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Neurobiologia do sono e vigília

• Fisiologia
• Módulo: Percepção, Consciência e Emoção
• Profa. Dra. Maristela Cesquini Oliveira
• Medicina 2024
Objetivos
• Compreender a fisiologia do sono e
da vigília

• Relacionar o ciclo sono-vigília com as


estruturas anatômicas envolvidas

• Estabelecer a relação entre sono e


aprendizagem
Sono Normal
• Estado de inconsciência fisiológico
• Reversível, temporário, e essencial para o ser humano e outros animais
• Sono ≠ Coma

Sono Coma
Estado Inconsciente Estado Inconsciente
Indivíduo pode ser despertado Indivíduo não pode ser despertado

• Não é um momento passivo: várias regulações hormonais e atividade metabólica


• Vários estágios de sono
• 2 tipos diferentes de sono: Não REM – NREM e REM
• NREM (4 estágios) + REM + Vigília (episódios que fazem parte de até 5% da noite)
Sono ao longo
da vida -
Ontogenia
Fatores para um
sono normal
• Qualidade
• Quantidade
• Ritmo circadiano frequente

https://www.nature.com/articles/s41591-018-0271-8
Tipos de Sono – Características Gerais
REM - sono com movimentos oculares rápidos (rapid eye movement)
Sono paradoxal ou sono dessincronizado
• 25% do tempo de sono em adultos jovens
• episódio de a cada ± 90 minuto – duração de 5 – 30 min
• A medida que a pessoa fica mais descansada: ↑duração dos episódios REM
• sonhos vívidos – movimentos musculares corporais ativos
• ondas de baixa voltagem - semelhantes às da vigília
• frequências cardíaca e respiratória irregulares - característico do estado de sonho
• inibição extrema dos músculos periféricos, mas ocorrem movimentos musculares
irregulares, além dos movimentos oculares rápidos
• indução pelos núcleos tegmental dorsolateral e tegmental pedunculopontino do
tronco cerebral - mesencéfalo
• cérebro é altamente ativo - metabolismo cerebral global aumenta em até 20%
Tipos de Sono - Características Gerais
NREM - sono não REM - sono de ondas lentas
• maior parte do sono durante cada noite: 75-80 % do sono
• sono profundo e reparador
• durante a primeira hora de sono depois de ter ficado acordado por muito tempo –
sono após a vigília
• ↓ tônus muscular periférico
• ↓ funções vegetativas (↓10 a 30% na pressão arterial, na frequência respiratória e
na taxa metabólica basal)
• sonhos não lembrados: não há a consolidação dos sonhos na memória
• recuperação física, desenvolvimento cerebral do feto, crescimento das crianças,
restauração das células cerebrais
• indução se dá pela inibição dos neurônios gabaérgicos do núcleo pré-óptico
ventrolateral – hipotálamo anterior
• dividido em 4 estágios
Sono - Fases NREM – Estágio 1
• sono superficial
• fase de transição entre a vigília e
sono
Hipnograma • 2 a 5% do total de sono
• ondas de baixa voltagem no EEG
• redução da PA e da frequência
cardíaca
NREM – Estágio 2
• ondas cerebrais mais lentas e com
maior amplitude – desconexão do
cérebro com estímulos externos
• 45 a 55% do sono total - sono mais
leve – se aproximando do profundo
• ↓ temperatura, ritmo cardíaco e
respiratório diminuem

Ondas medidas no EEG (eletro encefalograma) - Hans Berger (1929)


NREM – Estágio 3
Sono - Fases • inicio do sono profundo
• ondas lentas (delta) em decorrência de
↓ amplitude e ↑ frequência
sistemas somados: adenosina, GABA,
Hipnograma peptídeos e serotoninas
• atividade cerebral começa a diminuir
• sono recuperador com sonhos difusos
• 15 a 20% do sono
• ↓ fluxo de sangue, menos gasto de
glicose
NREM – Estágio 4
• sono profundo
• ondas lentas (delta)
• corpo repõe as energias do desgaste
diário
• liberação de GH - crescimento e
↑ amplitude e ↓ frequência recuperação de células e órgãos

Ondas medidas no EEG (eletro encefalograma) adenosina, GABA, peptídeos e serotoninas


REM
Sono - Fases • após o quarto estágio
• atividade cerebral acelerada - semelhante à vigília
• ondas dessincronizadas e de baixa amplitude
Hipnograma • sonhos, fixação da memória
• 20 a 25% do sono - predomina na 2ª metade do sono
(4 a 5 vezes por noite com diferentes durações)
• ocorre atividade muscular do ouvido médio,
movimentos da língua, variabilidade cardiovascular,
ingurgitamento vaginal, aumento da tumescência
peniana
• movimentos oculares rápidos
• contrações musculares episódicas
• liberação de monoaminas (dopamina, norepinefrina,
epinefrina): promove fixação da memória, da atenção,
do aprendizado, do humor
dopamina, norepinefrina, epinefrina • importante nas funções corticais e cognitivas mais
complexas
Vamos ao que interessa –
Resumindo…
• Ritmos de baixa amplitude (voltagem) e alta
frequência = vigília e estado de alerta ou sono com
sonhos (REM) - alta atividade dessincronizada

• Ritmos de grande amplitude (alta voltagem) e


baixa frequência = sono sem sonhos (N-REM) e
coma
• (aferência rítmica e lenta e sincronizada)
• ondas lentas (delta)
Centros neuronais e substâncias neuro-humorais no
Sono-Vigília
1. Sistemas hipotalâmicos e suas respectivas interações
funcionais: controle temporizador circadiano e ciclo
sono-vigília
2. núcleos da rafe (metade inferior da ponte e na
medula):
• contém fibras nervosas que se espalham (tronco
encefálico, tálamo, hipotálamo, áreas do sistema
límbico, neocórtex, medula espinhal)
• neurônios da rafe secretam serotonina - substância
transmissora associada à produção do sono

Ondas do EEG do sono NREM-REM e vigília: consequência da atividade neural


nos circuitos tálamo-corticais (núcleos reticulares do tálamo e córtex cerebral)
Centros neuronais e substâncias neuro-humorais no Sono-Vigília
Sistemas colinérgicos e monoaminérgicos
SARA: Sistema Reticular Ativador Ascendente

Sistema reticular ativador ascendente:


• núcleos dorsais da rafe (NDR serotoninérgico)
• locus ceruleus (LC noradrenérgico) do tronco
cerebral
• núcleo tuberomamilar (NTM histaminérgico) do
hipotálamo posterior

Se projetam difusamente para o


córtex e núcleos reticulares do
tálamo Formação Reticular: parte central do Tronco Encefálico,
Estende-se um pouco ao Diencéfalo e aos níveis mais altos
da Medula Espinhal
Centros neuronais e substâncias neuro-humorais no Sono-Vigília
Sistemas colinérgicos e monoaminérgicos
Neurônios aminérgicos: "wake-on-and-sleep-off“ → se projetam para o hipotálamo
anterior → inibem as células gabaérgicas do núcleo pré-óptico ventro-lateral do
hipotálamo anterior (VLPO)
Neurônios colinérgicos: "REM-and-wake-on" (núcleos pontinos látero-dorsais,
tegumento pedúnculo-pontino e do prosencéfalo basal): ↑↑ sono REM e vigília

Vigília: Sono:
↑ atividade aminérgica ↓ atividade aminérgica

↑ atividade colinérgica ↑ atividade colinérgica: REM


↓ atividade colinérgica: NREM
Transmissão Aminoacidérgica

GABA e Glutamato

Neurotransmissores inibitórios e excitatórios mais importantes do SNC

Dor
Aprendizagem
Controle: Memória
Sono
Doenças (epilepsia, Parkinson, neurotoxicidade)

•Benzodiazepínicos e Barbitúricos: Potencializam ação do GABA


GABA – Transmissão Gabaérgica

Neurotransmissor inibitório mais importante do SNC

• Ácido - aminobutírico
• Expressos na maioria dos neurônios SNC – afetam muitas funções
•  Excitabilidade neuronal - Calma

Abertura dos canais Cl- e K+ → Hiperpolarização →  Condução nervosa → Calma


pro

Fármacos que modulam receptores de GABA

• Afetam reatividade e atenção


• Afetam formação de memória
• Afetam ansiedade
• Afetam sono
• Afetam tônus muscular
• Usados para tratamento de hiperatividade neuronal focal ou
disseminada (epilepsia)
• Desenceada pelas projeções ascendentes da
formação reticular do tronco encefálico através do
Vigília tálamo, hipotálamo posterior e prosencéfalo basal
(PB)
SARA: Sistema Reticular Ativador Ascendente

Formação Reticular: parte central do Tronco Encefálico,


Estende-se um pouco ao Diencéfalo e aos níveis mais altos
da Medula Espinhal
Vigília •
Vias aminérgicas e colinérgicas
Neurônios do núcleo lateral-dorsal (NLD) e
núcleo tegumento-pedúnculo-pontino (TPP):
enviam fibras colinérgicas para o tálamo e
diretamente para a córtex
• Núcleos aminérgicos projetam-se difusamente e
diretamente para a córtex:
1. Núcleos tuberomamilares (NTM): histamina
2. Núcleo dorsal da rafe (NDR): serotonina (5-HT)
3. Núcleo lócus ceruleus (LC): noradrenalina (NA)
4. Núcleo pré-óptico ventrolateral (VLPO): GABA e
galanina
5. Neurônios da área ventral tegmentar (AVT)
Projeções ascendentes do tronco encefálico mesencefálica: Dopamina
através do tálamo, hipotálamo posterior e
prosencéfalo basal (PB) Estimulado na vigília Inibido na vigília
Sono-Vigília – Orexina/Hipocretina (Hcrt I e
Hcrt II)
• Hipocretinas ou Orexinas
• Vigília, apetite e excitação
• Produzida pelo hipotálamo (NSQ - núcleo supraquiasmático
hipotalâmico)
• Ação excitatória para diferentes áreas do SNC córtex, tronco
cerebral e medulla espinhal
• Papel central na manutenção do alerta durante a privação de
sono, persistindo elevada durante à privação de sono
• Atividade máxima durante a vigília → estimulando toda a
circuitaria excitatória responsável pela vigília (células wake-on-
sleep-off)
• Ausente durante o sono NREM e REM
Sono-Vigília –
Melatonina

• ↓ ou ausência de luz → modificação nas células


sensoriais de percepção da variação na luminosidade
da retina
• células retina → potenciais elétricos → ativação do
núcleo supraquiasmático → estimula a pineal a
produzir e secretar melatonina (a partir do
triptofano)
• Melatonina: hormônio/NT inicia uma cascata de
eventos fisiológicos que têm a finalidade de preparar
o organismo para o repouso/sono
Para pensar...
A pregabalina é um agonista gabaérgico semelhante à gabapentina que produz
ação semelhante ao GHB
GHB: gama-hidroxibutirato é um neuropeptídio que inibe a neurotransmissão
dopaminérgica aumenta a transmissão gabaérgica (receptores GABA-B) hipotalâmica

Assim, a droga, no que diz respeito ao sono-vigília, induz o que?

SONO Vigília
Para pensar...
A pregabalina é um agonista gabaérgico semelhante à gabapentina que produz
ação semelhante ao GHB
GHB: gama-hidroxibutirato é um neuropeptídio que inibe a neurotransmissão
dopaminérgica aumenta a transmissão gabaérgica (receptores GABA-B) hipotalâmica

Assim, a droga, no que diz respeito ao sono-vigília, induz o que?

SONO
Sabendo que a imagem A representa as ativações neuronais na vigília.
Diga qual (B ou C) representa sono REM e qual o sono NREM?
Sabendo que a imagem A representa as ativações neuronais na vigília.
Diga qual (B ou C) representa sono REM e qual o sono NREM?

Sono NREM Sono REM


Resumo dos NT do Sono e Vigília

sono
sono
vigília
sono

vigília
vigília
vigília
vigília
vigília
vigília
https://www.youtube.com/watch?v=J78c8cVDH
HE

https://www.youtube.com/watch?v=Q0xjBxh6j
PY
O que se sabe sobre sono e aprendizagem
• o fortalecimento de conexões córtico-corticais ocorre
predominantemente durante o sono
• memórias ficariam mais resistentes devido aos processos de formação
de novas conexões córtico-corticais durante o período de consolidação
noturna - maior resistência no período pós-sono
• Privação de sono: pior codificação de memória → ↓ desempenho
• Sono inadequado antes do aprendizado (uma noite antes):
incapacidade do lobo temporal medial de exercer função normal
durante a aprendizagem
• privação do sono anularia os efeitos na aprendizagem e reduziria a
capacidade de novos processos de aprendizagem dependentes do
hipocampo no próximo dia
Hipótese da homeostase sináptica
Explicar o papel do sono na regulação da conectividade sináptica
do cérebro, principalmente o neocórtex

• Na vigília: processos plásticos como a aprendizagem e a memória →


↑de força sináptica em neurocircuitos cerebrais difusamente
• Sono (especificamente a magnitude da atividade de ondas lentas) →
↓ conexões sinápticas

Despotencializar a conectividade sináptica de volta aos níveis basais,


impedindo uma superpotencialização, que resultaria na saturação da
plasticidade cerebral
↓ superpotencialização →↑plasticidade neuronal →↑aprendizado
Bibliografia
• Aires, Margarida de M. Fisiologia, 5ª edição. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo
GEN, 2018.
• E., HALL, J. and HALL, Michael E.. Guyton & Hall - Tratado de Fisiologia Médica. Available
from: Grupo GEN, (14th Edition). Grupo GEN, 2021.
• Sato, Monica A. Tratado de Fisiologia Médica. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo
GEN, 2021.
• Abreu, Hélio Fernando D. Prática em Medicina do Sono. Disponível em: Minha Biblioteca,
Thieme Brazil, 2020.
• Marleide da Mota Gomes, Marcos Schmidt Quinhones, Eliasz Engelhardt. Neurofisiologia
do sono e aspectos farmacoterapêuticos dos seus transtornos. Revista Brasileira de
Neurologia » Volume 46 » No 1 » jan - fev - mar, 2010
• Flávio Alóe, Alexandre Pinto de Azevedo, Rosa Hasan. Mecanismos do ciclo sono-vigília.
Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(Supl I):33-9

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