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A Bíblia

Ea
Terra Plana
COMO O LIVRO SAGRADO DO CRISTIANISMO EXPLICA O
UNIVERSO?
Sumário
Introdução:
A Bíblia e as previsões científicas sobre o mundo
1. A Bíblia diz que a terra é uma esfera.
2. A Bíblia sabe que a terra está no espaço vazio.
3. A Bíblia sabe que o número de estrelas é incontável.
5. A Bíblia nos informa que a matéria é feita de átomos.
6. A Bíblia ensina que a luz se move.
7. O ar tem peso na Bíblia.
8. A Bíblia sabe sobre termodinâmica – fala das coisas indo da ordem para a desordem.
O que a Bíblia literalmente ensina.
1. A terra é imóvel.
2. A terra repousa sobre uma fundação.
3. O céu é sólido.
4. A terra é plana.
5. A Terra está no centro não apenas do sistema solar, mas do universo.
6. A lua tem luz própria e não reflete a do sol.
7. As estrelas são pequenas fontes de luz.
8. Erros diversos.
Afinal, como entender a Bíblia?
A Terra
O Submundo
O Céu
Conclusão:
A cosmovisão bíblica e o Terraplanismo
Obra: A Bíblia e a Terra Plana - Como o livro sagrado do cristianismo explica o universo?

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______________________

Caro Leitor:
O seu apoio é muito importante. Para ajudar o trabalho do autor, se gostar
da leitura, deixe um comentário na página de compra.
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Introdução:
Não é todo mundo, mas a maioria das pessoas ainda tem uma visão um
tanto confusa sobre a Bíblia.
Neste pequeno ebook vamos ver se uma leitura direta dos textos bíblicos
pode nos levar realmente o que a Bíblia ensina sobre a forma da universo.
Esse livro pretende ser o primeiro de uma série que irá lhe trazer uma visão
totalmente diferente do livro que é considerado o mais vendido no mundo.
Neste primeiro volume, o nosso tema irá tratar sobre a COSMOVISÃO da
Bíblia. Isto é, qual seria a visão que o livro mais vendido do mundo tem ou
sugere sobre a estrutura do universo.
Para a Bíblia a Terra é esférica, é plana ou tem algum outro formato?

E o resto do universo? O que a Bíblia nos conta? Como devemos ler a


Bíblia a respeito desse e de outros assuntos (temas dos próximos volumes)?
Este livro será divido em três partes:
1 – Discutir se já havia evidências de que Bíblia previu alguns resultados da
ciência sobre a estrutura do mundo ou cosmovisão científica moderna.
2 – Reunir os melhores textos bíblicos que apontem para a forma como a
Bíblia vê de fato o universo à nossa volta.
3 – Analisar finalmente, com a ajuda de um especialista, o que a Bíblia de
fato ensina e como de fato ela deve ser entendida.
Os textos que serão citados seguirão de perto a tradução da Bíblia de
Jerusalém, por ela ser um texto crítico e muito elogiado por estudiosos de
muitas vertentes e linhas religiosas, tanto do cristianismo como de fora dele,
e mesmo entre os estudiosos críticos e seculares.
A separação de capítulos e versículos seguirá o padrão usado em alguns
setores protestantes, em que:
“.” separa capítulos de versículos;
“-“ indica versículos contínuos;
“;” separa capítulos de outros capítulos.
Por exemplo:
Gn 1.10 – 20; 13.5: isso significa Livro de Gênesis, capítulo 1, dos
versículos 10 ao 20; e que se deve pular para o capítulo 13, versículo 5 do
mesmo livro.
Este livro foi pensado como uma introdução sobre esse tema voltado a
diversos públicos.
Se você é terraplanista, este livro ajudará você a descobrir os textos bíblicos
que baseiam as suas ideias;
Se você pensa que a Terra é esférica, neste ebook você verá de onde vêm as
ideias dos terraplanistas e terá como entendê-los melhor para buscar refuta-
los.
E se você é só um curioso sobre a Bíblia e quer conhecer mais de perto
como os textos do livro sagrado judaico-cristão tratam da forma do mundo
e do universo, você fará bom proveito deste livro também.
Enfim, esse livro não é somente para crentes, descrentes, críticos ou céticos.
Mas para todas aquelas pessoas que buscam aprender e terem mais
conhecimento sobre os assuntos que são – de um modo ou de outro –
importantes para o nosso dia-a-dia.
A Bíblia e as previsões científicas sobre o
mundo
Alguns apologistas (defensores) da fé cristã vivem querendo que muitos
fatos científicos sobre cosmologia, física e biologia, poderíamos ter sabido
muito mais cedo se confiássemos na Bíblia. É que eles estavam no “grande
livro” o tempo todo se nós tivéssemos fé para confiar neste livro!
Uma fonte de apoio que eles costumam citar é o vencedor do Prêmio Nobel
de Física, Arno Penzias. Ele disse em 1978:
“Os melhores dados que temos (sobre o Big Bang) são exatamente o que eu
teria previsto, se eu não tivesse mais nada a não ser os cinco livros de
Moisés, os Salmos, a Bíblia como um todo.”
Ao que o crítico dos escritos sagrados, Bob Sidensticker reage,
perguntando:
“Sério?
No Antigo Testamento, você tem um universo de 13,8 bilhões de
anos? Expansão a partir de um ponto? Um universo que não apenas está se
expandindo, mas cuja expansão está se acelerando? Matéria escura e
energia escura?”
Segundo eles, as provas dessas alegações aparecem nos textos que veremos
a seguir:

1. A Bíblia diz que a terra é uma esfera.

“[Deus] está acima do círculo da terra, e seus habitantes são como


gafanhotos.”
(Isaías 40.22)
Bem, estamos realmente procurando a Terra como uma esfera, mas isso soa
no mínimo intrigante.
Antes, porém, considere outro versículo no mesmo livro da Bíblia.
“[Deus] irá enrolar você firmemente em uma bola e jogá-lo em um terreno
amplo e aberto. Lá você vai morrer.”
(Isaías 22.18)
A primeira palavra significa tipicamente circular no sentido de
um perímetro – pense em um guarda andando no perímetro (a área em
torno) de um acampamento.
O segundo versículo mostra que o hebraico tinha uma palavra para esfera,
e se o autor quisesse identificar a terra como uma esfera, a palavra correta
teria sido usada.
Observe também que Isaías 40.22 não está escrito como se quisesse passar
conhecimento científico.
O texto fala sobre a terra como um disco plano apenas de passagem, e quer
simplesmente destacar a grandiosa figura divina comparada aos
“gafanhotos” humanos.
Veremos mais adiante que toda vez que a Bíblia se refere ao formato da
Terra é em sentido plano. Voltaremos a isso.

2. A Bíblia sabe que a terra está no espaço vazio.

“Ele estendeu o setentrião (o norte) sobre o espaço vazio e pendura a terra


em nada.”
(Jó 26.7)
Isso é cientificamente vago e não fornece uma descrição clara de nosso
sistema solar ou de qualquer outro sistema.
Segundo os conhecimentos científicos que temos hoje, a terra não
está suspensa ou pendurada, ele se move ao redor do sol, fazendo o
movimento chamado de translação.
Se você espera que Jó tenha em mente um modelo planetário, apenas três
versículos abaixo lemos sobre os "pilares do céu".
Como assim, pilares do céu?
Logo, logo você vai entender.
3. A Bíblia sabe que o número de estrelas é incontável.

“É por isso também que de um só homem [Abraão] nasceu a multidão


comparável a dos astros do céu e inumerável como a areia da praia.”
(Hebreus 11.12)
Quantos descendentes Abraão havia tido quando este livro foi escrito no
primeiro século da era comum?
Um milhão de pessoas?
Fosse o que fosse, “comparável a dos astros do céu” é uma hipérbole, isto
é, uma figura de linguagem que se caracteriza pelo exagero.
O autor não pode estar querendo dizer que existiam bilhões de judeus no
mundo (é nessa casa numérica que se calcula o número de número de
estrelas).
Mais uma vez, a Bíblia não está dizendo nada notável. E muito menos de
preciso.
Se o objetivo de qualquer um desses versículos fosse fornecer
conhecimento científico novo e surpreendente, eles deixariam isso
claro. Nota-se que as ideias presentes aí eram acessíveis às pessoas da
época.
Essas passagens foram escolhidas por certos cristãos modernos porque elas
lembram vagamente as informações que aprendemos com a ciência
moderna.
Agora, faça o caminho inverso. Imagine dar a cada leitor imparcial da
época esses textos e perguntar o que eles entendiam. Será que eles tirariam
conhecimentos científicos desses textos, como os defensores da fé de hoje
imaginam?
Eles veriam um sistema solar heliocêntrico, por exemplo?
Os apologistas precisam mostrar que esses fatos tiveram mesmo origem nas
ideias bíblicas e não da ciência moderna. Mas o fato é que eles não
conseguem.

5. A Bíblia nos informa que a matéria é feita de átomos.


“Pela fé entendemos que os mundos foram preparados por uma palavra de
Deus. Por isso é que o mundo visível não tem origem em coisas
manifestas (visíveis).”
(Hebreus 11: 3)
Os apologistas podem imaginar que isso diz que a matéria é feita de
partículas muito pequenas para serem vistas, mas este capítulo é sobre fé, e
não sobre a Física.
A NET Bible, versão em inglês online da Bíblia, dá outra interpretação da
frase em negrito: “o visível tem sua origem no invisível”.
A nota “b” no rodapé da Bíblia de Jerusalém, explica essa passagem: A fé
na criação é caso sublime da inteligência do invisível; antes da sua
criação, as realidades existiam em Deus, de quem tudo procede.
O versículo não está dizendo que a matéria é feita de átomos, mas que o
mundo (visível) foi criado por Deus (invisível).
Os antigos propuseram a ideia de que a matéria era composta de partículas
indivisíveis , mas isso foi séculos antes do livro de Hebreus e não foi na
Palestina ou em ambiente cristão.
E nós aqui nos colocamos a mesma dúvida e pergunta que se colocou o
autor e crítico que nós consultamos para reunir essas afirmações, Bob
Seidensticker:
“Alguns desses exemplos são tão pobres que eu me pergunto se aqueles que
os propõem honestamente os acham convincentes.”

6. A Bíblia ensina que a luz se move.

“De que lado habita a luz? Onde residem as trevas?”


(Jó 38.19)
Este versículo diz apenas que a luz e as trevas residem em algum
lugar. Talvez o movimento esteja implícito porque a luz e as trevas
precisam “sair de casa” algum dia.
Mas não, a escuridão não é uma coisa - é apenas uma ausência de luz – e
nem a luz e muito menos a escuridão são armazenadas em lugar algum.
7. O ar tem peso na Bíblia.

“[Deus] deu peso ao vento e regulou a medida das águas.”


(Jó 28.25)
O vento empurra as pessoas. Se é isso que é o "peso" do vento, qualquer
criança sabe disso.
Uma visão infantil do mundo pode imaginar que as propriedades da
natureza são atribuídas e mantidas por Deus, mas não é isso que a ciência
nos diz.
Em vez de observações da natureza do senso comum, a Bíblia poderia ter
nos dado algumas das leis básicas da física.
Só algumas. Mas o silêncio é total. Por que será que a Bíblia mentiria sobre
as leis da natureza?
Ou será que ela não está mentindo, e são as pessoas que procuram nela
coisas que ela não pretendia registrar?
8. A Bíblia sabe sobre termodinâmica – fala das coisas indo da ordem
para a desordem.

A Bíblia tem vários versículos (Isaías 51.6; Hebreus 1.10–11; Salmos


102.26) que usa a imagem de que a Terra se desgastará como uma roupa.
“Erguei ao céu os olhos, olhai para a terra cá em baixo; porque os céus se
desfarão como a fumaça, e a terra se desgastará como uma veste; os seus
habitantes morrerão como mosquitos; mas a minha salvação será eterna, e
a minha justiça não terá fim.”
(Isaías 51: 6)
Os autores antigos viram que os seres vivos morrem e as construções
humanas se deterioram – nada de notável aqui.
A partir disso, extrapolaram que a própria terra é temporária e usaram isso
como subterfúgio para celebrar a permanência de Deus.
Será que não está claro que isso é só um recurso literário para destacar o
objeto da crença, o Deus hebreu?
E assim seguem falando outros tantos textos. Tudo feito de aproximações
ou conclusões que a observação de qualquer, pessoa mesmo naquele época,
alcançaria.
O mais engraçado é que todos os dados científicos que certos apologistas
afirmam sempre terem estado na Bíblia só se tornaram “evidentes” e
“compreensíveis” quando os descobrimos por meio da ciência. Aí é que
eles fizeram a conexão.
Ué, então que raio de revelação é essa?
Na verdade, quando nos aprofundamos e percorremos os textos da Bíblia,
tudo é muito diferente com relação à ideia que ela tem do mundo físico.
E esse será o tema do próximo capítulo.
O que a Bíblia literalmente ensina.

Os defensores da fé que tentam associar a Bíblia com a ciência moderna,


erram quando dizem que ela havia antecipou todos os conhecimentos
científicos. Toda vez que ela parece se aproximar para “explicar” algum
deles, a conclusão que tiramos é que a visão bíblica está em total desacordo
com a ciência moderna.
Já se lermos a Bíblia como faz a maioria dos religiosos fundamentalistas e
literalistas, e é desse grupo que deriva a maioria dos terraplanistas, eles não
estão tão longe do que esse livro realmente fala ou ao menos sugere.
Quando levamos a sério a grande maioria dos textos deste livro que
parecem descrever a figura do mundo, as nossas conclusões seriam bem
estranhas.
Na verdade, a maioria dos textos bíblicos nos dá uma cosmovisão bem
comum a de outros povos da antiguidade sobre o mundo.
Vamos aos exemplos.

1. A terra é imóvel.

Em diversos textos está clarissimamente afirmado que o mundo está firme e


nunca será abalado e não será abalado.
“Sim, o mundo está firme, jamais tremerá.”
(Salmo 93.1)
“Ele, Iahweh, pode até fazer tremer a terra, mas ela é inabalável.”
(1 Crônicas 16.30)
Verifique também o Salmo 96.10.
Já a ciência nos diz que a terra é tudo menos fixa:

Ela orbita o sol;


Todo o sistema solar orbita o centro galáctico;
E a própria Via Láctea se move pelo espaço;
Quem será que está errado?
Para quem crê na Bíblia como revelação divina, é a Ciência, claro.
Para quem busca conhecer ou tem acesso às evidências científicas, a Bíblia
só reflete uma cosmovisão ultrapassada dos antigos orientais.
Mas, será que a Bíblia é culpada por ter essa visão, ou será que deram a ela
característica que ela nunca quis ter?
Voltaremos a isso adiante.
2. A terra repousa sobre uma fundação.

Segundo a Bíblia, foi Deus quem “estendeu o céu e fundou a Terra”


(Zacarias 12.1).
“Porque a Iahweh pertencem os fundamentos da terra e sobre eles colocou
o mundo.”
(1 Samuel 2.8)
“Assentaste a terra sobre as suas bases, inabalável para sempre e
eternamente.”
(Salmo 104.5)
Veja que imagem interessante: o planeta é descrito como estando fixado
como um prédio sobre um alicerce.
Mas será que não é uma fundação metafórica, simbólica? Não.Também nos
diz a Bíblia do que é feita essa fundação.
“[Deus] abala a terra desde os fundamentos faz vacilar suas colunas.”
(Jó 9.6; 26.11)
Os que gostam de criar “sentidos figurados” podem dizer que “pilares”
simplesmente se referem a montanhas ou rochas, mas uma conclusão mais
plausível é que a interpretação literal era a pretendida e que a cosmologia
hebraica imaginava uma terra plana cercada ou suspensa no oceano,
como era popular na antiguidade.
Grécia, Egito, Mesopotâmia e Índia, tinham essa visão. Que estranho, não
é?

O Domo

Os defensores da Terra Plana dizem que há um domo, uma cúpula ou


abóbada cobrindo a Terra.
De onde eles tiraram isso?
Oras, da Bíblia, é claro. Vários textos apontam para esse suposto domo e o
descrevem.
3. O céu é sólido.

A cosmologia em Gênesis deixa claro que a terra repousa entre dois grupos
de água: um que está abaixo dela e outro que está acima dela, além da
cúpula.
“Deus fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento
das águas que estão acima do firmamento, e Deus chamou o firmamento
‘céu’.”
(Gn 1.7)
Esse “firmamento” é o domo ou abóboda como aparece em várias
traduções, como na Bíblia de Jerusalém.
Uma das suas características é possuir janela ou comportas de onde sai a
água da chuva, como lemos no relato de Noé, sobre o dilúvio:
“nesse dia jorraram todas as fontes do grande abismo e abriram-se as
comportas do céu.”
(Gênesis 7.11)
Note que o dilúvio foi o resultado das águas do abismo, embaixo, e das
águas que desceram das comportas abertas, acima.
A questão das “águas superiores” volta em outras partes do Antigo
Testamento.
“Louvai-o, céus mais altos e águas acima dos céus.”
(Sl. 148.4)

“Quando Ele firmava os céus..., quando traçava a abóbada (domo) sobre a


face do abismo.”
(Provérbios 8.28)

Então, existe de fato um domo sobre a Terra, mas de que é feito esse
domo?
No livro de Jó, durante o debate dele com os seus amigos, surge uma
estranha figura chamada Eliú, que ao confrontá-lo e ao exaltar a sabedoria e
o poder de Deus, sugere que o domo é feito de metal.
“Podes tu com ele, estender a nuvem, forte endurecida como uma placa de
metal (bronze) fundido?”
(Jó 37.18)

Há uma relação aqui entre o termo “estender” é o verbo usado para martelar
metal.
Temos mais uma pista da cosmologia suméria equivalente. A cúpula
poderia ter sido feita do que os sumérios chamavam de “metal do céu”, o
metal que chamamos lata.
Essa visão foi absorvida ou durante o cativeiro babilônico, de 597–539
Antes da Era Cristã (AEC) ou por meio das influências culturais que os
hebreus foram tendo devido às transações comerciais com outros povos.
Em outros volumes veremos que a “teologia” ou religião hebraica vai
mudando nos textos que eles escrevem, de acordo com os elementos
culturais que eles vão conhecendo dos seus vizinhos.

4. A terra é plana.

Nós já falamos desse tal disco plano da terra anteriormente.


“Ele está entronizado (ou está sentado) sobre o círculo da terra, cujos
habitantes são como gafanhotos.”
(Isaías 40.22).
Essa palavra não é referência a uma terra esférica – os judeus tinham outra
palavra para "bola" ou "esfera" – mas simplesmente a um disco plano.
Existem muitas outras pistas de que a cosmovisão judaica era semelhante a
dos seus vizinhos egípcios, babilônios e a dos antigos sumérios.
Há quem diga que era só uma representação e que os autores não estavam
de fato tentando descrever nada. Mas a pergunta que fica é:
Porque sempre que usam as imagens elas sempre sugerem uma Terra
plana?
No Novo Testamento, as imagens utilizadas só continuam apontando para
o fato de que aos olhos deles, a Terra é plana.
“Tornou o diabo a leva-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe
todos os reinos do mundo com o seu esplendor.”
(Mateus 4.8)

Um ponto alto de onde se pode ver todo o mundo é possível em uma terra
plana, mas não em um planeta esférico!
E se houvesse uma montanha da qual se pudesse ver o mundo todo, ela,
pelo seu imenso tamanho, poderia ser vista de qualquer lugar na Terra.
Então vá lá fora e olhe em volta. Se esse monte não está lá, então ele não
existe, ou a Terra não é plana.
Talvez esse seja o único argumento que funcionaria contra a visão da plana
da Terra, afirmada por alguns.
Mas o fato é que, pela Bíblia, nesse texto da tentação, a terra é vista como
algo que pode ser vista toda do alto de um monte!

5. A Terra está no centro não apenas do sistema solar, mas do universo.

Aqui vão os versículos que provam que é o sol que se move no céu:
“O sol se levanta, o sol se deita; e apressando-se a voltar ao seu lugar, e é
lá que ele se levanta.”
(Eclesiastes 1.5)

“Ali pôs [Deus] uma tenda para o sol, e ele sai, qual esposo da alcova,
como alegre herói, percorrendo o caminho [do céu].”
(Salmo 19.6)
Mais dois exemplos vemos abaixo:
Quando Deus brinca com o sol, interrompendo o seu movimento por horas
para que Josué continuasse matando os seus inimigos, os amorreus.
“E o sol se deteve e a lua ficou imóvel até que o povo se vingou dos seus
inimigos.”
(Josué 10.13)
E depois ao fazê-lo voltar para trás em sua trajetória para dar um sinal ao rei
Ezequias, por intermédio do profeta Isaías (2Reis 20. 8–11).
Não seria grande coisa Deus mover as coisas pelo céu, mas fica complicado
em um sistema solar heliocêntrico dizer que “o sol para". Isso só pode
sugerir que é ele quem se movimenta e em torno da Terra.

Deus poderia ter usado a sua mágica para interromper a rotação da Terra –
como é chamado o movimento que ela faz segundo a Ciência – para que os
seus habitantes não notassem a desaceleração e a subsequente aceleração (e
relatassem isso nos relatos bíblicos)?
Ele poderia ter mantido o campo magnético protetor da Terra que seria
perdido se o núcleo de ferro fundido parasse de girar?
Claro, que em tese poderia.
Mas nenhum autor bíblico, em nenhum texto, parece ter sido informado ou
inspirado sobre algo assim para poder falar disso mesmo que fosse por meio
de imagens e figuras.
As imagens que eles usam, no entanto, é sempre aquelas que sugerem que a
Terra era tal qual um disco, que estava parado diante dos luzeiros (sol e lua)
que se moviam em cima dele.
E tivemos que esperar até o início do século XVI para começarmos a ter
uma ideia do sistema solar heliocêntrico, hoje conhecido e defendido pela
ciência.

6. A lua tem luz própria e não reflete a do sol.

Aí se diz que o sol e a lua são apenas duas versões da mesma coisa. Um
maior e a outra menor, apenas isso.
Não há reconhecimento de que um crie a luz (sol) e o outro apenas a reflita
(a lua).
Vemos a confusão mais claramente neste versículo.
“A lua não fará brilhar sua luz” (Isaías 13.10).
Não, a lua não produz sua própria luz. E isso nós podemos ver num eclipse,
quando a Terra se interpõe entre o sol e a lua, e a sobra daquela vai
projetando sobre essa até escurecê-la totalmente.

7. As estrelas são pequenas fontes de luz.

A Bíblia dispensa as estrelas imaginando sua criação da seguinte maneira:


“Deus fez dois grandes luzeiros - o grande luzeiro com o poder do dia e o
pequeno luzeiro com o poder da noite, e as estrelas”
(Gênesis 1.16)
É isso aí. 100 bilhões de galáxias, cada uma com 100 bilhões de estrelas,
valem apenas essa singela descrição no original hebraico.
Vemos as estrelas de acordo com o modelo cosmológico sumério aqui:
“Deus os colocou (sol, lua e estrelas) no firmamento do céu para iluminar
a terra.”
(Gênesis 1.17).
Mas será que a Bíblia está pensando nelas como algo tão pequeno assim,
baseado nesse texto tão lacônico de Gênesis?
Bem, as estrelas se confirmam como sendo coisas realmente muito
pequenas na visão bíblica quando se imagina que elas podem cair na Terra,
como se diz no último livro do Novo Testamento:
“As estrelas no céu se precipitaram sobre a terra, como os figos caem de
uma figueira quando sacudidos por um vento forte.”
(Apocalipse 6.13)
8. Erros diversos.

Não é a intenção deste livro, mas a Bíblia entrega sua falta de informação
científica em outros temas: quando diz que um morcego é um pássaro
(Deuteronômio 14.11–18), que os insetos têm quatro pés (Levítico 11.20–
23), que os coelhos ruminam (Levítico 11.6), camelos tem cascos (Lev. 11.
4), e a semente de mostarda é a menor semente da terra (Mt 13. 31-
32). Nada disso é verdade.

Concluímos esse capítulo com as considerações de Bob Sidensticker:


“O problema da ciência para muitos cristãos é que um conhecimento
baseado na ciência deve ir mudando à medida que a ciência muda.
E isso não é do gosto de pessoas que vivem determinadas a acreditar que
vive num mundo imutável.
O resultado é uma relação irreal e infantil com a ciência, abraçando-a
quando parece apoiar a conclusão cristã e denegrindo-a ou ignorando-a
quando se torna um problema para eles.
Fazer ciência é como montar um quebra-cabeça. Não temos a parte superior
da caixa com a imagem do quebra-cabeça finalizado. E só temos algumas
peças, portanto o quebra-cabeça está sempre incompleto.
Se uma peça nova não se encaixar, temos que decidir se estamos
entendendo mal a peça ou se estamos errados sobre o resto do quebra-
cabeça.
A visão cristã é como ter a caixa com uma figura de Deus no topo e depois
imaginar mágica para transformar cada peça recém-descoberta para que ela
se encaixe. "Deus fez isso" responde a tudo, mas, como uma hipótese
infalsificável, nada responde (mais aqui ).
Deixe-me encerrar com uma paráfrase de uma idéia da AronRa. Quando a
resposta é conhecida, a ciência sabe disso. Mas quando a ciência não o
conhece, a religião também não.
Como a Bíblia e a igreja estão claramente
erradas em nos dizer de onde nós viemos,
como nós podemos confiar nelas para nos
dizer para onde estamos indo?
- Anônimo
Afinal, como entender a Bíblia?
Neste capítulo faremos algumas considerações sobre como a Bíblia deveria
ser entendida.
A visão é a de um estudioso que, diferente da maioria dos religiosos
tradicionais, leva em consideração algo que sempre tem grande influencia
em qualquer obra escrita humana: o contexto cultural-histórico.
O Dr. Michael Heiser é um orientalista, ou seja, um especialista nos usos e
costumes dos povos orientais antigos, que, embora seja cristão, não foge do
fato de que a Bíblia como todo livro é datada e situada em cada uma de
suas partes.
A interpretação adequada da Bíblia, seja feita por um crente seja por um
crítico, requer uma compreensão do contexto original em que ela foi escrita
e para quem ela foi escrita.
Para ele “Deus escolheu um horário específico e cultura na qual inspirar
as Escrituras: o antigo Mediterrâneo e o antigo Oriente Próximo do 2º e 1º
séculos aC.”
Deixando de lado a fé do especialista, o que nos serve da análise dele são as
consequências que ele tira dessa sua afirmação:
Para Heiser a cosmologia ou visão do universo bíblica, é de fato pré-
científica, e corresponde em muitos detalhes à visão comum de outras
culturas orientais vizinhas.
Leituras mal feitas das Escrituras resultam da suposição de que os escritores
da Bíblia pensavam, acreditavam e agiam como nós.
E Heiser diz que nada pode estar mais longe da verdade. O homem oriental
antigo pensava como os seus pares e agia como eles.
Uma das maiores diferenças entre os humanos de hoje e os da antiguidade é
a nossa ideia de cosmologia, ou visão de mundo.
Como já foi dito, o termo cosmologia refere-se à maneira como se entende
a estrutura do universo.
Os israelitas acreditavam em uma cosmologia que era comum entre as
civilizações antigas do mundo bíblico, e esta abrangia três partes
construídas como um bolo em camadas.
Um reino celestial;
Um reino terrestre para humanos;
Um submundo para os mortos;

Veja a gravura mais detalhada em inglês:


Este sistema de três camadas se reflete nos dez Mandamentos.
“Você não fará para si uma imagem esculpida ou qualquer semelhança de
qualquer coisa que esteja no céu acima, ou que está na terra embaixo, ou
que está na água debaixo da terra.”
(Exodo 20.4)
Assim fica muito mais fácil entender muitas passagens bíblicas. Os textos
falam de um mundo e para um mundo que só existia na cabeça deles: com
um reino divino no alto, uma terra intermediária cheias de seres humanos e
um abismo ou “xeol” para onde se dirigiam os mortos.

A Terra

Enquanto entendemos que a terra é uma esfera orbitando outros objetos no


vazio de espaço, os escritores bíblicos pensavam na terra como um disco
plano no topo de uma vastidão de águas que subiam das águas profundas
abaixo onde ficavam as fundações do mundo que mantinham a terra firme
no lugar.
Essa ideia se reflete em vários lugares em toda a Escritura.
“Os fundamentos da terra pertencem ao Senhor. Sobre eles, ele estabeleceu
o mundo.”
(1 Samuel 1.28)
“Onde você estava quando eu lancei a fundação da Terra? Diga-me, se é
que sabes tanto. Quem lhe fixou as dimensões – se o sabes –, ou quem
estendeu sobre ela a régua? Onde se encaixam suas bases ou quem
assentou sua pedra angular?”
(Jó 38.4-6)
Veja a mesma coisa no Salmo 104.5.

O Submundo

Abaixo da terra está o reino dos mortos frequentemente referido pela


palavra hebraica Sheol.
Os túmulos cavados pelos seres humanos representavam como que
passagens para o submundo.
Este submundo também estava conectado ao grande abismo, inabitável
abaixo de tudo.
No livro de Jó, este reino é descrito envolto por água:
“As sombras (os mortos) tremem sob a terra. As águas e seus habitantes
estão com medo. O xeol está nu a seus olhos e a Perdição (Abaddon) está
sem véu.”
(Jó 26.5-6)
*(A Bíblia de Jerusalém sugere que o termo hebraico “Abaddon” usado aí, sinônimo de Xeol, talvez
designasse antigamente alguma divindade infernal).
A descrição do livro de Jonas é a mais vívida sobre esse submundo do Xeol.
“As águas me envolveram até o pescoço, o abismo cercou-me, e alga
enrolou-se em volta da minha cabeça.
Eu desci até as raízes das montanhas, à terra cujos ferrolhos estavam atrás
de mim para sempre. Mas tu fizeste subir da fossa a minha minha vida,
Iahweh, meu Deus.”
(Jonas 2.6-7)
O Céu

Os israelitas antigos não pensavam no céu como uma camada de gás, a


atmosfera que conhecemos hoje. Eles não sabiam de nada disso.
Eles acreditavam que céus eram separados da terra por um vidro sólido,
como uma cúpula ou, como defendem os terraplanistas, o domo.
Esta visão é refletida no livro de Jó:
“Podes tu como ele, estender a nuvem, endurecida como uma placa de
metal fundido?”
(Jó 37.18)
Acima do domo sólido (ou firmamento) existia uma área interminável de
água.
Essa ideia referente a uma área de terra e ar imprensada entre a água acima
e a água abaixo é apresentado na abertura do livro do Gênesis:

“E Deus disse que haja um firmamento no meio das águas. E que ela
separe as águas das águas. E assim se fez. Deus fez um firmamento e
separou as águas que estavam sob o firmamento das águas que estavam
acima do firmamento e Deus chamou o firmamento “céu’.”
(Gênesis 1.6-8)
O firmamento cercava terra e sua borda encontrava o horizonte, a fronteira
entre a luz e escuridão.
É onde os terraplanistas dizem que acaba os limites da terra e começaria o
paredão (de gelo) que mais adiante seria limitado pelo domo.
Esse domo seria apoiado por pilares ou fundações, que seriam os topos das
montanhas cujos picos pareciam tocar o céu.
Oras, como o firmamento se sustentaria sem nada em baixo que o apoiasse?
Um texto onde se vê que é assim?
“E a terra treme e vacila, os pilares dos céus estremecem, pela sua ira
adiante eles tremem.”
(2Samuel 22.8)

O domo celeste tinha portais que Deus podia abrir para deixar as águas
acima caírem na terra.
Esta ideia é evidente na história de Noé e da sua arca.
“nesse dia jorraram todas as fontes do grande abismo e abriram-se as
comportas do céu.”
(Gênesis 7.11)
E a informação de que o tal dilúvio foi causado por águas vindo de cima e
de baixo, temos o texto do capítulo 8 do mesmo Gênesis.
“Fecharam-se as fontes do abismo e as comportas do céu chuva – deteve-
se a chuva do céu.”
(Gen 8.2)

Deus e as suas hostes (de seres) celestiais eram vistos como habitantes
acima do firmamento.
“As encobrem-no e impedem-no de ver, quando passeia pela abóbada do
céu.”
(Jó 22.14)
Pois é, Deus anda por cima do domo e até as nuvens impedem a sua visão.
E é lá em cima que ele mora.
“Aquele que no céu suas altas moradas e funda na terra a sua abóboda.”
(Amós 9,6)
E depois de toda essa exposição, que para os olhos e ouvido modernos soa
como uma descrição do mundo como feita por qualquer mitologia dos
povos vizinhos, o especialista conclui:
“Quando Deus inspirou os autores antigos a escreverem as Escrituras, ele
não desperdiçou tempo corrigindo as suas visões pré-científicas. Muitos
crentes se debatem com a ideia de que Deus permitiria ao seu povo
permanecer ignorante sobre o mundo natural, mas Deus nunca pretendeu
que a Bíblia fosse um livro de ciências.
Se vocês olharem além das descrições desatualizadas do universo
encontradas em toda a Bíblia a mensagem das Escrituras ainda é relevante
hoje.
Ninguém precisa acreditar que um Deus fixou uma Terra plana, sobre
fundações físicas, para entender que ele criou tudo.
Ninguém precisa acreditar que Deus permite a chuva cair através de
portais de um domo no céu para entender que ele controla as leis da
natureza.
Ninguém precisa acreditar que Deus mora em um palácio acima das nossas
cabeças para saber que ele governa desde os domínios celestiais.”
Essas foram as palavras e explicações do Dr. Michael Heiser, que é cristão,
pastor e especialista na cultura bíblica e oriental.
Quem quiser ver toda essa explicação ilustrada e não tiver problema com
inglês, veja aqui.
A favor dele eu diria:
Ele reconhecesse o óbvio que podemos tirar lendo os textos, de que a Bíblia
não tem uma visão científica moderna do mundo;
Ele conhece com profundidade as influências que ajudaram os autores a
escreverem e se expressarem na Bíblia e expõe isso com honestidade.
Ele reconhece que a Bíblia é um livro que, para ser entendido tem de ser
lido a partir do seu contexto histórico e cultural, o que envolve entender a
visão de mundo dos vizinhos de Israel.
Heiser chega a ser criticado exatamente por destacar que essa é de fato a
cosmovisão bíblica, que os terraplanistas defendem, mas por não
reconhecê-la como parte da revelação divina.
Não é à toa que em alguns setores evangélicos, ele não é bem-vindo, mas,
pelo contrário é muito criticado, tanto por outros acadêmicos como por
crentes comuns. E isso se nota inclusive na sessão de comentários aos seus
vídeos.
Mas, temos também de destacar que:
Se a descrição do mundo, a cosmovisão bíblica, não é precisa – e como
todos nós que temos uma visão moderna e científica sabe que seria
impossível que ela tivesse – o que mais nos escritos bíblicos poderia ser
apenas fruto da “visão pré-científica do mundo”, para usar as palavras do
Dr. Heiser?

As leis e regras morais e sociais, ainda usadas e presentes tanto


no Antigo como no Novo Testamento?
A forma de explicar os fatos da vida e os eventos históricos
narrados ao longo do da Bíblia (pecado/salvação/êxodo, milagres
e intervenções divinas, etc.)?
A própria ideia que as pessoas tinham de Deus e do mundo
divino?
Ou seja, se aquele povo não teve revelação nenhuma direta sobre a
estrutura do mundo, como sabemos se todo o resto não é simplesmente
resultado das superstições, e da maneira de olhar o mundo que eles tinha
naquela época, por influência dos outros povos ou não?
Nós, os modernos, aprendemos com sujeitos honestos e realistas com ele
como devemos considerar e interpretar esse livro antigo, mas em
concordância e baseados exatamente nos seus próprios e ótimos
argumentos, achamos dá para questionarmos muitas outras coisas e temas
da Bíblia.
E o mais curioso é que Heiser de fato não se detém nesse tema da
cosmologia.
Levando em consideração o condicionamento histórico-cultural da Bíblia,
ele mesmo acaba fazendo uma releitura interessante de outros temas
também (da Criação do mundo, de Deus e o mundo divino, da figura dos
anjos e do Diabo, etc.).
E esses temas serão assunto da nossa série de livros, da qual esse é o
primeiro volume!
Portanto, leitor, se gostou da leitura, por favor deixe um comentário na
página de compra. Assim, poderemos voltar com mais temas relacionados,
sempre sob uma perspectiva crítica e histórica da Bíblia que vai ajudar a
todos que buscam conhecimento.
A Bíblia hoje é um livro de fé, mas antes ela foi um produto da cultura e do
esforço humano, reagindo e interpretando as suas experiências.
E se há pessoas, mesmo provenientes do mundo da fé que nos ajudam a
entendê-la melhor, usando abordagens e metodologias históricas e
racionais, que mostram que esse livro tem as suas raízes bem presas na
cultura humana, isso é benéfico tanto para crentes honestos e maduros,
quanto para céticos que buscam se informar.
No final das contas, a última palavra será sempre a sua leitor.
Conclusão:
A cosmovisão bíblica e o Terraplanismo

É claro que, diferente da análise histórico-crítica do especialista Michael


Heiser que separa a mensagem (que ele acredita que a Bíblia ainda contém)
da forma, o povo de modo geral é fundamentalista e entende tudo o que lê
de maneira literal.
Ou seja, o povo toma a descrição do mundo bíblico como parte da
revelação divina. E é assim que fazem os defensores da Terra Plana.
É claro que nem todos os terraplanistas são religiosos, mas todas as
descrições do mundo feita e considerada por eles – percebam isso – têm
base nessa cosmovisão oriental antiga.
Fica claro para você agora, leitor, porque eles se baseiam na Bíblia para
combater e rejeitar os conhecimentos científicos modernos.
Literalmente lida, ela fala ou sugere muito mais uma terra plana e parada
em torno da qual giram os astros do que de qualquer outro modelo.
Para eles é mais fácil confiar numa descrição do mundo antiga e que há
muito tempo tem legitimidade, do que nos conhecimentos e nos estudos
científicos modernos. E além de ser assim porque está na Bíblia, há outras
razões.
Uma, porque essa descrição bíblica é mais fácil de entender e é mais
familiar.
Duas, porque não exige muito esforço ou estudo. Basta abrir o livro, buscar
os textos e montar o mapa da Terra.
Imagine que você, por exemplo, é alguém do povo, que nasceu, cresceu e
vive ouvindo que há um Deus que criou tudo, que controla tudo e para o
qual tudo se dirige no final das contas.
Toda a sua educação familiar e diária foi em cima disso, com apenas alguns
intervalos com lições escolares sobre ciências. E a maioria do povo,
principalmente mais velho, nem sequer teve um mínimo dessa formação.
Você aprendeu que esse suposto ser invisível teria se revelado, e tem um
livro que registra essa revelação.
Será que tudo o que existisse escrito nesse livro sobre o mundo, a vida,
sobre os seres humanos, não seria mais aceitável e confiável do que os
complicados achados científicos, dos quais você mal ouve falar e quando
ouve mal entende?
A sua avó ou bisavó vai preferir o modelo cosmológico bíblico. Afinal,
quais outras referências ela teve e têm?
Mas, você pode estar se perguntando, e os jovens que acreditam que a terra
é plana?
Oras, isso só denuncia que qualquer pessoa que não tem uma formação
sólida. Que ela, como tantos, só engoliu informações aqui e ali sem
entendê-las. De modo que, ainda que seja jovem, ela não está imune de se
deixar influenciar e embarcar em qualquer visão que lhe dê alguma
segurança sobre a vida.
O fato é que o poder da religião, associado à nossa tendência de nos apegar
ao conhecido e a tudo aquilo que nos emociona, é muito mais convincente
do que as descobertas científicas, que além de muito mais recentes (o que
gera desconfiança) são quase inacessíveis, difíceis de entender e não
oferecem consolo emocional algum.
E nem todo mundo está preparado para se perceber em um mundo frio,
aparentemente sem propósito além daqueles que nós lhe damos.
Veja que, no cerne das mensagens como a dos terraplanistas, está a ideia de
que somos importantes, de que vivemos no centro e no ápice de uma
criação deliberada, e que logo a vida tem um sentido maior e que nos
antecede.
E isso pode ser bastante sedutor para qualquer pessoa que na prática diárias
ainda se orienta de acordo com conceitos e noções do passado, até por
serem muitos mais presentes na vida dele.
Talvez, só com o tempo, com a divulgação científica se dando cada vez
mais rápido nos meios digitais – e também com a chegada das novas
gerações – consigamos superar o nosso passado de superstições e visões
inadequadas sobre a realidade física do nosso mundo.
Até lá, permanecem os nossos esforços no intuito de ajudar as pessoas com
pouco conhecimento, a ver o mundo como ele realmente é, e os debates
com aqueles que preferem que o mundo continue sendo visto como sempre
foi.
Cabe aos que têm conhecimento, e na medida do possível, ir abrindo
caminho, e ajudar aqueles que sinceramente querem ver as coisas como elas
realmente são, dê no que der.
O autor:
Andrés L. DeFide
Tem formação em temas religiosos, históricos e assuntos relacionados. É um crítico e questionador
sobre temas importantes e decisivos que afetam a nossa visão de mundo pessoal e coletiva. O seu
intuito é fazer as pessoas repensarem ou relerem esses temas e ideias que há muito tempo estiveram
“gravados em pedra”, que por isso foram se tornando inquestionáveis e imunes ao impacto do
pensamento crítico.
E ele acha que tudo aquilo que não oferece mais razões para ser, mas se mantém por pura tradição e
acomodação cultural, não só pode como deve ser questionado.
Sites e vídeos pesquisados:
https://www.patheos.com/blogs/crossexamined/2015/11/the-bibles-confused-relationship-with-
science-2-of-2/
https.//www.patheos.com/blogs/crossexamined/2015/12/yet-more-on-the-bibles-confused-
relationship-with-science-2-of-2/
https://www.patheos.com/blogs/crossexamined/2015/11/yet-more-on-the-bibles-confused-
relationship-with-science/
https://www.youtube.com/watch?v=b8duzqEOhw8

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