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G U I A D E E D U C AÇ ÃO

Psico Social para


educadores e escola
Aos Mestres, com carinho:
Está chegando ao seu conhecimento, o GPS, Guia de Educação Psio-Social para educadores
e escolas que eventualmente trabalhem com crianças portadoras de Mutismo Seletivo. O
trabalho proposto neste guia sugere uma união bastante importante: escola x crianças com
mutismo seletivo, pais e profissionais.
Ele deve ser usado como um guia de orientação básico, uma vez que o Mutismo Seletivo
ainda é muito pouco conhecido e estudado em nosso país. Para que se possa ter êxito no
“acolhimento” dos alunos com essas necessidades, sugerimos que os profissionais que
cuidam da criança, juntamente com os pais e a escola tracem um Plano de Atendimento
Individual para o aluno, o que eu chamo de PAI-A.
No caminho que vislumbramos à frente temos um grande desafio: manter as portas da
comunicação sempre abertas! Esse é o principio fundamental para a compreensão do
Mutismo Seletivo, que é definido como um transtorno de ansiedade, no qual a criança
apresenta incapacidade de falar e se comunicar em ambientes sociais selecionados.

Atenciosamente,
Elisa Maria Neiva de Lima Vieira
Psicologa Clínica
compreendendo um pouco desta
trajetória: este caminho nao é rápido!
“O Conhecimento transforma as pessoas”! Todos nós já ouvimos esta frase e sabemos o quanto ela é verdadeira. Para
se “educar”, é preciso que tenhamos a compreensão da educação emocional e afetiva. Existem vários tipos de
educação, mas, eu gostaria de falar especificamente da educação afetivo/emocional.
E, com propriedade, digo que estes dois tipos de alfabetização são infindáveis. E é para isto que este guia está sendo
confeccionado. E estou certa que essa versão será a mãe de muitas outras.

Em 2002 eu escrevi em um blog: “Hoje, eu, como psicóloga escrevo. No


futuro, nossas crianças que hoje vivem com o mutismo seletivo, seus pais ou
professores, podem vir a somar mais e mais palavras à este texto. Esta é
minha expectativa. Fazer um trabalho compartilhado. Mais um ano letivo se
iniciará e com ele a vinda de grandes desafios. E, provavelmente, no
processo de ensinar, de estar dentro de uma sala e aula, você professor, se
depare com crianças que venham a apresentar o que eu chamo de “doenças
ocultas”, aquelas doenças que você nunca saberá que as crianças têm, caso
os pais não manifestem o desejo de comunicar à escola a condição de saúde
física e emocional de seu filho. Estas crianças podem ter “asma”, “rinite”,
“sinusite”, diabetes”, “epilepsia” etc...Tudo isso pode passar despercebido, “se”
tudo estiver sobre controle...controle emocional principalmente.
O ano começa...termina, você convive com este aluno e se despede dele. O ano letivo se encerra e tudo estará
bem. Caso ele precise de ajuda, talvez o ambulatório da escola possa exercer este papel.
É o que frequentemente vemos acontecer em relatos clínicos; o professor e a escola são ajudados a resolver a
questão e tudo ficará bem, pois estaremos falando de situações que muito provavelmente cada um de nós já teve
em sua família, ou viveu com um amigo. Estas situações são conhecidas...Mas, talvez você receba em sua classe
um aluno com MUTISMO SELETIVO. Esta situação será bastante nova, pois o Mutismo Seletivo ainda é muito
pouco conhecido no Brasil.
E, como tudo que é novo assusta, muito provavelmente nos sintamos paralisados, desconfortáveis, sem saber
qual caminho percorrer ou o que fazer. É natural. Quando atendi meu primeiro caso de mutismo seletivo me senti
assim. Mas o tempo e minha paciente me pegaram pelas mãos e me mostraram caminhos possíveis para o
entendimento e a cura.
E assim, eu e os pais das crianças com mutismo seletivo, esperamos que as escolas possam agir; sempre em
conjunto com a equipe que atende esta criança, sem prévios julgamentos, com tranquilidade tentando entender
qual o caminho está sendo mostrado por ela. Sim, pois todos sabemos que a maior voz é a do silêncio. Já estamos
no ano de 2018! E este GPS só se torna possível aos inúmeros atendimentos realizados à familiares, crianças,
profissionais da área de psicologia, educadores entre outros!’’.

Tanto os familiares da criança com Mutismo seletivo, como as pessoas que estão ao seu entorno (colegas de
escola, professores, vizinhos, parentes entre outros), por vezes apresentam grande expectativa para que a criança
venha a se comunicar com eles. Veja bem, a comunicação acontece de diversas maneiras e ela precisa ser
observada e entendida.
A fala é um viés da comunicação...O falar pode demorar algum tempo, mas é preciso entender que não é
impossível. Apenas cada coisa acontece no seu tempo.
O QUE É
mutismo seletivo?
Mutismo Seletivo é uma condição em que a criança se encontra extremamente ansiosa e inibida, não falando em
determinadas situações. O nível de ansiedade geralmente é bastante alto, o que faz com que a criança “use” o não falar
para se proteger. Isto não significa que ela não queira falar. Ela não consegue, não pode falar, pois está inundada por
sentimentos ansiógenos. Entretanto observamos que crianças com mutismo seletivo são capazes de se comunicar
normalmente em situações em que se sintam mais confiáveis e seguras.
O Mutismo Seletivo, não caracteriza problemas na fala ou audição. Estudos recentes vêm mostrando que as crianças
mutistas seletivas podem ser mais frágeis a altos ruídos, mas ainda não temos comprovação exata desta questão. A fala
da criança com mutismo seletivo acontece normalmente com seus pais ou pessoas de sua confiança, sendo que na
presença de estranhos (professores, novos amigos, etc.) elas tendem a não falar.
No passado, falávamos do mutismo seletivo como uma síndrome rara, mas atualmente estamos “quebrando o
silêncio” e descobrindo muitos casos sendo diagnosticados
precocemente, pois os estudos começam a se disseminar em todo o
mundo. Sabemos que o Mutismo Seletivo afeta pelo menos 7 em cada
1000 crianças em idade escolar, tendo inicio geralmente aos três anos de
idade. Em alguns casos ele pode durar apenas meses e em outros
persistir por anos. Sua etiologia ainda não é definida, ou seja, sua causa é
considerada multifatorial. É ligeiramente mais frequente no sexo
feminino e acomete 1% dos indivíduos vistos em saúde mental. Não
temos uma definição correta e exata para esta questão, que esteja
comprovada cientificamente.
O Mutismo Seletivo está associado a quadros de ansiedade social. A
ansiedade social por sua vez é caracterizada por medos intensos, que
gera extremo desconforto em situações sociais.
usando o seu
GPS
• É preciso entender o Mutismo Seletivo! Na escola, os
professores e coordenadores serão provavelmente as primeiras
pessoas a observarem que a criança apresenta alterações
comportamentais.

• Aderir a uma boa relação com a criança. Isto se constrói aos


poucos.

• Não obrigar a criança a falar, impondo situações aonde o


sentimento de ansiedade possa aumentar;

• Ofereça muitas opções à criança, isto fará com que ela “deseje”
se expressar, por exemplo: “Qual cor de lápis você quer usar?
Verde? Vermelho? Amarelo? Azul?”

• Entenda que a criança pode e vai falar quando ela quiser; isso
não pode ser imposto à ela. A superação do mutismo seletivo
lenta.
Conheça as etapas da comunicação de uma criança com Mutismo Seletivo:

1. “Congelado”: Não responde a nenhum tipo de intervenção;


2. Comunicação não verbal (gestos, desenhos);
3. Comunicação Verbal (sussurros e fala):
• Educar as pessoas sobre Mutismo Seletivo é essencial;
• Conhecer as situações em que as crianças se sentem incomodadas e não incomodadas falando;
• Manter uma rotina estruturada (nesse quesito começamos a controlar o stress causado pelo ambiente escolar);
• Estar com a criança em ambientes que lhe sejam seguros (receber amigos em sua casa antes de frequentar a casa de
amigos; realizar atendimentos psicológicos, escolares em domicilio, receber o telefonema da professora);
• Ensinar estratégias de controle da ansiedade e do estresse, como forma de comunicação alternativa. Este tipo de
trabalho pode ser feito com a criança mutista e sua classe. Uma estratégia bastante interessante e produtiva é o um
relaxamento dirigido que pode ser usado para toda a classe;
• Não obrigar a criança a falar como parte de uma tarefa (apresentações escolares);
• Não permitir que outros falem pela criança;
• Caso a criança não se comunique verbalmente com nenhuma pessoa da escola, institua o uso de cartões coloridos
para pedidos importantes como “ir ao banheiro”, “ir beber água”. Se a criança não conseguir pedir para ir ao banheiro
e por esta razão não ter controle esfincteriano, isto lhe causará muita tristeza;
• Nunca obrigue uma criança com Mutismo Seletivo a olhar diretamente em seus olhos. Abaixe até a sua altura e
converse com ela naturalmente;
• Nunca se dirija à criança dizendo: “o gato comeu sua língua?”;
• Quando a criança apresentar alguma atitude positiva e diferente do habitual, ofereça uma recompensa (adesivos são
ótimos para isto, estrelas podem ser usadas no caderno);
• Não reaja de forma escandalosa. Faça a observação do fato de forma detalhada, entretanto não se mostre surpreso
e não reaja com exageros;
• Evite pegar nas mãos ou abraçar as crianças com Mutismo Seletivo. Antes de fazer peça permissão à ela. Uma dica é
começar a se comunicar fisicamente com a criança através do “high five”;
• Pesquisas recentes indicam que crianças com mutismo seletivo podem possuir transtorno de processamento
sensorial, ou seja, a criança pode apresentar dificuldades em processar os estímulos, o que causam sintomas como
hipersensibilidade ao som, visão, tato e fácil distração;

• A escola e os professores devem aceitar vídeos produzidos pelos pais através de smartphones, tabletes para avaliação
da aprendizagem da criança. Antes que os vídeos sejam apresentados para a sala, professores e coordenadores, é
necessário pedir licença a criança para que isso seja feito, tendo em vista que uma das caraterísticas do quadro de
mutismo seletivo, é a “vergonha da própria voz!”;

• É extremamente saudável que a escola permita que os pais entrem na sala de aula vazia com a criança e mostrem o
espaço para ela. Isto deve se estender por toda a escola, geralmente em horários de troca de turmas aonde a escola
tende a estar mais vazia;

• É fundamental que a escola permita que os pais entrem com os filhos no espaço escolar, antes das aulas iniciarem.
Por vezes pode ser feito uso de um “walk talk”, entre os pais e criança para que aos poucos o distanciamento entre eles
vá acontecendo e a criança obtenha segurança;

• O Professor pode incentivar a criança a se comunicar através de um diário (quando a criança já estiver alfabetizada),
e também através do uso do whats app, caso o professor esteja disponível esse tipo de contato;
• É aconselhável que a criança permaneça na escola durante todo o período de estudo, entretanto, os professores
devem ter sensibilidade suficiente e a escola e coordenação maleabilidade para que os pais sejam chamados caso
notem que sua ansiedade está se intensificando;
• É possível que a criança não se adapte à sua sala de aula. Neste caso, os pais devem ser chamados juntamente com
a equipe multiprofissional que atribui cuidados à criança, e juntos devem pensar em estratégias que sejam satisfatórias
para a criança;
• Muitas crianças mutistas seletivas podem fazer uso de medicações ansiolíticas ou antidepressivas. A escola deve estar
informada desta questão e atenta a possíveis efeitos colaterais das medicações;
• O professor pode e deve instituir encontros com a criança em uma outra sala de aula aonde esteja somente a dupla
professor x aluno ou auxiliar de classe;
• O professor deve observar se a criança tem empatia por uma ou duas crianças e promover encontros entre elas, e aí
sim, aos poucos, ela deve começar a transitar entre grupos;
• Pelo fato de não falar, a criança com mutismo seletivo irá chamar a atenção dos demais colegas. Este fato pode fazer
com que ela venha a passar por algum tipo de situação que cause tristeza: “ela não fala”!... “olha ela falou com a mae”!
É necessário que a classe seja sensibilizada para este fim e a escola tome atitudes pertinentes a integridade emocional
da criança. Recursos para didáticos podem ser utilizados;
• Faz parte do quadro de mutismo seletivo a “seletividade alimentar”. O professor deve manter os pais informados
sobre o quanto a criança esta comendo ou não, se está com dificuldade para fazê-lo na frente de outras crianças, etc...
• Caso este fato aconteça a escola, um auxiliar, juntamente com um amiguinho da criança pode se ausentar do recreio
e fazer o lanche com a criança em outro ambiente; entretanto este acolhimento não deve ultrapassar 30 dias; a
criança deve ser realocada ao recreio gradativamente. É apenas mais uma maneira de controle da ansiedade;
• A escola deve incentivar a criança a praticar esportes;
• A escola deve aceitar relatórios psicológicos para delineamento de conduta escolar.
Como citado no inicio deste guia, o Mutismo Seletivo é
uma condição temporária, visto que, com tratamento
adequado poderemos vencê-lo. Sabemos como
proceder com crianças que apresentam diversas
patologias, tais como autismo, Transtorno de Déficit de
Atenção e Concentração, entre outros, pois estes estão
mais divulgados, conhecidos e respaldados pela lei. O
mutismo seletivo começa a trilhar esse caminho.

Por fim, aqui estão apresentadas algumas condutas que


podem ajudar todos os envolvidos na causa do Mutismo
Seletivo. Esperamos que as instituições escolares entrem
conosco nesta luta e nos ajudem a sair do silêncio.

Anote no seu GPS: Outubro é o mês da


Conscientização e Diagnóstico Precoce do Mutismo
Seletivo. É Lei nos estados de SP e PR!
Elisa Neiva de Lima Vieira
Psicóloga Clinica - CRP 06/462287

(15) 991.25.41.22
elisa.neiva.vieira@gmail.com
www.mutismoseletivobrasil.com.br

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