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Interpretações de hemograma

1- Meu laudo de hemograma tem a informação “agregados plaquetários”, como devo interpretar?

Deve-se interpretar com muito cuidado, pois os valores podem estar sub ou superestimados. A presença
de agregados pode ocorrer por dificuldade na coleta do sangue, demora na passagem do sangue para o
tubo, punções múltiplas, entre outros fatores. Com os agregados plaquetários, as plaquetas não
apresentam distribuição homogênea no esfregaço sanguíneo, dificultando a correção e podendo ocasionar
erro. Além disso, a presença de agregados vai dificultar a contagem realizada pelo aparelho, também
gerando um valor não confiável.

2- Meu paciente tem trombocitopenia, como devo conduzir meu diagnóstico?

A trombocitopenia não é uma doença, mas sim um achado hematológico. Para nos certificarmos de que a
trombocitopenia realmente existe, deve-se obter pelo menos 3 hemogramas demonstrando, de
preferência sem a presença de agregados plaquetários. Após isso, pode-se afirmar que o paciente
realmente possui trombocitopenia. Após isso, tem-se que diferenciar entre falha na produção, consumo,
destruição e sequestro. Para avaliar a produção, é necessário a realização de um mielograma, que vai
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demonstrar uma hipoplasia ou aplasia megacariocítica. O sequestro é mais difícil de aparecer e pode estar
relacionado com um aumento de baço (hemangissarcoma esplênico, por exemplo), sendo que
normalmente, nesses casos, ocorre um sequestro conjunto de hemácias e plaquetas. O exame de imagem
pode ajudar na condução do caso. O consumo vai estar correlacionado com sangramento ativo (tentativa
das plaquetas de conter o sangramento) ou casos de CID. A destruição ocorre normalmente por uma
trombocitopenia imunomediada, que pode ser primária ou secundária, sendo que nesses casos a medula
óssea apresentará uma hiperplasia megacariocítica.

3- Toda leucocitose tem correlação com processo inflamatório?

Não. Para caracterização de um processo inflamatório, precisa-se de uma leucocitose associado com desvio
à esquerda, preferencialmente regenerativo. É importante lembrar que pode-se ter uma leucocitose
fisiológica, desencadeada pela adrenalina (status de luta e fuga). Nesse caso, normalmente observa-se
neutrofilia e linfocitose. Pode ocorrer ainda uma leucocitose desencadeada pelo cortisol, que pode
aumentar por um estresse crônico (uma doença debilitante e progressiva, como IRC, por exemplo), por
hiperadrenocorticismo ou por utilização de corticóide medicamentoso. Nesses casos, observa-se
neutrofilia, linfopenia, eosinopenia, monocitose (principalmente em cães) e desvio à direita. Porém, um ou
mais desses aumentos ou diminuições podem não estarem presente.

4- Colhi sangue de um gato, sendo que foi bem difícil a coleta. No resultado do leucograma percebi
uma leucocitose por neutrofilia e linfocitose, além de uma policitemia e trombocitose. Como
interpretar esse achado?

Provavelmente a adrenalina ocasionou isso. A adrenalina ocasiona demarginação de neutrófilos, o que


justifica a neutrofilia. Além disso, também gera uma esplenocontração, que justifica a linfocitose,
policitemia e trombocitose, lembrando que o baço funciona como reservatório de hemácias e plaquetas.

5- Como minimizar a influência pré-analítica nos achados do coagulograma?

Para a confiabilidade dos resultados, a coleta deve ser realizada em tubos de citrato, sempre observando
a quantidade ideal de sangue que deve ser colocado no tubo, nem menos, nem mais. Observado isso, o
processamento do exame deve ser realizado em preferencialmente até 6 horas, sendo que a amostra
(preferencialmente o plasma já separado) deve ser mantida em refrigeração ou congelada (para
congelamento, necessariamente o plasma já separado). Uma possibilidade é enviar junto com o animal
teste, um animal controle, sendo que este servirá como guia e se, o resultado do controle (animal sadio)
der alterado, não poderemos confiar no resultado do animal teste, provavelmente por consumo dos
fatores de coagulação durante o envio das amostras. Aumento somente de TTPa indica alteração da via
intrínseca da cascata de coagulação, sendo necessário descobrir qual fator está envolvido. O aumento
somente do TP indica alteração da via extrínseca da cascata de coagulação, sendo que neste caso, o fator
envolvido é o VII (único fator desta via). Aumento de TP e TPPa demonstra alteração nas duas vias ou na
via comum. É importante lembrar que a coagulopatias podem ser congênitas ou adquiridas.

6- Recebi o resultado da pesquisa de hematozoário como negativa. Posso ter certeza de que meu
paciente não apresenta nenhum hematozoário?

Não. Em casos de erliquiose, por exemplo, em apenas 3% dos pacientes PCR positivos foi observado a
mórula na avaliação do esfregaço sanguíneo. Em casos de suspeita de hemoparasitose com pesquisa
negativa, deve se buscar testes mais sensíveis, como PCR por exemplo. Porém, observando o hemoparasita
em lâmina, temos o diagnóstico fechado para a doença. É importante lembrar que, às vezes, o animal
apresenta mais de uma hemoparasitose, por exemplo erliquiose e babesiose.

7- Sobre o exame razão proteína:creatinina urinária: posso interpretá-lo sem levar a urinálise em
consideração?
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Não. É sempre importante que se solicite uma urinálise junto com a razão proteína creatinina urinária
para se descartar a proteinúria pós-renal (cistite, por exemplo). Nesses casos, o resultado da razão não
seria indicado para a investigação. A razão é indicada quando se suspeita de proteinúria glomerular,
sendo que a urinálise também irá ajudar nessa determinação.

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