta.

Eu me deixo levar pela ternura do momento, observando a minha filha interagir com os
meus pais com uma mistura de orgulho e felicidade. Este é um daqueles momentos em que
guardarei para sempre em meu coração. Me aproximo mais de Rory, que também assiste à
interação dos meus pais com um sorriso e passo o braço em volta do seu ombro. Juntos,
compartilhamos um olhar cúmplice, apreciando o vínculo que está se formando entre a nossa
filha e os meus pais.

Um tempo depois, somos chamados para o almoço e a tarde passa tão rápido que mal
posso acreditar quando nos despedimos dos meus pais. Eles ficam com os olhos brilhantes ao nos
ver cruzando o portão, com a promessa de que voltaríamos com mais frequência, pois quero que
a minha filha conviva mais com eles.
— Rory, você se importa se eu parar aqui? — Paro o carro em frente a uma floricultura e
olho para a minha namorada. — É que preciso passar em um lugar.

— Claro, amor. Não há problema. — Mesmo vendo claramente a curiosidade em seu


olhar, ela não me questiona, apenas me responde com um sorriso gentil.

Saio do carro e entro na floricultura, comprando um buquê com as flores preferidas de


Madson. Em seguida, dirijo até o cemitério e estaciono um pouco à frente. Deixo um beijo no
rosto de Rory e aviso que não vou demorar. Olho para a minha filha dormindo e sorrio, ela está
cansada, brincou muito na casa dos meus pais.

Caminho com as flores até a lápide da mulher que amei tanto um dia, que achei que não
fosse suportar a sua perda. Foram cinco anos em que apenas empurrava um dia após o outro,
sentindo que o vazio da minha vida sem ela iria me sufocar. Me ajoelho diante do túmulo,
colocando cuidadosamente o buquê de flores frescas. Uma sensação de saudade, misturada com
gratidão por todo o tempo que vivemos juntos, me invade enquanto olho para a lápide, perdido
em pensamentos e memórias da nossa história juntos.

— Pela primeira vez em muito tempo, consigo entender o motivo de você ter me feito
jurar que, se algum dia um de nós partisse primeiro, o outro iria continuar a fazer tudo para
superar e ficar bem. Hoje entendo que você se preocupava mais comigo, pois sabia que eu ficaria
preso em você, em nosso passado e em todo amor que tínhamos. E se não fosse pelo acaso, com
a ajuda do destino, não me abriria novamente para o amor. — Puxo uma lufada de ar para dentro
dos pulmões, recuperando um pouco de fôlego e continuando a falar. — Sempre te disse que era
homem de uma mulher só e sempre me orgulhei disso, mas hoje eu sei que consigo seguir sem
você e amar outra vez, porque cada amor é de um jeito. Mas agradeço por tudo o que vivemos
juntos.

Suspiro, pensativo.

— Ei, Mad,, hoje você completaria quarenta anos. E, mesmo que não esteja mais aqui
conosco, a sua ausência é uma dor que jamais desaparecerá. Ah, como eu adoraria estar em uma
daquelas suas festas loucas, com um monte de gente, risadas e bebidas. No fim, essas festas
sempre me deixavam um pouco irritado, lembra? Mas eu sempre concordava com as maiores
loucuras só para ver o sorriso em seu rosto. No entanto, Mad, estou bem agora. Se mesmo aí de
onde você está, você ainda se preocupa comigo, saiba que não precisa mais se preocupar. Você
pode dar suas festas aí no céu, enquanto aqui embaixo estou encontrando a minha própria
maneira de seguir em frente e me divertir. Mesmo assim, saiba que você estará sempre em meu
coração. Te amo e sinto muita falta de você, minha querida Madson. — Toco a parte do seu
nome gravado na lápide com carinho, me levantando e levando a minha família para casa, mais
certo do que nunca da decisão que tomei.
Estou na cozinha de casa, cuidadosamente mexendo na massa enquanto uma doce
melodia preenche o ambiente, criando uma atmosfera tranquila. Meus nervos estão à flor da pele,
mas estou animado e cheio de antecipação pelo que está prestes a acontecer. O som dos passos
de Rory ecoa pelo ambiente, descendo as escadas e vindo em minha direção.

Meu coração parece querer saltar do peito, enquanto levanto o meu rosto para vê-la se
aproximando, linda como sempre. Com um grande esforço, tento disfarçar o meu nervosismo e
continuo mexendo na panela, preparando o molho branco que irá acompanhar a massa.

— O cheiro está ótimo, Ethan! — Rory elogia, envolvendo-me com os seus braços e
depositando um beijo suave em minhas costas. — O que você está fazendo para nós hoje,
amor?

Um arrepio percorre a minha espinha com o calor do seu toque, quase me fazendo largar
a panela e tomá-la em meus braços.

— Apenas uma massa simples, amor. Nada de especial. —.

— Precisa de ajuda? — Ela pergunta, demonstrando o seu desejo de contribuir.

— Está tudo sob controle. — Respondo, tentando esconder o nervosismo que me


consome. — Na verdade, amor, esqueci o vinho na adega. Você pode pegá-lo para mim, por
favor? — Vejo uma ótima oportunidade para colocar o meu plano em ação.

Ela concorda com a cabeça e se afasta, caminhando em direção à adega. Enquanto isso,
me preparo para o momento crucial. Quando Rory abre a porta da adega, o seu espanto é
evidente. Ela leva a mão à boca e os seus olhos brilham de surpresa. Sigo sorrindo,
acompanhando os seus passos curtos enquanto ela parece não acreditar no que os seus olhos
veem.

Rory para em frente a um caminho de pétalas vermelhas que preparei e diante de um arco
de coração feito de rosas da mesma cor. Sei que pedir uma mulher em casamento assim pode
parecer brega, mas o amor é eterno e tudo vale a pena. No meio do caminho, estão as palavras
em dourado: “Rory Jackson Davis, quer casar comigo?”
— Oh, meu Deus, Ethan, isso é... — As palavras de Rory morrem em seus lábios no
mesmo instante em que ela se vira para mim e estou de joelhos, segurando a caixa com o anel do
pedido.

Seus olhos se enchem de lágrimas.

— Rory, antes de você, eu não acreditava que fosse possível amar novamente, mas
depois de você, eu sei que é possível e te amo com toda a força que ainda tenho. Não quero que
você saia da minha vida nunca mais. Quero acordar ao seu lado, fazer planos juntos e vê-los se
tornarem realidade. Pensando em tudo, você aceita se casar comigo, meu amor, e me tornar o
homem mais feliz desse universo? — Minha voz sai embargada pelo turbilhão de emoções que
me consome.

Ela começa a pular, rir e chorar ao mesmo tempo. Logo em seguida, Rory balança a
cabeça afirmativamente, estendendo a mão em minha direção. Com cuidado e tremor nas mãos,
deslizo o anel em seu dedo anelar, selando o nosso compromisso para toda a eternidade.

Impulsionada por uma felicidade incontida, ela me abraça tão forte que nós caímos para
trás, sorrindo antes que os nossos lábios se encontrem em um beijo repleto de amor e promessas.
Sinto que a minha vida está completa mais uma vez, agora ao lado da mulher que eu amo.

Fimm!
Epílogo

Rory
Cinco anos depois...

Sentada na cadeira acolchoada da ante-sala de espera do teatro, refaço mentalmente


alguns passos com os olhos cerrados, enquanto o meu estômago se contorce de nervosismo.
Parece que é a primeira vez que vou me apresentar, mas a emoção de subir ao palco é tão intensa
que transforma tudo como se fosse a minha estreia.

Revivo toda a minha trajetória até aqui e não posso acreditar que a menina de cinco anos
venceu e realizou o grande sonho de dançar em uma grande companhia de dança. Sinto os meus
olhos marejando, enquanto o meu peito se aperta. Não direi que foi simples e fácil, mas foi uma
jornada que só eu tinha que trilhar até chegar aqui.

— Rory, está pronta? — Roger questiona,, chamando a minha atenção. — Os outros


bailarinos já estão se dirigindo ao palco.

Me volto em sua direção com um sorriso, antes de ficar de pé e responder:

— Sim, é claro. Esperei a minha vida toda por este momento, então me sinto mais do que
pronta — Confirmo, sentindo a emoção borbulhando dentro de mim.

No mesmo instante, ajeito a minha roupa, pois irei interpretar a Malévola no palco. Hoje
é o último dia do musical que ficou por meses em cartaz na Broadway. Sim, é Broadway, e não
posso negar que irei manter o costume de comprar o meu próprio bilhete para guardar como
lembrança.

Sigo pelo corredor e, assim que ouço os acordes da música, observo com os olhos úmidos
a minha filha interpretando a Malévola na primeira fase, quando ela conhece o seu melhor
amigo. Fay me disse que conseguiria, que não ficaria com vergonha e provou isso. Ela está
perfeita!

Meu peito se enche de orgulho enquanto me emociono ao vê-la. Assim que ela termina,
minha garotinha sai do palco e entra atrás das cortinas. Fay está com os olhos atentos, me
procurando e quando me encontra, sei que quer a minha aprovação.

— Eu consegui, mamãe. — Ela fala, animada, e eu sorrio abertamente para a minha


pequena bailarina.

— Sim, meu amor! Nunca duvidei nem por um segundo que você não conseguiria,
minha pequena Malévola. — Digo, completamente orgulhosa da minha filha. — Você estava
linda e perfeita!

Antes que ela possa falar mais alguma coisa, Roger faz sinal, indicando que chegou a
minha hora de entrar com os demais bailarinos. Danço com Peter, que faz o Stefan, enquanto o
cenário vai se modificando atrás de nós, representando as fases dos personagens.

Em determinado momento da apresentação, saio do palco e me troco rapidamente,


enquanto a jornada de Stefan continua até o momento em que ele deixa a ambição falar mais alto
e trai a sua melhor amiga. Me deito no chão para viver o momento em que Malévola tem as suas
asas arrancadas. Expresso toda a dor pela traição em passos perfeitamente coreografados,
entregando-me completamente à dor e à escuridão que invade a personagem.

Cada arabesque, cada plié, conta a história da busca por redenção e vingança. Deixo todo
o amor que sinto pela dança me consumir por inteira neste palco, deixando a emoção fluir em
cada movimento que faço. Durante alguns ensaios, achei improvável, mas a vida de uma
bailarina está atrelada à dor e à paixão. Mesmo que os meus músculos queimem, continuo a
dançar, sendo erguida pelo sentimento avassalador que me consome.

As fases da história vão passando até que Aurora, filha de Stefan, cresce. Danço junto
com Aurora, expressando o nosso encontro do mais puro de todos os sentimentos. Em um
momento de desespero, quando a maldição que lancei sobre Aurora parece irreversível, o amor
que sinto por ela emerge como uma luz em meio à escuridão. Meus movimentos fluem com uma
intensidade emocional, cada arabesque e cada pirueta expressando a angústia e a esperança que
lutam dentro de mim.

Chega o último ato, quando Aurora se encontra adormecida e o desespero e a culpa me


invadem. Ajo com sutileza ao me abaixar, segurando o seu rosto e expressando toda a dor e
arrependimento. Então, ergo-me novamente e danço ao seu redor, como se fizesse uma prece
silenciosa, um pedido desesperado ao universo pela salvação de Aurora. E é nesse instante que a
magia acontece. Um brilho suave envolve Aurora e vejo os seus primeiros sinais de vida
retornando ao seu corpo adormecido.

Estendo a mão para ela e ela a segura, erguendo-se para dançarmos juntas no último ato,
enquanto todos os bailarinos também dançam ao nosso redor até a música se findar e as luzes se
apagarem.

Quando voltam a se acender, estamos todos nós bailarinos no palco, de mãos dadas e
seguindo até a frente para fazer a reverência, diante da explosão de salvas de palmas que fazem o
meu peito subir e descer de alegria. Ao olhar para a primeira fila, vejo o meu marido, os meus
sogros, a minha mãe, Joe, a minha amigas Lility e o seu marido Alex, Suzan, que depois do
segundo casamento decidiu que não se casaria mais, apenas se divertiria muito, Brenda, Maya,
que se tornaram minhas amigas também, e Aaron.

Ao sair do palco, segurando os dedos de Fay, caminhamos juntos aos demais até o
camarim. Inicialmente, há uma salva de palmas enquanto trocamos olhares carregados de
nostalgia, dever cumprido e felicidade por termos entregado tudo o que se esperava. A verdade é
que ultrapassamos as expectativas. Todas as cadeiras estavam ocupadas e recebemos até elogios
das críticas, tanto pelo figurino quanto pela emoção que transmitimos através dos movimentos
dos nossos corpos.
Logo nos abraçamos um a um, até que me viro e encontro o olhar intenso do meu marido
em mim. Ethan corta a nossa distância e para na minha frente com dois buquês de flores, um para
mim e outro menor para a nossa filha. Seu sorriso é tão lindo que a cada dia me faz me apaixonar
ainda mais por ele.

— Que lindas, amor! — Falo, pegando o buquê e beijando os seus lábios. — Muito
obrigada!

Ele segura a minha cintura e me puxa para mais perto de seu corpo, e quando percebo que
pretende aprofundar o beijo, me separo, mostrando a nossa filha com a sobrancelha erguida. Ele
sorri, a pegando no colo.

— Minha princesinha bailarina — Ethan a beija e entrega o seu buquê.

Fay sorri, olhando para as flores coloridas por alguns segundos e voltando a olhar para o
pai.

— Papai, você viu como eu dancei? — Ela pergunta, ansiosa pela resposta do pai.

— Claro que vi, meu amor. Vocês estavam perfeitas naquele palco. — Ele responde,
cheio de orgulho. — Me emociono toda a vez que vejo a minha pequena dançando tão
lindamente.

Sinto que Fay não poderia ser diferente. Ela começou a fazer balé aos três anos, por
vontade própria, sempre me acompanhando durante as aulas para as crianças e replicando os
passos que eu executava em meus ensaios. Quando visitava a avó paterna, enquanto ela tocava
piano, Fay mostrava os seus passos, inicialmente desajeitados, mas com o tempo, começamos a
ver uma enorme evolução. Agora, aos sete anos, ela dança como uma criança de doze que faz
balé desde os quatro.

— Vamos comemorar, amor? — Ethan convida, segurando a nossa filha e me olhando.

— Vamos sim, amor, eu vou adorar. — Respondo, empolgada.

— Me diz para onde é que você quer ir? — Indaga. — Estamos todos à sua disposição.

— Vamos naquele restaurante aqui perto, acredito que o pessoal também vai para lá —
Sugiro..

— Como você quiser, amor! Hoje a noite é sua e eu sou seu em todos os sentidos. —
sinto os pelos do meu corpo se arrepiando com essa sua simples menção, mas sorrio tentando
disfarçar o ânimo que o meu corpo criou e agora se intensificou pelos hormônios em dobro.

— Vou me trocar e ajudar a Fay a se vestir e já nos encontramos lá fora, amor.


Ethan assente com a cabeça e deixa outro beijo em meus lábios e outro na testa da filha,
antes de se afastar entre os bailarinos e o pessoal que trabalhou para que tudo isso acontecesse.
Assim que não o vejo mais, me viro e sigo até que adentro na parte reservada para trocar de
roupa, acompanhada pela Fay.

Logo que saímos, aviso aos que encontro que os espero no restaurante onde costumamos
celebrar e em seguida, sigo para fora. Lá, encontro a minha mãe, que me abraça tão forte que
quase sinto os meus ossos doerem. Logo em seguida, Joe, o assistente de Ethan e agora meu
padrasto, o homem mais gentil e respeitador que pude conhecer. Ele e a minha mãe se
conheceram no meu casamento com Ethan e desde então não se largaram mais. Abraço as
minhas amigas, que pulam junto comigo e comemoram a minha realização. Elas nunca soltaram
a minha mão e eu nunca soltei as mãos delas. É maravilhoso ter pessoas em quem você pode
contar em todos os momentos.

Me lembro quando o meu mundo parecia estar desmoronando e a Lility entrou no quarto
onde eu estava segurando a minha bebê com um monte de bolsas, sua alegria contagiante, sem
dizer uma palavra, apenas me assegurando que estaria ao meu lado e que tudo daria certo. Minha
mãe, que me deu o bercinho da Fay, minha linda bebê que não tinha sido planejada, mas foi
amada desde o primeiro momento em que a senti mexer dentro de mim, mesmo com todo o
medo que eu tinha.

— Como sempre, você estava maravilhosa, amiga. — Lility e Suzan dizem em uníssono.

Agradeço com os olhos marejados e vejo pelo canto do olho Aaron correndo até onde a
minha filha está, entregando-lhe um pequeno buquê e uma caixa antes de saírem correndo juntos.
Eles estão crescendo juntos e são amigos.

Assim que termino de agradecer a todos que vieram me prestigiar, nós seguimos para o
restaurante. Aos poucos, os bailarinos também chegam com as suas famílias, amigos, namorados
e filhos e as crianças correm animadas em volta da mesa. É uma noite de comemoração e
gratidão.

Seguro os dedos de Ethan entre os meus, pois ele tem sido mais do que um marido para
mim, é um parceiro que me apoia em tudo. Ele leva a minha mão até os lábios e a beija. A noite
passa rápido, até que o restaurante começa a se esvaziar e finalmente decidimos ir para casa.

Dou banho na Fay enquanto Ethan prepara a sua cama. Logo a visto com seu pijama
favorito e ele conta uma história, até que ela adormece. Fico admirando o homem lindo que
tenho ao meu lado. Apago a luz do quarto e mantenho apenas o abajur aceso. Seguimos pelo
corredor até o nosso quarto de mãos dadas, o coração acelerado pelo que está por vir. Quando
entramos no cômodo, me movo agitada, enquanto Ethan me observa com curiosidade.

— Amor, o que está acontecendo? — Ele pergunta, com uma sobrancelha arqueada. —
Você anda inquieta desde que chegamos em casa.
Suspiro alto, ansiosa e incapaz de disfarçar. Pego uma caixa vermelha com um laço
dourado e a entrego.

— Sei que não contava com isso a essa altura da vida, mas... — Ele sorri e desfaz o laço
antes de levantar a tampa.

Ethan me olha por um momento e depois volta a olhar para a caixa.

— Abra! — Peço, nervosa e apreensiva com a sua reação.

— Não vai me adiantar mesmo? — Ele levanta a tampa e por um momento baixa,
olhando surpreso. Vejo o seu rosto mudar de cor e fico nervosa por um instante. Ele olha para
mim e volta a olhar para a caixa.

— Amor, isso é o que eu estou pensando? — Sua voz sai rouca e entrecortada.

Caminho até ele, o vendo embaçado.

— Sim! — Confirmo.

— Oh, meu Deus, eu vou ser pai novamente. — Balanço a cabeça, sorrindo, ao mesmo
tempo em que as minhas lágrimas molham as minhas bochechas.

Na caixa tem um kit para o novo papai, além do teste de gravidez que diz que estou
grávida de três semanas. Venho me sentindo estranha nos últimos dias, mas achei que era por
causa da correria dos ensaios, mas quando fiz o teste hoje de manhã, quase caí dura no chão ao
descobrir que os meus sintomas na verdade eram de um novo bebê a caminho.

Após o susto inicial, veio a alegria, pois acredito que é mais um presente que estamos
recebendo e que teremos a chance de viver esse momento tão único junto, já que não tivemos a
oportunidade durante a gestação da Fay.

Por isso, aproveitei e preparei com todo o carinho um kit para o novo papai, repleto de
surpresas. Um babador com a mensagem divertida “Papai Babão em Treinamento”. Uma
camiseta personalizada com um desenho de um bebê e a frase “Papai Coruja”, seguida por um
par de meias estampadas com bigodes e gravatas e uma caneca com a inscrição humorística
“Papai em Manutenção - Abastecer com Café”. Cada item me faz sorrir, ao imaginar o meu
marido os usando.

Me aproximo mais e Ethan beija a minha barriga e sinto que a felicidade só pode
aumentar.
Alguns meses depois

Bato suavemente na porta e entro no quarto com um sorriso nos lábios, vendo os raios
fracos da manhã iluminarem a mulher que amo amamentando um dos nossos filhos. Desde que
descobri que seria pai novamente, meu coração transbordou de amor. Mas quando soubemos
pelo ultrassom que seriam gêmeos, me senti o filho da puta mais sortudo do universo por ter não
apenas um, mas dois filhos, frutos do nosso amor.

E agora, uma semana após o nascimento dos meninos, saudáveis e fortes o suficiente para
não precisarem da incubadora, eu me pergunto o que fiz de tão bom para merecer tanto do
universo.

— Oi, amor. — Me aproximo deles e beijo a cabeça de Fay. Em seguida, olho para Rory,
que ergue a cabeça em minha direção e me curvo para encontrar os seus lábios. Então, olho para
baixo e os meus olhos se estreitam ao ver Adam sugando o seio dela com vontade. Os dois são
gêmeos idênticos, então, para evitar qualquer confusão até que possamos reconhecê-los, além de
usar roupas em tons diferentes, compramos pulseiras com seus nomes. Mas Adam é o mais
dramático e agitado, ao ponto de fazer uns barulhos engraçados enquanto mama, o que sempre
me faz rir. Contudo, meu riso baixo é o suficiente para que Fay me repreenda, preocupada com a
possibilidade de acordar o irmão que dorme tranquilamente.
— Papai tem que falar mais baixo, senão vai acordar o meu irmãozinho. — Ela ergue o
dedo em direção à boca, fazendo sinal de silêncio.

Não consigo conter o sorriso ao ver como ela está encantada pelos irmãos. Ela assumiu o
papel de irmã mais velha e protetora, a ponto de, às vezes, termos que brigar para que ela saia de
perto e vá brincar, comer ou ir para a escola.

— Amor, trouxe algumas frutas para você se alimentar. — Me sento ao seu lado e
começo a alimentá-la enquanto ela alimenta o nosso filho. Just começa a resmungar no berço e
Fay entra em alerta, olhando para mim como se dissesse: “vá pegá-lo, ele está precisando de
atenção”. Ela não gosta quando os irmãos choram, mas nos primeiros dias foi uma loucura.
Agora, aos poucos, estamos encontrando o ritmo certo para a nossa família de cinco.

— Acho que tem alguém querendo um pouco de atenção também. — Comento com um
sorriso enquanto entrego um pote de frutas para Fay segurar. Vou até o berço e vejo Just
balançando as suas mãozinhas. Com cuidado, o pego e caminho até Rory, que tira Adam do peito
para que eu possa segurá-lo, enquanto ela recebe Just para mamar.

— Às vezes, nem acredito que eles já têm uma semana de vida. Parece que foi ontem que
estávamos ansiosos pela chegada deles e agora estamos aqui, com esses pequenos anjos. —
Aperto os lábios, emocionado, enquanto Adam descansa em meu peito, tentando arrotar.

Rory sorri, concordando comigo.

— Eu sei, amor. Tudo o que mais amo está aqui dentro desse quarto e me sinto
infinitamente grata por tê-los em minha vida. — Seus olhos passeiam entre nossos filhos e param
em mim.

Eu me aproximo dela e a beijo suavemente nos lábios. Ao nos afastarmos, olho em seus
olhos e expresso o que sinto.

— Te amo, Rory! Minha vida não faria sentido se você não estivesse nela, como um
presente divino. — Ela sorri com os olhos marejados, dizendo que também me ama.

Rory trouxe o amor para a minha vida de diversas formas e eu nunca imaginei que
pudesse amar novamente com tanta intensidade. Sou infinitamente grato por tê-la ao meu lado,
construindo a nossa família juntos.

FIM!
Agradecimento

Primeiramente, agradeço a Deus, pois somente Ele sabe o quanto foi difícil chegar até
esta última página. E um agradecimento especial a cada leitor que acompanhou esta jornada
comigo, vocês que sorriram, choraram e se emocionaram com cada palavra deste livro. São
vocês que me tornam uma autora. Sem o apoio e o carinho de vocês, eu não conseguiria realizar
o meu sonho de contar histórias. Agradeço também a todas as pessoas que estiveram ao meu
lado durante este processo, oferecendo seu auxílio e apoio. Reconheço que é difícil nomear cada
uma delas, pois por trás de uma autora há uma equipe e muitos amigos. Portanto, agradeço a
todos que fizeram parte desta jornada: minha família, meu marido, minha filha e todos aqueles
que contribuíram para tornar este livro uma realidade.
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