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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distancia

Temática mais recorrente na literatura Cabo – Verdiana

Nome completo: Docente : Gerónimo Chauque

Sidónia Eugénio Guila

Código Nr: 708190370

Licenciatura em ensino de português

Literaturas Africanas em Língua Portuguesa I

3ᵒ Ano

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Mapato, Agosto de 2021

Universidade Católica de Moçambique


Instituto de Educação à Distancia

Nome completo: Docente: Gerónimo Chauque

Sidónia Eugénio Guila

Código nr: 708190370

Trabalho a ser apresentado a instituição


de ensino a distancia, centro de recurso
de Maputo, no curso de licenciatura em
ensino de português na cadeira de
LALPI, 3 ano.

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Maputo, Agosto de 2021

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Índice
1 Introdução.....................................................................................................................................4

2.0 Revisão do conceito de literatura...............................................................................................5

Contexto histórico............................................................................................................................6

Características da literatura cabo verdiana......................................................................................6

Antes da independência...................................................................................................................7

Depois da independência.................................................................................................................8

Outros temas mais abordados pelos Cabo verdinhos depois de independência..............................9

A Seca - Baltasar Lopes...................................................................................................................9

O Rapaz Doente - Gabriel Mariano...............................................................................................10

Insularidade....................................................................................................................................10

6 Conclusão...................................................................................................................................12

Bibliografia....................................................................................................................................13

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1 Introdução
A história das literaturas africanas de língua portuguesa é de memórias, nostalgias e saudades. A
peculiaridade de sua estética está intrinsecamente relacionada à história e à cultura do seu povo.
Ao se estudar estas literaturas faz-se necessário tentar perceber no texto toda a sociedade que o
gerou.
O presente trabalho surge no âmbito das actividades curriculares do modulo de Literaturas
africanas em português, enquadrado na licenciatura de português e tem como objectivo analisar a
literatura cabo verdiana tendo em conta a temática mais usado pelos escritores cabo verdianos
em diferentes períodos da sua literatura, o rumo da literatura depois da independência e também
a abordagem sobre a insularidade, fome, seca e emigração.
A literatura tem uma importância imensurável na formação dos cidadãos pensantes pois ela
norteia muito os seus leitores a tomarem decisões em sociedade, abrindo leques para a mente
humana, que precisa de alguma forma do embasamento de um suporte, para construir seus
próprios ideais.
Para o levantamento bibliográfico, foram consultados materiais publicados em livros, manuais,
dissertações e web sites. A base de dados mais utilizada foi o Google, utilizando-se a palavras
chave: literatura cabo Veridiana. O material foi seleccionado de acordo com a relação destes
artigos com o tema e foi analisado segundo a interpretação dos mesmos, ou seja, depois de
recolhidos os dados, deve-se passar para a interpretação dos dados, que devem ser analisados,
controlados e classificados de acordo com a análise do trabalho estatístico e na interpretação.
(Ciribelli, 2003).
Contudo, o trabalho obedece a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão.Na
introdução está patente a ideia inicial em relação ao trabalho desde o tema a ser desenvolvido, os
objectivos por serem alcançados aquando da produção do trabalho, as metodologias e ainda a sua
estrutura. No desenvolvimento é feito relato minucioso do conteúdo que norteia o trabalho e por
fim a Conclusão com a ideia final e os ganhos em relação ao trabalho realizado. Incluirá
igualmente pensamento racional de alguns autores com vista a trazer aspectos importantes para o
desenvolvimento do tema. O presente trabalho para uma fácil compreensão se encontra dividido

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em capítulos, títulos e subtítulos e estão postos em negrito ou itálico as partes necessárias para
uma boa percepção.

2.0 Revisão do conceito de literatura


Literatura é uma das manifestações artísticas do ser humano, ao lado da música, dança, teatro,
escultura, arquitectura de entre outras, ela representa comunicação, linguagem e criatividade,
sendo considerado a arte das palavras (Cândido, 1999 Pag. 82).

Segundo Victor Aguiar e Silva, “a literatura é uma arte que utiliza como meio de expressão a
comunicação, a linguagem verbal, uma específica categoria da criação artística, um conjunto de
textos resultantes desta actividade criadora, uma instituição do sociocultural.” , ao passo que para
Teófilo Braga “ a Literatura é a palavra escrita; quando por ela se dá expressão às emoções e
concepções subjectivas; ou se representam actos e aspectos de natureza objectivamente; torna-se
pelos recursos estilísticos a mais elevada forma da arte.” .

A literatura como arte é uma expressão social, pois reflete a ação de fatores do meio, que se
exprimem na obra em graus diversos de sublimação e que consequentemente também podem
produzir sobre os indivíduos um efeito prático, modificando a sua conduta e concepção do
mundo, ou reforçando neles o sentimento dos valores sociais.
Considerando que a arte literária é uma forma de comunicação expressiva e expressão de uma
realidade vivenciada pelo artista o que leva o escritor a manifestar esta ou aquela realidade
pressupõe uma investigação, conforme bem sugere Cândido (2000, p.20):

Dentro da definição do conceito de literatura é de realçar que este trabalho não é


exaustivo, pois, existem outras definições que também poderiam servir de suporte ao estudo e
compreensão da literatura cabo-verdiana. De qualquer modo, conseguimos encontrar um ponto
de convergência entre essas citações: a questão da importância à literatura como meio de
expressão da comunicação e, um ponto de divergência, que é a questão social como é tratada a
literatura por alguns desses teóricos.

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Contexto histórico
Cabo Verde constitui uma nação africana situada a 455 km da costa ocidental da África, na
direcção da Guiné Bissau. Nos idos do século XV funcionava como entreposto comercial para as
navegações portuguesas que iam e vinham para as Índias e para o Brasil. O arquipélago foi
povoado, portanto, por portugueses emigrantes das ilhas da Madeira e dos Açores e por escravos
trazidos da Guiné Bissau.
As nações africanas de língua portuguesa em princípio era agrafam, não possuíam escrita, mas
cultivavam uma literatura oral riquíssima.
Nesse período não houve maiores investimentos na colonização das ilhas, somente na segunda
metade do século XIX, cessado o tráfico de escravos, é que Portugal propiciou condições de
desenvolvimento para o arquipélago, com a criação de liceus, a criação de uma imprensa de
qualidade e a imposição da língua portuguesa como oficial.
Mesmo com a maioria da população não possuindo domínio da expressão escrita, a expressão
oral se incumbiu de registar as histórias de ficção que pendiam para o maravilhoso,
o fantástico e o excepcional.
Ao lado dessa narratividade lúdica ficaram os registos das histórias verdadeiras, ou as histórias
que serviam para instruir e para formar os ilhéus.
Como a convivência linguística foi bastante diversa durante séculos, o crioulo, conhecido como
o papiar dos ilhéus, já havia se consolidado como língua espontânea do povo. Outra
característica que, nas primeiras décadas do século XX se atribuiu à alma do povo cabo-verdiano
foi a morabeza, a resistência do ilhéu através de sua amoralidade ou a morosidade, que imprimiu
ritmo, musicalidade ao idioma do colonizador (LARANJEIRA, 1995). O reconhecimento destas
características como fonte de resistência se deu mais precisamente a partir do surgimento dos
grupos literários Claridade e Certeza, que buscavam uma literatura verdadeiramente cabo-
verdiana que retratasse esteticamente a questão política e social do ilhéu.

Características da literatura cabo verdiana.

Cabo Verde possui uma literatura variada, em que a cultura popular – em geral, representada
pela tradição lírica advinda das mornas, cantigas populares próprias da região –, a questão da
diáspora africana, os conflitos sociais e o tradicional embate racial entre brancos e negros não
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estão ausentes. Tudo isso pode tanto ser percebido na poesia de um Aguinaldo Fonseca, um
Arménio Vieira, um Corsino Fortes, quando na prosa engajada de um Manuel Ferreira.
Em Hora di Bai (1962), romance social de Manuel Ferreira, temas como o deslocamento
migratório ou a estiagem assinalam o vínculo de sua literatura para com o neo-realismo
português e a segunda geração modernista do Brasil, sem deixar, contudo, de apresentar uma
solução própria para as contradições presentes na sociedade cabo-verdiana.
Empregando ora o discurso indirecto, ora o discurso indireto livre, seu estilo assenta-se no
fecundo recurso da oralidade, buscando dar voz às minorias desfavorecidas e fazendo da
resistência política e social o motor de sua narrativa.

Antes da independência
Os escritores se preocupavam com conteúdos ligados à Terra Natal. Isto é, eles procuram
mostrar a vertente de cariz rural, como são os casos de muitas poesias publicadas em formas
de cantigas e dos três grandes romances (Chiquinho, Flagelados do Vento Leste e Chuva
Braba.
Pode constatar ainda, nesses romances, e não só, que os autores demonstraram de forma
nítida as condições económicas e sociais da sobrevivência do homem, Cabo-verdiano,
partindo da ausência das chuvas e das consequências nefastas das secas, das crises e das
fomes.
Um outro conteúdo retratado nesse período é a Emigração, enquanto traço emblemático da
sociedade crioula.
Para além das características apontadas nos escritos dos dois autores, encontramos
muitas outras obras de ficção Cabo-verdiana com características que marcam uma literatura
diferente das anteriores à independência: são os casos de Oju d’ Águ de Manuel Veiga,
“Mornas eram as Noites” de Dina Salústio; “Cais de Sodré té Salamanca” de Orlanda
Amarílis e “Sermas” de Tomé Varela.
Nessas obras, os autores retratam temas como a emigração como forma de demonstrar
aos leitores que a presença constante na vida das personagens das obras de ficção cabo-
verdiana, pela permanente evocação que dela fazem e pela sua inquestionável importância
para a sobrevivência dos que regressaram ou permaneceram nas ilhas.

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Depois da independência
No Pós-independência, alguns escritores deram continuidade aos conteúdos tratados no
período anterior, focando os problemas económicos e sociais do homem Cabo-verdiano, mas
a maioria procurou romper com conteúdos anteriores, dando uma nova visão à literatura
Cabo-verdiana, baseada nas críticas Sociais, lutas políticas, humor, diáspora, sentimentos
como o amor, a solidão, tristeza, ilusão etc.
Estes conteúdos estão voltados para influência do Neo-Realismo Português e sobretudo pelos
grandes ventos de mudança surgidos depois do período Pós – independentista.

Se fizermos uma leitura comparativa desse quadro centrado em dois grandes períodos, podemos
constatar que em ambos a maioria dos escritores desenvolve temáticas voltadas para a realidade
Cabo-verdiana. Seguindo a leitura e análise da obra Caboverdianamente Ensaiando do escritor
Manuel Brito Semedo, concluímos que no primeiro período, os Pré-Claridosos, exerceram uma
forte influência na sociedade literária cabo-verdiana, com a criação do Seminário de S. Nicolau,
sofrendo por sua vez a influência do Romantismo em Portugal.
No segundo momento os Pós-Claridosos, demonstram por um lado a forte influência do Neo-
Realismo português, no contexto de uma 2º Guerra Mundial e da situação interna novamente
catastrófica (fome de 47, emigração forçada para S. Tomé), onda de prisões e repressão política.
A década de 70 é marcada pela busca da consolidação dos valores identitários da nacionalidade
literária: língua cabo-verdiana, a pátria, o património cultural (linguística, musical literário, entre
outros)
Em síntese, é possível assinalar uma produção mais variada em termos de géneros e propostas de
abordagem temática no Pós-independência. Pode se afirmar que os autores que vêm marcando o
domínio literário cabo-verdiano contemporâneo, tirando partido das bases e iniciativas dos
percursores e dos caridosos, e com grande projecção na década de oitenta do século passado,
têm-se afirmado a nível nacional e internacional e de forma significativa têm dado um contributo

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para a autonomização da língua e da cultura cabo-verdianas através da literatura, assumindo-se
individualmente num espaço colectivo que é o Literário.

Outros temas mais abordados pelos Cabo verdinhos depois de independência


 Denúncia dos Flagelos sociais;
 Vida quotidiana;
 Emigração;
 Formação e evolução da sociedade Cabo-verdiana;
 Independência de Cabo Verde, e lutas políticas e sociais;
 Diáspora Cabo-verdiana;
 Realidade do homem Cabo-verdiano;
 Vida quotidiana;
 Situação político-social pós-independência;
 Política;
 Crime;
 O Realismo mágico e maravilhoso;
 Amor-malícia;
 Exploração/Emergência da personagem feminina, (prostituta, lésbica, ninfas, etc)
 O conflito e o drama do homem moderno.

A Seca - Baltasar Lopes


Dentro da proposta de releitura e análise de três narrativas cabo-verdianas, iniciamos com uma
narrativa de Baltasar Lopes, A seca que pertence ao romance Chiquinho, publicado em 1947.
Baltasar Lopes (pseudônimo: Osvaldo Alcântara), nasceu em São Nicolau, Cabo Verde e foi um
dos fundadores da revista Claridade. Chiquinho é uma narrativa da típica situação de uma família
cabo-verdiana, o pai parte para os Estados Unidos deixando para a mãe a responsabilidade de
cuidar da família, situação bastante peculiar aos povos da ilhas. A nostalgia da memória
recuperando o passado, desde a tenra idade, passando pela adolescência para chegar à vida
adulta, sempre no ritmo da chuva e da seca. Na adolescência a euforia, o contacto com o mundo
exterior, o grupo cultural, os grupos sociais operários. Na vida adulta a resistência de um mestre
escola, de um professor, nas agruras de uma ilha. É uma narrativa em primeira pessoa que

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surpreende pela ausência de diálogos, mas tão cheia de lembranças de vida e morte “Conservo
uma doce saudade dessa minha tão chegada camaradagem com os meus alunos”. “Mal sabiam
eles que amargores de velho a minha mocidade encobria” (SANTILLI, 1985).
É uma narrativa densa, quase testamentária da aridez da ilha, os homens e as pedras se
confundiam, a seca, a miséria, a doença e a morte se entrelaçam no decorrer da história para, no
final o narrador mostrar a sua falta de energia para amar, para partir como outros tinham feito.
Quem sabe essa covardia da permanência, seja uma forma de resistir ou de amor trágico pela
ilha.
Na mesma linha da tematização das agruras e dissabores que rondam a península, Gabriel
Mariano escreveu O rapaz doente (1963).

O Rapaz Doente - Gabriel Mariano

José Gabriel Lopes da Silva Mariano, também nasceu em São Nicolau, Cabo Verde e as suas
narrativas também versarão sobre a seca, a fome e a emigração, fantasmas que perseguem as
minorias desprivilegiadas. As suas narrativas foram reunidas no volume Vida e morte de João
Cabafume, onde se insere O rapaz doente.
Nesta narrativa, nos deparamos com uma dualidade social bem definida na qual uma
representante da pequena – burguesia cabo-verdiana (D. Maninha) se vê numa situação de
desconforto ao receber por encomenda um ilhéu doente, enviado por seu marido, para que ela lhe
desse tratamento e cura.

Insularidade
Um dos aspectos mais vinculados e generalizados na literatura cabo Verdiana é a insularidade.
Esta manifesta- se de varias maneiras. ela é geográfica como climática, histórica como politica,
antropológica como existencial.
No dizer da Elsa Rodrigues, ela resulta do relacionamento do sujeito, da solidão, da nostalgia que
o Ilhéu experimenta face ao isolamento e aos limites da fronteira liquida que o separar do
mundo, criando – se um espaço de angustia e de ansiedade.
No entanto, a insularidade da crioulidade extravassa o sentimento da solidão e da nostalgia
emergente do acanhado espaço geográfico das ilhas, para incorporar outros aspectos resultantes

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tanto de dialética entre imensidade do mar arquipélago e a pequenez da ilha retalhada que as
ondas.
A fome existencial do ilhéu ultrapassa os limites da estreita fronteira contornada pelo mar para se
proteger na procura do mais alem.
O visível não lhe chega ele rem a necessidade do imaginário.
Este por sua vez não sacia a sua cede. Este se sente atraído pelo real existente que transborda a
medida do ilhéu.
A insularidade islenha, afigura – se como resultado da luta de desafios que nascem no próprio
chão das ilhas, ele é conteúdo dos contornos da crioulidade, alguns aspectos mais importantes da
viagem por ela empreendida desde os caos que a condicionou até ao magma actual que a
caracteriza e projecta.

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6 Conclusão

Diferentemente das outras literaturas africanas de língua portuguesa, a literatura de Cabo Verde
revelará a realidade da ilha. A forte mestiçagem do seu povo também gerou uma literatura
diversa que não é produto do homem europeu nem do africano, mas do crioulo.
Igualmente a qualquer outra sociedade a literatura de característica crioula traz no seu bojo o
homem das ilhas e o seu quotidiano, não apenas o indivíduo escritor, mas alguém que
desempenha um papel social único, junto ao seu grupo social. Como ele escreve, o que ele
escreve é o registo particular de acções colectiva.
A matéria e a forma escolhidas pelo escritor dependerão da tensão que ele quer registar. Como
resultado, teremos um diálogo vivo entre o criador e o público.
Na medida em que reconhecemos a obra de arte literária como uma tríade simbólica de
comunicação inter-humana que conjuga no seu âmago a obra, o autor e o público, vemos mais
e mais a experiência literária, e aqui no caso a literatura cabo-verdiana como uma forma de
registo social de um povo e de uma nação.

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Bibliografia

Ferreira, M. Literaturas africanas de expressão portuguesa. São Paulo: Ática, 1987.


Laranjeira, P. Literaturas africanas de expressão portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta, 1995.
Santilli, M.A. Estórias africanas: história e antologia. São Paulo: Ática, 1985.
Secco, C.L.T.R. Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX:
volume II Cabo Verde. Rio de Janeiro:
Ufrj, 1999. p.40-41 Certeau, M. A invenção do quotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes,
1994.

Ferreira, M. Literaturas africanas de expressão portuguesa. São Paulo: Ática, 1987.

Laranjeira, P. Literaturas africanas de expressão portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta, 1995.

Santilli, M.A. Estórias africanas: história e antologia. São Paulo: Ática, 1985.

Secco, C.L.T.R. Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX:

volume II Cabo Verde. Rio de Janeiro:

UFRJ, 1999. p.40-41.

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