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TREINANDO A ESCRITA ✍

DIREITO ADMINISTRATIVO - CONCURSO PÚBLICO

Em alguns concursos públicos, o edital prevê que os candidatos serão submetidos a uma fase do certame

denominada de “sindicância da vida pregressa e investigação social”.

Disserte sobre o tema, abordado:

a) Conceito;

b) Se a prática é admitida pela Jurisprudência do STJ e sob quais fundamentos;

c) Se pode ter caráter classificatório;

d) Se pode ter controle jurisdicional;

e) se o fato de haver instauração de inquérito policial ou propositura de ação penal contra candidato

pode implicar a sua eliminação.

RESPOSTA

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUESTÃO

De fato, em alguns concursos públicos, o edital prevê que os candidatos serão submetidos a uma fase

do certame denominada de “sindicância da vida pregressa e investigação social”.

Nesta etapa, o órgão ou entidade que está realizando o concurso coleta informações sobre a vida

pregressa, bem como a conduta social e profissional do candidato a fim de avaliar se ele possui idoneidade

moral para exercer o cargo pleiteado.

A investigação social em concursos públicos é admitida pela Jurisprudência do STJ:

Jurisprudência em Teses do STJ (Ed. 115): Tese 10: A investigação social em

concursos públicos, além de servir à apuração de infrações criminais, presta-se a

avaliar idoneidade moral e lisura daqueles que desejam ingressar nos quadros da

administração pública.

Importante ressaltar que a investigação social poderá ter caráter eliminatório, pois a maioria das leis

que rege as carreiras prevê que um dos requisitos para que qualquer pessoa tome posse no cargo público é a

idoneidade moral. Sendo provada a falta dessa condição, é juridicamente possível a eliminação do candidato.

Outro fundamento que pode ser invocado para justificar essa medida é o princípio constitucional da moralidade

(art. 37 da CF/88).

Aqui, duas observações importantes: a) a investigação social não pode ter caráter classificatório, ou

seja, não interfere na PONTUAÇÃO dos candidatos; b) Se o eliminado discordar dos critérios utilizados pela

banca poderá buscar auxílio do Poder Judiciário, que tem competência para analisar o ato de exclusão do

candidato, quando houver flagrante ilegalidade ou descuprimento do edital (STJ. 1a Turma. RMS 44.360/MS, Rel.

Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 05/12/2013).

Ademais, cumpre destacar que a jurisprudência entende que o fato de haver instauração de inquérito

policial ou propositura de ação penal contra candidato, por si só, não pode implicar a sua eliminação.

Isso porque a eliminação nessas circunstâncias, sem o necessário trânsito em julgado da condenação,

violaria o princípio constitucional da presunção de inocência.

Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a

cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato

pelo simples fato de responder a inquérito ou a ação penal.

STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5 e 6/2/2020

(repercussão geral – Tema 22) (Info 965).

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Além do princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88), a tese é reforçada pelos princípios

da liberdade profissional (art. 5º, XIII) e da ampla acessibilidade aos cargos públicos (art. 37, I). Veja:

Art. 5º (...)

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as

qualificações profissionais que a lei estabelecer;

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença

penal condenatória;

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios

de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,

ao seguinte:

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que

preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na

forma da lei;

Diante conflito entre a necessidade da idoneidade moral necessária e os princípios acima elencados, o

Min. Relator Luis Roberto Barroso apresentou duas regras para a ponderação dos valores em jogo e a

determinação objetiva de idoneidade moral, quando aplicável ao ingresso no serviço público mediante

concurso:

1ª regra: só se pode eliminar o candidato se houver condenação:

- definitiva (transitada em julgado); ou

- pelo menos a existência de condenação por órgão colegiado (ex: Tribunal de Justiça), aplicando-se por

analogia o que prevê a Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010), critério que já foi aplicado mesmo fora da seara penal.

2ª regra: é necessário que a necessidade de relação de incompatibilidade entre a natureza do crime e

as atribuições do cargo. Nem toda condenação penal deve ter por consequência direta e imediata impedir

alguém de se candidatar a concurso público.

Entretanto, para concorrer a determinados cargos públicos, pela natureza deles, é possível, por meio

de lei, a exigência de qualificações mais restritas e rígidas ao candidato. Por exemplo, as carreiras da

magistratura, das funções essenciais à justiça — Ministério Público, Advocacia Pública e Defensoria Pública — e

da segurança pública.

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O relator concluiu que a solução mediante o emprego dessas regras satisfaz o princípio da

razoabilidade ou proporcionalidade, visto que é:

a) adequada, pois a restrição imposta se mostra idônea para proteger a moralidade administrativa;

b) não excessiva, uma vez que, após a condenação em segundo grau, a probabilidade de manutenção

da condenação é muito grande e a exigência de relação entre a infração e as atribuições do cargo mitiga a

restrição; e

c) proporcional em sentido estrito, na medida em que a atenuação do princípio da presunção de

inocência é compensada pela contrapartida em boa administração e idoneidade dos servidores públicos.

Assim, em suma, não é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de

candidato pelo simples fato de responder a inquérito ou a ação penal, salvo se essa restrição for instituída por

lei e se mostrar constitucionalmente adequada.

ESPELHO DE RESPOSTA

A investigação social em concursos públicos é admitida pela Jurisprudência do STJ. Importante

ressaltar que a investigação social poderá ter caráter eliminatório, pois a maioria das leis que rege as carreiras

prevê que um dos requisitos para que qualquer pessoa tome posse no cargo público é a idoneidade moral.

Sendo provada a falta dessa condição, é juridicamente possível a eliminação do candidato. Outro fundamento

que pode ser invocado para justificar essa medida é o princípio constitucional da moralidade (art. 37 da CF/88).

Importante esclarecer que a investigação social não pode ter caráter classificatório, ou seja, não

interfere na PONTUAÇÃO dos candidatos e que se o eliminado discordar dos critérios utilizados pela banca

poderá buscar auxílio do Poder Judiciário, que tem competência para analisar o ato de exclusão do candidato,

quando houver flagrante ilegalidade ou descuprimento do edital.

Ademais, cumpre destacar que a jurisprudência entende que o fato de haver instauração de inquérito

policial ou propositura de ação penal contra candidato, por si só, não pode implicar a sua eliminação. Isso

porque a eliminação nessas circunstâncias, sem o necessário trânsito em julgado da condenação, violaria o

princípio constitucional da presunção de inocência. Além do princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da

CF/88), a tese é reforçada pelos princípios da liberdade profissional (art. 5º, XIII) e da ampla acessibilidade aos

cargos públicos (art. 37, I).

Diante do conflito entre a idoneidade e os princípios acima elencados, o STF elencou duas regras para

a ponderação e a determinação objetiva de idoneidade moral, quando aplicável ao ingresso no serviço público

mediante concurso: 1) só se pode eliminar o candidato se houver condenação definitiva (transitada em julgado)

ou pelo menos a existência de condenação por órgão colegiado, aplicando-se por analogia o que prevê a Lei da

Ficha Limpa (LC 135/2010), critério que já foi aplicado mesmo fora da seara penal; 2) é necessário que a

necessidade de relação de incompatibilidade entre a natureza do crime e as atribuições do cargo. Nem toda

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condenação penal deve ter por consequência direta e imediata impedir alguém de se candidatar a concurso

público.

Entretanto, para concorrer a determinados cargos públicos, pela natureza deles, é possível, por meio

de lei, a exigência de qualificações mais restritas e rígidas ao candidato. Por exemplo, as carreiras da

magistratura, das funções essenciais à justiça — Ministério Público, Advocacia Pública e Defensoria Pública — e

da segurança pública.

PONTUAÇÃO

TÓPICO PONTUAÇÃO MÁXIMA

1. Etapa da sindicância da vida pregressa e investigação social. Conceito. 0,50

2. A investigação social em concursos públicos é admitida pela Jurisprudência do STJ. 1,50

Um dos requisitos para que qualquer pessoa tome posse no cargo público é a

idoneidade moral. Só poderá ter caráter eliminatório. Princípio constitucional da

moralidade.

3. A investigação social não pode ter caráter classificatório, ou seja, não interfere na 2,00

PONTUAÇÃO dos candidatos e que se o eliminado discordar dos critérios utilizados

pela banca poderá buscar auxílio do Poder Judiciário, que tem competência para

analisar o ato de exclusão do candidato, quando houver flagrante ilegalidade ou

descuprimento do edital.

4. O fato de haver instauração de inquérito policial ou propositura de ação penal contra 3,00

candidato, por si só, não pode implicar a sua eliminação. Isso porque a eliminação

nessas circunstâncias, sem o necessário trânsito em julgado da condenação, violaria o

princípio constitucional da presunção de inocência. A tese é reforçada pelos princípios

da liberdade profissional (art. 5º, XIII) e da ampla acessibilidade aos cargos públicos (art.

37, I).

5. O STF elencou duas regras para a ponderação e a determinação objetiva de 3,00

idoneidade moral, quando aplicável ao ingresso no serviço público mediante concurso:

1) só se pode eliminar o candidato se houver condenação definitiva (transitada em

julgado) ou pelo menos a existência de condenação por órgão colegiado, aplicando-se

por analogia o que prevê a Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010), critério que já foi aplicado

mesmo fora da seara penal; 2) é necessário que a necessidade de relação de

incompatibilidade entre a natureza do crime e as atribuições do cargo. Nem toda

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condenação penal deve ter por consequência direta e imediata impedir alguém de se

candidatar a concurso público.

Para concorrer a determinados cargos públicos, pela natureza deles, é possível, por

meio de lei, a exigência de qualificações mais restritas e rígidas ao candidato.

TOTAL 10,00

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