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Avaliação de

GRAMÁTICA
Estudante: Avaliação 1 Turma: 1ª série EM
Professor: Cláudia Cristiane Oliveira Garcia 2º Bimestre Data: 15/04/2024

Conteúdo: Adjetivo e Numeral (Morfologia); Variações linguísticas.

Questões

TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 01 A 03

Passeio à Infância

Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os
lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol
dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os
sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro!
Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do
açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é só no mês que vem, vamos apanhar tabatinga
para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira.
Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e vamos passear
nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de panela?
Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma
forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia
pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios
crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as
galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe vou aipim ainda
quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de
abóbora e coco.
Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então
ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras,
como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as
nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe.
Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado
do rio gritando.
Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira? Uma vez vi
uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma que para mim uma adoração.
Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho
conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram
outra vez daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um pouco
mais alta da ponta direita do banco.
Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? É um passarinho miúdo: imagine
uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras.
Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê
as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria uma
tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda rira: ele não sabe nem passar um
barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e
estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do
brejo no meio dos dedos dos pés.
Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência e torturaria; mas sou um homem
maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes
dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi um silvo de cobra, e eu
quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é
como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro 200 crônicas escolhidas, de Rubem Braga

1. (Epcar) O adjetivo é na essência um termo modificador do substantivo e pode se antepor ou pospor a este.

Assinale a opção em que se percebe mudança de sentido quanto à posição do adjetivo.


a) (...) os sanhaços estão bicando os cajus maduros.
b) Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras (...).
c) Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia.
d) Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual (...).
e) (...) são humildes coisas, e você é tão bela e estranha!

2. (Epcar) Assinale a opção em que a expressão sublinhada NÃO tem valor de um adjetivo.
a) Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
b) Lembre-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros (...).
c) O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
d) Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato (...).
e) Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no
meio dos dedos dos pés.

3. (Epcar) Assinale a opção em que o adjetivo sublinhado, quanto ao gênero, é uniforme:


a) Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro (...).
b) (...) os sanhaços estão bicando os cajus maduros.
c) (...) meus olhos eram outra vez os encantados olhos daquele menino feio do segundo ano primário (...).
d) (...) são humildes coisas, e você é tão bela e estranha!
e) Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato (...).

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

1
– Para mim esta é a melhor hora do dia – Ema disse, voltando do quarto dos meninos. – Com as crianças na
cama, a casa fica tão sossegada.
– Só que já é noite – a amiga corrigiu, sem tirar os olhos da revista. Ema agachou-se para recolher o quebra-
cabeça esparramado pelo chão.
– É força de expressão, sua boba. O dia acaba quando eu vou dormir, isto é, o dia tem vinte quatro horas e a
semana tem sete dias, não está certo? – Descobriu um sapato sob a poltrona. Pegou-o e, quase deitada no tapete,
procurou, 2depois, o par _____1_____ dos outros móveis.
Era bom 3ter uma 4amiga 5experiente. Nem precisa ser da mesma idade – deixou-se cair no sofá – Bárbara,
6
muito mais sábia. Examinou-a a ler: uma linha de luz dourada 7valorizava o perfil privilegiado. As duas eram tão
inseparáveis quanto seus maridos, colegas de escritório. Até ter filhos juntas conseguiram, 8acreditasse quem quisesse.
Tão gostoso, ambas no hospital. A semelhança física teria 9contribuído para o perfeito entendimento? “Imaginava que
fossem irmãs”, muitos diziam, o que sempre causava satisfação.
10
– O que está se passando nessa cabecinha? – Bárbara estranhou a amiga, só doente 11pararia quieta.
Admirou-a: os 12cabelos soltos, caídos no rosto, escondiam os olhos _____2_____, azuis ou verdes, conforme o reflexo
da roupa. De que cor estariam hoje 13seus olhos?
Ema aprumou o corpo.
– Pensava que se nós morássemos numa casa grande, vocês e nós...
Bárbara sorriu. Também ela uma vez tivera a 14ideia. – As crianças brigariam o tempo todo.
15
Novamente a amiga tinha razão. 16Os filhos não se suportavam, discutiam por qualquer motivo, ciúme
doentio de tudo. 17O que sombreava o relacionamento dos casais.
– Pelo menos podíamos morar mais perto, então.
Se o marido estivesse em casa, 18seria obrigada a assistir à televisão, _____3_____, ele mal chegava, ia ligando
o aparelho, ainda que soubesse que ela detestava sentar que nem múmia diante do aparelho – levantou-se, repelindo
a lembrança. Preparou uma jarra de limonada. _____4_____ todo aquele interesse de Bárbara na revista? Reformulou
a pergunta em voz alta.
– Nada em especial. Uma pesquisa sobre o comportamento das crianças na escola, de como se modificam 19as
personalidades longe dos pais.

Adaptado de: VAN STEEN, Edla. Intimidade. In: MORICONI, Italo (org.) Os cem melhores contos brasileiros do século. 1.
ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 440-441.

4. (UFRGS) O texto apresenta sentimentos de admiração de Ema por sua amiga Bárbara. Esses sentimentos
transparecem na relação entre palavras.

Assinale a alternativa em que a reunião de advérbios e adjetivo expressa esse sentido de admiração de Ema por sua
amiga.
a) amiga experiente (ref. 4).
b) muito mais sábia (ref. 6).
c) valorizava o perfil privilegiado (ref. 7).
d) cabelos soltos (ref. 12).
e) Novamente [...] tinha razão (ref. 15).

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Bruxas não existem

Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo maquinando
coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A prova para nós era uma mulher muito velha, uma
solteirona, que morava numa casinha caindo aos pedaços, no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós
só a chamávamos de “bruxa”.
Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme
verruga no queixo. E estava sempre falando sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que,
se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando venenos num grande caldeirão.
Nossa diversão predileta era incomodá-la. Volta e meia invadíamos o pequeno pátio para dali roubar frutas e
quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando
“bruxa, bruxa!”.
Um dia encontramos, no meio da rua, um bode morto. A quem pertencera esse animal, nós não sabíamos,
mas logo descobrimos o que fazer com ele: jogá-lo na casa da bruxa. O que seria fácil. Ao contrário do que sempre
acontecia, naquela manhã, e talvez por esquecimento, ela deixara aberta a janela da frente. Sob comando do João
Pedro, que era o nosso líder, levantamos o bicho, que era grande e pesava bastante, e com muito esforço nós o
levamos até a janela. Tentamos empurrá-lo para dentro, mas aí os chifres ficaram presos na cortina.
– Vamos logo – gritava o João Pedro –, antes que a bruxa apareça. E ela apareceu. No momento exato em que,
finalmente, conseguíamos introduzir o bode pela janela, a porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um
cabo de vassoura. Rindo, saímos correndo. Eu, gordinho, era o último.
E então aconteceu. De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e
não tive dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei me levantar, mas não consegui. E a bruxa, caminhando com
dificuldade, mas com o cabo de vassoura na mão, aproximava-se. Àquela altura a turma estava longe, ninguém
poderia me ajudar. E a mulher sem dúvida descarregaria em mim sua fúria.
Em um momento, ela estava junto a mim, transtornada de raiva. Mas aí viu a minha perna, e
instantaneamente mudou. Agachou-se junto a mim e começou a examiná-la com uma habilidade surpreendente.
– Está quebrada – disse por fim. – Mas podemos dar um jeito. Não se preocupe, sei fazer isso. Fui enfermeira
muitos anos, trabalhei em hospital. Confie em mim.
Dividiu o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e com seu cinto de pano, improvisou uma tala,
imobilizando-me a perna. A dor diminuiu muito e, amparado nela, fui até minha casa. “Chame uma ambulância”, disse
a mulher à minha mãe. Sorriu.
Tudo ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico engessou minha perna e em poucas semanas eu estava
recuperado. Desde então, deixei de acreditar em bruxas. E tornei-me grande amigo de uma senhora que morava em
minha rua, uma senhora muito boa que se chamava Ana Custódio.

Moacyr Scliar. Disponível em: http://novaescola.org.br/fundamental-1/bruxas-nao-existem-689866.shtml. Acesso em:


11/07/2016.

5. (PUC) Sobre o emprego de recursos que promovem certos efeitos de sentido no texto, analise as proposições a
seguir.

I. A atribuição do adjetivo “solteirona” à personagem (1º parágrafo) pretende apenas acrescentar uma informação (o
estado civil) acerca da referida mulher.
II. No trecho: “Era muito feia, ela (...)” (2º parágrafo), a inversão do sujeito desloca o foco de atenção para o
predicativo, enfatizando essa característica da personagem.
III. No trecho: “(...) a porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um cabo de vassoura.” (5º parágrafo), a
presença e a posição do termo ‘a bruxa‘ acrescentam suspense a esse trecho.
IV. Com a construção do período curto: “E então aconteceu.” (6º parágrafo), o narrador acentua o nível de tensão,
com a finalidade de introduzir o clímax da narrativa.

Estão CORRETAS, apenas


a) I e II.
b) I, III e IV.
c) I e IV.
d) II e III.
e) II, III e IV.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Uma campanha alegre, IX

Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado:


Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o Poder, perdem o Poder,
reconquistam o Poder, trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos, como uma pela* que quatro crianças,
aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.
Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder, esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres
de todos os outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da Fazenda, a ruína do País!
Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros
liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses do País.
Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem tudo o que podem para continuar a ser os
esbanjadores da Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E os que não estão no Poder movem-se,
conspiram, cansam-se, para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros liberais, e os interesses do
País!
Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os verdadeiros liberais, entram triunfantemente na
designação herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto que os que caíram do Poder se resignam,
cheios de fel e de tédio — a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.
Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que
não tenha sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País...
Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e
pelas votações mais hostis...
Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra
dos oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa constitucional do poder moderador...
E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele
vai, feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto** tão triunfante!

(*) Pela: bola.


(**) Chouto: trote miúdo.

(Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)

6. (UNESP) Assinale a alternativa cuja frase contém um numeral cardinal empregado como substantivo.
a) Há muitos anos que a política em Portugal apresenta...
b) Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o Poder...
c) ... os cinco que estão no Poder fazem tudo o que podem para continuar...
d) ... são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos...
e) ... aos quatro cantos de uma sala...

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Palavras sem fronteiras

Empréstimo de termos estrangeiros pode evitar “autismo” linguístico de um idioma.


Muito se combate a penetração de palavras estrangeiras na nossa língua. Se até certo ponto esse combate se
justifica, todo radicalismo, como exigir o banimento puro e simples de todo e qualquer termo estrangeiro do idioma,
cheira a preconceito xenófobo, fanatismo cego e, mais ainda, ignorância da real dinâmica das línguas.
Antes de lançar ao fogo do inferno tudo o que vem de fora, é preciso tentar compreender sem paixões por que
os estrangeirismos existem. Se olharmos atentamente para todas as línguas, veremos que nenhuma tem se mantido
pura ao longo dos séculos: intercâmbios comerciais, contatos entre povos, viagens, grandes ondas migratórias,
disseminação de fatos culturais, tudo isso tem feito com que as línguas compartilhem palavras e expressões. Até o
islandês, que, para muitos, é a língua mais pura do mundo, sem nenhum termo de origem estrangeira, é na verdade
um idioma altamente influenciado por línguas mais centrais e hegemônicas. O que ocorre é que o islandês traduz os
vocábulos que lhe chegam de fora, usando material nativo. No islandês, os estrangeirismos estão apenas camuflados.
(...)
Afinal, em viagens pelo mundo, é reconfortante reconhecer vocábulos familiares como “telefone”, “hotel”,
“restaurante”, “táxi”, “hospital”, ainda que ligeiramente modificados pela fonética e ortografia do país que visitamos.
Portanto, quando se trata de discutir uma política de proteção do idioma contra uma suposta “invasão
bárbara”, é preciso, em primeiro lugar, compreender que nenhuma língua natural passa incólume às influências de
outras línguas, e que isso, na maioria das vezes, é benéfico tanto para quem exporta quanto para quem importa
palavras. Toda língua se vê enriquecida com contribuições externas, que sempre trazem novas visões de mundo, por
vezes simplificam a comunicação e, sobretudo, tiram o idioma de uma situação de “autismo” linguístico.
Dando por assentada a questão de que o empréstimo de palavra estrangeira é um fenômeno legítimo da
dinâmica das línguas e, acima de tudo, inevitável, cabe então distinguir quando um empréstimo é necessário ou não,
quando é oportuno ou inoportuno. Afinal, uma coisa é a introdução em nossa sociedade de um novo conceito (por
exemplo, uma nova tecnologia, um fato social inédito, uma nova moda) que, por ser originário de outro país, chegue
até nós acompanhado do nome que tem na língua de origem. Foi assim com o whisky (ou uísque), a pizza, o futebol (e
os nomes das posições dos jogadores, depois traduzidas para o português), a informática, e assim por diante. Outra
coisa é dar nomes estrangeiros a objetos que já têm nome em português. (...)
Os empréstimos oportunos acabam algumas vezes traduzidos ou aportuguesados, outras vezes não. Mas, se
eles existem na nossa língua, é porque somos grandes importadores de objetos e fatos culturais inventados por outros
povos. Ou seja, importamos palavras mais do que exportamos porque, no fundo, somos pouco criativos em matéria de
tecnologia. (...)
Ora, em questões de língua, como em tudo mais na vida, a virtude está no meio: nem tanto ao mar, nem tanto
a terra. Portanto, não se deve adotar nem uma postura de servilismo ao que é estrangeiro nem uma atitude
chauvinista em relação ao que é nacional. Afinal, o purismo linguístico é algo tão irritantemente pedante quanto o
estrangeirismo mercadológico.

Aldo Bizzocchi. Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Segmento. Adaptado.

7. (UPE) As ‘variações de um texto’ se justificam por muitos fatores e assumem diferentes manifestações. No caso do
texto, por exemplo:

I. ficaria comprometido o potencial semântico e a função comunicativa de sua formulação, caso o autor tivesse optado
por fugir à norma culta da língua portuguesa.
II. o autor assume uma linguagem precisa e relevante, uma vez que oferece sustentação para os argumentos
apresentados (veja-se o exemplo que dá em relação ao islandês).
III. o autor, em dado momento, pretende mostrar-se incluído na interação com o grupo. Por isso, recorre ao uso da
primeira pessoa, como em: “Se olharmos atentamente para todas as línguas, veremos que...”.
IV. a sequência verificada nos parágrafos é característica de um texto expositivo. Se se tratasse de um gênero narrativo
– como uma notícia, o mais comum seria uma ordem cronológica.
V. a finalidade prevista e os interlocutores pensados para esse texto justificam o uso de uma formulação textual
distinta do padrão informal, não monitorado e distenso.

As observações são aceitáveis apenas nas afirmativas


a) I, II e III.
b) II, III e V.
c) I, II e IV.
d) II, III, IV e V.
e) IV e V.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Nos últimos 500 anos temos falado e escrito a língua 14portuguesa no Brasil. Nos primeiros séculos, apenas 30%
dos habitantes 13falavam a língua de Portugal, e nem todos a escreviam. Os 4outros 70% 1............... aloglotas,
ameríndios e africanos. 7Foi necessário esperar até o século XVIII para que a língua portuguesa efetivamente se
tornasse a língua majoritária do país.
8
Que língua é essa que falamos e que escrevemos (tão pouco)? Continua a ser o português europeu? Ou já
falamos o 15"brasileiro"?
Tem-se notado que desde o século XIX 2.............. a aparecer no português do Brasil alguns elementos fonéticos
e gramaticais divergentes do uso europeu. Vejamos alguns poucos exemplos.
12
Pronunciamos todas as vogais que precedem a vogal tônica, como em telefone, 18enquanto os portugueses
passaram a apagá-las, dizendo tulfón. Às vezes deixamos cair as vogais iniciais, como em tá, por está, mantidas pelos
portugueses em seu modo característico de atender ao telefone: 9está? está lá? Também alteramos bastante a
gramática. Para ficar só num caso: no quadro dos pronomes pessoais, mantivemos eu e ele para a primeira e a terceira
pessoas, mas estamos substituindo progressivamente tu por você e nós por agente. Vós desapareceu.
10
Significaria 19então que já 16nasceu a língua brasileira? Algumas dificuldades impedem uma resposta positiva,
pois muitos dos fenômenos 17diferenciadores 3............... já no português medieval. Indo 5por aqui, o português do
Brasil seria considerado mais conservador que o português europeu, e a pergunta então não é se temos uma nova
língua por aqui, 20e sim 11por que "eles" mudaram a língua por lá... Muito provavelmente, o português do Brasil está
combinando características conservadoras e inovadoras, seguindo, 6nisso, uma direção distinta daquela do português
europeu.

Adaptado de: CASTILHO, Ataliba T. de. Seria a língua falada mais pobre que a língua escrita? Impulso, Revista de
Ciência Sociais e Humanas, São Paulo, UNIMEP, v. 12, n. 27, p. 85-104, 2000.

8. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações.

I - O fato de o português do Brasil possuir algumas características já encontradas em períodos anteriores do português
europeu é evidência contrária à ideia da existência de uma língua brasileira.
II - No Brasil do século XVIII, o português, além de ser a língua mais utilizada, era muito semelhante à modalidade
europeia.
III - A variedade brasileira do português é mais conservadora do que a portuguesa, o que a faz mais fechada a
variações na fala e na escrita.

Quais estão de acordo com o texto?


a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) I, II e III.

9. (UFMS) No trecho “E já no seu primeiro jogo depois do pacto com o Diabo, Tinho assombrou. Fez cinco gols, dois
com cada perna e o quinto com uma cabeceada perfeita.”, os vocábulos em destaque são, respectivamente, numerais:

a) ordinal, cardinal, cardinal e ordinal

b) cardinal, cardinal, ordinal e ordinal

c) cardinal, ordinal, ordinal e cardinal

d) cardinal, cardinal, cardinal e cardinal

e) ordinal, ordinal, ordinal e ordinal

10. (VUNESP)

Bom exemplo na saúde

Os bons resultados que estão sendo obtidos por programa de parceria entre hospitais privados de ponta e hospitais do
Sistema Único de Saúde (SUS) para reduzir a infecção hospitalar nestes últimos, como mostra reportagem do Estado,
são um exemplo de que é possível melhorar o atendimento na rede pública com medidas simples e de custo
relativamente baixo.

Em um ano, o treinamento que profissionais de 119 unidades da rede pública de 25 Estados recebem em cinco
hospitais privados de ponta já levou a uma redução de 23% das ocorrências de infecção hospitalar em Unidades de
Terapia Intensiva (UTIs) de três tipos principais: na corrente sanguínea, no trato urinário e na pneumonia associada à
ventilação mecânica. Participam do treinamento não apenas médicos e enfermeiros, mas também – e este é um ponto
importante – integrantes das diretorias dos hospitais para facilitar a adoção dos procedimentos como rotina.
Os bons resultados do programa, observados em todas as regiões, levaram o Ministério da Saúde a fixar a meta
ambiciosa de redução de 50% da infecção hospitalar na rede do SUS até 2020. Isso significará salvar 8500 vidas de
pacientes de UTI. O programa também permitirá, segundo estimativa do Ministério, reduzir R$ 1,2 bilhão nos gastos
com internação.

Tudo isso sem fazer reformas e obras na rede pública, apenas redesenhando “o processo assistencial com os recursos
disponíveis”, como diz a coordenadora-geral da iniciativa, Cláudia Garcia, do Hospital Albert Einstein. Além de fazer
muito com poucos recursos, o alvo do programa foi bem escolhido, porque as infecções hospitalares estão entre as
principais causas de mortes em serviços de saúde do mundo inteiro, segundo a Organização Mundial da Saúde.

É preciso ter em mente, porém, que não se pode esperar demais de iniciativas desse tipo. Elas são importantes em
qualquer circunstância – porque o bom emprego do dinheiro público, para dele sempre tirar o máximo, deve ser uma
regra –, mas têm alcance limitado. Constituem um avanço, não mais do que isso.

(Editorial de 09.09.2018. https://opiniao.estadao.com.br. Adaptado)

Analisando-se os numerais empregados no texto, conclui-se que eles

a) constituem dados relevantes e fundamentam a argumentação favorável à iniciativa de parceria entre os sistemas de
saúde.

b) são pouco expressivos na argumentação apresentada, considerando-se que não sinalizam para resultados
auspiciosos.

c) orientam a argumentação para a ideia de se gastar menos com a saúde, devendo-se usar o dinheiro de forma menos
criteriosa.

d) contrariam a ideia de que o país passa por uma crise econômica, já que se gasta muito em uma parceria entre os
sistemas de saúde.

e) sinalizam informações da iniciativa sem, contudo, agregar elementos que mostrem se haverá uma redução de custo
que a justifique.

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