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A filosofia dos sentimentos morais.

SECÇÃO 1.
NATUREZA E IMPORTÂNCIA DA CIÊNCIA
DOS SENTIMENTOS MORAIS.
O homem deve ser contemplado como um ser intelectual e moral. Por seus poderes
intelectuais, ele adquire o conhecimento dos fatos, observa suas conexões e traça as
conclusões que surgem deles. Essas operações mentais, no entanto, mesmo em um alto
estado de cultivo, podem ser direcionadas inteiramente para verdades de tipo extrínseco,
isto é, para aquelas que não exercem nenhuma influência sobre a condição moral do
indivíduo ou sobre suas relações com outros seres sencientes. Eles podem existir em grau
eminente no homem que vive apenas para si mesmo e sente pouco além do interesse
pessoal.(P2) quer, ou os prazeres egoístas da hora que está passando sobre ele.
Mas, quando contemplamos o homem como um ser moral, novas relações se abrem à
nossa vista, e estas são de maior importância. Nós o encontramos ocupando um lugar em
um grande sistema de governo moral, no qual ele tem um posto importante a preencher
e altos deveres a cumprir. Nós o encontramos em certas relações com um grande
governador moral, que preside este sistema de coisas, e com um futuro estado de ser para
o qual a cena atual pretende prepará-lo. Nós o encontramos possuidor de poderes que o
qualificam para sentir essas relações e de princípios calculados para guiá-lo através das
solenes responsabilidades que acompanham seu estado de disciplina moral.
Percebemos que essas duas partes de sua constituição mental são notavelmente distintas
uma da outra. O primeiro pode estar em exercício vigoroso naquele que tem pouco
sentimento de sua condição moral - e o último pode estar em alto estado de cultura no
homem que, em termos de aquisição intelectual, sabe pouco além das verdades que mais
lhe interessam saber - aquelas grandes, masprincípios simples que orientam sua conduta
como ser responsável.

Em uma mente bem regulada, há uma íntima harmonia e cooperação entre esses dois
departamentos da economia mental. O conhecimento, recebido por meio dos poderes da
sensação e do intelecto simples, seja relacionado a coisas externas ou a fenômenos
mentais - e as conclusões derivadas deles por meio dos poderes do raciocínio - devem
contribuir para aquele que é o estado mais elevado do homem - sua pureza como ser
moral. Todos eles devem prestar sua ajuda para o cultivo daqueles princípios de sua
natureza que o ligam a seus semelhantes; - e aqueles princípios ainda mais elevados, que
elevam seus fracos poderes ao Eterno Incompreensível, a primeira grande causa de todas
as coisas e o Governador moral do universo.
Um leve grau de observação é suficiente para nos convencer de que tal condição regulada
da constituição mental não existe na generalidade da humanidade. Não é meu propósito
presente investigar as causas pelas quais isso é primariamente perturbado; mas pode ser
interessante traçar algumas das circunstâncias que desempenham um papel na
produção.[Pg 4]o desarranjo. Em nosso atual estado de ser, estamos cercados de objetos
dos sentidos; e a mente é mantida, em grande medida, sob a influência de coisas
externas. Dessa maneira, muitas vezes acontece que fatos e considerações escapam à
nossa atenção, e ações escapam de nossa memória, de uma maneira que não ocorreria se
a mente tivesse liberdade para recordar suas próprias associações e sentir a influência
de princípios que realmente fazem parte da constituição mental. É assim que, em meio à
agitação da vida, a atenção tende a ser absorvida por considerações de caráter local e
inferior; enquanto fatos e motivos do mais alto momento são negligenciados, e nossas
próprias ações, há muito passadas, escapam de nossa lembrança. Assim, perdemos um
senso correto de nossa condição moral e cedemos à agência das coisas presentes e
externas, de forma desproporcional ao seu valor real. Pois nossa maior preocupação
como seres morais é com coisas futuras e invisíveis, e muitas vezes com circunstâncias
em nossa própria história moral, há muito passadas e talvez esquecidas. Daí o benefício
do retiro e da calma reflexão, e de tudo o que tende a nos afastar do [Pg 5]impressão de
objetos sensíveis, e nos leva a sentir a superioridade das coisas que não são vistas. Sob tal
influência, a mente exibe um poder surpreendente de relembrar o passado e
compreender o futuro - e de ver os objetos em suas verdadeiras relações, consigo mesmo
e entre si.
A primeira delas, de fato, vemos exemplificada em muitas afecções, nas quais a mente é
separada, em maior ou menor grau, de sua relação com o mundo externo, por causas que
atuam sobre a organização corporal. Em outra obra, descrevi muitos exemplos notáveis
da mente, nessa condição, recordando suas antigas impressões a respeito de coisas há
muito passadas e totalmente esquecidas; e os fatos ali declarados chamam nossa atenção
de maneira muito marcante para seus poderes inerentes e sua existência independente.
Este assunto é de intenso interesse e sugere reflexões do tipo mais importante,
respeitando os poderes e propriedades do princípio pensante. Em particular, ela nos leva
a um período, que aprendemos a antecipar até mesmo pelas induções da ciência
intelectual, quando, a estrutura corporal sendo dissolvida, a essência pensante e
raciocinante[Pg 6]exercer suas faculdades peculiares em um estado de ser mais
elevado. Existem fatos nos fenômenos mentais que dão um alto grau de probabilidade à
conjectura de que todas as transações da vida, com os motivos e a história moral de cada
indivíduo, podem então ser relembradas por um processo da própria mente e colocadas,
como num único relance, distintamente diante dele. Se percebêssemos tal condição
mental, não deixaríamos de contemplar as impressões assim evocadas, com sentimentos
muito diferentes daqueles pelos quais tendemos a ser enganados em meio à influência
das coisas presentes e externas. — O tumulto da vida acabou; — buscas, princípios e
motivos, que outrora tiveram um aspecto de importância, são vistos com sentimentos
mais adaptados ao seu verdadeiro valor. — O princípio moral recupera aquela autoridade
que, em meio às disputas da paixão,[Pg 7]atributos como um governador moral.—O tempo
passado é contraído em um ponto, e a infância do ser;—o tempo vindouro é visto
expandindo-se para a existência eterna.
Tais são os pontos de vista que se abrem para aquele que deseja investigar a essência pela
qual o homem se distingue como um ser racional e moral. Comparado a ela, o que são
todos os fenômenos da natureza, o que é toda a história do mundo, a ascensão e queda
dos impérios, ou o destino daqueles que os governam? Estes derivam seu interesse de
relações locais e transitórias - mas isso deve existir para sempre. Essa ciência, portanto,
deve ser considerada como a mais alta de todas as atividades humanas, que contempla o
homem em sua relação com as coisas eternas. Com sua importância devemos sentir suas
dificuldades; e, se confinássemos a investigação aos meros princípios da ciência natural,
sentiríamos que essas dificuldades são intransponíveis. Mas, nesta grande investigação,
temos duas fontes de conhecimento, às quais nada análogo pode ser encontrado na
história da ciência física,[Pg 8]direção com desejo sincero de descobrir a verdade. Estes
são - a luz da consciência - e a luz da revelação divina. Ao fazer esta declaração, estou
ciente de que estou pisando em terreno delicado - e que alguns considerarão um apelo
aos escritos sagrados como um afastamento do curso estrito da investigação
filosófica. Esta opinião, estou convencido, está totalmente em desacordo com a verdade –
e, em toda investigação moral, se tomarmos as induções da sã filosofia, juntamente com
os ditames da consciência e a luz da verdade revelada, descobriremos que constituem um
todo uniforme e harmonioso, cujas várias partes tendem, de maneira notável, a
estabelecer e ilustrar umas às outras. Se, de fato, em qualquer investigação da ciência
moral, desconsiderarmos a luz fornecida pelos escritos sagrados, assemelhamo-nos a um
astrônomo que deve confiar inteiramente em sua visão desarmada e rejeitar aquelas
invenções óticas que estendem tão notavelmente o campo de sua visão, a ponto de serem
para ele a revelação de coisas não vistas. Poderíamos supor que uma pessoa assim
alimentasse dúvidas a respeito do conhecimento fornecido pelo telescópio, mas
procedendo de maneira sincera para[Pg 9]investigar sua veracidade, ele perceberia, nas
próprias observações telescópicas, princípios desenvolvidos que são calculados para
remover suas suspeitas. Pois, no conhecimento limitado fornecido apenas pela visão, ele
encontra dificuldades que não pode explicar, aparentes inconsistências que não pode
reconciliar e fatos isolados que não pode referir a nenhum princípio conhecido. Mas, no
conhecimento mais extenso que o telescópio produz, essas dificuldades desaparecem,
fatos que pareciam desconexos ou discordantes são reunidos, e o universo aparece como
um belo sistema de ordem e consistência. É o mesmo na experiência do investigador
moral, quando ele estende seus pontos de vista além das induções da razão e corrige suas
conclusões pelo testemunho de Deus. Princípios discordantes são reunidos, dúvidas e
dificuldades desaparecem, e beleza, ordem e harmonia são vistas como permeando o
governo da Deidade. Desta forma também surge uma espécie de evidência para as
doutrinas da revelação, que é inteiramente independente das provas externas de sua
origem divina; e que, aos sinceros[Pg 10]mente, investe-a de todos os caracteres de
autenticidade e verdade.
A partir dessas fontes combinadas de conhecimento, assim ilustrando e confirmando
umas às outras, somos capazes de atingir, nas investigações morais, um grau de certeza
adequado à sua alta importância. Fazemo-lo quando, com sincero desejo de descobrir a
verdade, nos resignamos à orientação da luz interior, auxiliados por aquela luz do céu que
brilha no caminho do humilde indagador. Cultivada com base nesses princípios, a ciência
é adequada para envolver a mente mais poderosa; enquanto dará força ao entendimento
mais comum. Não termina em especulações estéreis, mas tende diretamente a promover
a paz na terra e a boa vontade entre os homens. É calculado tanto para ampliar o
entendimento quanto para elevar e purificar os sentimentos e, assim, cultivar o ser moral
para a vida que está por vir. Ele se espalha para a vista, tornando-se mais suave e
brilhante quanto mais longe é perseguido; e os raios que iluminam o caminho convergem
no trono dAquele que é Eterno.[Pg 11]

SECT. II.
DAS PRIMEIRAS VERDADES NA FILOSOFIA DOS
SENTIMENTOS MORAIS.
O conhecimento que recebemos por meio de nossos poderes intelectuais pode ser
classificado em duas classes. Estes podem ser distinguidos pelos nomes de conhecimento
adquirido e artigos de crença intuitivos ou fundamentais. O primeiro é obtido pelo uso
ativo de nossos poderes mentais, coletando fatos, traçando suas relações e observando
as deduções que surgem de combinações particulares deles. Estas constituem as
operações a que me referi noutra obra, sob a designação de processos de investigação e
processos de raciocínio. O pleno exercício delas requer certa cultura das faculdades
mentais e, consequentemente, está confinado a um número comparativamente pequeno
de homens. Percebemos, no entanto, que tal cultura não é essencial para todos os
indivíduos - pois muitos são muito deficientes nela e, no entanto, são considerados
pessoas de boa saúde.[Pg 12]mente, e capaz de cumprir seus deveres em várias situações
da vida de maneira honrosa e útil.
Mas o conhecimento que derivamos da outra fonte é de importância imediata e essencial
para homens de todos os graus; e, sem ela, nenhum indivíduo poderia se envolver, com
confiança, em qualquer uma das transações comuns da vida, ou fazer qualquer provisão
para sua proteção ou conforto, ou mesmo para a continuação de sua existência. Esses são
os princípios também tratados, em obra anterior, sob o nome de Primeiras Verdades. Eles
não são, como nosso conhecimento do outro tipo, o resultado de qualquer processo de
investigação ou de raciocínio e, para possuí-los, nenhum homem depende de sua própria
observação ou recorre à de outros homens. Eles fazem parte de sua constituição mental,
surgindo, com um sentimento de certeza absoluta, em toda mente sã; e, embora não
admitam prova por processos de raciocínio, [Pg 13]
Se o Criador assim implantou na mente do homem princípios para guiá-lo em suas
relações intelectuais e físicas, independentemente de qualquer conhecimento adquirido,
poderíamos naturalmente esperar encontrá-lo dotado, da mesma maneira, de princípios
adaptados às suas relações mais importantes como um ser moral. Podemos naturalmente
esperar que, nessas altas preocupações, ele não seja deixado ao conhecimento que possa
adquirir casualmente, seja por meio de seus próprios poderes de investigação ou
raciocínio, seja por meio de instruções recebidas de outros homens. Impressões
adaptadas a esse importante objetivo, portanto, encontramos desenvolvidas de maneira
notável - e elas se referem àquela parte de nossa constituição, que ocupa um lugar tão
importante na filosofia da mente, pela qual percebemos diferenças no aspecto moral das
ações, e aprová-los ou desaprová-los como certos ou errados. As convicções derivadas
dessa fonte parecem ocupar no sistema moral o mesmo lugar que as verdades primeiras,
ou artigos intuitivos de crença, ocupam no intelectual. Como eles, eles também não
admitem provas diretas por processos de raciocínio; e, quando argumentos sofísticos
são[Pg 14]trazido contra eles, a única resposta verdadeira consiste em um apelo à
consciência de toda mente não contaminada; - pelo que queremos dizer principalmente
a consciência de suas próprias impressões morais, em uma mente que não foi degradada
em suas percepções morais por um curso de depravação pessoal. Esta é uma
consideração da maior importância prática; e provavelmente parecerá que muitos
argumentos bem-intencionados, respeitando os primeiros princípios da verdade moral,
foram inconclusivos, da mesma maneira que as tentativas de estabelecer as primeiras
verdades por processos de raciocínio - porque a linha de argumentação adotada em
relação a eles era uma das quais eles não são suscetíveis. A força dessa analogia não é
enfraquecida em nenhum grau pelo fato de que há, em muitos casos, uma aparente
diferença entre aquela parte de nossa constituição mental, sobre o qual se baseia nossa
convicção das primeiras verdades e o princípio do qual deriva nossa impressão da
verdade moral: - Pois o primeiro continua o mesmo em toda mente que não é obscurecida
pela idiotice nem distorcida pela insanidade; mas os sentimentos morais tornam-se
viciados por um processo da própria mente, pelo qual ela gradualmente se desviou de [Pg
15]retidão. Daí a diferença que encontramos nas decisões de diferentes homens,
respeitando a verdade moral, decorrente de peculiaridades em sua própria condição
mental; - e, portanto, aquele notável obscurecimento da mente, ao qual alguns homens
finalmente chegam, pelo qual o julgamento é totalmente pervertido respeitando os
primeiros grandes princípios da pureza moral. Quando, portanto, apelamos para certos
princípios na constituição mental, como a fonte de nossas primeiras impressões da
verdade moral, nosso apelo é feito principalmente para uma mente que não é obscurecida
pela depravação, nem confusa pelos refinamentos de uma falsa filosofia: - é feito para
uma mente na qual a consciência ainda detém algum grau de sua autoridade legítima e
na qual há um desejo sincero e honesto de descobrir a verdade. Esses dois elementos de
caráter devem andar juntos em toda investigação correta da ciência moral; e, para um
homem em uma condição oposta, não devemos apelar, no que diz respeito aos princípios
da verdade moral, mais do que devemos tirar da pessoa tola ou do maníaco nosso teste
daqueles primeiros princípios da verdade intelectual, que são considerados elementos
originais de crença em toda mente sã. [Pg 16]
Remediar os males decorrentes dessa diversidade e distorção da percepção moral é um
dos objetos da revelação divina. Por meio dela é introduzido um padrão fixo e uniforme
de verdade moral; mas é importante observar que, para a autoridade disso, é feito um
apelo aos princípios da própria mente e que cada parte dela desafia o consentimento do
homem em quem a consciência não perdeu seu poder na economia mental.

Tendo em vista a distinção que agora foi referida, parece que existem certos primeiros
princípios da verdade moral, que surgem na mente pelo mais simples processo de
reflexão – seja como constituindo suas próprias convicções morais primárias, seja como
decorrente de sua consciência dessas convicções por uma cadeia de relações simples e
óbvia. Estes são principalmente os seguintes.
I. Uma percepção da natureza e qualidade das ações, como justas ou injustas, - certas ou
erradas; - e uma convicção de certos deveres, como justiça, veracidade e benevolência,
que todo homem deve a seus semelhantes. Cada homem, em seu próprio caso,
novamente, ex[Pg 17]espera dos outros os mesmos ofícios; e, nessa reciprocidade de
sentimento, funda-se o preceito, que é sentido como uma obrigação universal, de fazer
aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós.
II. Dessa impressão moral primária surge, por uma sequência muito natural, a convicção
da existência e superintendência de um grande Governador moral do universo - um ser
de infinita perfeição e infinita pureza. A crença neste Ser, como a primeira grande causa,
é derivada, como vimos anteriormente, por um simples passo de raciocínio, de uma
pesquisa das obras da natureza, tomada em conexão com a Primeira Verdade, que todo
evento deve ter uma causa adequada. Nosso senso de seus atributos morais surge, com
um sentimento de igual certeza, quando, a partir das impressões morais de nossas
próprias mentes, inferimos os atributos morais daquele que assim nos formou.
III. Dessas impressões combinadas, surge naturalmente um senso de responsabilidade
moral; - ou uma convicção de que, para o devido desempenho dos deveres indicados pela
consciência, ou consciência moral, o homem é responsável perante o Governador do
universo; - e além disso,[Pg 18]que a este Ser ele deve, mais imediatamente, certa
homenagem dos sentimentos morais, inteiramente distinta dos deveres que ele deve aos
seus semelhantes.
4. Dessa cadeia de convicções morais, é impossível separar uma impressão profunda de
existência continuada, ou de um estado de ser além da vida presente - e disso como um
estado de retribuição moral.

A consideração desses importantes objetos de crença nos ocorrerá posteriormente em


várias partes de nossa investigação. Eles são brevemente declarados aqui, em referência
ao lugar que ocupam como Primeiras Verdades, ou artigos primários de crença moral,
que surgem por uma cadeia natural e óbvia de sequência, na convicção moral de todo
entendimento sólido. Para a verdade deles, apelamos não a qualquer processo de
raciocínio propriamente dito, mas à convicção que se impõe a toda mente regulada. Nem
vamos para o exterior entre nações selvagens, para indagar se a impressão deles é
universal; pois isso pode ser obscurecido nas comunidades, assim como nos indivíduos,
por um curso de moral[Pg 19]degradação. Apelamos ao próprio casuísta, para saber se, no
calmo momento de reflexão, pode despojar-se do seu poder. Apelamos aos sentimentos
do homem que, sob a consciência da culpa, se encolhe diante do pavor de uma Deidade
presente e da antecipação de um ajuste de contas futuro. Mas apelamos principalmente
para a convicção dele, em quem a consciência mantém sua supremacia legítima e que
habitualmente valoriza essas verdades importantes, como seus guias nesta vida em sua
relação com a vida que está por vir.
Ao aplicar a esses importantes artigos de crença o nome de Primeiras Verdades, ou
princípios primários de convicção moral, não pretendo atribuir a eles nada da natureza
de idéias inatas. Quero dizer apenas que eles surgem, com uma convicção rápida ou
instantânea inteiramente distinta do que chamamos de processo de raciocínio, em toda
mente regulada, quando é dirigida, pelo curso de reflexão mais simples, aos fenômenos
da natureza externa e aos sentimentos morais dos quais ela é consciente
internamente. Parece ser um ponto da maior importância prática, que devemos
considerá-los como decorrentes de princípios que[Pg 20]fazem parte de nossa
constituição moral; pois é apenas dessa maneira que podemos considerá-los calculados
para influenciar a massa da humanidade. Pois, se não acreditamos que eles surjam, dessa
maneira, pelo exercício espontâneo de toda mente não corrompida, existem apenas dois
métodos pelos quais podemos supor que eles se originaram; - o primeiro é uma revelação
direta da Divindade - o outro é um processo de raciocínio ou de investigação,
propriamente dito, análogo àquele pelo qual adquirimos o conhecimento de qualquer
princípio na ciência natural. Não podemos acreditar que eles sejam derivados
inteiramente da revelação, porque encontramos a crença existente onde nenhuma
revelação é conhecida e porque encontramos os escritores sagrados apelando para eles
como fontes de convicção existentes na constituição mental de todo homem. Há um
absurdo óbvio, novamente, ao supor que os princípios, que devem regular a conduta de
seres responsáveis, devem ser deixados ao acaso de serem desdobrados por processos
de raciocínio, nos quais diferentes mentes podem chegar a diferentes conclusões, e em
relação aos quais muitos são incapazes de seguir qualquer argumento. O que é chamado
de argumentoa priori para o ex[Pg 21]A existência e os atributos da Divindade, por
exemplo, transmitem pouco que seja conclusivo para a maioria das mentes, e para muitos
é totalmente incompreensível. A mesma observação pode ser aplicada àqueles
argumentos bem-intencionados e hábeis, pelos quais a probabilidade de um estado
futuro é demonstrada por analogia e pela constituição da mente. Estes são fundados
principalmente em três considerações, - a tendência da virtude para produzir felicidade,
e do vício ser seguido pela miséria, - a distribuição desigual do bem e do mal na vida
presente - e a adaptação de nossas faculdades morais a um estado de ser muito diferente
daquele em que estamos atualmente colocados. Há muito nesses argumentos calculados
para elevar nossas concepções de nossa condição como seres morais, e desse futuro
estado de existência para o qual estamos destinados; e há muito espaço para os mais altos
poderes de raciocínio, ao mostrar a conformidade dessas verdades com as induções mais
sólidas da verdadeira filosofia. Mas, apesar de toda a sua verdade e toda a sua utilidade,
pode-se duvidar que sejam para alguém o fundamento de sua fé em outro estado de
ser. Deve-se admitir, pelo menos, que seus[Pg 22]a força é sentida apenas por aqueles
cujas mentes foram em algum grau treinadas para hábitos de raciocínio e que, portanto,
não estão adaptadas à massa da humanidade. Mas as verdades que eles pretendem
estabelecer são de importância eterna para os homens de todos os graus e, portanto,
devemos esperar que elas se baseiem em evidências que encontram seu caminho com
objetivo infalível para os corações dos incultos. Os raciocínios irrespondíveis de Butler
nunca chegaram aos ouvidos do piedoso camponês de cabelos grisalhos, mas ele não
precisa de sua ajuda poderosa para estabelecer sua esperança segura e certa de uma
imortalidade abençoada. Não é a indução da lógica que transfixou o coração da vítima de
profundo remorso, quando ele murcha sob uma influência invisível ao olho humano e se
encolhe diante da antecipação de um acerto de contas por vir. Em ambos, a evidência está
dentro, - uma parte da constituição original de toda mente racional, plantada ali por
aquele que emoldurou o maravilhoso tecido. Este é o poder da consciência; - com uma
autoridade que nenhum homem pode afastar dele, implora ao mesmo tempo por sua
própria existência futura e pelos atributos morais de uma Deidade onipotente e sempre
presente. Em estado saudável de[Pg 23]sentimentos morais, o homem reconhece sua
pretensão de domínio supremo. Em meio à degradação da culpa, ela ainda levanta sua
voz e afirma seu direito de governar o homem todo; e, embora suas advertências sejam
desconsideradas e suas reivindicações rejeitadas, prova dentro de sua alma um acusador
que não pode ser silenciado e um espírito vingador que nunca é extinto.
Observações semelhantes se aplicam à uniformidade das distinções morais ou à
convicção de uma certa linha de conduta que o homem deve a seus semelhantes. Tem
havido muitas controvérsias e vários sistemas de contestação em referência a este
assunto, mas eu afirmo que a questão pode ser resolvida da mesma maneira que a agora
mencionada. Certos princípios fixos e definidos de dever relativo parecem ser
reconhecidos pelo consentimento da humanidade, como uma parte essencial de sua
constituição moral, por uma convicção tão absoluta quanto aquela pela qual são
reconhecidas nossas qualidades corporais. O criminoso endurecido, cuja vida tem sido
um curso de injustiça e fraude, quando finalmente levado a circunstâncias que o expõem
ao conhecimento ou à retribuição de seus semelhantes, espera de [Pg 24]eles veracidade e
justiça, ou talvez até se lance em sua misericórdia. Assim, ele reconhece tais princípios
como parte da constituição moral, assim como o cego, quando se perde no caminho, pede
orientação à primeira pessoa que encontra, presumindo que esta possui um sentido que,
embora perdido para ele, ainda considera como pertencente a todo homem são. Ao se
defender, também, o criminoso mostra o mesmo reconhecimento. Pois, seu objetivo é
refutar os fatos alegados ou apresentar desculpas para sua conduta; - ele nunca tenta
questionar aqueles princípios universais pelos quais sente que suas ações devem ser
condenadas, se os fatos forem provados contra ele. Sem tais princípios, de fato, assim
universalmente reconhecidos, é evidente que todo o sistema das coisas humanas entraria
em confusão e ruína. As leis humanas podem restringir ou punir atos grosseiros de
violência e injustiça; mas eles nunca podem fornecer inúmeros métodos pelos quais um
homem pode prejudicar seu vizinho ou promover seu próprio interesse às custas de
outros. Existem, de fato, poucos casos que podem ser atendidos por qualquer instituição
humana; é um princípio interior que regula a[Pg 25]toda a economia moral. Em sua
extensão e importância, quando comparado com todos os dispositivos do homem, pode
ser comparado aos grandes princípios que guiam os movimentos do universo, em
contraste com os artifícios pelos quais os homens produzem resultados particulares para
sua própria conveniência; e alguém poderia esperar mover um planeta por meio de
máquinas, ou impulsionar um cometa pela força do vapor, do mesmo modo que preservar
a aparência de ordem no mundo moral, sem aqueles princípios fundamentais de retidão
que fazem parte da constituição original de todo ser racional.
Além disso, como cada homem tem a consciência desses princípios em si mesmo, ele tem
a convicção de que princípios semelhantes existem nos outros. Daí surge a impressão de
que, como ele julga a conduta deles por seus próprios sentimentos morais, eles também
o julgarão pelos sentimentos correspondentes em si mesmos. Dessa maneira é produzida
aquela reciprocidade de impressão moral, pela qual um homem sente que a opinião de
seus semelhantes é uma recompensa ou uma punição; e, portanto, também surge aquela
grande regra de dever relativo, que nos ensina a fazer aos outros o que gostaríamos que
eles fizessem a nós.[Pg 26]Essa uniformidade de sentimento moral e afeto prova até
mesmo um controle sobre aqueles que subjugaram a influência desses sentimentos em si
mesmos. Assim, um homem que abandonou todo senso de justiça, compaixão ou
benevolência ainda é mantido sob certo grau de controle pela convicção dessas
impressões existentes naqueles por quem ele está cercado. De fato, existem homens no
mundo, como observou Butler, nos quais essa parece ser a única restrição à qual sua
conduta está sujeita.
No geral, portanto, parece haver fundamento para supor que os artigos de crença, que
foram objeto das observações anteriores, são princípios primários que surgem com um
sentimento imediato de convicção em nossa constituição moral; e que eles correspondem
àqueles elementos em nossa economia intelectual, que são comumente chamados de
Primeiras Verdades - princípios que agora são universalmente admitidos como não
exigindo nenhuma outra evidência além da convicção que se impõe a todo entendimento
sólido.[Pg 27]

FILOSOFIA
DOS SENTIMENTOS MORAIS.
Quando analisamos os princípios que distinguem o homem como ser moral, nossa
atenção se volta primeiro para suas ações, como os fenômenos externos pelos quais
julgamos seus princípios internos. É do conhecimento de todos, entretanto, que a mesma
ação pode proceder de motivos muito diferentes, e que, quando temos meios de estimar
motivos ou princípios, é a partir deles que formamos nosso julgamento a respeito da
condição moral do indivíduo, e não apenas de suas ações. Quando consideramos
separadamente os elementos que entram na economia de uma sociedade inteligente e
responsável[Pg 28]agente, eles parecem resolver-se no seguinte:
I. Sua conduta ou ações reais.
II. Ao determinar sua conduta, o princípio imediato é sua vontade, ou simples volição. Ele
deseja algum ato - e o ato segue, é claro, a menos que seja impedido por restrição externa
ou por incapacidade física de realizá-lo. Somente estes podem interferir com um homem
seguindo a determinação de sua vontade, ou simples volição.
III. Os objetos da vontade ou simples volição são atribuíveis a duas classes - objetos a
serem obtidos - e ações a serem realizadas a outros; - e estes estão conectados com duas
condições mentais distintas, que existem anteriormente ao ato de volição. No que diz
respeito aos objetos a serem obtidos, esta condição mental é o Desejo ; no que diz respeito
às ações para com os outros, é o Afeto . Os Desejos e Afeições, portanto, ocupam um lugar
na mente anterior à volição. De um deles se origina o estado mental que, sob certas regras,
leva[Pg 29]à vontade, ou à nossa vontade de um determinado ato. O ato, que é então o
resultado da volição, consiste em certos esforços para alcançar o objeto desejado, ou em
certa conduta para com outros homens, divertindo-se com nossas afeições ou
sentimentos mentais em relação a eles. Os Desejos e Afeições, portanto, podem ser
considerados como os poderes primários ou motores, dos quais procedem nossas
ações. Em conexão com eles, temos que ter em vista outro princípio, que tem ampla
influência em nossa conduta em relação a essas duas classes de emoções. Isso é amor
próprio; - o que nos leva a buscar nossa própria proteção, conforto e vantagem. É um
princípio de ação sólido e legítimo quando mantido em seu devido lugar; - quando
permitido usurpar uma influência indevida, degenera em egoísmo; e então interfere em
grau material no exercício das afeições ou, em outras palavras, em nosso dever para com
outros homens.
4. Em seguida, temos que prestar atenção ao fato de que todo desejo não é seguido por
uma vontade real para obter o objeto; - e que toda afeição não leva à conduta que
poderia[Pg 30]fluir dele. Assim, um homem pode sentir um desejo que, após consideração,
decide não satisfazer. Outro pode experimentar uma afeição e não agir de acordo com ela;
- ele pode sentir benevolência ou amizade e, no entanto, agir, no caso particular, com frio
egoísmo; - ou pode sentir o impulso da raiva e, no entanto, comportar-se com
tolerância. Quando, portanto, damos mais um passo para trás na cadeia de sequências
morais, nossa atenção é direcionada para certos princípios pelos quais a determinação é
realmente decidida - seja de acordo com o desejo ou afeição que está presente na mente,
ou em oposição a ela. Isso nos leva a um assunto de extrema importância prática: - e os
princípios, que assim decidem a determinação da mente, referem-se a duas cabeças.
(1.) A determinação ou decisão pode surgir de um certo estado de arranjo dos próprios
poderes motores, em conseqüência do qual algum deles adquiriu uma influência
predominante no sistema moral. Isso geralmente resulta do hábito ou indulgência
frequente, como veremos em uma parte subsequente de nossa investigação. Um homem,
por exemplo, pode desejar um objeto, mas perceber que[Pg 31]a conquista exigiria um
grau de esforço maior do que ele está disposto a dedicar a isso. Este é o amor
preponderante da facilidade, um ramo do amor-próprio. Outro pode perceber que a
gratificação prejudicaria seu bom nome, ou a estimativa em que ele está ansioso para
aparecer aos olhos de outros homens; - este é o amor predominante de aprovação ou
respeito ao caráter. Da mesma maneira, um terceiro pode sentir que isso interferiria em
seus esquemas de avareza ou ambição - e assim em relação aos outros desejos. Em um
princípio semelhante, um homem pode experimentar um forte impulso de raiva, mas
perceber que seria perigoso gratificá-lo, ou que ele promoveria sua reputação ou seu
interesse por não agir sobre isso; - ele pode experimentar uma afeição benevolente,
(2.) A determinação pode surgir de um senso de dever ou de uma impressão de retidão
moral, independentemente de qualquer consideração de natureza pessoal. Este é
o Princípio Moral ou Consciência ; - em toda mente em estado de saúde moral, é o
princípio supremo e regulador, preservando entre[Pg 32]os poderes motores uma certa
harmonia entre si e com os princípios da retidão moral. Freqüentemente, estimula uma
conduta que exige um sacrifício de amor próprio e, assim, impede que esse princípio
interfira no bom exercício das afeições. Ele regula os desejos e os restringe pela simples
regra da pureza; - dirige e regula as afeições da mesma maneira pelo alto senso de
responsabilidade moral; e assim mantém a ordem e a harmonia em todo o sistema moral.
Uma das principais diferenças do caráter humano, de fato, surge da circunstância de um
homem ser habitualmente influenciado pelo princípio simples e direto do dever, e outro
apenas por uma espécie de disputa entre desejos e motivos de natureza muito inferior ou
egoísta. Assim também adquirimos conhecimento do temperamento moral de diferentes
homens e aprendemos a adaptar nossas medidas de acordo com nossas transações com
eles. Ao tentar, por exemplo, estimular três indivíduos a algum ato de utilidade,
descobrimos que, em um, temos apenas que apelar para seu senso de dever; em outro a
sua vaidade ou amor de[Pg 33]aprovação; enquanto não temos esperança de causar
nenhuma impressão no terceiro, a menos que possamos fazer com que pareça ter
interesse.
V. Os princípios mencionados nos tópicos anteriores são principalmente aqueles que
regulam a conexão do homem com seus semelhantes. Mas há outra classe de emoções,
em sua natureza distinta dessas; embora, do ponto de vista prático, estejam muito
ligados. Estas são as emoções que surgem de sua relação com a Deidade. A regulação dos
sentimentos morais, com referência a essa relação, será, portanto, considerada em um
departamento de investigação dedicado a eles mesmos, em conexão com as visões do
caráter e atributos de Deus, que obtemos à luz da razão e da consciência.

Esta análise dos princípios que constituem os sentimentos morais indica a divisão
posterior de nossa investigação da seguinte maneira:
Os desejos, as afeições, e o amor-próprio.
II. A vontade.
III. O Princípio Moral, ou Consciência.
IX. A relação moral do homem para com a Divindade.
Estes constituem o que pode ser chamado de princípios ativos do homem, ou aqueles que
são calculados para decidir sua conduta como um ser moral e responsável. Em conexão
com eles, existe uma outra classe de sentimentos, que pode ser chamada de emoções
passivas ou de conexão. Eles exercem uma influência considerável de tipo
secundário; mas, em um ensaio que pretende ser essencialmente prático, talvez não seja
necessário fazer mais do que enumerá-los de maneira a apontar sua relação com os
princípios ativos.
Quando um objeto apresenta qualidades pelas quais desejamos obtê-lo,
sentimos desejo . Se temos motivos para pensar que está ao nosso alcance,
experimentamos a esperança ; e o efeito disso é nos encorajar em nossos esforços. Se
chegarmos a uma convicção que não deixe dúvidas sobre a obtenção, isso é confiança ,
uma das formas desse estado de espírito que chamamos de fé . Se não vemos
perspectiva[Pg 35]de alcançá-lo, cedemos ao desespero - e isso nos leva a abandonar todo
esforço para alcançá-lo. Quando obtemos o objeto, experimentamos prazer ou alegria ; se
ficamos desapontados, sentimos arrependimento . Se, novamente, temos a perspectiva de
algum mal que nos ameaça, sentimos medo e, portanto, somos estimulados a fazer
esforços para evitá-lo. Se conseguirmos fazer isso, sentiremos alegria ; se não,
sentimos tristeza . Se o mal parece inevitável, novamente cedemos ao desespero , e assim
somos levados a desistir de todas as tentativas de evitá-lo. — Emoções semelhantes
acompanham as afeições. Quando experimentamos um afeto, desejamospara poder agir
sobre ele. Quando vemos uma perspectiva de fazê-lo, esperamos ; se parece não haver
nenhum, nos desesperamos em realizar nosso objetivo. Quando agimos de acordo com
uma afeição benevolente, ou de acordo com os ditames do princípio moral,
experimentamos a auto-aprovação ; quando ao contrário, sentimos remorso . Quando um
desejo ou uma afeição adquire uma influência indevida, de modo a nos levar adiante de
maneira desproporcional às suas tendências reais e próprias, torna-se uma paixão .[Pg 36]
PARTE I.
DOS DESEJOS, DOS AFETOS E DO AMOR PRÓPRIO.

SECT. EU.
OS DESEJOS.
Desejo é o movimento ou ato imediato da mente em direção a um objeto que apresenta
alguma qualidade pela qual desejamos obtê-lo. Os objetos de desejo, portanto, abrangem
todas aquelas realizações e gratificações que a humanidade considera dignas de serem
procuradas. O objetivo perseguido em cada caso particular é determinado pelas opiniões,
hábitos e disposições morais do indivíduo. Desta forma, uma pessoa pode considerar um
objeto, acima de qualquer outro, digno de ser procurado, o que para outro parece
insignificante ou sem valor. Os princípios que regulam[Pg 37]essas diversidades e,
conseqüentemente, formam uma das grandes diferenças no caráter humano, pertencem
a uma parte subsequente de nossa investigação.
Ao formar uma classificação dos desejos, devemos ser guiados simplesmente pela
natureza dos vários objetos desejados. Aqueles que podem ser especificados como os
mais prevalentes, e os mais claramente distinguidos como separados, podem ser
referidos nos seguintes cabeçalhos.
I. A gratificação das propensões animais, comumente chamadas de apetites. Estes, que
possuímos em comum com os animais inferiores, são implantados em nós para
propósitos importantes; mas requerem ser mantidos sob o mais rígido controle, tanto da
razão quanto do princípio moral. Quando lhes é permitido romper essas restrições e se
tornarem os principais princípios de ação, eles formam um caráter o mais baixo na escala,
seja intelectual ou moral; e é impossível contemplar uma condição mais degradada de um
ser racional e moral. As consequências para a sociedade também são da natureza mais
nefasta. Sem aludir ao comilão ou ao bêbado, o que[Pg 38]culpa mulada, degradação e
miséria seguem o curso do libertino - explodindo tudo o que está ao alcance de sua
influência e estendendo um poder desmoralizante tanto para quem inflige quanto para
aqueles que sofrem o mal. Assim se constitui uma classe de males, da qual nenhuma lei
humana pode tomar qualquer conhecimento adequado, e que, portanto, eleva nossas
opiniões, de maneira especial e peculiar, a um supremo Governador Moral.
II. O Desejo de Riqueza, comumente chamado de Avareza; - embora a avareza talvez deva
ser justamente considerada como o excesso mórbido ou abuso da propensão. Isso deve
ser considerado propriamente como originário do desejo de possuir os meios de obter
outras gratificações. Mas, pela influência do hábito, o desejo é transferido para a própria
coisa, e muitas vezes se torna uma espécie de mania, na qual existe o puro amor ao ganho,
sem aplicá-lo a qualquer outro tipo de prazer. É uma propensão que pode, de maneira
notável, absorver todo o caráter, adquirindo força pela persistência, e então é geralmente
acompanhada por um egoísmo contraído, que não considera nada [Pg 39]coisa como
mesquinha ou indigna que pode ser feita para contribuir para a paixão dominante. Este
pode ser o caso mesmo quando a propensão é regulada pelas regras da justiça; - se
romper essa restrição, leva à fraude, extorsão, engano e injustiça - e, sob outra forma, ao
roubo ou roubo. Portanto, sempre corre o risco de se opor ao exercício das afeições
benevolentes, levando o homem a viver para si mesmo e a estudar apenas os meios
calculados para promover seu próprio interesse.
III. O Desejo de Poder, ou Ambição. Este é o amor de governar - ou dar a lei a um círculo
mais ou menos extenso. Quando se torna a propensão governante, os princípios mais
fortes da natureza humana cedem diante dela - mesmo os de conforto e segurança
pessoal. Isso vemos no conquistador, que enfrenta todos os perigos, dificuldades e
privações para alcançar o poder; e no estadista, que sacrifica por ela todas as vantagens
pessoais, talvez a saúde e a paz. O princípio, no entanto, assume outra forma, que, de
acordo com sua direção, pode apontar para um objeto superior. Tal é o desejo de exer[Pg
40]poder crescente sobre as mentes dos homens; de persuadir uma multidão, por
argumentos ou eloqüência, a atos de utilidade; de defender a causa dos oprimidos; - um
poder de influenciar as opiniões dos outros e de guiá-los a sentimentos sólidos e conduta
virtuosa. Esta é uma espécie de poder, o mais gratificante de longe para uma mente
exaltada e virtuosa, e calculado para trazer benefícios para os outros onde quer que seja
exercido.
4. O Desejo de Superioridade, ou Emulação. Isso é aliado ao primeiro, exceto que não
inclui nenhum desejo direto de governar, mas visa simplesmente a aquisição de
preeminência. É uma propensão de extensa influência e não facilmente confinada dentro
dos limites do princípio correto. É capaz de conduzir a meios indevidos para a realização
de seu objeto; e todo fracasso real ou imaginário tende a excitar ódio e inveja. Por isso
requer a mais cuidadosa regulação e, quando muito estimulada nos jovens, não está
isenta do perigo de gerar paixões malignas. Sua influência e tendência, como em outros
desejos, dependem em grande medida dos objetos a serem[Pg 41]qual é dirigido. Pode ser
visto no homem que procura superar seus associados na alegria de suas roupas, no
esplendor de sua equipagem ou no luxo de sua mesa. É encontrado naquele cuja
orgulhosa distinção é ser o cavaleiro mais destemido em uma perseguição de campanário
ou caça à raposa - ou realizar alguma outra façanha, cuja única reivindicação para
admiração consiste em nunca ter sido realizada antes. O mesmo princípio, dirigido a
objetos mais dignos, pode influenciar aquele que busca ser distinguido em alguma busca
elevada, calculada para conferir um benefício duradouro ao seu país ou à humanidade.
V. O Desejo de Sociedade. Isso foi considerado pela maioria dos escritores sobre o assunto
como um princípio proeminente da natureza humana, manifestando-se em todos os
períodos da vida e em todas as condições da civilização. Em pessoas impedidas de ter
relações com seus semelhantes, isso se manifestou no apego mais próximo aos
animais; como se a mente humana não pudesse existir sem algum objeto sobre o qual
exercitar os sentimentos destinados a ligar o homem a seus semelhantes. Encontra-se na
união dos homens em[Pg 42]sociedade civil e relações sociais - nos laços de amizade e na
união ainda mais estreita do círculo doméstico. É necessário para o exercício de todos os
afetos; e até nossas fraquezas requerem a presença de outros homens. Não haveria gozo
de posição ou riqueza, se não houvesse ninguém para admirar; - e mesmo o misantropo
requer a presença de outro a quem seu spleen pode ser expresso. O abuso deste princípio
conduz ao contraditório espírito de partido.
VI. O desejo de estima e aprovação. Este é um princípio de influência mais extensa e, em
muitos casos, a fonte de exibições valiosas e úteis do caráter humano. Embora inferior ao
alto senso de obrigação moral, ainda pode ser considerado um princípio louvável - como
quando um homem busca a aprovação de outros por atos de benevolência, espírito
público ou patriotismo - por ações calculadas para promover a vantagem ou o conforto
de comunidades ou indivíduos. No exercício saudável dele, um homem deseja a
aprovação do bem; - no uso distorcido dele, ele busca apenas o elogio de uma parte, ou
talvez,[Pg 43]por atos de caráter frívolo ou mesmo vicioso, visa o aplauso de associados
cujos elogios são inúteis. De acordo com o objeto a que se dirige, portanto, o desejo de
aprovação pode ser o atributo de uma mente virtuosa ou pervertida. Mas é um princípio
que, em geral, esperamos encontrar operando em toda mente bem regulada, sob certas
restrições. Assim, um homem que é totalmente independente do caráter, isto é, da
opinião de todos os outros a respeito de sua conduta, comumente consideramos como
uma pessoa perdida para corrigir o sentimento virtuoso. Por outro lado, no entanto, pode
haver casos em que é da qualidade de um homem de grande mente seguir algum caminho
ao qual, por motivos adequados, ele se dedicou, independentemente do elogio ou da
desaprovação de outros homens. O caráter em que o amor à aprovação é um princípio
governante é, portanto, modificado pela direção dele. Desejar a aprovação dos virtuosos
leva a uma conduta de tipo correspondente e à firmeza e consistência em tal
conduta. Buscar a aprovação do vicioso leva, é claro, a um caráter oposto. Mas há uma
terceira modificação[Pg 44]cação, apresentando um assunto de algum interesse, no qual o
princípio predominante do homem é um amor geral de aprovação, sem qualquer
discriminação do caráter daqueles cujo elogio é buscado, ou do valor das qualidades pelas
quais ele o busca. Isso é vaidade; e produz uma conduta vacilante e inconsistente -
mudando perpetuamente de acordo com as circunstâncias em que o indivíduo é
colocado. Freqüentemente, leva-o a almejar a admiração por distinções de caráter muito
trivial - ou mesmo por qualidades que ele realmente não possui. Inclui, portanto, o amor
à lisonja. O orgulho, por outro lado, em oposição à vaidade, parece consistir em um
homem ter uma opinião elevada de si mesmo, enquanto é indiferente à opinião dos
outros; - assim falamos de um homem que é orgulhoso demais para ser vaidoso.
Nossa consideração pela opinião dos outros é a origem de nosso respeito ao caráter, em
questões que não se enquadram no princípio superior da moral; e é de grande influência
na promoção da harmonia, propriedade e decência da sociedade. É, portanto, a base da
boa educação e leva à gentileza e à acomodação em pequenas questões. [Pg 45] que não
pertencem à classe dos deveres. É também a fonte do que costumamos chamar de decoro
e propriedade, que levam um homem a se comportar de maneira adequada ao seu caráter
e às circunstâncias, em relação às coisas que não envolvem nenhum princípio
superior. Pois, inteiramente à parte de qualquer consideração de moralidade ou
benevolência, há uma certa linha de conduta que é imprópria em todos os homens; e há
conduta que está se tornando em alguns, embora não em outros homens - e em algumas
circunstâncias, embora possa não ser assim em outros. É desnecessário acrescentar que
quanto da respeitabilidade de um homem na vida muitas vezes depende de encontrar seu
caminho, com a devida discriminação, através das relações da sociedade que são
receptivas a este princípio; ou, por quantas ações, que não são realmente erradas, um
homem pode tornar-se desprezado e ridículo. O amor pela estima e aprovação também
exerce extensa influência nos jovens - tanto na conduta da educação quanto no cultivo do
caráter geral; e não está sujeita às objeções, anteriormente referidas, que se aplicam ao
princípio da Emulação. Leva também aos numerosos expedientes pelos quais, por [Pg
46]filhos de vários personagens buscam para si notoriedade ou um nome: ou desejam
deixar uma reputação para trás, quando já não existem. Este é o amor da fama póstuma,
assunto que tem proporcionado um extenso tema tanto para o filósofo quanto para o
humorista.
VII. O Desejo de Conhecimento, ou de Aperfeiçoamento Intelectual, incluindo o princípio
da Curiosidade. A tendência desse alto princípio deve depender, como nos casos
anteriores, de sua regulamentação e dos objetos a que se dirige. Estes podem variar desde
a tagarelice do dia até as mais altas realizações na literatura ou na ciência. O princípio
pode ser aplicado a atividades frívolas ou inúteis e a aquisições que levam apenas ao
pedantismo ou sofisma; - ou pode ser direcionado a uma aplicação inconstante, que leva
a um conhecimento superficial de uma variedade de assuntos, sem um conhecimento
correto de nenhum deles. Por outro lado, pode-se permitir que a busca do conhecimento
interfira em deveres importantes que temos para com os outros, na situação particular
em que nos encontramos. Um juiz bem regulamentado[Pg 47]o mento conduz a propensão
a objetos dignos; e o dirige de maneira a torná-lo mais útil para os outros. Com tal
regulamentação devida, o princípio deve ser cuidadosamente cultivado nos jovens. Está
intimamente ligado àquela atividade mental que busca conhecimento sobre todos os
assuntos que estão ao seu alcance e que está sempre vigilante para tornar seu
conhecimento mais correto e mais extenso.
VIII. O Desejo de Aperfeiçoamento Moral. Isso leva ao estado mais elevado do homem: e
carrega esse caráter peculiar, que é adaptado aos homens em todas as escalas da
sociedade e tende a difundir uma influência benéfica em torno do círculo com o qual o
indivíduo está conectado. O desejo de poder pode existir em muitos, mas sua gratificação
é limitada a alguns: - aquele que falha pode se tornar um misantropo descontente; e
aquele que consegue pode ser um flagelo para sua espécie. O desejo de superioridade ou
de elogio pode ser mal direcionado da mesma maneira, levando ao triunfo insolente de
um lado e à inveja do outro. Até mesmo a sede de conhecimento pode ser abusada, e
muitos são colocados[Pg 48]em circunstâncias em que não pode ser gratificado. Mas o
desejo de aperfeiçoamento moral se recomenda a todas as classes da sociedade, e seu
objetivo é alcançável por todos. Na proporção de sua intensidade e firmeza, tende a
tornar seu possuidor um homem mais feliz e melhor, e a torná-lo o instrumento de
difusão de felicidade e utilidade para todos os que estão ao alcance de sua influência. Se
ele estiver em uma posição superior, esses resultados serão sentidos mais
amplamente; se ele estiver em uma esfera humilde, eles podem ser mais limitados; mas
sua natureza é a mesma e sua tendência é igualmente elevar o caráter do homem. Esta
condição mental consiste, como mais tarde teremos oportunidade de mostrar mais
particularmente, em um reconhecimento habitual da autoridade suprema da consciência
sobre todo o sistema intelectual e moral, e em um esforço habitual para ter todo desejo e
toda afeição regulados pelo princípio moral e por um senso da vontade divina. Isso leva
a uma uniformidade de caráter que nunca pode fluir de nenhuma fonte inferior e a uma
conduta que se distingue pelo cumprimento ansioso de todos os deveres e pela prática da
benevolência mais ativa.[Pg 49]
As emoções que agora foram brevemente mencionadas parecem incluir as mais
importantes daquelas que pertencem à classe dos desejos. Há, entretanto, outro princípio
que deve ser mencionado como uma das principais peculiaridades da natureza humana,
embora possa ser um tanto difícil determinar a classe a que pertence. Este é o Desejo de
Ação – a atividade inquieta da mente, que a leva a requerer algum objeto no qual seus
poderes devem ser exercidos, e sem o qual ela se autodestrui e se torna miserável. Com
base neste princípio, devemos explicar vários fatos que são de observação
frequente. Uma pessoa acostumada a uma vida de atividades anseia por tranqüilidade e
isolamento e, quando realiza seu propósito, encontra-se miserável. Os compromissos
frívolos dos desocupados referem-se ao mesmo princípio. Eles surgem, não por qualquer
interesse que tais ocupações realmente possuam, mas simplesmente pelo desejo de
excitação mental - a felicidade de ter algo para fazer. O prazer do relaxamento, de fato, é
conhecido apenas por aqueles que têm um emprego regular e interessante. O
relaxamento contínuo logo se torna um cansaço; e, neste terreno, nós[Pg 50]Podemos
afirmar com segurança que o maior grau de prazer real pertence, não ao luxuoso homem
rico, ou ao apático devoto da moda, mas às classes médias da sociedade, que, juntamente
com os confortos da vida, têm uma ocupação constante e importante. Além, de fato, do
sofrimento real, acredito que não há nada nas circunstâncias externas dos indivíduos, de
maior ou mais habitual importância para promover a felicidade pessoal, do que um
emprego declarado, racional e interessante.

A condição mental que chamamos de Desejo parece residir em grande medida na base do
caráter; e, para uma sólida condição moral, é necessário que os desejos sejam
direcionados a objetos valiosos, e que o grau ou força deles seja acomodado ao valor
verdadeiro e relativo de cada um desses objetos. Se os desejos forem assim direcionados,
uma conduta digna provavelmente seguirá de maneira constante e uniforme. Se lhes for
permitido romper com as restrições da razão e do princípio moral, o homem é deixado à
mercê de paixões profanas e sujeito às irregularidades que naturalmente resultam de tal
perturbação.[Pg 51]mento dos sentimentos morais. Se, de fato, quisermos ver os males
produzidos pelo desejo, quando não controlados, basta olharmos para toda a história da
humanidade. Que misérias acumuladas surgem da falta de regulamentação adequada das
propensões animais, nas várias formas em que degrada o caráter dos seres racionais e
morais. - Que males surgem do amor ao dinheiro e do desejo de poder; - das disputas de
rivais e dos tumultos partidários - que inveja, ódio, malignidade e vingança. - Que miséria
complicada segue o trem da ambição - desprezo pelo sofrimento humano, países
despovoados e campos inundados de sangue. Tais são os resultados do desejo, quando
não dirigido a objetos dignos de um ser moral, e não mantido sob o controle rígido da
consciência e das leis imutáveis da retidão moral. Quando,[Pg 52]
Os desejos, de fato, podem existir em um estado mal regulado, enquanto a conduta ainda
é restringida por vários princípios, tais como a submissão às leis humanas, uma
consideração ao caráter, ou até mesmo um certo sentimento do que é moralmente
correto, lutando contra o princípio viciado interior. Mas isso não pode ser considerado
como a condição saudável de um ser moral. É somente quando o próprio desejo é sólido
que podemos dizer que o homem está com saúde moral. "Aquele que sofre com sua
abstinência", diz Aristóteles, "é um voluptuoso"; "Guarda o teu coração com toda a
diligência, porque dele procedem as questões da vida." "Bem-aventurados os puros de
coração, porque eles verão a Deus." Assim, há desejos que são loucura, e há desejos que
são vícios, ainda que não devam ser seguidos de indulgência; e há desejos que tendem a
purificar e elevar a natureza moral, embora seus objetos devam estar além do alcance de
nossa plena realização no presente estado de ser. A pureza moral perfeita não é a sorte
do homem neste estado transitório e não deve ser alcançada por seus próprios esforços
sem ajuda. Mas,[Pg 53]subserviente a ela é aquela guerra interior, aquele desejo sincero e
habitual pela perfeição de um ser moral, que é sentido como o grande objetivo da vida,
quando é visto em relação à vida que está por vir. Para esta realização, no entanto, o
homem deve sentir sua total inadequação - e os maiores esforços da razão humana
falharam em desdobrar a ajuda necessária. A convicção é assim imposta a nós, de que
uma influência superior é necessária, e essa influência é totalmente revelada pela luz da
verdade revelada. Ali somos ensinados a buscar um poder do alto, capaz de efetuar o que
os esforços humanos não podem realizar - a purificação do coração.

seita II.
Os Afetos.
Como os desejos são calculados para trazer alguma gratificação para nós mesmos, os
afetos nos levam a[Pg 54]nossas relações com outros homens e com uma certa linha de
conduta que surge dessas relações. Eles devem ser vistos como princípios originais de
nossa natureza, plantados em nós para propósitos sábios, e sua operação deve ser
considerada distinta, tanto do princípio moral quanto da razão, isto é, de qualquer senso
de dever ou retidão moral da conduta a que eles conduzem, e de qualquer cálculo de sua
propriedade e utilidade. Assim, quando a mãe dedica sua atenção dia e noite a seu filho,
se por doença ou desamparo por falta de cuidados especiais, e persevera em fazê-lo, com
total desconsideração de seu próprio bem-estar, saúde ou conforto, ela não é influenciada
nem por um senso de dever, nem por qualquer sentimento da utilidade de sua conduta:
ela age de acordo com um impulso interno, que ela sente ser parte de sua constituição, e
que a leva adiante em um curso particular de esforço ansioso e prolongado apenas pelo
poder de si mesmo. Esta distinção parece ser da maior importância prática, e teremos
ocasião de nos referir a ela mais particularmente na sequência.
Um Afeto, portanto, pode ser considerado como um [Pg 55]sentimento ou emoção original
existente em nós mesmos, que nos leva a uma conduta particular para com os outros
homens, sem referência a nenhum princípio exceto o impulso intuitivo da própria
emoção. As Afeições foram divididas em Benevolentes e Malévolas; mas esses títulos
parecem incorretos, especialmente o último - pois o devido exercício das emoções a que
se refere não inclui adequadamente o que é chamado de malevolência. Eles apenas
tendem a nos proteger contra certas condutas em outros homens; e, quando lhes é
permitido ir além disso, isto é, para a maldade ou vingança real, a aplicação é
mórbida. Portanto, estará mais de acordo com a natureza dessas emoções, dando-lhes os
nomes de Afetos Unitários e Defensivos; - o primeiro incluindo justiça, benevolência,
veracidade, amizade, amor, gratidão, patriotismo,

I. JUSTIÇA.
Pode haver alguma diferença de opinião em relação à adequação de incluir a justiça
entre[Pg 56]os afetos; mas parece estar mais próximo a eles do que a qualquer uma das
outras classes de emoções morais que foram mencionadas e pode, portanto, como uma
mera questão de arranjo, ser convenientemente introduzido aqui. A rigor, talvez se possa
considerá-la como uma operação combinada de um afeto e do princípio moral; mas isso
é apenas uma questão de especulação. A consideração importante relacionada a isso é
que, de qualquer maneira que surja, o senso de Justiça é uma parte primária e essencial
de nossa constituição moral, transmitindo a impressão distinta de certa conduta que um
homem deve a seus semelhantes, sem levar em consideração quaisquer considerações de
natureza pessoal e à parte de todos os decretos ou leis positivas, sejam divinas ou
humanas. Os requisitos da Justiça abrangem certos pontos em que todo homem tem
direito absoluto e em relação aos quais é dever absoluto de todos os outros homens não
interferir com ele. Esses direitos geralmente são divididos em três classes; - o que tenho
o direito de possuir, e nenhum homem tem o direito de tirar de mim; - o que tenho o
direito de fazer, e nenhum homem tem o direito de me impedir de fazer. [Pg 57]ing, - o que
tenho o direito de esperar de outros homens, e é seu dever absoluto cumprir. Esses
princípios formam a base do que é chamado de Jurisprudência Natural, um código de
dever relativo que deriva sua autoridade de impressões encontradas nos sentimentos
morais de toda a humanidade, sem levar em consideração as leis de qualquer sociedade
civil em particular. Nos arranjos reais das comunidades civis, esses grandes princípios de
justiça são combinados com outros que são derivados meramente da utilidade ou
conveniência, calculados para promover a paz ou a vantagem da comunidade. Estes
podem diferir em diferentes países e deixam de ser obrigatórios quando os decretos nos
quais se baseiam são revogados ou alterados. Mas nenhuma diferença de lugar pode
alterar e nenhuma lei pode destruir os requisitos essenciais da justiça.
Nessas observações, será observado, a palavra Justiça é usada como expressão de um
princípio de caráter individual; e é nesse sentido que deve ser devidamente classificado
com as afeições. O termo é empregado em outro sentido, a saber, o de justiça distributiva
e corretiva, que regula as reivindicações dos indivíduos em uma comunidade,[Pg 58] exige
restituição ou compensação por qualquer desvio de tais reivindicações ou pune aqueles
que as violaram. É no primeiro sentido que a justiça deve ser propriamente considerada
como um ramo da filosofia dos sentimentos morais; mas os mesmos princípios gerais se
aplicam a ambos.
O senso de Justiça, portanto, consiste em um sentimento experimentado por todo homem,
de uma certa linha de conduta que ele deve a outros homens em dadas circunstâncias; e
isso parece referir-se às seguintes cabeças: - atendendo a seus interesses, - não
interferindo em sua liberdade de ação, - preservando sua reputação, - estimando seu
caráter e motivos, - julgando suas opiniões, - consultando seus sentimentos - e
preservando ou melhorando sua condição moral. Como um guia para sua conduta em
casos particulares, um homem geralmente tem uma impressão distinta do que ele pensa
que os outros homens devem a ele; a justiça exige que ele estenda rigidamente aos outros
os mesmos sentimentos e conduta que, em circunstâncias semelhantes, espera deles.
(1.) A justiça é devida às pessoas, propriedades e[Pg 59]interesse dos outros. Isso constitui
Integridade ou Honestidade. Isso, é claro, implica abster-se de todo tipo de injúria e
preservar uma consideração conscienciosa de seus direitos. Neste último aspecto,
permite-nos exercer uma prudente atenção ao nosso próprio interesse, desde que os
meios sejam justos e honrados, e abstermo-nos cuidadosamente de prejudicar os outros
pelas medidas que empregamos para o efeito. A grande regra para nossa orientação, em
todos esses casos, encontra-se nos princípios imutáveis da retidão moral; o teste de nossa
conduta em relação a instâncias individuais é que, se nosso próprio interesse estivesse
envolvido, deveríamos considerar justo e honrado em outros homens.
(2.) A justiça exige que não interfiramos na liberdade de ação dos outros. Isso constitui a
liberdade pessoal; - mas em todas as comunidades civis o direito está sujeito a certas
restrições; - como quando um homem usa sua liberdade de ação para o perigo ou prejuízo
de outros homens. Os princípios de justiça também podem reconhecer a renúncia de um
homem, até certo ponto, à sua liberdade pessoal, por acordo mútuo e voluntário, como no
caso de servos, ap[Pg 60]aprendizes, soldados, etc.; mas eles se opõem à escravidão, na
qual o indivíduo em questão não faz parte do acordo.
(3.) A justiça exige consideração pela reputação dos outros. Isto consiste em evitar tudo
o que possa ser prejudicial ao seu bom nome, seja por malícia direta, seja por insinuações
que possam levantar suspeitas ou preconceitos contra eles. Deve estender-se também à
neutralização de tais insinuações, quando as ouvimos feitas por outros, especialmente em
circunstâncias em que o indivíduo lesado não tem oportunidade de se defender. Inclui,
além disso, que não neguemos aos outros, mesmo aos rivais, qualquer elogio ou crédito
que lhes seja devido. Há, no entanto, uma modificação, igualmente consistente com a
justiça, à qual a primeira dessas regras está sujeita; ou seja, que, em certos casos,
podemos ser obrigados a fazer uma declaração prejudicial a um indivíduo, quando o
dever para com um terceiro ou para com o público nos incumbir de fazê-lo. Nesse caso,
uma pessoa guiada pelas regras da justiça não irá além do que é realmente exigido pelas
circunstâncias;[Pg 61]e sempre tomará cuidado para não propagar um relatório
prejudicial a outro, embora ele deva saber que é estritamente verdadeiro, a menos que
seja chamado por um dever especial para comunicá-lo.
(4.) A justiça exige que não apenas evitemos ferir um indivíduo na estimativa de outros
homens, mas que exerçamos a mesma justiça ao formar nossa própria opinião sobre seu
caráter, sem ser enganados ou influenciados por paixão ou preconceito. Isso consiste em
avaliar sua conduta e motivos com calma e imparcialidade; em relação a instâncias
particulares, levando em consideração as circunstâncias em que ele foi colocado e os
sentimentos pelos quais ele foi, ou poderia ser, na época, naturalmente
influenciado. Quando uma ação admite ser referida a motivos diferentes, a justiça
consiste em tomar a opinião mais favorável, se pudermos fazê-lo com estrita
consideração pela verdade, em vez de atribuir dura e precipitadamente um motivo
indigno. Essa justiça em relação ao caráter e motivos que exigimos exercer com cuidado
peculiar, quando a conduta referida foi de alguma forma contrária ao nosso próprio
amor-próprio. Nestes casos devemos estar[Pg 62]especialmente em guarda contra a
influência do princípio egoísta, que pode levar a visões parciais e distorcidas de ações e
motivos, menos favoráveis aos outros e mais favoráveis a nós mesmos do que a justiça
garante. Quando vistos dessa maneira, podemos frequentemente perceber que a conduta,
que deu origem a emoções de desprazer como prejudiciais a nós, foi totalmente
justificada por alguma conduta de nossa parte ou exigida por algum dever superior que o
indivíduo devia a outro.
(5.) A justiça deve ser exercida ao julgar as opiniões e declarações dos outros. Isso
constitui Sinceridade. Consiste em dar uma atenção justa e deliberada a opiniões,
declarações e argumentos, e ponderar justa e honestamente suas tendências. Opõe-se,
portanto, ao preconceito, ao apego cego a opiniões preconcebidas e ao estreito espírito
contestador que se deleita com a crítica capciosa e não ouvirá nada com calma que se
oponha aos seus próprios pontos de vista; que distorce ou deturpa os sentimentos de
seus oponentes, atribuindo-os a motivos indignos, ou[Pg 63]deduzindo deles conclusões
que não justificam. A franqueza, portanto, pode ser considerada como um composto de
justiça e amor à verdade. Isso nos leva a dar a devida atenção às opiniões e declarações
dos outros - em todos os casos, a ser principalmente solícitos para descobrir a verdade e,
em declarações de caráter misto, contendo talvez muitos erros e falácias, ansiosamente
para descobrir e separar o que é verdade. Conseqüentemente, foi observado que uma
tendência para disputas agudas e críticas minuciosas e rígidas costuma ser característica
de uma mente contraída e preconceituosa; e que os entendimentos mais amplos são
sempre os mais indulgentes com as declarações dos outros - sendo seu objetivo principal
descobrir a verdade.
(6.) A justiça se deve aos sentimentos dos outros; e isso se aplica a muitas circunstâncias
que não afetam nem seus interesses nem sua reputação. Sem prejudicá-los em nenhum
desses aspectos, ou em nossa boa opinião, podemos nos comportar com eles de maneira
a ferir seus sentimentos. Há mentes de extrema delicadeza, que, em[Pg 64]a esse respeito,
são particularmente sensíveis; - em relação a eles, uma pessoa de sentimentos corretos
se esforça para se comportar com ternura adequada. Podemos encontrar, no entanto,
pessoas de mentes honestas e retas, que se esquivariam da menor abordagem de um dano
real, mas negligenciam a atenção necessária aos sentimentos; e podem até conferir um
benefício real de maneira a ferir o indivíduo a quem pretendiam bondade. Os graus mais
baixos deste princípio pertencem ao que é chamado de mera boa educação, que foi
definida como "benevolência em ninharias"; mas os graus mais altos podem restringir a
conduta que, sem nenhum dano real, inflige dor permanente. A este título, talvez
possamos também referir uma devida consideração à estimativa que levamos um homem
a formar de si mesmo. Isso se opõe à bajulação, por um lado, e, por outro, a qualquer
depreciação desnecessária de seu caráter. A lisonja, de fato, também deve ser
considerada uma violação da veracidade.
(7.) Embora, de acordo com os princípios mencionados, nos abstenhamos de ferir os
interesses, a reputação ou os sentimentos dos outros, há[Pg 65]outra classe de injúrias, de
magnitude ainda maior, que a mente conscienciosa evitará com peculiar ansiedade, a
saber, injúrias feitas aos princípios morais de outros homens. Estes formam uma classe
de ofensas das quais nenhuma lei humana toma conhecimento adequado, mas sabemos
que elas possuem um caráter da mais profunda malignidade. Uma profunda culpa recai
sobre o homem que, por persuasão ou ridículo, perturbou os sentimentos morais de
outro, ou foi o meio de desviá-lo dos caminhos da virtude. De malignidade igual ou ainda
maior é o aspecto do escritor, cujas obras contribuíram para violar os princípios da
verdade e da retidão - poluir a imaginação ou corromper o coração. Infractores inferiores
são prontamente apreendidos pela autoridade pública, e sofrer a sentença da justiça
pública; mas o destruidor do ser moral freqüentemente caminha com segurança por sua
própria cena de disciplina moral, como se nenhum poder pudesse alcançar a medida de
sua culpa, a não ser a mão do Eterno.
À mesma cabeça devemos atribuir a extensa e importante influência do exemplo. São
poucos os homens que não têm, a esse respeito, alguma[Pg 66]poder, mas pertence mais
particularmente a pessoas em situações de posição e eminência pública. É motivo de
profundo pesar, tanto para o amigo da virtude quanto para o amigo de seu país, quando
algum deles manifesta desrespeito às coisas sagradas ou dá um ar de moda ao que é
calculado para corromper os princípios morais das classes impensadas da sociedade. Se
não forem restringidos por nenhum motivo maior, os sentimentos de patriotismo e até
de segurança pessoal devem produzir uma cautela solene; e torna-se para eles considerar
seriamente, se eles não podem estar semeando entre a multidão ignorante as sementes
do tumulto, revolução e anarquia.

II. COMPAIXÃO E BENEVOLÊNCIA.


Existe grande diversidade na condição de diferentes indivíduos no estado atual - alguns
em circunstâncias de facilidade, riqueza e conforto - outros de dor, privação e
tristeza. Tais diversidades devemos considerar como um arranjo estabelecido pelo
grande Disposer de todas as coisas, e[Pg 67]calculado para promover propósitos
importantes em seu governo moral. Muitos desses propósitos estão totalmente fora do
alcance de nossas faculdades; mas, ocupando um lugar de destaque entre eles, podemos
reconhecer com segurança o cultivo de nossos sentimentos morais, especialmente os
afetos de compaixão e benevolência. O devido exercício destes é, portanto, calculado para
promover um duplo objetivo, a saber, o alívio da angústia nos outros - e o cultivo em nós
mesmos de uma condição mental peculiarmente adaptada a um estado de disciplina
moral. Ao nos colocar em contato com indivíduos em várias formas e graus de sofrimento,
eles tendem a nos lembrar continuamente que a cena atual é apenas a infância de nossa
existência - que os seres que assim contemplamos são filhos do mesmo Pai Todo-
Poderoso conosco, herdando a mesma natureza, possuidor dos mesmos sentimentos, e
logo entrará em outro estado de existência, quando todas as distinções que podem ser
encontradas neste mundo cessarão para sempre. Eles tendem, portanto, a nos afastar do
poder do amor-próprio e da influência ilusória das coisas presentes; e habitualmente
elevar nossas visões para aquela vida futura, pois [Pg 68]qual o presente pretende nos
preparar. O devido cultivo dos afetos benevolentes, portanto, não deve ser considerado
propriamente como objeto de aprovação moral, mas sim como um processo de cultura
moral. Eles podem nos permitir em algum grau beneficiar os outros, mas seu principal
benefício é para nós mesmos. Ao negligenciá-los, incorremos em muita culpa e nos
privamos de um importante meio de melhoria. O exercício diligente deles, além de ser
uma fonte de vantagem moral, é acompanhado de um grau de prazer mental que traz
consigo sua própria recompensa. Tal parece ser a visão correta que devemos ter do
arranjo estabelecido pelo Criador nesta parte de nossa constituição. É calculado para
corrigir um equívoco de um tipo importante, que considera o exercício dos afetos
benevolentes como possuindo um caráter de mérito. A este assunto teremos ocasião de
nos referir mais particularmente na sequência.
O exercício das afeições benevolentes pode ser tratado brevemente, quase sob os mesmos
títulos referidos ao considerar o princípio da Justiça; - tendo em mente que eles levam
a[Pg 69]maior esforço para o benefício dos outros e, portanto, muitas vezes exigem um
maior sacrifício de amor próprio do que está incluído nas meras exigências da justiça. Por
outro lado, a benevolência não deve ser exercida à custa da Justiça; como seria o caso, se
um homem fosse encontrado aliviando a angústia por meio de expedientes que envolvem
a necessidade de reter o pagamento de dívidas justas ou implicam a negligência ou
violação de algum dever que ele deve a outro.
(1.) Compaixão e esforço benevolente são devidos para aliviar as angústias dos
outros. Este exercício deles, em muitos casos, exige um sacrifício decidido de interesse
pessoal e, em outros, um esforço pessoal considerável. Nós tateamos o caminho para a
medida adequada desses sacrifícios, pelo alto princípio do dever moral, juntamente com
aquele exercício mental que nos coloca na situação dos outros e, por uma espécie de amor
próprio refletido, juízes da conduta devida por nós a eles em nossas respectivas
circunstâncias. - Os detalhes deste assunto nos levariam a um campo muito extenso para
nosso presente propósito. Auxílio pecuniário, por quem[Pg 70]têm os meios, é a forma
mais fácil em que a benevolência pode ser gratificada, e aquela que geralmente requer o
mínimo, se houver, sacrifício de conforto pessoal ou amor próprio. A mesma afeição pode
ser exercida em um grau muito maior em si mesma, e muitas vezes muito mais útil para
os outros, por esforço pessoal e bondade pessoal. O primeiro, comparado com os meios
do indivíduo, pode apresentar uma mera zombaria da misericórdia; enquanto os últimos,
mesmo nas camadas mais baixas da vida, freqüentemente exibem as mais brilhantes
exibições de utilidade ativa que podem adornar o caráter humano. Essa alta e pura
benevolência não só é dispensada com boa vontade, quando as ocasiões se
apresentam; mas procura oportunidades para si mesmo e sente falta de seu exercício
natural e saudável quando privado de um objeto ao qual pode ser concedido.
(2.) A benevolência deve ser exercida em relação à reputação dos outros. Isso consiste
não apenas em evitar qualquer dano ao seu caráter, mas em esforços para protegê-los
contra a injustiça dos outros, para corrigir deturpações, para [Pg 71]verificar o curso da
calúnia e evitar os esforços daqueles que envenenariam a confiança dos amigos ou
perturbariam a harmonia da sociedade.
(3.) A benevolência deve ser exercida em relação ao caráter e conduta dos
outros; especialmente quando estes estão em oposição ao nosso interesse pessoal ou
amor-próprio. Isso consiste em ver sua conduta com indulgência e tolerância, atribuindo
os motivos mais favoráveis - e levando em consideração seus sentimentos e as
circunstâncias em que foram colocados. Também nos leva a evitar todas as suspeitas e
ciúmes que não sejam claramente justificados pelos fatos; e abster-se ao máximo de se
ofender - colocando sobre a conduta dos outros a melhor construção que possivelmente
admitirá. Estende-se ainda mais ao perdão real das injúrias e à retribuição do mal com o
bem - uma conduta representada nas escrituras sagradas como uma das maiores
realizações que o caráter humano pode alcançar. [Pg 72]
(4.) A benevolência deve ser exercida em relação aos sentimentos dos outros; e isso se
aplica a muitas situações em que nem seu interesse nem seu caráter estão em
questão. Inclui aqueles exercícios de afetos gentis que produzem uma influência tão
poderosa em todas as relações da vida, mas que é impossível para qualquer descrição
delinear. Abrange todas as nossas relações sociais e civis, mas parece pertencer
peculiarmente às nossas relações com os inferiores e dependentes. Seu exercício mais
ansioso pode frequentemente estar relacionado apenas a ninharias, mas se estende a
inúmeras circunstâncias nas quais podemos entregar nossos próprios sentimentos aos
dos outros e nossa própria conveniência ou gratificação aos deles. Implica solicitude para
evitar ferir os sentimentos por orgulho, egoísmo ou irritação - por suspeitas, imputações
e ciúmes, — ou permitindo que coisas insignificantes irritem o temperamento e
perturbem o conforto social. Muitos, que não são deficientes no que costumamos chamar
de ações de benevolência, tendem a esquecer que um exercício muito importante da
verdadeira benevolência consiste no cultivo habitual de cortesia, gentileza e bondade; e
que dessas disposições muitas vezes depende nossa [Pg 73]influência sobre o conforto e a
felicidade dos outros, em maior grau do que sobre quaisquer atos de beneficência real.—
A este departamento, também, podemos referir o alto caráter do pacificador, cujo prazer
é acalmar sentimentos de raiva, mesmo quando ele não está em nenhum grau
pessoalmente interessado, e reunir como amigos e irmãos aqueles que assumiram a
atitude de ódio e vingança.
(5.) A benevolência deve ser exercida em relação à degradação moral dos outros,
incluindo sua ignorância e vício. Isso nos impede de obter satisfação do mal moral,
mesmo que isso contribua para nossa vantagem, como pode acontecer com frequência da
má conduta de rivais ou inimigos. Implica também aquela mais alta espécie de utilidade
que visa elevar a condição moral do homem - instruindo o ignorante, resgatando o
incauto e recuperando o vicioso. Essa exaltada benevolência, portanto, também buscará
estender a luz da verdade divina às nações que se encontram na escuridão moral; e
espera ansiosamente pelo período em que o conhecimento do cristianismo dissipará [Pg
74]toda fé falsa e ponha fim aos horrores da superstição.

III. Veracidade.
Em nossas impressões mentais relativas à veracidade, temos uma ilustração
impressionante da maneira pela qual confiamos nessa classe de sentimentos morais
como instintivos na constituição da mente. Em uma certa confiança na veracidade da
humanidade se baseia tanto do conhecimento do qual constantemente dependemos, que,
sem ela, todo o sistema das coisas humanas entraria em confusão. Refere-se a toda a
inteligência que derivamos de qualquer outra fonte que não seja nossa própria
observação pessoal: - por exemplo, a tudo o que recebemos por meio do historiador, do
viajante, do naturalista ou do astrônomo. Mesmo em relação aos eventos mais comuns de
um único dia, frequentemente procedemos com base na confiança na veracidade de uma
grande variedade de indivíduos. Existe, de fato, uma tendência natural à verdade em
todos os homens,[Pg 75]a ser respondido afastando-se dele: - e há uma tendência
igualmente forte de confiar na veracidade dos outros, até que tenhamos aprendido certas
precauções por nossa experiência real da humanidade. Portanto, crianças e pessoas
inexperientes são facilmente enganadas por declarações infundadas: - e o mentiroso mais
experiente confia na credulidade daqueles a quem ele tenta enganar. O engano, de fato,
nunca cumpriria seu propósito, se não fosse pela impressão de que os homens geralmente
falam a verdade. É óbvio também que a confiança mútua que os homens têm uns nos
outros, tanto no que diz respeito à veracidade das declarações quanto à sinceridade das
intenções a respeito dos compromissos, é o que mantém unida toda a sociedade civil. Nas
transações comerciais é indispensável, e sem ela todas as relações da vida civil entrariam
em desordem. Ao tratar dos poderes intelectuais em outra obra, considerei os princípios
que regulam nossa confiança no testemunho humano; e é desnecessário recorrer a eles
neste lugar. Nosso presente objetivo é analisar brevemente os elementos que são
essenciais à veracidade, quando a encaramos como uma emoção moral, ou um ramo[Pg
76]de caráter individual. Estes parecem ser três, - correção na averiguação dos fatos, -
precisão em relatá-los - e verdade de propósito, ou fidelidade no cumprimento das
promessas.
(1.) Um elemento importante da veracidade é a correção dos fatos. Isso é essencial para
o Amor à Verdade. Exige que exerçamos o maior cuidado com relação a todas as
afirmações que recebemos como verdadeiras; e não recebê-lo como tal, até que estejamos
convencidos de que a autoridade em que é afirmado é de uma natureza em que podemos
confiar plenamente e que a declaração contém todos os fatos aos quais nossa atenção
deve ser direcionada. Consequentemente, protege-nos contra aquelas visões limitadas,
pelas quais o espírito partidário ou o amor aos dogmas favoritos levam um homem a
aceitar os fatos que favorecem uma opinião particular e negligenciar aqueles que se
opõem a ela. O bom exercício do julgamento, que está conectado com esse amor à
verdade, difere, portanto, da arte da disputa engenhosa e é freqüentemente encontrado
em desacordo direto com ela. O mesmo princípio é aplicável às verdades que são
derivadas como deduções de pro [Pg 77]processos de raciocínio. Opõe-se, portanto, a todos
os argumentos sofísticos e raciocínios parciais ou distorcidos, pelos quais os disputantes
se esforçam para estabelecer sistemas particulares, em vez de se engajar em uma
investigação honesta e simples em busca da verdade. O amor à verdade, portanto, é de
igual importância na recepção dos fatos e na formação de opiniões; e inclui também uma
prontidão para renunciar às nossas próprias opiniões, quando novos fatos ou argumentos
nos são apresentados, calculados para derrubá-los. A prática dessa busca sincera e
sincera da verdade, em todos os assuntos para os quais a mente pode ser direcionada,
deve ser cultivada no início da vida com o mais assíduo cuidado. É um hábito da mente
que deve exercer uma influência muito importante na cultura, tanto de caráter moral
quanto intelectual.
Na recepção da verdade, especialmente na evidência do testemunho, adquirimos pela
experiência um certo grau de cautela, decorrente de termos sido algumas vezes
enganados. Em mentes de uma certa descrição, pode-se permitir que isso produza uma
suspeita com relação a todas as evidências - em outras palavras, ceticismo . A falta do
cuidado necessário e adequado,[Pg 78] novamente, leva à Credulidade . É parte de uma
mente bem regulada evitar esses dois extremos, avaliando atentamente as evidências e o
caráter das testemunhas, e dando a cada circunstância sua devida influência na
conclusão.
(2.) Intimamente relacionado com o amor à verdade em receber, está o exercício da
veracidade na declaração dos fatos, sejam derivados de nossa observação pessoal ou
recebidos pelo testemunho de outros. Consiste não apenas na precisão mais escrupulosa
da relação, mas também em transmiti-la de maneira a transmitir uma impressão correta
ao ouvinte. Conseqüentemente, ela se opõe a todos os métodos pelos quais uma
declaração falsa pode ser feita para assumir a aparência de verdade, ou uma afirmação
essencialmente verdadeira pode ser relacionada de modo a transmitir uma impressão
falsa.
A falácia direta pode consistir nos fatos alegados serem absolutamente falsos, ou em
alguns deles o serem, - em fatos sendo omissos ou mantidos fora de vista, o que daria uma
importância diferente a todo o estado [Pg 79]ment, - ou em alguns dos fatos sendo
disfarçados, distorcidos ou coloridos, de modo a alterar materialmente a impressão
transmitida por eles. Mas, além dessa falácia real, existem vários métodos pelos quais
uma afirmação literalmente verdadeira pode ser relatada de modo a transmitir uma
impressão errônea. Os fatos podem ser conectados de maneira a dar a aparência de uma
relação de causa e efeito, quando na verdade são totalmente desconectados; - ou um
evento pode ser representado como comum que ocorreu apenas em uma ou duas
instâncias. O caráter de um indivíduo pode ser assumido a partir de um único ato, que, se
a verdade fosse conhecida, poderia ser visto como oposto à sua disposição real e
explicado pelas circunstâncias em que aconteceu no momento em que foi
colocado. Eventos podem ser conectados entre si, que foram totalmente separados, e
conclusões deduzidas dessa conexão fictícia, que são obviamente infundadas. Várias
dessas fontes de falácia podem ser ilustradas por um exemplo ridículo. Um viajante do
continente representou a venalidade da Câmara dos Comuns britânica como tal, que,
sempre que o ministro da Coroa entra[Pg 80]a casa, há um clamor geral por "lugares". Pode
ser verdade que um grito de "lugares" tenha circulado pela casa em determinados
momentos, quando os negócios estavam prestes a começar ou a ser retomados após um
intervalo - significando, é claro, que os membros deveriam tomar seus lugares. É muito
provável que, em alguma ocasião, isso tenha ocorrido no momento em que o ministro
entrou - de modo que a declaração do viajante pode, de fato, ser estritamente
verdadeira. A impressão errônea que ele tenta transmitir por meio dela surge de três
fontes de falácia, que a anedota servirá para ilustrar, a saber, - o falso significado que ele
dá à palavra empregada - conectando-a com a entrada do ministro como causa e efeito -
e representando a conexão como uniforme que ocorreu naquele caso específico. [Pg
81] atribuindo às suas palavras um significado diferente daquele que pretendia transmitir
por elas. O ditado comum de que há duas maneiras de contar uma história não se refere,
portanto, ao que se chama estritamente de fabricação ou falsidade; mas àquelas
distorções ou colorações das circunstâncias, que, por mais leves que sejam em si mesmas,
têm o efeito de mudar essencialmente a impressão causada pelo todo.
À veracidade, neste departamento, também devemos referir a regra - de dar aos outros
uma impressão honesta e justa de nossos pontos de vista, motivos e intenções. Isso
é Sinceridade . Opõe-se à hipocrisia, aquela demonstração indigna do caráter humano, na
qual um homem disfarça seus verdadeiros sentimentos e, ao contrário, professa
princípios que não sente nem valoriza, apenas com o propósito de promover seus
interesses egoístas. Tal personagem exibe uma combinação singular de delinqüências
morais. Baseia-se no mais baixo egoísmo e inclui um afastamento da veracidade e da
honestidade. Mas, além disso, implica um conhecimento de princípios virtuosos e de suas
tendências próprias, enquanto há uma negação prática de seus princípios. [Pg
82]influência. A sinceridade também se opõe à lisonja, que tende a dar ao homem uma
falsa impressão de nossa opinião e de nossos sentimentos em relação a ele, e também o
leva a formar uma falsa estimativa de seu próprio caráter. Opõe-se também à simulação
ou negociação dupla, pela qual um homem, para certos propósitos, professa sentimentos
em relação a outro que não sente, ou intenções que não nutre.
(3.) O terceiro elemento da veracidade é a Verdade do Propósito, ou fidelidade no
cumprimento das promessas. Isso se opõe ao afastamento real do que foi claramente
prometido; igualmente a todas as evasivas pelas quais alguém pode transmitir uma
impressão, ou excitar a esperança de uma intenção que ele não pretende cumprir - ou
evitar o desempenho de um compromisso real ou implícito por qualquer outro motivo
que não seja a incapacidade de realizá-lo. Por meio dessa integridade direta de propósito,
um indivíduo dá uma impressão clara do que ele honestamente pretende realizar; e o
executa, embora as circunstâncias possam ter ocorrido para tornar o cumprimento
desagradável ou até prejudicial para si mesmo: - "ele jura[Pg 83]sua própria mágoa”, diz
um escritor sagrado, “e não muda”.
4. AMIZADE, AMOR E GRATIDÃO.
Essas afeições são tão próximas que, nesta ligeira análise, podem ser consideradas
juntas. Eles consistem em um apego pessoal e peculiar a um indivíduo, baseado em
algumas qualidades nele mesmo, ou em alguns benefícios que ele nos conferiu, ou em
alguém em quem estamos interessados. Os sentimentos e a conduta a que dão origem
correspondem aos mencionados nas afeições anteriores, com a diferença de que, em
muitos casos, eles levam a um sacrifício muito maior de interesse pessoal e conforto do
que geralmente procede da justiça ou da simples benevolência. Os esforços resultantes
deles são direcionados, de acordo com a divisão dada anteriormente, para promover o
interesse ou conforto do objeto de nossa consideração - preservando, defendendo ou
promovendo sua reputação - tratando seus sentimentos com ternura peculiar, [Pg
84]indulgência - recebendo suas opiniões com favor peculiar - e esforçando-se
ansiosamente para melhorar sua condição intelectual e moral. Esta última consideração
é justamente considerada o mais alto ofício da amizade; - é lamentável que sua operação
às vezes seja impedida por outro sentimento, que nos leva a ficar cegos para as falhas e
deficiências daqueles a quem amamos. - Ao exercer o amor e a amizade simples,
regozijamo-nos com a vantagem e a felicidade do objeto, embora devam ser alcançadas
por outros;

V. PATRIOTISMO.
O patriotismo talvez não deva ser considerado propriamente como um princípio distinto
de nossa natureza; mas sim como resultado de uma combinação das outras afeições. Isso
nos leva, por todos os meios ao nosso alcance, a promover a paz e a prosperidade de nosso
país - e a desencorajar, ao máximo[Pg 85]de nossa capacidade, tudo o que tende ao
contrário. Cada membro da comunidade tem algo em seu poder a esse respeito. Ele pode
dar exemplo, em sua própria pessoa, de respeito respeitoso e leal à primeira autoridade,
de estrita obediência às leis e respeitosa submissão às instituições de seu país. Ele pode
se opor às tentativas de indivíduos facciosos de semear entre os ignorantes as sementes
do descontentamento, tumulto ou discórdia. Ele pode se opor e reprimir tentativas de
prejudicar a receita do estado; pode ajudar na preservação da tranquilidade pública e na
execução da justiça pública. Finalmente, ele pode empenhar-se zelosamente em
aumentar o conhecimento e melhorar os hábitos morais do povo - dois dos meios mais
importantes pelos quais o homem consciencioso, em qualquer nível de vida,

VI. AS AFEIÇÕES DOMÉSTICAS.


Nesta extensa e interessante classe estão incluídos o afeto conjugal - os sentimentos dos
pais,[Pg 86]— reverência filial, — e os laços de irmãos e irmãs. — Estes evocam, em um
grau ainda maior, os sentimentos e esforços já mencionados, e um sacrifício ainda maior
de conforto, vantagem e conforto pessoal, no cumprimento ansioso e diligente dos
deveres resultantes deles. Na relação conjugal, eles nos levam à ternura, à confiança, à
tolerância mútua, aos esforços unidos daqueles que têm uma esperança, um interesse e
um curso de dever. A relação parental implica o mais alto grau possível daquele
sentimento que estuda a vantagem do objeto de nosso cuidado - a promoção de sua
felicidade - a melhoria de sua mente - a cultura de suas afeições - a formação de seus
hábitos; o ansioso zelando pelo desenvolvimento de seu caráter, tanto como ser
intelectual quanto moral. A relação filial requer, em igual grau, respeito, afeição,
submissão e confiança - uma deferência à opinião e controle dos pais; e uma impressão
de que essas partes da administração dos pais, que muitas vezes podem ser
desagradáveis, são guiadas por um desejo sincero de promover os interesses mais
elevados do objeto dessa consideração afetuosa. [Pg 87]
Entre os sentimentos de nossa natureza "que têm menos terra do que céu", estão aqueles
que unem o círculo doméstico nas várias simpatias, afetos e deveres que pertencem a essa
classe de relações ternas. É lindo também observar como essas afeições surgem umas das
outras e como o exercício correto delas tende ao cultivo mútuo. - O pai deve considerar o
filho como, de todas as preocupações terrenas, o maior objeto de seu cuidado ansioso; - e
deve vigiar o desenvolvimento de seu caráter intelectual e a cultura de seus sentimentos
morais. Na zelosa execução desse grande propósito, ele deve procurar transmitir uma
clara impressão de que é influenciado puramente por um sentimento de solene
responsabilidade e um ansioso desejo de promover os mais elevados interesses. Quando
a vigilância dos pais é assim misturada com confiança e bondade, o filho aprenderá
naturalmente a estimar igualmente a própria conduta e os princípios dos quais ela surgiu,
e olhará para o pai fiel como seu guia e conselheiro mais seguro e amigo terreno mais
valioso. Se estendermos os mesmos princípios à relação entre a mãe e[Pg 88]a filha,
aplicam-se com força igual ou ainda maior. Nos arranjos da sociedade, estes são lançados
mais constantemente na companhia uns dos outros; e aquela superintendência vigilante
pode ser exercida ainda mais habitualmente, que, junto com a grande preocupação de
cultivar o ser intelectual e moral, não negligencia aquelas graças e delicadezas que
pertencem peculiarmente ao caráter feminino. Não é apenas por instrução direta que, em
tal círculo doméstico, os mais elevados princípios e melhores sentimentos de nossa
natureza são cultivados nas mentes dos jovens. É pela exibição real dos próprios
princípios e um reconhecimento uniforme de sua importância suprema; - é pela conduta
dos pais, manifestando firmemente a convicção de que, com toda a atenção adequada às
aquisições, realizações e confortos da vida, a principal preocupação dos seres morais
relaciona-se com a vida que está por vir. Uma sociedade doméstica, unida por esses
princípios, pode retirar-se, por assim dizer, dos refúgios dos homens e refugiar-se em um
santuário onde as tempestades do mundo não podem entrar. [Pg 89] confiança, eles
apresentam a antecipação daquele período, quando, após os tumultos da vida, eles se
encontrarão novamente, "nenhum andarilho perdido, uma família no céu".

OS AFETOS DEFENSIVOS.
Os sentimentos de ciúme, raiva e ressentimento devem, não menos que os outros afetos,
ser considerados como parte de nossa constituição moral; e são calculados para atender
a propósitos importantes, desde que sejam mantidos sob o estrito controle da razão e do
princípio moral. Seu objetivo apropriado é principalmente um senso de conduta
censurável nos outros; e eles nos levam a usar medidas adequadas para nos proteger
contra tal conduta. Embora desaprovemos o caráter e a conduta dos homens em certas
circunstâncias, somos levados, por nossos sentimentos de justiça e benevolência, a
participar dos feridos e oprimidos contra os opressores - ou a proteger aqueles que são
ameaçados com ferimentos, por medidas para derrotar os esquemas de seus
inimigos. Um exercício ainda mais refinado desta classe[Pg 90]de sentimentos nos leva a
buscar a reforma do ofensor e convertê-lo de inimigo em amigo.
O ressentimento, nos casos que dizem respeito à paz pública, leva naturalmente à
imposição de punição; cujo objetivo é impedir conduta semelhante em outros, não para
gratificar a vingança pessoal. Portanto, é necessário que seja feito de maneira pública -
com deliberação e frieza adequadas - e com uma adaptação exata da penalidade à ofensa
e ao objetivo a ser alcançado. A pessoa lesada provavelmente não fará isso com a
imparcialidade e franqueza necessárias; pois tendemos a sentir profundamente os
ferimentos oferecidos a nós mesmos e a não levar em consideração os sentimentos dos
outros e as circunstâncias que levaram à ofensa. Os graus mais elevados, de fato, dessas
tendências geralmente andam juntos - eles, que são mais suscetíveis a ofensas e mais
irritáveis sob elas, sendo geralmente menos inclinados a fazer concessões aos
outros. Portanto, em todos os casos, nossa desaprovação da vingança pessoal ou de um
homem que faz justiça com as próprias mãos; e nossa perfeita solidariedade aos
protetores do público[Pg 91]paz, quando eles investigam desapaixonadamente um caso de
lesão e adaptam calmamente suas medidas ao objetivo real a ser alcançado por eles - a
proteção da comunidade.
As afeições defensivas são exercidas de maneira injustificada, quando se permite que
sejam estimuladas por causas insignificantes; quando forem, em grau, desproporcionais
ao delito, ou prolongados de maneira que não exigia; e quando levam, em qualquer
medida, à retaliação ou vingança. O exercício sadio deles, portanto, se opõe àquela
irascibilidade que se inflama em ocasiões triviais, ou sem a devida consideração das
intenções do agente, ou das circunstâncias em que ele foi colocado, – a uma disposição ao
ressentimento em ocasiões que não o justificam – e, em todas as ocasiões, a nutrir o
sentimento depois que a ofensa e todas as suas consequências passaram.

Antes de concluir o assunto dos afetos, há três pontos a respeito deles que
permanecem[Pg 92]para ser mencionado o mais brevemente possível - a influência da
Atenção, combinada com um certo ato de Imaginação - a influência do Hábito - e a
estimativa do sentimento de Aprovação Moral que o exercício das afeições é calculado
para produzir.
I. Em todo exercício dos afetos, uma influência importantíssima é produzida pela Atenção,
auxiliada por um certo ato de imaginação. Isso consiste em dirigir a mente intensa e
habitualmente para todas as considerações que devem nos guiar na relação particular a
que se refere o afeto. Leva-nos a colocar-nos no lugar dos outros e, com uma espécie de
interesse pessoal ou quase egoísta, a penetrar nas suas necessidades, nas suas angústias
e nos seus sentimentos; e assim, em seu lugar, julgar as emoções e a conduta que devemos
a eles. Tal é o exercício de quem deseja seguir a grande regra de fazer aos outros o que
gostaria que fizessem a ele. Ele não está satisfeito com o desempenho meramente decente
dos deveres que surgem das afeições,[Pg 93]situação particular - procura os indivíduos,
em relação aos quais devem ser exercidos, e entra em sua condição e seus sentimentos
com interesse minucioso e terno. Muitos que não demonstram falta de afeição amigável
e benevolente, quando um caso individual é fortemente apresentado a eles, são
deficientes no tipo de exercício que os levaria, dessa maneira, a encontrar o caminho para
o exercício correto das afeições que realmente pertence a uma cena de disciplina
moral. Tal exercício é adaptado a todas as situações da vida e tende a proteger um
homem, em suas várias relações, contra os obstáculos que a indolência, o amor próprio e
a pura desatenção podem trazer no caminho de seus deveres peculiares - e de cumpri-los
com a devida consideração pelos sentimentos dos outros.
Este exercício mental, de ampla aplicação aos afetos benévolos, constitui o que se
costuma chamar de Simpatia . É composto de um ato de imaginação e amor-próprio, pelo
qual nos transferimos, por assim dizer, para a situação de outros homens e, assim,
regulamos nossa conduta em relação a eles. No entanto, deve-se ter em mente,[Pg 94] que
o princípio do amor-próprio, assim colocado em ação, é o teste, não a regra de nossa
conduta. Este é um ponto sobre o qual tem havido muita especulação vaga e inútil; e por
não atender à distinção, alguns referiram nossas idéias de benevolência inteiramente ao
princípio do egoísmo. Tais discussões são igualmente infundadas e inúteis, e devem ser
colocadas em pé de igualdade com as especulações da filosofia escolástica, que agora
olhamos para trás apenas como questões de curiosidade histórica. A aplicação do amor-
próprio, da maneira que foi mencionada, é principalmente útil para nos permitir apreciar
plenamente os fatos do caso individual, como faríamos se estivéssemos pessoalmente
interessados. A regra de nossa conduta é bem distinta disso, e repousa sobre os princípios
fundamentais de justiça e compaixão que fazem parte de nossa constituição moral. Na
aplicação prática deles, eles são muito auxiliados pelo princípio moral ou consciência.
O homem, que age habitualmente sob a influência dessas regras, aprende a questionar-se
rigidamente respeitando as reivindicações e deveres que resultam de[Pg 95]suas relações
morais; e os sentimentos e circunstâncias daqueles com quem eles o colocam em
contato. Qual (ele se pergunta) é a linha de ação que pertence a mim em relação a esse
indivíduo - quais são seus sentimentos em sua situação atual - quais são os sentimentos
e a conduta que ele espera de mim - e quais são os que eu esperaria dele se eu estivesse
em suas circunstâncias e ele nas minhas? Não é apenas uma devida regulação das afeições
que surge desse estado saudável de disciplina mental. É uma cultura moral para a própria
mente, que muitas vezes pode estar repleta dos resultados mais importantes. Pois o
homem que o exerce percebe para si mesmo os sentimentos de pobreza - as agonias do
luto, as impressões do leito da morte; - e assim, sem a dor do sofrimento,
Ainda há outra visão a ser tomada sobre as vantagens derivadas dessa disciplina mental
que consiste na atenção a todas as relações incluídas nas afeições. Quando exercido
habitualmente, muitas vezes pode trazer à mente[Pg 96]circunstâncias importantes em
nossas relações morais, que podem causar uma impressão inadequada em meio às
distrações das coisas presentes. Quando o pai, por exemplo, olha ao redor dos objetos de
sua terna afeição, que novo impulso é comunicado pelo pensamento de que a vida atual é
apenas a infância de seu ser; e que sua principal e maior preocupação é treiná-los para a
imortalidade. Idêntico impulso deve ser dado ao filantropo, quando considera que os
indivíduos, que compartilham de suas benevolentes atenções, estão, como ele, passando
de um cenário de disciplina para um estado de existência superior, onde assumirão um
lugar correspondente ao seu posto na escala dos seres morais. A filantropia refinada que
surge assim, embora não negligencie a devida atenção às angústias da vida
presente, procurará principalmente lutar contra aqueles males maiores que degradam a
natureza moral e separam o espírito imortal de seu Deus. Aquele que julga com base
nesse princípio ampliado aprenderá a formar uma nova estimativa da condição do
homem. Em meio ao orgulho da riqueza e ao esplendor do poder, ele pode lamentar um
ser perdido em todos os sentimentos de seu alto destino; e,[Pg 97]no leito de morte do
camponês, em meio a desconforto e sofrimento, ele pode contemplar com interesse um
espírito purificado ascendendo à imortalidade.
II. Junto ao poder da atenção, devemos notar a influência produzida sobre os afetos pelo
Hábito. Isso se baseia em um princípio de nossa natureza, pelo qual existe uma relação
notável entre as afeições e as ações que surgem delas. A tendência de todas as emoções é
tornar-se mais fraca pela repetição, ou ser menos agudamente sentida à medida que é
experimentada. A tendência das ações, novamente, como vimos ao tratar dos poderes
intelectuais, é tornar-se mais fácil pela repetição, de modo que aquelas, que a princípio
requerem atenção próxima e contínua, passam a ser executadas sem esforço e quase sem
consciência. Ora, uma afeição propriamente consiste em uma emoção que conduz a uma
ação; e o progresso natural da mente, no exercício adequado da afeição, é que a emoção
se torna menos agudamente sentida, [Pg 98]não sentida por aquele cuja vida foi dedicada
a atos de misericórdia; e um observador superficial está apto a considerar a condição
deste último como de insensibilidade, produzida pela familiaridade com cenas de
angústia. É, ao contrário, aquele progresso saudável e natural da mente, no qual a emoção
é gradualmente diminuída em força à medida que é seguida por suas ações apropriadas -
isto é, à medida que a mera intensidade do sentimento é trocada pelo hábito da
benevolência ativa. Mas para que isso ocorra de maneira sã e saudável, a emoção deve ser
constantemente seguida pela ação que lhe pertence. Se isso for negligenciado, a harmonia
do processo moral é destruída e, à medida que a emoção se enfraquece, é substituída por
fria insensibilidade ou egoísmo estéril.
Este é um assunto de muita importância - e há duas conclusões que surgem a respeito do
cultivo das afeições benevolentes. A primeira refere-se aos maus efeitos de cenas fictícias
de tristeza, representadas no palco ou em obras de fantasia. O mal decorrente disso
parece ser o que agora foi referido; - a emoção é produzida sem a correspondência[Pg 99]A
segunda é que, ao cultivar as afeições benevolentes nos jovens, devemos ter o cuidado de
observar o processo tão claramente apontado pela filosofia dos sentimentos morais. Eles
devem estar familiarizados com cenas reais de sofrimento, mas isso deve ser
acompanhado por ações de bondade minuciosa e ativa, de modo a produzir uma
impressão completa e viva das necessidades e sentimentos do sofredor. Por esse motivo,
também, acho que devemos, a princípio, até mesmo nos abster, em grande medida, de dar
aos jovens as precauções que eles acharão mais tarde tão necessárias, respeitando o
caráter dos objetos de sua benevolência e as imposições tão frequentemente praticadas
pelos pobres.
A melhor maneira de enfrentar os males do pauperismo, com base nos princípios da
economia política, é um problema no qual presumo não entrar.[Pg 100]Mas, de acordo com
os princípios da ciência moral, uma consideração da maior importância nunca deve ser
esquecida - o grande objetivo a ser respondido pelas variedades da condição humana no
cultivo das afeições benevolentes. A ciência política ultrapassa seus limites apropriados
quando é permitido em qualquer grau interferir com este alto princípio; - e, por outro
lado, não se pode negar que este importante propósito é em grande parte frustrado por
muitas dessas instituições, que cortam a relação direta dos prósperos e ricos com aqueles
a quem a providência os confiou, nesta cena de disciplina moral, como objetos de seu
cuidado benevolente.
III. O terceiro ponto, que resta mencionar brevemente, é o sentimento de aprovação
moral, ou melhor, a impressão de mérito, que frequentemente está ligada ao exercício dos
afetos. Este importante assunto já foi referido. Quando a mãe, com total descaso com sua
saúde e conforto, se dedica a cuidar de seu filho, ela não é influenciada por nenhum senso
de dever, nem atribuímos à sua conduta o sentimento [Pg 101]de aprovação moral. Ela age
simplesmente sob um impulso interior, que ela percebe ser parte de sua constituição, e
que a conduz com firmeza inabalável em um curso particular de serviço laborioso e
ansioso. Ela pode, de fato, perceber que a violação desses sentimentos a exporia à
reprovação de sua espécie; mas ela não imagina que o cumprimento zeloso deles lhe dê
direito a qualquer elogio especial. O mesmo princípio se aplica a todas as afeições. Eles
fazem parte de nossa constituição moral, destinados a unir os homens por certos ofícios
de justiça, amizade e compaixão; e foram bem nomeados por um escritor distinto, "a voz
de Deus dentro de nós". Eles servem a um propósito em nossa economia moral, análogo
ao que os apetites respondem em nosso sistema físico. O apetite da fome, por exemplo,
garante um suprimento regular de nutrição, de uma maneira que nunca poderia ter sido
fornecida por qualquer processo de raciocínio; embora um exercício da razão ainda seja
aplicável para preservar sobre ela certa regulamentação e controle. Da mesma forma, os
vários sentimentos de nossa natureza moral têm, cada um, um propósito definido. [Pg
102]pose para responder, tanto em relação à nossa própria economia mental quanto às
nossas relações com nossos semelhantes; e no devido exercício deles devem ser
controlados e regulados pelo princípio moral. A violação desses sentimentos, portanto,
coloca o homem abaixo do nível de um ser moral; mas o desempenho deles não o autoriza
a assumir a reivindicação de mérito. Ele está apenas assumindo sua parte em um
determinado arranjo, do qual ele próprio deve obter benefícios, como um ser ocupando
um lugar naquele sistema de coisas que esses sentimentos pretendem manter juntos em
harmonia e ordem. Com relação aos grandes princípios de veracidade e justiça, todos
percebem que isso é verdade. Em todas as transações mercantis, por exemplo, um caráter
de alta honra e integridade leva não apenas ao respeito, mas àquela confiança que está
intimamente ligada à prosperidade. — Essas qualidades, de fato, são tão essenciais para
o próprio interesse de um homem quanto para seu dever para com outros homens; e se
ele ganha vantagem por meio de fraude e engano, é apenas quando escapa da detecção;
isto é, enquanto preserva a reputação das próprias qualidades que violou. Mas esta
verdade se aplica igualmente a[Pg 103]as afeições mais estritamente benevolentes. O
homem que vive no exercício habitual de um egoísmo frio e estéril, e busca apenas sua
própria gratificação ou interesse, tem de fato, em certo sentido, sua punição no desprezo
e aversão com que é visto por seus semelhantes. Muito mais do que isso, no entanto,
atribui a tal personagem; - ele violou os princípios que lhe foram dados para sua
orientação no sistema social; - ele caiu de sua condição sólida como ser moral; e incorre
em culpa real aos olhos de um governador justo, cuja vontade a ordem deste mundo
inferior pretende obedecer. Mas não se segue de forma alguma que o homem, que realiza
de certa maneira as relações de justiça, amizade e compaixão, tenha por isso o direito de
reivindicar mérito na visão do Todo-Poderoso Governador do universo. Ele apenas
desempenha sua parte no atual sistema de economia moral, para o qual foi adaptado. Ele
é constituído de modo a obter satisfação do exercício dessas afeições; e, por outro lado,
ele recebe uma recompensa apropriada no exercício recíproco de afeições semelhantes
por outros homens e na harmonia geral da sociedade que resulta de [Pg 104] eles. Uma
extensa cultura das afeições, portanto, pode continuar sem o reconhecimento do
princípio moral, ou aquele estado de espírito que habitualmente sente a presença da
Divindade e deseja ter todo o caráter em sujeição à sua vontade. Não temos o direito de
reconhecer a operação desse grande princípio, a menos que as afeições sejam exercidas
em circunstâncias que impliquem um forte e decidido sacrifício de amor próprio à
autoridade de Deus. Isso parece corresponder à distinção tão notavelmente declarada
nas escrituras sagradas: "Se amais os que vos amam, que recompensa tendes? Nem os
publicanos têm o mesmo?"
Neste ramo do assunto, também deve ser observado que existe uma espécie de poder
compensador entre as próprias afeições, pelo qual, na relação dos homens, elas agem
como freios umas às outras. Assim, o ressentimento atua como um freio à injustiça; e o
medo de excitar a raiva nos outros provavelmente tem uma influência na preservação da
paz[Pg 105]e harmonias da sociedade, que muitas vezes atribuímos a um princípio
superior. No que diz respeito às afeições mais estritamente benevolentes, elas também
são influenciadas, de maneira semelhante, pelo sentimento de desaprovação que
acompanha qualquer afastamento notável de suas exigências. Quando temos em mente,
juntamente com esta consideração, a maneira pela qual todos os homens são
influenciados, em um grau ou outro, pelo amor de aprovação ou respeito ao caráter,
percebemos no sistema moral um belo princípio de compensação, tendendo a promover
nele um certo grau de harmonia. Isso é notavelmente ilustrado, por exemplo, no
sentimento geral de desaprovação que está ligado à ingratidão e à violação da afeição
filial ou do dever dos pais, e até mesmo a qualquer negligência marcante dos chamados
comuns da humanidade. Junto com isso, também devemos ter em mente,
No que diz respeito aos afetos e aos desejos, estamos mais longe de lembrar que profunda
e extensa[Pg 106]influência significativa, sobre a felicidade do próprio indivíduo, que
resulta de uma devida regulação desses sentimentos; - o puro gozo mental daquele cujas
afeições estão sob sólida regulação e cujos desejos são habitualmente direcionados para
aqueles objetos que são no mais alto grau dignos de serem procurados. Essa
tranqüilidade mental também nos é representada, de maneira muito marcante, pela
influência daquelas disposições que costumamos referir à cabeça de temperamento. Que
fonte constante de puro prazer é um espírito manso e plácido, cujos desejos são
moderados e sob a devida regulamentação - que coloca em tudo a melhor construção que
admite - é lento para se ofender - não busca distinção - mas se vê com humildade e vê os
outros com franqueza, benevolência e indulgência.

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