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Inicialmente, é apresentado um mundo em que a felicidade não existe, mas onde as

pessoas procuram evitar a infelicidade como por exemplo a substituição de palavras com
conotação negativa em palavras com valores positivos. Neste contexto, é descrito um caso
em que Torben mata sua esposa, quando está bêbado, durante uma discussão sobre a
rápida adaptação da sua mulher a esta nova realidade e é levado para um centro
psiquiátrico onde é considerado “desequilibrado”. Algum tempo depois, Torben participa
numa entrevista onde o jornalista lhe diz "Há momentos em que não há outro remédio
senão confessar que existe uma coisa chamada consciência".

É mencionada, em seguida, a tendência da sociedade em aliviar as responsabilidades


negativas dos cidadãos culpando essencialmente o determinismo (traumas, doenças,
condições e ambiente na infância, etc) e o fato de que muitos preferem ser diagnosticados
com uma patologia do que assumir um vício. Como por exemplo, a sociedade é mais
compreensiva e até mais interessada quando se lhe é apresentada um cleptomaníaco,
ludopata ou pirómano do que propriamente um ladrão, um viciado no jogo ou um
incendiário.
-(a visão da sociedade é muitas vezes generalizada e por isso vista como certa o que faz
com que as nossas escolhas sejam feitas com a sociedade atual em mente e não a nossa
própria consciência)

A questão da responsabilidade e da culpa é também aprofundada na obra, onde se destaca


que o alívio da responsabilidade serve apenas para a culpa, nunca para o mérito. Atletas
olímpicos ganham por si mesmos, tendo de passar por inúmeros testes e provas e árduo
trabalho porém um assassino em série age dessa forma devido aos variados
acontecimentos, traumáticos ou não, e pelas circunstâncias das ocorrências. A isto é dado o
nome de “determinismo parcial”.
-(não aceitarmos a nossa culpa quando é devida faz com que nos julguemos invencíveis o
que pode completamente moldar uma pessoa)

É mencionado que agir bem é uma consequência direta de conhecer o que é bom e, citando
Sócrates, quando o sujeito humano conhece o bom prefer-o sempre ao mal. Voltando a
referir o tal determinismo parcial, é também reportado que a sociedade acredita que
fazemos o bem querendo mas o mal por culpa das circunstâncias. É também abordado a
akrasia, que se trata de um ponto fraco na vontade, que leva o ser humano a preferir o mal
mesmo sabendo da existência de uma opção melhor. As duas citações mais usadas para
exemplificar e provar a acrasia seriam “vejo o que é melhor e aprovo-o, mas depois sigo
pelo pior” e “querer o bem está ao meu alcance, mas não cumpri-lo, visto que não faço o
bem que queria e cometo o mal que não quereria”, incluídas nas obras Metamorfoses de
Ovídio e a “Epístola dos Romanos” pertencente ao Novo Testamento, respetivamente.
Podemos até incluir a famosa fábula de Orson Welles que conta a história de um escorpião
que quer ajuda para atravessar o rio a uma rã. A mesma nega inicialmente com receio da
picada mortal do aracnídeo, mas acaba por permitir depois de ouvir o argumento lógico da
rã: “Se eu te picasse, ao morreres tu, eu também morreria afogado". O conto finaliza com
ambos os animais a morrer, dado o facto que a rã acabou por ser picada pelo escorpião
que, quando questionado, rebate que o seu caráter é assim e que não há nada que o possa
mudar.
-(mostra a luta inconsciente que a nossa consciência tem consigo mesma e que as pessoas
ao longo do tempo vão se convencer de que na verdade até estão a agir bem quando
anteriormente até podiam achar o completo contrário)

Posteriormente, um estudo de Morel centrado sobre algumas decisões absurdas e o porquê


das mesmas terem sido tomadas, destaca a tendência das pessoas de concordarem com
decisões absurdas quando estão em grupo, concordando com coisas que não concordariam
se estivessem a pensar por si mesmas.
-(tendência das pessoas de apagarem a sua opinião quando estão em funções sociais, que
a longo prazo podem danificar o sentido de identidade e individualidade de um indivíduo)

No entanto, a ideia de liberdade pode ser vista como algo que não existe em si, mas em
provas da mesma, como por exemplo, o nosso próprio testemunho pessoal, as nossas
obras/ o rasto ou o legado que deixamos e a vulnerabilidade humana.

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