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Módulo 9

A SAÚDE E SUAS IMPLICAÇÕES SISTÊMICAS

★ AVISO LEGAL: Antes de começar com esse módulo, vale reforçar que apesar de vocês estarem perto
de se tornarem terapeutas, isso não os autoriza, nem os capacita a diagnosticar um ​cliente.​ Uma vez
que o curso de formação em Constelação Familiar não tem autorização regulamentada para tal.
Somente aqueles que já tiverem uma formação prévia em psicologia e/ou medicina poderão, dentro
da sua área de atuação, associar ao seu trabalho às ferramentas da constelação sistêmica e assim
diagnosticar seu ​paciente​. O Constelador que se arriscar a fazer isso, pode ser processado por
exercício ilegal da profissão de médico e/ou psicólogo ou ser taxado de charlatão.

SOBRE TER CREDIBILIDADE:

- Se você, que está fazendo o curso, possui algum dom especial, aconselho a não misturar com a
constelação. Trabalhamos com uma ciência que, como todas em seu início, é muito questionada e
combatida. Por isso, fazer tudo com a maior transparência possível dará a credibilidade para que
novos clientes cheguem até vocês​ t​ odos os dias.
- Use o seu campo sempre com respeito; o campo não é um consultório, nem um terreiro. Se você intui
que algo não está bom ou algo não vai bem, simplesmente diga isso com serenidade ao seu cliente
como uma informação trazida pelo campo. Arriscar um diagnóstico do tipo: eu sinto que você está
com câncer, ou seu filho vai suicidar, ou sua mãe vai enfartar; pode sugestionar uma pessoa sensível
que já está alí, fragilizada, e com isso, ela venha a passar mal mesmo.
- Esse tipo de intercorrência leva à incredibilidade e compromete o seu trabalho. E tenha a certeza de
que o mercado tratará de excluir quem é ruim.

AS DOENÇAS E SUAS MANIFESTAÇÕES


A partir do olhar trazido por Bert Hellinger, entendemos por sistêmico tudo aquilo que tem origem na
interação entre indivíduos. De forma mais objetiva, e dentro deste contexto, olhamos para o sistema familiar.

Nossa saúde também está sob influência deste grande campo, formado pelas experiências e interações
familiares das quais fazemos parte. E aquilo que se manifesta em nossa saúde ou em nossa doença, muitas
vezes, pode estar ligado a uma identificação familiar. Descobrimos, através das constelações familiares, que
alterações nas questões de saúde podem ter um fundo sistêmico. Essa correlação tem sido bastante observada
dentro das constelações.

O pscicoterapeuta alemão, Stephan Hausner, é um dos principais profissionais a trabalhar com esta
abordagem. Hausner trabalha com o olhar sistêmico desde 1993. Em seu livro, “Constelações Familiares e o
Caminho da Cura”, ele descreve diversas experiências onde a aplicação dessa terapia leve aliviou ou mesmo
curou totalmente condições de dificuldades de saúde. No entanto, sua postura, no livro, é de que as
Constelações não são substitutos para o tratamento médico tradicional indicado para cada enfermidade. E é
essa a mesma postura adotada aqui, no Instituto Ancestrais.

“É impressionante com que clareza as constelações sistêmicas com doentes podem revelar conexões
transgeracionais entre as doenças e os acontecimentos traumáticos nas famílias de origem do
paciente.” - ​Stephan Hausner, no livro “Constelações Familiares e o Caminho da Cura”.

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Instituto Ancestrais - Constelações Familiares
Por sermos animais de cunho extremamente social, nossas interações, em grande parte, nos definem. Assim, é
correto afirmar que, certos problemas ou dificuldades dessas interações podem sintomatizar em nosso corpo,
através de dificuldades de saúde.

Na teoria de Hellinger, o principal sistema ao qual fazemos parte é o sistema familiar. E por meio de vínculos
muito profundos (genéticos e afetivos) existe uma lealdade entre seus integrantes. Nessa lealdade somos
sensíveis, ainda que inconscientemente, a três características centrais:

- o lugar que ocupamos e que outros ocupam no nosso sistema (ordem),


- a igualdade na troca entre os integrantes deste sistema (equilíbrio),
- e o direito de pertencer de cada um que nasceu nele (pertencimento).

Quando uma ou mais dessas características são quebradas, há um tensionamento do sistema familiar, que é
experimentado em seus integrantes através de dificuldades na vida. Uma dessas influências ocorre na nossa
saúde.

Grande parte dos problemas sistêmicos advém da exclusão. Seja qual for o motivo que nos leve a excluir
alguém de nossa rede familiar, para o sistema, a exclusão é uma falta grave no direito de pertencimento de
todos. E para lembrar aos membros deste sistema dessa exclusão inapropriada, podemos sintomatizar em
nosso corpo doenças que nos ligam àqueles que foram excluídos.

Nosso corpo é uma “engenharia” de grande sabedoria e complexidade. Ainda que por vezes a medicina olhe
para cada parte em separado, é interessante perceber o benefício que existe ao ver nosso organismo como
algo sistêmico, onde as partes influenciam o todo.

E a identificação?
Por causa dessa lealdade, a qual todos nós experienciamos, independente do quão ligados afetivamente à
nossa família nós somos (de forma racional), também podemos nos identificar diretamente com uma questão
de saúde de um familiar próximo, em especial bisavós, avós, pais e irmãos.

Nesse caso, essa lealdade nos coloca a repetir o destino difícil de algum familiar. Repetimos
inconscientemente, motivados principalmente pelos vínculos que temos com os integrantes do nosso sistema.

E essa falta de consciência, que nos coloca em direção de destinos difíceis, é o principal mecanismo que é
trabalhado através das Constelações Familiares para a Saúde. Através da dinâmica da Constelação, o cliente
pode perceber a qual situação dentro do sistema familiar ele está conectado.

Ao trazer do inconsciente para o consciente, muito já se movimentou no cliente para que ele possa abrir mão
da identificação.

Quando o amor, que atua em conjunto com a lealdade, se mostra, as principais amarras que nos deixam
conectados com a dificuldade de saúde se afrouxam. Permitindo que o tratamento e o corpo façam sua parte
no combate de uma enfermidade.

A boa informação escondida na doença


O mais importante é que percebemos que o nosso corpo e nossa saúde tem muito a nos dizer. E quando
ouvimos, ficamos mais próximos da possibilidade da cura.

O desafio aqui, uma vez que estamos habituados a pensar no nosso corpo como uma máquina mecânica, é não
ignorar que nossa saúde é constituída de contextos e camadas que vão muito além do que é perceptível aos
olhos.

Ao olhar para o histórico familiar, as experiências tidas por antepassados (perdas, mortes, guerras,
separações…) e o nosso vínculo com nossa rede familiar, vamos percebendo que nossa saúde é também um
meio de expressão destes acontecimentos.

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Instituto Ancestrais - Constelações Familiares
O vínculo
Isso significa que pelo olhar da Constelação Familiar e Sistêmica, nossa saúde também está à disposição do
nosso vínculo e para o cumprimento do que Hellinger descobriu ser as 3 leis dos relacionamentos humanos.

“A doença é o sinal de que existe algo que aguarda para ser colocado em ordem. É sempre o amor que
coloca algo em ordem. Principalmente o amor a um excluído que não tem lugar. Esse amor quer
sempre mais. Também a doença quer sempre mais. O movimento em direção ao mais é um
movimento em direção à saúde.” - B ​ ert Hellinger, no livro A Cura.

E em um atendimento de Constelação Familiar é possível observar essa identificação através da doença.


Quando colocamos um representante para a doença ou uma questão de saúde de um cliente, aos pouco
vamos encontrando as relações que surgem do seu sistema familiar.

Muitas vezes, a doença atua num trabalho profundo de amor ao vínculo. Um amor que se conecta
inconscientemente na dor, repetindo o que foi difícil para uma pessoa da família.

Ao contrário de uma visão mecanicista, onde temos em nosso sistema corporal apenas causa e efeito como
explicação para as doenças, a Constelação amplia esse olhar considerando que nossa saúde pode sintomatizar
traumas e questões difíceis de nossa vida e da nossa história familiar.

AS DOENÇAS E SEUS SIGNIFICADOS SISTÊMICOS


As doenças têm origem em coisas imateriais, inconscientes e ocultas que refletem uma parada do fluxo
energético, fazendo com que um órgão seja atingido na forma de doença ou distúrbio.

Essa parada do fluxo de energia ocorre entre dois a quatro anos após perdas ou fracassos no sistema e são
sinais de “desordem” na alma da família, quando alguém está fora do lugar.

Isto tem a ver com dinâmicas básicas de três tipos e subjacentes às doenças:

1) a tendência de seguir alguém rumo à morte, doença ou um destino específico;

2) tentativa de se colocar no lugar de alguém: "é melhor eu morrer, do que você", "é melhor eu sair
do que você";

3) penitência causada por culpa pessoal.

As enfermidades acontecem também por causa da conexão que existe entre o órgão da pessoa com uma outra
pessoa: é como se o órgão trabalhasse por essa pessoa excluída ou não-reconhecida.

As resoluções dessa desordem no sistema familiar podem ser falsas, por meio de excesso de trabalho,
agitação, dedicação profissional exagerada, exacerbação do pensamento, negligência/supervalorização
corporal e melancolia.

Hellinger relata, em “O amor do espírito” (2009), que certos fenômenos de constelação significavam
intrigantes eventos do sistema familiar:

1) Gagueira - Somando-se ao que já se sabe, por meio de outros paradigmas, a respeito da etiologia
dessas doenças, a partir do paradigma do campo constelar, os distúrbios da fala mostram atitudes
conflitantes ou segredo na família. Alguém foi mantido em segredo, ausente, sem ter chance à
palavra. A pessoa olha como se perguntasse se tem permissão para falar.

2) Dependência química (inclusive álcool) – Falta do pai. O pai do cliente precisa ser acolhido no
coração do cliente, trazido de volta e considerado sem julgamento. O pai desprezado pela mulher,
leva a criança ao vício.

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3) Doenças de pele (psoríase, dermatite, herpes) ​- Somando-se ao que já se sabe da etiologia dessas
doenças, no paradigma do campo constelar, elas ocorrem quando um sentimento ruim de um
ex-parceiro é deslocado para um filho do segundo casamento. No trabalho de constelação, o
representante da segunda mulher deve pedir que as crianças sejam vistas com benevolência.

4) Transplantes​ – A doação liga as famílias do doador e do recebedor.

4a) De órgãos: os “representantes” dos órgãos gritam. No canibalismo comer os órgãos dos
inimigos de guerra trazia força e coragem aos vencedores. Era uma homenagem. Sem
julgamento.

4b) De sangue: podem ocorrer mudanças de personalidade após receber uma transfusão e
na constelação a reverência ao doador pode ser a resolução para a questão.

5) Psicose, esquizofrenia, bipolaridade – Somando-se ao que já se sabe, por meio de outros


paradigmas, a respeito da etiologia dessas doenças, a partir do paradigma do campo constelar, se
observou que o cliente “psicótico” alterna papéis de agressor e vítima mostrando que a paz não foi
selada nas gerações anteriores. Observa-se sempre que houve uma cena violenta/assassinato na
linhagem dos ancestrais da família do pai ou da mãe. A solução requer do agressor dizer “sinto muito”
para que haja liberação das famílias do peso da vingança.

6) Epilepsia – Somando-se ao que já se sabe, por meio de outros paradigmas, a respeito da etiologia
dessas doenças, a partir do paradigma do campo constelar, há um impulso assassino em direção a
membros da família e a convulsão impediria a expressão desse impulso.

7) Obesidade – Pode-se constelar a falta. Em geral, um ancestral pode ter passado por privações,
dificuldades, não só privações alimentares, e a compulsão alimentar vem como compensação, ou o
sujeito pode estar honrando um obeso excluído.

Certas listas são um risco de serem oferecidas porque as pessoas as tomam como um livro de receitas, para
aplicação mental indiscriminada, sem intuição nem discernimento e, principalmente sem levar em conta os
fenômenos do campo constelar.

Por causa disso, melhor dizermos que a lista acima apenas reflete as experiências relatadas por Hellinger.

Um exemplo de uma constelação onde se tratou um caso de excesso de peso de um cliente:

A Dra.Ursula Franke-Bryson, traz esse exemplo, no artigo “Comendo para os ancestrais”. Neste texto, ele
transcreve a constelação de um homem, europeu, que havia encontrado respostas e ferramentas para lidar
com grande parte de seus desafios pessoais. Na busca de um vida mais equilibrada e saudável, faltava resolver
um grande problema, seu excesso de peso corporal.

A terapeuta investigou que umas das primeiras reações que o cliente sentia era de nervosismo ao menor sinal
de fome. Uma fome que não chegava a incomodar, pois era suprida de comida ao seu primeiro sinal. Úrsula
conduz o cliente através da constelação e descobre, após algumas perguntas e exercícios corporais, que ele
está identificado com seu avô, que foi um soldado e morreu de fome em um campo para prisioneiros de
guerra. Ao comer, o neto trazia à tona, de forma inconsciente, a existência, o pertencimento e a dor do avô
pela privação de comida. Ao reconhecer a dinâmica oculta da sua compulsão por comida, ele pode se
fortalecer para honrar seu familiar de forma menos destrutiva.

Esse é o local valioso onde a Constelação Sistêmica pode nos ajudar a perceber dinâmicas ocultas e que nos
levam a tomar decisões baseadas em lealdades que não trarão nenhum resultado, senão a repetição do
sofrimento. Nossa lealdade e nosso amor nesse caso são cegos. Através da constelação, vemos realmente

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esses destinos sofridos e os honramos, como adultos que reconhecem seus lugares e seus reais papéis dentro
da rede familiar.

É fundamental frisar que as constelações jamais trabalham de forma excludente em relação à Medicina, aliás,
é exatamente o contrário – a proposta é, através das constelações, oferecer mais uma possibilidade para o
cliente olhar para sua doença e mais uma ampliação de olhar para os médicos e terapeutas.

OLHANDO PARA OS NOVOS SINTOMAS.


Com a evolução da medicina nós, os consteladores, teremos que ter um novo olhar para os sintomas surgidos
com as doenças da contemporaneidade. Assim como para novos fatores, tais como:

- a inseminação artificial através de ovodoação ou doação embrionária, que vem trazendo para o
campo as questões surgidas nessas famílias onde outros sistemas são inseridos,
- os novos modelos familiares onde a adoção como um “ato de amor”, muitas vezes vem beneficiar
quem adota para completar ou resolver um problema ou uma falta no relacionamento, deixando de
lado assim o sistema ao qual a criança adotada pertence.

A criança de uma doação embrionária ou só de uma ovodoação ou de uma espermo doação, ou seja, de uma
doação parcial, está sendo gestada pela mãe: ​“barriga”​, útero que acolhe aquele embrião. Mas o sistema ao
qual a criança pertence é, e sempre será, o da origem biológica dela. De lá, ela trará a sua memória e terá
lealdade ao seu clã, pois a sua alma sabe ser pertencente a ele e não ao da mãe gestante. Ela trará para a sua
vida os sintomas da sua família de origem. Essa criança passará a ter mais de um sistema, pois qualquer pessoa
que entra na sua vida e muda o seu destino, passa a fazer parte do seu sistema, mas o de origem nunca será
apagado e a tentativa de exclusão do mesmo trará graves consequências futuras para o sujeito e seus
descendentes.

Olhar para os sintomas é olhar para a dor da família. Os sintomas contemporâneos como anorexia, bulimia,
vigorexia, drogadição e também o mais antigo - o alcoolismo, estão dizendo de dores vividas por nossos
ancestrais e que precisam ser olhadas. A repetição dessas doenças gera a crença em cima de hereditariedade
genética e faz com que nos acomodamos, no sentido do conformismo, de que não se pode fazer nada, pois
“vem no sangue”.

Quando colocamos essas questões no campo não devemos nos apegar também a crenças de que
determinados sintomas tem a ver com determinado órgão. Devemos deixar o campo mostrar. Predeterminar
não é correto, pois temos que olhar para além da doença em si. Olhar para o que está excluído, aquilo que foi
julgado e excluído pelo cliente e que voltou em forma de doença. A doença aparece com a recusa em aceitar
enfrentar os conflitos que aparecem no nosso destino. Todos estamos inseridos em um campo onde todos têm
o direito de pertencer e são importantes. Esse campo mantém todas as memórias de experiências e emoções
para que todo recém-chegado receba toda a bagagem amorosa ou mesmo trágica dos pertencentes em um
processo contínuo de compensação entre dar e receber.

Doenças vão embora quando a pessoa se abre para a vida, incluindo e dizendo sim a tudo e a todos.

Quando tentamos “salvar os nossos pais” nos colocando maiores e cobrando de nós as responsabilidades
deles, geramos doenças hereditárias. Desordens no sistema, emoções reprimidas, traumas não integrados,
comportamentos não tomados vão gerar sintomas no nosso corpo e dos nossos descendentes até que os
problemas sejam resolvidos. E como se o descendente dissesse ao ancestral: Eu sou como você! É uma
tentativa inconsciente de resolver a questão, é a fidelidade ao sistema. Não se esqueçam!!! Primeiro
movimento de cura é a reconciliação com a mãe pois ela representa a aceitação da vida e depois com o pai
que representa a ação na vida. Tudo passa pelos pais.

O corpo é um reflexo do sistema familiar, o lugar em que os conflitos humanos se repetem tanto no corpo
como no sistema familiar. Curar significa restaurar a ordem nascida depois de um conflito. A cura abraçando a
vida como ela é.

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