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AVALIAÇÃO DA DOR EM IDOSOS

Fania Cristina dos Santos


Polianna Mara R. Souza

Dezembro/2009
Atualizada em Fevereiro/2013

3 Comissão de Educação Continuada www.sbgg.org.br


Santos FC
Autoras
Fania Cristina Santos
– Médica especialista em Geriatria e Gerontologia pela SBGG/AMB
– Certificada na “área de atuação DOR” pela SBED/AMB
– Mestre e Doutora em Medicina Interna e Terapêutica pela Universidade Federal
de São Paulo
– Assistente e Pesquisadora da Disciplina de Geriatria da Universidade Federal de
São Paulo. Chefe do serviço de Dor e Dças Osteoarticulares da mesma disciplina
– Coordenadora do Comitê de Dor em Idosos da Soc Br para o Estudo da Dor - SBED

Souza PMR
Polianna Mara R Souza
– Médica Especialista em Geriatria pela Universidade Federal de São Paulo
– Especialização em Cuidados Paliativos pela Asociacion Pallium Latinoamerica, com
certificação de Oxford International Center for Palliative Care
– Assistente do Serviço de Dor e dças Osteoarticulares da Disciplina de Geriatria e
Gerontologia da UNIFESP
– Subcoordenadora do Comitê de Dor no Idoso da Sociedade Brasileira para o
Estudo da Dor - SBED
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Avaliação da dor em Idosos
• Objetivos:

– Compreender a dor que ocorre no indivíduo idoso


– Evidenciar as peculiariedades da dor na população
idosa
– Métodos de avaliação da dor no idoso que
consegue se comunicar e naquele com inabilidade
de comunicação.

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Roteiro
• Conceitos
• Avaliação da dor em idosos
• Uso de instrumentos para a mensuração da
dor em idosos

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Dor é uma sensação ou experiência emocional
desagradável, associada com dano tecidual
real ou potencial.

International Association for the Study of Pain (IASP)

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DOR
5° Sinal Vital
(respiração, pulso, pressão arterial, temperatura e dor)
IASP-WHO (2005)

Todos os sistemas de saúde devem reconhecer a Dor como “5º


Sinal Vital” para garantir a monitorização regular, e indicar a
necessidade de avaliação e tratamento subjacente adequados
(IASP)

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Dor
“Dor é sempre o que o paciente diz ser e existe sempre que
o paciente diz existir”
(McCaferry, 1968)

A dor é subjetiva, mas não é abstrata. Ela é sentida por


alguém e este alguém precisa ser compreendido e
respeitado na sua realidade e totalidade, para que esta dor
possa ser verdadeiramente tratada.
(Carvalho, 1999)

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ENVELHECIMENTO E DOR

- Grande prevalência da dor com o envelhecimento:

• 25-50% dos idosos da comunidade.


(Ferrel BA, JAGS 39:64-73, 1991)

• 49-83% dos idosos institucionalizados.


(Brody & Kleban, 1983 e Sengstaken & King, 1993)

- Mulheres relatam articulações dolorosas mais frequentemente


do que homens (10% versus 7%).

- Idosos tem menor sensibilidade a estímulos dolorosos, assim, é


provável que quando estes se queixam de dor a intensidade da
mesma seja efetivamente muito alta.
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DOR E AS ALTERAÇÕES RELACIONADAS À IDADE:
-Redução nº e função de neurônio nociceptivo periférico;
-Receptor de dor: redução de 50% de corpúsculos de Pacini e de
10-30% dos discos de Meissner/Merkle;
-Diminuição de endorfinas;
-Alteração de fibra mielinizada: diminuição de densidade,
aumento de fibra anormal/degenerada e velocidade de condução
mais lenta;
-Alteração de fibra amielínica: diminuição nº de fibra grande (1,2-
1,6mm) e nenhuma alteração de pequena fibra (0,4mm) e
diminuição no conteúdo de substância P;
-Perda neuronal no corno dorsal (alteração na “inibição” com
hiperalgesia). Perda neuronal cortical, mesencéfalo e tronco
cerebral. Alteração na resposta à evocação. Diminuições de Ach,
gaba e serotonina. Alterações em opioides endógenos.

(Geriatric medicine: An evidence based approach 4th edition 2003)


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DOR NO IDOSO

-Dor crônica associa-se a importantes complicações no idoso:


depressão, ansiedade, isolamento social, distúrbios do sono,
comprometimento cognitivo e comportamental, incapacidade
funcional e diminuição da qualidade de vida, levando a
dependência funcional e a um maior gasto com serviços de
saúde.

-E dentre as muitas condições comuns nos idosos que podem ser


pioradas pela presença e pelo tratamento inadequado da dor
estão o descondicionamento físico, alterações da marcha,
processo de reabilitação lento, polifarmácia, disfunção cognitiva
e desnutrição.
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Dor
Dor Opióides
Analgesicos ação central
AINEs

Vias
ascendentes Via desc.
inibitória
Anestésicos locais
Opioides Adaptado de Gottschalk A, Smith
CPME
DS. Am Fam Physician.
2001;63:1979-84 .
Gânglio da
raiz dorsal
Trato
espinotalamico
Anestésicos locais

Nervo Nociceptor
periférico Anestésicos locais

Lesão AINEs

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Abordagem da Dor no Idoso

Deve-se avaliar e mensurar a dor para:

• Compreensão do fenômeno doloroso


• Implementação da terapêutica adequada
• Verificação da eficácia da terapêutica

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Abordagem da dor no idoso

 Necessários:

- Histórico da dor
- Exame físico
- Mensuração da dor: abordagem multidimensional
- Exames subsidiários (ou não)

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Abordagem da Dor no Idoso

 Para se chegar:

- Classificação da dor
- Tipo
- Etiologia

 E orientar o tratamento.

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Classificação da Dor
• Aguda: fisiológica
Atividade de nociceptor 
Frequentemente limitada (duração > 30 dias) e frequentemente
com sinais de ativação do sistema nervoso autônomo.

• Crônica: patológica
Duração maior que 3-6 meses. Existe uma sensibilização do
sistema nociceptivo traduzida por:
 redução do limiar da dor (alodinia)
 amplificação da resposta ao estímulo nocivo (hiperalgesia)
 dor aumentada a estímulos repetitivos sublimiares (hiperpatia).
Alteração nos terminais nervosos  disparos com mínimos estímulos 
hiperexcitabilidade medular com “desinibição”  aumento da sensibilidade
dolorosa.
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Tipos de Dor

Com base no mecanismo fisiopatogênico:

• NOCICEPTIVA- somática / visceral


• NEUROPÁTICA- central / periférica
• PSICOGÊNICA
• MISTA
• “ONCOLÓGICA”

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Etiologia

Várias são as origens da dor:

- Afecções osteoarticulares degenerativas (as mais


prevalentes) e inflamatórias, lesões musculares,
lesões ósseas, afecções metabólicas, doenças
cerebrais, doenças dos nervos periféricos, vasculares,
tóxicas, tumorais, infecciosas e outras.

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Avaliação/Mensuração da Dor no Idoso

Análises dos componentes/dimensões da dor:

*Sensorial - refere-se à intensidade/ qualidade/


localização...
*Afetivo - refere-se às sensações (ex. ansiedade)
*Cognitivo - refere-se à interpretação (ex. castigo)
*Comportamental - comportamento observado
(isolamento...)
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Mensuração da Dor no Idoso

• Instrumentos:

- Linguagem universal / não são objetivos


- Unidimensionais e multidimensionais

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• Instrumentos unidimensionais: intensidade
-Descrição verbal e Numérica verbal: MELHORES PARA O IDOSO
-Escala númerica visual/ Escala de faces do adulto/ Escala visual-
analógica (mais utilizadas nas pesquisas)/ Escala de copos/
Termômetro da dor...

• Instrumentos multidimensionais: qualidade, além de


intensidade
-Questionário de Dor no Idoso (GPM): adaptada para o Brasil e fácil.
-PACSLAC (déficit cognitivo): adaptada para o Brasil e fácil aplicação.
-Questionário de McGill: validada no Brasil e de maior dificuldade
para utilização junto ao idoso.
-Diário de Dor
-DOLOPLUS e PAINAD (não validadas no Brasil).
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Mensuração da Dor no Idoso

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GPM (Geriatric pain measure)

Rev Bras Med 2009,66(3):62-5

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Avaliação da Dor no Idoso
• DEMENCIADO:
- Dor não tratada ou tratada inadequadamente
- Dor é subestimada

CUIDADORES: sempre devem ser questionados

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Dor em Idosos Demenciados

• Checklist de Avaliação de Dor em Idosos com


Habilidade Limitada para a Comunicação-Português
(PACSLAC-P)

Pontuação da Sub-escala Expressões Faciais:


- Atividade/ Movimento corporal:
- Social/Personalidade/Humor:
- Outros (mudanças psicológicas, mudanças em comer e dormir,
e comportamento vocal):
Pontuação Total do Checklist (somar os totais das 4 Sub-escalas)
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PACSLAC
Expressões Faciais Atividade / Movimento corporal Social/Personalidade/Humor
Caretas Atividade diminuída Frustrado
Olhar triste Recusando medicações Outros *
Cara amarrada Movendo-se lentamente Pálido
Olhar de reprovação Comportamento impulsivo (ex. movimentos repetitivos) Ruborizado
Mudança nos olhos (olhos meio Não cooperativo/ Resistente a cuidados Olhos lacrimejantes
fechados; olhar sem vida;brilhantes;
movimentos dos olhos aumentados)
Carrancudo Protegendo área dolorosa Suando
Expressão de dor Tocando/ segurando área dolorosa Sacudindo/ Tremendo
Cara de bravo Mancando Frio e Pegajoso
Dentes cerrados Punhos cerrados Mudanças no sono (favor circular)
Estremecimento Ficar na posição fetal Sono diminuído
Boca aberta Duro/ rígido Sono aumentado durante o dia
Enrrugando a testa Social/Personalidade/ Humor Mudanças no apetite (favor circular)
Torcendo o nariz Agressão física (ex. empurrando pessoas e/ou objetos, Apetite diminuído
arranhando outros, batendo,atacando, chutando)
Atividade / Movimento Agressão verbal Apetite aumentado
corporal
Irrequieto Não querendo ser tocado Gritando/ berrando
Afastando-se Não permitindo pessoas perto Chamando (ex. Por ajuda)
Hesitante Zangado/ furioso Chorando
Impaciente Atirando coisas Um som ou vocalização específico
Andando de lá pra cá Aumento da confusão mental Para dor “ai/ ui”
Perambulando Ansioso Gemendo e suspirando
Tentando ir embora Preocupado/ Tenso Murmurando
Recusando-se a se mover Agitado Resmungando
Movendo-se violentamente Mal humorado/ Irritado

Rev Bras Med 2011;68(4):129-33


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Pontos Relevantes
• A abordagem da dor no idoso exige correta
identificação e compreensão da dor.
• Em idosos recomenda-se o uso de instrumentos
específicos para melhor definição de intensidade,
qualidade e classificação da dor, o que auxiliará a
instituição de tratamento adequado.
• Em demenciados a dor costuma ser negligenciada.
Um instrumento para sua pronta identificação
permite estabelecer diagnóstico e instituir
terapêutica adequada e, assim, promover qualidade
de vida para o idoso e seu cuidador.
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Referências Bibliográficas
• Carvalho MMMJ. Dor: um estudo multidisciplinar. São Paulo: Summus, 1999. 340 .
• Fuchs-Lacelle, S.& Hadjistavropoulos, T. A checklist for pain assessment in LTC. PACSLAC: Pain
Assessment Checklist for Seniors with Limited Ability toCommunicate. Canadian Nursing
Home, 2005, 16(4), 4-7.
• Gambaro R, Santos FC, Thé KB, Castro LA, Cendoroglo MS .Avaliação de dor no idoso:
proposta de adaptação do Geriatric Pain Measure para a língua portuguesa. Rev Bras
Med.2009,66(3):62-5
• Gottschalk A, Smith DS. New concepts in acute pain therapy: preemptive analgesia. Am Fam
Physician. 2001;63:1979-84
• International Association for the study of Pain, 2005: http://www.iasp-
pain.org/AM/Template.cfm?Section=Pain_Treatment_Facilities
• McCaffery, M. Beebe, A. Perspectives on pain: history, current status, and developing the
nurse´s role. In: Pain: Clinical manual for nursing practice. St. Louis: Mosby, 1989.
• Royal College of Physicians, British Geriatrics Society and British Pain Society. The assessment
of pain in older people: national guidelines. Concise guidance to good practice series, No 8.
London: RCP, 2007
• Stolee P, Hillier L, Esbaugh J et al. Instruments for the assessment of pain in older persons
with cognitive impairment. J Am Geriatr Soc 2005;53:319–26.

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Bibliografia Recomendada para Estudo
• - Pain in the Elderly - Task Force on Pain in the
Elderly, 1996 (IASP).

• - Força tarefa na dor em idosos, 2011. Fania C


Santos & Polianna M R Souza.

• - Força tarefa na dor óssea em idosos, 2012.


Fania C Santos.
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