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Guia de

Lombalgia
Crônica

02
DIRETORIA 2023 Comitê de Dor SBOT 2023-2024
Presidente Presidente
João Antônio Matheus Guimaraes (RJ) André Wan Wen Tsai
1 Vice-Presidente Vice-Presidente
Fernando Baldy dos Reis (SP) José Eduardo Nogueira Forni
2 Vice-Presidente 1 Secretário
Paulo Lobo Junior (DF) André Cicone Liggieri
Secretário-geral 2 Secretário
Alexandre Fogaça Cristante (SP) Ibrahim Afrânio Willi Liu
1 Secretário 1 Tesoureiro
Paulo Silva (GO) Márcio Fim
2 Secretário 2 Tesoureiro
Tiago de Morais Gomes (CE) Sérgio Mendonça Melo Júnior
1 Tesoureiro Diretor Científico
João Baptista Gomes dos Santos (SP) Rosana Fontana
2 Tesoureiro
André Kuhn (RS)
Diretor de Comunicação e Marketing
Francisco Carlos Salles Nogueira (MG)
Diretor de Regionais
Jamil Faissal Soni (PR)
Diretor de Comitês
Miguel Akkari (SP)

APOIO INSTITUCIONAL

“A SBOT e a ABDOR agradecem ao inestimável apoio de seu parceiro para a viabilização desta obra
e declara inexistência de conflitos de interesse e/ou interferência na elaboração do conteúdo”.
CORPO EDITORIAL

Amir Salomão Gebrin


CRM-SP 93.825| RQE 26.406 – Mestre em Neurociências pela USP (Universidade de São Paulo), Membro
SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), SBC (Sociedade Brasileira de Coluna), SBED
(Sociedade Brasileira de Estudos da Dor), ABDOR (Sociedade Brasileira de Dor Ortopédica), INS (Interna-
tional Neuromodulation Society). Área de Atuação em Dor AMB (Associação Médica Brasileira).

Gilberto Yoshinobu Nakama


CRM-SP 104857 | RQE 97.448 – Especialista em Ortopedia e Traumatologia pela Associação Médica
Brasileira. Especialista em Medicina Esportiva pela Associação Médica Brasileira. Área de Atuação em Dor
pela Associação Médica Brasileira. Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
Membro do Comitê de Dor da SBOT (ABDOR). Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho
(SBCJ). Mestre e Doutor pela Universidade Federal de São Paulo.

Rosana Fontana
CRM-RS 21.723 | RQE 16.658 | RQE 38.579 – Médica Ortopedista e Traumatologista com área de atuação
em dor. Membro da Plural Clínica da Dor em Novo Hamburgo-RS. Diretora do Comitê de Dor da SBOT
(2023-2024). Diretora da SBRET.

Tomás Mosaner de Souza Moraes


CRM-SP 108.365 | RQE 10.849 Médico Ortopedista e Traumatologista pela Faculdade de Medicina da
USP, com atuação em dor pela Associação Médica Brasileira (AMB). Especialista em Medicina do Esporte.
Pós-graduado em acupuntura e termografia e especialização em medicina regenerativa e metabolismo.
Membro do Comitê de Dor da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e diretor geral
da Orthoregen, Pós-Graduação em Medicina Regenerativa e Dor.
EDITORA
contato@alefdesign.com.br Thiago Setti
CRM-SC 17.599 | RQE-SC 12.606 | TEOT 14.483 – Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia
11 96859-2642
pelo Hospital Marieta Konder Bornhausen, Itajaí/ SC. Especialista em Ortopedia e Traumatologia pela
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Subespecialização em cirurgia da Coluna Vertebral
Projeto gráfico e diagramação pelo Núcleo Especializado em Ortopedia, Chapeco/SC. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica
Alexandre Figueira de Almeida Brasileira. Formação em Medicina Intervencionista da Dor pela Clínica Singular, Campinas/SP. Formação
Coordenação em medicina regenerativa Orthoregen, Indaiatuba/SP. Pós Graduação em Dor pelo Hospital Israelita Albert
Einstein, São Paulo/SP. Fellow of Interventional Pain Practice pela World Institute of Pain (FIPP/WIP).
Fernanda Sodré
Certificação pela American Bord of Regenerative Medicine (ABRM) Coordenador da pós graduação em dor
Revisão orthoregen (PAINREGEN).
Laura Arrienti
APRESENTAÇÃO SUMÁRIO

Prezado colega, 8 Lombalgia crônica


Amir Salomão Gebrin
Com o objetivo de promover o estudo da dor, o Co-
mitê de Dor da SBOT, juntamente com a própria SBOT,
inicia este projeto de livretos divulgando informações 13 Semiologia da coluna lombar
práticas, atualizadas e relevantes aos temas específicos. Gilberto Yoshinobu Nakama
Desta maneira, esperamos ajudá-los a compreender,
diagnosticar e tratar cada vez melhor nossos pacientes 24 Tratamento clínico
portadores das mais diversas condições dolorosas. Tomás Mosaner de Souza Moraes

Desejamos a todos uma excelente leitura.


33 Tratamento cirúrgico: abordagens terapêuticas
Diretoria da ABDOR 2023-24 avançadas para lombalgia crônica
Thiago Setti
(fratura, inflamação, infecção tumor, compressão nervosa etc)
Lombalgia crônica e não específica (~85%), onde a dor axial é doença sem cau-
sa anatomopatológica definida (Figura 2a)8,9,10,11 Outra forma de
classificação, muito usada, é em pela intensidade da dor: leve,
Amir Salomão Gebrin moderada e severa ou incapacitante (Figura 2b)12,13

Lombalgias Crônicas

• Específicas (~15%): fratura, inflamação, infecção, tumor,


Definição
compressão nervosa
Dor é o principal motivo de procura médica, onde lombalgia e
• Não Específicas (~85%): sem causa definida
cefaleia são as mais prevalentes1,2.
Lombalgia refere-se a toda dor posterior abaixo das costelas
e acima da prega glútea incluindo, portanto, a região lombar e
as nádegas (Figura 1)3,4.
A dor lombar persistente por mais de três meses (com ou Lombalgia crônica Leve, sem limitações
sem irradiação para membros inferiores) é definida como lom-
balgia crônica3,5.

Lombalgia crônica Moderada, com limitações difuncionais

Lombalgia crônica Severa / Incapacitante

Figura 2. Classificação das lombalgias crônicas pela etiologia (a) e pela intensidade (b).
Figura 1. Definição da área anatômica da lombalgia
Epidemiologia
Classificação Apesar da lombalgia aguda ser bastante comum (80% dos
Há muitas classificações de lombalgia crônica6,7, mas a mais adultos já sentiram dor lombar), entre 5-10% evoluem para lom-
racional divide a etiologia da dor lombar crônica em específica balgia crônica14,15, das quais 1/3 é moderada ou incapacitante16.

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A lombalgia crônica é mais prevalente em mulheres, aumenta
com a idade (três a quatro vezes mais após os 50 anos)13 e é • Dor Intensa
mais prevalente quanto menor nível sócio-cultural17 É a princi- • Distúrbios de Sono
pal causa de anos vividos com incapacidade e de afastamento • Suporte Sociocultural Desfavorável
profissional hoje no mundo18,19. • Psiquismo Alterado: depressão, raiva, ansiedade,
catastrofismo e estresse

História Natural
O conceito biopsicossocial prevalece na expectativa de evolu-
ção da dor lombar crônica. Diferenças entre países, sociocultu-
rais ou de personalidade levam a manifestações bem distintas Referências bibliográficas
1. Mäntyselkä P, Kumpusalo E, Ahonen R e col Pain as a reason to visit the doctor: a study in Finnish
em casos muito semelhantes20,21,22.
primary health care. Pain. 2001, 175-80.
Deve-se evitar a cronificação da dor lombar, pois mesmo com 2. Picavet HS, Struijs JN, Westert GP. Utilization of health resources due to low back pain: survey and
os mais diversos tratamentos existentes há uma grande por- registered data compared. Spine. 2008, 436-44.
centagem de insucesso no controle lombalgia crônica23. 3. Posso, IP; Grossmann, E; Fonseca, PRB et al. Tratado de Dor. Atheneu, 2018, Cap 64, 895-902
4. Kobayashi R, Luzo MVM, Cohen M e col. Tratado de Dor Músculo Esquelética Alef, 2019, Cap 23, 271-
280.
Fatores de Risco: 5. Bouhassira D, Lantéri-Minet M, Attal N e col. Prevalence of chronic pain with neuropathic characteristics
Toda dor crônica começou como aguda24. Assim, há neces- in the general population. Pain. 2008, 380-387.
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sidade tanto em controlar a crise aguda de lombalgia quanto
better at it? Man Ther. 2011, 3-8.
identificar fatores de risco de cronificação25,26,27. 7. Morso L, Olsen-Rose K, Schiottz-Christensen B e col: Effectiveness of stratified treatment for back pain in
Os escores de suscetibilidade variam na literatura, mas dor Danish primary care: A randomized controlled trial. Eur J Pain. 2021 2020-2038
intensa, depressão, fragilidade social e distúrbios de sono 8. Maher C, Underwood M, Buchbinder R. Non-specific low back pain. Lancet. 2017,736–747.
9. Nguyen C, Lefèvre-Colau MM, Kennedy DJ e col: Low back pain. Lancet. 2018. doi: 10.1016/S0140-
são indicadores constantes no surgimento da lombalgia crônica.
6736(18)32187-1
Estes fatores devem ser identificados precocemente e tratados, 10. O’Sullivan P. Diagnosis and classification of chronic low back pain disorders: maladaptive movement
antes mesmo da busca por etiologia específica28,29. and motor control impairments as underlying mechanism. Manual Therapy, 2005, 242–255.
Ortopedistas são os primeiros médicos procurados no Brasil 11. Jamaludin A, Kadir T, Zisserman A e col. Comparison of degenerative MRI features of the intervertebral
para o tratamento de dores crônicas, e por isso é tão impor- disc between those with and without chronic low back pain. An exploratory study of two large female
populations using automated annotation. Eur Spine J (2023) doi.org/10.1007/s00586-023-07604-9
tante educação continuada direcionada a esta especialidade30.
12. Von Korff M, Scher AI, Helmick C e col: United States national pain strategy for population research:
concepts, definitions, and pilot data. J Pain. 2016, 1068-1080.
13. Hoy D, March L, Brooks P e col. The global burden of low back pain: estimates from the Global Burden
Fatores de Risco de Cronificação da Lombalgia of Disease 2010 study. Ann Rheum Dis. 2014, 968-74.
14. Patrick N, Emanski E, Knaub MA. Acute and chronic low back pain. Med Clin North Am. 2014 777-89
15. Stevans JM, Delitto A, Khoja SS e col. Risk factors associated with transition from acute to chronic low
back pain in us patients seeking primary care.JAMA doi:10.1001/jamanetworkopen.2020.37371

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16. Vlaeyen JWS, Maher CG, Wiech K e col: Low back pain. Nat Rev Dis Primers. 2018, doi: 10.1038/s41572-
018-0052-1
17. Batista AAS, Henschke N, Oliveira VC. Prevalence of low back pain in different educational levels: a Semiologia da coluna lombar
systematic review. Fisioter Mov 2017, 351–61.
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sistent course of low back pain: Results from a population-based cohort study. PLoS One. 2023 doi: Gilberto Yoshinobu Nakama
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19. Meziat Filho N, Silva G A. Disability pension from back pain among social security beneficiaries, Brazil
Revista De Saúde Pública, 2011, 494-502
20. Rodrigues-De-Souza DP, Fernández-De-Las-Peñas C, Martín-Vallejo FJ e col. Differences in pain percep-
tion, health-related quality of life, disability, mood, and sleep between Brazilian and Spanish people
with chronic non-specific low back pain. Braz J Phys Ther. 2016, 412-421.
21. Wippert PM, Puschmann AK, Driesslein D e col: Personalized treatment suggestions: The validity and
applicability of the risk-prevention-index social in low back pain exercise treatments. J Clin Med. 2020
Introdução
doi: 10.3390/jcm9041197. A lombalgia inespecífica crônica é uma dor lombar com uma
22. Brena SF, Sanders SH, Motoyama H. American and Japanese chronic low back pain patients: cross-cul- etiologia de difícil identificação e duração maior que 12 sema-
tural similarities and differences. Clin J Pain. 1990,118-24. nas, sem sinais de uma patologia grave (como síndrome da cau-
23. Chou R, Loeser JD, Owens DK e col: American Pain Society Low Back Pain Guideline Panel: Interventional
da equina, câncer ou infecção), radiculopatia, estenose lombar
therapies, surgery, and interdisciplinary rehabilitation for low back pain: an evidence-based clinical
practice guideline from the American Pain Society. Spine, 2009,1066-77. ou outra doença específica acometendo a coluna lombar (como
24. Teixeira MJ. Fisiopatologia da dor. In: Dor: manual para o clínico. Rio de Janeiro: Atheneu; 2019. a fratura ou espondilite anquilosante)8.
25. Deyo RA, Dworkin SF, Amtmann D e col: Report of the NIH task force on research standards for chronic Para a elaboração da hipótese diagnóstica da dor lombar, a
low back pain. Int J Ther Massage Bodywork. 2015 doi: 10.3822/ijtmb.v8i3.295. semiologia é realizada sequencialmente através da observação
26. Von Korff M, Miglioretti DL. A prognostic approach to defining chronic pain. Pain. 2005, 304-313.
27. Wippert PM, Puschmann AK, Driesslein D e col: Development of a risk stratification and prevention
clínica, do exame físico e da análise de exames complementares
index for stratified care in chronic low back pain. Focus: yellow flags. Pain Rep. 2017, doi: 10.1097/ (a serem solicitados, se necessário), figura 1.
PR9.0000000000000623.
28. Bilterys T, Siffain C, De Maeyer I e col: Associates of insomnia in people with chronic spinal pain: A
systematic review and meta-analysis. J Clin Med. 2021, doi: 10.3390/jcm10143175. PMID: 3430034. Observação clínica
29. Wormgoor MEA, Indahl A, Egeland J. The impact of comorbid spinal pain in depression on work parti-
cipation and clinical remission following brief or short psychotherapy. PLoS One. 2022. doi: 10.1371/
journal.pone.0273216.
30. de Souza JB, Grossmann E, Perissinotti DMN e col: Prevalence of chronic pain, treatments, percep- Exame físico
tion, and interference on life activities: Brazilian population-based survey. Pain Res Manag. 2017, doi:
10.1155/2017/4643830.

Exames complementares

Figura 1. Sequência semiológica da investigação da dor lombar

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Observação clínica No interrogatório dos diversos aparelhos, sintomas como fe-
A observação clínica envolve a identificação do paciente, bre e perda de peso não intencional auxiliam no diagnóstico de
anamnese, interrogatório dos diversos aparelhos, e anteceden- tumores e processos infecciosos.
tes pessoais e familiares2,3. Em antecedentes pessoais e familiares, o histórico de osteo-
Na identificação do paciente é importante se atentar à da- porose favorece o diagnóstico de fratura, assim como o históri-
dos como idade e profissão. Pacientes com idade avançada co de cirurgia para hérnia discal pode auxiliar no diagnóstico de
tendem a possuir patologias degenerativas ou tumorais. Pro- uma recidiva da hérnia discal ou fibrose cicatricial.
fissões com atividade física intensa possuem risco aumentado
de dor lombar.
Na anamnese obtemos informações sobre as características Exame físico
da dor como localização, tipo (pontada, queimação), irradia- O exame físico é composto pela inspeção, palpação, movi-
ção, fenômenos concomitantes, fatores de piora e melhora, mentos ativos, exame neurológico e testes especiais.
horário de aparecimento, contexto de início (associado à trau- Na inspeção podem ser observados a marcha do paciente, a
ma ou não) e duração. A dor irradiada para o membro inferior presença de cicatriz por cirurgia prévia da coluna, e alterações
sugere comprometimento radicular, geralmente acometendo no alinhamento frontal ou sagital por processos dolorosos da
o dermátomo correspondente, frequentemente associada à coluna.
déficit sensitivo ou motor. Fenômenos concomitantes como Na palpação deve se procurar por pontos dolorosos nos pro-
disfunção vesical e intestinal necessitam de investigação ime- cessos espinhosos e na musculatura. Em pacientes com síndro-
diata para exclusão da síndrome da cauda equina. Pacientes me miofascial, a palpação de um ponto-gatilho localizado em
com dor da articulação zigapofisária (articulação entre faceta uma banda muscular tensa causa dor referida.
articular superior e inferior de vértebras adjacentes) podem Através dos movimentos ativos do paciente observa se a fle-
apresentar piora da dor com a extensão da coluna lombar e xão, extensão, inclinação lateral e rotação da coluna lombar.
melhora da dor ao se sentar em assentos firmes, enquanto No exame neurológico faz se a avaliação da sensibilidade, da
que a dor indiferente aos movimentos pode estar relaciona- motricidade e dos reflexos.
da à patologias viscerais (cálculo renal, aneurisma de aorta). A Testes especiais são realizados para investigar dores de ori-
dor noturna que não cede deve ser investigada por exemplo gem radicular ou sacroilíaca. Na dor de origem radicular, um
para tumores e infecção. Pacientes com quadro clínico atípi- dos testes realizados é o Teste de elevação do membro inferior
co ou dramatização da dor devem ser investigados para dor que reproduz os sintomas relatados pelo paciente ao se ele-
psicossomática. Também devemos arguir sobre fatores que var passivamente o membro inferior com extensão do joelho
podem contribuir para o desencadeamento e cronificação da em uma angulação de 35 a 70 graus de flexão do quadril com
dor como hábitos posturais, tabagismo, atividade física, hu- o paciente na posição supina (Figura 2). No teste de Patrick ou
mor (ansiedade/depressão), qualidade do sono e questões FABERE provoca se a dor na sacroilíaca, com o paciente na po-
laborais. sição supina, através de uma pressão na crista ilíaca ipsilateral

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à sacroilíaca a ser testada, simultaneamente à uma pressão
no membro inferior contralateral que se encontra com flexão
dos joelhos e quadril, abdução e rotação externa do quadril,
de modo que o pé contralateral se encontra apoiado sobre o
joelho ipsilateral (Figura 3).

Figura 2. Teste de elevação do membro inferior Figura 3. Teste de Patrick ou FABERE EXAMES COMPLEMENTARES

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A maioria das diretrizes internacionais recomenda que exa-
Red flag Patologia
mes complementares como ressonância magnética ou tomo-
grafia computadorizada sejam indicados para pacientes que Parestesia em sela
Síndrome da cauda equina ou
apresentam red flags, ou quando há consideração de um pro- lesão medular
cedimento invasivo, ou quando o exame complementar pode Síndrome da cauda equina ou
resultar em uma mudança de tratamento. A maioria das dire- Distúrbio neurológico progressivo
lesão medular
trizes internacionais não recomenda exames de imagem de ro-
Síndrome da cauda equina ou
tina, pois a dissociação clínico-radiológica é frequente e pode Disfunção esfincteriana
lesão medular
levar a diagnósticos incorretos, tratamentos desnecessários e
cronificação da dor8. Histórico de câncer Câncer
A eletroneuromiografia não é um exame de rotina a ser utili- Perda ponderal sem motivo aparente Câncer ou infecção
zado, e está bem indicado em pacientes com sinais e sintomas
Dor > 1 mês, mesmo com
neurológicos em um membro sem um estudo de imagem que Câncer
tratamento adequado
justifique o quadro do paciente9.
Dor que não cede com repouso Câncer ou infecção
Tabagismo Câncer
Processo de elaboração da hipótese diagnóstica
Idade > 50 anos Câncer e/ou fratura
Durante a avaliação do paciente com dor lombar, é impor-
tante investigar sinais de alarme (red flags) que podem identifi- História de trauma Fratura
car patologias graves que necessitam de tratamento específico
Osteoporose ou osteopenia Fratura
com brevidade, como infecção, câncer, fratura, síndrome da
cauda equina ou lesão medular (Tabela 1)2,4,6. Uso sistêmico de esteróides Fratura ou infecção
Assim que patologias identificáveis pelos red flags são afasta-
Febre Infecção ou câncer
das, devemos excluir patologias específicas como a espondilite
anquilosante ou patologias que potencialmente podem neces- Imunossupressão Infecção
sitar de intervenção cirúrgica como radiculopatia, hérnia discal Exposição à tuberculose Infecção
lombar sintomática ou estenose lombar (Tabela 2)5,7,10.
A espondilite anquilosante é uma doença inflamatória que Uso intravascular de drogas ilícitas Infecção
comumente acomete pacientes jovens e se apresenta como Diabetes Mellitus Infecção
lombalgia crônica associada à rigidez matinal. Além de exames
Histórico de infecção (ex: HIV,
de imagem, testes sanguíneos como a detecção do antígeno Infecção
infecção do trato urinário)
leucocitário humano B27 (HLA-B27) podem ajudar no diagnós-
tico desta patologia. Tabela 1. Patologias associadas aos red flags na lombalgia.

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A radiculopatia é uma afecção nervosa tipicamente unilate-
Sintomas e Exames de Outros
Etiologia ral, comumente causada por uma compressão por herniação
exame físico imagem exames
discal, ou estreitamento foraminal degenerativo, mas também
Sintomas e pode ser causada por infecção, inflamação ou tumor, podendo
Tomografia com-
sinais neurológi- se manifestar como dor neuropática irradiada, alterações de
putadorizada
cos progressi- Eletroneuromio-
Radiculopatia ou ressonância sensibilidade, reflexo e motricidade9.
vos, incluindo grafia
nuclear mag- A dor do paciente com estenose lombar possui uma apre-
dor neuropática
nética sentação insidiosa. Comumente apresentam dor lombar difusa
irradiada
associada à adormecimento das pernas que ocorre após mar-
Lombalgia com cha na posição ereta ou extensão da coluna lombar, sendo que
dor em membro
inferior na área
estes sintomas melhoram em repouso, na posição sentada e
Tomografia com- com a flexão da coluna lombar após 5 a 20 minutos. Estes sin-
correspondente
Hérnia discal putadorizada
à raiz nervosa. Eletroneuromio- tomas de claudicação neurogênica, são diferenciados dos sin-
lombar sinto- ou ressonância
Teste de eleva- grafi a tomas da claudicação vascular que também se manifestam na
mática nuclear mag-
ção do membro deambulação, costumam estar associados com cãibra e dor na
nética
inferior.
Dor radicular por panturrilha, mas melhoram na posição ereta após 1 a 3 minutos
mais de 1 mês de interrupção da marcha2,7.
A lombalgia inespecífica é um sintoma que não somos capa-
Paciente zes identificar a etiologia de um modo confiável, porém a causa
idoso, que pode
Tomografia com- pode vir do disco intervertebral, articulação facetária, articula-
apresentar dor
putadorizada ção sacroilíaca e de partes moles (Tabela 3)1,7,8.
à extensão da
Estenose lombar ou ressonância
coluna lombar A dor discogênica é uma dor causada por uma lesão interna
nuclear mag-
e alívio com do disco vertebral sem herniação. Na histologia desta lesão é
nética
a flexão e ao possível encontrar a formação de um tecido de granulação vas-
sentar
cularizado com extensa inervação.
Paciente jovem, A dor da articulação zigapofisária (dor facetária, síndrome fa-
rigidez matinal, Radiografia ou cetária) provém da articulação formada pelas facetas dos pro-
Espondilite HLA-B27, VHS,
melhora com tomografia com- cessos articulares superior e inferior das vértebras adjacentes. A
anquilosante PCR
atividade física, putadorizada
dor desta articulação pode ser decorrente de lesões repetitivas e
e dor noturna
degeneração articular. Pacientes com artrose facetária apresen-
Tabela 2. Diagnóstico diferencial da lombalgia não específica. tam uma dor que pode piorar com a extensão da coluna lombar.
Antígeno leucocitário humano B27 (HLA-B27), velocidade de hemossedimentação das A dor da articulação sacroilíaca pode ser causada por dege-
hemácias (VHS), proteína C reativa (PCR) neração articular, doença inflamatória e infecção.

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Referências bibliográficas
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Ressonância nuclear ES, Puertas EB, Landin E, Egypto EJP, Appel F, Dantas FLR, Façanha FO FAM, Furtado GE, eameiro FO GS,
Dificuldade para per-
Disco vertebral magnética ou disco- eecin HA, Defino HL, earrete Jr. H, Natour J, Marques Neto JF, Amaral FO Je, Provenza JR, Vasconcelos JTS,
manecer sentado
grafia Amaral LLF, Vialle LRG, Masini M, Taricco MA, Brotto MWI, Daniel MM, Sposito M, Morais OJS, Botelho
RV, Xavier RM, Radominski se, Daher S, Lianza S, Amaral SR, Antonio SF, Barros FO TE, Viana U, Vieira
VP, Ferreira WHR, Stump XMG. Diagnóstico e Tratamento das Lombalgias e Lombociatalgias. Rev Bras
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and Conservative Treatment. J Clin Med. 2023 Feb 20;12(4):1685. doi: 10.3390/jcm12041685. PMID:
36836220; PMCID: PMC9964474.
Tabela 3. Possíveis origens da dor lombar não específica
9. Tamarkin RG, Isaacson AC. Electrodiagnostic Evaluation Of Lumbosacral Radiculopathy. [Updated 2022
Sep 26]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK563224/
As dores derivadas de partes moles como ligamentos e mús- 10. Zylbersztejn, Sérgio; Spinelli, Leandro de Freitas; Rodrigues, Nilson Rodinei; Werlang, Pablo Mariotti;
culos podem ser decorrentes de desequilíbrio muscular, fra- Kisaki, Yorito; Rios, Aldemar Roberto Mieres; Bello, Cesar Dall Estenose degenerativa da coluna lombar
queza muscular ou contratura muscular. Rev. bras. ortop. 47 (3) - 2012 https://doi.org/10.1590/S0102-36162012000300002
Em resumo, para o diagnóstico e tratamento adequado da
lombalgia crônica, é essencial que o médico realize uma anam-
nese completa, um exame físico detalhado e, se necessário,
exames complementares. Isso pode ajudar a identificar a cau-
sa da dor lombar e orientar o tratamento mais adequado para
cada paciente.

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Tratamento clínico
Tomás Mosaner de Souza Moraes

Introdução
O manejo da dor lombar varia de paciente para paciente, pois
nem todos as pessoas respondem à mesma abordagem de
tratamento e, geralmente, nenhuma intervenção única é com-
pletamente eficaz para todos os pacientes. A dor, de qualquer
natureza, é constituída pelo componente físico, psíquico, social
e espiritual. Desta forma, os cuidados utilizados incluem trata-
mentos farmacológicos, psicológicos, físicos e de reabilitação,
bem como abordagens de medicina complementar e procedi-
mentos percutâneos minimamente invasivos1.
O cuidado dos pacientes crônicos envolve a elucidação diag-
nóstica, afastando o comprometimento das estruturas ósseas,
articulares, nervosas e ligamentares locais, bem como as pato-
logias sistêmicas que comprometem o segmento lombar.
É fundamental que o médico não reforce os sintomas de inca-
pacidade e de sofrimento do paciente. O objetivo nessa fase é a
recuperação progressiva da capacidade funcional2. Figura 1. Modelo Biopsicossocial
As diretrizes clínicas para o tratamento da dor lombar crônica
avançaram para o modelo biopsicossocial, que pode fornecer A seguir, estão listados os tratamentos possíveis e recomen-
aos médicos alguns insights sobre abordagens adicionais que dados, de acordo com a literatura.
devem ser considerados para seus pacientes (Figura 1)3,4,5. A
considerar que o fenômeno da dor lombar crônica repercute Tratamentos farmacológicos
em vários contextos do indivíduo e do ambiente, o gerencia- Os tratamentos farmacológicos são ferramentas úteis, porém
mento destes contextos pode ser mais eficaz do que focar so- devem ser considerados como adjuvantes no tratamento da
mente em reduzir a intensidade da dor. dor lombar crônica e não como abordagem principal.

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Analgésicos simples nal deve ser tomado em pacientes com risco de dependência
Em relação à dor lombar crônica o Paracetamol, nas doses de ou comportamento aberrante (história pessoal ou familiar de
até 4 g/dia é ligeiramente inferior aos AINEs para alívio da dor6. dependência, comorbidade psicológica mal controlada, história
Os benefícios do paracetamol incluem perfil de segurança fa- de abuso sexual, jovens < 45)6. Enquanto o tramadol mostrou
vorável, respeitando a dose de 4g/dia, bem como baixo custo9. analgesia limitada com melhora funcional leve para dor lombar
crônica, opioides potentes mostraram analgesia significativa e
AINEs melhora da função em 3 e 6 meses de seguimento em estudos
Os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) também são usa- randomizados10.
dos para dor lombar aguda e crônica. Tanto os AINEs não se- Em um estudo duplo cego randomizado tanto o tapentadol
letivos e seletivos para COX-2 demonstraram ser superiores ao de liberação prolongada como a oxicodona foram superiores
placebo, sem diferença clara na eficácia entre os AINEs7,8. O uso ao placebo no controle da intensidade da dor em 12 semanas
de AINEs é advertido em relação aos efeitos colaterais sistêmicos nos pacientes com lombalgia crônica, porém o tapentadol foi
renais, cardiovasculares e gastrointestinais, e recomenda-se o associado com uma menor incidência de efeitos adversos18.
uso da menor dose efetiva pelo menor tempo possível7,9.
Antidepressivos
Relaxantes musculares O uso de antidepressivos tricíclicos (ADT) tem mostrado efeitos
Os relaxantes musculares demonstraram ser eficazes para benéficos para o tratamento da dor lombar11,6,9. Os ADTs funcio-
dor lombar aguda, porém o seu papel no tratamento da dor nam exercendo analgesia principalmente por meio da inibição da
lombar crônica está incerto. Há algumas evidências que de- recaptação de serotonina e norepinefrina, bloqueio do canal de
monstram que seu uso em comparação com o controle não sódio e antagonismo de receptores NMDA6. Os efeitos colaterais
mostrou nenhum benefício para melhora da dor, incapacidade comumente exibidos incluem boca seca/prisão de ventre (ação
e aceitabilidade. Os principais efeitos colaterais associados ao anticolinérgica) e tontura/sonolência (ação anti-histamínica).
uso de relaxantes musculares são a sedação do sistema nervo- Além disso, os inibidores da recaptação de serotonina e no-
so central (SNC) e o risco de quedas6. repinefrina (IRSNs) também são utilizados no tratamento farma-
cológico da dor lombar crônica6. A eficácia foi estabelecida para
Opióides duloxetina e venlafaxina, sendo a primeira melhor tolerada6. Os
Tramadol e opióides mais potentes devem ser considerados IRSNs funcionam exercendo analgesia por meio da inibição da
criteriosamente e apenas para dor grave e incapacitante que recaptação de serotonina e norepinefrina atuando no sistema
não pode ser controlada com as opções acima mencionadas9. A inibitório descendente da dor. Os efeitos colaterais mais co-
prescrição racional desses medicamentos é de suma importân- muns incluem boca seca, náusea autolimitada, tontura, dor de
cia, devendo ser usados ​​por um período de tempo limitado com cabeça e insônia.
reavaliação frequente da eficácia analgésica, melhora da função, Por fim, o tratamento farmacológico da lombalgia inclui antie-
efeitos adversos e comportamento aberrante9. Cuidado adicio- pilépticos. Embora a gabapentina tenha demonstrado eficácia

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analgésica para lombalgia crônica com radiculopatia9, apenas o Os tratamentos físicos e de reabilitação são métodos para au-
topiramato foi estudado para lombalgia crônica axial com evi- mentar a funcionalidade e o controle da dor e podem ser utiliza-
dência de analgesia e melhora da qualidade de vida12. O topira- dos juntamente com outros métodos. A terapia por exercícios
mato tem como efeito colateral vantajoso a perda de peso, mas é definida como uma série de movimentos específicos com o
também está associado a tontura, sonolência e mais raramente objetivo de treinar o corpo para promover uma boa saúde físi-
nefrolitíase12. ca11,9. A atividade ou o exercício terapêutico não devem causar
Intervenções psicológicas têm sido estudadas para dor lom- desconforto ou dor, exceto aquele produzido pelo alongamen-
bar crônica. Tipos de tratamentos psicológicos incluem terapia to ou estiramento muscular2.
cognitivo-comportamental (TCC), relaxamento progressivo e A redução a curto prazo da intensidade da dor e da incapa-
biofeedback. A TCC é uma abordagem que tem como objetivo cidade foi demonstrada na lombalgia crônica quando compa-
combater pensamentos desadaptativos e desenvolver estraté- rada aos cuidados habituais6. Dentro desse tipo de terapia, os
gias de enfrentamento para mudar o comportamento e melho- exercícios de alongamento são os mais associados à redução
rar o humor. As evidências apontam para melhora a curto prazo da dor, enquanto o fortalecimento proporciona maiores ganhos
na intensidade da dor e incapacidade6. funcionais. Programas multidisciplinares de reabilitação funcio-
Além disso, o relaxamento progressivo consiste na técnica nal também têm sido eficazes para alívio da dor, diminuição da
de redução da tensão muscular por meio de flexão sistemática incapacidade e melhora do humor14.
e relaxamento de músculos específicos, com o objetivo de al- Há evidências científicas moderadas sugerindo que as escolas
cançar um relaxamento profundo9. Isso proporciona melhora a de coluna, quando realizadas no ambiente de trabalho, reduzem
curto prazo na dor e na função. a dor, melhoram a função e aceleram o retorno ao trabalho, tan-
Em terceiro lugar, o Biofeedback é uma abordagem de re- to no seguimento de curto como no de longo prazo2,17.
laxamento que utiliza feedback auditivo e visual da atividade Outras modalidades de fisioterapia ou reabilitação requerem
muscular para reduzir a tensão muscular. No entanto, estu- mais pesquisa e avaliação antes da implementação, pois ca-
dos mostram dados variados para redução da intensidade da recem de suporte de estudos, entre elas estão: uso de órtese
dor13. lombar para suporte, massagem, tração, aplicação superficial de
As evidências de estudos randomizados mostram que a calor ou frio e estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS).
prescrição de repouso é prejudicial para lombalgia inespecífica, A acupuntura é um tipo de intervenção que utiliza pontos
tanto aguda como crônica15,16. No entanto, se a dor for muito anatômicos específicos ao longo dos meridianos clássicos, ge-
intensa e o repouso propiciar alívio temporário da dor, é reco- ralmente com o uso de pequenas agulhas que são manipuladas
mendável permanecer na posição de semi-Fowler, deitado em ou estimuladas eletricamente para obter efeito. Meta-análise
decúbito dorsal, com os joelhos e quadris levemente fletidos2. de ensaios clínicos randomizados com foco na dor lombar crô-
O paciente deve ser orientado a evitar as posições que au- nica revelou intensidade de dor reduzida e função melhorada
mentem as pressões intradiscais lombares. Assim, os movimen- imediatamente após a intervenção em comparação com place-
tos torcionais e de flexão anterior devem ser evitados2. bo, AINEs ou relaxantes musculares6.

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Com relação ao tratamento osteopático ou quiroprático, que Referências bibliográficas:
consiste em manipulação da coluna vertebral com o objetivo de 1. Urits, Ivan, et al. “Low back pain, a comprehensive review: pathophysiology, diagnosis, and treatment.”
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plitude de movimento, uma meta-análise demonstrou que sua
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eficácia é igual aos cuidados do clínico geral, analgésicos, fisio- 3. Tagliaferri, Scott D., et al. “Domains of chronic low back pain and assessing treatment effectiveness: a
terapia e terapia de exercícios6. Por fim, a melhora da qualidade clinical perspective.” Pain Practice 20.2 (2020): 211-225.
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ser orientado em relação à higiene do sono. Com relação ao mechanisms. Curr Pain Headache Rep. 2017;21:28.
5. Hashmi JA, Baliki MN, Huang L, et al. Shape shifting pain: chronification of back pain shifts brain repre-
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ao colchão firme9. of low back pain.
Concluindo, o principal objetivo do tratamento da lombalgia 7. van Tulder M, Becker A, Bekkering T, Breen A, Gil del Real MT, Hutchinson A, et al. Chapter 3 Euro-
pean guidelines for the man- agement of acute nonspecific low back pain in primary care. Eur Spine
crônica é o retorno ao trabalho e às atividades usuais. A abor-
J. 2006;15:s169–91.
dagem multidisciplinar e multisegmentar com a associação das 8. Slipman CW, Jackson HB, Lipetz JS, Chan KT, Lenrow D, Vresilovic EJ. Sacroiliac joint pain referral zones.
diversas opções terapêuticas para promover o alívio sintomáti- Arch Phys Med Rehabil. 2000;81:334–8.
co da dor podem facilitar esse processo2. 9. Chou R, Qaseem A, Snow V, Casey D, Cross JT, Shekelle P, et al. Diagnosis and treatment of low back
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Society. Ann Intern Med, American College of Physicians. 2007;147:478
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18. Robert Buynak, Douglas Y Shapiro, Akiko Okamoto, Ilse Van Hove, Christine Rauschkolb, Achim Steup,
Bernd Lange, Claudia Lange & Mila Etropolski (2010) Efficacy and safety of tapentadol extended relea-
se for the management of chronic low back pain: results of a prospective, randomized, double-blind, Tratamento cirúrgico:
abordagens terapêuticas
placebo- and active-controlled Phase III study, Expert Opinion on Pharmacotherapy,11:11, 1787-1804,
DOI: 10.1517/14656566.2010.497720

avançadas para lombalgia


crônica
Thiago Setti

Introdução
A lombalgia crônica, caracterizada por dor persistente na re-
gião lombar, é uma das principais causas de incapacidade em
todo o mundo. Embora a maioria dos casos de lombalgia possa
ser tratada com terapias conservadoras, como medicamentos
e fisioterapia, alguns pacientes não obtêm alívio adequado e
podem necessitar de abordagens terapêuticas avançadas. Este
capítulo aborda técnicas de intervenção em dor, medicina rege-
nerativa e tratamento cirúrgico da lombalgia crônica1.

Técnicas de Intervenção em Dor


Antes de considerar a cirurgia, pode ser benéfico explorar
técnicas de intervenção em dor. Estas técnicas têm como ob-
jetivo controlar a dor e melhorar a funcionalidade do paciente.
Algumas das técnicas de intervenção em dor incluem2:

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1. Injeções epidurais de corticosteroides: a injeção de corticos- mover a cura e a regeneração de ligamentos, tendões e ar-
teroides no espaço epidural pode reduzir a inflamação e ali- ticulações.
viar a dor causada pela compressão das raízes nervosas.
2. Bloqueios de nervos facetários: a injeção de anestésicos lo-
Indicações para tratamento cirúrgico4
cais e corticosteroides nas articulações facetárias pode aju-
1. A cirurgia deve ser considerada quando O paciente apre-
dar a aliviar a dor causada por artrite facetária ou outras con-
senta dor lombar refratária às terapias conservadoras, in-
dições.
tervenção em dor e medicina regenerativa por pelo menos
3. Radiofrequência ablativa: a aplicação de energia de radiofre-
seis meses.
quência para aquecer e destruir tecido nervoso específico
2. Existe evidência radiológica de anormalidades estruturais
pode interromper a transmissão de sinais de dor.
causadoras de dor, como hérnia de disco, estenose espinhal
4. Estimulação da medula espinhal: a implantação de um dispo-
ou espondilolistese.
sitivo que emite impulsos elétricos leves na medula espinhal
3. A dor é claramente localizada e pode ser atribuída a uma es-
pode ajudar a bloquear a percepção da dor.
trutura específica.
4. A incapacidade funcional é significativa, e a qualidade de vida
do paciente é seriamente comprometida.
Técnicas de Medicina Regenerativa
A medicina regenerativa visa tratar as causas subjacentes da
lombalgia crônica, promovendo a cura e a regeneração de teci- Procedimentos cirúrgicos
dos danificados. Algumas das técnicas de medicina regenerati- Existem várias opções cirúrgicas para o tratamento da lom-
va incluem3: balgia crônica, dependendo da causa subjacente. Algumas das
1. Terapia com células-tronco: a injeção de células-tronco me- opções mais comuns incluem5:
senquimais, obtidas do tecido adiposo do paciente ou da 1. Discectomia: remoção parcial ou total de um disco interverte-
medula óssea, pode ter efeitos anti-inflamatórios, imunomo- bral herniado ou degenerado, para aliviar a pressão sobre as
duladores e regenerativos, contribuindo para a reparação de raízes nervosas adjacentes.
tecidos danificados na coluna vertebral. 2. Laminectomia: remoção da lâmina de uma ou mais vértebras
2. Plasma rico em plaquetas (PRP): a injeção de uma concen- para alargar o canal espinhal e aliviar a compressão das raí-
tração de plaquetas do próprio paciente, obtida a partir do zes nervosas.
sangue, pode promover a cicatrização e a regeneração de te- 3. Foraminotomia: alargamento do forame intervertebral para
cidos, graças às proteínas e fatores de crescimento presentes liberar a pressão sobre as raízes nervosas.
nas plaquetas. 4. Artrodese (fusão espinhal): imobilização de duas ou mais vér-
3. Terapia de proloterapia: a injeção de uma solução irritante tebras adjacentes através de enxertos ósseos e dispositivos
(geralmente uma solução de dextrose) nos tecidos danifica- de fixação, como parafusos e hastes, para estabilizar a coluna
dos pode estimular a resposta inflamatória do corpo e pro- e reduzir a dor.

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Técnicas cirúrgicas uma intervenção mais invasiva. No entanto, em casos refratá-
A escolha da técnica cirúrgica dependerá da causa subjacen- rios a essas abordagens, a cirurgia pode ser a melhor opção
te da lombalgia, bem como da experiência e preferência do ci- para tratar a lombalgia crônica e melhorar a qualidade de vida
rurgião. As técnicas incluem6: do paciente.
1. Cirurgia aberta: abordagem tradicional que envolve a exposi- A escolha do procedimento e da técnica cirúrgica dependerá
ção direta da coluna vertebral através de uma incisão maior da causa subjacente da lombalgia, bem como da avaliação e
na pele e músculos. experiência do cirurgião. O tratamento cirúrgico deve ser cuida-
2. Cirurgia minimamente invasiva: abordagem que utiliza inci- dosamente planejado e adaptado às necessidades individuais
sões menores e técnicas especiais, como endoscopia ou mi- do paciente.
crodiscectomia, para minimizar danos aos tecidos circundan- Os cuidados pós-operatórios, incluindo a fisioterapia e a rea-
tes e acelerar a recuperação. bilitação, são fundamentais para garantir a recuperação bem-
3. Cirurgia assistida por robótica: uma abordagem em que o -sucedida do paciente e a restauração da função e mobilidade
cirurgião utiliza um sistema robótico para realizar o procedi- da coluna vertebral. A adesão do paciente ao programa de rea-
mento com maior precisão e controle. bilitação e a cooperação com a equipe médica são essenciais
para alcançar os melhores resultados possíveis8.
Em última análise, o objetivo do tratamento é reduzir a dor,
Cuidados pós-operatórios
melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida do paciente
Após a cirurgia, os pacientes geralmente são monitorados no
e, sempre que possível, evitar a necessidade de intervenções
hospital por um curto período de tempo para garantir que não
cirúrgicas mais invasivas. Ao considerar todas as opções tera-
ocorram complicações e para controlar a dor. A fisioterapia e a
pêuticas disponíveis e trabalhar em conjunto com o paciente e
reabilitação são componentes essenciais do cuidado pós-ope-
a equipe multidisciplinar de profissionais de saúde, os médicos
ratório, visando restaurar a função e a mobilidade da coluna
podem desenvolver um plano de tratamento abrangente e efi-
vertebral. Os pacientes devem seguir as instruções do médico e
caz para abordar a lombalgia crônica.
do fisioterapeuta e participar ativamente do programa de reabi-
litação para maximizar os resultados cirúrgicos7.

Conclusão Referências bibliográficas


O manejo da lombalgia crônica requer uma abordagem multi- 1. Hartvigsen, J., Hancock, M. J., Kongsted, A., Louw, Q., Ferreira, M. L., Genevay, S., ... & Koes, B. W.
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E D ITORA

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