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FILOSOFIA NA IDADE MEDIEVAL pecados. Sua crucificação seria, nessa medida, o sacrifício do
próprio Deus encarnado para salvar os homens.
Contexto histórico:
A IDADE MÉDIA INICIOU-SE NA, Europa com as
invasões germânicas ou bárbaras no sec. V a. C.
Território Europeu:
Questões Filosóficas:
Para ficar mais claro a sua compreensão, leremos a do século IV, com o imperador Constantino, o primeiro
seguir um trecho da Bíblia (Atos dos Apóstolos) para governante católico, e que vinculou o Cristianismo ao poder
verificarmos como iniciou o processo de expansão da constituído no império. Mais precisamente, é sob o governo
influência do cristianismo diante da já consolidada visão de Teodósio, em 380, que se define a doutrina ortodoxa
filosófica dos gregos e dos romanos: cristã como religião de Estado. Foi nos primeiros séculos que
“Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu o Cristianismo obteve apoio, sobretudo nas classes mais
espírito se revoltava, em face da idolatria dominante na baixas da sociedade, se espalhando posteriormente pelos
cidade.... Alguns dos filósofos epicureus e estoicos discutiam grupos dirigentes da vida urbana imperial. No início foram
com ele, havendo quem perguntasse: Que quer dizer esse suportados ou admitidos dentro da comunidade cristã modos
tagarela? E outros: Parece pregador de estranhos deuses, de viver e de pensar bastantes diversos, mas depois a Igreja
pois pregava a Jesus e a ressurreição. Então, tomando-o precisou definir melhor seu núcleo doutrinário, sua
consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: ortodoxia, seus dogmas, as verdades que todos devem
Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? aceitar, ao mesmo tempo em que estabeleceu a estrutura
Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos hierárquica a que todos devem obedecer.
saber que vem a ser isso. Pois todos os de Atenas, e os ATENÇÃO
estrangeiros residentes, de outra coisa não cuidavam senão O conceito de Idade Média gerou controvérsias há
dizer ou ouvir as últimas novidades. Então Paulo, levantando- longos períodos. Durante bom tempo, por influência do
se no meio do Areópago, disse: pensamento renascentista e moderno, este período foi
entendido como um intervalo cronológico entre duas
Senhores atenienses! Em tudo vos vejo
culturas (a antiguidade clássica e a renascença), como idade
acentuadamente religiosos; porque passando e
das trevas ou das sombras, em que nada de importante
observando os objetos do vosso culto, encontrei
aconteceu no campo da arte, da ciência e da filosofia. No
também um altar no qual está escrito: AO DEUS entanto, por causa dos estudos cada vez maiores sobre a
DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer, é história da época e também pela crítica que se passou a fazer
precisamente aquele que eu vos anuncio (At. 17, 16- ao pensamento moderno, que deixou de ser visto apenas
23)” como solução de todos os problemas individuais e sociais, a
Idade Média passou, sobretudo nos últimos decênios, a
Veja que os atenienses, segundo Paulo, demonstravam uma significar um período decisivo para se entender a história do
religiosidade, mas sem conhecer um Deus, que justamente Ocidente, e não só pela grande arquitetura (catedrais
será defendido e apresentado por Paulo. Sendo assim, é românicas e góticas), ou pela construção das primeiras
importante notar que o apóstolo, para difundir a nova universidades, como Bolonha, Pádua, Paris e Oxford, mas
doutrina religiosa, discute com os filósofos (epicureus e também pela formação gradual das línguas latinas (italiano,
estóicos), e se esforça para apresentar o Cristianismo não francês, espanhol e português) com seus grandes literatos.
como ruptura, mas como um complemento e um Por tudo isso, e também pelo debate teórico havido, não
acabamento da teologia e da filosofia grega. Por mais que teve mais sentido falar de “idade das trevas”. Podemos dizer,
possamos assinalar que a atitude de Paulo seja retórica, não portanto, que as características principais da Filosofia
podemos deixar de reconhecer que foi esta aproximação Medieval são as que seguem:
com a filosofia antiga que possibilitou a implantação A estreita relação entre filosofia e religião, ou
gradativa do Cristianismo. Sem tal aproximação não seria melhor, entre filosofia e teologia.
possível entender a expansão da doutrina cristã no mundo A forte presença de Aristóteles em todos os campos
grego e depois no mundo romano, a partir do qual depois se do pensamento teórico (lógica, ética, metafísica), o que
espalha pela Europa, tornando-se base da cultura ocidental. ocorreu depois da influência inicial da obra de Platão. A
OBSERVAÇÃO influência de Aristóteles foi consagrada pela presença do
Fiquem atentos as palavras grifadas e aos grande pensador cristão, que é Santo Tomás de Aquino
(1225-1274), cujo tema maior foi defender uma conciliação
trechos para que possamos ter uma aproximação entre razão e fé, entre Cristo e Aristóteles, o que marcou o
importante com o conteúdo. período medieval mais do que qualquer outra coisa.
O cristianismo, como a maioria das religiões baseia-
→ É importante que você entenda como o se na Fé, na crença irrestrita ou adesão incondicional às
texto aborda o início do fortalecimento da doutrina verdades reveladas por Deus as seres humanos.
Verdades expressas nas Sagras escrituras (Bíblia) e
cristã. interpretada segundo a autoridade da Igreja.
De acordo com a doutrina católica, a fé em si
→ O dialogo do apostolo Paulo como os
mesma seria a fonte mais elevada das verdades reveladas
filósofos estoicos e epicureus é importante para porque diz respeito a salvação.
“Toda verdade dita por quem quer que seja, é do
entender o debate a nível filosófico na defesa da
Espírito Santo” (Santo Ambrósio).
doutrina de Cristo. Isso significa que toda investigação filosófica ou
cientifica não poderia, de modo algum, contrariar as
O Cristianismo, por mais que levasse séculos para se
verdades estabelecidas pela fé católica.
instaurar mais amplamente, lutando contra as outras
Os filósofos não precisavam mais se dedicar à busca da
religiões tradicionais, só passou a ser predominante a partir
verdade, pois ela já teria sido revelada por Deus aos homens.
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Sendo assim, a filosofia durante a Idade Média sobre a de si, à primazia da alma, o que no modo cristão leva ao
influência da autoridade Igreja, remia-se no exercício de exame de consciência e a uma separação cada vez maior
demonstrar racionalmente as verdades da fé. entre corpo e alma.
Importante: É neste contexto que nasce a ideia de Para finalizar, não podemos esquecer a importância
heresia, que significa qualquer doutrina contrária adquirida pela Escolástica, criada a partir do séc. XII, e que
aos que foram estabelecidos pela Igreja. Sobre o predominou até o séc. XIV: a filosofia ensinada nas escolas.
conceito de heresia veja o vídeo abaixo: Nela, a filosofia fica marcada ou até presa ao princípio da
https://www.youtube.com/watch?v=lfpuGmpbls8 autoridade, que pertence à Igreja, a qual determina a
investigação intelectual e protege o pensamento contra
eventuais erros. Isso de certa maneira empobreceu a
reflexão filosófica. No entanto, nem todos os pensadores
RESUMINDO
aceitavam esse controle ou censura eclesiástica. Basta
Acima, pontuamos as principais ideias
citarmos outros importantes nomes da Filosofia Medieval
discutidas ao logo do desenvolvimento e
para se perceber a vitalidade do pensamento da época:
institucionalização do cristianismo, bem como o
a) Santo Anselmo (1050-1117), um dos mais
desenvolvimento de uma filosofia cristã que era bem
consistentes formuladores de uma prova da existência de
distante da filosofia dos antigos gregos e romanos, mas
Deus.
ainda bem dependente em termos dos temas
discutidos na antiguidade. É importante ressaltar a
tentativa filosófica de conciliar fé e razão cujo principal
objetivo é a compreensão das verdades reveladas ao
homem por meio das Sagradas escrituras, ou seja a
Bíblia. ROMPIMENTO COM A CULTURA PAGÃ.
Com o Cristianismo houve continuidade e ruptura
com a Idade Antiga, assim como a Idade Moderna é
continuidade e ruptura com a Idade Média, e não apenas
ruptura. E nestas continuidades nem sempre se conserva o
pensamento anterior na sua forma correta, mas se
introduzem adaptações e até deformações. Ao mesmo
tempo, há rupturas mais evidentes. Neste sentido, na Idade
Média, rompeu-se com a cultura e a filosofia antiga ao se b) Pedro Abelardo, importante lógico e um dos
introduzir a ideia de que o mundo não é eterno, mas tem primeiros professores universitários a exigir salário para
um início, com a criação por parte de um Deus. Assim, os trabalhar, não sendo ele um teólogo sustentado pela Igreja.
seres humanos passaram a ser vistos como criaturas, como
filhos de Deus, e que só podem alcançar a felicidade se
cumprirem a vontade divina. Além disso, a verdade é
revelada por Deus, e não simplesmente descoberta pelo ser
humano. A principal comunidade passou a ser a da Igreja, e
não a comunidade política. O mote consagrado foi o
seguinte: “Extra Ecclesiam nulla salus”, isto é, fora da Igreja
não há salvação! Santo Agostinho (354-430) dirá com todo
vigor que os reinos, ou seja, as instituições políticas e seus
governantes sempre farão o mal, sempre efetuarão grandes
latrocínios, e que, no fundo, não há nenhuma diferença
moral entre os piratas que assaltam navios e os governantes c) Duns Scoto (1265-1308), que insiste em defender
que assaltam povos inteiros. a liberdade humana mesmo no contexto teológico.
Como se está longe do pensamento de Platão e de d) Guilherme de Ockham (1280-1349), acusado de
Aristóteles, para os quais só na política é possível fazer o heresia*, ele inaugura um novo modo de fazer teologia,
bem! Agora, na Idade Média, se sustenta que só na enfatizando a conveniência de provas empíricas para as
comunidade cristã poderá ser feito o bem. De toda forma, afirmações e não temendo confrontar-se com os teólogos
não houve só ruptura, como já dissemos: de tantas maneiras anteriores.
o pensamento filosófico greco-romano serviu para tornar
mais racional a doutrina religiosa cristã, e até mesmo
contribui para estabelecer, sobretudo nos primeiros séculos
de nossa era, a doutrina cristã, constituída principalmente de
dogmas.
Podemos repetir que a história do Ocidente, a nossa
história, foi marcada indelevelmente por um casamento
entre a racionalidade grega e o Cristianismo, (ver vídeo) mas
também por um casamento entre o modo de viver
instaurado pela filosofia antiga e a moral cristã. Exemplo
disso é a ênfase que se dá nos primeiros séculos ao cuidado
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vista como exemplo maior da escolástica. Vejamos um de que não questionava submisso a Deus, aceitava todas essas
seus representantes. verdades e por elas, se preciso fosse, lutaria e morreria
bravamente.
SANTO TOMÁS DE AQUINO (1227-1274) Ao retomar o platonismo, o teólogo romano
Santo Agostinho identifica o mundo das ideias com o mundo
das ideias divinas. Pela iluminação, o homem recebe de Deus
o conhecimento das verdades eternas. Essa corrente é
conhecida como patrística por ser elaborada pelos padres da
Igreja Católica.
Entre os séculos V e XIII predomina a escolástica,
conjunto das doutrinas oficiais da Igreja, influenciadas pelos
pensamentos de Platão e Aristóteles. Os representantes da
escolástica estão preocupados em conciliar razão e fé e
desenvolver a discussão, a argumentação e o pensamento
discursivo.
Uma das principais correntes filosóficas da época
é o tomismo, doutrina escolástica do teólogo italiano Santo
Nasceu na Itália, de família nobre, e entrou cedo na Tomás de Aquino.
Ordem dos Dominicanos. Percorreu toda a Europa medieval.
Depois dos estudos em Nápoles, Paris e Colônia (onde teve ATENÇÃO AS PALAVRAS E IDEIAS ABAIXO, ELAS PODEM
por mestre Alberto Magno), ensina em Paris e nos Estados do COMPLETAR O SEU ENTENDIMENTO
papa. Morreu quando se dirigia ao Concílio de Lyon. Sua a) O PENSAMENTO CRISTÃO.
imensa obra compreende duas Sumas: contra os gentios e b) A PATRÍSTICA E A ESCOLÁSTICA
Suma teológica, vários tratados e comentários sobre c) Igreja Católica: domínio do pensamento
Aristóteles, a Bíblia, Bo pensamento de Santo Tomás está d) Conflitos: Fé X Razão Religião X Ciência
profundamente ligado ao de Aristóteles, que ele, por assim e) A PATRÍSTICA (SÉC. VIX)
dizer, "cristianiza". Seu papel principal foi o de organizar as f) Santo Agostinho (354-430);
verdades da religião e de harmonizá-las com a síntese g)"Compreender para crer, crer p/ compreender";
filosófica de Aristóteles, demonstrando que não há ponto de h)A Alma/ Espírito é superior ao corpo/matéria;
conflito entre fé e razão'. Sua teoria do conhecimento i) TEORIA DA GRAÇA DIVINA: combinação entre o esforço
pretende ser, ao mesmo tempo, universal (estende-se a pessoal e a concessão da graça de Deus;
todos os conhecimentos) e crítica (determina os limites e as j) Fé x Razão (teologia x filosofia) – (teocentrismo)
condições do conhecimento humano). O conhecimento l) Duas correntes: patrísitica e escolásticam) Patrística
verdadeiro é uma "adequação da inteligência a coisa". (padres da Igreja): maior representante é Sto. Agostinho.
Retomando a física e a metafísica de Aristóteles, estabelece n) Escolástica (escola): maior representante São Tomás de
as cinco "vias" que nos conduzem a afirmar racionalmente a Aquino.
existência de Deus: a partir dos "efeitos", afirmamos a causa.
Estabelece sua concepção de natureza como ordem do EXERCÍCIOS
mundo. Ordem decifrável nas coisas e que permite fixar fins 01. Entre os séculos V e XIII predomina a escolástica,
particulares a cada uma delas. Deus é a causa de tudo mas conjunto das doutrinas oficiais da Igreja, influenciadas pelos
não age diretamente nos fatos da criação: Ele instaurou um pensamentos de:
sistema de leis, causas segundas, ordenando cada um dos a) Platão e Aristóteles.
domínios naturais segundo sua especificidade própria. Deus é b) Augusto e Alexandre.
o primeiro motor imóvel, é a primeira causa eficiente, é o c) Plutão e Inocêncio.
único Ser necessário, é o Ser absoluto, o Ser cuja Providência d) Hipona e Augusto.
governa o mundo. Santo Tomás mostra que há, em e) Kant e Muriel.
Aristóteles, uma filosofia verdadeiramente autônoma e 02. A patrística é representada por qual dos filósofos
independente do dogma, mas em harmonia com ele. Assim, abaixo:
Santo Tomás introduz no teísmo cristão o rigor do a) Pedro Abelardo.
naturalismo peripatético. Porém, distingue o Estado e a b) Guilherme de Ockan.
Igreja, o direito e a moral, a filosofia e a teologia, a natureza c) Santo Agostinho.
e o sobrenatural. "A última felicidade do homem não se d) Augusto de Hipona.
encontra nos bens exteriores. Nem nos bens do corpo, nem e) Aristóteles.
nos da alma: só pode encontrar-se na contemplação da 03. Para Santo Tomás, filosofia e teologia são ciências
verdade." distintas porque:
a) A filosofia se funda no exercício da razão humana e a
REVISANDO CONCEITOS ESSENCIAIS teologia na revelação divina.
Durante a Idade Média a Igreja, grande detentora do b) A filosofia é uma ciência complementar à teologia.
poder ideológico, explicava através da fé todos os fenômenos c) A filosofia nos traz a compreensão da verdade que será
e acontecimentos. Na grande maioria das vezes estes eram comprovada pela teologia.
castigos divinos ou milagres, verdades inquestionáveis d) A revelação é critério de verdade, por isso não se pode
escritas na Bíblia. O bom homem na Idade Média era aquele filosofar.
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