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Moral Fundamental – Profª. Ms. Rosana Manzini e Prof. Dr. Frei Nilo Agostini
MORAL FUNDAMENTAL
Batatais
Claretiano
2014
© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Versão: dez./2014
170 M252m
Manzini, Rosana
Moral fundamental / Rosana Manzini, Nilo Agostini – Batatais, SP : Claretiano, 2014.
146 p.
ISBN: 978-85-8377-274-3
CDD 170
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Eduardo Henrique Marinheiro
Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Juliana Biggi
Dandara Louise Vieira Matavelli Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Elaine Aparecida de Lima Moraes Rafael Antonio Morotti
Josiane Marchiori Martins Rodrigo Ferreira Daverni
Sônia Galindo Melo
Lidiane Maria Magalini Talita Cristina Bartolomeu
Luciana A. Mani Adami Vanessa Vergani Machado
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Patrícia Alves Veronez Montera Projeto gráfico, diagramação e capa
Raquel Baptista Meneses Frata Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
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web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Conteúdo––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Categoriais fundamentais: ética como teoria da moral e moral como ciência do
agir humano. Especificidade da moral cristã. Fontes da moral. Ethos bíblico. Evo-
lução histórica da teologia moral. Sujeito ético. Liberdade e responsabilidade mo-
ral. Consciência moral. Opção fundamental. Leis: divina, natural e humana. Moral
cristã renovada. Discernimento Moral.
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1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo ao estudo de Moral Fundamental, disponibili-
zada para você em ambiente virtual (Educação a Distância).
Como você poderá observar, nesta parte, denominada Ca-
derno de Referência de Conteúdo, encontraremos o conteúdo bá-
sico das seis unidades em que se divide a presente obra.
O estudo que ora se inicia, irá levá-lo ao conhecimento dos
fundamentos da moral teológica. Isso significa que você conhece-
10 © Moral Fundamental
Abordagem Geral
Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais
deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse
modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento
básico necessário a partir do qual você possa construir um refe-
rencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no
futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência
cognitiva, ética e responsabilidade social.
Nessa obra de Moral Fundamental iniciaremos uma refle-
xão sobre a teologia moral. O objetivo do nosso estudo é buscar
compreender a partir da fé os meios concretos para a realização
da pessoa e da organização da sociedade. É importante notar, que
ao longo do nosso estudo não estaremos centrando nossa atenção
nos atos, mas nas atitudes que a fé deve despertar em nós, na
vivência do dia-a-dia, como seguidores (discípulos) de Jesus Cris-
to. Mas, essa não é uma tarefa tão simples. Sobretudo em nossos
dias, com a notória crise moral que atinge a sociedade e o ser hu-
mano em sua raiz mais profunda (ethos).
Para melhor compreender esse cenário e os desafios e papel
da teologia moral precisaremos percorrer um caminho pautando
em alguns elementos considerados chaves para a nossa tarefa.
A nossa sociedade vive as mudanças de forma cada vez mais
veloz e profunda. O saber e a ciência ficam superados rapidamen-
te. Até mesmo as estruturas sociais que pareciam tão sólidas en-
traram em colapsos. Transitoriedade. A Conferência de Aparecida
chamou de "mudança de época", não apenas uma época de mu-
danças. Essas mudanças fortalecem o individualismo, o científico e
tecnocientífico, o subjetivismo e o relativismo.
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados em Moral Fundamental Veja, a
seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Ética: é parte da filosofia que considera os princípios e
valores que orientam pessoas e sociedades.
2) Moral: é parte da vida concreta. Trata da prática real das
pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valo-
res aceitos. Uma pessoa é moral quando age em confor-
midade com os costumes e valores estabelecidos (leis,
normas) que podem ser, eventualmente, questionados
pela ética. Uma pessoa pode ser moral (segue costumes)
mas não necessariamente ética (obedece a princípios).
3) Ethos: palavra grega que pode significar costume e ca-
ráter. Remete à raiz mais profunda do humano que sus-
tenta a vida das pessoas e sua convivência familiar, na
comunidade e na sociedade.
4) Liberdade e responsabilidade: a liberdade é o poder,
baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de
fazer isto ou aquilo, portanto de praticar atos delibera-
dos. Pelo livre-arbítrio cada qual dispõe sobre si mesmo.
A liberdade é no homem uma força de crescimento e
amadurecimento da verdade e na bondade. A liberdade
alcança sua perfeição quando está ordenada para Deus,
nossa bem-aventurança. A liberdade torna o homem
responsável por seus atos na medida em que forem vo-
luntários. O progresso da virtude, o conhecimento do
bem e a ascese aumentam o domínio da vontade sobre
seus atos. (CIC, n. 1731-1734)
5) Escolha fundamental: tomando como comparação a
imagem da árvore, ela é representada pela raiz e pelo
tronco, no sentido de que exprime o unitário do agir mo-
ral e a sua incidência essencial sobre cada escolha.
6) Atitudes fundamentais: são comparáveis aos ramos
principais que se desenvolvem em âmbitos específicos,
IGREJA
SEGUIMENTO DE
JESUS OPÇÃO FUNDAMENTAL
LIBERDADE E
RESPONSABILIDADE
ESCOLHAS FUNDAMENTAIS
ATITUDES FUNDAMENTAIS
ATOS HUMANOS
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com os valores e fundamentos da moral cristã e
aqueles presentes na sociedade pode ser uma forma de você ava-
liar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões
pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a
avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma ma-
neira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir
uma formação sólida para a sua prática profissional.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada,
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
© Caderno de Referência de Conteúdo 19
1
1. OBJETIVOS
• Identificar as características de uma sociedade em crise.
• Reconhecer e analisar a crise moral.
• Interpretar o ser humano moderno e a crise moral.
• Apontar as causas da crise moral.
2. CONTEÚDOS
• Sociedade em crise.
• Crise moral.
• O ser humano moderno e a crise.
• Causas da crise moral.
22 © Moral Fundamental
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
É notória a crise da moral em nossos dias. Ela atravessa a
sociedade e atinge o ser humano até o seu âmago. Diante disso,
inúmeros questionamentos nos rondam:
Quais são as faces da atual crise moral? E as suas causas?
Entender as faces e discernir as causas da crise moral será
importante para captar toda a sua amplitude. Esse será um dos
nossos objetivos!
© U1 - Crise Atual da Moral 23
[...] este mesmo ser humano, que parecia tão autônomo e podero-
so face a toda injunção externa e que se pretendia, enfim, emanci-
pado, não demorou em sentir-se mergulhado num desequilíbrio do
que lhe era vital. A razão deslizou na pretensão de tudo dizer e de-
finir a partir de campos relativos a esta ou àquela ciência, fragmen-
tando a realidade e atendendo apenas parcialmente o ser humano.
A produção, já delimitada pelo que era útil e eficiente, passou a
nortear-se pela busca da lucratividade sem limites, num acúmulo
de bens capitalizados, com a conseqüente depredação da natureza
e submissão do ser humano, quando não simplesmente a exclusão
deste (AGOSTINI, 2002, p. 97).
por exemplo: (SRS 13), lê-se: encíclica Sollicitudo rei socialis, pa-
rágrafo 13.
Imoralidade
Comenta-se que a sociedade atual é mais imoral (contra a
moral) que a do passado.
Você pode pensar: por quê?
Um dos motivos refere-se ao fato de que, hoje, alguns males
têm "cara pública", ou seja, faz-se abertamente o que ontem se
fazia às escondidas.
Outro fator que contribuiu para o aumento da capacidade
humana de causar dano ao seu semelhante e, portanto, de ser
imoral, é a tecnologia.
Contudo, mesmo diante da crise moral, é preciso reconhecer
que a capacidade de fazer o bem também evoluiu. Por exemplo: as
descobertas da ciência, a conquista do espaço etc.
Para concluir essa ideia, convido você a refletir sobre a se-
guinte indagação: até que ponto a imoralidade presente na socie-
dade é responsável pela atual crise moral?
Permissividade
O pluralismo moderno trouxe consigo maior tolerância so-
cial. Isso acarretou um custo ético de perda de valores.
Note que essa permissividade, por vezes, nos faz confundir
o lícito com o ético.
Para entender melhor, veja o esquema a seguir:
Pluralidade => Tolerância => Permissividade
Como você pode perceber, o custo ético da tolerância é a
perda de valores básicos que se dá em nome da tolerância.
Vejamos alguns exemplos: a tolerância jurídica no caso da
legalização do aborto pode levar a sociedade a negar valores, ou
ainda, a tolerância à permanência de um salário-mínimo que não
permite a sobrevivência do cidadão etc.
© U1 - Crise Atual da Moral 31
Resumindo, dizer que algo é lícito não significa dizer que seja
ético.
Amoralidade
Na sociedade de consumo, o homem perde sua identidade.
Por essa razão, torna-se parte de uma massa disforme.
Em outras palavras, quando o homem privilegia o ter ao ser,
todas as suas relações se tornam superficiais; muitas vezes o outro
passa a ser mero instrumento para alcançar seus fins.
Vive-se, desse modo, sem moral (amoral).
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Aponte as causas da crise moral atual.
10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você pôde ampliar seus conhecimentos e
refletir sobre as características de uma sociedade em crise, bem
como as causas da atual crise moral. Além disso, pôde compreen-
der como a crise moral atinge o ser humano moderno.
Em busca dos objetivos que nos propomos atingir nesta
obra, na Unidade 2, vamos estudar o ethos bíblico.
Até lá!
11. E-REFERÊNCIAS
CATEQUISTA.NET. Catecismo da Igreja Católica. Disponível em: <http://catecismo.
catequista.net/conteudo/3.html>. Acesso em: 20 ago. 2012.
VATICAN. O Santo Padre – Encíclicas. Disponível em: <http://www.vatican.va/edocs/
POR0070/_INDEX.HTM>. Acesso em: 20 ago. 2012.
2
1. OBJETIVOS
• Reconhecer a força do ethos.
• Analisar a experiência de fé e sua importância.
• Identificar e refletir sobre a centralidade da vida.
• Interpretar e reconhecer as seguintes preleções: Deus
convida (Antigo Testamento), Jesus Cristo propõe (Novo
Testamento) e o Espírito Santo confirma e santifica.
2. CONTEÚDOS
• Força do ethos.
• Experiência de fé.
• A centralidade da vida.
• Deus convida – Antigo Testamento.
• Jesus Cristo propõe – Novo Testamento.
• Espírito Santo confirma e santifica.
34 © Moral Fundamental
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
As páginas da Bíblia trazem-nos preciosos relatos do ethos
que são gestados através dos tempos. Por exemplo, existem nesse
livro as indicações que nos fazem descobrir o modo próprio de ser
e de viver, característico do mundo semita, e que vai lançando as
bases que sustentam o ser humano (indivíduos, clãs, tribos, povo),
tendo como base a experiência de fé.
© U2 - Ethos Bíblico 35
5. FORÇA DO ETHOS
Ethos é uma palavra grega que, escrita com épsilon, designa
costume e que, escrita com eta, refere-se a caráter. Remete para
a raiz mais profunda do humano, em que se tecem as evidências
primitivas – de raiz – que sustentam a vida das pessoas e sua con-
vivência na família, na comunidade e na sociedade.
É no ethos que se estabelecem as bases para o "conjunto de
normas e valores aceitos por uma civilização, por um povo, por
uma classe social, por um grupo ou por uma pessoa" (VIDAL, s/d,
p. 242). Assim, ele pode apontar tanto para a:
• Ordem moral (como totalidade do dever moral) para a
estrutura das idéias morais (de um indivíduo ou grupo)
(HÖRMANN, 1985, p. 366).
• Conduta efetiva (ou moral) de um indivíduo, de um grupo
humano, povo ou civilização (HÖRMANN, 1985, p. 366).
Como você pode notar, o ethos remete para as bases de sus-
tentação da vida. O ser humano sempre empreendeu os melhores
esforços em favor da vida. As bases mais arcaicas remetem para o
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A fragmentação do ethos é reveladora da crise de nossos dias, no esquecimento
dos valores de raiz, que deveriam ser evidentes e não o são mais, por causa dos
processos de imoralidade, permissividade e amoralidade, vistos na unidade an-
terior. Faz-se, então, necessário acionar a moral para dizer o que antes ia por si,
indicadora do caminho necessário ou possível para a realização do ser humano.
Surge, então, a necessidade de uma produção do instituído que vá definindo o
que é praticável e o que não é praticável. Remete para valores e ideais; traduz
isso em normas para orientar as relações básicas; estabelece até o aparato do
direito como forma de explicitação positiva do codificado ou instituído.
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6. EXPERIÊNCIA DE FÉ
Que relação há entre o ethos e a experiência de fé?
O ethos bíblico tem na experiência de fé o seu elemento fun-
dante e de excelência. Desde os Patriarcas do Antigo Testamento,
a fé torna-se o elemento norteador deste povo que começou na
itinerância até estabelecer-se na Terra Prometida.
Na provisoriedade, o povo de Israel faz a experiência da co-
-itinerância de Deus. Ser e estar com Deus é manter-se no cami-
nho, seguir adiante, dispor-se a buscar a terra da promessa.
As diferentes tradições ou pontos referenciais (Êxodo, Alian-
ça e Sinai) apontam para uma certeza de ser Povo de Javé. "Eu vos
tomarei como meu povo e eu serei vosso Deus" (Ex 6,7).
Isso significa que reconhecer Javé como único Deus e realizar
a sua vontade tornam-se os eixos condutores da fé e da conse-
quente moral de Israel. "A religião do Antigo Testamento só pode
ser uma religião ética [...]"(TESTA, 1981, p. 35) na qual Deus é o
modelo a ser imitado (Lv 11,14-45; 19,2).
Cada pessoa está na presença de Deus (Gn 17,1), o que signi-
fica estar atento à sua vontade e obedecer às suas palavras. Isto é
© U2 - Ethos Bíblico 39
Bento XVI, antes mesmo de ser Papa, escrevia com clareza sobre
a crise de fé e moral de nossos dias, apontando para o amor como
o elemento vital da confissão de fé. E alertava: "Onde falta a ‘orto-
práxis’ de maneira tão evidente, a ‘ortodoxia’ mostra-se problemá-
tica" (RATZINGER, 1996, p. 37).
© U2 - Ethos Bíblico 41
7. CENTRALIDADE DA VIDA
Javé é o Deus que vive!
Este é o fundamento da profissão de fé do homem bíblico.
Ao mesmo tempo, este Deus chama as criaturas a participarem da
vida, da qual Ele é a fonte.
Vale salientar que Deus é igualmente fonte e doador de vida
para o seu povo, inicialmente entendido coletivamente, depois
captado também individualmente. Com a dispersão do exílio, a
compreensão passa a ser de um Deus doador e fonte de vida para
cada indivíduo.
Mesmo que o termo vida seja também utilizado para os
animais e algumas vezes para os vegetais, ele aponta em especial
para o ser humano. Trata-se de um ser humano vivente, enquanto
é um ser que se relaciona com Deus, um ser responsável, um ser
pessoal, um ser "uno". Ao ter sido criado à imagem e semelhança
de Deus (Gn 1,26), o ser humano, homem e mulher, tem na proxi-
midade com Deus a base criadora e sustentadora de sua vida; em
Deus, ele tem o sopro de vida; sem Deus, ele é pó.
Chamado a submeter a terra e a dominá-la (Gn 1,28), o ser
humano sente-se convocado à sua responsabilidade de exercer
um domínio, um governo. O homem sente-se responsável como
um pastor que precisa realizar uma reta administração, qual "ple-
nipotenciário de Deus" (SCHOCKENHOFF, 1997, p. 113). Enquanto
ser pessoal, destaca-se nele a capacidade relacional e dialógica,
tão belamente presente no relato da criação da mulher, não sendo
bom que o homem viva só (Gn 2,18).
Este ser humano imagem de Deus destaca-se igualmente em
sua unidade – ele é um ser uno –, contemplando a totalidade de
seu ser.
Com relação a este último aspecto, vale sublinhar que:
3) "O homem vive em Deus e de Deus, vive segundo o Espírito e ocupa-se das
coisas do Espírito." (DV, 58) Comente essa frase a partir das considerações
apresentadas na unidade sobre o ethos bíblico e o ser o humano.
12. CONSIDERAÇÕES
Em busca dos objetivos que nos propomos atingir com o es-
tudo desta obra, você pôde estudar nesta unidade a força do ethos,
a experiência de fé e sua importância. Além disso, refletimos sobre
a centralidade da vida e sobre as preleções: Deus convida (Antigo
Testamento), Jesus Cristo propõe (Novo Testamento) e o Espírito
Santo confirma e santifica.
Já na unidade seguinte, você será convidado a construir co-
nhecimentos sobre a moral na história da Igreja.
Esperamos por você!
13. E-REFERÊNCIAS
CNBB. Home page. Disponível em: <http://www.cnbb.org.br/>. Acesso em: 24 jul. 2012.
VATICAN. Home page. Disponível em: <http://www.vatican.va/phome_po.htm>. Acesso
em: 24 jul. 2012.
3
1. OBJETIVOS
• Identificar a diversidade de contextos histórico-culturais.
• Reconhecer a riqueza da Patrística.
• Analisar e reconhecer o surgimento dos Penitenciais.
• Interpretar e apontar a contribuição da Escolástica e do
nominalismo à neo-escolástica.
• Reconhecer o impulso do Concílio Vaticano II para uma
Moral renovada.
2. CONTEÚDOS
• Diversidade de contextos histórico-culturais.
• Riqueza da Patrística.
• Surgimento dos Penitenciais.
• Contribuição da Escolástica.
56 © Moral Fundamental
• Do nominalismo à neo-escolástica.
• Impulso do Concílio Vaticano II para uma Moral renovada.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Após termos estudado o ethos bíblico, faz-se necessário cap-
tar os desdobramentos que este ethos foi recebendo através da
história.
É importante salientar que nenhuma etapa esgota a sua for-
ça, enquanto fonte borbulhante da moralidade cristã e de toda a
sua inspiração ética.
Isso quer dizer que "cada época da vida cristã vai desdobran-
do uma ou outra face sobreposta da realidade e da autocompre-
ensão da Igreja, da intelecção da fé e da concretização de suas
exigências" (FLECHA ANDRÉS, 1999, p. 33).
Trata-se, antes, de um caminho que vai sendo percorrido
continuamente na busca da "verdade completa" (Jo 16,13), bus-
cando traduzi-la nas práticas do amor (1 Jo 3,18-20).
© U3 - Moral na História da Igreja 57
6. RIQUEZA DA PATRÍSTICA
Desde os primeiros cristãos, além de uma reflexão mais dog-
mática sobre Deus, a Igreja e o ser humano, desenvolve-se toda
uma literatura exortativa e parenética, buscando indicar os cami-
nhos da responsabilidade humana. Trata-se, neste caso, de um
ensinamento moral, indicativo dos caminhos do comportamento
moral dos cristãos, no seguimento de Jesus Cristo.
Normalmente, ao indicativo dogmático segue o imperativo
moral. O longo período da Patrística (MURPHY; VEREECKE, 1969)
nos revela um patrimônio intelectual e da prática cristã que in-
fluencia a moral cristã até nossos dias. É indispensável recolher os
dados que marcam a história e lançam as bases da construção do
pensamento moral.
Patrística––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
"A partir do ano 95 d.C., os líderes cristãos começaram a ser chamados de ‘Pais
da Igreja’ , como uma forma carinhosa, por sua lealdade à doutrina revelada por
Deus. Os ‘Pais da Igreja’ são, portanto, aqueles que, ao longo dos sete primeiros
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Os gnósticos, por sua vez, buscam a salvação pelo puro conhecimento e propa-
gam a separação entre o mundo inteligível e o mundo sensível, espalhando uma
concepção dualista, de fundo helênico, que separa e até opõe, no ser humano,
realidades como alma e corpo, realidades espirituais e realidades materiais, che-
gando ao desprezo de tudo o que pertence a este mundo tido como degradado,
confuso, da desordem material. Irineu de Lyon busca, de sua parte, conservar a
visão semita do ser humano carne-alma-espírito, insistindo, porém, na unidade
essencial e não na separação deste composto humano, assim como em Jesus
Cristo se realizou; Ele, feito homem, vence o mal; a seu exemplo e inseridos na
Igreja, nós também venceremos, chegando à plenitude. A Igreja assegura a ver-
dade e a graça divinas; Jesus Cristo, cabeça da Igreja, é, por sua vez, a "nova
lei", a liberdade verdadeira para o homem, sua salvação.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
8. CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLÁSTICA
Entre os anos 1000 e 1100, ganha impulso o que será o es-
plendor da Igreja da Alta Idade Média, com o predomínio da Igreja
na cultura, na vida pública e privada. Vive-se, ao mesmo tempo,
uma centralização e uma universalização, próprias da consolida-
ção da cultura cristã.
A Teologia, sobretudo no século 12, atinge um nível ao mes-
mo tempo alto, fecundo e autônomo. Não depende mais do re-
curso aos padres da Igreja (Patrística); passa a elaborar uma re-
flexão própria e autônoma. Este é um dos séculos mais criativos,
sobretudo por meio das Escolas de Teologia (por isso Escolástica),
preparando o "século de ouro", ou seja, o século 13.
Nesse período, as ciências teológicas são basicamente culti-
vadas em três tipos de escolas:
• monásticas: anexas aos mosteiros;
• canônicas: mantidas pelos cônegos regulares das Dioceses;
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Sob o ponto de vista moral, Anselmo busca um novo caminho, expresso na se-
guinte afirmação: "O homem possui a liberdade da vontade, não para atingir o
que ele quer, mas para querer aquilo que ele deve e, então, aquilo que lhe é
© U3 - Moral na História da Igreja 69
9. DO NOMINALISMO À NEO-ESCOLÁSTICA
A época que sucedeu o "século de ouro" não manteve a
mesma força sintética e criativa do século 13. A reflexão teológica
dos séculos 14 e 15 não é tão produtiva, pois a Igreja vai perdendo
terreno diante dos Estados que, aos poucos, tendem a uma auto-
nomia maior.
Na Teologia, estes dois séculos são marcados pelo nomina-
lismo. Este é devedor a João Duns Scotus (1265-1308), o último
grande teólogo do século 13, que faz a ponte com o século 14,
chamado de "doutor subtil". Franciscano, escritor de uma obra rica
e versátil, Duns Scotus é crítico do sistema de Tomás de Aquino,
introduzindo diferenças substanciais, sobretudo quando confere à
vontade e à caridade o primado sobre o intelecto. Para Tomás de
Aquino, a Teologia é uma ciência especulativa; para Duns Scotus,
ela é uma ciência eminentemente prática, fundada numa ética do
amor.
Inicia-se, assim, a Escola Scotista, cujo representante prin-
cipal é Guilherme de Ockham (1288-1350), que redige uma ex-
pressiva reação ao tomismo e difunde o nominalismo com larga
© U3 - Moral na História da Igreja 73
Sumas Penitenciais––––––––––––––––––––––––––––––––––––
São manuais que trazem um conteúdo moral e canônico que dá aos sacerdotes
as noções básicas e necessárias para o atendimento penitencial. Resolvem-se,
nestes manuais, casos jurídicos, indicando as fontes de solução. Têm caráter
pastoral, dando ao clero da baixa Idade Média um suporte ao mesmo tempo
teológico, moral e canônico para a práxis sacramental.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para saber mais sobre este assunto, leia: Acta Synodalia Concilii
Oecumenici Vaticani II (AS), Typis Polyglottis Vaticanis, MCMLXX-,
III-V, p. 567-569; cf. AGOSTINI, Nilo, Introdução à Teologia Mo-
ral..., op. cit., p. 57.
12. CONSIDERAÇÕES
Na Unidade 3 você teve a oportunidade de compreender a
diversidade de contextos histórico-culturais, a riqueza da Patrística
e o surgimento dos Penitenciais. Além disso, refletimos sobre as
contribuição da Escolástica, desde o nominalismo à neo-escolásti-
ca. Finalmente, estudamos o impulso do Concílio Vaticano II para
uma Moral renovada.
Já na Unidade 4, estudaremos a liberdade como condição
para a moralidade e para o exercício da responsabilidade. Confira
e participe ativamente do estudo!
13. E-REFERÊNCIAS
VERITATES SPLENDOR. Patrística – os escritos dos Santos Padres da Igreja. Disponível em:
<http://www.veritatis.com.br/area/2 >. Acesso em: 20 ago. 2012.
WIKIPÉDIA. Ética a Nicômaco. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/%C3%89tica_a_Nic%C3%B4maco>. Acesso em: 20 ago. 2012.
______. Teologia Moral: O que você precisa viver e saber. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Instrução sobre a vocação eclesial do teólogo.
n. 10, p. 10. São Paulo: Paulinas, 1990.
FIGUEIREDO, Dom Fernando A. Curso de Teologia Patrística I: a vida da Igreja primitiva
(século I e II). Petrópolis: Vozes, 1990.
______. Curso de Teologia Patrística II: a vida da Igreja primitiva (século III). 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 1988.
FLECHA ANDRÉS, José-Román. Teologia moral fundamental. 3. ed. Madrid: Biblioteca de
Autores Cristiano, 1999.
GASTALDI, Ítalo. Educar e evangelizar na pós-modernidade. São Paulo: Dom Bosco, 1994.
HAMEL, E. Morale e salvezza prima e dopo Cristo. Rassegna di Teologia, n. 20, 1979.
HOLDEREGER, Adrian. Per uma fondazione storica dell’etica. In: GOFFI, Tullo, PIANA,
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______. Die Entwicklung der Moraltheologie zur eigenständigen Disziplin. Regensburg:
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© U3 - Moral na História da Igreja 89
4
1. OBJETIVOS
• Reconhecer e interpretar a liberdade humana.
• Apontar e analisar a relação existente entre liberdade e
responsabilidade.
• Identificar e interpretar a expressão da responsabilidade
moral.
2. CONTEÚDOS
• Liberdade humana.
• Liberdade e responsabilidade
• Expressão da responsabilidade moral.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
O que podemos chamar de liberdade? Como a liberdade se
relaciona com a responsabilidade e com a moralidade?
A liberdade é condição para a moralidade e para o exercício
da responsabilidade.
Observe que a própria existência humana tem um sentido
na liberdade sentido, ou seja, ela caracteriza seu modo próprio de
agir e fundamenta a eticidade.
Nesta unidade, você conhecerá os meandros deste eixo in-
dispensável da moral, quer no seu sentido próprio, quer na sua re-
lação com a responsabilidade ou ainda nas suas expressões como
ato, atitude e opção fundamental.
Somos livres? Somos responsáveis? Somos morais?
Vamos descobrir!
5. LIBERDADE HUMANA
O que faz o homem livre?
Após percorrer a história da Teologia Moral, nos deteremos
nas chamadas categorias básicas que constituem a fundamenta-
© U4 - Liberdade e Responsabilidade 93
6. LIBERDADE E RESPONSABILIDADE
Há relação entre responsabilidade e liberdade?
A liberdade humana acarreta em si a responsabilidade dian-
te das escolhas feitas; desse modo, a vida moral do crente está in-
timamente fundada nessa responsabilidade. Ele vive essa respon-
sabilidade partindo da sua experiência de fé como adesão a este
Deus revelado em Jesus Cristo. Portanto, o agir moral do cristão se
dá dentro do marco do projeto que Deus tem para cada um e para
toda a humanidade.
Sendo assim, para o cristão, a escolha não se dá somente no
quadro da liberdade humana, mas diante da fé assumida de modo
radical como resposta ao Deus que professa. "Aprofundar-se no
significado da responsabilidade é tomar consciência da vocação
cristã" (VIDAL, 1993, p. 42).
O Catecismo da Igreja Católica (2001, p. 1731-1738) traz, na
sua terceira parte, uma bela explanação sobre a relação entre li-
berdade e responsabilidade:
A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou
não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto de praticar atos delibera-
dos. Pelo livre-arbítrio cada qual dispõe sobre si mesmo. A liberda-
de é no homem uma força de crescimento e amadurecimento da
verdade e na bondade. A liberdade alcança sua perfeição quando
está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança.
Enquanto não se tiver fixado definitivamente em seu bem último
que é Deus, a liberdade comporta a possibilidade de escolher entre
o bem e o mal, portanto de crescer em perfeição ou de definhar
e pecar. Ela caracteriza os atos propriamente humanos. Torna-se
fonte de louvor ou repreensão, de mérito ou demérito.
Quanto mais praticar o bem, mais a pessoa se torna livre. Não há
verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem e da justiça. A es-
colha da desobediência e do mal é um abuso de liberdade e conduz
à "escravidão do pecado."
A liberdade torna o homem responsável por seus atos na medida
em que forem voluntários. O progresso da virtude, o conhecimento
do bem e a ascese aumentam o domínio da vontade sobre seus
atos.
© U4 - Liberdade e Responsabilidade 97
• o objeto (matéria);
• o fim (intenção);
• as circunstâncias.
Como você poderá notar, encontramos, no Catecismo da
Igreja Católica, uma síntese da moralidade dos atos humanos:
O objeto, a intenção e as circunstâncias constituem as três fontes
da moralidade dos atos humanos. O objeto escolhido especifica
moralmente o ato do querer, conforme a razão o reconheça e jul-
gue bom ou mau. Não se pode justificar uma ação com boa inten-
ção. O fim não justifica os meios. O ato moralmente bom supõe
a bondade do objeto, da finalidade e das circunstâncias. Existem
comportamentos concretos cuja escolha é sempre errônea, por-
que escolhê-los significa uma desordem da vontade, isto é, um mal
moral. Não é permitido fazer o mal para que dele resulte um bem
(CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2001, p. 149).
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Qual é o papel da circunstância e das intenções para que um ato seja consi-
derado moral?
9. CONSIDERAÇÕES
Com o estudo desta unidade, você pôde refletir sobre a li-
berdade humana e sobre a relação existente entre liberdade e res-
ponsabilidade. Além disso, estudamos as diversas formas de ex-
© U4 - Liberdade e Responsabilidade 103
10. E- REFERÊNCIA
VATICAN. Declaração - Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa. Disponível em:
<http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_
decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html>. Acesso em: 25 jul. 2012.
5
1. OBJETIVOS
• Reconhecer a estrutura ética do comportamento.
• Apontar e analisar os principais conceitos bíblicos.
• Interpretar os condicionamentos e as manipulações da
consciência, bem como a sua conceituação, com base no
pensamento do Magistério.
• Definir a consciência prudente e a crítica.
• Reconhecer e interpretar a lei, ou seja, o caminho segun-
do o Cristo.
2. CONTEÚDOS
• Estrutura ética do comportamento.
• Conceituação bíblica.
• Consciência no pensamento do Magistério.
106 © Moral Fundamental
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior você pôde refletir sobre a liberdade
como condição para a moralidade e para o exercício da responsa-
bilidade.
© U5 - Sujeito Ético: Consciência Moral e Lei 107
6. CONCEITUAÇÃO BÍBLICA
O termo consciência aparece no pensamento greco-romano
como Syneidesis, o qual expressa o fenômeno da consciência mo-
ral. Posteriormente, com os estóicos, encontraremos a presença
do divino, que lhe dará uma dimensão subjetiva.
Vejamos como a consciência moral é conceituada na bíblia.
© U5 - Sujeito Ético: Consciência Moral e Lei 109
O ditame da consciência
Presente no coração da pessoa, a consciência moral impõe-
lhe, no momento oportuno, fazer o bem e evitar o mal. Julga, por-
tanto, as escolhas concretas, aprovando as boas e denunciando as
© U5 - Sujeito Ético: Consciência Moral e Lei 111
Formação da consciência
A consciência deve ser educada e o juízo moral esclarecido.
Uma consciência bem formada é reta e verídica. Formula seus jul-
gamentos seguindo a razão, de acordo com o bem verdadeiro que-
rido pela sabedoria do Criador.
A educação da consciência é indispensável aos seres huma-
nos submetidos a influências negativas e tentados pelo pecado a
preferirem o próprio juízo e a recusar os ensinamentos autoriza-
dos.
A educação da consciência é uma tarefa de toda a vida. Desde os
primeiros anos alerta a criança para o conhecimento e a prática da
lei interior reconhecida pela consciência moral. Uma educação pru-
dente ensina a virtude, preserva ou cura do medo, do egoísmo e do
orgulho, dos sentimentos de culpabilidade e dos movimentos de
complacência, nascidos da fraqueza e das faltas humanas. A edu-
cação da consciência garante a liberdade e gera a paz do coração
(CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2001, p. 1784).
Escolhas da consciência
Colocada diante de uma escolha moral, a consciência pode
emitir um julgamento correto de acordo com a razão e a lei divina
ou, ao contrário, um julgamento errôneo que se afasta delas.
Às vezes, o homem depara-se com situações que tornam o
juízo moral menos seguro e a decisão difícil. Mas deverá sempre
procurar o que é justo e bom e discernir a vontade de Deus expres-
sa na lei divina.
Para tanto, importa que o homem se esforce por interpretar
os dados da experiência e os sinais dos tempos graças à virtude da
prudência, aos conselhos de pessoas avisadas e à ajuda do Espírito
Santo e de seus dons.
Algumas regras se aplicam a todos os casos:
• Nunca é permitido praticar um mal para que dele resulte
um bem.
• "Regra de Ouro": "tudo aquilo que quereis que os ho-
mens vos façam, fazei-o vós a eles" (Mt 7, 12).
• A caridade respeita sempre o próximo e sua consciência:
"Pecando contra vossos irmãos e ferindo a sua consciên-
cia, pecais contra Cristo" (1Cor 8,12). "É bom se abster...
de tudo o que seja causa de tropeço, de queda ou enfra-
quecimento para teu irmão" (Rm 14, 21).
Juízo errôneo
O ser humano deve obedecer ao juízo certo da sua consciên-
cia e, se agisse deliberadamente contra este último, estaria conde-
nando a si mesmo. Mas pode acontecer que a consciência moral
padeça de ignorância e faça juízos errôneos sobre os atos a prati-
car ou já praticados.
Muitas vezes esta ignorância pode ser imputada à respon-
sabilidade pessoal. É o que acontece "quando o homem não se
preocupa suficientemente com a procura da verdade e do bem, e a
Cultivar uma sólida consciência moral para que nas complexas cir-
cunstâncias da vida moderna nossos fiéis saibam interpretar cor-
retamente a voz de Deus em matéria moral e desenvolvam um
evangélico sentido de pecado (DOCUMENTO DE SÃO DOMINGO,
n. 156 e 237).
Lei antiga
Encontramos, na experiência do povo de Israel, por meio dos
textos do Antigo Testamento, uma forma muito particular de viver
esse caminho ético por suas leis.
A Torah é um conjunto de leis que estará resumido na Alian-
ça, pois Deus não é alguém distante, mas o Senhor Deus, que le-
gisla por amor a Israel. O coração da relação deste povo com seu
Deus, podemos observar, está nesse conjunto de leis, obrigações
e direitos. Toda a vida de Israel gira em volta da lei: os sacerdotes
são os depositários; os profetas denunciam seu não cumprimento;
Valor
O que é valor?
Por valor entendemos o que se refere ou designa o bem.
Todos os valores estão em relação à pessoa humana enquanto
constituem um bem para ela. Sem dúvida, o valor ético tem uma
força totalizante da existência enquanto interpela a liberdade do
sujeito como responsável por seu projeto de vida. Assim, a titulo
de exemplo, uma pessoa inteligente (sendo a inteligência um va-
lor) não é necessariamente uma pessoa honrada (o valor moral que
abarca todas as dimensões da vida relacionadas com a honradez).
Somente o valor moral outorga adjetivo de bondade ou maldade à
pessoa (MIFSUD, 1993, p. 351).
Princípio
Os princípios têm a tarefa de orientar a pessoa humana
quando esta se encontra em situações de conflito, pois eles irão
considerar as consequências de uma ação identificando quando
poderá haver o choque entre dois valores.
Sabemos que, por meio do juízo moral, encontraremos ou
não a presença do valor ético em comportamentos ou situações.
Deste modo, podemos dizer que:
[...] os princípios morais têm a dupla função de arquivar a experiên-
cia ética e orientar o comportamento humano responsável. O uso
correto dos princípios morais se situa entre os dois extremos do
formalismo vazio e o rigorismo fechado. Os princípios morais têm
que ser entendidos como direções de valor, mediante as quais a
experiência ética arquivada ajuda, e não anula a decisão original e
irrepetível do indivíduo na situação concreta (VIDAL, 1991, p. 483).
Norma
Por norma podemos compreender uma formulação que obe-
deça a uma lógica e que tenha caráter de obrigatoriedade diante
do valor moral. Desse modo, a norma não tem valor em si mesma,
© U5 - Sujeito Ético: Consciência Moral e Lei 125
2) Maquiavel afirma que "os fins justificam os meios". É possível superar esse
pensamento no cotidiano de nossa sociedade? Como?
11. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade refletimos sobre a estrutura ética do compor-
tamento, os principais conceitos bíblicos, os condicionamentos e
12. E-REFERÊNCIAS
VATICAN. Declaração - Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa. Disponível em:
<http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_
decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html>. Acesso em: 20 ago. 2012.
______. O Santo Padre – Encíclicas. Disponível em: <http://www.vatican.va/edocs/
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6
1. OBJETIVOS
• Definir os termos discernimento e fé.
• Reconhecer a ação do Espírito Santo.
• Apontar e interpretar o discernimento e sua relação com
o Evangelho da Vida.
• Identificar os passos necessários para um discernimento
moral.
2. CONTEÚDOS
• Discernimento e fé.
• Ação do Espírito Santo.
• Discernimento e Evangelho da Vida.
• Passos para um discernimento moral.
128 © Moral Fundamental
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A consciência moral é o lugar onde se realiza o discernimen-
to. Na linha de um julgamento prático, por exemplo, a consciência
moral age sobre o comportamento moral, dando-lhe as condições
de efetuar escolhas na linha do que é preciso fazer.
"A consciência reta e verídica, ou seja, que busca o bem e a
verdade, passa a emitir juízos que são igualmente retos e verídi-
cos, desdobrando-se em juízos críticos e prudentes. Esta é como
que sua missão própria" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n.
1777-1782).
Assim, a consciência passa a ocupar um "[...] lugar herme-
nêutico privilegiado em que se revela o projeto de Deus com o
homem, sacrário mais íntimo do indivíduo, seu centro mais oculto,
do qual brotam todas as decisões morais" (DEMER, 1999, p. 30).
© U6 - Discernimento Moral 129
5. DISCERNIMENTO E FÉ
Discernir (dokimazein) é "a chave de toda a moral neotes-
tamentária" (CULMANN, 1999, p. 98); "é uma das palavras-chave
da moral de São Paulo" (AUBERT, 1987, p. 179); nela fala-se em
"renovação das mentes".
Vejamos alguns textos:
Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, reno-
vando vossas mentes, a fim de poderdes discernir qual é a vontade
de Deus, o que é bom, agradável e perfeito (Rm 12,2).
É isto que eu peço: que vosso amor cresça cada vez mais, em co-
nhecimento e em sensibilidade, a fim de poderdes discernir o que
mais convém, para que sejais puros e irreprováveis no dia de Cristo,
na plena maturidade do fruto da justiça que nos vem por Jesus Cris-
to para a glória e o louvor de Deus (Fl 1,9-11).
Examinai-vos bem, para verdes se estais na fé. Submetei-vos à
prova. Acaso não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? (2Cor
13,5).
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) "Urge, então, que os cristãos redescubram a novidade da sua fé e a sua for-
ça de discernimento face à cultura dominante e insinuativa"(n. 6). A partir
dessa afirmação de João Paulo II na Evangelium vitae, comente o papel da
fé no discernimento.
10. CONSIDERAÇÕES
A última unidade nos possibilitou a reflexão sobre os termos
discernimento e fé e sobre a ação do Espírito Santo. Além disso,
12. E-REFERÊNCIA
VATICAN. O Santo Padre – Encíclicas. Disponível em: <http://www.vatican.va/edocs/
POR0070/_INDEX.HTM>. Acesso em: 25 jul. 2012.