PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FORMAÇÃO DOCENTE EM PRÁTICAS EDUCATIVAS (PPGFOPRED)
DISCENTE: Lucas Costa Vieira
FICHAMENTO
LONGAREZI, Andréa Maturano; FRANCO, Patrícia Lopes Jorge. A. N. Leontiev: a
vida e a obra do psicólogo da atividade. Ensino desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais representantes russos, p. 67-110, 2013. .
[...] um dos importantes fundadores e participante ativo da Psicologia histórico-
cultural implica necessariamente percorrer a turbulenta história política e social da ex-União Soviética, no seio da qual emerge a necessidade de se constituir uma nova organização social pautada por princípios e ideais revolucionários marxista-leninistas.(p.67) De modo que, não há como dissociar as formulações teóricas conquistadas nesse âmbito e o chão sob o qual ocorreu a Revolução Socialista.(p.67) As bases teórico-metodológicas desse pensamento revolucionário encontram-se nas teses marxistas com a qual Lênin,6 em 1898, afi rmou a existência de um vínculo indissociável entre a revolução democrático burguesa e a revolução socialista-proletária. (p.69) De modo que tal organização somente se daria a partir dos princípios do método materialista histórico-dialético, enquanto instrumento para entender e agir sobre essa realidade, possibilitando a efetivação dessa sociedade socialista, não somente no plano político-econômico. (p.70) [...] que tinham como mote desenvolver, a partir da base científi ca do método materialista histórico-dialético, uma série de reformulações não dissociadas das demais lutas sociais, ou seja, da construção de uma nova sociedade: a socialista. Para Shuare (1990, p.24) a transformação radical do modelo de organização social da Rússia acarretou igualmente “transformações das relações sociais, profunda comoção no tecido da consciência social”, e consequentemente, nas consciências individuais. (p.70) [...] influenciaram inicialmente o processo de formação e desenvolvimento da pedagogia e da ciência psicológica no Período Revolucionário. (p.70) A. N. Leontiev concluiu, na primeira metade da década de 1930, 10 seus estudos na Faculdade de História e Filologia, atualmente denominada Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Moscou, com a orientação de Chelpanov em Psicologia. (p.71) Esse período marcou o início da vida profi ssional e científi ca de Leontiev, sendo convidado por Lúria a trabalhar neste mesmo Instituto, ocasião em que se tornou seu colaborador próximo. Esses fatos coincidiram com a reorganização deste Instituto e o começo da reestruturação da psicologia soviética sob as bases da fi losofi a marxista, possibilitando a “criação” da chamada “Escola histórico- cultural”. (p.72) [...] esboçou um dos pontos centrais da psicologia histórico-cultural: a distinção do trabalho humano12 das atividades de todos os demais animais. Além disso, enfatizou que era necessário o uso do método no desenvolvimento teórico da própria psicologia marxista, mediante a análise das necessidades da realidade do mundo práticoobjetivo e do projeto social da nova sociedade socialista. (p.73) Em decorrência desses estudos e do aprofundamento teórico em torno das teses do desenvolvimento cultural do psiquismo humano, em 1928, Vigotski publica na revista “Pedologia” de Moscou o artigo O desenvolvimento cultural da criança que foi considerado um manifesto da teoria histórico-cultural do psiquismo humano, defendido por ele e seus colaboradores. (p.73) Leontiev trabalhou também na Clínica de G. Rossolimo, e ministrava aulas no Instituto Nacional Estatal de Cinematografi a e no Instituto Estatal de Arte Teatral. (p.74) Tais condições evidenciam o pano de fundo que infl uenciou as escolhas e os direcionamentos dados no campo da ciência psicológica, bem como nas trajetórias de vida e das investigações dos integrantes da primeira geração da escola histórico-cultural. (p.76) Leontiev convidou Vigotski para trabalhar em Kharkov num posto de trabalho que estava destinado a ele, mas, segundo essa fonte, o próprio Vigotski recusou- se a ir, por motivos ainda não explicitados. (p.76) [...] todavia, sinalizamos que as divergências e mesmo as rupturas são processos que fazem parte do desenvolvimento do pensamento científi co. (p.76) Leontiev objetivaram formulação e elaboração de teses decisivas para o desenvolvimento da teoria da atividade, preocupou-se com os elementos e componentes estruturais da atividade; diferenciou os instrumentos humanos e os meios auxiliares dos animais; identifi cou a estrutura dos processos psíquicos internos e a da atividade objetal externa; bem como, a estrutura psíquica geral da atividade, etc. (p.78) Os resultados destes trabalhos foram apresentados em sua tese doutoral O desenvolvimento da psique em dois tomos. (p.79) A década de 1960 marcou o período em que a Ciência Psicológica se destacou no mundo acadêmico como Faculdade e não mais como Departamento, Seção ou Laboratórios vinculados às Faculdades de Filosofia já existentes desde o período czaristas. (p.80) No período entre 1971-1974, defendeu em seus trabalhos a categoria das necessidades, dos motivos e das emoções. Em 1971, teve artigos publicados na Revista Temas de Psicologia nº 2. (p.81) O movimento histórico de produção e trabalho de A.N. Leontiev é, como visto, intenso. Sua participação na construção e consolidação de uma nova psicologia marcou sua vida e a história da época, embora a notoriedade da Ciência Psicológica no mundo acadêmico-científi co não tenha ocorrido apenas nas grandes cidades da União Soviética, mas no mundo como um todo. (p.81) [...] Leontiev desenvolveu de forma sistemática a Teoria da Atividade, uma de suas principais contribuições para a chamada teoria histórico-cultural. (p.82) [...] a atividade humana e o desenvolvimento do homem. Para Leontiev, o homem nasce homem enquanto espécie, pois em seu processo de hominização evoluiu biologicamente e desenvolveu as características que assim o constituem. No entanto, para ele, o processo de humanização é que faz do homem espécie, homem humano. (p.82) Esse processo ocorre pelo duplo movimento apropriaçãoobjetivação da cultura: ao apropriar-se do que a humanidade já produziu culturalmente, o homem internaliza a cultura e se humaniza. (p.82) Dessa forma, para Leontiev, o desenvolvimento humano se dá, sobretudo e primeiramente, pela atividade que o homem exerce. (p.82) A relação entre o homem e o mundo objetivo se dá pela atividade, não de forma mecânica como pura reação, mas de forma ativa: atua sobre o homem e o mundo objetivo transformando não apenas os objetos, mas também a si próprio, numa dupla relação de constituição. (p.82) O que distingue a atividade humana das demais é a intencionalidade presente em suas ações, situação possível pela intervenção da consciência. (p.82) Com isso, compreende que a origem das funções psíquicas humanas situa-se no processo de interiorização da atividade externa transformada em atividade interna, o que ocorre mediante a atividade do homem nas suas relações com outros homens e com a natureza. (p.83) A relação que se estabelece entre o desenvolvimento psíquico do homem e a atividade que ele realiza não se dá sob a forma de qualquer atividade [...]. (p.84) É fundamental compreender que por meio da atividade o homem domina não somente o uso de instrumentos materiais, mas, principalmente, o sistema de signifi cações que encontra já pronto, formado historicamente. (p.85) Dado o seu caráter de pessoalidade e sua vinculação com as vivências particulares, o sentido está diretamente vinculado ao motivo que impulsiona o sujeito ao objeto para o qual suas ações estão direcionadas. (p.86) Segundo Leontiev, para que a atividade assim se constitua é essencial que ela seja originária de uma necessidade. (p.87) Para Leontiev (2006, p. 68), a atividade se constitui, portanto, enquanto processo psicologicamente caracterizado “por aquilo a que o processo, como um todo se dirige (seu objeto), coincidindo sempre com o objetivo que estimula o sujeito a executar esta atividade, isto é, o motivo. (p.89) Esse componente estrutural da atividade é fundamental para entender a distinção que o autor faz entre atividade e ação. Por isso, é preciso compreender o que Leontiev está chamando de motivo. (p.89) Leontiev distingue ações de atividade. (p.91) O objetivo consiste, pois, na fi nalidade, é a representação imaginária dos resultados possíveis a serem alcançados com a realização de uma ação concreta. (p.91) A atividade possui uma estrutura interna e, em sua análise, é preciso observar tais vínculos sistêmicos internos. (p.91) Entendida a relação atividade-ação, bem como suas particularidades, é preciso enfatizar a dinamicidade desse processo. A atividade, originária de uma necessidade, é dirigida a um determinado objeto (que consiste no seu conteúdo); depende dos motivos – o que move o sujeito –; e é constituída por ações – que, por sua vez, dependem dos objetivos –; e são dirigidas por operações – que são os meios ou procedimentos para realizar a ação. (p.92) O sujeito é aquele que realiza a ação, pode ser um indivíduo concreto, um grupo social ou a sociedade; e está inserido nas redes de relações sociais diversas num dado contexto histórico. (p.92) Em seu movimento, a atividade depende do motivo, as ações dos objetivos e as operações das condições. (p.93) Analisando o constructo teórico de Leontiev observa-se que sua grande contribuição para a educação escolar reside no seio de sua Teoria da Atividade, partindo da premissa de que é pela atividade que o homem se desenvolve. (p.94) Esse processo não se restringe a uma relação unilateral de mera transmissão desse patrimônio. O homem se apropria da cultura e nela se objetiva. Portanto, esse movimento é dialético, a partir do qual o homem se constitui enquanto humano e, nesse mesmo movimento, constitui a humanidade. (p.94) Nesse sentido, uma análise rápida para a educação em contextos escolares capitalista permite-nos afi rmar que ela se constitui sob a base de ações e não de atividades. (p.94) A análise do sistema educacional, nesses contextos, permite-nos, portanto, compreender que a escola está sob as bases de um modelo alienante de educação e, nesse sentido, muito distante do propósito de propiciar novas formações psíquicas no sujeito, situação sine que non para sua condição de humano na perspectiva leontieviana, (p.95) [...] para que a atividade realmente potencialize o desenvolvimento do professor e do estudante, é preciso que o motivo da atividade de ensino coincida com o objeto da ação do professor, seu alvo; e que no caso do aluno também ocorra a coincidência do motivo da atividade de estudar com o objeto da ação do aluno (formar-se). (p.95) Nesse sentido, para que a atividade do professor se constitua em atividade para os estudantes é necessário que ela parta da identifi cação das necessidades preliminares dos mesmos, tendo em vista a construção de necessidades coletivas, primeira condição de toda e qualquer atividade. (p.96) O constructo teórico-metodológico da Teoria da Atividade nos impulsiona aos enfrentamentos de tais condições, no próprio movimento contraditório das relações sociais e culturais que marcam nosso sistema de ensino e a educação escolar no Brasil. (p.97)